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JUSSELMA FERREIRA MAIA A DIMENSÃO ESTÉTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: NARRATIVAS DOCENTES UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2015

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JUSSELMA FERREIRA MAIA

A DIMENSÃO ESTÉTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: NARRATIVAS DOCENTES

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2015

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JUSSELMA FERREIRA MAIA

A DIMENSÃO ESTÉTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: NARRATIVAS DOCENTES

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação, Universidade Cidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre, sob a orientação da Profa. Dra. Margaréte May Berkenbrock Rosito.

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2015

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DIMENSÃO ESTÉTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: NARRATIVAS DOCENTES

Banca examinadora:

_______________________________________

Prof.ª Dr.ª Margaréte May Berkenbrock Rosito

________________________________________

Prof. Dr. Julio Gomes Almeida

________________________________________

Prof.ª Dr.ª Ana Maria Di Grado Hessel

Data da defesa: 30/04/2015

Resultado: Aprovada

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AGRADECIMENTOS

Não poderia deixar de reconhecer tantas pessoas que nessa caminhada foram fundamentais para que eu pudesse chegar ao término desse trabalho.

Primeiro, meu louvor a DEUS que é meu sustentador, provedor, e a razão da minha existência. A Ele meu louvor e adoração. Gratidão aos meus filhos, joias preciosas, que estavam ao meu lado o tempo todo, me ajudando de formas diferentes. Minha família em geral e amigos, pois todos estavam na torcida, incentivando com palavras de encorajamento.

Agradeço a minha orientadora Margaréte por caminhar ao meu lado durante todo o processo, com paciência e dedicação, alguém que sem dúvida, faz parte da minha trajetória de vida, deixando muitas marcas de valor.

Aos professores da UNICID, que com tanta capacidade contribuíram no processo de formação e reflexão, assim como a banca examinadora que contribuiu para o término do trabalho.

Meus colegas de grupo de mestrado com os quais discutimos tantos temas complexos, cada um contribuindo com pontos de vista diferentes.

Quero reconhecer a boa vontade do colégio, abrindo suas portas para a realização da pesquisa, bem como aos professores que contribuíram participando de forma compromissada e voluntária.

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“Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja

confiança é o Senhor. Porque será como a árvore

plantada junto às águas, que estende as suas

raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o

calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de

sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto”.

(JEREMIAS 17: 7, 8)

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RESUMO

Este estudo apresenta como objeto de estudo o sentido da Educação Estética na visão dos docentes de Educação Física que atuam no Ensino Fundamental I, de uma escola da rede privada do Estado de São Paulo, localizada na Zona Norte da cidade de São Paulo. O objetivo visa compreender a atribuição de sentido da educação estética a partir das narrativas docentes da disciplina Educação Física no espaço escolar. A hipótese norteadora é que o desenvolvimento da autonomia e da emancipação dos sujeitos ocorre na dimensão estética. Adota-se, como referencial teórico, a obra de Adorno, voltada para a compreensão dos parâmetros da estética da indústria cultural e da massificação da cultura, educação e emancipação, analisando os padrões de beleza e estética estipulados pela mídia, evitando assim o preconceito. A visão de Freire, no que se refere à crítica à Educação Bancária e a busca de superação, por meio da curiosidade estética, como caminho de conscientização e da autonomia. Esta pesquisa aproxima-se de Schiller, no que concerne à dimensão do sensível da arte nos processos formativos. O caminho traçado para a pesquisa será a Entrevista Narrativa com seis professores de Educação Física Escolar, que participarão de forma voluntária, e o questionário narrativo. Os dados são analisados sob o enfoque hermenêutico, na perspectiva de Gadamer (1997). A relevância social e acadêmica deste estudo encontra-se na possibilidade de compreender um dos objetivos da Educação Física o corpo e movimento, encontrando a possibilidade de compreender que o desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos ocorre na dimensão estética nas aulas de Educação Física.

Palavras - Chaves: Educação Estética. Ética. Educação Física Escolar.

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ABSTRACT

This study presents as the subject matter of research the meaning of Esthetic

Education in the view of Physical Education Teachers that work in early elementary

school, from a private school in the state of São Paulo, in the northem area of the city

of São Paulo. The goal is to understand the attribution of meaning of esthetic

education from the Physical Education teacher’ narratives in the school environment.

The guiding hypothesis is that the development of autonomy and the emancipation of

the subjects occurs in the esthetic dimension. The work of Adorno was adopted as

theorical reference, aimed toward understanding the parameters of the esthetics of

the cultural industry and the massification of culture, education and emancipation,

analyzing the standards of beauty and esthetics stipulated by the media, thus

avoiding prejudice, as was Freire’s view referent to the critique of the banking model

of education through esthetic curiosity, as a path to awareness and autonomy. This

research is akin to Schiller with regards to the dimension of sensibility to art in

formative processes. The path drawn of r the research will be narrative interviewing

with six school Physical Education teachers, who will participate voluntarily, and a

narrative questionnaire. The data are analyzed under a hermeneutical focus, in

Gadamer’s perspective (1997). The social and academic relevance of this study is in

possibility of understanding one of the objectives of Physical Education (body and

movement), finding the possibility of understanding that developing autonomy and

emancipation of the subjects occurs in the esthetic dimension of Physical Education

classes.

Key words: Esthetic Education, Ethics, School Physical Education.

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TABELA E FIGURAS

Tabela 1 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa.................................................30

Figura 1 - Árvores plantadas junto a ribeiros.............................................................32

Figura 2 - Pintura de Larissa Moraes.........................................................................33

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CREF - Conselho Regional de Educação DED - Departamento de Educação Física MEC - Ministério da Educação PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO: OLHAR PARA SI E PARA O OUTRO 14 1.1 A pesquisadora: em busca do sentido da narrativa de si 15 1.2 Educação Física: o encontro com o objeto de estudo 18 1.3 Entrevista Narrativa: uma compreensão hermenêutica do objeto de estudo 26

1.3.1 Narrativas Docentes: situando o contexto do estudo 30 2 EDUCAÇÃO ESTÉTICA: UMA COMPREENSÃO DOS PROCESSOS FORMATIVOS NA CONTEMPORANEIDADE 34 2.1 Estética, Experiência Estética e Educação Estética: vínculos indissociáveis 34

2.1.1 Valores estéticos, éticos e morais: um significado de desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos 42 2.2 Processos formativos: valorização técnica formal 49 2.3 A estética da docência: corpo, emoções e subjetividade 53 3 A ESTÉTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: NARRATIVAS DOCENTES 62 3.1 A estética do olhar: a escolha da profissão em Educação Física 62 3.2 A estética do apito: as marcas da relação professor - aluno - conteúdo 68 3.3 A estética da quadra: uma possibilidade de desenvolvimento de autonomia e emancipação dos sujeitos 77 CONSIDERAÇÕES FINAIS 90 REFERÊNCIAS 93 ANEXOS 97

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INTRODUÇÃO

Este estudo apresenta uma reflexão sobre a importância da Educação

Estética na docência de Educação Física, no Ensino Fundamental I. O estudo nasce

de minha experiência como docente na disciplina de Educação Física, na Educação

Básica e Ensino Superior. Trata-se de uma reflexão crítica sobre as práticas

pedagógicas que abordam a formação dos valores estéticos e éticos, nos espaços

escolares, sendo este um dos objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN’s). Portanto, destaca-se nesta pesquisa o componente estético na

compreensão do sentido de ser professor.

Convém ressaltar que, segundo Freire (2003), na jornada educativa e

formativa de ser professor, existe uma influência transformadora. Nessa perspectiva,

o papel educativo do professor, nos contextos escolares, é fundamental na

construção de valores estéticos e éticos pelos alunos, visando à consciência crítica

de sua atuação como cidadão.

Apesar disso, percebe-se, em grande parte, a preocupação do professor de

Educação Física (EF) apenas na transmissão do conteúdo, no cumprimento do

cronograma e no resultado de uma prática eficaz. Quando isso acontece, o objetivo

principal das aulas de EF acaba sendo a busca pela excelência de uma habilidade

motora e, o professor muitas vezes ignora o desenvolvimento das atitudes éticas dos

alunos, nas quais passam pelos componentes da educação estética.

Diante do exposto emergem algumas questões: Qual a visão de educação

estética na visão dos professores de Educação Física? Qual a percepção dos

professores sobre a importância da dimensão estética no desenvolvimento de

autonomia dos alunos? Qual a visão dos professores sobre os objetivos dos PCN’s a

respeito dos objetivos dos valores estéticos na Educação Física no espaço escolar?

A Educação Estética, segundo Schiller (2002), é caracterizada como a

educação através da capacitação do olhar, aguçando a sensibilidade, para perceber

a ‘beleza’ como expressão da autonomia de pensar e descobrir-se como sujeito que

sente e pensa sobre o que sente, atentando para todos os matizes.

Já o termo dimensão estética envolve tudo o que engloba a educação, como:

o conteúdo, o ambiente, o mediador pedagógico, a finalidade e horizonte da

educação, a forma em si e o espírito de toda a educação.

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Sendo assim, o presente estudo será investigar o seguinte problema: o

sentido da dimensão estética na Educação Física na visão dos professores de uma

escola da rede privada do Estado de São Paulo, localizada na zona Norte da cidade

de São Paulo.

O objetivo será compreender a atribuição de sentido da educação estética a

partir das narrativas docentes da disciplina Educação Física no espaço escolar do

Ensino Fundamental I. A hipótese norteadora é que o desenvolvimento da

autonomia e da emancipação dos sujeitos ocorre na dimensão estética.

A relevância social e acadêmica deste estudo encontra-se na possibilidade de

compreensão que o desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos

ocorre na dimensão estética nas aulas de educação Física. Percebe-se que apesar

dos constantes discursos sobre a escola ter um papel fundamental na formação

estética e ética dos alunos e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) trazer

como um dos objetivos da Educação, o que se vê no meio científico é um pequeno

número de pesquisas na área da Educação Física.

De acordo com Palma (2001); Daolio (1998); Gallardo (1998); Soares (2001);

Darido (2003); Bracht (1999); Medina (1992), no processo de construção da

Educação brasileira, a Educação Física cumpriu diferentes papéis que eram

pertinentes à determinada épocas. Nas quatro primeiras décadas do século XX, foi

marcante a influência dos Métodos Ginásticos e da Instituição Militar. Outra função

foi estabelecida pelo surgimento da educação higienista, a qual determina a

Educação Física como meio de construção do homem saudável (BRACHT et al,

1992; MORO, 2004).

A partir da década de 1970, tiveram início vários movimentos críticos na

busca de reavaliar a especificidade da Educação Física no contexto escolar. Nesse

sentido, muitos autores construíram novas abordagens e metodologias de ensino a

ser trabalhada, especificamente na Educação Física. A autora dessa pesquisa

iniciou suas atividades como docente na década de 90, e percebeu as

transformações decorrentes a cada momento até os dias de hoje. Daí, a

necessidade e busca de novos caminhos para alcançar os objetivos, acompanhar e

entender essas mudanças.

Os diferentes significados e sentidos atribuídos, historicamente, à Educação

Física, mostram o processo que a disciplina vem se caracterizando dentro dos

parâmetros da Educação Bancária. Freire (2007) refere-se a uma concepção

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bancária de educação, na qual os alunos são meros receptores de informação, sem

qualquer incentivo a consciência crítica e a autonomia, foram, e ainda são muito

importantes que envolvem a Educação Física no espaço escolar. Apesar das

constantes mudanças e transformações que vem ocorrendo em nossa sociedade

capitalista, influenciam e impulsionam a ideologia neoliberal, provocando um olhar

equivocado para o papel das disciplinas escolares (KUENZER, 2001).

A formação de pessoas no espaço escolar envolve respeito às diferentes

opiniões e às regras, negação a qualquer tipo de violência, a busca de solucionar

problemas, trabalhar em grupo, discussões, de serem críticos e muito mais. É nesse

espaço que ocorre o desenvolvimento da autonomia do sujeito, portanto, deve-se

cuidar para que a disciplina e o respeito às regras não ocorram através de métodos

coercitivos onde impera o autoritarismo, ou seja, uma imposição onde inibe a troca

entre professor e aluno.

O professor, Yves de La Taille (1996), ressalta que a moralidade está

relacionada às regras; porém, nos alerta que nem toda regra tem vínculo com a

moralidade. Para que tenham, seu princípio deve ser o de justiça e não pode ter sido

imposta. Defende que o desrespeito às normas pode ser sinal de autonomia,

significando resistência às imposições e ao autoritarismo. Para ele indisciplina pode

surgir justamente desse não cumprimento às regras, quer seja por não conhecer ou

pela revolta a uma regra imposta. É atribuição da função do professor de Educação

Física, o compromisso ético e estético com o desenvolvimento não apenas de

excelentes habilidades motoras, mas o desenvolvimento da autonomia e

responsabilidade no aprender a ser sujeito no próprio aprendizado do saber

conviver, reconhecer que na relação professor – aluno deve existir reciprocidade.

Dentro desse compromisso, entender que o professor também aprende e deve abrir

mão de uma postura autoritária e considerando os conhecimentos dos alunos, neste

sentido, não existem lugares fixos a serem ocupados como aprendiz e mestre, mas

um meio propício para o desenvolvimento de uma relação recíproca: o

conhecimento; considerar que a educação é dada pelo próprio comportamento, pela

própria postura e julgamentos morais. Segundo Piaget em La Taille (1996); a

cooperação, a solidariedade e o respeito mútuo são valores que devem fazer parte

do cotidiano escolar, das relações interpessoais na escola, com o intuito de

desenvolver, nos alunos, a autonomia. Discutir e elaborar as regras em conjunto

seria uma forma de levar o aluno a uma reflexão e um cumprimento ético da mesma.

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Adota-se, como referencial teórico, a obra de Adorno, voltada para a

compreensão dos parâmetros da estética da indústria cultural e da massificação da

cultura, educação e emancipação quanto ao padrão de beleza e estética estipuladas

pela mídia, evitando assim o preconceito. Adota-se ainda a obra de Freire, no que se

refere à crítica à Educação Bancária e a busca de superação, por meio da

curiosidade estética, como caminho de conscientização e da autonomia. Aproxima-

se de Schiller, no que concerne à dimensão do sensível da arte nos processos

formativos, e MORAN, debatendo sobre a educação que desejamos novos desafios

e como chegar lá.

O caminho traçado para a pesquisa será a entrevista narrativa, onde os

professores discorrerão sobre algumas questões já pré-determinadas. Seis

professores de educação física escolar participarão de forma voluntária e serão

divididos em pequenos grupos. As respostas serão gravadas para, posteriormente,

serem analisadas. A revisão da literatura sobre essa temática e a entrevista com

esses professores de Educação Física escolar possibilitarão traçar o caminho da

pesquisa, pois será por meio das narrativas desses que será verificado se existe

efetivamente uma preocupação com uma educação estética se manifestando em

relacionamentos éticos. Os resultados serão analisados por meio das respostas

gravadas, com uma interpretação hermenêutica filosófica. Esta pesquisa justifica-se

pela possibilidade de compreensão que o desenvolvimento da autonomia e

emancipação dos sujeitos ocorre na dimensão estética nas aulas de educação

Física no processo ensino aprendizagem.

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO: OLHAR PARA SI E PARA O

OUTRO

Deve existir cada vez mais o

desenvolvimento de uma consciência ética, que

nos prepare para lidar com as situações novas e

com os desafios que se apresentam no mundo

contemporâneo.

IMMANUEL KANT

Neste capítulo, apresenta-se uma reflexão sobre a trajetória da autora deste

trabalho, o tema de estudo a Educação Física no espaço escolar e o enfoque

hermenêutico como tratamento dos dados coletados pelo procedimento da

Entrevista Narrativa.

No primeiro momento, relata-se o processo do percurso singular da autora

deste trabalho, construída no coletivo, como primeira etapa deste, o que possibilitou

a sua transformação em documento. A narrativa da história de vida da pesquisadora

foi um processo que teve como ponto de partida fundamental a metodologia da

Colcha de Retalhos, desenvolvida por Berkenbrock-Rosito, (2009) concretizada

dentro da abordagem da pesquisa (Auto) Biográfica, que suscitou um importante

momento de reflexão sobre as lembranças/recordações de situações vividas.

Nesta metodologia, a narrativa escrita é produzida utilizando-se duas

estratégias. A primeira estratégia refere-se à narrativa biográfica, considerando as

experiências no Curso Superior. O trabalho consiste em resgatar na memória

situações que respondam a três questionamentos: Como foi a sua relação com os

conteúdos curriculares no Curso Superior? Foi de questionamento ou submissão?

Como foi a sua relação com o professor? Foi de autoria ou submissão? Que aluno

você foi?

A segunda estratégia é a narrativa autobiográfica, a História de Vida, na qual

se elabora o “Quadro da linha da Vida”, buscando “os momentos divisores de água”,

inspirados nos “momentos charneiras”, em Josso (2010) que fazem parte do

processo de formação. Os momentos charneiras podem ser compreendidos como os

acontecimentos da vida, que causam transformações e divisões na vida dos seres

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humanos. Esses acontecimentos formam e modificam as pessoas, pois são eventos

que provocam uma mudança profunda, uma transformação de referenciais de vida,

alterando o modo de pensar e agir da pessoa.

O Quadro Linha da Vida consiste em ter foco nas categorias de espaços e

tempos, as subcategorias vida familiar, escolar/acadêmica, profissional, pessoas,

professores, livros, filmes, relações amorosas, deslocamento geográfico, buscando,

no percurso de vida da pessoa, no fazer o mapeamento dos momentos “divisores de

água”.

Josso (2004) ainda esclarece que através do “Quadro da Vida” é possível

compreender que toda experiência é vivência, mas nem toda vivência torna-se

experiência. A autora define experiência formadora como a compreensão dos

momentos charneiras, situações e acontecimentos que modificaram os referenciais

de vidado indivíduo. A reflexão sobre o que se aprendeu com essa vivência permite

entender melhor o próprio processo de formação e os componentes estéticos

constituintes da identidade pessoal e profissional.

1.1 A pesquisadora: em busca do sentido da narrativa de si

Lembro-me de meus pais sempre me dizendo: “Você faz suas escolhas e as

escolhas fazem você.” Minhas memórias mais vivas do que é ser criança, ainda são

as lembranças da menina que fui, onde os verbos brincar, aprender e crescer não

eram dissociados.

Morávamos em uma rua muito tranquila em São Paulo. Naquela época ainda

não tínhamos tanto medo de assalto. Era tão envolvida nas brincadeiras de rua que

era difícil saber se brincávamos para viver ou vivíamos para brincar. Brincávamos

livremente, andava de bicicleta, aliás, era uma das coisas que amava fazer,

saltávamos, corríamos, brigávamos e fazíamos as pazes, podíamos brincar na rua

de pic - bandeira, mãe da rua, queimada livre e de campo, encostávamos uns nos

outros nas brincadeiras e nas relações de afeto. Uma das minhas brincadeiras

favoritas era escolinha, onde, claro, eu era a professora e minhas amigas, as alunas.

No jogo da imaginação imitava minha professora da escola. Desde aquela época, eu

me sentia feliz em achar que era de verdade uma professora. Nossas brincadeiras

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surgiam da imaginação e de um grupo de meninas que se reuniam para explorar o

mundo repleto de emoções.

No início da minha escolarização, vivenciei momentos significativos, que

deixaram marcas que, ao serem relembradas, desencadeiam sentimentos positivos,

nos quais são enunciadas a importância da escola, o aconchego e a saudade. A

professora carinhosa e atenciosa, em que o início da escolarização desencadeia

lembranças boas. Alguns desses professores ficaram registrados em minha

memória, por suas aulas interessantes e atrativas, outros pelo carinho com que nos

tratavam.

Uma dessas professoras no decorrer do curso ficou com câncer. Pudemos

acompanhar sua luta contra a doença e, ao mesmo tempo, perceber como ela era

uma pessoa responsável com a tarefa de ensinar, pois mesmo sua aparência

estando um pouco desfigurada, seus cabelos caindo, um pouco inchada por conta

da medicação, era uma pessoa agradável e sempre solicita. Parecia que lutava para

não transferir para suas alunas suas lutas individuais. Isto me marcou. Uma pessoa

guerreira e ética, demonstrando através de sua responsabilidade como ensinar e

ensinou por sua atitude diante do sofrimento e da luta pela vida.

Por gostar muito do esporte, acabei optando por estudar Educação Física

(EF). A princípio somente pelo esporte, ou seja, somente pela atividade física em si.

Não imaginava que um dia pensaria na atividade física (esporte) como meio de

educar. Como docente, com a experiência adquirida e com exemplos de professores

na minha memória, percebi que a aula de EF na escola não é somente um momento

de ensinar um esporte ou atuar apenas nos conteúdos inerentes aos jogos e

atividades, mas uma disciplina importante no ensino, vinculada à construção do

sujeito. Essa tarefa deve levar a um sujeito que pensa, analisa, compreende o

mundo em que está inserido, se entenda como um ser atuante no mundo, que faz

parte da história e entenda que suas decisões terão conseqüências, sejam elas

positivas ou negativas.

É importante a compreensão a respeito do que seja a disciplina Educação

Física, pois ela esta presente na escola há muito tempo e contribui para

desenvolvimento biológico, psicológico e social. Palma e Palma (2005) consideram

que a Educação Física contribui no processo de educação escolarizada para a

reflexão dos educandos sobre sua corporeidade, percebendo-se corpo, corpo

possível e em movimento. Ou seja, a Educação Física traz como foco de estudo

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para a educação o sujeito que se movimenta. Porém, não é um movimento,

qualquer, mas sim um movimento construído e elaborado por seres racionais. Dessa

forma, a EF é um campo de reflexão e construção de conhecimentos relacionados

ao corpo que se movimenta e como o mesmo se constitui na sociedade fazendo

parte da história por meio da autonomia, a liberdade de pensar e agir. Uma

Educação Física Escolar desenvolvida dessa forma poderá desenvolver a autonomia

dos alunos que poderão se relacionar de forma ética, sendo perceptível nas relações

pessoais, no reconhecer e aceitar as diferenças. Como disciplina possui uma

dimensão estética que engloba: o conteúdo da educação, o ambiente, os espaços,

os objetos, os instrumentos, enfim, todo o meio pedagógico visto como um todo.

Com isso, busquei o Mestrado em Educação para compreender melhor a dimensão

estética e ética envolvida na prática pedagógica das aulas de EF, que extrapola o

ensino das habilidades motoras, esportes e jogos. Nesta dimensão, valores e

princípios são construídos dentro da relação professor, aluno e conteúdo. Por isso,

“é salutar que os educadores sempre se lembrem de que na sua árdua jornada de

ensino, a educação tem uma influência transformadora” (FREIRE, 2001, p. 28).

No mestrado, na disciplina Fundamentos da Educação Estética, compreendi

que a prática docente contempla a ética, sobretudo, uma educação estética pode ser

refletida na formação dos seus alunos, não apenas nos anos escolares, mas por

toda a sua vida. Com a leitura de Paulo Freire, torna-se claro que o papel do

professor é o mediador da construção estética dos alunos. Isso envolve a formação

de pessoas com capacidade de interagir com os outros, de respeitar as diversas

diferenças e opiniões que encontramos na sociedade, de cooperação, de negação a

qualquer tipo de violência, de respeito às regras, de solucionar problemas em grupo

por meio de discussões, de serem críticos quanto ao padrão de beleza e estética

estipuladas pela mídia, evitando assim o preconceito. A conscientização de ser

sujeito histórico tem a função de desenvolvimento de se tornar pessoas inteiras, não

só com excelentes habilidades motoras, mas no convívio com outros, enfim, uma

educação estética, tornando-se autônomas e responsáveis em todas as suas ações,

na relação consigo, com o outro e com a sociedade.

Ainda que tenha essa clareza, não deixa de ser um desafio a preocupação do

professor de Educação Física em não guiar sua prática apenas pela preocupação da

transmissão do conteúdo, dentro cronograma e pela prática excelente da habilidade

motora. Entretanto, o desenvolvimento de atitudes positivas diante de si mesmos e

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dos outros, o aprender a colaborar, a viver em sociedade, em grupo e gostar de si e

dos demais, enfim, a educação estética no espaço da quadra onde a Educação

Física acontece.

Quando escrevemos a respeito de nossas escolhas, não passamos ao largo

de reviver momentos onde nossas decisões mudaram nossa vida. É reconstruir

nossa trajetória de vida como momento de encontro e reencontro consegue.

Refletindo sobre isso, percebo o quanto minha história de vida influenciou a

construção do “EU” pessoal, acadêmico e profissional, a partir das decisões e,

consequentemente, reverberam na escolha do tema deste estudo.

Furlanetto (2004), após a observação da trajetória de alguns professores,

afirma que a matriz pedagógica se dá com a descoberta do professor interno, que se

inicia na infância com relações familiares e continua por toda a vida a formar o

sujeito.

Convém ressaltar que, na visão de Freire (2011), na jornada educativa e

formativa de ser professor, ocorrem influências transformadoras. Nessa perspectiva,

o papel educativo do professor é fundamental na construção de valores estéticos e

éticos pelos alunos, nos espaços escolares, visando à consciência crítica de sua

atuação como cidadão.

Nesse sentido, no processo de construção do sujeito e do educador, é

necessário que tenha despertado para a estética de si, no sentido de cultivar a si,

sua história pessoal, sua transformação e aprendizagem. Para Josso (2002), extrair

da vivência momentos marcantes significa identificar os percursos formativos,

porque houve aprendizagem e uma experiência. Nóvoa é sempre a pessoa que

forma e forma-se à medida que elabora uma compreensão sobre o seu percurso de

vida.

1.2 Educação Física: o encontro com o objeto de estudo.

É importante perceber que a Educação Física vem sendo construída

historicamente, cumprindo diferentes papeis. Dessa forma, nesse capítulo

entraremos em contato com o objeto de estudo. Talvez ao ler esse histórico, você

poderá se reportar às aulas ministradas no seu tempo de escola.

Nas quatro primeiras décadas do século XX, foi marcante a influência dos

Métodos Ginásticos e da Instituição Militar. Outra função foi estabelecida pelo

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surgimento da educação higienista, a qual determina a Educação Física como meio

de construção do homem saudável (BRACHT et al, 1992; MORO, 2004). A partir da

década de 1970 iniciaram vários movimentos críticos na busca de reavaliar a

especificidade da Educação Física no contexto escolar. Nesse sentido, muitos

autores construíram novas abordagens e metodologias de ensino a serem

trabalhadas, especificamente na Educação Física.

Todas essas propostas diferenciadas da tão criticada abordagem tradicional,

que como dizia Paulo Freire (2007) refere-se a uma concepção bancária de

educação, na qual os alunos são meros receptores de informação, sem qualquer

incentivo a consciência crítica e a autonomia, foram, e ainda são muito importantes

para a evolução do conhecimento de que trata a Educação Física Escolar. Apesar

disto, as constantes mudanças e transformações que vem ocorrendo em nossa

sociedade capitalista de ideologia neoliberal, influenciam e impulsionam a mesma, a

terem um olhar equivocado para as disciplinas escolares (KUENZER, 2001).

É importante saber como e quando a EF começou a se preocupar com a

formação do caráter do indivíduo. E é essa preocupação que fez nascer esse

projeto.

Durante o período da colonização do Brasil, as atividades físicas praticadas

eram: caça, pesca, corrida, nado, canoagem, capoeira entre outras; sendo na sua

maioria de caráter prático.

Com os colonizadores e os Jesuítas em 1549, iniciou-se a história da

Educação Física Brasileira. As práticas esportivas ou atividades praticadas pelos

índios e primeiros colonizadores foram o arco e a flecha, a natação, a canoagem, as

corridas, as marchas e a equitação, todas caracterizadas pelo seu utilitarismo. Entre

os jogos destacamos as lutas e a corrida de troncos. A natação, explicada pelo

imenso litoral e pela grande quantidade de rios e lagos, era também um meio de

sobrevivência. A canoagem, pelas mesmas razões da natação, tinha uma grande

utilização entre os índios, surgindo à primeira pratica desportiva com o remo em

1566.

No Brasil, a EF Escolar organizada e sistematizada teve início no século XIX.

Para Gallardo (1998), o país vivia um momento de transição da sociedade escravista

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para uma formação social capitalista. As tendências europeias predominavam em

diferentes campos do saber, existia a preocupação de construir um homem novo,

que atendesse a nova ordem política, social, econômica e emergente. O objetivo era

formar um homem sadio, forte para ser rentável.

Entre 1822 e 1882, predominou a Educação Física de caráter higienista,

sendo que em 1851, foi o início oficial da Educação Física escolar brasileira. A

Ginástica era dada no ensino primário (1ª a 4ª série) e a Dança para o secundário (5ª

a 8ª série). Já em 1882, a Educação Física passou a ser obrigatória também do

jardim de infância aos cursos industriais de comércio e agricultura, como matéria se

igualando às demais disciplinas (PALMA, 2001).

A partir de 1890, com a reforma de Benjamin Constant, a Educação Física

assumiu o caráter militar, utilizando marchas, evoluções militares e até manejo de

armas de fogo influenciados pela ginástica alemã.

Em 1891 foi fundada a primeira Associação Cristã de Moços (ACM) no Brasil

(RJ), berço do desenvolvimento esportivo orientado pelos americanos. Em 1892, foi

determinado que cada escola deveria dedicar um Domingo por mês à Educação

Física com a prática de jogos como peteca, barra manteiga, futebol, corrida e outros

(PALMA, 2001).

Já no século XX, no ano de 1919, o governo contratou professores suecos de

ginásticas para ministrarem aulas nas escolas públicas e darem apoio a eventos e

competições esportivas. Isso só mudou a partir de 1929, quando o Ministério Guerra,

estabeleceu que o método a ser seguido na Educação Física, seria o Método

Francês, onde instrutores militares são designados para aplicar o método nas

escolas públicas, com o objetivo de preparar e selecionar pessoas para as Forças

Armadas (PALMA, 2001).

Em 1937, a Educação Física foi designada como disciplina, não apenas

matéria, sendo obrigatória aos alunos até os 21 anos. A partir de 1939, a Educação

Física preocupava- se não apenas com o biológico, mas também buscava despertar

hábitos e qualidades morais no indivíduo (PALMA, 2001).

No ano de 1941, havia um grande conflito de métodos de Educação Física,

onde algumas instituições adotavam certo tipo de método, e outras instituições

adotavam outras.

Em 1946, foi apresentado o método baseado no esporte, com o objetivo de

favorecer a saúde, melhora das condições psico-morfo-fisiológicas, desenvolvimento

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intelectual e moral, estímulo do raciocínio, superação de dificuldades, socialização,

além se ser mais dinâmico e motivador. Em 1956, nasceu o Método Desportivo

Generalizado, com o objetivo de iniciação e aprendizagem esportiva, integração

social e resoluções de problemas (PALMA, 2001).

Em 1967 foi dado um novo conceito à Educação Física: conjunto de jogos,

esportes, ginásticas, danças e recreação; competições esportivas admitidas como

atividades regulares. São fases da Educação Física: saúde, metafísica, higiênica,

física, moral e esportiva. Em 1970 foi criado o DED (Departamento de Educação

Física) no MEC. No ano seguinte, a Educação Física foi criticada por ser usada

como forma do governo controlar o meio estudantil e garantir a segurança nacional

(PALMA, 2001). O final da década de 1970 e início dos anos de 1980 assistem à

criação dos primeiros cursos de pós - graduação, voltados para a área,

simultaneamente ao retorno dos primeiros brasileiros doutorados no exterior.

Em 1975, surgiu a Política Nacional da Educação Física e Desportos, com o

objetivo de melhorar a aptidão física da população, intensificar a prática de esportes

de massa, difundir o esporte como forma de lazer e assim elevar o nível técnico-

esportivo das representações nacionais. Nesse mesmo ano houve uma proliferação

de Faculdades de Educação Física no país (PALMA, 2001).

Em 1977, surgiu o Método Esportivo, com o objetivo de selecionar alunos

como futuros representantes do Brasil em competições internacionais. Houve uma

valorização exagerada das competições e da vitória. Diretores criticam o método,

pois os fins educativos são deixados de lado (PALMA, 2001).

No início da década de 1980, a Educação Física Brasileira incorporou a

necessidade de uma crise para a área a partir da divulgação do livro com o titulo “A

educação física cuida do corpo e mente”, do professor João Paulo S. Medina

(MEDINA, 1992). Este trabalho propõe uma tomada de consciência para ultrapassar

o contexto de adestramento presente até então na Educação Física, possibilitando

assim a elaboração de novas bases para a área.

Quando surgiu essa crise, estava ocorrendo um momento de abertura

política, a educação física historicamente vista como atividade física e esportiva vai

buscar se legitimar como disciplina, discutido sua atuação na escola, inserindo-se no

debate educacional e se dividindo entre as chamadas pedagogias progressistas e

tradicionais.

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A partir dessa ruptura, abriu-se um leque de discussões sobre o real papel da

educação física escolar, trazendo em seu bojo questões como a atuação do

professor de educação física.

Além destes, outro fato viria a contribuir para o aprimoramento do debate

acadêmico: vários professores de Educação física procuraram qualificação

acadêmica em outras áreas especialmente nas ciências humanas (DAOLIO, 1998).

Já em 1985, surgiram os primeiros indícios do Modelo de Subsistemas, onde

a Educação Física de formação (escolar) foi separada da recreação (tempo livre) e

do rendimento (performance). No mesmo ano, ocorreu à volta de professores pós-

graduados do exterior; cresceu a comunicação da área através de congressos,

cursos e publicações; a pesquisa científica ganhou apoio estatal (PALMA, 2001).

Nesse mesmo ano houve uma proliferação de Faculdades de Educação

Física no país (PALMA, 2001).

Na década de 90, a Educação Física se voltou para as áreas pedagógica,

psicológica e sociológica com o objetivo da realização mais plena e autêntica do

homem e a percepção do corpo em sua totalidade: físico, mental, espiritual e

emocional. Em 1998 nasceu o Conselho Federal de Educação Física, de onde se

organizam os CREF (Conselho Regional de Educação Física) (PALMA, 2001).

Gallardo (1998) afirma:

No Brasil, o caráter utilitário e tecnicista da Educação Física

acentua-se durante os governos militares implantados a partir de 1964. Na

legislação educacional do período, a Educação Física ainda aparece como

atividade e como componente curricular obrigatório, cujo objetivo é

despertar, desenvolver e aprimorar as forças físicas, morais, cívicas,

psíquicas e sociais do aluno. A aptidão física é considerada referencia

fundamental para o planejamento, o controle e a avaliação das atividades é

indispensável à manutenção de “ordem e progresso” (GALLARDO, 1998, p.

20).

Em 2002 foram feitos estudos na intenção de justificar a presença da

Educação Física no currículo escolar. Fóruns da Educação Física Escolar foram

realizados, na busca da melhoria da qualidade do ensino.

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A Educação física no Brasil, em suas primeiras tentativas para

compor o universo escolar, surge como promotora da saúde física, da

higiene física e mental, da educação moral e da regeneração ou

reconstituição das raças. Higiene, raça e moral pontuam as propostas

pedagógicas e legais que contemplam a Educação Física, e as funções a

serem por ela desempenhadas não poderiam ser outras senão as

higiênicas, eugênicas e morais (SOARES, 2001, p.91).

Um conceito discutido na Educação Física Escolar é a cultura corporal.

Cultura no mesmo sentido usado em outras áreas, ou seja, um conjunto de

experiências vividas anteriormente, e que vão se acumulando ao longo da história

de um indivíduo ou dos seres humanos. Na cultura corporal, a palavra cultura se

refere ao conjunto de experiências vividas no âmbito do movimento ao longo da

história da humanidade por diversas razões, sejam elas econômicas (movimentos de

caça), de sobrevivência (fuga), religiosa (danças de rituais), ou meramente lúdicas

(jogos, esportes, danças) (PCN, 1997).

A concepção de cultura corporal amplia a contribuição da Educação Física

escolar para o pleno exercício da cidadania. Ou seja, ao decorrer das aulas, nas

vivências dos diversos movimentos que a cultura corporal oferece, é possível

provocar discussões sobre valores como cooperação entre os alunos naquela

atividade, respeito às diferentes manifestações e expressões dos diferentes grupos

étnicos e sociais e às pessoas que dele fazem parte, superação e autonomia nos

desafios que aquele movimento propõe (PCN, 1997).

Cabe ao professor, numa aula de basquetebol, por exemplo, não só

oportunizar muito mais do que a prática das técnicas de execução, mas também de

discutir regras e estratégias, analisá-los criticamente, avaliá-los eticamente e até

recriá-los (PCN, 2007). Nos jogos em que os alunos interagem com os adversários,

os alunos podem desenvolver o respeito mútuo, a prática leal e sem a violência. A

presença de um árbitro permite a vivência da justiça (e da injustiça), submissão às

autoridades. A própria aula mista, onde meninos e meninas fazem a aula juntos, cria

ambiente para discussões sobre as diferenças entre os sexos e o respeito que deve

haver sobre essas diferenças (PCN, 1997).

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Vivenciar as atividades como participantes e como espectador favorece uma

discussão sobre a violência nos estádios e nas competições profissionais hoje,

podendo a turma construir uma atitude de repúdio à violência (PCN, 1997).

Uma Educação Física Escolar desenvolvida dessa forma pode desenvolver a

autonomia dos alunos que poderão monitorar as próprias atividades, regulando

esforços, traçando objetivos, respeitando as potencialidades e limitações evitando

situações de trabalho corporal que podem ser prejudiciais (PCN, 1997).

Educação Física escolar esteve limitada ao corpo e movimento, e seus

conceitos se restringiam aos aspectos fisiológicos e técnicos. Atualmente, além

desses objetos de estudo, há a necessidade de considera-se também as dimensões

cultural, social, política e afetiva, que pertencem ao corpo vivo, isto é, no corpo das

pessoas, que se relacionam e se movimentam como sujeitos sociais e como

cidadãos (PCN, 1997).

Isso significa que, seja qual for o conteúdo ensinado nas aulas de Educação

Física escolar, devem ser consideradas as características dos alunos em todas as

suas dimensões: cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética de relação interpessoal e

inserção social(PCN, 1997).

Segundo o PCN (1997), são os objetivos gerais da Educação Física no

Ensino Fundamental:

Participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e

construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas

e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por

características pessoais, físicas, sexuais ou sociais;

Adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações

lúdicas e esportivas, repudiando qualquer espécie de violência;

Conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de

cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso

para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais;

Reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos

saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, relacionando-os com

efeitos sobre a própria saúde e de recuperação, manutenção e melhoria da

saúde coletiva;

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Solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos, regulando e

dosando o esforço em um nível compatível com as possibilidades,

considerando que o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das competências

corporais decorrem de perseverança e regularidade e devem ocorrer de modo

saudável e equilibrado;

Reconhecer condições de trabalho que comprometam os processos de

crescimento e de desenvolvimento, não as aceitando para si nem para os

outros, reivindicando condições de vida dignas;

Conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e estética corporal que

existem em diferentes grupos sociais.

Hoje, a Educação Física escolar convive com diversas abordagens, conforme

aponta Darido (2003) ou diversas tendências pedagógicas, de acordo com Bracht

(1999).

O quadro de propostas pedagógicas para a Educação Física apresenta-se

bastante mais diversificada. Embora a prática pedagógica ainda resista a mudanças,

ou seja, a prática acontece ainda balizada pelo paradigma da aptidão física e

esportiva, várias propostas pedagógicas foram apresentadas nas últimas duas

décadas e se colocam hoje como alternativas (BRACHT, 1999).

A intenção inicial do professor João Paulo S. Medina através de seu livro “A

educação física cuida do corpo e mente” (MEDINA, 1992), propõe uma tomada de

consciência gerando uma crise dentro da Educação Física, criando assim uma

ruptura na área. Porém, o segundo ponto que seria buscar uma prática

transformadora, parece ter se estagnado e atualmente parece que há um

esvaziamento do que seria o entendimento da possibilidade transformadora da

educação. Na tentativa de compreender esta estagnação parece ser pertinente

utilizar a fala de Freire (1992):

É por isso que, alcançar a compreensão mais crítica da situação da

opressão não liberta ainda os oprimidos. Ao desvelá-la, contudo, dão um

passo para superá-la, desde que se engajem na luta política pela

transformação das condições concretas em que se dá a opressão Como

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não basta ao operário ter na cabeça a ideia do objeto que quer produzir, é

preciso fazê-lo (FREIRE, 1992, p.23).

É relevante elaborar uma discussão que compreenda o papel da Educação

Física escolar, que reflita no trabalho cotidiano do professor, na relação com os

alunos e com o processo ensino-aprendizagem, buscando a compreensão dos

valores estéticos, éticos e morais nele implicados. Diante do quadro traçado para a

Educação Física brasileira, vislumbrando sua história e as possibilidades que se

abriram para ela, o que mais chama a atenção é o atual terreno, fértil para alguns,

onde se abrem perspectivas desde a concepção de educação, nos fins do século

XIX veio a contrapor-se à chamada educação tradicional, a escola nova. Ao

construir-se como crítica à escola tradicional, a pedagogia nova centra toda a crítica

a essa escola e a pedagogia nova centra toda a crítica ao autoritarismo do

professor: se ele detém todo o poder decorrente do saber acumulado, se ele é o

centro ao redor do qual orbitam os demais componentes do processo, dessa forma

os alunos jamais conseguirão um saber existencialmente significativo, já que tudo

lhe é imposto.

Devemos entender que o trabalho pedagógico é complexo, não devemos

depositar na educação esperanças transformadoras que estão além de seu alcance,

pois sempre será necessário veicular o que se faz na escola com o que se faz fora

dela, conseguindo que a realidade se torne presente na sala de aula.

É necessário que professores e alunos, se vejam como cidadãos e entendam

a relevância social do seu posicionamento e sua atuação. Esta é uma premissa que

passa necessariamente pela relação docente/aluno e pela construção da autonomia

nessa relação, que somente será possível com a visão crítica do professor de sua

realidade, compreensão de visão do mundo de seus alunos e atuação a partir

dessas percepções, sem recorrer a princípios cristalizados nos quais tanto docentes

quanto discentes devem encaixar-se, mas à elaboração de um planejamento de

disciplina relevante para o grupo.

Não há para os progressistas, aceitar a preparação pedagógica sem

perguntar a favor de quê ou contra o quê se trabalha. Torna-se fundamental recobrar

a esperança e a utopia em nosso cotidiano docente. Em um cenário mundial onde,

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frequentemente são privilegiados valores materiais e de poder, outros valores, de

justiça, dignidade humana nem sempre recebem as considerações necessárias.

1.3 Entrevista Narrativa: uma compreensão hermenêutica do objeto de

estudo

A abordagem da pesquisa será qualitativa e o procedimento de coleta de

dados será a Entrevista Narrativa, que é uma técnica que busca a coleta de

informações sobre um assunto e que são diretamente solicitados aos sujeitos

pesquisados (BAUER, 2002; BERTAUX, 2010).

Na perspectiva de Jovchelovitch & Bauer (2002), a Entrevista Narrativa visa

captar as experiências subjetivas do entrevistado, sem a limitação dos questionários

fechados ou semiestruturados. Desta forma, é possível abrir espaço às

subjetividades e interpretações do entrevistado no contexto de sentido em que ela é

narrada. Vale destacar que a Entrevista Narrativa tem como objetivo evitar o

discurso na terceira pessoa, já que quando a pessoa fala de si própria como se

fosse outra pessoa, não se sente tocada pela sua própria história, expressando-se

de maneira desabitada e mecânica. Neste viés, afirmam os autores:

O estudo da narrativa conquista uma nova importância nos últimos

anos. Este renovado interesse tem um tópico antigo: narrativas e

narratividade tem suas origens na Poética de Aristóteles e está relacionada

com a consciência do papel que contar histórias desempenha na

conformação de fenômenos sociais. No despertar desta nova consciência,

as narrativas se tornaram um método de pesquisa muito difundido nas

Ciências Sociais. A discussão sobre narrativas vai, contudo, muito além de

seu emprego como método de investigação. A narrativa como forma

discursiva, como história, como histórias de vida e histórias sociais, foram

abordadas por teóricos culturais e literários, linguistas, filósofos da história,

psicólogos e antropólogos. (JOVCHELOVITCH & BAUER, 2002, p. 90)

Os referidos autores esclarecem que a Entrevista Narrativa, compreende as

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fases de:

I. Preparação, com a exploração do campo e identificação dos sujeitos

envolvidos;

II. Iniciação, através da formulação do tópico inicial para narração;

III. Narração central, partindo da narração livre por parte dos sujeitos;

IV. Fase de perguntas: constituída das questões desencadeadoras

formuladas pelo entrevistador.

O questionário narrativo, elaborado pela orientadora desta pesquisa, consiste

na preparação dos entrevistados para a entrevista narrativa. Já que a fase I

“Preparação” compreende a identificação dos sujeitos da pesquisa e sua formação

acadêmica, buscamos este objetivo através de questões como: Quando iniciou o

seu trabalho como professora/professor de Educação Física?

É essencial ressaltar que os critérios para a seleção dos professores são:

interesse em participar da pesquisa; lecionar para o Ensino Fundamental I e

concordar com os termos de consentimento e participação na pesquisa.

Na fase II, a Iniciação consistirá na realização de duas estratégias, sendo que

a primeira, compreende uma Narrativa Biográfica, na qual os entrevistados falam

sobre sua vivência no Ensino Superior, focalizando três cenas marcantes. O

indivíduo será exposto aos seguintes questionamentos: Minha formação foi de

autoria ou não? Como foi a minha relação com as disciplinas no Ensino Superior?

Foi de autoria ou submissão? Como foi a minha relação com o professor? Foi de

autoria ou submissão? Que aluno (a) fui?

A segunda estratégia, a elaboração do Quadro da Vida, busca “os momentos

divisores de água”, inspirados nos “momentos charneiras”, conceito desenvolvido

por Josso (2002), nas categorias de espaço e tempo: vida familiar, escolar,

acadêmica, profissional. O indivíduo recorda-se das preferências de leituras, cinema,

pessoas, relacionamentos amorosos, episódios marcantes e mudanças em seus

referenciais. Nesse processo, ele reconhece as pessoas, professores e livros que

influenciaram na sua escolha profissional, questionando sua relação com a maneira

de ser pessoa e professor.

Josso (2004) ainda esclarece que através do Quadro da Vida é possível

compreender que toda experiência é vivência, mas nem toda vivência torna-se

experiência. A autora define experiência formadora como a compreensão dos

momentos charneiras, situações e acontecimentos que modificaram os referenciais

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de vidado indivíduo. A reflexão sobre o que se aprendeu com essa vivência permite

entender melhor o próprio processo de formação e os componentes estéticos

constituintes da identidade pessoal e profissional.

Na fase III, a Narração Central, apresenta-se a pergunta que deflagra a

narrativa: O que você poderia relatar em relação à dimensão estética na sua prática

como professor de Educação Física? Quais as dificuldades? A partir de sua

experiência quais suas sugestões para melhorar o espaço escolar?

Durante a fase IV, na entrevista, questões devem emergir a partir de

perguntas Por quê? Para quê? Já na fase V, que traz a Fala Conclusiva, o

entrevistador propõe as questões: O que significou para você o resgate do processo

formativo no Ensino Superior? O que significou reconhecer as pessoas, professores,

livros que influenciaram a sua escolha profissional? Refletir sobre a sua relação com

o conhecimento, professor e consigo mesmo, se de autoria ou não, permitiu

perceber que a trajetória pessoal e profissional não são distantes e que influenciam

os modelos de práticas e a decisão profissional? O que significa para vocês a

dimensão estética na disciplina Educação Física? Neste momento, a pesquisadora

explicou o significado do termo dimensão estética e educação estética, pois os

professores indagaram sobre o termo usado.

Vale destacar que, durante todo o processo, as respostas foram gravadas e,

posteriormente, transcritas e analisadas, garantindo assim a fidelidade ao que foi

relatado pelo entrevistado.

Para compreensão dos dados coletados na Entrevista Narrativa e no

questionário narrativo, será adotado o enfoque hermenêutico, na perspectiva de

Gadamer. Tal processo envolve a subjetividade do pesquisador e faz com que haja

a superação dos pré-conceitos, conduzindo-o à compreensão da prática dos

professores de Educação Física, possibilitando-lhe o alcance de novos horizontes

seguindo as pistas do sentido da Educação Estética presente nas narrativas dos

docentes, que atuam no Ensino Fundamental I, visando à autonomia e à

emancipação dos sujeitos, em contraposição a uma Educação Bancária, conceito

desenvolvido por Freire (1997).

Conforme Heidegger (2002), na Hermenêutica compreender é uma habilidade

operatória ligada ao contexto de vida do humano. Especificamente nesta pesquisa,

observar o docente não é um foco pelo método apenas, mas o foco está na

compreensão do que ocorre, na interpretação. Para Franco (2008, pg. 29) o ponto

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de partida da Análise de Conteúdo é a mensagem, seja ela verbal, gestual,

silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada.

A compreensão filosófica Hermenêutica, em Gadamer (1997), é a mais

apropriada para o estudo, da teoria para prática e para a teoria como um processo

infinito de compreensão do que somos como seres humanos, o que sabemos e

como o fazemos e de que forma colocamos em ação esses saberes.

Assim, para Gadamer (1997), a compreensão é um processo de abertura de

horizontes, para encontrar no texto o sentido de algo que diz por si mesmo. Para o

autor, toda compreensão tem caráter de aplicação, isto é, há uma pergunta que o

texto quer responder. Os conteúdos de sentido se apresentam como algo presente

no texto e que necessita ser descoberto.

Nesta perspectiva, compreensão não significa necessariamente estar de

acordo com o que ou quem se compreende, mas pensar e ponderar o que pensa o

outro, isto é, os autores e teóricos da educação, os professores entrevistados,

desdobrando-se o estudo em explicitações de conceitos, interpretações e

apreensões. O falar acontece no diálogo em que é possível à comunicação e a

compreensão, constituindo-se o movimento dialógico da construção de sentidos.

Os procedimentos de coleta de dados, com duração de 2 meses, são

realizadas entrevistas por meio das quais o professor terá a possibilidade de

discorrer sobre o tema proposto. Será composto por 2 partes. A primeira parte

contemplará dados pessoais a fim de caracterizar os professores nas variáveis como

gênero, idade, tempo de experiência e se possui ou não especialização. A segunda

parte será composta por TRÊS questões acerca sobre a educação estética, que

serão narradas por eles. As perguntas serão as seguintes: Como você vê a

dimensão ética na sua prática como professor de Educação Física?2) O que é a

educação estética? 3) O que você poderia falar sobre os PCN’s em relação ao papel

do professor

A entrevista narrativa abre espaço às subjetividades e interpretações do

entrevistado no contexto de sentido em que ela é narrada, trata-se de uma técnica

que visa à coleta de informações sobre um assunto e que são diretamente

solicitados aos sujeitos pesquisados. A subjetividade há uma relação com o corpo,

com as emoções, trabalhar o conviver.

1.3.1 Narrativas Docentes: situando o contexto do estudo

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O contexto da pesquisa é uma escola de Ensino Fundamental I da rede

particular localizada na zona Norte, da cidade de São Paulo. Os sujeitos da pesquisa

são seis (6) professores de Educação Física escolar. Os critérios para a seleção dos

professores são: interesse em participar da pesquisa; lecionar para o Ensino

Fundamental I; - concordar em assinar o termo de consentimento e participação na

pesquisa.

A tabela abaixo permite uma visualização do perfil dos sujeitos que

participaram da Entrevista Narrativa.

Tabela 1: Caracterização dos sujeitos.

Suje

ito

Idad

e

Sex

o

Especial

ização

Tem

po de

atuação

Doc

ente

1 30 M Não 2

anos

Pinh

eiro

2 35 M Sim 15

anos

Carv

alho

3 27 M Não 4

anos

Cedr

o

4 56 F Não 36

anos

Acá

cia

5 27 F Sim 6

anos

Pal

meira

6 29 F Sim 8

anos

Amo

reira

Os professores receberam nome de árvores. O nome de árvores foi escolhido

de forma aleatória, pois todas nas suas mais diferentes formas, diferenças e

tamanhos, são extremamente importantes. O símbolo e a historicidade que cada

árvore carrega, além de se apresentar de uma forma grandiosa, com diferentes

significados em diferentes culturas.

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Desde a antiguidade, as árvores simbolizam pessoas, governantes e reinos.

Na Bíblia, muitas vezes, o homem é comparado a uma árvore. Em Jeremias 17: 7,8,

o profeta afirma: "Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o

Senhor. Porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas

raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e

no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto". (Bíblia VT).

No Novo Testamento, encontramos Jesus também fazendo a mesma

comparação. Ele faz referência às pessoas e usa a árvore como uma metáfora,

comparando com seus frutos em Mateus 12: 33 - “Ou fazei a árvore boa e o seu

fruto bom, ou a árvore ruim e o seu fruto ruim: porque pelo fruto se conhece a

árvore”. (Bíblia NT).

Na história da humanidade, a árvore tem sido alimento, ferramenta, abrigo. A

madeira sendo usada para vários fins, obtenção de produtos como a celulose,

cortiça, látex. É também importante na manutenção da paisagem natural, graças à

absorção da água das chuvas por suas raízes, evitando a erosão, a produção de

oxigênio. Algumas culturas consideram a árvore como símbolo de fertilidade. Com

isso, as mulheres recorrem a ela, como em certas tribos da Ásia, que pintam em

seus corpos essa figura, ou como no Mediterrâneo e na Índia, que as mulheres

prendem nas árvores seus lenços vermelhos.

Paulo Freire, em sua obra “Á Sombra desta Mangueira”, faz uma alusão à

árvore, com seu verde, sua sombra, fruto, que sempre o atraiu. A simbologia da

árvore traduz a infância de Paulo Freire em Recife, pois quando era criança

aprendeu ler e escrever à sombra das mangueiras no quintal da casa usando

gravetos. Criou-se neste espaço, o quintal da casa, um lugar que o permitiu ler o

mundo que o cercava. Dessa forma, à sombra dos professores como figura de

linguagem, é uma forma de dizer que é possível levar os alunos ao processo de

reflexão, avaliação e transformações. Levá-los a se tornarem completos. “Um ser

que é completo, que faz coisas, se encanta tem raiva e se nega a aceitar a condição

de objeto que não reclina a fronte diante do poder tecnológico.” (FREIRE, 2001, p.

22).

Dessa forma, foi realizada uma analogia, pois é um recurso na linguagem que

apresenta um papel importante no discurso.

Ao conceituar “analogia”, Abbagnano (1999) afirma:

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Esse termo tem dois significados fundamentais: 1º o sentido próprio

e restrito, extraído do uso matemático (equivale à proporção) de igualdade

de relações; 2º o sentido de extensão provável do conhecimento

mediante o uso de semelhanças genéricas que se podem aduzir entre

situações diversas. (ABBAGNANO, 1999, p.55).

A analogia da árvore com o ser docente pode ser percebido na casca, a

cobertura de toda a árvore, desde as raízes até o tronco e os ramos. Quando a

camada mais externa da casca morre, ela se desprende e acaba formando lindos

desenhos na superfície. O contraste em cores é uma arte e nos leva ao belo.

Segundo Schiller, talvez para alguns despertasse o feio. Este fenômeno ocorre

mesmo em árvores jovens, mas é mais presente em árvores a partir dos quatro anos

de idade, pois a espessura da casca é mais significativa, dessa forma justificando

que a árvore se libere da casca mais velha. Essa casca envelhece por causa da

chuva do sol, então ela se desprende. A narrativa de si possibilita a reinvenção de

sua prática e de ser professor. Na Grécia tanto o conhecimento como a sensibilidade

ao objeto artístico nascem da mesma fonte. Só aprende quem abandona a ilusão do

saber, só frui a arte quem deixa os maneirismos dominantes.

FIGURA 1 - Árvores plantadas junto a ribeiros (disponível em: WWW.fotolog.com)

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Jeremias fala de uma árvore que encontrou a água, se alimenta, pois estende

suas raízes para o ribeiro, essa mesmo quando vem o calor, as dificuldades, a sua

folha continua verde e mesmo no ano de sequidão ela continua dar fruto. “Bendito o

homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor. Porque será como a

árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não

receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se

afadiga, nem deixa de dar fruto”. (JEREMIAS, 17: 7,8).

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Figura 2: Larissa Moraes

Com isso, pretende-se refletir a dimensão estética na prática da Educação

Física no espaço escolar.

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2 EDUCAÇÂO ESTÉTICA: UMA COMPREENSÃO DOS PROCESSOS

FORMATIVOS NA CONTEMPORANEIDADE

2.1 Estética, Experiência Estética e Educação Estética: vínculos

indissociáveis.

Ensinar exige ética e estética. “A necessária promoção da

ingenuidade à criticidade não pode ser feita à distância de uma rigorosa

formação ética ao lado da estética” (FREIRE, 1996).

Estética deriva do grego (aisthésis) e significa: sensação, sensibilidade, ela

mantém relação com os afetos, com as paixões e sentimentos, em seu sentido

amplo, é tudo o que embeleza a existência do homem, corpo.

A faculdade do gosto é o que permite a invenção do termo “estética”. Esse

termo é adotado a partir da palavra grega “aísheda”. Um termo cunhado por

Alexander Gottlieb Baumgarten (1714 - 1762), que em seu livro “Estética” (1750) traz

o significado de “faculdades de percepção pelos sentidos”. Pra ele, o estudo da

sensibilidade como um tipo de cognição seria a sensação. Assim, a beleza veio a

ser entendida como possuindo sua própria esfera, à parte dos conceitos gerais,

tendo seu fundamento nas coisas específicas.

O que para Abbagnano (2007) pode ser conceituado como:

Estética é um ramo da filosofia que tem por objeto de estudo a

natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a

percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos

fenômenos estéticos, bem como: as diferentes formas de arte e da técnica

artística; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e

formas nas artes. Por outro lado, a estética também pode ocupar-se do

sublime, ou da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado

feio, ou até mesmo ridículo. (ABBAGNANO, 2007, p. 452)

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Abbagnano (2007) ainda afirma que, para os antigos filósofos, a arte e o belo

não seriam objetos de uma única realidade e que haveria uma distinção entre eles.

Dissemos arte e belo porque as investigações em torno desses dois

objetos coincidem ou, pelo menos, estão estreitamente mesclados na

filosofia moderna e contemporânea. Isso não ocorria, porém, na filosofia

antiga, em que as noções de arte e de belo eram consideradas diferentes

reciprocamente independentes. A doutrina da arte era chamada pelos

antigos com o nome de seu próprio objeto, poética, ou seja, arte produtiva,

produtiva de imagens (Platão, so. 265ª; Aristóteles, Ret., I, 11, 1371 b 7),

enquanto o belo (não incluído no número dos objetos produzíveis) não se

incluía na poética e era considerada a parte. Assim para Platão, o belo é a

manifestação evidente das Ideias (isto dos valores) sendo por isso, a via de

acesso mais fácil e óbvia a tais valores (fed., 250e), ao passo que a arte é

imitação das coisas sensíveis ou dos acontecimentos que se desenrolam no

mundo sensível, constituindo, antes, recusa de ultrapassar a aparência

sensível em direção à realidade e aos valores (Rep. X, 598c). Para

Aristóteles, o belo consiste na ordem, na simetria, numa grandeza que se

preste a ser facilmente abarcada pela visão em seu conjunto (Poet. 7,

1450b35 ss; MET, XIII 3, 1078 b 1), ao mesmo tempo em que retoma e

adota a teoria da arte como imitação, apesar de, com a noção de catarse,

retirá-la daquela espécie de confinamento à esfera sensível a que fora

condenada por Platão. A partir do século XVIII, as noções de arte e belo

mostram-se vinculadas, como objetos de uma única investigação, esta

conexão foi fruto do conceito de gosto, entendido como forma de discernir o

belo, tanto dentro quanto fora da arte (1741). Kant estabelece uma

identidade entre artístico e belo, ao afirmar que “a natureza é bela quando

tem a aparência da arte” e que “a arte só pode ser chamada de bela quando

nós, conquanto conscientes de que é arte, a consideramos como natureza”.

Finalmente, Schelling invertia a relação tradicional entre arte e natureza,

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fazendo da arte a norma da natureza e não o contrário. (ABBAGNANO,

2007, p. 365).

A Educação Estética é, em Schiller (2002), basicamente, caracterizada como

a educação através capacitação do olhar para entender as manifestações artísticas,

aguçando a sensibilidade, para perceber a ‘beleza’ como expressão da autonomia

de pensar e descobrir-se sujeito que sente e pensa sobre o que sente atentando

para todos os matizes. A Educação Estética, como primordial e inerente ao homem,

não é privilégio da arte, uma vez que engloba o julgamento do belo, o gosto e o

sentimento, que são matérias subjetivas, que vão fazer aflorar a sensibilidade.

Os objetos despertam os sentidos pela sensação de gosto ou desgosto, pela

emoção que são capazes de despertar e esses são sentimentos originários no ser

humano, que podem ser desenvolvidos ou aguçados, mais em uns do que em

outros.

Santos (1996, p.216) destaca que: “A estética é da ordem do excesso e do

transbordante. Ela brota da pujança do ser e da vida. É manifestação da liberdade

da natureza e do espírito.” Assenta-se, desse modo que a dimensão estética já vem

inserida como pendor nas faculdades humanas, sendo agente de desenvolvimento e

harmonia dessas outras faculdades do espírito humano.

Schiller (2002) propõe uma ‘educação da faculdade de sentir’, pontuando que:

Tudo o que seja de algum modo passível de manifestar-se como

fenômeno pode ser pensado sob quatro aspectos. Uma coisa pode

relacionar-se diretamente com o nosso estado sensível (a nossa existência

e bem-estar); isto é o seu caráter físico. Ou pode relacionar-se com o

entendimento, e proporcionar-nos um conhecimento; isto é o seu caráter

lógico. Ou pode relacionar-se com a nossa vontade e ser considerada como

objeto de escolha para um ser racional; isto é o seu caráter moral. Ou,

finalmente, pode relacionar-se com o todo das nossas diversas faculdades,

sem ser um objeto determinado para uma só delas, e isto é o seu caráter

estético. (SCHILLER, 2002, p. 37)

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Schiller sublinha “jogo”, “prazer” e “imaginação”, três conceitos que ele

persegue em seus escritos estéticos. Em seu estudo Schiller (2002) argumenta, os

gregos possuíam uma espécie de unidade divina entre a imaginação e a razão, a

coerência interna da natureza humana foi dilacerada. Em suas notas, Schiller

relaciona essas palavras ao movimento e mudança, e, na verdade, ele está

profundamente interessado em transformar o indivíduo em primeiro lugar e,

finalmente, a sociedade através de sua noção de educação.

Segundo Santos (1996), tomando por suporte as Cartas, a composição por

dimensões vão desde o conteúdo da educação até as considerações sobre a forma

e o espírito da educação. Schiller, conforme destaca Santos (1996), mostra que a

conduta humana será sempre o resultado de concepções políticas pré-

estabelecidas. Desta forma, a educação atenderá à noção que se vivencia, nesse

pensar o que for regido por princípios éticos; ético será, se mecânica; forçosamente

herdará tal qualidade; se estética, como pretendia Schiller, o homem seria o fruto da

premissa: “Dar liberdade mediante liberdade.”

A primeira dimensão estética encontra-se no próprio conteúdo da educação

evidencia

A segunda dimensão: o ambiente envolvente do processo educativo dá conta

dos espaços, dos objetos, dos instrumentos, enfim, do meio pedagógico visto como

um todo, ambiente que harmonize a qualidade estética com o meio cultural e

humano, adverte, no entanto que esse não poderá ser entendido como um processo

incondicional do estético, esteticização da vida, em que tudo seja reduzido e

limitado, pois essa condição levaria a morte à estética que, somente, pode mostrar a

sua pujança na multiplicidade, na diversidade.

A terceira dimensão, o mediador pedagógico, destaca o princípio da

simplicidade e da singeleza, mostrando que o grande mérito de um gênio é fazer-se

compreender por uma criança, despindo-se da afetação para resgatar o valor

estético e pedagógico da imagem, da metáfora, do símbolo. Essa dimensão traduz-

se na capacidade de exibir no sensível a forma e a liberdade exigidas por uma

educação intelectual e racional, como ainda esclarece Santos (1996).

Em sua quarta dimensão, a própria finalidade e horizonte da educação,

Schiller propõe o desenvolvimento integrado das potencialidades do espírito

humano. Chama a atenção para os perigos da evolução de uma das faculdades em

detrimento das demais, o que resultaria em prejuízo para a coletividade. Propõe que

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se faça uma inversão que venha a contemplar o jogo livre e harmônico de todas as

dimensões humanas. Santos (1996) esclarece que para Schiller se existe um

enorme progresso em determinadas faculdades espirituais pode originar homens

extraordinários, contudo apenas a harmonia das faculdades conseguirá formar

homens felizes e perfeitos. O autor ainda defende que essa totalidade destruída pela

cultura somente será restabelecida com o advento de uma nova e mais elevada

cultura.

A Educação Estética é por certo também educação para a arte e pela arte

assim se nomeou a quinta dimensão Schilleriana como proposta pedagógica. O que

se observa nessa proposta é a busca da correção da arte e da prática da educação

artística que contemplam faculdades isoladas, para Schiller, as artes deveriam

metamorfosear-se em todas as outras.

A sexta dimensão pedagógica é o espírito de toda a educação. Santos (1996)

discorre sobre as atitudes do agir pedagógico, evidenciando que a estética é o

domínio da liberdade, da livre liberdade, da liberdade sem coação. Assim, tem-se

nessa dimensão mais uma vez a reiteração da integração dos objetos e sentido.

Schiller empresta muito de Kant na formação de suas ideias sobre Estética,

emoldurando seu argumento com a terminologia kantiana de entendimento, a razão

e a imaginação. No entanto, ele também modifica visivelmente muitas das teorias de

Kant para se encaixar ao objetivo final da Educação Estética: a promoção da

autonomia e emancipação dos sujeitos.

O As cartas de Schiller exaltam a educação estética do homem como meio

transitório para chegar - se ao estado moral, para transformar os postulados morais

em “PRÁXIS” cotidianas. Cabe a uma nova humanidade integra e perfeita, criar o

Estado moral, e não ao Estado moral, imposto pela revolução, criar a nova

humanidade. A estética para Schiller faz às vezes também de uma doutrina da

virtude de uma ética que vem completar o sistema moral.

Schiller (2002) destaca o que ele vê como as falhas do dualismo kantiano,

propondo mudanças sutis, mas radicais para o modo como entendemos a liberdade,

a experiência estética, e (talvez o mais importante) a moralidade. Alternadamente

abraçando e lidando com noções de Kant sobre o ser humano e sua capacidade de

experimentar a beleza e alcançar a visão moral, Schiller demonstra o potencial

interior do indivíduo que reúne os princípios morais e estéticos.

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Sócrates em “conhece-te a ti mesmo” um marco no pensamento filosófico

transforma a frase do oráculo em missão de vida, atribuindo a razão ao homem.

Procurou levar os homens a interrogarem - se a si mesmos para reconhecer a

insensatez e a ignorância de si próprios, despertando as suas consciências. Talvez

tentar se compreender para agir de acordo com o que se pensa é a busca pelo seu

conhecimento para se aproximar da verdade, (479-399 A.C).

O objetivo de Schiller é preservar a sensibilidade do ataque da liberdade e,

concomitantemente, assegurar a proteção da personalidade contra o poder das

sensações. Para ele o objetivo comum é a formação, seja da capacidade de sentir

ou da capacidade racional, contemplando a primeira e a segunda tarefa da cultura

respectivamente.

Nesse sentido, Laponte citado por Amorim (2007) afirmou que a educação

universitária brasileira está imbricada com um racionalismo ocidental, necessitando

de uma intervenção de Educação Estética no interior acadêmico. Assim, a formação

docente não visa à consciência ética e estética, ao contrário, está voltada apenas

para a eficiência e eficácia orientadas para a gestão do poder social.

A ciência passou a ser considerada como única fonte de explicação dos

fenômenos e inovações, a partir do desenvolvimento industrial está aliado ao

desenvolvimento científico.

A era contemporânea começa aí: crescem a produção e o consumo

dos bens manufaturados, o homem cria a ilusão de que o mundo se tornou

menor, graças à velocidade dos meios de locomoção. A obsessão com o

progresso resulta na intensa euforia, somada à crença na onipotência do

homem, que se deixa guiar quase que exclusivamente pela razão.

(TELLES, 2007, p. 327)

Nesse contexto, a concepção de que a razão era o fundamento do ato de

conhecer, era defendida pelos positivistas, desconsiderando o fato das limitações

existentes para o conhecimento da realidade. Os positivistas ainda defendiam a

concepção de que o homem era impulsionado cegamente pela razão à conquista do

mundo, contudo sabe-se que o motivador das conquistas é à vontade e não a razão.

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Considerando, inclusive que a realidade é mera ilusão, conclui-se que não há nada a

conquistar.

Junto a essa concepção científica e materialista das coisas, que pretende

explicar o sentido do universo quase que exclusivamente através da razão, se dá o

desprezo da metafísica, privilegiando o conhecimento experimental da realidade.

Logo, o conhecimento do real ocorre através de uma atitude eminentemente

racionalista.

Quando falamos em experiência estética, estamos nos referindo ao ambiente

da aprendizagem, onde todos os detalhes são importantes. Para Freire (1996), a

expressão da estética na educação se dá na forma de gestos, entonação da voz, no

momento que o educador se posiciona na sala de aula, já inicia uma relação

estética. A estética da sensibilidade deverá substituir o da repetição, estimulando a

criatividade, a curiosidade e a afetividade.

O sensível é algo que chega através dos sentidos. Não é próprio do sensível,

mas sem ele nem advém, nem permanece. Somos um ser em conjunção. Conjunção

aqui é o movimento que une o gênero próximo ao específico do nosso ser. O

sensível dado e o sensível produzido. Todos nos somos estéticos, ao fim e ao cabo

tudo o que nos chega através dos sentidos, sensivelmente constituído é estético

também (SANTOS, 2003, p.31).

O foco sobre a experiência estética incide sobre a experiência individual e não

sobre o valor social, apesar de ser também importante Começa a liberdade do

cerceamento da religião e do controle monárquico. Consiste a para a estética

filosófica libertar a beleza do ônus do conhecimento. Seu ponto será considerar algo

belo que não deva ser considerado conhecer ou aprender algo, mas um tipo de

experiência que tem valor por si mesma.

Ao colocar o foco na sensibilidade, não está dizendo que os conceitos não

estarão presentes. A experiência estética é parte dos conceitos empregados para

capturar as vicissitudes do ser humano considerado como um objeto de estudo.

Essa parte da mente, do espírito, da emoção, da reação que a ciência deveria

detalhar permite que o ser humano tenha as experiências e extraia as

consequências que ela possa extrair dessa experiência. As faculdades são os que

tornam os seres humanos autônomos. O ponto aqui é que a sensibilidade, a

imaginação e o juízo são reunidos na teoria da estética.

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É com século XVIII que a estética abrange a arte ao ser compreendida com a

ciência filosófica do belo, mas ela não se restringe a arte, mas diz respeito também à

natureza humana. A estética compreende tudo aquilo que chega pelos sentidos,

mas o mundo não se constitui por apenas que chega aos nossos sentidos, mas

também pelo sentido que lhe damos, ou seja, pelo modo de reflexão do sensível. É

mediante a cultura ou educação estética, quando se encontra no “estado de jogo”

contemplando o belo que o homem poderá desenvolver-se plenamente, tanto em

suas capacidades intelectuais quanto sensíveis. Esse é, aliás, o sentido da

passagem mais famosa das cartas sobre a Educação Estética do Homem, a qual,

segundo Schiller “suportará o edifício inteiro da arte estética e da bem mais

dificultosa arte de viver. Pois, para dizer tudo de vez, o homem joga somente

quando é homem e no pleno sentido da palavra e somente é homem pleno quando

joga”. No “impulso lúdico”, razão e sensibilidade atuam juntas e não pode mais falar

da tirania de uma sobre a outra. Através do belo, o homem é como que recriado em

todas as suas potencialidades e recupera sua liberdade tanto sem face das

determinações do sentido quanto em face das determinações da razão. Pode-se

afirmar, então, que essa “disposição lúdica” suscitada pelo belo é um estado de

liberdade para o homem.

Em consonância, Adorno desenvolve a concepção da estética da

massificação cultural, advinda do termo criado por ele e por Horkheimer, filósofos

alemães da escola de Frankfurt, cunhado sob a teoria da indústria cultural a fim de

designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. De acordo com

Adorno (1985), na indústria cultural, tudo se torna negócio e enquanto negócio, seus

fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de

bens considerados culturais. Um exemplo disso, dirá ele, é o cinema:

O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A

verdade é que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma

ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles

se definem a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos

rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à

necessidade social de seus produtos. (ADORNO, 1985, p.114).

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A arte tornou-se um meio eficaz de manipulação.

Em primeiro lugar, há uma transformação básica na chamada

superestrutura, confundindo-se os planos da economia e da cultura. A

indústria cultural determina toda a estrutura de sentido da vida cultural pela

racionalidade estratégica da produção econômica, que se inocula nos bens

culturais enquanto se convertem estritamente em mercadorias; a própria

organização da cultura, portanto, é manipulatória dos sentidos dos objetos

culturais, subordinando-os aos sentidos econômicos e políticos e, logo, à

situação vigente. (ADORNO, 1995, p. 21).

Adorno e Horkheimer (1985) explicitam que isto funciona como uma indústria

de produtos culturais visando o consumo, para eles a indústria cultural transforma as

pessoas em consumidores de mercadorias culturais, suprimindo toda a seriedade da

cultura erudita, assim como sua autenticidade. A indústria cultural tem como objetivo

a submetida a elevar-se da técnica que é usada pelos meios de comunicação de

forma original e criativa que impede o homem de pensar de forma crítica, de

imaginar, doutrinando as consciências através dos gostos padronizados e a indução

de consumir. Assim a indústria cultural substituiu o termo cultura de massa, pois não

se trata da valorização da cultura, mais de uma ideologia que desconsidera

diferenças culturais e padroniza todo mundo, com forte apelo publicitário.

Adorno busca na estética contemporânea a viabilidade de um resgate da

percepção dos sentidos, pois sabemos que a obra de arte não estabelece uma

identificação imediata, mas de mediação com a realidade social que a produziu. Se

a dimensão estética da obra artística por si só não se constitui como determinante

de mudanças das condições sociais, nela está contida pelo menos a possibilidade

de articular tais mudanças.

A educação social é importante para compreender as raízes da desigualdade

e procurar encontrar meios para diminuí-las. Levando os alunos a uma reflexão

estética. O rigor e o jogo são os polos da filosofia, o pensamento e a sensibilidade

são os polos da resistência. É esta tensão a única via para a possibilidade de uma

ação transformadora, uma ação que não se perca como pseudo-ação porque

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emanada de uma pseudo-realidade- como nos alerta Adorno no texto “Resignação”

(ADORNO, 1991).

Uma proposta de uma educação estética, sob o ponto de vista filosófico, deve

partir da reflexão, mediada pela sensibilidade, tomando a educação, não apenas por

uma de suas funções, a transmissão de conhecimentos, que pode de alguma

maneira cristalizar discursos totalitários, mas compreender dessa maneira a

importância da estética, nos processos formativos de desenvolvimento da autonomia

e da emancipação dos sujeitos.

2.1.1 Valores estéticos, éticos e morais: um significado de

desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos.

É lugar comum empregar moral e ética como sinônimos para o conjunto de

princípios ou padrões de conduta. No sentido prático, a finalidade da ética e da

moral é muito semelhante. São ambas responsáveis por construir os valores que

conduzem o homem, o seu caráter, altruísmo e virtudes. O que pode limitar à

compreensão dos conceitos o “agir correto” ou “agir errado” diante das normas. A

palavra “ética” vem do Grego “ethos” que significa “modo de ser” ou “caráter”. Já a

palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “relativo aos

costumes”.

A etimologia dos termos mores, no latim, e ethos, no grego é mesmo

indicativa de um significado comum: ambos remetem à ideia de costume. Os

costumes são o primeiro conteúdo da cultura, são modos de viver “inventados” pelos

seres humanos.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, encontramos as seguintes

definições:

Embora as palavras moral e ética tenham a mesma origem etimológica, os conceitos incorporaram, em seu percurso histórico, significações diferenciadas. No âmbito da Filosofia, faz-se uma distinção entre eles, definindo a moral como o conjunto de princípios, crenças, regras que orientam o comportamento dos indivíduos nas diversas sociedades, e a ética como a reflexão crítica sobre a moral. É importante ressaltar que, ao se estabelecer a distinção, procura-se apontar de modo preciso a estreita articulação que mantêm e que diz respeito exatamente ao terreno dos valores presentes na prática e na reflexão teórica de homens e mulheres nas sociedades. (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997. p. 50)

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Nos Parâmetros Curriculares Nacionais as questões relacionadas à Ética e a

moral permeiam todo o currículo. Portanto, não há razão para que sejam tratadas

em paralelo, em horário específico de aula. Pelo contrário, passar ao lado de tais

questões seria, justamente, prestar um desserviço à formação moral do aluno,

induzi-lo a pensar que ética é uma “especialidade”, quando, na verdade, ela diz

respeito a todas as atividades humanas. A própria função da escola — transmissão

do saber — levanta questões éticas, morais e estéticas.

As questões de moral, ética e estética estão conectadas aos valores. Faz-se

necessário relacioná-las ao cenário educacional ao conceito de valor. Por isso “Não

dá para pensar que a educação é uma tarefa eticamente neutra. Pelo contrário, o

cenário educacional está carregado de valores: imprime valores e critica os falsos-

valores”. (WOLFF, 1993, p.101)

Nesse sentido LALLANDE nos diz:

o sentido exato da palavra valor é difícil de precisar rigorosamente, porque esta palavra apresenta o mais das vezes um conceito móvel, uma passagem do fato ao direito, do desejado ao desejável. (LALANDE, 1999, p. 1190-1191.)

Encontramos nos Parâmetros Curriculares Nacionais a seguinte reflexão:

Nos costumes, manifesta-se um aspecto fundamental da existência humana: a criação de valores. Os diversos grupos e sociedades criam formas peculiares de viver e elaboram princípios e regras que regulamentam seu comportamento. Esses princípios e regras específicos, em seu conjunto, indicam direitos, obrigações e deveres. Não há valores em si, mas sim propriedades atribuídas à realidade pelos seres humanos, a partir das relações que estabelecem entre si e com a realidade, transformando-a e se transformando continuamente. Valorizar significa relacionar-se com a natureza, atribuindo-lhe significados que variam de acordo com necessidades, desejos, condições e circunstâncias em que se vive. Pela criação cultural, instala-se a referência não apenas ao que é, mas ao que deve ser. O que se deve fazer se traduz numa série de prescrições que as sociedades criam para orientar a conduta dos indivíduos. Este é o campo da moral e da ética. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997. p. 49)

Etimologicamente, valor tem a mesma raiz do verbo latino valere, que

significa “ser forte, vigoroso, eficaz” e também “ter saúde”; daí chamarmos o enfermo

irrecuperável para o trabalho de “inválido”, o que não vale. Valor também pode ter o

sentido psicológico de mérito, quando nos referimos ao talento de alguém ou a

coragem de um valoroso guerreiro: valente é aquele que vale. Valor pode referir-se

ainda a utilidade: quando uma faca perde o corte, dizemos que ela nada vale. Com

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esses exemplos não esgotamos os inúmeros campos em que o termo valor aparece,

tais como na matemática, física, direito, música. São valores ainda, a justiça, a

honestidade, o respeito, a verdade, a beleza, conforme estivermos diante de juízo de

valor políticos, éticos, lógicos e estéticos. (ARANHA, 2005. p. 198)

A questão de valores vem sendo tratada desde a filosofia da antiguidade,

onde os pensadores abordavam as questões à luz do bem, do belo, e do verdadeiro

em relação ao ser. Vários foram os filósofos que se ocuparam do tema: Kant que

não se referia a um sujeito individual, mas ao sujeito universal, chamado de

transcendental, autônomo, capaz de julgar por si ao fazer juízos estéticos e morais.

(ARANHA, 2005, p.203)

Entre 469 a 399 a. C., na época em que a arte da retórica era muito

prestigiada pelos jovens, foi que Sócrates, o filósofo grego, introduziu os primeiros

conceitos que definiam a Ética como ciência do conhecimento humano, passando

então a sociedade a exigir do homem maior grau de cultura e conhecimento de si

mesmo.

Segundo a teoria de Platão, por mais aguçada que seja a inteligência, esta

não tem acesso direto ao mundo dos valores, que em última instância, é o que

interessa à filosofia Platônica. Na carta sétima, o processo de conhecer é descrito

como um processo de desenvolvimento que vai perpassando pela vida e faz a alma

parecer-se com a essência dos valores que aspira conhecer. O Bem não se pode

conceber de algo formal ou conceitual, situado fora de nós, sem termos participado

de sua natureza; esse conhecimento do Bem só se desenvolve à medida que vai se

tornando realidade. Para Platão a educação do caráter é a via que conduz à

educação dos olhos da inteligência. Passa ter uma visão de mundo e sociedade.

(2009)

Kant (1724-1804) um dos mais influentes pensadores na época moderna fala

a respeito da ética. Kant tem como tema central de sua investigação a razão em seu

sentido tanto teórico quanto prático. No aspecto teórico, trata-se do conhecimento

legitimo da realidade com base no conhecimento. No que diz respeito à prática,

trata-se da escolha livre dos seres racionais, que podem se submeter ou não à lei

moral. O pressuposto fundamental da ética Kantiana é a autonomia da razão. (Kant,

1996, p.15). Na literatura, particularmente no gênero Fábulas, a moral se resume a

uma conclusão da história narrada cujo objetivo é transmitir valores morais (certo ou

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errado, bom ou mau, bem ou mal, etc.) que possam ser aplicados para a

compreensão do caráter humano diante das sociais. (TELLES, 2007, p. 350)

No dicionário de Aurélio encontramos: “ética é o estudo dos juízos de

apreciação referentes à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal;

conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano”.

(FERREIRA, 2001. p. 300)

Aranha e Martins nos trazem que “a ética, ou filosofia moral, é mais abstrata,

constituindo a parte da filosofia que se ocupa da reflexão sobre as noções e os

princípios que fundamentam a vida moral”. (ARANHA & MARTINS, 2005, p.218)

Conforme Cortella (2009) Conjunto de valores que usamos quando

precisamos responder três questões básicas da vida (quero, devo e posso). Ele

afirma: nem tudo que QUERO devo; nem tudo que DEVO, posso e nem tudo que

POSSO, consigo.

Durkheim (1999) “ciência dos costumes”, sendo algo anterior à própria

sociedade, e esta tem caráter obrigatório. “Para o autor, uma completa a outra,

havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e

o agir são indissociáveis”.

Vasquez: Ética como ciência teórica e reflexiva. Define Moral como: “sistema

de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações

mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas

normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e

conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica,

externa ou impessoal”. Vásquez define a ética como “a teoria ou ciência do

comportamento moral dos homens em sociedade. É a ciência de uma forma

específica de comportamento humano”. (VASQUEZ, 2001, p.23)

Enquanto para Vasquez a moral é universal e a ética diz respeito aos

costumes locais. Para Dussel a ética é universal e a moral cabe à cultura local, em

tempos de globalização. Para Dussel a ética e a moral tem como referencia tem

como referência a dignidade humana. Para isso, as áreas do conhecimento têm uma

responsabilidade com a reprodução, manutenção e desenvolvimento da vida

humana. Cabe à área da educação a responsabilidade com o desenvolvimento das

potencialidades criativas dos seres humanos. Lembrando que o homem cria para o

bem ou para o mal, faz-se necessário um projeto político pedagógico bem

elaborado, pois pode - se comprometer o desenvolvimento das potencialidades

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criativas dos sujeitos. Cabe ao professor assumir seu papel no desenvolvimento

humano, da autonomia dos estudantes. Dessa forma, o educador deve proporcionar

coerência entre os valores proclamados pela escola e o modo com conduzem o

processo educativo, de maneira que os alunos percebam isto.

Podemos dizer que a principal razão de ser da ética é a aprendizagem da

convivência humana. A ética é a maneira de ser e relacionar-se com o outro. A

escola, como instância de aprendizagem da ética na prática da relação dos sujeitos-

alunos e sujeitos-professores com o conhecimento, pode tornar sensíveis ou

embrutecer as relações. E desempenha um papel importante no seu

desenvolvimento.

Para Dussel (2000), a ética prática fundamenta-se na visão da pedagogia de

Paulo Freire, ou seja, a passagem da consciência ingênua para a consciência crítica

que só é possível se for levada em conta a dimensão ética, mas não é a ética do

mercado, mas a ética universal do ser humano, pois defender o valor de mercado,

às vezes, significa estar ao lado da não sobrevivência no mercado de consumo, de

trabalho e do próprio planeta. A consciência ingênua, no contexto da cultura do

mercado, coloca-nos na condição de vítimas, sem acesso ao conhecimento crítico.

Podemos nos engajar em defesa de valores que atingem a nós mesmos, quando

não temos a clareza da distinção entre valor de mercado e valor da dignidade

humana,essa linha é muito frágil. Para ele, equidade, respeito, solidariedade,

autonomia e responsabilidade social significam que a vida do outro deve ser tão

digna como a nossa.

Numa sociedade, na qual, imperam mecanismos invasivos, que embotam a

sensibilidade, a matéria a trabalhar é o próprio pensamento, que é resistência contra

o que lhe é imposto (ADORNO, 1988 p.22).

Esses limites demarcam os espaços da liberdade individual a preservar os

espaços coletivos, aproximam as pessoas em seus grupos e constituem referências

de condutas que as qualificam, respeitam seus direitos e deveres.

A ética não pode ser uma matéria teórica, deve ser principalmente uma

vivência prática. A educação pode transformar-se num processo de humanização,

de tornar professores e alunos pessoas mais plenas, abertas, generosas e

equilibradas. Neste sentido, “não podemos nos assumir como sujeitos da procura,

da decisão da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não

ser assumindo-nos como sujeitos éticos” (FREIRE, 200, p.17).

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A educação ética é fundamental, pois a escola deve ser um lugar de

cooperação, de inclusão de aumento de consciência e é ali que podemos

experimentar situações novas de mudança, de aprendizagens, novas formas de

colaboração.

Por isso, o professor deve ter em mente o seu papel e qual a sua relação no

ensino dos valores. A ética, em todas as instituições e na escola, é aprendida nas

situações cotidianas. Alunos e professores percebem como somos e como reagimos

diante das diferenças de opiniões, situações adversas, conflitos de valores.

Passamos a síntese da contribuição de Kohlberg extraída obra Amorim Neto

e Berkenbrock Rosito (2012), no que se refere à aprendizagem da moral, em

Lawrence kohlberg. O autor iniciou seus estudos sobre o desenvolvimento moral em

1955 e no seu trabalho de pesquisa desenvolve a teoria do desenvolvimento moral,

que mantém uma relação com as teorias de Jean Piaget, de quem Kohlberg foi

aluno. Ele percebe um paralelismo entre os estágios de desenvolvimento intelectual

e do moral (BIAGGIO, 2003, p.62). A teoria fala de seis estágios do desenvolvimento

moral, agrupados em três níveis: o pré-convencional, o convencional, pós-

convencional.

No primeiro nível: Pré - convencional, o sujeito ainda não chegou a entender e

a assumir as regras da sociedade. Nesse grupo se encontra as crianças com menos

de 9 anos. Neste nível encontram - se outros dois estágios: moralidade heterônoma:

que são os juízos baseados na obediência, evitar a punição. Hedonismo

instrumental relativista: que são os juízos baseados na recompensa, satisfação.

O segundo Nível: Convencional, está a maioria dos adolescentes e adultos.

Estes são caracterizados pela conformidade com as regras e expectativas da

sociedade. Os estágios desse nível são: juízos baseados no raciocínio do bom

garoto e da aprovação social; orientações à lei e à ordem constituída – o sujeito se

assume como parte de uma sociedade, os juízos morais tendem a considerar as

instituições sociais e até mesmo religiosas.

O pós-convencional está à minoria dos adultos, pois poucos conseguem

alcançar esse nível de raciocínio moral. Neste nível o foco está nos princípios

morais, os quais podem ou não estar de acordo com a lei. O sujeito neste nível é

capaz de contrariar regras de uma sociedade para ser coerente com princípios nas

quais acredita. Para estes, valores como justiça, respeito à liberdade e à vida, estão

acima de regras e convenções. Os estágios desse nível são: moralidade dos direitos

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humanos e do bem estar social, que são os juízos baseados na orientação para o

contrato social e a garantia dos direitos humanos fundamentais; moralidade de

princípios éticos universais que define como ponto de chegada do desenvolvimento

moral. A noção de justiça é apenas uma parte do respeito, mas inclui a ideia da

benevolência, que tem a intenção de promover o bem e evitar lesar o outro.

Os seis estágios apresentam a possibilidade que o ser humano tem de se

apresentar diante do mundo, tanto a partir das consequências hedoísticas (punição,

recompensa) quanto pelo desejo de atender às expectativas dos grupos sociais aos

quais pertence, ou ainda pelo esforço de pautar sua conduta a partir de princípios

éticos universais (KOHLBERG, 1992).

Ainda sobre as ideias de Kohlberg, o autor percebe a escola como um

ambiente privilegiado para o desenvolvimento moral das crianças e jovens. Para que

esse processo seja favorecido, ele e seus alunos identificam uma série de processos

por ele denominado de “currículo oculto”, que fariam da escola um lugar

democrático, uma comunidade justa. É ele que possibilita afirmar cientificamente

que educação também tem a ver com empatia, justiça e cuidado pelo outro.

Compreendendo que a finalidade da educação é o desenvolvimento do educando,

juntamente com seus discípulos, passou a elaborar estratégias que facilitassem o

desenvolvimento moral, pois a passagem de um estágio a outro não é automática,

antes necessita de intervenção educativa (ARANHA, 2006. p.280).

Em consonância com Kohlberg, Sarabia (2000), salienta a internalização é a

aprendizagem de um valor, atitude ou norma que se dá pela opção do indivíduo,

com base em suas reflexões e em concordância com suas ideias, sem que haja uma

obrigatoriedade na apresentação desse comportamento.

Amorim Neto e Berkenbrock Rosito (2012) trazem considerações sobre a

inserção da ética e da moral na formação pedagógica e sobre a compreensão ampla

e necessária do significado de limite como uma das perspectivas dessa formação.

Mostra a ética como um tema atual, por isso, insere-se no processo educacional de

desenvolvimento do ser humano, que passa, fundamentalmente, pela formação de

consciências cidadãs, mas não se pode falar em ética sem considerar os princípios

morais. Enfatiza na prática educativa, como em todos os níveis e áreas de formação

humana e profissional, a inerência entre o conhecimento e os valores e os elos da

moral e da ética que os aproximam. Mostra que a pedagogia incorpora temas que

auxiliam a aprofundar a relação entre saberes e condutas. Essa é, sem dúvida, uma

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resposta dos estudos pedagógicos aos apelos da sociedade mundial. Os autores

enfatizam que a formação moral e ética é uma das contribuições essenciais da

educação aos apelos dos tempos contemporâneos e promovem condição para uma

vida pessoal e social da melhor qualidade, tornam-se também parte da educação

para a consciência do limite. A ética unida à estética do pensamento serve como

base para a formação dos futuros cidadãos.

É necessário o cuidado com o discurso da educação voltada para a

autonomia, e emancipação dos sujeitos podemos reforçar a ideia de que o sujeito é

dono de si, de sua vontade, e é capaz de discernir sobre o que lhe é apresentado no

mundo moderno, capitalista, globalizado e perverso, que chega a desumanização

em contrapondo com a Educação Estética, que visa humanizar o sujeito.

Freire (2000) reafirma a necessidade do respeito à nossa sociedade, à coisa

pública, aos professores e aos alunos. É neste sentido que o autor aponta que o

ético está unido ao estético, pois para ele não podemos falar aos alunos "da

boniteza do processo de conhecer se sua sala de aula está invadida de água, se o

vento frio entra decidido e malvado sala adentro e corta seus corpos pouco

abrigados." (FREIRE, 2000, p. 34).

Diante disso, pode-se concluir que apenas em um ambiente que na

perspectiva de Freire ofereça condições de tomar decisões e fazer escolhas, pois é

neste movimento que ocorre o desenvolvimento da autonomia, emancipação e

autoria dos sujeitos, um amadurecimento estético, ético e moral. Portanto, o papel

do professor é oferecer oportunidades de desenvolvimento, quer seja pela

salvaguarda dos princípios estéticos, éticos e morais de democracia, justiça,

respeito, quer seja pelo modo como vivência de tais princípios em sala de aula; e

ainda, por estimular seus alunos a se colocarem no lugar um dos outros e se

apresentarem mais maduros no seu raciocínio moral.

2.2. Processos formativos: valorização técnica formal

A reflexão sobre os processos formativos na atualidade pressupõe em um

sujeito inserido no contexto de um mundo globalizado, instável, descontínuo, via

estética da indústria cultural, por meio da mídia, influencia o modo de se relacionar

consigo, com o outro e com o mundo. Na contemporaneidade, o sujeito homem-

anúncio, escravo do mundo de aparência, vive sob o olhar do outro e deixou de ser

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e de agir conforme seu pensamento, paga para anunciar, para vender o produto do

outro. Assim, este indivíduo vive à mercê do capitalismo e de uma indústria cultural

que nega as individualidades ou simplesmente impede que estas sejam valorizadas

ou reconhecidas pelo grupo social, ou ainda que as ignora simplesmente para ser

reconhecido e pertencer a este grupo (ADORNO, 2004, p. 89).

Neste contexto, o sujeito cria sua própria identidade, e decide quem quer ser,

adquirindo novas formas de estar no mundo, mas também novos problemas. Desta

forma, é necessário compreender que a educação ocorre isoladamente do processo

da globalização. Muitas reformas curriculares acontecem no mundo a fim de

valorizar o espírito de ação e liderança e o uso das tecnologias, marcando este

tempo. Ainda exige-se do aluno o desenvolvimento de capacidades intelectuais, de

abstração, de rapidez de raciocínio e de visão crítica mais ampla.

Vale aqui destacar que Freire (1979) discorda de práticas educacionais que

tenham como foco principal a transmissão aos sujeitos um saber construído, pois

este não pode se limitar ao saber fazer, aprender a usar, aprender a comunicar, com

capacidade de adaptação às mudanças técnicas do processo produtivo, do mercado

e da sociedade, imposto pela globalização. Pelo contrário, para ele, o papel do

professor deve ser o de levar o aluno a desenvolver o seu pensar, através do

diálogo, estimular a capacidade do aluno através do saber aprender, saber fazer,

saber agir, saber conviver e se conhecer. O processo de mudança é a preocupação

básica de sua Pedagogia.

Neste contexto, exige-se um padrão educacional que esteja voltado para o

desenvolvimento de um conjunto de competências e de habilidades essenciais, para

que os alunos possam, fundamentalmente, compreender e refletir sobre a realidade,

participando e agindo no contexto de uma sociedade comprometida com o amanhã.

Assim, os principais desafios são para que o processo formativo não se retorne a um

viés tecnicista, formal, com conceitos e saberes técnicos, históricos, matemáticos,

científicos, mas à valorização da capacidade de criar, construir, reconstruir e

conviver.

Faz-se necessário então refletir sobre a construção da identidade, quais os

valores que nos constituem, que nos guiam, desenvolver atitudes crítico - reflexivas,

que nos levem a pensar na nossa participação do processo histórico da

transformação da sociedade é essencial para a formação de um sujeito crítico.

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A formação estética, ética e moral é um caminho de refletir os apelos dos

tempos contemporâneos e promovem condição para uma vida pessoal e social da

melhor qualidade, tornam-se também parte da educação para a consciência do

limite dos valores da estética da indústria cultural quando impede a autonomia e

emancipação dos sujeitos na tomada de suas decisões e escolhas, refletindo os

valores essenciais da formação humana. Nos processos ensino, aprendizagem e

formação da Educação Física escolar são espaços da dimensão estética, tendo ou

não consciência disso, a dimensão estética está contemplada no conteúdo,

ambiente formativo, na relação professor e aluno, como elementos que circulam

valores éticos, estéticos e morais que demandam o desenvolvimento da visão crítica

do mundo.

Antes de pensar em ética em suas aulas, o professor deve ter em

mente qual é sua posição em relação ao ensino de valores. A primeira

posição é de transformação das condições gerais da sociedade, ou seja, é

um posicionamento no sentido de superação de uma determinada situação

ou de um determinado valor em nível superior. A segunda posição é de

reprodução inconsciente que está relacionado com a posição ingênua ou a

falta de um posicionamento crítico. Ou seja, é recebida uma determinada

informação e não se tem instrumentos para avaliá-la com um pouco mais de

rigor. Neste caso há a contribuição na formação de alunos ingênuos

(COMISSÃO DE ESPECIALISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 2004).

Além disso, o mundo contemporâneo é marcado pela “obsessão pela

produção desenfreada de novidades” (TELLES, 2007, p. 328). Afinal, a aceleração é

o foco, pois tudo deve se alterar continuamente. O resultado dessa aceleração é o

modismo e, consequentemente, a crença de que tudo é transitório. Tudo isso porque

objetos artísticos ou mercadorias são consumidos vorazmente, durando

pouquíssimo tempo como novidade. Os indivíduos passam a sentirem-se

desconfortáveis com a hostilidade de um mundo de valores efêmeros, acarreta por

esta nova situação, no âmbito da produção e do consumo.

No campo educacional escolar, Houssaye (1988) perpetra uma reflexão sobre

os modismos pedagógicos. Utiliza a metáfora do “Triângulo pedagógico”,

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estabelecendo uma relação com as regras do “Jogo do bridge” e “quem fica no lugar

do morto” são as metáforas utilizadas pelo autor, para sustentar a compreensão do

processo pedagógico em sua tridimensionalidade: formar, ensinar e aprender.

Considera-se uma relação, também triangular, a prática pedagógica entre o saber, o

professor e o aluno.

Nas palavras de Houssaye (1988):

A situação pedagógica pode ser definida como um triângulo

composto de três elementos; o saber, o professor e os alunos, aonde dois

se constituem como sujeitos enquanto que o terceiro deve aceitar o lugar

do morto ou, em seu defeito, fazer-se o louco. Os termos saber(S),

professor (P) e alunos (E) devem ser tomados aqui num sentido genérico.

O saber designa os conteúdos, as disciplinas, os programas, as

aquisições, etc. Os alunos espelham os educados, os formados, os

ensinados, os aprendizes, aos educandos, etc. O professor é, ao mesmo

tempo, o instituidor, o formador, o educador, o iniciador, o acompanhante,

etc. A noção de sujeito é mais particular. Aqui, o sujeito é aquele com o

qual posso estabelecer, numa dada situação, uma relação privilegiada; é

aquele que particularmente conta, é aquele que me permite existir de

maneira recíproca e preferencial, é aquele que se materializa no fundo da

situação. Não pode haver sujeito sem o outro que o reconheça como tal. O

morto, de modo inverso, é aquele que estabeleceu um buraco nas

relações, que eu não posso mais reconhecer como sujeito (senão sob

formas desfiguradas), que não mais me pode constituir como sujeito. Seu

modo de presença tende mais à ausência que à reciprocidade. Indo mais

além, o morto do qual aqui se trata é o morto de um jogo de bridge: um

dos jogadores deve efetivamente assumir o lugar do morto. Dito de outra

forma, suas cartas estão na mesa e ele é mais obrigado a jogar do que

jogar por sua própria vontade. Mas seu papel é indispensável, porque sem

ele, não haveria mais jogo. Eis aqui, portanto alguém de quem não se

pode prescindir, mas que não pode jogar sem ser somente um figurante:

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seu lugar no jogo é constantemente assignado, definido e desenvolvido

pelos outros verdadeiros sujeitos da situação. Quanto ao louco, é aquele

que recusa os termos do idioma e do funcionamento comuns. De fato, não

posso reconhecê-lo como sujeito, não posso mais estabelecer alguma

relação privilegiada com ele; ele recusa de algum modo de permitir-me de

constituir-me como sujeito. Ele perdeu as regras de entendimento comum

e o faz saber, perturbando o jogo normal, engendrando situações

dificilmente controláveis, pois elas abafam os modos aceitos do

reconhecimento. (HOUSSAYE, 1988, p. 4)

O autor critica o seguinte fenômeno: os modelos pedagógicos vêm,

historicamente e sistematicamente, fundamentando-se na lógica da ênfase que

exclui um eixo pedagógico. Na escola tradicional, o eixo do processo pedagógico era

o ensino. O centro da prática pedagógica a relação era o professor e o conteúdo. O

lugar do morto era ocupado pelo aluno.

Já na escola nova, com enfoque, por exemplo, no sociointeracionismo,

enfatiza-se o eixo pedagógico, a aprendizagem, e o centro é a relação entre o aluno

e o saber/conteúdo. Inevitavelmente, o professor fica no lugar do morto. Já, a ênfase

pode recair no eixo pedagógico, a formação, que está presente na escola

progressista e democrática, fundamentada na formação política. Nesse caso, o

centro é a relação entre professores e alunos e, portanto, o saber/conteúdo fica no

lugar do morto. O louco é o morto que desequilibra os processos pedagógicos e a

prática pedagógica, principalmente quando o professor ou o aluno ocupam o lugar

do morto.

Há a necessidade do equilíbrio do triângulo pedagógico, pois esta é uma

condição própria da educação. Além disso, é preciso compreender o sistema

pedagógico, a prática pedagógica: professor, aluno, conteúdo, saber e dos

processos pedagógicos de ensinar, aprender e formar como um jogo de relações.

Nos modelos pedagógicos construídos, historicamente, neste jogo, um

elemento tem ficado no lugar do morto. Assim, o morto pode ganhar o jogo

desestabilizando o triângulo e provocando uma loucura no sistema pedagógico.

Houssaye (1988) ainda destaca que a ausência de diálogo entre os eixos provoca

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um vazio nos modelos pedagógicos existentes, que pode ser ocupado pelo

autoritarismo, no interior das escolas.

Uma educação que se mostra autoritária, não considera a evolução do

conhecimento, como prioridade constante na vida profissional e pesquisa, a fim de

estabelecer e promover esta relação de desenvolvimento e de percepções da

contemporaneidade, de provocar as inquietações necessárias para o

desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos como produtores de um

saber ou saberes.

Freire (1996) coloca-se contrário, ao que ele denomina de Educação

Bancária, que seria aquela que prima pela mera transmissão de conteúdo como um

modo único de formar, ensinar e aprender. Desta maneira, Freire acredita que a

Educação Bancária impede a autonomia do sujeito, pois a escola educa para a

submissão. Este processo dialógico permite que o professor trabalhe questões

importantíssimas que é o respeito pela diferença cultural, econômica, social, visando

sempre ao respeito, à solidariedade e ao compromisso social de cada um.

2.3 A estética da docência: corpo, emoções e subjetividade.

Outro resultado desta movimentação desregrada da tecnologia provoca uma

mudança rápida de valores, gerando a sensação de fragmentação. Desta forma,

ocorre a fragmentação do homem, como consequência da movimentação

continuada dos fenômenos vinculados à ciência. Por outro lado, a realidade é

compreendida como mera representação, ilusão dos sentidos do indivíduo, relativa,

subordinada à subjetividade. Sendo assim, ela é inacessível à abordagem racional e

experimental.

De acordo com Santos Neto (2010), esse automatismo estratificado das

ações tem sua fundamentação no Neoliberalismo, que dentro do tempo cronos

levam-nos ao processo de desumanização, para ele é preciso que haja um

movimento individual e coletivo para alcançar a liberdade de ações apressadas,

superficiais, simples reproduções da estrutura social vigente.

Grande parte de nós também vive sob a dominação do tempo

cronológico definido pelos interesses de produção da sociedade capitalista.

Para esta importa a acumulação e a reprodução de sua estrutura dominante

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e, portanto, o estabelecimento de ciclos de organização da vida humana

muito mais atentos aos resultados finais da produção e do consumo do que

na qualidade de vida vivida. Não à toa o trabalho, para muitos, vai se

efetivando cada vez mais, de fato, como instrumento de sofrimento e

adoecimento – tripalium – muito mais do que como instrumento de

humanização, realização e transformação saudável do mundo. (SANTOS

NETO, 2010, p. 118).

O processo de adaptação da educação às características culturais

disseminadas pelos valores por meio da indústria cultural, denominado por Adorno

(1996, p. 388) de “semiformação”, nos mostra que a educação também é vítima de

um produto de consumo conformado às propriedades econômicas, objetivando os

homens e suas relações, bem como, excluindo os valores que não conspiram com a

continuidade desse sistema.

Para esta teoria a ideia de cultura não pode ser sagrada – o que a

reforçaria como semiformação -, pois a formação nada mais é que a cultura

tomada pelo lado de sua apropriação subjetiva. Porém a cultura tem um

duplo caráter: remete à sociedade e intermedia esta e a semiformação. Na

linguagem alemã de hoje se entende por cultura, em oposição cada vez

mais direta à práxis, a cultura do espírito. Isto bem demonstra que não se

conseguiu a emancipação completa da burguesia ou que esta apenas foi

atingida até certo ponto, pois já não se pode pensar que a sociedade

burguesa represente a humanidade. (ADORNO, 1996, p. 388).

A sociedade contemporânea tem o consumo como importante aspecto, por

isso é necessário manter em alerta nossa curiosidade para não haver uma dicotomia

da capacidade de imaginação e na percepção na elaboração do conhecer. O

automatismo vivenciado atualmente pela sociedade acaba, de certa forma,

aniquilando o potencial criativo do sujeito e como consequência o sujeito perde a

capacidade de resolver novos problemas.

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A estética permeia as áreas/dimensões de nossa vida. As relações humanas

são estéticas, as nossas atitudes para com os outros podem ser bonitas ou feias, um

prédio, o bairro, nossa cidade, o ambiente escolar, tudo ao nosso redor é estética, o

que incomoda é a estética do feio presente nas guerras, na fome, na violência, na

miséria de milhões de pessoas que é a expressão estética do feio.

Saber conjugar paixão de ideais arraigados, pensamento, imaginação é um

processo que passa pela afetividade. Uma proposta de uma educação estética, sob

o ponto de vista filosófico, deve partir da reflexão, mediada pela sensibilidade,

tomando a educação, não apenas por uma de suas funções, a transmissão de

conhecimentos, que pode de alguma maneira cristalizar discurso a totalitários, mas

sua dimensão formativa e emancipatória mantêm relação com os afetos, com as

paixões e sentimentos.

O desenvolvimento da autonomia a que Paulo Freire (2006) aponta como

uma das finalidades do processo educativo é o individuo passar pelo exercício do

autoconhecimento, ter uma expressão adequada do que se sente e se pensa a

respeito de si mesmo e dos outros.

Moran (2007) mostra os desafios de uma educação que todos almejamos de

educar-se como impregnar de sentido cada momento da vida, cada ato cotidiano.

Afirma que a organização escolar precisa ser reinventada para que todos aprendam

de um modo humanista, afetivo e ético, integrando os aspectos individuais e sociais,

os diversos ritmos, métodos, para ajudarmos a formar cidadãos plenos em todas as

dimensões. Ele faz um paralelo com os pensamentos do grande educador Paulo

Freire, ao afirmar que, a educação tem de surpreender, cativar, conquistar os

estudantes a todo o momento.

A educação precisa, encantar, entusiasmar, seduzir e apontar possibilidades

e realizar novos conhecimentos e práticas. Mostra que a escola é um dos espaços

privilegiados de elaboração de projetos de conhecimento, de intervenção social e de

vida, um espaço privilegiado de experimentar situações desafiadoras do presente e

do futuro, reais e imaginárias. Promover o desenvolvimento da criança ou do jovem

é possível com a união de conteúdo escolar e da vivência em outros espaços de

aprendizagem.

Moran (2997) mostra que a afetividade na relação pedagógica é um

componente básico de conhecimento e está intimamente ligada ao sensorial e ao

intuitivo. Ela se manifesta no acolhimento, na empatia, no gosto, na paixão, na

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ternura. Ela dinamiza as interações, as trocas os resultados, facilita a comunicação e

promove união. O homem contemporâneo, pela relação tão forte com os meios de

comunicação e pela solidão da cidade grande é muito sensível às formas de

comunicação que enfatizam os apelos emocionais e afetivos mais do que os

racionais.

Incorporar o autoconhecimento nos processos formativos pode ajudar a

desenvolver o potencial de cada aluno em contraposição à identidade que pode ser

construída no interior da escola de alunos fracos.

Deixar de se preocupar somente com o conhecimento intelectual, é um

desafio. Acontece que os alunos não são acolhidos quando não correspondem ao

desenvolvimento intelectual esperado. “(Se as pessoas são aceitas e consideradas,

tendem a desenvolver uma atitude de mais consideração em relação a si mesma”

ROGERS, 1992, p. 39).

O professor que gerencia bem suas emoções confere as palavras e gestos

clareza, convergência, geralmente de forma equilibrada, sem agredir o outro. O

aluno capta claramente a mensagem. O professor equilibrado e aberto envia

mensagens através de suas atitudes, de que é uma pessoa de bem com a vida,

flexível, positivo, aberto. “A educação deve contribuir para o desenvolvimento total

da pessoa - espírito e corpo, inteligência, sensibilidade”. (ROGERS, ano, p.)

Para a abordagem do corpo recorre-se, inicialmente, às contribuições acerca

do paradigma do sensível provenientes dos estudos de Bois, que antes, de se tornar

doutor em ciências da educação e professor de psicopedagogia, ao longo dos anos

de 1980, era fisioterapeuta e especialista em Osteopatia. O autor empreende uma

um movimento de chamar a atenção que tratamos o “corpo objeto” para transformar

em “corpo sujeito”, perceber a singularidade das pessoas, do sujeito perceber seu

próprio corpo há um movimento traz consigo o princípio primordial da subjetividade.

(BOIS, BOURHIS, 2012).

Para Bois (2008), o paradigma do sensível remete a uma ciência das

relações:

Essas diferentes qualidades indicam um tipo de relação precisa

entre o sujeito e seu corpo, um tipo de presença do sujeito com ele mesmo

e com sua interioridade. Podemos observar que, a cada tipo de relação,

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está associada uma qualidade específica do conteúdo perceptivo: a

indiferença para com seu próprio corpo deixa percebê-lo apenas como

objeto “indiferente”, o interesse por si mesmo dá acesso a conteúdos de

sentimentos mais ricos etc. (BOIS; AUSTRY, 2008, p. 7).

Em sua tese, O corpo sensível e a transformação das representações no

adulto, Bois (2008, p. 8) estabelece relações com o corpo que se declinam segundo

o modo de percepção, do sujeito percebedor: “eu tenho um corpo”, “eu vivo meu

corpo”, “eu sou meu corpo”, enfim, “meu corpo ensina alguma coisa de mim mesmo”.

Sendo assim, o docente de Educação Física o trabalho com o corpo não se

restringe ao desenvolvimento da coordenação motora apenas. Mas, de transformar

o corpo objeto em corpo sujeito.

Em último lugar, no processo que vai da percepção do Sensível à

apreensão do sentido que dele se desprende, assistimos à eclosão de um

eu que ultrapassa o eu social ou psicológico, a que chamamos do eu que

sente. Este nos interessa mais particularmente porque ele é, ao mesmo

tempo, sujeito conhecente e sujeito que sente. Ele se distingue dos outros

eu, na medida em que é um eu de relação, atingindo as camadas mais

profundas da interioridade do homem. Ele tem acesso à experiência

pessoal, às confidências corporais. (BOIS e AUSTRY, 2008, p. 9).

A autonomia do sujeito como única referência para ética e a estética põe em

dúvida um compromisso voltado para a humanização dos sujeitos. Fabri dos Anjos

(2006) diz que a vulnerabilidade se apresenta e marca o limite da autonomia do

sujeito em relação à corporeidade e entra em discussão a questão da dignidade

humana.

O corpo não é um objeto, ou algo dado, mas um organismo em construção.

Segundo Merleau Ponty (2006) não há outra forma de conhecer o corpo senão vivê-

lo. O corpo humano é um processo, uma organização em constante mutação e

transformação, um movimento que precisa ser acompanhado de dentro e não

comandado por fora.

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Fabri Anjos (2006) salienta que nossa corporeidade se dá em uma tripla

dimensão de vulnerabilidade. A vulnerabilidade apresentada em períodos de nossa

existência (infância e adolescência), da exposição enquanto corpos orgânicos e

funcionais (doenças e disfunções), e a situações relacionais como a exposição a

condicionamentos específicos.

Nesse sentido, compreender fatores históricos, ter consciência da realidade e

que não estamos livres de fatores genéticos, culturais, sociais, de classe e de

gênero, que marcam nossa existência podendo ocasionar obstáculos que geram

duras dificuldades a serem superadas no desenvolvimento de nossas atividades

mentais e físicas, por exemplo, Alzeihmer e Parkinson. Nessa perspectiva, estamos

todos expostos a concepção da vulnerabilidade como condição humana.

O indivíduo inteiro é um produto da evolução biológica cujo transcurso opera-

se não somente no processo de diferenciação dos órgãos e funções, mas também

de sua integração, de seu "ajuste" recíproco. (...) O indivíduo é antes de tudo uma

formação genotípica. Mas o indivíduo não é apenas isso, sua formação é contínua -

como é sabido - na ontogênese, durante o curso da vida. Por isso, na caracterização

das mesmas que se formam ontogeneticamente. (p. 136).

Em Wallon, a dimensão da afetividade ocupa lugar central tanto de ponto de

vista da construção da pessoa. A atividade emocional é paradoxal: ela é ao mesmo

tempo social e biológica em sua natureza; a consciência afetiva é a forma pela qual

o psiquismo emerge da vida orgânica, o psiquismo é uma síntese entre o orgânico e

o social. A expressão emocional tem o poder de contagiar o ambiente é um dos

traços característicos social da afetividade.

A ansiedade do docente, por exemplo, afeta o discente, e vice versa. Afetar o

outro pode contagiar e produzir angústia, ou irritação. Isso ocorre porque o sujeito

quando afetado deflagra emoções que tendem a reduzir a eficácia do funcionamento

cognitivo, quando permanece emoção pura. O caráter altamente contagioso da

emoção vem do fato de que ela é visível, abre-se para o exterior através das

expressões dos gestos e da mímica.

Afetividade não é só um estado de angústia pode ser também de alegria. A

alegria contagia e desencadeia emoções de sensação de prazer. Uma tendência da

emoção é chamada de “circuito perverso”: a de surgir nos momentos de

incompetência, aquele momento em que não sabemos o que fazer, que em conexão

com a atividade racional, provoca ainda maior insuficiência. Na interação entre

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adultos e crianças cuja temperatura emocional é mais elevada, os resultados

daquele “circuito perverso” fazem-se sentir com muita frequência. A afetividade tão

raramente discutida na prática pedagógica, em Wallon, passa a ser discutida em

primeiro plano: a educação da emoção deve ser incluída entre os propósitos da ação

pedagógica, supõe o conhecimento de seu funcionamento, para saber como lidar

com a emoção.

a emoção está relacionada à necessidade objetiva de suportar a

situação que se torna crítica aguentá-la, dominá-la, isto é, experimentar

emocionalmente algo. Logo, a emoção representa uma atividade emotiva de

grande intensidade, que contribui para a reorganização do mundo íntimo da

personalidade e para a consecução do equilíbrio necessário. (PETROVSKI,

1989, p. 370)

A sensibilidade tem um nível afetivo e outro cognitivo, assim como a

motricidade e a linguagem. A história da construção da pessoa será constituída por

uma sucessão de pendular de momentos dominantes de afetividade, ora de

inteligência (cognitivo). Isto significa que a afetividade para evoluir depende da

inteligência, e a inteligência para evoluir depende da afetividade. A palavra, oral e

escrita, tem um significado dentro do contexto em que a pessoa vive que é uma

forma cognitiva da vinculação afetiva. Nessa direção, pode ser pensada na demanda

às competências da docência, em educação, uma forma muito forma requintada de

comunicação afetiva. (DANTAS, 1992, 85-100)

As categorias singular-particular-universal não podem ser entendidas em si,

mas apenas na relação de uma com as outras. Não se pode perder de vista

nenhuma dessas categorias, nem utilizá-las de modo equivocado, apesar dos

equívocos ocorrerem em duas situações:

O primeiro refere-se à delimitação do que seriam os polos extremos

da relação singular-particular-universal. A categoria de "sociedade" é algo

mais imediatamente percebido do que a categoria de gênero humano.

Nessa sequência de raciocínio baseada na obviedade, na imediaticidade do

que é perceptível, a relação indivíduo-sociedade passa a ser relação a ser

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considerada nas análises, como se correspondesse à relação singular-

universal. Obviamente, como consequência imediata dessa escolha, a

categoria de gênero humano fica descartada. Como esse processo é

impulsionado pelo óbvio, esse descartar nem chega a ser percebido por

muitos. O segundo erro refere-se ao fato de que a realidade da categoria de

"indivíduo" e de "sociedade" é concebida como sendo aquilo que está sendo

manifestado, aquilo que se pode ver, medir, observar, de imediato. Como

estamos na sociedade de classes, os polos da relação indivíduo-sociedade

se mostram necessariamente antagônicos, já que este antagonismo é um

reflexo das relações sociais de produção que servem à subordinação e

domínio - a sociedade de classes. Nesse modo em que o raciocínio fica

restrito ao imediatamente dado, às meras manifestações fenomênicas, a

vida do homem singular é vista como algo contraposto à totalidade social. E

as mediações sociais, que, na sociedade de classes são alienantes e

alienadoras são esquecidas nessa luta lógico-formal do "ou.", isto é, de um

lado o indivíduo e do outro lado a sociedade, como se esta pudesse ser

eliminada para que aquele pudesse concretizar-se. (OLIVEIRA, 2001, p.18)

Subjetividade é o processo de tornar o que é universal singular, único, isto é,

de tornar o indivíduo pertencente ao gênero humano. Assim, a subjetividade

enquanto processo de constituição do psiquismo possibilita ao homem apropriar-se

das produções da humanidade (universalidade), a partir de determinadas condições

de vida (particularidade), que constituem indivíduos únicos (singularidades), mesmo

quando compartilham a mesma particularidade.

Para Leontiev e Vigotsky (1978b), a constituição da subjetividade ocorre por

meio de 4 planos genéticos. Os elementos da filo e da ontogênese, da integração e

do desenvolvimento de características herdadas geneticamente e adquiridas

socialmente desde os primeiros dias de vida. Sociogênese: os conceitos de uma

cultura são construídos historicamente. Microgênese: cada fenômeno

psicológico tem sua própria história do saber e não saber. Cada um tem sua

própria história. É a construção singular da vida do sujeito. É o lugar do não

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determinismo, uma vez que cada sujeito é determinado pela filogênese,

ontogênese, sociogênese. (DAVIS e OLIVEIRA, 1994, p. 36-50)

Pensando num sujeito estético devemos pensá-lo como um ser em busca do

equilíbrio entre emoção e razão. Em À Sombra desta Mangueira, escrita por Freire,

é apresentada uma relação contundente quando comparada a Educação Estética

elaborada por Schiller, no que diz respeito a curiosidade estética e a curiosidade

epistemológica que de acordo com Freire (2012):

Não apenas estamos sendo e temos sido seres inacabados, mas

nos tornamos capazes de nos saber inacabados, tanto quanto nos foi

possível saber que sabíamos e saber que não sabíamos ou saber que

poderíamos saber melhor o que já sabíamos ou produzir o novo saber. E é

exatamente porque nos tornamos capazes de nos saber inacabados que se

abre para nós a possibilidade de nos inserir numa permanente busca.

(FREIRE, 2012, p.123)

Portanto, Freire (2012) ainda destaca que é preciso ficar bastante claro que a

consciência ou sua intencionalidade não se encerra na racionalidade do sujeito e

completa:

A consciência do mundo que implica a consciência de mim no

mundo, com ele e com os outros, que implica também a nossa capacidade

de perceber o mundo, de compreendê-lo, não pode ser reduzida a uma

experiência racionalista. É como uma totalidade – razão, sentimentos,

emoções, desejos, que meu corpo consciente do mundo e de mim capta o

mundo a que se intenciona (FREIRE, 2012. p. 124).

Ainda segundo o autor, é a partir da curiosidade estética que os sujeitos

desenvolvem a curiosidade epistemológica. É a partir da curiosidade estética, que o

mundo desperta em nós, que desenvolvemos nossa curiosidade epistemológica, que

procuramos ir além do senso comum e procurar explicações para os fenômenos

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naturais e sociais no qual estamos inseridos. A curiosidade é inerente a todos os

seres humanos, não é apenas um sentimento, a curiosidade é biofísica.

Esta disposição permanente que tem o ser humano de espantar-se

diante das pessoas, do que elas fazem, do que elas dizem, do que elas

parecem; diante dos fatos, dos fenômenos, da boniteza, da feiúra, esta

incontida necessidade de compreender para explicar, de buscar a razão de

ser dos fatos sem ou com rigor metódico. Esse desejo sempre vivo de

sentir, de viver, de perceber o que se acha no campo de suas “visões de

fundo” (FREIRE, 2012. p. 124).

A curiosidade estética, ou que nos emociona comparado ao impulso sensível

descrito por Schiller é sentida na “cotidianidade” citada por Freire (2012, p. 126). O

desenvolvimento da consciência crítica fica comprometida se ficar somente na

curiosidade estética torna-se necessário realizar o movimento da curiosidade

epistemológica, em Freire (2012). Esta é a possibilidade de aprender a Educação

Estética em suas entranhas, tornando-se o homem sensível, apreciando que o

significado da beleza.

É possibilidade. E não há nenhuma possibilidade que não seja, ao

mesmo tempo, impossibilidade. Ou em outras palavras, não há

possibilidade que não se exponha à sua negação. Como a coisa impossível

pode servir a ser um dia possível. Daí que, na História como possibilidade e

não como determinismo, não haja como não sejamos a não ser enquanto

seres responsáveis, por isso éticos. (FREIRE, 2012. p. 133).

Existe um elo entre a Educação Estética proposta por Schiller e idealizada por

Freire e Adorno que revelam a sede destes autores em alcançar a autonomia e

emancipação dos sujeitos com a ideia de que a dependência fragiliza o sujeito, o de

exercer o seu papel de cidadania, que a educação é uma forma de intervenção no

mundo e que esta deve ser adquirida livre de autoridade formando sujeitos

autônomos.

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As reflexões em busca do sentido da docência em Educação Física

Schiller, Freire e Adorno. Explicitadas aqui demonstram que a Educação Estética é

um fio condutor de despertar nos sujeitos durante o processo de formação a

criticidade, o interesse em saber o porquê de cada coisa, este processo

humanizador proposto pelos filósofos em questão abre horizontes para que

docentes e discentes se percebam protagonistas de suas funções e as executem

dentro dos princípios éticos da sua profissão.

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3 A ESTÉTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: NARRATIVAS

DOCENTES

O objetivo deste capítulo consiste em compreender através das narrativas dos

docentes de Educação Física, a visão sobre o sentido da estética na prática

pedagógica, de acordo com a hipótese de nosso estudo que o desenvolvimento da

autonomia e emancipação dos sujeitos ocorre via estética.

3.1 A estética do olhar: a escolha da profissão em Educação Física

Pode-se refletir sobre a matriz pedagógica, através das narrativas docentes,

nas quais se percebe o gosto desenvolvido nos professores pelo esporte, e a

infância mencionada por eles repleta de brincadeiras e atividades. Estes relatos

demonstram o que Furlanetto (2007) afirma sobre a matriz pedagógica, que se dá

com a descoberta do professor interno, processo que tem início na infância com

relações familiares e perdura por toda a vida a formar o sujeito. Em seu livro, Como

nasce um professor, o autor explica a origem da palavra matriz, que em seu

significado assume vários desdobramentos. Neste estudo, optou-se pelo primeiro,

que se refere ao lugar onde é gerado ou criado.

As matrizes pedagógicas podem ser compreendidas como nichos,

nos quais são gestados e guardados os registros sensoriais, emocionais,

cognitivos e simbólicos vividos pelos sujeitos ao transmitirem nos espaços

intersubjetivos, onde se constela o arquétipo do Mestre-aprendiz

(FURLANETTO, 2007, p. 32)

A respeito disso, um dos professores mencionou o fato de que para brincar

durante sua infância, precisava relacionar-se com as crianças mais novas, mesmo

que fosse preciso ensiná-las.

Então, foi criando o gosto pela coisa e fui praticando cada vez mais

e, quando não tinha os amigos da minha idade, eu brincava com crianças

mais novas também do meu prédio. Então, eu acabei tendo que já começar

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a ensinar algumas coisas para eles conseguirem brincar comigo e jogar.

(CEDRO, 2014)

Desta forma, é possível notar que as narrativas dos professores mostraram

exatamente como essa formação os influenciou no processo da própria identidade.

Neste sentido, os professores localizaram em suas trajetórias os

acontecimentos da infância que os levaram a escolha da profissão. Para Furlanetto

(2007), as matrizes pedagógicas de cada professor não começam a se constituir na

sua formação acadêmica, mas estão arraigadas profundamente em sua psique e

vão ganhando formas pessoais, conforme ele vivencia situações de aprendizagem, o

que acontece desde a mais tenra infância. Este processo de constituição da matriz

pedagógica é possível observar na narrativa de Acácia.

Desde pequena eu sempre gostei de esportes, tudo, queimada,

futebol, tudo o que aparecia com bola relacionada os esportes eu fazia. E a

minha escola, as minhas professoras sempre incentivavam a fazer, até

atletismo a gente aprendia a fazer tudo na escola e era uma escola do

Estado, eu estudei o primário lá e elas tinham muita vontade de mostrar um

pouco de tudo. Quando fui para um colégio particular eu tive mais base

ainda, tive convicção que era aquilo que queria fazer eu queria ser igual as

minhas professoras, elas eram meus ídolos, eu queria ser igual. Então eu

não me via assim: Ah! Se eu não passar nessa faculdade eu faço tal coisa

porque eu também gosto! não, ou era Educação Física ou nada, não tinha

segunda opção, era a primeira e ponto.(ACÁCIA, 2014)

Outra professora, aqui identificada como Amoreira, relata como suas

experiências desde a infância foram formativas e auxiliaram para a composição de

sua identidade e de sua escolha profissional, além de contar com uma presença

marcante e definitiva de um professor.

Eu escolhi EF porque eu sempre estive no meio dos esportes,

desde pequena eu sempre fiz atletismo, basquete no colégio. O colégio que

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eu estudava a professora de Educação Física não dava muito incentivo só

que eu gostava muito de esporte. Então, a partir acho que do sexto ou

sétimo ano veio um professor da Bahia, um cara muito preocupado com a

relação de resgatar alunos, como eu estudava em um colégio público, de

resgatar alunos do meio, do crime dessas coisas... Que... veio de uma

realidade muito forte da Bahia e o colégio não era com tantos índices de

alunos problemáticos, mas existiam muitos alunos envolvidos com drogas e

ele veio com toda essa preocupação e formou várias equipes de

treinamento dentro do colégio. E dentro da Educação Física ele era muito

preocupado também com o ensinar, o amar o aluno, a aproximação do

aluno acima do esporte e com isso ele ia conquistando e ensinando.

(AMOREIRA, 2014)

Palmeira é outra que em sua narrativa deixa clara a influência de suas

vivências na infância para a escolha da carreira docente, mais uma vez nos

remetendo ao conceito de constituição da matriz pedagógica. Além disso, ela

apresenta um elemento importante nesta influência, novamente um professor

marcante nesta trajetória.

Quanto a minha vontade de ser professora a de Educação Física

veio bem cedo, eu comecei fazer judô com 10 anos, fui desenvolvendo

dentro do judô fui ganhando campeonatos a comecei a viajar fui

conquistando. Querendo ou não o judô é uma área, uma das vertentes da

Educação Física que é luta então fiquei muito mais direcionada a ele e a

área da EF como um todo. Eu tinha um Sensei, que é um professor, foi meu

primeiro professor de Judô que era formado em Educação Física, ele

influenciou bastante no fato de que nós tínhamos uma relação muito

próxima ele me considerava uma filha dele. Ele gostava muito da Educação

Física não só da parte de luta, mas ele era bem envolvido na Universidade

de Pernambuco. Ele tinha um filho e ele queria muito que o filho dele fizesse

Educação Física e tal, mas como nós tínhamos uma relação tão próxima

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que ele falou: nossa você já está pensando no vestibular? (PALMEIRA,

2014)

Esse processo de constituição da identidade profissional do docente da área

de Educação Física, também é demonstrado na narrativa do professor Cedro, que

ressalta a influência familiar.

Então fui construindo a figura de professor, além do parentesco, foi

o que foi me motivando e nem pensei, já estava encaminhado na profissão.

Já escolhi desde cedo na escola que eu já pensava bastante em fazer, até

pensei em outros cursos alguma coisa, mas não teve jeito. [...] Meus pais

sempre tiveram muito contato com os esportes, sempre assistiram muito na

TV, então acompanhei desde pequeno, desde fórmula 1, assistindo com

meu avô a gente sempre se reunia na casa dele, eles sempre tentaram

fazer o máximo para eu praticar, sempre brincaram muito.Eu sempre vivi

muito em contato com os esportes isso já foi me incentivando e, além disso,

sempre vivi perto de muitas crianças, familiares e depois também o

condomínio que eu mudei, eu vivia no térreo brincando um monte de coisas,

então foi criando o gosto pela coisa e fui praticando cada vez mais e quando

não tinha os amigos da minha idade eu brincava com crianças mais novas

também do meu prédio, então, eu acabei tendo que já começar a ensinar

algumas coisas para eles conseguirem brincar comigo e jogar, então

comecei a gostar de ensinar e também, meus tios... Bom... Eu tenho dois

tios que são mais presentes neste negócio da profissão. Um tio que sempre

me acompanhou, jogou comigo mais na parte de quadra, de bola e uma tia

que sempre nadou, ela sempre me pegava e levava para nadar nas

piscinas, ficava comigo, tentava me ensinar, então foi construindo a figura

de professor, além do parentesco foi o que foi me motivando e nem pensei,

já estava encaminhado na profissão. Já escolhi desde cedo na escola que

eu já pensava bastante em fazer, até pensei em outros cursos alguma

coisa... Mas, não teve jeito. (CEDRO, 2014)

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Os acontecimentos relembrados pelos docentes são repletos de significados,

pois eles perceberam o quanto o gostar do esporte ou ser incentivado a ele, os fez

seguir por uma trajetória, como se não existisse outro caminho. Neste sentido, o

professor Cedro, ao refletir sobre o sentimento de resgate da sua história, afirma:

Falar da experiência me fez bem. Porque me faz relembrar muitos

bons momentos. Minha família por parte de minha avó e da minha tia avó se

reunia muito em datas festivas, Natal essas coisas. Geralmente alugava

sítio, então, quando começo a falar, vêm à cabeça os momentos que eu

praticava e também você pensa que os alunos podiam ter essa vivência,

então eu gostaria que eles assistissem mais, que eles praticassem mais

fora da escola, mas é bem difícil hoje em dia eles terem esse hábito, por

causa da sociedade, da evolução que teve das novidades, um monte de

coisa, da segurança, então acaba ficando um pouquinho mais fechado,

mais restrito, depende muito do estímulo dos pais.(CEDRO, 2014)

A experiência de narrar a própria história e resgatar o processo de formação

foi um momento deslumbrante, belo, durante o qual os docentes se descobriram e

também se deram conta do que existe em seus corações. Esta experiência estética

do sentir, lembrar, resgatar, emocionar, traz à memória valores e objetivos.

Ao contar a história de vida, foi perceptível identificar esses processos

formativos, indo ao encontro ao que Josso (2004) fala a respeito, ou seja, de extrair

da vivência momentos marcantes identificando os percursos formativos, porque

houve aprendizagem e uma experiência. A autora ainda esclarece que através do

“Quadro da Vida” é possível compreender que toda experiência é vivência, mas nem

toda vivência torna-se experiência.

Essa experiência formadora foram os momentos charneiras, situações e

acontecimentos que modificaram os referenciais de vida do indivíduo. Isto fica

evidente na narrativa de Carvalho:

O meu irmão, ele sempre foi atleta sempre jogou e era uma coisa

que me interessava bastante e nós trocávamos figurinhas para ver o que a

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gente ia fazer em termos de profissão e ele falava muito também da

Educação Física, meu irmão é mais velho e porventura ele acabou também

fazendo Educação Física. (CARVALHO, 2014)

Outro aspecto interessante é como o relato se torna prazeroso, através do

resgate, extraindo as vivências mais significativas. Cardoso, ao falar de sua própria

história afirma:

Quando chega nessa hora que tem que falar um pouco da área é

super gratificante. Eu adoro conversar sobre isso, falar sobre isso, trocar

conhecimento. Isso para mim eu acho excelente. Trocar experiência para

mim leva uma reflexão bem bacana. (CARVALHO, 2014)

Ainda a respeito da importância de relatar a própria história, a professora

Amoreira salienta: “Falar da vivência foi uma alegria. Para mim traz muita alegria

porque eu acho que eu me sinto super realizada”.(AMOREIRA, 2014)

Nesta perspectiva, vale ressaltar que esses momentos são importantes para

que os professores reflitam sobre sua formação e se abram para o conhecimento,

pois refletir envolve, além da razão, a nossa emoção, que nos leva a ampliar nossa

consciência. De alguma forma, faz refletir sobre o meu papel como educador e a

escolha feita na minha trajetória de vida.

Para Jung (1983), o adulto é responsável por sua própria educação e essa

aprendizagem está ligada aos processos de consciência. Para ele, a relação

estabelecida pelo adulto com seus alunos está permeada por suas vivências

anteriores.

Schiller (2002) fala do gosto e desgosto que sentimos através dos órgãos do

sentido, despertando para uma experiência estética. Foi o gosto pelo esporte que

conduziu os professores à escolha do Curso de Educação Física. As narrativas de

cada um dos docentes apresentam duas coisas em comum: o incentivo à prática de

esportes e a influência no decorrer da vida por pessoas ligadas à área da Educação

Física. Neste sentido, temos a contribuição de Schiller (2002)

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o gosto seria uma condição necessária da liberdade, e

que a experiência estética flui emoções e razões, reações ricas dos

quais nos servimos para a leitura do mundo que nos rodeia. No caso

do homem espiritual, a beleza da experiência estética o afasta da

forma e o aproxima da matéria para equilibrá-lo. (SCHILLER, 2002, p.

69).

Vale aqui nos remeter a uma antiga narrativa que denota esta experiência. No

livro de Gênesis, encontra-se a história da criação do homem, sendo este colocado

no Jardim do Éden. O homem e a mulher foram criados e viviam nesse perfeito

jardim. Ali, deveriam viver cuidando do jardim. O relato conta que a serpente, que

seria o Satanás, desperta a atenção de Eva para a árvore que dava um fruto que era

agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela

obter discernimento. Por isso, a mulher tomou do seu fruto, comeu-o e o ofereceu ao

seu marido, que comeu também. É importante ressaltar que Adão e Eva eram livres

para decidir comer ou não do fruto que Deus havia proibido.

Logo, podemos pensar em uma experiência estética, ou seja, através da

visão, a mulher foi despertada ao desejo, que por sua vez deu vazão a uma ação, ou

seja, decidiu comer. Eva teve uma razão para tomar do fruto, o desejo de obter o

conhecimento do bem e do mal.

Essa estética do gosto e desgosto, que sentimos através dos órgãos do

sentido é o que desperta essa experiência do estético e o desejar ser livre para

poder realizar suas escolhas. Schiller (2002) esclarece que da experiência estética

fluem emoções e razões.

Deste modo, é possível perceber nas narrativas docentes a dimensão da

Educação Estética nos processos educativos e formativos. A primeira dimensão

estética como já vimos, encontra-se no próprio conteúdo da educação. As aulas de

EF devem permitir ao aluno essa experiência do gosto pela atividade física, cabendo

ao professor tornar as aulas agradáveis para que esse sujeito desfrute deste prazer

e deseje realizar a atividade livremente, sem imposições.

A estética não pode ser vista, mas é sentida e se faz presente não apenas

nas artes, na música, mas também nas relações humanas e no espaço escolar.

Essa presença se manifestará na beleza, tanto do gosto como do desgosto, tanto no

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belo como na feiura, um misto de prazer e desprazer. O que provoca esse

arrebatamento, a fruição do gosto ou desgosto caracteriza-se como experiência

estética, vem repleta de emoções e sentimentos, que chegam pelos sentidos como

pela razão, que precisam ser educados. Schiller (2002) propõe uma “educação da

faculdade de sentir”, pontuando que:

Tudo o que seja de algum modo passível de manifestar-se como

fenômeno pode ser pensado sob quatro aspectos. Uma coisa pode

relacionar-se diretamente com o nosso estado sensível (a nossa existência

e bem-estar); isto é o seu caráter físico. Ou pode relacionar-se com o

entendimento, e proporcionar-nos um conhecimento; isto é o seu caráter

lógico. Ou pode relacionar-se com a nossa vontade e ser considerada como

objeto de escolha para um ser racional; isto é o seu caráter moral. Ou,

finalmente, pode relacionar-se com o todo das nossas diversas faculdades,

sem ser um objeto determinado para uma só delas, e isto é o seu caráter

estético. (SCHILLER, 2002, p. 37)

Santos (2006) esclarece que o sensível é aquilo que vem pelos sentidos,

assim:

Não é próprio do sensível, mas sem ele nem advém, nem

permanece. Somos um ser em conjunção. Conjunção aqui é o movimento

que une o gênero próximo ao específico do nosso ser. O sensível dado e o

sensível produzido. Todos nos somos estéticos, ao fim e ao cabo tudo o que

nos chega através dos sentidos, sensivelmente constituído é estético

também (SANTOS, 2006, p.31).

Neste sentido, a práxis pedagógica deve criar um espaço onde os alunos se

envolvam e se tornem sujeitos críticos e emancipados. Para tanto temos a

contribuição da Educação Estética, através de Schiller (2002), que esclarece que ela

é caracterizada como a educação através capacitação do olhar para entender as

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manifestações artísticas, aguçando a sensibilidade, para perceber a beleza como

expressão da autonomia de pensar e descobrir-se sujeito que sente e pensa.

Nesta reflexão sobre a dimensão estética, percebemos a importância do

conteúdo das aulas de EF, pois a primeira dimensão estética encontra-se no próprio

conteúdo da educação em evidência que deve ser ministrada de forma a

desenvolver o gosto e o prazer pela atividade física. Segundo Santos (1996), a

composição por dimensões vão desde o conteúdo da educação até as

considerações sobre a forma e o espírito da educação.

3.2 A estética do apito: as marcas da relação professor - aluno -

conteúdo

Antes de tudo, faz-se necessário recuperar o significado e a origem da

palavra apito. O apito é um instrumento de sopro, deriva do Espanhol pito, que

imita algum som. Este objeto sempre foi uma marca registrada do professor de

Educação Física e é considerado como um representante do domínio sobre a

situação, uma forma de controle a ser exercido ou apenas como uma forma de

linguagem para a chamada de alguma atividade, ou para que os alunos fiquem

atentos a alguma instrução.

Sendo assim, o uso do apito pode ser interpretado como uma ordem a ser

cumprida, já que o apito tem o significado como substituição de voz, mas também

pode ser que depois de ouvi-lo, ocorra um momento de refletir sobre a prática da

aula e sobre as relações desenvolvidas.

Este aspecto das relações está bastante presente nas aulas de Educação

Física, a relação de amizade que se estabelece entre o aluno e o professor,

enquanto este atua como mediador da aprendizagem e não meramente como um

transmissor. Sobre esta questão, o professor Pinheiro relata suas experiências,

tanto como docente quanto como aluno.

O professor tem que ter respeito aos alunos, ser amigo, mas não

uma amizade tão grande que faça que o aluno acha que tem uma influência

em você. TIPO: Futebol... eu mando. Tem que ter uma distância, [...] não

ser tudo o que eles querem, mas o que eles precisam. É isso. Ter uma

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distância boa entre o aluno e o professor, que não seja tão amigo e não

tenha uma distância tão grande. Acho que muito amigo perde um pouco do

respeito, principalmente os mais velhos porque nunca dei aula para essa

turma. Minha relação com os professores foi meio professor e aluno, tipo

distante, ele me ensina e eu aprendo, não tem nada de conversa depois da

aula ou uma amizade mais ou menos, foi meio distante. Meu professor do

ensino médio, no Salete, ele foi um bom professor ele foi bem amigo.

(PINHEIRO, 2014)

Na narrativa do professor está presente o desafio aos docentes de encontrar

o equilíbrio na relação com os alunos entre liberdade e imposição, autoridade e

autoritarismo. Através do relato do professor Pinheiro percebe-se que está instalado

em sua mente um drama, um paradoxo. Assim, o professor reconhece a

necessidade de ter respeito e amizade com o aluno, desenvolver elos afetivos, pois

sabe que sua influência seria maior, porém, por outro lado, sua fala transmite uma

mensagem autoritária, por afirmar ser necessária a distância, que não deve ser o

que os alunos querem, mas o que precisam. Essa fala demonstra uma ação de

poder, em que ele se posiciona como aquele que sabe o que é melhor, mesmo se

tratando de alunos de Ensino Médio. Vale aqui ressaltar que o autoritarismo tem

como características essenciais justamente ignorar o consenso, renegar a

participação popular, suprimir as liberdades, nortear-se nas relações pela força com

vistas à imposição de interesses.

Em seu discurso, percebe-se que ainda é necessário encontrar o ponto de

equilíbrio para que este não viva um drama em suas aulas de falar algo, mas na sua

prática agir de forma diferente com ações contraditórias. Talvez deseje ter

autoridade, sem autoritarismo, e assim como muitos docentes, ele ainda está

procurando o caminho. Ainda é possível supor que ele esteja construindo sua

identidade, com pouco tempo de formado, com a experiência recente ou ainda

esteja firmando suas raízes. Ele mesmo diz: “Eu acho”, pois ainda não deu aula para

alunos maiores. No entanto, é necessário que o professor se conscientize da

dicotomia presente em seu discurso e sua prática.

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Entretanto, não é apenas a relação entre professor e aluno que preocupa os

docentes, mas também a relação aluno e conteúdo, que surge na narrativa de

Acácia:

Eu achava que queria quadra, dar treinamento, dar aula, mostrar

para elas o que eu tive quando estudava só que os alunos mudaram. Hoje

eles não querem mais isso, eles estão na quadra pensando em outra coisa,

preocupados com outra coisa e então você se desgasta muito e

antigamente não. O professor falava que ia dar um exercício, todo mundo

ficava prestando atenção porque queria fazer, queria aprender. Hoje mudou.

(ACÁCIA, 2014)

Contudo, as lembranças de sua relação de carinho com o professor aparecem

de maneira diferente, talvez até pela postura que ela adotava enquanto aluna. Hoje,

ela percebe-se mais desgastada pela relação que estabeleceu com seus alunos.

O que me chamava atenção neles era o carinho que eles tinham

com a gente, se via que era uma coisa que eu me via neles, eles realmente

gostavam daquilo que estavam fazendo, eles faziam com amor, não era

uma coisa assim: Eu gosto, mas, hoje estou cansada. Não, a gente nunca

sabia se eles estavam tristes ou cansados porque sempre estavam sorrindo

para você, tinham uma palavra de incentivo, nunca brigando para te por

para baixo, eles eram professores que destoavam nisso. (ACÁCIA, 2014)

Neste mesmo viés, Palmeira recorda a sua relação com o professor que foi

marcante e de que forma ela usufruía do prazer nas aulas de Educação Física,

principalmente devido à postura do professor, mais aberta e dinâmica.

Ele era um professor muito bom assim... ele envolvia e além de ser

muito cômico, ele era muito engraçado e ele sabia passar o conteúdo de

forma que a gente acabava pegando muito bem. Porque quando o professor

é mais alegre mais espontâneo a dinâmica ocorre de uma forma mais

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prazerosa e os alunos acabam envolvendo mais, se entrosando mais,

discutindo mais opinando e às vezes a aula que era um determinado

contexto acaba criando uma proporção muito maior. (PALMEIRA, 2014)

Cedro também narra a respeito da relação de poder entre professor e aluno

que vivenciou na sua vida escolar. Esta experiência demonstra como seu professor

não assumia a postura de detentor do saber, o que facilitava muito a relação com os

alunos, que se baseava no respeito e não no medo ou na subjugação.

O jeito de ele lidar, a linguagem, com temas, às vezes não tão é

fácil assim de passar, mas ele conseguia se aproximar da gente e usar isso

como ferramenta para a gente aprender. Não era muito imposto como a

gente vivia a prática, ele ia junto para sala, ia explicando e ao mesmo

tempo, ia vendo os exemplos. A linguagem era muito próxima, ele não

usava da posição dele como professor para querer sobressair e mostrar que

sabe profundamente o assunto ele conseguia passar bem tranquilo assim,

as matérias e todo o conhecimento. (CEDRO, 2014)

A representação de autoridade fica evidente na narrativa de Carvalho, através

do conhecimento que o professor possuía, tornando-o então uma referência e por

isso, merecedor de respeito.

Em termos de currículo, tinha um currículo excelente, formação no

exterior das mais variadas, disciplinador, conceituado, esse era o respeito

maior ele tinha um conceito assim uma convicção daquilo que ele falava

fundamental para poder atrair o aluno. (CARVALHO, 2014)

As marcas significativas de Amoreira, nas suas vivências enquanto aluna,

referem-se a uma relação de amizade com o professor, com quem ainda mantém

este vínculo, apesar de conviver com tantos docentes que apenas passaram por sua

vida.

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Quem me marcou: ...ela me deu muito apoio dentro da faculdade.

Até hoje tenho contato com ela me indica vários cursos relacionado à

Educação Física. ...ela é uma pessoa muito preocupada com toda essa

mudança que existe na educação em todo o tempo e sempre procura... têm

milhões de alunos que vão atrás dos cursos dela porque ela é uma pessoa

muito competente. Foram mais essas. Diante de tantos professores que

estes tiveram em sua vida acadêmica, são poucos os que realmente

efetivaram uma marca. Quase todos eram dotados de características

semelhantes, professores alegres, preocupados com os alunos, e afetivos.

Dentro dessas características surgem tantas outras decorrentes dessas.

Com certeza esses professores tinham suas lutas diárias, mas não

transmitiam aos alunos essas dificuldades. (AMOREIRA, 2014)

Desta maneira, as narrativas docentes revelam as marcas que receberam em

suas vidas e nas suas práticas pedagógicas, alguns distantes, outros técnicos.

Gómez (1992) apresenta o professor técnico especializado, que aplica regras

derivadas do conhecimento científico. A crítica a essa concepção, segundo o autor,

conduziu o professor como prático reflexivo, que se apresenta com o desejo de

superar a relação mecânica entre o conhecimento técnico e a prática de sala de

aula.

É possível depreender das narrativas docentes a ambiguidade na relação

pedagógica entre autoritarismo, autoridade, liberdade. Há uma preocupação em não

ser autoritário e a autoridade é a busca pelo ideal de ser professor. A negação do

autoritarismo tem uma razão de ser: “o autoritarismo é a ruptura em favor da

autoridade contra a liberdade e a licenciosidade, a ruptura em favor da liberdade

contra a autoridade" (FREIRE, 2003, p. 99).

Freire menciona a característica de alguns professores falando das marcas

deixadas por estes.

O professor autoritário, o professor licencioso, o professor

competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor

amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva

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do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum desses

passa pelos alunos sem deixar sua marca (FREIRE, 2003, p. 73).

É importante aqui salientar que há uma linha tênue entre libertinagem ou

laissez faire e liberdade. O autoritarismo manterá o educando dependente da

autoridade e lhe tira a liberdade da escolha. A libertinagem também não colabora

para a formação de sujeitos autônomos, pois impedirá o sujeito de ser responsável e

será uma pessoa guiada por impulsos. Assim:

O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é imperativo ético e

não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros [...] O professor

que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua

inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua

prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que

"ele se ponha em seu lugar" ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima,

tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de

propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar

respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride

os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência (FREIRE, 2003, p.

59-60).

O autor ainda defende que a autoridade docente precisa estar fundada na

autoridade da competência, não que a competência técnica na área em que atua

seja suficiente para garantir a autoridade, porém a incompetência profissional a

desqualifica. Sendo assim, a autoridade deve estar relacionada com promover,

incentivar, o que exige generosidade, que permeia as relações justas e generosas, e

estas criam um clima em que a autoridade do professor e a liberdade do aluno se

assumem em sua eticidade (ética verdadeira).

Deste modo, a autoridade não pode cair no autoritarismo, afinal assim se

educará para a servilidade, que é uma forma de heteronomia, ou seja, uma condição

de submissão de valores e tradições, uma obediência passiva aos costumes por

conformismo ou por temor à reprovação da sociedade. Neste processo, só se

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conseguirá formar sujeitos submissos sem autonomia sem liberdade e

independência, sem capacidade de se reger por si mesmo.

Freire (2003) ainda alerta que, por outro lado, a autoridade conduz o sujeito à

autonomia levando a sua capacidade de refletir sobre as limitações que lhe são

impostas, e que observadas lhe dão a direção a seguir. Portanto, a autoridade que é

democrática se preocupa com a construção de um clima de real disciplina, de

respeito. Ela busca levar o educando a construir, por meio de sua liberdade e

fundado na responsabilidade, entretanto procurar o equilíbrio entre autoridade e

liberdade, na prática se constitui um desafio. Nas narrativas dos professores

percebe-se essa procura e a busca por esse equilíbrio, para que o professor saiba

se posicionar entre a autoridade e o autoritarismo.

O educador, que busca a autonomia dos alunos e não quer ter uma prática

autoritária, precisa saber escutar. Falar para os alunos como se fosse o portador da

verdade é uma prática bancária, é preciso escutar, e a partir da escuta aprender a

falar com eles e não para eles, como ressalta Freire (2003). Se quisermos promover

no educando a autonomia, o processo educativo como um todo deve ser de “falar

com”. Pode haver momentos de “falar para”, desde que como um momento do “falar

com”. Na educação bancária percebe-se que:

a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são

os depositários e o educador o depositante. Na concepção “bancária” que

estamos criticando, para a qual a educação é o ato de depositar, de

transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não se verifica nem pode

verificar-se esta superação. (FREIRE, 2003, p. 66-67).

Freire (1997) ainda aponta que a principal marca dessa educação é a

ausência do diálogo.

E que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com B. Nasce de

uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se do amor, da

humildade, da esperança, da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo

comunica. E quando os dois polos do diálogo se ligam assim, com amor,

com esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na busca de algo.

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Instala-se, então, uma relação de simpatia entre ambos. Só aí há

comunicação. (FREIRE, 1997, p. 115).

Assim, o diálogo só pode se dar numa relação democrática. Se não existir o

diálogo o processo educativo estará comprometido, pois ensinar não é transferir

conhecimento, mas é necessário problematizar para os próprios educandos possam

construir seus conhecimentos.

O diálogo entre professoras ou professores e alunos ou alunas não

os torna iguais, mas marca a posição democrática entre eles ou elas. Os

professores não são iguais aos alunos por n razões entre elas porque a

diferença entre eles os faz ser com estão sendo. Se fossem iguais, um se

converteria no outro. O diálogo tem significação precisamente porque os

sujeitos dialógicos não apenas conservam sua identidade, mas a defendem

e assim crescem um com o outro. O diálogo, por isso mesmo, não nivela,

não reduz um ao outro. Nem é favor que se faz ao outro. Nem é tática

manhosa, envolvente, que um usa para confundir o outro. Implica, ao

contrário, um respeito fundamental dos sujeitos nele engajados, que o

autoritarismo rompe ou não permite que se constitua. (FREIRE, 1997, p.

117-118)

Para Rubem Alves (2011), ensinar é um exercício de imortalidade. Para ele o

professor não morre jamais, pois continuamos a viver naqueles cujos olhos

aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. Percebe-se que os

professores que foram referenciais tinham como característica a autoridade coberta

de afetividade. Tudo isso acontece dentro da dimensão estética, da beleza, na qual

ocorre uma educação democrática e da feiura, do distanciamento e da frieza.

Percebe-se a figura de um professor com autoridade sem autoritarismo.

Assim, é imprescindível pensar na expressão, “magia das nossas palavras”,

pois existe uma grande diferença entre falar com o aluno e falar para o aluno.

Quando falamos com o aluno, deve existir uma linguagem democrática; já quando

se fala para o aluno remete à ideia que ele tem de ser, a partir do que o professor

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julga correto, ou seja, uma atitude autoritária. Desta maneira, é necessário ter

clareza da diferença entre as linguagens, pois a fala do professor possui um valor

importante para nossos alunos, e essa magia que contagia é a de uma fala

democrática, afinal são os que usam dessa linguagem que se imortalizam na mente

de seus alunos.

Nesta perspectiva, Wallon (1968) trata dessa expressão emocional que tem o

poder de contagiar o ambiente como um dos traços característicos social da

afetividade. Para ele a ansiedade do docente, por exemplo, afeta o discente, e vice

versa, já que essas emoções serão transmitidas exteriormente através da fala

gestos.

Ainda segundo Wallon (1968), para construir uma pessoa ou o seu

conhecimento, o aspecto afetivo é o foco principal, pois a atividade emocional é, ao

mesmo tempo, social e biológica. O vínculo com o ambiente social garante o acesso

ao universo da cultura acumulado pelo ser humano ao longo dos tempos.

Sendo assim, a amorosidade e o diálogo constituem-se como elementos

indispensáveis para que ocorra, no processo educativo, “o encontro amoroso entre

os homens que, mediatizados pelo mundo, o “pronunciam”, isto é, o transformam, e,

transformando-o, o humanizam para a humanização de todos” (FREIRE, 1992, p.

43). Deste modo, o processo educativo que é realizado com afetividade, diálogo,

seriedade volta-se para a aprendizagem como humanização e valores.

Para tanto, o educador deve colaborar com o desenvolvimento de uma

ortopatia, que significa a possibilidade de viver corretamente as próprias emoções.

Sem esse desenvolvimento, será impossível a liberdade em relação às próprias

necessidades e defesas imaturas e aos outros, o que inviabiliza a relação de

respeito ao diferente e à autonomia do educando.

O professor que gerencia bem suas emoções confere as palavras e

gestos clareza, convergência, geralmente de forma equilibrada, sem agredir

o outro. O aluno capta claramente a mensagem. O professor equilibrado e

aberto envia mensagens através de suas atitudes, de que é uma pessoa de

bem com a vida, flexível, positivo, aberto. “A educação deve contribuir para

o desenvolvimento total da pessoa - espírito e corpo, inteligência,

sensibilidade”. (ROGERS, 1992, p. 44)

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Como sujeitos no mundo e principalmente como educadores, não podemos

ficar alheios à responsabilidade ética no nosso mover-se no mundo, nem

desconsiderar a influência que uma pessoa pode exercer ao se relacionar com o

outro. Vimos nos capítulos anteriores que a EF foi se adequando com o contexto

histórico em que estava inserida e hoje diante de tantas transformações precisamos

rever a influência que um professor pode e deve exercer sobre seus alunos.

Neste sentido, é preciso levar em conta a missão do professor que é o seu

diferencial: ele exerce grande influência sobre a formação da personalidade e do

caráter de seus alunos. Tudo isso acontece na dimensão estética, lembrando-se do

que Alexander Gottlieb Baumgarten (1714 - 1762), falou do significado de

“faculdades de percepção pelos sentidos”.

A maneira como o professor lida com os alunos, a sua interação, vai transmitir

mais que conteúdos, mas pode deixar marcas para o resto de suas vidas, tanto

positivas como negativas e através dos sentidos. Com relação à postura do

professor, Maturana (2008) esclarece a relação do professor Humanista, que

valoriza o aluno e seu ensino está direcionado para a vida através da sua prática,

afirmando que a estrutura do ser humano está baseada no amor, na afetividade e na

intimidade.

Conforme Maturana e Rezepka (2008, p. 27), “A biologia do amor é a

dinâmica constitutiva do ser humano como ser social desde sua condição biológica e

não desde sua condição cultural”. Eles ainda defendem que o amor como emoção, é

o domínio das condutas relacionais através das quais surge o outro como legítimo

outro em convivência com alguém. Sendo assim, o amor é a emoção que funda o

social com âmbito da convivência no respeito por si mesmo e pelo outro.

Já Moran (2013) mostra que a afetividade na relação pedagógica é um

componente básico de conhecimento e está intimamente ligada ao sensorial e ao

intuitivo. Existem formas de manifestação, nos gostos, na ternura, no acolhimento,

nas palavras, na entonação nos gestos. Ela facilita a comunicação e promove uma

relação saudável. O homem contemporâneo, pela relação intensa com os meios de

comunicação, é sensível às formas de comunicação que enfatizam a afetividade.

Neste sentido, Rogers (1992) destaca que:

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Deixar de se preocupar somente com o conhecimento intelectual, é

um desafio. Acontece que os alunos não são acolhidos quando não

correspondem ao desenvolvimento intelectual esperado. “Se as pessoas

são aceitas e consideradas, tendem a desenvolver uma atitude de mais

consideração em relação a si mesma”. (ROGERS, 1992, p. 50 )

Segundo Freire (1997), a afetividade perpassa um caminho entre a teoria e

prática pedagógica na construção da Pedagogia da Autonomia. Este caminho nos

leva a reflexão que somos e nos leva a pensar que é no domínio da decisão, da

avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a necessidade da

ética e se impõe a responsabilidade. A ética se torna inevitável e sua transgressão

possível, é um desvalor, jamais uma virtude.

a prática educativa envolve “[...] afetividade, alegria, capacidade

científica e domínio técnico a serviço da mudança”. É preciso ir além e

buscar a construção da afetividade como eixo fundamental no processo

dialógico de ensino-aprendizagem (FREIRE, 2003, p. 161).

Jung (1983) propõe que a aprendizagem está profundamente ligada nos

processos de ampliação da consciência, e a relação estabelecida pelo aluno com

seus alunos está permeada por suas vivências anteriores. Alerta para a dificuldade

que enfrentamos ao buscar essa ampliação da consciência, pois esse movimento

consiste em vasculhar o interior (nichos) que articulam conteúdos criativos, mas

também defensivos, já que estão emaranhados às emoções.

A afetividade se encontra na dimensão estética, pois marca uma beleza e se

demonstra através de manifestações estéticas, seja no olhar, no abraçar, no elogiar,

no sorrir, na entonação de voz e em outras situações, como num diálogo. É fato que

a sociedade contemporânea passa por transformações advindas da tecnologia que

começa a interferir nas relações e valores. Há mudanças de pensamento e atitude

dos indivíduos na sociedade contemporânea, que também ocorrem nas relações

afetivas, na arte, no corpo, na família, no mercado de trabalho, no envelhecimento e

na longevidade, nas relações.

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3.3 A estética da quadra: uma possibilidade de desenvolvimento de

autonomia e emancipação dos sujeitos

A quadra é o principal local onde se dá a prática pedagógica da Educação

Física, em que estão presentes valiosos momentos de desenvolvimento dos

processos pedagógicos de ensinar, aprender e formar para a autonomia e

emancipação dos sujeitos. É um espaço de gosto e desgosto na relação entre

professor, aluno e conteúdo. Como podemos observar na narrativa de Carvalho:

Hoje também os alunos cada vez mais desinteressados pela prática

esportiva eu volto a dizer aquela questão de tecnologia, talvez tenha outros

interesses. Hoje então a gente fica ali remando contra a maré porque você

vem com uma proposta e às vezes eles não têm interesse. E às vezes são

desrespeitosos. É difícil. Implantar um estilo de vida, estilo de vida saudável,

principalmente hoje nesse mundo que a gente vive tecnológico, isso daí tem

que ser implantado mesmo, ser colocado. As crianças vivem em

computadores, internet enfim... O que for aí de tecnologia acha que o mais

importante é isso, a criança praticar atividade física o adolescente e depois

adulto e o resto da vida. Se esse cidadão respeitar dentro do que é dado

saber, os limites do outro, saber as dificuldades de cada um, então tudo isso

é muito importante no desenvolvimento da criança e do adolescente e até o

adulto. Falando numa parte mais técnica eu gosto muito da filosofia dos

jogos cooperativos, isso você leva muito para a vida, saber que um depende

do outro para realizar alguma tarefa e não na individualidade. (CARVALHO,

2014)

Esta mudança no interesse dos alunos, também está presente na narrativa da

professora Acácia, como já mostrado anteriormente, em que se abordou a relação

do aluno com o conteúdo. Além disso, ela aponta também como a construção das

relações interpessoais, às vezes, é muito complexa.

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Eu acredito que por ser EF e estar no espaço escolar, a primeira

coisa que precisa ter é respeito entre aluno e professor, professor e aluno e

entre eles mesmos Precisam saber distinguir onde termina o meu espaço e

começa do outro onde termina o meu e começa o do professor. Acho que

neste horário vai ser quando vamos aprimorar com eles a base de

relacionamentos: respeito, a educação que tem que ter, é importante, pois

não será só na aula, mas isso vai ser para a vida toda, todo o lugar você vai

ter que dividir o espaço com alguém, ou no ônibus ou na escola ou em

numa empresa, ou em qualquer lugar... o respeito à gente tem que aprender

a ter. A aula de EF... Ajuda, porque mostra que posso viver em grupos, com

amigas, umas mais amigas minhas que outras, mas ao mesmo tempo tenho

que ter respeito por todas igual, eu não vou respeitar mais a que é minha

amiga que outras que não tenho amizades... Preciso dividir bem o espaço

com todas igualmente. A gente tem essa visão, pois em uma brincadeira no

final de aula a gente procura mesclar os grupinhos que não se misturam,

procuro mesclar os componentes para ter que tenham esse contato com

todo mundo. Às vezes você não gosta muito da pessoa, mas nem conhece

direito e numa hora dessas de lazer quando estiver todo mundo se

divertindo. Vai poder sentir que a aquela menina pode ser legal, e se não

for... Eu vou ter que e ter o mesmo respeito por ela... não pode ser todo

mundo igual, eu posso não gostar dela como ela não gostar de mim.

(ACÁCIA, 2014)

O contexto atual fez os professores Carvalho e Acácia entrarem em contato

com algo que não havia estado em seu mundo profissional. Experimentam um

espanto diante da dificuldade de lidar com os alunos, pois trazem uma visão de

alunos idealizados. Esta dificuldade pode ser compreendida, segundo Sartre (2008)

como uma forma de lidar com as emoções, de tratar uma situação difícil que se

apresenta sob nossa percepção de modo a não buscar alternativas para lidar com

essa dificuldade, mas fazendo-a mais difícil do que é.

Em outra narrativa surge o seguinte:

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De repente um jogo. ou uma brincadeira... algum aluno criava uma

regra diferente e a gente acabava adaptando enfim.... Até porque por

incrível que pareça em minhas mãos já passaram várias crianças com

determinada deficiência então a gente sempre tinha que adaptar para não

excluir e sempre tem aqueles que... Ah! Eu não quero, ah, eu não gosto, eu

não vou fazer e não tem como você não envolver. A prática nas aulas de

Educação Física segundo os PCN´S está concisa de que é através de uma

cultura corporal de movimento onde a interação social está intimamente

ligada às possibilidades de lazer, promoção da saúde pessoal e coletiva,

sem deixar de considerar as diferenças culturais de cada criança. Os alunos

são tidos como seres que são de ação e reflexão, ou seja, dentro da

Educação Física, nós docentes escolares devemos trabalhar na prática a

cultura corporal do movimento das crianças objetivando impreterivelmente

que essa criança seja um ser ativo dentro dessa cultura corporal, consciente

e acima de tudo reflexivo através das soluções dos problemas dispostos e

sejam capazes de superar os limites. (PALMEIRA, 2014)

Neste relato, já é possível perceber a abertura para um diálogo, considerando

cada aluno com um ser único, além de o professor estar preocupado em conseguir

que se tenha uma vivência corporal, inserida numa cultura.

Através de sua narrativa, Amoreira demonstra sua visão sobre a beleza das

relações e porque então não dizer sua percepção estética:

Dentro da minha prática acho que hoje é isso, uma mistura. O belo

hoje dentro da minha prática sou eu conseguir uma proximidade muito

grande com os alunos e ao mesmo tempo ter o respeito delas. Acho isso é

importante, e saber o quanto eu que pude colaborar de alguma forma, às

vezes não só dentro da EF, mas assim como vida, como conselheira, então

essa proximidade é a grande questão maior de estar maior de hoje estar

dando super certo, de estar conquistando muitas alunas. Eu consegui além

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de eu passar toda a minha parte pedagógica dentro da Educação Física,

todos os conteúdos que eu procuro executar durante o ano, é ter essa

proximidade delas me tratarem como a professora e como conselheira,

buscar em mim coisas como um amor que não encontra em casa, o carinho

que não encontra em alguns lugares, dúvidas, e sempre estar conversando

isso comigo. Os fins trazem para a área de Educação Física objetivos

eficazes. O PCN propõe uma vivência e exploração que vai além dos

conteúdos das habilidades e dos esportes, inserindo a importância da

história, regras, ética e valores, produzindo assim reflexões sobre a

responsabilidade, aprendizado e suas atitudes. O professor e papel

fundamental nessa construção já que deverá atentar pelo âmbito social e

cultural ao qual seu aluno está inserido e pela qualidade e diversidade

expostos de uma forma coerente podendo assim gerar um aprendizado

realmente significativo. Acho que isso é importante hoje na nossa vivência

como ser humano, de ter uma preocupação maior, de estar formando

cidadãos que tenham mais amor, que sejam mais críticos. Então dentro do

que eu buscava... de repente, formar grandes atletas, hoje não. Eu era

super estudiosa então eu tinha uma coisa formada na minha cabeça como

eu ia dar aula e a partir do momento que comecei fazer estagio em alguns

lugares eu conheci pessoas que me influenciaram muito. Professores que

foram importantes no meu desenhar. Eu pensava muito na área realmente

de esporte, vou ensinar isso o jogo, para aprender o esporte através

disso.... Eu pensava em várias estratégias que foram modificadas a partir

desse momento, foi de uma forma até abrupta assim porque eu entrei para

fazer estágio em alguns lugares que o professor já trabalhava há muito

tempo e aí eu vi realmente a realidade de como era, a partir desse

momento, eu convivi com isso eu troquei muitas coisas. Então eu vi

realmente que a realidade no meio daqueles alunos, o que eles viviam na

parte familiar deles como eu vivi na minha vida tinha relação com que eu ia

passar para eles entendeu, não ia adiantar chegar lá querer passar... por

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mais que o jogo fosse super legal que eu não ia conseguir atingir 100%, que

eu teria alunos que teria ganhar de outra forma. Então alguns professores

foram realmente muito importante que me mostraram isso, e a partir daí

com essa vivência eu mudei meu jeito de pensar e até de estratégia para

dar aula. (AMOREIRA, 2014)

Cedro apresenta em seu relato a possibilidade de diálogo como forma de

desenvolvimento da autonomia na tomada de decisões, que vai para além das aulas

de Educação Física no período escolar.

Eu creio que para você conseguir cativar uma criança e obter

atenção dela, você precisa trabalhar isso de tornar as coisas mais bonitas,

tanto você da dimensão física da parte física, você estar bem, ser exemplo

para eles de saúde, de alegria, de energia, como também tornar as

atividades atraentes para eles, mesmo que você esteja trabalhando alguma

coisa que seja relativamente chata para eles você consegue mostrar de

repente... Mostrar de outro jeito consegue deixar mais bonito, mais atraente

para os olhos dele, então você já tem uma facilidade para ensinar. E o

aprendizado final, é o aprendizado para a vida pessoal posterior, eles

entenderem que a Educação Física é mais que uma brincadeira ou um jogo,

é alguma coisa que vão levar para sempre. Acho que primeiro é o respeito e

a convivência com o próximo, a convivência com as diferenças, que nem ele

nem ninguém vão ser iguais praticando , brincando ou jogando, Que ele

consiga entender que faz parte da vida também. De repente, ter noção de

saúde, noção corporal, que vai ser essencial lá para frente. Acho que são as

duas coisas primordiais: variar bastante e ter o aluno próximo de você para

conseguir atingir ele e atingir os objetivos. Acho que antes de querer

posicionar alguma coisa tem que ter uma proximidade para ele te respeitar.

Esse é mais o meu perfil também, não sei se é o ideal para todo o tipo de

professor, mas eu tento chegar aos objetivos deixando o aluno mais

próximo de mim para eu conseguir que ele tenha vontade de aprender

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porque se ele não tiver vontade você não vai conseguir passar nada para

ele. Para mim funciono bem, eu consigo trazer eles para aula com vontade

de aprender mostrando também o quanto a atividade pode ser boa, pode

ser legal, mas que eles também estão aprendendo com alguém que gosta

deles e que quer ensinar e não só impor alguma coisa e jogar para eles e

eles têm que aprender e ponto. Procurar situações que eles possam

observar neles próprios e também nos amigos como melhorar e corrigir os

erros, através de atividades em grupos, jogos cooperativos e brincadeiras

que estimulem essa percepção e façam refletir e tentar algo diferente. Para

mim a percepção sobre a importância da dimensão estética (Prática) no

desenvolvimento dos alunos, é importante, pois faz parte do

desenvolvimento social, onde os alunos devem aprender a respeitar as

diferenças e começam a enxergar mais qualidades, servindo de estímulo,

integrando todos às atividades favorecendo o trabalho coletivo. (CEDRO,

2014)

No mundo contemporâneo o sujeito parece acreditar que o consumismo, a

compulsão por remédios (pílula da felicidade), a fama e o poder preencherão e

darão significado à vida. Por isso, a necessidade pela informação, a dificuldade de

lidar com sofrimento, parece que tudo tem que ser vivido rapidamente. Furlanetto diz

que: “cada vez mais, fica claro que vivemos num momento de passagem; assistimos

ao declínio dos princípios que delinearam a modernidade e pressentimos o que

ainda timidamente o que se configura” (FURLANETTO, 2007, p. 38).

O professor que não entender essas mudanças de comportamento devido às

transformações da própria sociedade e às exigências do século XXI, sentirão nas

suas aulas essas dificuldades. Por isso, Freire (2000) aborda a necessidade do

questionamento da prática docente, de um professor reflexivo, pois caso contrário

sofrerão desgastes, muitos talvez desistam, indo para outras áreas, outros

assumirão a postura de autoritarismo para continuar controlando a disciplina e o

interesse.

Nesta perspectiva, o professor reflexivo é uma forma de proporcionar,

condições necessárias para analisar seu grau de amadurecimento e de

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comprometimento, isto é um processo individual e único, que não se aprende em

nenhum lugar. Professores que mesmo diante das mudanças desses tempos

modernos buscam despertar nos alunos uma consciência crítica, analítica e reflexiva

proporcionando a eles condições para seu desenvolvimento e depois de formados,

sejam capazes de estabelecer outra época para as novas gerações.

Se traçarmos uma analogia do professor como uma árvore, é bom

lembrarmos que seus troncos quando estão crescendo e encontram obstáculos,

procuram uma nova direção. Na prática pedagógica não pode ser diferente, diante

dessas transformações é necessário o professor buscar essas novas práticas.

Também é imprescindível reconhecer neste contexto de mudanças provocadas pela

tecnologia, aquilo que não mudou. Os seres humanos continuam sendo seres que

para crescer intelectualmente e emocionalmente precisam também se conhecer e

aprender, características e atividades inerentes ao ser humano. O homem se

diferencia do animal pelas suas capacidades cognitivas, linguística e comunicativa.

Ele é o único animal capaz de raciocinar, produzir conhecimento, e construir

símbolos para se comunicar.

Contudo é essencial perceber que no espaço e no tempo, todas as coisas

mudam, transformam-se, nada tem forma permanente e estanque. Neste sentido, o

trabalho do professor de Educação Física, seja na quadra, na piscina ou sala de

ginástica, que se constituem em espaços de aprendizagem, apresenta inúmeras

possibilidades para o desenvolvimento de autonomia e emancipação dos sujeitos se

manifestando em atitudes éticas. Para tal, é necessária a compreensão de que a

prática pedagógica não se esgota no processo de ensinar um esporte, jogos e

atividades.

A Educação Física como disciplina contribui para a construção do sujeito no

contexto escolar. Assim, é indispensável entender a quadra como um lugar que

representa um espaço de aprendizagem, é estimular o aluno à tolerância, à

humildade, a crescer na diferença, isto é, ter uma educação baseado na

humanização.

Para Freire (2003), o aluno só consegue a autonomia quando aprende a

refletir no próprio processo de tomar suas decisões e fazer escolhas. Deste modo, o

professor deve ter a clareza de estar atento à participação dos alunos e criar

condições para que ela possa ser estabelecida, de forma que professores e alunos

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atuem como sujeitos e criem possibilidades para a produção e construção do

conhecimento, proporcionando a leitura do contexto escolar e do mundo.

Adorno e Horkheimer (2002) discorrem dessa pobreza cultural e a atrofia da

imaginação, como efeitos corroem uma cultura crítica. Dessa maneira, a pedagogia

está sendo transformada, a educação contemporânea surge com novos problemas,

nos levando à reflexão, motivada pelas mudanças ocorridas a cada dia.

Neste contexto, os jovens começam a assumir uma nova conduta, um modelo

social ligado à tecnologia, celulares, tablets, máquinas digitais. Sabemos que

existem ganhos e perdas nessa nova forma de viver. As crianças, hoje, adquirem

uma relação mais íntima com a tecnologia. O bom uso da internet, como formas do

aprendizado, tem um grande valor. A promoção de debates sobre temas do cotidiano

ajudam os alunos a desenvolverem o senso crítico e tantas outras formas que a

tecnologia chega para contribuir. Porém, não podemos negar que, na sua maioria, as

pessoas ainda não sabem encontrar o equilíbrio entre o bom uso e o exagero nas redes

sociais. Talvez seja este o maior obstáculo, o não equilíbrio permite que o sujeito

priorize estar na internet do que realizar outras coisas, ou se relacionar com alguém

distante do que com alguém próximo.

No cotidiano das escolas, é possível perceber com mais frequência a seguinte

cena: nos intervalos das aulas, muitos alunos sentam com seus tablets e ficam

jogando e não se relacionam com os colegas. Muitas vezes, em restaurantes

percebem-se as pessoas sentadas juntas, mas cada um envolvida com seu celular.

Dessa forma, as dificuldades nas relações humanas surgem. Uma crise de valores

se instalou na sociedade e parece que essa geração não compartilhar de valores

que sejam éticos ou familiares, parece que tudo se tornou relativo, e não se tem

mais uma educação com valores que são veiculados pela mídia. “O cinema e o rádio

não precisam mais se apresentar como arte. A verdade é que não passam de um

negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que

propositalmente produzem” (ADORNO, 1982, p.114).

A imprensa de massa impõe uma visão de mundo e cria um processo de

produção de mitos que passa a alimentar a sociedade influenciando suas ideias,

comportamentos e atitudes. Quem passa a educar desde a infância é a indústria

cultural. A primeira formação do imaginário não passa mais pela família ou pelo

ambiente escolar, mas é dominada e absorvida horas pela TV, que passa a agir

sobre o imaginário e penetra na personalidade infantil, dessa forma passa a regular

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moda e ditar normas. É essa cultura de massa que passa a ditar as regras de prazer

e de convivência e gradualmente vai massificando a cultura.

Na perspectiva sociointeracionista em Piaget, Vigotsky, Wallon, é essencial

que o docente entenda as dimensões da aprendizagem, da sua interioridade, ou

seja, os aspectos psíquicos relativos ao conhecer/saber, ao fazer, ao sentir e ao

querer, além da exterioridade, o que diz respeito ao corpo, à família, à sociedade e

ao espiritual. Essa relação intersubjetiva é uma relação ética, lembrando que o

sujeito tem como referência o outro. Na dimensão da aprendizagem nós temos a

inteligência o desejo e o corpo, isto está dentro de um contexto socioantropológico.

Numa destas dimensões temos a dimensão do corpo, suas percepções, sensações,

imaginação, afetos. Portanto, mais que transmitir conhecimentos é importante

lembrar-se do papel formativo e educativo das disciplinas no contexto escolar, como

abordam Dantas, Oliveira e La Taille (1992).

O desenvolvimento da autonomia, a que Freire (2003) aponta como uma das

finalidades do processo educativo, constitui-se através da passagem do indivíduo

pelo exercício do autoconhecimento, adquirindo uma expressão adequada do que se

sente e se pensa a respeito de si mesmo e dos outros.

Adorno (2004) ao tratar da emancipação dos sujeitos, critica a indústria

cultural pelo seu poder de massificação, uma ideologia que desconsidera diferenças

culturais e padroniza todo mundo, através da publicidade. Ele busca então, na

estética contemporânea o resgate da percepção dos sentidos.

Neste viés, o professor é o mediador da construção estética dos alunos,

formando alunos que tenham capacidade de interagir com os outros, que respeitem

as diversas diferenças que encontramos na sociedade, que tenham atitude de

cooperação, que abominem qualquer tipo de violência, que respeitem as regras,

capazes de solucionar problemas em grupo através de discussões respeitando as

diferentes opiniões e que sejam críticos quanto ao padrão de beleza e estética

estipuladas pela mídia, evitando assim o preconceito.

O professor ainda deve levar os alunos a se desenvolverem e se tornarem

pessoas inteiras, não só com excelentes habilidades motoras, mas no convívio com

outros, enfim uma Educação Estética, tornando-se autônomas e responsáveis que

em todas as suas ações, numa relação sadia consigo mesma e com o próximo.

Lembrando que o professor deve se assumir como sujeito e também ser uma

referência aos alunos.

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Freire (2010), em À sombra dessa mangueira, trata da educação da

sensibilidade, ou seja, uma educação que reconheça a participação dos educandos

no processo ensino aprendizagem. Analisando aqui a Educação Física, podemos

perceber que através do conteúdo como o esporte, jogos, brincadeiras, entre outros,

e deste espaço, a quadra, o professor conseguirá guiar os educando a um processo

de construção de identidade, preparando para um mundo real, como um sujeito

autônomo, ético, reflexivo e crítico.

Assim como Freire, Schiller (2002) explana sobre a educação da faculdade do

sentir, que seria um meio de tornar efetiva na vida uma inteligência aperfeiçoada e

faz uma analogia entre o trabalho do escultor com a matéria. O pedagogo artista é

aquele para quem “educar é como criar uma obra de arte” (SCHILLER, 2002, p.

218), respeitando a liberdade e especificidade da matéria (ser humano). Pensando

dessa forma é necessário que o educador também demonstre mostre respeito para

com os sujeitos, através de ações regidas por princípios éticos e estéticos.

Na narrativa dos professores falando sobre atitudes na quadra, pudemos

perceber semelhanças no discurso como: necessidade de respeito nas relações, à

inclusão de todos na atividade, respeitar os limites do outro, cultivar amizades,

professor como exemplo de respeito e alegria. Alguns falaram de um ensino para a

vida toda, ou seja, valores que devem ser cultivados e refletidos na vida. Pensamos

dessa forma, em valores éticos que devem ser trabalhados na quadra, usando a

ferramenta do esporte. Num dos relatos fica implícito que é importante a parte

técnica, mas a preocupação é formar cidadãos críticos e tenham mais amor.

Considerando as dimensões estéticas em Schiller mencionadas em Santos

(1996), percebemos então a primeira dimensão que se encontra no próprio conteúdo

que deve trazer uma experiência de gosto ao aluno. A segunda dimensão constitui-

se no ambiente envolvente do processo educativo, ou seja, dá conta dos espaços,

dos objetos, dos instrumentos, enfim, do meio pedagógico visto como um todo, aqui

pensamos na quadra como este ambiente que trará aprendizagem não somente de

um conteúdo, mas de valores para a vida. A terceira dimensão traz o mediador

pedagógico, destaca o princípio da simplicidade e da singeleza, mostrando que o

grande mérito de um gênio é fazer-se compreender por uma criança, despindo-se da

afetação para resgatar o valor estético e pedagógico da imagem, da metáfora, do

símbolo. O professor como exemplo vivo de valores como respeito, alegria ao

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ensinar, afetividade, inclusão. Uma educação humanista com uma prática voltada

aos valores.

Consoante, temos a esta questão abordada nos Parâmetros Curriculares

Nacionais:

Nos costumes, manifesta-se um aspecto fundamental da existência

humana: a criação de valores. Os diversos grupos e sociedades criam

formas peculiares de viver e elaboram princípios e regras que

regulamentam seu comportamento. Esses princípios e regras específicos,

em seu conjunto, indicam direitos, obrigações e deveres. Não há valores em

si, mas sim propriedades atribuídas à realidade pelos seres humanos, a

partir das relações que estabelecem entre si e com a realidade,

transformando-a e se transformando continuamente. Valorizar significa

relacionar-se com a natureza, atribuindo-lhe significados que variam de

acordo com necessidades, desejos, condições e circunstâncias em que se

vive. Pela criação cultural, instala-se a referência não apenas ao que é, mas

ao que deve ser. O que se deve fazer se traduz numa série de prescrições

que as sociedades criam para orientar a conduta dos indivíduos. Este é o

campo da moral e da ética. (BRASIL, 1997, p. 49).

A principal razão de ser da ética é a aprendizagem da convivência humana. A

ética é a maneira de ser e relacionar-se com o outro. A quadra é um rico espaço

para a aprendizagem da ética na prática da relação dos sujeitos-alunos e sujeitos-

professores com o conhecimento, pode tornar sensível ou embrutecer as relações.

Antes de pensar em ética em suas aulas, o professor deve ter em

mente qual é sua posição em relação ao ensino de valores. A primeira

posição é de transformação das condições gerais da sociedade, ou seja, é

um posicionamento no sentido de superação de uma determinada situação

ou de um determinado valor em nível superior. A segunda posição é de

reprodução inconsciente que está relacionado com a posição ingênua ou a

falta de um posicionamento crítico. Ou seja, é recebida uma determinada

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informação e não se tem instrumentos para avaliá-la com um pouco mais de

rigor. Neste caso há a contribuição na formação de alunos ingênuos

(COMISSÃO DE ESPECIALISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 2004, p. 23.).

Para Dussel (2000), a ética prática fundamenta-se na visão da pedagogia de

Freire, ou seja, a passagem da consciência ingênua para a consciência crítica que

só é possível se for levada em conta a dimensão ética. Para ele, a equidade, o

respeito, a solidariedade, a autonomia e a responsabilidade social significam que a

vida do outro deve ser tão digna como a nossa. Assim, “não podemos nos assumir

como sujeitos da procura, da decisão da ruptura, da opção, como sujeitos históricos,

transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos” (FREIRE, 2003,

p.17).

Nesta perspectiva, Schiller (2008) sustenta que há uma dimensão estética na

conduta moral humana. Nossas ações podem e devem apresentar beleza, não

apenas nas boas maneiras, mas a expressão da liberdade de escolhas, conhecida

como autodeterminação prática. Esta dimensão estética da conduta humana revela

que a ações humanas baseadas na racionalidade serão belas, pois serão

espontâneas. Sob essa visão, Schiller (2008) encontra no conceito de graça a forma

dessa aparência. Graça para Schiller (2008) seria o fruto maduro da humanidade,

pois este representaria o grande ideal de perfeição moral: um sujeito que não age

apenas moralmente, mas moralmente belo.

Chama-se uma bela alma aquela em que o sentimento ético

finalmente assegurou-se de todas as sensações do homem, até ao grau em

que, sem temor, pode deixar ao afeto a direção da vontade e nunca corre o

risco de estar em contradição com as decisões do mesmo. Por isso, numa

alma bela, as ações singulares não são propriamente éticas, mas o caráter

todo o é. (SCHILLER, 2008, p. 42)

Deste modo, Schiller (2002) mostra-se convencido de que o verdadeiro valor

moral não é o mero cumprimento do dever, mas o cumprir de forma livre e

espontânea, assim a ação seria moralmente bela.

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A ação que, de acordo com essa lei e com exclusão de todos os

fundamentos determinantes da inclinação, é objetivamente prática chama-se

dever, o qual, em virtude dessa exclusão, contém em seu conceito uma

necessitarão prática, isto é, uma determinação a ações, por mais a

contragosto que elas possam acontecer. (KANT, 2008, p. 130).

É possível compreender que a graça é a forma de expressão de uma bela

alma, pois esta já resolveu o conflito entre razão e sensibilidade, mesmo ainda que

não plenamente resolvido, porém próximo de uma harmonia. Essa harmonia deve

ser um ideal de vida, que ao homem cabe buscar e se empenhar, como salienta

Schiller (2008). A natureza humana sofre mudanças dos estados sensíveis muitas

vezes impossibilitam essa harmonia, logo, espera- se desse sujeito um dever moral

sobre suas ações, muitas vezes implicando em ações de sacrifício ou sofrimento,

dessa forma, não será uma ação moralmente bela, mas moralmente grande. A isso,

Schiller (2001) chama de sublime e essa atitude é chamada de dignidade.

Estas preocupações com a estética e a ética estão presentes nos PCN’s, que

também surgem nos relatos dos professores, como no caso de Palmeira.

A prática nas aulas de educação física segundo os PCN´S, está

concisa de que é através de uma cultura corporal de movimento onde a

interação social está intimamente ligada às possibilidades de lazer,

promoção da saúde pessoal e coletiva, sem deixar de considerar as

diferenças culturais de cada criança. Os alunos são tidos como seres que

são de ação e reflexão, ou seja, dentro da educação física, nós docentes

escolares devemos trabalhar na prática a cultura corporal do movimento das

crianças objetivando impreterivelmente que essa criança seja um ser ativo

dentro dessa cultura corporal, consciente e acima de tudo reflexivo através

das soluções dos problemas dispostos e sejam capazes de superar os

limites e os desafios. (PALMEIRA, 2014)

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Esta consciência do que é proposto nos PCN’s também está presente na

narrativa de Amoreira, mostrando-a como uma docente preocupada com esta

construção de sujeitos éticos e críticos.

Os PCN’s trazem para a área de Educação Física objetivos

eficazes. O PCN propõe uma vivência e exploração que vai além dos

conteúdos das habilidades e dos esportes, inserindo a importância da

história, regras, ética e valores, produzindo assim reflexões sobre a

responsabilidade, aprendizado e suas atitudes. O professor e papel

fundamental nessa construção já que deverá atentar pelo âmbito social e

cultural ao qual seu aluno está inserido e pela qualidade e diversidade

expostos de uma forma coerente podendo assim gerar um aprendizado

realmente significativo. (AMOREIRA, 2014)

Neste sentido, o professor Carvalho demonstra a paixão pelo fazer docente,

acreditando que apesar de todas as mudanças pelas quais passou em sua carreira

ainda é capaz de contribuir para que os educandos possam ir além dos conteúdos

técnicos da Educação Física.

Eu me identifico bastante com os Parâmetros Curriculares

Nacionais, seus objetivos são claros e práticos, porém, infelizmente, nem

todos os professores de Educação Física os conhecem. Através dos PCN’s,

conseguimos trabalhar questões éticas e morais relacionadas a temas como

saúde física e mental. Na verdade a fase que eu estou é muita de transição

de quando eu comecei na carreira e agora com 35 anos, a gente reflete do

que a gente quer, do que a gente busca, eu acho que assim, eu continuo

posso dizer que eu sou um sonhador acreditando muito no

desenvolvimento, jogando uma sementinha. (CARVALHO, 2014)

Desta maneira, fica evidente que na quadra, através dos esportes, surge a

possibilidade de trabalhar ética, pois é um lugar onde as relações são fortes, onde a

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competitividade surge, onde a exclusão dos fracos aparece, onde as diferenças de

habilidades surgem. Sobre estas questões, os PCN’s (1997) determinam que o

conceito de cultura corporal pode ampliar a ajuda da Educação Física escolar para o

pleno exercício da cidadania. Sendo assim, durante as aulas, nas vivências dos

diversos movimentos que a cultura corporal proporciona se consegue promover

discussões sobre valores como cooperação entre os alunos naquela ação, respeito

às diferentes manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais e

às pessoas que dele fazem parte, culminando na superação e autonomia nos

desafios que aquele movimento propõe.

A respeito do papel do professor, os PCN’s (1997) especificam que não basta

trabalhar com as questões técnicas, mas também de discutir regras e estratégias,

analisá-los criticamente, avaliá-los eticamente e até recriá-los. Assim, em atividades

em que os educando interagem com os adversários, eles podem desenvolver o

respeito mútuo, a prática leal e sem a violência. Além disso, a presença da figura de

um árbitro possibilita a vivência da justiça/injustiça e a submissão às autoridades. Os

PCN’s ainda explanam que até mesmo a aula mista, em que meninos e meninas

participam juntos, cria ambiente para discussões sobre as diferenças entre os sexos

e o respeito que deve haver sobre essas diferenças.

Uma Educação Física Escolar desenvolvida dessa forma pode desenvolver a

autonomia dos alunos que poderão monitorar as próprias atividades, regulando

esforços, traçando objetivos, respeitando as potencialidades.

Vivenciar as atividades como participantes e como espectador

favorece uma discussão sobre a violência nos estádios e nas competições

profissionais hoje, podendo a turma construir uma atitude de repúdio à

violência (BRASIL, 1997, p. 35).

Neste viés, Jung (1983) salienta que conhecimentos teóricos e técnicos não

seriam suficientes para formar um educador. O crescimento se torna possível para

que tenha coragem de olhar e ver; ouvir escutar; pensar a respeito do que ouve,

escuta e faz. Esse refletir envolve além da razão a emoção e tudo isso acontece

dentro da dimensão estética da sensibilidade, como apregoa Schiller (2002).

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“Carregamos a função que exercemos que somos, e a imagem de professor

(a) que internalizamos. Carregamos a lenta imagem de nosso ofício de educadores

aprendido em múltiplos espaços e tempos, em múltiplas vivências.” (ARROYO,

2000, p. 124).

Um professor que busca dentro de si, de suas vivências, suas reflexões,

caminhos para uma prática pedagógica de autoria, de desenvolvimento da

autonomia e emancipação dos sujeitos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma reflexão sobre a importância da Educação Estética na docência de

Educação Física, no Ensino Fundamental I foi apresentada por este estudo, que é

oriundo de minha experiência como docente na disciplina de Educação Física, na

Educação Básica e Ensino Superior. Assim, buscou-se uma reflexão crítica sobre as

práticas pedagógicas que abordam a formação dos valores estéticos e éticos, nos

espaços escolares, considerando-se os PCN’s, com destaque para o componente

estético na compreensão do sentido de ser professor.

Nesta perspectiva, abordou-se o percurso de vida da autora e a narrativa de

suas experiências, além de expor a concepção de Educação Estética na visão dos

professores de EF, a percepção dos professores sobre a importância dessa

dimensão no desenvolvimento de autonomia dos alunos e a visão dos professores

sobre os objetivos dos PCN’s a respeito dos objetivos dos valores estéticos na EF

no espaço escolar.

O professor diante das lutas diárias, de tantas exigências, mudanças na

sociedade, precisa se renovar, e este renovar é belo, como defendem Schiller,

Freire, Adorno e Jung. Contudo, para alguns, essa nova ordem de pensar não é bela

e, sim, feia. Esta seria a razão pela qual muitos não aceitam as mudanças e insistem

em continuar com a mesma prática.

Deste modo, pudemos compreender a atribuição de sentido da Educação

Estética, a partir das narrativas docentes da disciplina EF, no espaço escolar do

Ensino Fundamental I e concluir que o desenvolvimento da autonomia e da

emancipação dos sujeitos ocorre na dimensão estética. Os caminhos percorridos

durante esta pesquisa mostraram que alguns desses professores, mesmo

trabalhando de forma estética em sua prática, ainda desconhecem o referencial

teórico que embasaria suas ações, e outros ainda têm em mente a educação

bancária.

Na visão dos professores, o processo de constituição do sujeito ocorre

a partir de relações sociais. Na Educação Física, essa relação é intensa. Dessa

maneira, a relação estética acontece quando o aluno mobiliza-se pela contradição

entre razão e emoção e busca superá-la. Então, esta forma de relação propicia ao

sujeito o enfrentamento de confrontos, a produção de reflexões que conduzem a

transformações de emoções.

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Vivenciar relações estéticas significa desenvolver maior afetividade, reflexão e

imaginação. O sujeito é conduzido a assumir um compromisso ético com o outro e

com a sociedade.

Não adianta um profissional com domínio sobre os conhecimentos técnicos e

grandes habilidades para realização de suas tarefas, pois para que os nossos

alunos se tornem autônomos e sujeitos da sua própria história, é necessário além

das técnicas apreendidas; é preciso unir outros saberes como a ética e a estética.

Seria necessário que entendessem que ensinar requer a convicção de que a

transformação é possível e acreditar que construir uma nova sociedade pode ser

também reconstruir novas relações e consciências.

É essencial que as preocupações do docente de Educação Física vão além

da mera transmissão do conteúdo, com foco apenas nos resultado das práticas em

busca da excelente habilidade motora. Para que tal quadro se transforme é

imprescindível que se considere o desenvolvimento de atitudes éticas no aprender a

conviver na sociedade, tudo perpassado pelos componentes da Educação Estética.

O próprio agente, o professor, também necessita passar por esse processo

diário de renovação para assim ser o agente mediador de seus alunos. Esta função

não pode ser cumprida pelo professor que transmite informações, através de uma

educação bancária, mas por aquele que educa para a vida. O professor deve estar

comprometido com a liberdade de pensamento e que almeja participar da formação

de um cidadão esclarecido que responderá por seus atos.

A partir desta pesquisa e de todo o referencial teórico abordado aqui, é

possível afirmar que este estudo possibilitou a compreensão que o desenvolvimento

da autonomia e emancipação dos sujeitos ocorre na dimensão estética, que a

formação dos professores não se inicia na graduação, mas estão enraizadas em

instâncias mais profundas de sua psique e vão ganhando formas pessoais,

conforme ele vivencia situações de aprendizagem, que ocorre desde o início de sua

vida.

Neste sentido, conseguimos perceber como os professores deixam marcas

em seus alunos ou de autoridade ou autoritarismo e que a quadra é uma

possibilidade de desenvolvimento de autonomia e emancipação dos sujeitos. Para

Schiller (2002) a Educação Estética é a forma e espírito de toda educação, inclusive

do docente, também como sujeito em constante transformação. Assim, é

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imprescindível que tenhamos consciência de nossa ignorância e abandonemos a

ilusão de já saber. Somente deste modo, estaremos abertos ao conhecimento.

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ANEXOS

ENTREVISTA NARRATIVA: Pinheiro

Fiz Educação Física porque gostava de esportes. Comecei na área de

educação agora quando entrei no SAA. Faz uns três meses. Eu já tinha dado aula

em escolinha de futebol de crianças dos 10 aos 15 anos, mas na área da Educação

foi agora uns três meses. Faz três meses que estou formado. No ensino superior a

relação com os meus colegas sempre foi muito boa, sempre tem os grupinhos, eu

tinha meu grupinho, normal. Com os outros grupinhos eu também me dava muito

bem como sempre foi desde o colégio. A minha relação com os professores foi meio

professor e aluno, tipo distante, ele me ensina e eu aprendo, não tem nada de

conversa depois da aula ou uma amizade mais ou menos, foi meio distante. As

aulas sempre eram sempre muito boas, minha faculdade apesar de ser limitada em

termos de espaço físico de materiais, os professores sempre foram muito bons. Em

relação eu e eles, eu que sempre mantinha a distância, não que não fossem

receptivos, eu preferia essa distância, mas em termos de conteúdo eles sempre

foram muito bons às aulas sempre foram muito boas. Algum professor tinha

conteúdo, mas não sabiam passar, sempre tem, mas a maioria excelentes

professores, eu aprendi bastante, claro quando você dá a teoria é sempre diferente

da prática.

Agora que eu estou dando aula eu falo: nossa se eu tivesse prestado um

pouquinho mais de atenção no que o professor falou aqui ou aqui poderia sair

melhor aqui... poderia sair melhor aqui, não ter tanta dúvida como tenho agora eu

sou muito novo, acabei de me formar. Então eu tenho dúvidas no que eu vou passar

o que eles vão achar se eu passar isso? Eu sempre chego aqui com um pouco de

dúvida, mas a experiência ajuda. Não mudando o foco como aluno de ensino

superior eu fui bom, mas poderia ser mais incisivo, eu me sairia melhor.

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Os professores de ensino superior nunca me marcaram porque eu não dei

abertura. Não querendo puxar sardinha o Marcus foi uma pessoa que sempre me

ensinou. Um dia eu falei para ele: você que me ensinou o que era esquerda e direita,

eu sempre confundia (risos) e ele fazia muito aquele negócio de exército, ele apitava

ficávamos parado e ele dizia: direita volver... esquerda volver então ele me ensinou

muito, eu sempre gostei muito dele como professor .

Meu professor do ensino médio, no Salete, ele foi um bom professor ele foi

bem amigo. Esses dois foi o que eu fiquei mais próximo.

Na minha formação o que mais me marcou foi o exemplo do meu pai. De

professor teve eles dois. Eu gostava também muito de história e dos professores de

História. O Mário me marcou muito porque foi o único professor da minha vida que

conseguia manter a classe em silêncio, nunca vi um professor que conseguia manter

100% da aula todo mundo concentrado. Eu não sei se era ele, ou você sai da quarta

série para a quinta já chega... com.. porque ele tem uma fama tal e ele sempre foi

bem enérgico, nunca foi autoritário. mas ele sempre manteve a rédea curta, dava

bronca e oh! nunca gostei muito de matemática, mas ele foi um professor que me

marcou muito. os 2 de educação física. Meu professor de ensino superior o Bacelar,

ele não era enérgico era diferente, mas também sempre manteve a aula, tinha umas

palavras legais também.

Graças a Deus meu pai sempre me deu tudo que eu quis, sempre tive uma

vida muito boa sem muitas preocupações quando eu era criança. E teve uma

passagem que eu lembro muito bem. Eu era pequeno tinha uns 7 ou 8 anos eu

estava tentando sair do prédio, sei lá... eu moro num prédio, num condomínio e eu

estava tentando sair do prédio o porteiro não deixou. porque eu era criança, e eu

falei: Cara você não sabe com quem está falando eu sou morador e não sei o que

lá... e humilhei o porteiro...humilhei..

Aí o porteiro falou com meu pai: Ele quis sair e eu não deixei. Aí meu pai

falou: não se deve humilhar ninguém você tem que ser um homem digno porque ele

está trabalhando e você tem um pouco mais de dinheiro ou uma coisa a mais e você

não pode humilhar ninguém, todas as pessoas são iguais, se trata as pessoas

sempre iguais com educação. Essa foi uma passagem que me marcou e eu aprendi

meu pai sempre me ensinou muito e me ensina ainda, minha mãe também, mas

meu pai sempre foi mais rígido.

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Sempre ser educado pedir, por favor, para o aluno, obrigado. Meu pai sempre

me ensinou isso. O aluno me dá o colete na mão eu falo: obrigado. Vai pegar

alguma coisa: por favor nunca querer mandar...vai lá que estou mandando. Não por

favor, você pode pegar isso? Pega para mim... obrigado por pegar. Sempre ser

educado, dar respeito para receber o respeito.

O professor tem que ter respeito aos alunos, ser amigo, mas não uma

amizade tão grande que faça que o aluno acha que tem uma influência em você.

TIPO: Futebol... eu mando . Tem que ter uma distância, saber passar o conteúdo.

Não ser tudo o que eles querem, mas o que eles precisam. E isso... ter uma

distância boa entre o aluno e o professor, que não seja tão amigo e não tenha uma

distância tão grande. Acho que muito amigo perde um pouco do respeito,

principalmente os mais velhos... eu acho... porque nunca dei aula para essa turma.

Também o exemplo ajuda bastante, não adianta você falar e não fazer. Você fala:

seja educado, mas na hora você fala: - dá isso aqui, - vai pegar. O exemplo é bem

melhor do que falar, o principal é o exemplo, mas se conseguir agregar os dois...

Minha ideia sempre foi trabalhar com futebol ou escola, como estou

começando trabalhar em escola fazer uma pós-graduação em escolar e depois de

um tempo fazer o que gosto que é futebol, só por fazer, mas não para trabalhar na

área.

É importante para o professor se especializar porque se você se engajou em

uma área tudo o que você conseguir agregar para você e para seus alunos é bom,

pois quando você faz um curso em educação física ou qualquer coisa que mexe com

pessoas é preciso agregar para não estragar a pessoa, pois ensina um conteúdo

dando um conhecimento para a pessoa, se você vai dar de qualquer jeito, lá na

frente vai fazer falta. Tudo o que você conseguir agregar para você para conseguir

passar para outra pessoa é bom é melhor.

A educação física já é muito interpessoal, pessoas se relacionando com

pessoas nada da educação física você fica distante da pessoa é sempre junto então

depende do professor, ou do aluno como eu falei... eu mantive distância com o eu

mas se você quer ter uma relação boa e o aluno também quer. Depende da pessoa.

Não da área da Educação Física.

Os alunos são dispersos em alguns momentos, mas sempre participativos

quando a aula esta sendo realizada. Tento identificar o líder e dando alguma

responsabilidade para que esse tipo de comportamento diminua.

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A minha percepção sobre a importância da dimensão estética na Prática no

desenvolvimento dos alunos, para mim é enorme hoje em dia já que a maioria das

crianças não pratica nenhuma atividade em casa. A compreensão diante dos

objetivos que os PCNs trazem para a nossa área, no que concerne aos valores

estéticos na Educação Física no espaço escolar nos da um rumo a seguir, porém,

na minha opinião o professor deve perceber o que sua turma precisa para se

desenvolver melhor. .

ENTREVISTA NARRATIVA: Palmeira

A minha vontade de ser professora a de Educação física veio bem cedo, eu

comecei fazer judô com 10 anos, fui desenvolvendo dentro do judô fui ganhando

campeonatos a comecei a viajar fui conquistando. Querendo ou não o judô é uma

área, uma das vertentes da Educação Física que é luta e então fiquei muito mais

direcionada a ele e a área da EF como um todo.

Eu tinha um Sensei, que é um professor, foi meu primeiro professor de judô

que era formado em Educação Física, ele influenciou bastante no fato de que nós

tínhamos uma relação muito próxima ele me considerava uma filha dele. Ele faleceu

o ano passado, era mais filha dele do que a própria filha dele pelo fato de estar no

judô, ele ter começado me dar aula desde a faixa branca eu me formei faixa preta

com ele. Ele gostava muito da Educação Física não só da parte de luta, mas ele era

bem envolvido na Universidade de Pernambuco. Ele tinha um filho e ele queria

muito que o filho dele fizesse Educação Física e tal, mas como nós tínhamos uma

relação tão próxima que ele falou:

Nossa você já está pensando no vestibular? Porque eu estava adentrando no

ensino médio.

Eu tinha uma dúvida entre direito e EF, Direito na parte que eu gosto muito

dessa parte burocrático, de ler, estudar entender algumas coisas da qual eu

discordo e ter embasamento para este tipo de coisa.

Aí... que eu pensei?...fiquei não tão em dúvida... assim...eu tendia mais para

Educação Física, praticamente eu tinha feito 3 anos de futsal, fiz 4 anos de

handebol..então..acabei por optar no tempo do vestibular..

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Eu pensei: vou fazer EF e ponto. Eu prestei só em uma Universidade o

vestibular pra Direito porque nela era só Humanas, passei também, mas falei:...vou

ficar na EF, aí acabei ficando.

Dentro do curso, eu gostei, atleta que entra em EF já é outra coisa. Primeiro

que eu entrei já como bolsista eu fiz um teste eu me formei faixa preta. E tive a

oportunidade de mudar de academia porque eu treinava em um ginásio de Esportes

que era fomentado pela prefeitura, então tinha uma equipe de uma associação

japonesa tradicional que você só entrava nele era uma associação tipo assim...

muito cara ...muito cara eles só formava atletas de ponta, ou você entrava lá

convidado ou realmente entrava na paz , igual ao projeto Olímpico que tem aqui.

Então fui convidada a entrar porque tinha uma equipe feminina deles do

adulto que não tinha uma menina de ponta na minha categoria de peso e eles

perguntaram se eu queria entrar. Eu entrei lá como bolsista também e o técnico

dessa equipe era o técnico da Universidade na qual eu tinha passado então acabou

atrelando uma coisa à outra.

Eu passei em outras Universidades, mas eu acabei optando por eles. Passei

até na Federal, mas ela tinha um regime muito extenso de horário não era uma

grade certinha como uma faculdade particular então acabei optando para ir para lá

porque eu tinha preparação física, eu tinha treinamentos, então eu não podia viver o

dia inteiro na Universidade. então acabei ficando e acabei mudando de associação e

fui para essa japonesa e fui ficando.

Dentro da Universidade eu gostava de tudo desde a disciplina de jogos e

brincadeiras até anatomia e tal, mas como eu sempre gostei muito não só treinar

judô, mas estudar judô, estudar o movimento enfim... e. eu fazia preparação física

inclusive aqui em São Paulo na USP tem uma equipe a principal do país na parte de

treinamento de atleta de combate, eu vinha fazia os testes aqui wingate entre outros

de força eles faziam e a periodização e eu voltava para treinar em Recife então

fiquei assim uns 4 anos da faculdade basicamente vinha duas três vezes para São

Paulo e no ultimo ano eu acabei vindo bem mais, umas 8 vezes porque os

campeonatos acabaram ficando mais difíceis. Mas como eu estudava judô, lá no

Nordeste não tem essa área voltada, agora sim por causa da influência aqui de São

Paulo tem uma ou outra pessoa já estudando tem um colega aqui de São Paulo que

foi para lá já para dar continuidade a esses estudos na área do movimento, voltado

ao judô.

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Eu sempre me identifiquei com biomecânica, fisiologia. Eu tinha um professor

lá de fisiologia, Sérgio, foi muito crucial eu acabei fazendo pós em fisiologia por

conta dele. Ele era um professor muito bom assim... ele envolvia e alem de ser

muito cômico ele era evangélico, mas um evangélico que dizia...assim que jogou

pedra na igreja porque ele era muito engraçado e ele sabia passar o conteúdo de

forma que a gente acabava pegando muito bem. E a fisiologia não é uma área fácil,

então como acabei ficando muito próxima, muito dentro dessa área de fisiologia,

acabei abraçando Antropometria, Biomecânica e acabei até sendo monitor,

professor dessas áreas, então foi bem assim por toda a faculdade, mas eu gostava

de todas as disciplinas, me envolvia bem em todos os esportes coletivos, eu já tinha

feito... né então falou em esporte falou em Educação Física eu estava dentro

Eu acho que fui uma boa aluna eu me envolvia eu nunca tirei nenhuma nota

vermelha desde pequena assim... meu pai era muito militar e nordestino...então

...esquece

Eu fui uma boa aluna, procurava. quando tinha tempo também porque eu

viajava bastante várias e várias vezes e eu esqueci livro dentro do avião porque eu

ia competir tinha que estudar, tinha prova, bolsista é cobrado mais que tudo. Só

normal que quando você falta na prova tem uma remarcação, mas às vezes eu tinha

sul americano, pan-americano ficava uma semana fora quando voltava tinha que

fazer tinha que fazer 5 provas no mesmo o dia, era confuso.

Mas, assim quando estava na Universidade procurava me doar para ajudar os

colegas que estavam com dificuldade de repente uma pesquisa de campo, tivemos

várias de testes, eu me envolvia bastante.

O Momento charneira. Assim, o fator crucial foi a minha saída do Nordeste

para cá porque no último ano de graduação eu já tive que vir mais vezes porque eu

já estava disputando a seletiva Olímpica, das Olimpíadas de Londres, então eu já

tinha um ritmo e tinha que ter um treinamento muito mais direcionado e uma

periodização muito mais curta, então tinha que vir para cá várias vezes. Associando

a isso eu vinha muito para USP, associando ao meu ultimo ano de formação.

Ah! Já vou me engajar em uma pós eu estava muito certa que eu ia fazer

fisiologia e na época no Nordeste não tinha fisiologia devia ter eu acho que em 2011

por aí e era 2008.

E eu falei: estou indo muito para São Paulo já conheço bastante gente lá, e

quero fazer fisiologia aqui não tem eu enxerguei que. o fator crucial foi

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principalmente a área, a questão do regime de trabalho e remuneração por

exemplo.

Enquanto um comparativo grosseiro, mas conversando com amigos meus

enquanto eu trabalho aqui em média 6 h por dia se for calcular como um todo, eu

ganho um X e meus amigos tem que trabalhar 13, 14h, entendeu... então ...vou me

formar para ser mais um profissional, muito embora eu acabei tendo bastante

conhecimento pessoas bacanas que poderiam potencializar a minha carreira

acadêmica, mas eu falei não dá...

Não dá para ser, o destaque lá era muito pouco, você tinha que suar muito

batalhar muito para tentar... sabe lá para enxergar um lugar ao sol

Eu tive professores assim sensacionais, maravilhosos que eram

reconhecidos em inúmeras universidades, mas você via que não passava daquilo lá,

não passava da região e os que saíam daqui e iam para lá eram os pop star.

Acabei atrelando a minha vinda tanto que eu vinha, mais querer fazer a pós

em fisiologia e também depois eu fiz a pós em atleta de combate também só tinha

aqui então...quando eu me formar eu vou de vez, Então quando eu me formei,

peguei colação antecipada porque minha colação era em março eu vim em janeiro

então colei em dezembro vim para cá para fazer pós e fazer toda a preparação.,Não

foi um choque de cultura porque eu vinha bastante para cá já tinha viajado para

outros países e tal, mas assim é toda uma rotina diferente que eu tinha lá, no

começo você vai tentando adaptar, mas é bem confuso porque até as pessoas são

diferentes lá o pessoal é muito mais acolhedor aqui de acordo com a correria do dia

a dia a cidade por si só as pessoas são mais fechadas mais reservadas

enfim...Quando eu cheguei aqui...beleza e agora .mas qual o próximo passo que vou

dar,isso foi bem complicado...morei em Flat, ia para USP, daí morei com amigos,

isso me alterou muito .Hoje acho que sou mais Paulistana do que Pernambucana

No início do ano passado eu voltei na minha própria universidade a convite do

meu professor de fisiologia que eu te falei para dar uma palestra sobre treinamento,

mas na verdade era para fazer parte de uma banca assim uns comentários curtos,

mas na verdade era para falar sobre vocação profissional tipo: A importância do

professor de EF no meu caso como atleta principalmente.

Alguns colegas que estavam em formação ainda quando eu estava me

formando eles estavam adentrando ainda estavam no primeiro período e eu já

estava no meu ultimo ano de formação, então meu. tipo...é outra pessoa..até o

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sotaque que eu não tenho mais tanto, o jeito de portar, o jeito de falar e de

expressar muito mais paulista então.

A palestra transcendeu ao que era mesmo ao tempo que tinha e o pessoal

ficou... eles se interessam bastante, de expandir a carreira não só ficar atrelado

lá,mas assim ..mas .tem muito a questão assim ...nossa....tenho receio, a zona de

conforto ...sair da zona de conforto para tentar embarcar então isso mudou bastante

porque eu senti assim ...

Enquanto eu estava lá, beleza, eu era atleta até por si só ele tem um certo

destaque, mas a partir do momento que eu vim para cá e tive um embasamento aqui

e voltei lá então eu passei a ser tipo uma referência.

Isso eu notei e isso mudou bastante.

As minhas aulas o que pude observar e absorver dentro do conhecimento da

Educação física enquanto acadêmico, eu via que a nós foi passado muitos modelos

coisas que são taxativas e você dentro daquele modelo ou você segue aquele

modelo para não errar ou você acaba tentando incrementar de acordo com você

mesmo ou até como você é pessoalmente.

Eu acabei trazendo para minhas aulas sem ser a parte de judô, a parte das

aulas de Educação Física mesmo eu acabei trazendo fundamentos das quais eu

tinha determinado conceitos ou vertentes da Educação Física que tinham que ser

trabalhadas, as que eu gosto a parte esportiva até a parte de jogos também eu gosto

bastante porque de onde eu vim à parte de jogos o folclore é muito rico, eu acabava

seguindo uma maneira assim mais desenrolada de dar aula, ela tinha um padrão

lógico tinha um começo um meio na verdade não tinha fim eu me baseava muito em

como a turma estava se comportando estava recebendo aquele conceito para a

gente poder estar explorando, melhorando tá incrementando até determinadas

coisas... de repente, um jogo ..ou uma brincadeira ....algum aluno criava uma regra

diferente e a gente acabava adaptando enfim.... até porque por incrível que pareça

em minhas mãos já passaram várias crianças com determinada deficiência então a

gente sempre tinha que adaptar para não excluir e sempre tem aqueles que...

Ah! eu não quero, ah, eu não gosto, eu não vou fazer e não tem como você

não envolver.

E nas disciplinas que eu já não sou tão envolvida, por exemplo, da ginástica

eu procurava passar o conceito a gente sempre tem a parte da vivência eu buscava

atrelar essa parte que eu não sou tão específica, mas associada a disciplinas que eu

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já era mais desenrolada assim procurava atrelar o conceito por ex. ginástica

rítmica... então eu gosto muito de musica, então eu acabava trazendo, .falava do

conceito ..explicava o conceito como um todo e acabava a prática sendo alguma

coisa muito próxima naquilo que eu realmente dominava para tentar passar para o

aluno com segurança para que isso não fosse determinante para que eu pudesse

influenciar ele a estar fazendo ou não estar fazendo a Educação Física, para que

aquilo pudesse estar fazendo parte da vida dele de forma suave, mas que pudesse

ficar o conceito pudesse ficar sabe se lá..

Eu tive alunos que quando estavam no estágio que depois fizeram Educação

Física eu tenho certeza que eu posso ter influenciado na parte de passar o conceito

com alegria com brincadeira.

O professor é importante não só o que absorveu como conhecimento, mas

sim ele como pessoa, particularmente, comigo foi assim, você tem um professor que

é muito fechado, muito na dele, que ele só chega e derrama a gama de informação,

marca prova e vai embora esse dificilmente você tem um apego pela disciplina pode

ser a melhor do mundo a mais gostosa de aprender a que você mais se identifica,

mas você não vai ter tanto carinho não vai visar tanto à disciplina, mas vai ser mais

ou menos:

AH! Nossa o cara é todo fecha dão, tal então vou estudar muito vou decorar

muito para passar na prova dele porque se eu tirar DP eu sei que vai ser

complicado. Porque quando o professor é mais alegre mais espontâneo a dinâmica

ocorre de uma forma mais prazerosa e os alunos acabam envolvendo mais, se

entrosando mais, discutindo mais opinando e às vezes a aula que era um

determinado contexto acaba criando uma proporção muito maior.

Primeiro é bem complicado essa questão de mudar porque a gente entra

numa escola independente do tempo de experiência e de formação que tem, mas a

gente entra na escola uma perspectiva nova querendo mostrar a EF como um todo

porque ela não é só esporte, não é só jogo só luta , dança e nem só ginástica. A

gente quer mostrar as 5 vertentes de uma forma que todo mundo aprenda e goste e

se identifique por alguma, querendo ou não a EF é bem o ampla é bem diversa, mas

o que acontece muitas vezes na escola você chega com uma gama de

conhecimento para ser explorado aí no momento que você vai fazer seu

planejamento vai pegar o planejamento do colégio, você esbarra naquele modelo

que a escola acha que é o correto que é o certo é que o que vai dar tempo é o que

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ela está buscando, ai você chega com várias coisas a serem trabalhadas, mas aí o

colégio tem até tem o sistema de ensino que veta aquilo que você buscou. que você

queria...

Um exímio jogador de handebol tem tanto conhecimento, viajou tem

experiências tem história para contar tem conhecimento que pode trazer gente de

fora, atletas de outras equipes de outros lugares para estar para estar passando seu

relato de experiência para estar inspirando aquelas crianças, mas aí você chega ao

colégio pega o planejamento tem tudo menos handebol, ai você fica querendo

discutir, conversar, incluir, acrescentar ampliar a visão da escola, mas muitas

escolas são taxativas tem Educação Física porque a lei exige, tem que ter, mas

coloca muitas vezes de forma errada, uma vez na semana, por exemplo, com aquela

carga mínima ou põe o professor de EF para estar fazendo ensaios, eu não sou

contra, é até gostoso é dança também, mas desloca o professor de Educação Física

para fazer tudo menos para o papel que ele realmente deveria estar exercendo.

Meu conselho seria realmente... às escolas por melhores e variados sistemas

de ensino que elas tenham conversar mais chegar para o seu professor de

Educação Física e ver o que realmente é melhor dentro da Educação Física para o

colégio.

Se todos fizessem isso além da Educação Física poder ser enxergados de

maneira melhor as crianças poderiam absorver e enxergar também isso e ter a

Educação Física não como àquela aula, que agora eu vou matar agora eu vou

conversar, agora vou brincar ou agora é a hora que eu vou descansar na Educação

Física, eu vou sentar, não vou fazer porque minha mãe entregou um atestado, os

pais acabam enxergando aquilo que a escola quer que eles enxerguem então se a

escola não abraça totalmente a Educação Física, os pais também passam condenar

e arrumam variáveis subterfúgios para o filho também não fazer.

Diferente do plano acadêmico que você tem que vivenciar aquilo muitas vezes

é até obrigado porque senão for você vai perder nota, mas acabam tendo que fazer;

igual os meninos fazendo ginástica rítmica... A vivência e acabam fazendo e

gostando, experimentando coisa que na escola nunca foi passado, ou tem aquela

questão dos pais...

Ah! Meu filho vai fazer ginástica olímpica, nunca, vai trazer atestado, ou tipo

falta o ano inteiro e depois chega ao final do ano quer nota para passar, aí no final

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do ano enxerga que a Educação Física é uma disciplina como matemática,

português e se não adquirir notas dependendo da escola você fica bem complicado.

Então assim, meu conselho é que as escolas chegassem junto no professor

de Educação Física juntamente com o seu planejamento e visse como deveria ser

montados realmente os planos para que todas as crianças, dos os alunos pudessem

vivenciar os conceitos da Educação Física eles fossem sendo aprimorados mais

específicos com o passar das classes. Então, se ela está no Ensino Infantil ela vai

aprender, por exemplo, a segurar a bolinha, ter domínio da bolinha, saber o que é

pegar com as mãos, pegar com os pés, e à medida que vai passando as classes vão

sendo incluídos os conceitos, os fundamentos e até mais para frente regras, o jogo

com as mãos, o domínio com os pés para quando ele tenha um desenvolvimento

motor adequado ele possa ser incluído ele vai ser um atleta, vai ter fundamento.

E que um conceito não deixe de ser passado não é porque ele é do Ensino

Infantil que ele não possa aprender, por exemplo: o tênis.

Não precisa ser o tênis pelo tênis com todas as regras, toda a formação.

Mas, você pega lá, por exemplo: constrói com ele uma raquete que seja de

isopor com uma bolinha de papel , não vai deixar de ser o tênis e ele vai aprendendo

a manusear os dois e à medida que vai passando ele vai aprimorando e vai

melhorando seu desenvolvimento e aquilo vai sendo incluindo, vai sendo encaixado

e melhorado, que ele vai mudando as classes até chegar ao tênis propriamente dito.

Eu tive uma boa vivência enquanto professora de Educação Física, até

quando cheguei a São Paulo eu comecei a trabalhar com aulas de Educação Física

em colégio muito embora sendo judoca depois fui enxugando mais e me tornando

mais preparadora física e professora de judô, mas querendo ou não é dentro do

ambiente escolar eu me considero... para quem me conhece é transformador

Eu busco pegar a criança e vou passando os conceitos quero que ela seja

somente...

Ah! Nossa, sou judoca que ganha o mundial... as Olimpíadas.

Eu me preocupo com aqueles que ou fazem obrigado ou não querem lutar,

muito embora no treino todos façam as lutas, mas eu me preocupo em perceber se

ele realmente está aprendendo judô.

O judô ele vai muito além do combate ele é muito filosofia e filosofia japonesa,

a parte das regras, os cumprimentos, a historia do judô por si só.

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Todos eles sabem a historia de como o judô foi criado, por quem, quando, em

que ano, de que forma, como ele saiu do Japão, o que restou do Japão, que tem no

Japão, como ele foi difundido no mundo, como ele chegou ao Brasil como ele se

desenvolveu no Brasil e depois toda a parte de conceitos japonês, a questão do

cumprimento, o que é um chinelo como se chama o chinelo em japonês como eu

falo bom dia, boa tarde, boa noite, algumas coisas curtas e por si só a história dele é

toda na língua japonesa pouca coisa é brasileira. E o conhecimento do judô por si, a

parte técnica a gente faz algumas adaptações de nomes de golpes, por exemplo,

que é clássico é um golpe que acaba com o atleta atrás e você puxando ele aqui,

então, a gente chama de braço de banana para criança de 2 ou 3 anos porque

parece que você está dando uma banana, então, ele pega aquilo, mas a gente deixa

sempre atrelado ao nome real. Eu sempre o falo nome em português e o nome real,

e quando ela vai ficando um pouco maior vai se desenvolvendo mais, então,

esqueço eu vou apagando aquele nome em português e fica só o japonês.

Eu me preocupo se ele está aprendendo porque hoje ele treina comigo, mas

quando não tiver mais idade para treinar por conta do regime da escola e ele gostar

nossa... eu quero judô, como tem, e vai treinar em outro lugar, quero que ele tenha

embasamento suficiente para chegar a ser faixa preta.

Eu procuro transformar. Fiz Pós em Fisiologia e preparação física para atleta

de esportes e combate. Trabalho na escola 6 anos tenho 27 anos.

Sou educadora, o atleta é algo além. Muito embora eu os prepare para fazer o

combate desde pequena, eu gosto bastante de campeonato, competição, eu acho

que se souber trabalhar bem com essa criança é um ótimo estimulo um estimulo

dela estar participando não importa se está ganhando ou perdendo.

No judô tem uma parte muito legal que até 11 anos muitos campeonatos não

são campeonatos são festivais, têm as regras iguais das olimpíadas a formação da

área igual às olimpíadas a aplicação igual das olimpíadas, mas é um estilo festival

todo mundo ganha a mesma medalha.

Não tem quem ganhou ou perdeu, só o professor que levou que sabe se o

atleta esta se desenvolvendo mesmo ou não claro que todo mundo que é da área do

esporte quer que seu aluno seja um atleta o melhor do mundo porque querendo ou

não ele leva seu nome junto com ele ,mas eu me preocupo muito mais que eles

estejam aprendendo porque hoje eles podem ser meus alunos e amanhã não, eles

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podem ser atletas de outras pessoas, e eu quero que eles levem essa bagagem

para outras pessoas.

Percebo os alunos através de sua participação oral envolvendo

questionamentos acerca do tema que será desenvolvido na aula e também, através

de sua participação ou envolvimento direto ou indireto na fluência da aula dada.

Com referências do tema que está sendo ministrado, como exemplo: materiais,

nomes do esporte, vivência anterior de cada aluno e o seu conhecimento prévio

sobre a temática. No decorrer da aula vou introduzindo questões dentro de um

contexto informal e muito diálogo dentro do grupo.

Sobre a importância da dimensão estética na prática no desenvolvimento dos

alunos, a teoria não se fideliza 100% quando você não experimenta o que está

sendo passado. Pode-se usar desde vídeos, relatos de experiência, materiais... há

inúmeros artefatos para a questão no entanto, volto a afirmar que sem uma prática o

conteúdo muitas vezes não é sequer levado em consideração quando este está

distante daqueles conhecimentos e vivências que fazem parte do cotidiano do aluno.

A prática nas aulas de educação física segundo os PCN´S está concisa de

que é através de uma cultura corporal de movimento onde a interação social está

intimamente ligada às possibilidades de lazer, promoção da saúde pessoal e

coletiva, sem deixar de considerar as diferenças culturais de cada criança. Os

alunos são tidos como seres que são de ação e reflexão, ou seja, dentro da

educação física, nós docentes escolares devemos trabalhar na prática a cultura

corporal do movimento das crianças objetivando impreterivelmente que essa criança

seja um ser ativo dentro dessa cultura corporal, consciente e acima de tudo reflexivo

através das soluções dos problemas dispostos e sejam capazes de superar os

limites e os.

Eu fiquei feliz por falar da experiência. Pelo fato de poucas pessoas

perguntam realmente aquilo que você foi; aquilo que você quer ser e buscou e busca

dentro da sua área. Poucas pessoas têm interesse em ouvir, se mais pessoas

tivessem vontade de ouvir eu acredito que a área seria ainda melhor. Lógico que

nós estamos dentro da mesma na área dentro do mesmo campo que é a Educação

Física, mas se mais pessoas de outras áreas que são próximas buscassem ouvir

mais umas as outras acredito que não só a Educação Física, mas o ensino como si

só seria muito melhor.

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Eu trabalhei em um colégio que gente tinha uma reunião, só tinha eu de

Educação Física era um colégio só de Ensino Infantil todos os outros eram

pedagogos ou eram psicólogos então, nos tínhamos uma reunião na qual

debatíamos determinados conceitos, nós mesmos votávamos qual seria o conceito a

ser debatido no mês seguinte.

Então tinha aquele determinado conceito que era ou algo comum, ou algo que

estivesse acontecendo atualmente ou nós mesmas optaríamos. Eu expus um

conceito que era para a gente falar sobre, como nós da área da à Educação Física,

Psicologia e Pedagogia, podíamos melhorar as nossas aulas, nossa mente, até, a

partir da disciplina do outro dentre nós três. Se houvesse mais esse debate

mais.....procurar saber,procurar entender, não só relacionado da área da

Educação Física da Pedagogia do Direito....enfim....poderíamos melhorar nós como

pessoas e poder até abrir nossas mentes diante de outras áreas que temos

determinados preconceitos, por não conhecer ou não querer conhecer, a gente

poderia melhorar até nossas aulas, até nossas vivências, fazer um complemento

interdisciplinar e expor isso para nossas crianças

Mas eu fiquei bastante feliz.

ENTREVISTA NARRATIVA: Acásia

Desde pequena eu sempre gostei de esportes, tudo, queimada, futebol, tudo

o que aparecia com bola, relacionado a esportes eu fazia.

E a minha escola, as minhas professoras sempre incentivavam a fazer, até

atletismo a gente aprendia a fazer tudo na escola e era uma escola do Estado, eu

estudei o primário lá e elas tinham muita vontade de mostrar um pouco de tudo.

Quando fui para um colégio particular eu tive mais base ainda, tive convicção

que era aquilo que queria fazer eu queria ser igual as minhas professoras, elas eram

meus ídolos, eu queria ser igual. Então eu não me via assim:

Ah! se eu não passar nessa faculdade eu faço tal coisa porque eu também

gosto, não, ou era Educação Física ou nada, não tinha segunda opção, era a

primeira e ponto.

Na faculdade sempre fui muito bem porque eu me dedicava muito e se eu

tinha alguma dificuldade eu vou atrás eu não desisto então eu ia fazia então nisso os

professores até acabavam gostando mais de você porque tudo você está disposta a

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fazer, se tinha um exercício para mostrar tinha que pegar alguém ninguém queria se

apresentar eu já ia e fazia sabendo ou não fazer certo, eu ia, porque eu ia aprende r

eu ia fazer, e acabou estava todo mundo ali para aprender... então... eu sempre me

inteirei muito com os professores por causa disso, então me dei muito bem na

escola, na faculdade e com os professores, a minha relação com eles sempre foi

muito boa.

Eu tive vários, mas Professores que marcaram, mas eu tive dois que era de

ponta. Eles tiravam saro de mim porque na prova todo mundo queria sentar perto da

gente achando que a gente sabia muito escrever; porque a gente tem preguiça de

escrever. A gente era boa na prática, então as pessoas sentavam perto então eles

tiravam saro.

Vocês estão sentando perto dela; ela não sabe escrever, ela só sabe jogar.

ele brincava

Foi o Vlamir Marques o professor de basquete e o professor Santo que era de

handebol. O que me chamava atenção neles era o carinho que eles tinham com a

gente, se via que era uma coisa que eu me via neles, eles realmente gostavam

daquilo que estavam fazendo, eles faziam com amor, não era uma coisa assim:

Eu gosto, mas, hoje estou cansado. Não, a gente nunca sabia se eles

estavam tristes ou cansados porque sempre estavam sorrindo para você, tinham

uma palavra de incentivo, nunca brigando para te por para baixo, eles eram

professores que destoavam nisso.

Eu acho que fui uma boa aluna e com interesse 100% eu podia não ser boa

nos exercícios, mas eu era 100% presente e 100% em querer aprender. Então eu

me dedicava bastante.

Os Momentos divisores. Vou falar na minha profissional, eu entrei para

trabalhar eu estava saindo da faculdade e logo de começo eu peguei natação. Era

uma coisa que eu nunca tinha pensado em trabalhar porque eu não gostava, eu não

quero água.

Eu nadei desde pequena, água eu não queria, mas a opção que apareceu

então! vou pegar. Tinha terceira idade, tinha criança, eu fui me encaixando e gostei

de dar aula para esse tipo de pessoa, para qualquer um, pequeno grande. Então...

eu vou trabalhar nisso. Eu aprendi a trabalhar nisso.

Eu tive um professor que me orientava, eu via nele eu o que eu gostava e o

que eu não gostava, eu tentava fazer do meu jeito eu modificava. Eu acho que

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consegui fazer o estilo meu de dar aula, diferente do dele, mas sem fugir da base de

ensino de aperfeiçoar os movimentos da pessoa da criança mostrar para eles como

faz.

Quando eu tive duas opções juntas, a quadra e a piscina, o divisor foi que eu

não queria mais dar aula em quadra porque eu não conseguia passar para os alunos

aquilo que eu queria. Uma não gostava disso outra não gostava daquilo, elas não

tinham interesse, os interesses mudaram, eu me desgastava muito para dar aula na

quadra.

Na piscina eu me achei com os pequenos, eu dou desde o maternal e o

fundamental I, eu adoro e eu não me vejo fazendo outra coisa, hoje é só natação e a

faixa que eu gosto é de 3 anos a 9 anos, 10 anos é a faixa que eu mais adoro

trabalhar. Isso me mostrou que não era o que eu queria, eu achava que queria

quadra, dar treinamento, dar aula, mostrar para elas o que eu tive quando estudava,

só que os alunos mudaram. Hoje eles não querem mais isso, eles estão na quadra

pensando em outra coisa, preocupados com outra coisa e então você se desgasta

muito e antigamente, não. O professor falava que ia dar um exercício todo mundo

ficava prestando atenção porque queria fazer, queria aprender, hoje mudou.

Sobre a dimensão estética na prática de Educação Física. Eu procuro estar

sempre bem informada, procuro estar lendo artigos, quando sai alguma coisa

diferente sobre a natação procuro estar sempre olhando para poder dar um incentivo

para eles porque a natação em si não tem muita opção... quatro estilos e acabou. O

que eu procuro é usar materiais diferentes, mas buscando situações diferentes para

um mesmo fim, eu acho que eu tenho conseguido isso porque os alunos vêm com

vontade, vem feliz para a piscina. Eu acho que estou conseguindo este projeto com

eles porque é um projeto, você dar um incentivo para que eles continuem praticando

o esporte.

O meu espaço escolar é bem limitado porque as escolas em si não investem

em aparência, coisa que eu acho que seria importante. Acho que teria que ser assim

umas paredes mais enfeitadas pintadas com motivos de piscina mesmo, tubarão,

peixinhos, Polvo, umas coisas alegres que deixasse o ambiente mais feliz para eles

de olharem.

Brinquedos acho que tem que ter bastante brinquedos para que na hora do

lazer que é o final da aula eles tivessem bastante opções para brincar, se distrair,

mas que não fugisse da água.

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Isso não influencia no ensino, mas pode crescer os olhos de ter mais crianças

querendo participar desse evento do esporte, é um chamariz. Tudo a gente vai com

os olhos se você olhar um ambiente e gostar você vai querer experimentar e partir

daí ela vai gostar do esporte.

Relembrar o passado me deixa feliz porque a gente olha desde o início da

carreira quando a você ingressa na faculdade e depois quando você termina e

depois o processo que você faz os estágios que você participa e depois a sua meta

de vida. O que você consegue o que você conquista com isso. Eu acho que sou uma

pessoa plenamente feliz, eu conquistei um espaço aonde eu queria a base do

esporte e eu acho que consegui passar para os meus alunos isso, porque eu vejo

que ficam felizes fazendo aula.

E eu fico feliz de ver a melhora a cada dia, eles ultrapassam as dificuldades

que eles têm, bastante limitados, mas o processo deles de melhora me deixa feliz,

então, cada vez confirma mais eu estou na profissão certa.

A Estética na disciplina Educação Física. O belo na parte externa não tem

como florear, o que a gente tem é procurar artifícios para que a aula seja motivada

para eles, é difícil, porque adolescente é complicado, os menores é mais fácil para

lidar porque tudo o que você fala eles topam, eles tem interesse, querem se superar.

Isso é importante. Tem que ter um lugar arejado mesmo, tem que ter um material

certo, não uma rede quebrada, amarrada, acho que a pessoa tem chegar a ter bolas

direito para fazer esportes, material adequado e em condições excelentes de uso

isso eu acho importante.

Amo o que eu faço e sou muito feliz por isso. Sou perdidamente apaixonada

pelo meu trabalho e pelas minhas crianças

ENTREVISTA NARRATIVA: Cedro

Meus pais sempre tiveram muito contato com os esportes, sempre assistiram

muito na TV, então acompanhei desde pequeno, desde fórmula 1 assistindo com

meu avô a gente sempre se reunia na casa dele, eles sempre tentaram fazer o

máximo para eu praticar, sempre brincaram muito, eu sempre vivi muito em contato

com os esportes isso já foi me incentivando e, além disso, sempre vivi perto de

muitas crianças, familiares e depois também o condomínio que eu mudei, eu vivia no

térreo brincando um monte de coisas, então foi criando o gosto pela coisa e fui

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praticando cada vez mais e quando não tinha os amigos da minha idade eu brincava

com crianças mais novas também do meu prédio... então, eu acabei tendo que já

começar a ensinar algumas coisas para eles conseguirem brincar comigo e jogar,

então comecei a gostar de ensinar e também...meus tios...

Eu tenho dois tios que são mais presentes neste negócio da profissão. Um tio

que sempre me acompanhou, jogou comigo mais na parte de quadra, de bola e uma

tia que sempre nadou, ela sempre me pegava e levava para nadar nas piscinas,

ficava comigo, tentava me ensinar, então foi construindo a figura de professor, além

do parentesco foi o que foi me motivando e nem pensei, já estava encaminhado na

profissão. Já escolhi desde cedo na escola que eu já pensava bastante em fazer, até

pensei em outros cursos alguma coisa..... mas, não teve jeito.

No ensino superior foi bem legal, mais fácil do que na escola, porque eu entrei

no mundo que eu realmente gostava, então foi bem mais tranquilo porque quando

você estuda aquilo que gosta você tem mais facilidade e qualquer coisa que era

relacionada mesmo não sendo os meus esportes favoritos ou alguma matéria

complicadinha assim, eu levava numa boa e a relação com os professores sempre

foi muito boa, tive bons professores.

Tem o Mario Sharon muito bacana, que apesar de ser uma disciplina que eu

não trabalho na área que é de treinamento, musculação, assim... de peso essas

coisas... eu me espelhei muito pelo profissional, é um cara muito bacana, ele é muito

querido na faculdade. O jeito de ele lidar, a linguagem, com temas, às vezes não tão

é fácil assim de passar, mas ele conseguia se aproximar da gente e usar isso como

ferramenta para a gente aprender. Não era muito imposto como a gente vivia a

prática, ele ia junto para sala, ia explicando e ao mesmo tempo em que ia vendo os

exemplos. A linguagem era muito próxima, ele não usava da posição dele como

professor para querer sobressair e mostrar que sabe profundamente o assunto ele

conseguia passar bem tranquilo assim as matérias e todo o conhecimento.

Fui um aluno participativo, não era aquele aluno das turmas de iniciação

cientifica... muito assim de estudos aprofundados, mas eu tentava me envolver

bastante em tudo aquilo que os professores propunham. Por que é diferente você já

muda o foco da escola, você quer aproveitar o máximo para poder absorver o

conhecimento. Então, todas as atividades que tinha, as apresentações de dança, de

ginástica, de todas as aulas práticas, teóricas, eu tentava participar de todas para

conseguir entender e também fazer. A parte das provas depois, então, se você

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participava tudo se envolvia, entendia o que o professor estava tentando passar na

prática, na hora de fazer a prova ficava mais fácil, então eu tentava ser bem

participativo,

Na faculdade eles ensinavam muito a ensinar, eles colocavam a gente no

papel do professor para dar as aulas como se estivesse dando para as crianças,

então você vai apresentar um trabalho disso... disso, como se fosse dar aula para as

crianças então eles já colocavam a gente na posição .Não ficavam só mostrando

como devia ser, era legal esse papel que a gente assumia desde a faculdade

Momentos charneiras. Então!...não sei se foi impactante o suficiente mas....

Que eu lembro muito assim... que influenciou profissionalmente... eu estava

terminando a faculdade eu tinha ainda tinha alguns estágios para entregar e eu

estava deixando para lá, porque eu não ia conseguir ser efetivado no clube que eu

trabalhava então falei: - Ah! Vou continuar ao invés de terminar a faculdade terminar

os estágios vou continuar com as matérias, as matérias não... o estágio para

entregar , aí eu vou continuar mais seis meses como estagiário no clube e de

repente ser efetivado eu não tenho que sair agora. Acho que foi sei lá, acho que foi

no mês de agosto, minha coordenadora chegou e falou: - Oh! tem uma

oportunidade, você precisa terminar seu estágio.

Ai eu corri, fiz de tudo para conseguir terminar, aí foi um momento que eu vi

que assim estava ficando mais sério para conseguir engrenar na vida profissional eu

acho que o esforço que eu fiz assim... para terminar.... foi bastante coisa. com

provas, essas coisas... foi um momento assim marcante que realmente deu uma

mudada na visão porque quando você muda de estagiário para professor vem de

repente uma carga....na Educação Física ... Já é muito. você não vai acostumando

aos poucos é difícil, você de repente já está sozinho para se virar, nem sempre

você tem um apoio ali. Quando eu realmente me formei e já depois me vi como

professor, mas parecia que eu estava acostumado, com o local com as crianças,

mas sempre estava junto com alguém de repente, você se vê sozinho tendo que por

em prática tudo o que você aprendeu. Foi meio que chocante no começo.

É um momento que eu guardei. assim.

Pensando na Prática a percepção da dimensão estética... então...vou

responder .vamos ver se entendi. Creio que para você conseguir cativar uma criança

e obter atenção dela, você precisa trabalhar isso de tornar as coisas mais bonitas,

tanto você da dimensão física da parte física, você estar bem, ser exemplo para eles

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de saúde, de alegria, de energia, como também tornar as atividades atraentes para

eles, mesmo que você esteja trabalhando alguma coisa que seja relativamente chata

para eles você consegue mostrar de repente... mostrar de um outro jeito, consegue

deixar mais bonito, mais atraente para os olhos dele, então você já tem uma

facilidade para ensinar.

Acho que é uma coisa que influencia bastante na hora de ensinar. Você, às

vezes, fazer uma parte lúdica botar uma história encima e conseguir trabalhar junto

realmente com a atividade, então você deixa a atividade, a aula mais bonita, atrair

eles usando algumas ferramentas assim.

Também acho que o material bom, um espaço bom, acha que faz parte da

beleza, mas também influencia bastante porque tem alguma coisa nova ou coisa

diferente é suficiente para todo mundo ficar entusiasmado.

O objetivo é chegar ao aprendizado final que eles consigam entender, praticar

e guardar isso para eles para usar no dia a dia. Então, eu tento avaliar ao máximo as

possibilidades fazer uns diagnósticos para saber qual o melhor jeito para cada turma

conseguir chegar ao resultado final, o que dá certo para uma turma, às vezes, não

dá para outra.

E o aprendizado final, é o aprendizado para a vida pessoal posterior, eles

entenderem que a Educação Física é mais que uma brincadeira ou um jogo, é

alguma coisa que vão levar para sempre.

Acho que primeiro é o respeito e a convivência com o próximo, a convivência

com as diferenças, que nem ele nem ninguém vão ser iguais praticando , brincando

ou jogando, Que ele consiga entender que faz parte da vida também.

De repente, ter noção de saúde, noção corporal, que vai ser essencial lá para

frente. Para melhorar o espaço escolar o professor deve se aproximar dos alunos,

tentar conhecer as dificuldades de cada um porque é difícil conseguir uma atividade

atingir todos de uma mesma maneira. Acho que a variação é muito importante, dar

diversas oportunidades para eles se desenvolverem. Não adianta ficar sempre do

mesmo modo porque deu certo com alguns e achar que vai dar certo para sempre,

tem que estar sempre diversificando e tentando variar ao máximo para eles terem o

maior número de experiências possíveis, para aprenderem alguma coisa e sempre

procurar conversar com o aluno, tentar ver se ele gosta, se ele tem alguma

dificuldade, porque ele tem, se ele não gosta de praticar porque simplesmente não

consegue ou tem alguma dificuldade física ou de coordenação.

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Acho que são as duas coisas primordiais: variar bastante e ter o aluno

próximo de você para conseguir atingir ele e atingir os objetivos.

Acho que antes de querer posicionar alguma coisa tem que ter uma

proximidade para ele te respeitar. Esse é mais o meu perfil também, não sei se é o

ideal para todo o tipo de professor, mas eu tento chegar aos objetivos deixando o

aluno mais próximo de mim para eu conseguir que ele tenha vontade de aprender

porque se ele não tiver vontade você não vai conseguir passar nada para ele.

Para mim funciona bem, eu consigo trazer eles para aula com vontade de

aprender mostrando também o quanto a atividade pode ser boa, pode ser legal, mas

que eles também estão aprendendo com alguém que gosta deles e que quer ensinar

e não só impor alguma coisa e jogar para eles e eles tem que aprender e ponto.

Falar da experiência me fez bem. Porque me faz relembrar muitos bons

momentos. Minha família por parte de minha avó e da minha tia avó se reunia muito

em datas festivas, Natal essas coisas, geralmente alugava sítio, então, quando

começo a falar, vêm à cabeça os momentos que eu praticava e também você pensa

que os alunos podiam ter essa vivência, então eu gostaria que eles assistissem

mais, que eles praticassem mais fora da escola, mas é bem difícil hoje em dia eles

terem esse hábito, por causa da sociedade, da evolução que teve das novidades,

um monte de coisa, da segurança, então acaba ficando um pouquinho mais fechado,

mais restrito, depende muito do estímulo dos pais.

Muitos pais usam às vezes de desculpa fala: - Ah! não é seguro, não deixo

meu filho fazer isso ou aquilo porque eu não confio, mas. tem bastante opção ainda,

pelo mesmo lado que as vezes as crianças não podem brincar na rua ou outros

lugares eles tem mais opções de parques, de condomínios, clubes que eles podiam

estar aproveitando só que também a rotina também acaba impossibilitando, muitas

crianças que acaba ficando com os avós tendo que ficar com babás ou

acompanhantes acaba influenciando bastante, então quando eu começo falar eu

volto no tempo e imagino também as crianças hoje em dia tendo a oportunidade

que eu tive de ter o contato, de vivenciar isso não só na prática, mas também de

assistir ou as vezes de acompanhar alguém ter exemplos bons que nem a gente

teve antigamente, não só por causa de fama, mas ser um ídolo do esporte, de

dedicação, de respeito, de honrar o país, são coisas que fazem bem.

Sou um professor amigo, porque pelas amizades a gente constrói bastante

coisa. O nossos amigos a gente acaba vivendo mais do que muitos familiares

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nossos porque estão mais distantes principalmente na vida adulta. Quando a gente

é menor que tem mais contato com a família que a gente fica mais preso.

Mas, eu tive muito de meu conhecimento da minha experiência também, foi

muito dos meus amigos, mais nessa parte da adolescência. Eu vivia muito no prédio

brincando, então eu tento transpor um pouco para Educação Física para aula; eles

estão praticando com um amigo, não só professor aluno... aquela barreira.

ENTREVISTA NARRATIVA: Carvalho

Primeiro, eu procurar a área teve dois motivos assim. o que me levou a isso.

Primeiro, foi à oportunidade de eu já começar como aluno trabalhar na área,

isso já foi uma das coisas que até antes de entrar na faculdade eu já tive uma

oportunidade com uma proposta de eu já me ingressar na área começando a

faculdade, isso foi uma coisa que me atraiu, uma já ter uma oportunidade de

emprego naquilo que eu ia estudar.

Outra situação também que me levou a isso foi dentro de casa mesmo, o meu

irmão ele sempre foi atleta sempre jogou e era uma coisa que me interessava

bastante e nós trocávamos figurinhas para ver o que a gente ia fazer em termos de

profissão e ele falava muito também da Educação Física, meu irmão é mais velho e

porventura ele acabou também fazendo Educação Física, então teve esses dois

motivos fundamentais para eu estar escolhendo essa área.

Eu particularmente sempre gostei de estudar. Então, quando eu realmente me

interessei em fazer Educação Física, aí eu me aprofundei. Todas as disciplinas para

mim eram extremamente importantes. Na época de faculdade tem aqueles colegas

que às vezes dão mais valor a uma disciplina e menos para uma outra, mas para

mim sempre todas eu procurava observar os detalhes o que era importante e

começando a perceber que todas elas uma integra a outra, mesmo que você vai se

especializar em alguma coisa sempre nessa especialização você traz um pouco de

cada uma delas, por isso que eu dava muita importância, muito valor a cada uma

dessas disciplinas.

E a minha relação com os professores dentro dessas disciplinas era excelente

porque eu demonstrava muito interesse e na Universidade é assim, as portas estão

abertas o aluno que quiser ele entra para assistir a aula ou se quiser literalmente ele

vai para o bar e fica lá no bar, então o professor quando ele está lá esperando o

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aluno ele dá o máximo de atenção. Todos os professores eram excelentes todos

muito conceituados, então sempre dei valor a isso.

Dentro da questão do conhecimento um professor que me marcou bastante,

todos me marcaram muito eu tive uma boa relação com eles, mas um professor que

marcou bastante foi na área de Fisiologia que era um professor excelente que deu

aula muito há anos para mim chamado Airton Figueira Junior eu lembro até o nome

todo dele.

Em termos de currículo, tinha um currículo excelente, formação no exterior

das mais variadas, disciplinador, conceituado, esse era o respeito maior ele tinha um

conceito assim uma convicção daquilo que ele falava fundamental para poder atrair

o aluno.

Desde a época da escola eu sempre fui aquele aluno que sempre queria fazer

tudo, procurar prestar atenção, sempre estar nas aulas desde a época da escola, na

faculdade era a mesma coisa dessa forma eu era Caxias comigo mesmo, queria

estar indo, ia faltar à sala toda eu estava lá preocupado em perder alguma coisa

isso. Isso foi uma coisa que eu sempre fui e na faculdade a mesma coisa. Para mim

a faculdade foi excelente porque desde o começo como eu falei no começo da

entrevista eu tive uma oportunidade de emprego já logo que consegui entrar na

faculdade, isso foi me ajudando muito, comecei a estagiar já logo no primeiro ano da

faculdade, aliás, eu nem comecei a faculdade eu já estava trabalhando, a faculdade

começou quando eu me matriculei na época em fevereiro, Março e em Janeiro eu

estava trabalhando em cima da área. Aí fui fazendo essa relação, mas sempre

presente o tempo todo, nunca faltando fazendo todos os trabalhos conversando com

os professores.

Diversos momentos, não posso citar um só, mas tive diversos, mas agora o

principal que foi bem recente foi o nascimento de meu filho que isso foi para mim um

divisor de águas absurdo não tem como mensurar isso daí.

Tiveram outros mesmos, as conquistas minhas de vida mesmo, das coisas

que eu conquistei desde a época que eu andava de bicicleta quando eu comecei a

Educação Física, depois eu comprei uma moto, depois comprei uma moto maior, aí

fui comprar um carro, comprei meu um apartamento, depois comprei um

apartamento maior, tudo isso foram assim divisores na minha vida.

E até mesmo na parte profissional, da época que eu comecei para hoje muita

coisa muda, você às vezes acaba não sendo tão duro, você começa a entender um

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pouco mais, é aquela questão do amadurecimento mesmo, não estou dizendo que a

gente dá aquela relaxada não é isso, mas a gente acaba compreendendo um pouco

mais algumas situações, isso se dá com amadurecimento. Situações assim de às

vezes até de próprio conteúdo que você quando era mais novo achava que aquilo

que você aprendeu tinha que ser dado, mas que as coisas acabaram mudando. As

crianças mudaram você acaba mudando um pouco de acordo com sua experiência e

isso acaba tendo essa mudança significativa.

Sobre a dimensão estética. Primeiro assim é você conseguir ver a coisa

acontecer, aplicar aquilo que você estudou e ver um resultado significativo daquilo.

Você fala: nossa é uma maravilha você conseguir, é aquela questão você ter

início um meio e um fim, isso para mim é uma coisa espetacular. Você conseguir

aplicar teu conhecimento e conseguir ter o resultado daquela aplicação do

conhecimento, vê que a criança conseguiu não de imediato, mas a curto médio e a

longo prazo conseguir fazer aquilo que você ensinou. Isso na parte técnica.

Além da parte técnica. Total como cidadão que pratica alguma atividade física

para sua saúde acho que é importante não tem nenhuma questão técnica, aí você

implantar um estilo de vida, estilo de vida saudável, principalmente hoje nesse

mundo que a gente vive tecnológico, isso daí tem que ser implantado mesmo, ser

colocado. As crianças vivem em computadores, internet enfim, o que for aí de

tecnologia, acho que o mais importante é isso, a criança praticar atividade física o

adolescente e depois adulto e o resto da vida. Se esse cidadão respeitar dentro do

que é dado saber, os limites do outro, saber as dificuldades de cada um, então tudo

isso é muito importante no desenvolvimento da criança e do adolescente e até o

adulto.

São várias coisas que tem que hoje para melhorar isso daí. Talvez hoje eu

penso muito nas estruturas das escolas, como elas são na estrutura física mesmo,

essa divisão que elas têm. Quantos anos isso existe de salas, paredes, de carteiras,

acho que essa questão física ela poderia ser mudada porque se pegar fotos de

antigamente a gente vê nossos avós nossos bisavós da mesma forma que a

crianças hoje estão.

A gente fala tanto hoje de mudança, que as crianças hoje estão mudando,

mas eu não vejo as escolas acompanhando muito essa à mudança até mesmo

nesta questão física da coisa do espaço. Ainda continuamos usando aquele quadro

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continuamos usando giz, as carteiras todas enfileiradas, então essa parte física, o

sinal batendo a cada 50 minutos...

Essa fala me fez lembrar-se de um texto do Rubem Alves que ele fala disso

nesse sentido:

“Não esqueçam as perguntas fundamentais”. Ele passa um pouco dessa

reflexão de hoje, como são as escolas até mesmo dentro dessa parte e isso

realmente tem sentido porque se a escola tem essa função de preparar o individuo

para a vida por que a escola não faz isso em sua prática no dia a dia?

Eles dividem, por exemplo, o sexto ano do sétimo do oitavo e do nono ano

cada um dentro de uma sala, mas em casa eles não convivem todos juntos em

idades diferentes e não tem esse aprendizado?

Então a escola deveria imitar o aprendizado da vida, agora, que claro isso

tudo tem que mudar a grade, tem que ter um planejamento para isso e respeitar que

cada um está em uma fase de desenvolvimento. Então isso aí é uma parte de

planejamento, de currículo, de grade, enfim. uma série de coisas, mas talvez mudar

um pouco nesse aspecto, isso mais na parte pedagógico para a gente poder

conviver e trocar essas experiências como é dentro de casa.

Falando numa parte mais técnica eu gosto muito da filosofia dos jogos

cooperativos, isso você leva muito para a vida, saber que um depende do outro para

realizar alguma tarefa e não na individualidade.

Na verdade hoje as crianças já vêm numa competição muito grande, já

nascem, é meio que instinto e a escola tem que quebrar esse instinto competitivo

dela.

São jogos como: um vôlei cego em grupos e até mesmo em outras disciplinas

para fazer um bolo, um ajuda a fazer a massa o outro ajuda a por a farinha, são

atividades cooperativas.

Colocar a caneta num bico da garrafa cada um segurando na ponta de um

barbante, várias atividades que você pode desenvolver atividades cooperativas e

não é aquela coisa individual.

Falar da experiência. Eu particularmente eu adoro porque eu estudo muito, eu

sou sempre envolvido de estar atrás de poder conhece, Eu acho legal essa troca de

experiência, às vezes a gente não tem esse momento por causa da correria do dia a

dia.

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Quando chega nessa hora que tem que falar um pouco da área é super-

gratificante eu adoro conversar sobre isso, falar sobre isso, trocar conhecimento,

isso para mim eu acho excelente. Trocar experiência para mim leva uma reflexão

bem bacana. Na verdade, eu sempre paro para isso, então não é uma coisa que eu

fico sem pensar de como é o meu dia a dia. Eu vivo pensando o que eu posso

melhorar o que foi cada uma das minhas aulas, isso pra a mim, essa reflexão. ela...

se dizer que é quase que diária, pensar um pouco como foi..tal....isso das minhas

práticas.

Às vezes também até sentando para ouvir uma pessoa mais experiente,

alguém da área, essa reflexão é feita que diariamente, mas acho interessante essa

troca.

Assim, hoje eu sou um apaixonado pela área. Isso não posso negar, o

professor em si hoje precisa ser mais valorizado, isso é uma coisa muito importante,

não adianta dizer que o dinheiro não é importante porque ele é. A gente tem nossa

profissão, mas eu acho... ela poderia ser mais valorizada.

Eu vejo hoje também os alunos cada vez mais desinteressados pela prática

esportiva eu volto a dizer aquela questão de tecnologia, talvez tenha outros

interesses, Hoje então a gente fica ali remando contra a maré porque você vem com

uma proposta e às vezes eles não... E às vezes faz mal criação, é difícil. né. Talvez

hoje eu me encontro numa fase mais de estar assim procurando uma universidade,

alguma coisa de trabalhar com pessoas que venham até você procurar respostas,

interessadas e não você ficar o tempo todo... mas, é uma coisa que é a tendência

hoje do desinteresse ser cada vez maior.

Na verdade a fase que eu estou é muito (pensativo), de transição de quando

eu comecei na carreira e agora com 35 anos, a gente reflete do que a gente quer, do

que a gente busca, eu acho que assim, eu continuo posso dizer que eu sou um

sonhador, acreditando muito no desenvolvimento, jogando uma sementinha.

ENTREVISTA NARRATIVA: Amoreira

Eu escolhi EF porque eu sempre estive no meio dos esportes, desde pequena

eu sempre fiz atletismo, basquete no colégio e o colégio que eu estudava a

professora de Educação Física não dava muito incentivo só que eu gostava muito de

esporte.

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Então, a partir acho que do sexto ou sétimo ano veio um professor da Bahia,

um cara muito preocupado com a relação de resgatar alunos, como eu estudava em

um colégio público, de resgatar alunos do meio do crime dessas coisas... que... veio

de uma realidade muito forte da Bahia e o colégio não era com tantos índices de

alunos problemáticos, mas existia muitos alunos envolvidos com drogas e ele veio

com toda essa preocupação e formou várias equipes de treinamento dentro do

colégio.E dentro da Educação física ele era muito preocupado também com o

ensina,r o amar o aluno, a aproximação do aluno acima do esporte e com isso ele ia

conquistando e ensinando.

Formou várias equipes que ganharam vários campeonatos: Paulista,

Brasileiro aqui dentro de SP e aí fora.

Eu participei dos campeonatos dele de atletismo e eu fiquei mais apaixonada

pela Educação Física, a partir desse momento até eu me formar no Ensino Médio

quando eu já tinha certeza que eu ia fazer Educação Física.

Só que aí teve uma barreira porque meus na época não queriam muito que eu

fizesse Educação Física, outras pessoas também eram contra, pela realidade, e

todo mundo falava:

Ah! é uma faculdade que não vai para frente. Como eu sabia já que era

aquilo que eu queria ,fui prestei uma Universidade Mackenzie, tive bolsa lá porque

eu já tinha experiência como atleta, fui para lá, já tinha participado de alguns clubes

na época, fui para lá porque também tive bolsa como jogadora de basquete.

A experiência lá foi ótima dentro do Mackenzie, que tinha uma estrutura única,

acho melhor que USP e algumas faculdades muito boas, mas a estrutura física lá é

ótima, os professores são super capacitados. Dentro das disciplinas eu gostava mais

óbvio das disciplinas que eu tinha um contato maior, o basquete, mesmo. Fora isso

eu gostava muito de filosofia também, era uma área que discutia muitas coisas,

Psicologia onde eu consegui até trabalhar o meu TCC foi em cima disso: Psicologia

do esporte através do basquete em escolas públicas. Então... o que interferia, qual a

parte psicológica dentro desses alunos de treinamento escolar. O meu trabalho de

conclusão de curso foi sobre isso

Fisiologia do exercício, outras eu também me aproximei muito me aprofundei,

gostava, mas o que mais sempre me chamou a atenção tanto que depois até fiz

curso pós disso, não pós-graduação, mas curso de especialização dentro de

psicologia do esporte, porque isso me ajuda muito até hoje no meu exercício dentro

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da Educação Física com os alunos, de entender um pouquinho a realidade de cada

um, a vivência de cada um dentro de casa, fora do ambiente escola, r para você

conseguir chegar um pouco mais dele e atingir um numero maior de alunos.

Mas acho que a minha experiência dentro da faculdade foi excelente acho

que tem muita coisa que óbvio que a gente estuda e na pratica é totalmente

diferente, muita coisa fica muito nos livros e quando a gente se depara com a sala

de aula com a vivência da Educação Física na quadra, a gente vê que tem coisas

que a gente nunca vai conseguir executar ali que a gente leu, estudou através de

varias matérias dentro da faculdade que é muito diferente da realidade... então a

gente vai adaptando, vai tendo estratégias para lidar com isso. Quase todas as

matérias foram muito importantes na minha formação.

Os professores eram excelentes, acho que tinha um ou dois que era mais

distante, ia lá passava o conteúdo e pronto não tinha nenhum vinculo com o aluno.

As salas não eram muito cheias no Mackenzie, diferente de algumas outras

faculdades que eu conheço de outros professores. as salas tinha em média acho

que 40, 42 alunos, então isso facilitava o contato com o professor, um vinculo

maior, conseguia várias vezes com duvida perguntar trabalhar, esperar depois da

aula, diferente de outros lugares que é muito rápido, passa a aula acabou vai para

outra aula e ponto final

Acho que esse vínculo existia sim, e os professores sempre foram muito

preocupados com os alunos.

Que me marcou: A Paula, uma professora de Psicologia, ela trabalhava com

basquete, mas psicologia acho que ela me deu muito apoio dentro da faculdade. Até

hoje tenho contato com ela me indica vários cursos relacionado a Educação Física.

A Rita que era de filosofia, exemplar até hoje também tem uma grande

preocupação com ex-alunos, faz vários cursos de atualização para ex-alunos do,

mas da USP porque ela também da aula na USP, mas ela é uma pessoa muito

preocupada com toda essa mudança que existe na educação em todo o tempo e

sempre procura... tem milhões de alunos que vão atrás dos cursos dela porque ela é

uma pessoa muito competente.Foram mais essas.

Acho que fui uma aluna muito dedicada, sempre procurei ir além do que os

professores colocavam em aula, sempre busquei pouco mais.

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Diversas vezes vários alunos achavam as aulas super desinteressante e não

prestavam atenção ou até só copiavam e depois não estavam nem aí para aquele

conteúdo, mas eu sempre me preocupei.

Por mais que eu não fosse tão... achava...Isso não vai ser importante para

mim, mas eu sempre busquei...porque estão passando isso? Eu sempre fui um

pouco critica em relação à matéria que estava sendo exposta

Ah! isso não é interessante por quê? Porque esta passando isso?

O que isso vai me ajudar dentro da minha formação? Eu lia um pouco mais às

vezes discutia na aula seguinte, acho que fui dedicada e critica em relação às aulas

eu como aluna.

Logo após minha formação, é um momento que é pessoal, mas é vinculado

também com a minha profissão, com a minha área profissional porque eu tinha... eu

era super estudiosa então eu tinha uma coisa formada na minha cabeça como eu

ia dar aula e a partir do momento que comecei fazer estagio em alguns lugares eu

conheci pessoas que me influenciaram muito. Professores que foram importantes no

meu desenhar. Eu pensava muito na área realmente de esporte, vou ensinar isso o

jogo, para aprender o esporte através disso...

Eu pensava em várias estratégias que foram modificadas a partir desse

momento, foi de uma forma até abrupta assim porque eu entrei para fazer estágio

em alguns lugares que o professor já trabalhava há muito tempo e aí eu vi realmente

a realidade de como era, a partir desse momento, eu convivi com isso eu troquei

muitas coisas. Então eu vi realmente que a realidade no meio daqueles alunos, o

que eles viviam na parte familiar deles como eu vivi na minha vida tinha relação com

que eu ia passar para eles entendeu, não ia adiantar chegar lá querer passar... por

mais que o jogo fosse super legal que eu não ia conseguir atingir 100%, que eu teria

alunos que teria ganhar de outra forma. Então alguns professores foram realmente

muito importante que me mostraram isso, e a partir daí com essa vivência eu

mudei meu jeito de pensar e até de estratégia para dar aula.

Sobre a dimensão estética. Ah! eu acho assim como eu estava falando

anteriormente diversas vezes você busca algumas práticas pedagógicas para dar

certo

Ah! Os PCNS, Ah! Prática construtivista, desenvolvimentistas, milhões que

existe e a gente vai tentando um pouco de tudo. Hoje eu acho que é uma mistura, a

cada aula, a cada dia é uma mistura.

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Dentro da minha pratica acho que hoje é isso, uma mistura. O belo hoje

dentro da minha prática é eu conseguir uma proximidade muito grande com os

alunos e ao mesmo tempo ter o respeito delas.

Não tem aquela proximidade só de amizade, mas tem aquela proximidade Ah!

eu posso contar para a professora coisas que aconteceram na minha vida, eu não

estou bem hoje eu não estou conseguindo atingir o que ela esta me pedindo para

uma próxima aula ela estar melhor para isso.

Acho que isso é importante hoje na nossa vivência como ser humano, de ter

uma preocupação maior, de estar formando cidadãos que tenham mais amor, que

sejam mais críticos. Então dentro do que eu buscava, de repente, formar grandes

atletas hoje não...

A proximidade que eu consigo alcançar minhas alunas e ter o respeito delas

de não ser apelidada ou não ser tratada de qualquer forma elas realmente me vêem

como professora em outros lugares muitas da que já se formaram me encontram

elas me vêm ainda como professora. Acho isso é importante, e saber o quanto eu

que pude colaborar de alguma forma, às vezes não só dentro da EF, mas assim

como vida, como conselheira, então essa proximidade é a grande questão maior de

estar maior de hoje estar dando super certo, de estar conquistando muitas alunas.

Eu consegui além de eu passar toda a minha parte pedagógica dentro da Educação

Física, todos os conteúdos que eu procuro executar durante o ano, é ter essa

proximidade delas me tratarem como o professora e como conselheira, buscar em

mim coisas como um amor que não encontra em casa, o carinho que não encontra

em alguns lugares, dúvidas, e sempre estar conversando isso comigo acho que eu

nunca pensei...que ...

Ai vejo... legal, uma aluna era super revoltada...e hoje ela esta formada,

trabalhando e me encontra e fala : professora que legal que você conseguiu isso...

isso comigo. Então o belo de tudo isso hoje, além de conseguir passar meu

conteúdo de forma legal em um ambiente saudável, é ter essa proximidade com

minhas alunas.

Buscaria mais integração talvez entre as disciplinas mesmo que às vezes eu

acho que falta esse trabalho interdisciplinar eu acho importantíssimo Isso vincula

muito um professor a outro, uma matéria à outra, e a vivência de vida, porque eles

saindo daqui eles vão ter as disciplinas para o vestibular e depois disso é a vida e a

vida a gente esta trabalhando com tudo ao mesmo tempo, ou muitas coisas que vão

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ficar na lousa, vão ficar para sempre na lousa, nunca mais você vai trabalhar com

isso.

Programas mais relacionado às atividades sociais deles interdisciplinar

mente, trazer espaços novos estou falando no físico mesmo de repente direcionar

aulas de formas totalmente diferentes e convencionais utilizando duas ou três

matérias diferentes. Acho que isso com um projeto novo, isso seria exemplar para

vários colégios que acho hoje falta muito à questão de educação realmente, a gente

vê tantos problemas de indisciplina nos colégios, acho que nós precisávamos buscar

um pouquinho mais para atingir um numero maior de alunos com relação isso.

Com relação à parte física a gente quer sempre melhoras. A gente sabe que

para um colégio de repente ter dentro da Educação Física um espaço

diferenciado sem ser só ter só quadras, um espaço maior, uma sala com espelhos,

acho importante para a gente trabalhar outras coisas além dos esportes, mas a

gente sabe que alguns colégios conseguem outras não. Então, o espaço físico acho

que é o de menos quando a gente precisa trabalhar mais valores na vivência deles

junto com outros, a sociabilidade dele dentro do grupo, a inserção dele dentro e fora,

porque acho que ele vai lidar com muitos problemas e muitos obstáculos e muitos

ainda não estão preparados para isso. Um projeto interdisciplinar trabalhando fora

das disciplinas no âmbito social, acho que seria uma coisa bem legal.

Falar da vivência foi uma alegria, para mim traz muita alegria porque eu acho

que eu me sinto super-realizada. Eu acho que tenho muito que alcançar muitas

coisas que eu tenho como sonhos dentro minha profissão, mas me causa alegria

porque não me sinto frustrada em nenhum momento dentro da minha prática.

Tudo o que muitas pessoas falaram no começo, de repente, que não daria

certo, era uma besteira... eu não vejo isso. Hoje eu me sinto realizada, me sinto

alegre quando eu conto isso, porque eu atingi um patamar, apesar de pouco tempo,

são 8 anos agora vão fazer 8 anos agora que estou dentro da Prática eu

consegui muita coisa, me sinto muito alegre em contar tudo isso, acho que ....eu

tenho alegria em ensinar.

Eu li um Livro uma vez do Paulo Freire, acho que esse livro é dele. faz

tempo... Que fala sobre a alegria de ensinar que a gente precisa ter mais amor ao

invés de conhecimento, então... é..através desse amor a gente conquista outras

coisas. Eu acho que é isso eu me sinto super-realizada, super alegre de estar

compartilhando tudo isso, porque eu me não me sinto em nenhum momento

Page 147: JUSSELMA FERREIRA MAIA - unicid.edu.br§ão... · preconceito. A visão de Freire, no que se refere à crítica à Educação Bancária e a busca de superação, por meio da curiosidade

frustrada em tudo que eu já realizei. Já errei, muitas vezes tive que corrigir mudar

percurso, mudar estratégias e isso é o normal de todos os dias, mas me sinto

bastante realizada.

Sou uma professora em incessante busca que eu sempre posso melhorar um

pouco eu sempre quero algo novo eu sempre quero alguma coisa mais. Eu nunca

estou totalmente satisfeita com aquilo que eu realizei porque eu acho que posso ir

além.