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PRESBITÉRIO DE CERES - PCRS
A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
GOIÂNIA
Dezembro/2000
PRESBITÉRIO DE CERES - PCRS
Teologando: Kemil Khalil Ghannoum
A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
ORIENTADOR: Rev. Hélio de Oliveira Silva.
Monografia para cumprimento de
exigência do Presbitério para
Licenciatura e Ordenação ao
Sagrado Ministério, conforme cap.
VII Seção 4a art. 120 “b” do
C.I.P.B.
Goiânia
Dezembro/2000
T E R M O D E A P R O V A Ç Ã O
Assunto: Justificação
Título: “A Doutrina da Justificação pela Fé”
Autor: Teologando: Kemil Khalil Ghannoum
O Presbitério Ceres - PCRS, após examinar o trabalho apresentado pelo Teologando:
Kemil Khalil Ghannoum
Resolve:....................................................................................................................................
..................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................
...................................................................................................................
Goiânia, de de 2000
Examinador Examinador
Examinador Examinador
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a minha querida e
amada família que tem sido para mim
motivo de grande alegria e incentivo ao
ministério. Quero dizer que amo a minha
esposa Marilda Teixeira Lício Ghannaum e a
milha filha Madiha Lício Ghannaum.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus primeiramente que
me justificou e tem sido meu refúgio e
Fortaleza, que me concedeu graça e
misericórdia para que pudesse vencer mais
uma etapa da minha vida. Ao Roberto
Branquinho que com empenho tem sido o
melhor amigo e tem me apoiado nos meus
estudos e financeiramente sem o qual seria
impossível o termino do curso.
Ao presbitério de Ceres. Ao meu
Orientador Rev. Hélio de Oliveira Silva. Ao
meu colega Antônio Mendes de Pinto Neto
pela amizade e carinho que tem nos
assistido. A dona Antônio e família que foi
sustento espiritual. Aos meus professores ,
irmãos, amigos que de uma forma ou de outra
tem contribuído para minha formação
acadêmica e pastoral,
Agradeço a Igreja Vila Nova pela
oportunidade do trabalho no qual tive a
oportunidade de crescer espiritualmente
junto com a congregação do Jardim das
Oliveira.
Aos meus pais que mesmo distantes
torceram para que essa batalha chegasse ao
fim. Muito obrigado.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
I JUSTIFICAÇÃO NO PERÍODO DA REFORMA 10
1.1 Martinho Lutero 10
1.2 João Calvino 13
1.3 Concílio de Trento 16
1.4 Documentos Confessionais 18
1.4.1 Confissão de Augsburgo 18
1.4.2 Catecismo de Heideberg 20
1.4.3 Catecismo Belga 21
1.4.4 Confissão de Fé de Westminster 22
II DEFINIÇÕES DOS TERMOS E DIFERENCIAÇÃO DE JUSTIFICAÇÃO
E OS DEMAIS TERMOS DA ORDEM DA SALVAÇÃO
25
2.1 Definição de Termos 25
2.2 Diferenças entre Justificação, Regeneração, Santificação, Adoção,
Arrependimento, Conversão e Fé.
27
2.2.1 Regeneração 27
2.2.2 Santificação 28
2.2.3 Adoção 29
2.2.4 Arrependimento 30
2.2.5 Conversão 31
2.2.6 Fé 32
2.2.7 Obras 33
III O CONCEITO REFORMADO DA DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO
PELA FÉ
38
3.1 A Justificação pela fé 38
3.2 A Imputação da Justificação 41
3.3 A Base para Justificação 43
3.3.1 Negativamente 43
3.3.2 Positivamente 44
3.4 A Justificação e a União com Cristo 45
3.5 A Justificação é Forense 48
3.6 A Justificação pela Fé é Escatológica 50
3.7 Justificação Ativa 53
3.8 Justificação Passiva 54
3.8.1 Definição sobre Justificação pela fé no Pensamento dos Teólogos
Reformados e suas ênfases
56
CONCLUSÃO 61
BIBLIOGRAFIA 62
INTRODUÇÃO
De conformidade com as Sagradas Escrituras e a Confissão de Fé de
Westminster, a Justificação pela fé é um fato real no qual toda Igreja de Jesus deve viver e
pregar.
A justificação pela fé é a afirmação da doutrina pela qual a Igreja e o
indivíduo se mantém ou cai. Estas afirmações tiveram grandes repercussões no período da
Reforma Protestante.
Lutero foi o grande reformador que empunhou a bandeira da Justificação pela
fé somente. Mostrando o valor dessa teologia, ele morreu defendendo e mostrando que
ninguém poderia ser salvo pelas obras e sim por causa do sacrifício de Jesus na cruz .
Quando Lutero leu Rm. 1:17, ele passou a ter uma nova dimensão do amor
de Deus e ávido em mostrar isso a todos, passou então ensinar e mostrar os grandes
valores da descoberta bíblica. Encontrou muita resistência por parte da Igreja Católica
Apostólica Romana no qual fazia parte.
No primeiro capítulo veremos como que os reformadores se posicionaram
com a doutrina da justificação em resposta ao catolicismo.
Mostraremos qual foi o pensamento de Lutero e Calvino a respeito da
justificação pela fé.
Queremos entender qual foi a motivação para tanto senso de justiça e
pregação, motivada por tamanha certeza de salvação que estes reformadores ousaram a
pregar em nome de Jesus Cristo, mostrando assim qual foi a base bíblia sólida e
consistente que usaram em defesa do mais puro evangelho
Assim depois de falarmos desses dois grandes reformadores nos
empenharemos em mostrar quais foram os pensamentos, dos teólogos nos documentos
confessionais como no Concílio de Trento (Católico Romano); Confissão de Augsburg,
Confissão de Heidelberg; Confissão Belga e Confissão de Fé de Westminster.
O Concílio de Trento (1545-1563) foi um Concílio Contra – Reforma veio
como uma tentativa de dar respostas, onde podemos ver claramente o erro teológico
cometido por aqueles teólogos.
Os demais documentos confessionais apoiam a doutrina da Justificação onde
com base bíblica ressaltam seriamente a posição reformada, no qual tem muitas
citações atuais desses documentos.
A Confissão de Fé de Westminster mostra com palavras elucidativas a
respeito da justificação pela fé que é imputada ao crente.
Logo após a definição dos termos teológicos mostraremos as diferenças de
justificação e regeneração, santificação, adoção, arrependimento, conversão, fé e obras.
Mostraremos a posição reformada quando forem mostradas tais diferenças, julgamos
necessário para o esclarecimento bíblico – teológico para o leitor.
Falaremos também sobre a doutrina da justificação pela fé na visão dos
teólogos reformados contemporâneos, nos dando uma visão da discussão atual e as
várias ênfases de seus autores. Essas colocações dos atuais teólogos mostram com
profundidade bíblica a exposição do nosso tema.
Esperamos que o leitor seja esclarecido e aprofundado ao ler este trabalho, e
que ao ler possa ser ricamente abençoado por Deus e possa ter ainda mais a
confirmação da justificação pela fé que Jesus Cristo o nosso Senhor e Salvador alcançou
por nós na cruz do calvário. Que Deus nos abençoa.
I - JUSTIFICAÇÃO NO PERÍODO DA REFORMA
1.1. Martinho Lutero
A doutrina da Justificação pela fé somente ganhou forma na pessoa de Lutero,
e essa doutrina foi a pedra de toque da Reforma Protestante.
Após uma batalha interior e uma incansável luta por descobrir a verdade,
Lutero em “1512 e início de 1513, enquanto lia a Epístola aos Romanos, em sua cela,
encontrou estas palavras: Mas o justo viverá pela fé.”1 Aquelas palavras haviam penetrado
em seu coração, ele havia encontrado a resposta de suas fustigantes perguntas, ele havia
compreendido que a salvação lhe pertencia, através das justificação adquirida por Cristo
através de sua fé.
Lutero comparou Deus com seus mestres e pais e chegou a confessar “que não
amava a Deus mas sim que o odiava.”2 Logo após a conversão Lutero começou a ver
Deus como um pai amoroso e não mais como um carrasco que vive em busca do erro para
corrigir o pecado através de castigos.
A vida de Martinho Lutero foi marcada por uma busca incansável da verdade,
insatisfeito com a doutrina que a Igreja Católica vinha sustentando e atormentado com seus
1 Robert Hastings Nichols. História da Igreja Cristã. Cultura Cristã, São Paulo, 1997, p 162. 2 Justo L. Gonzales. A Era dos Reformadores. Vol. VI. Vida Nova, São Paulo, 1997, p 48.
pecados, e profundo conhecedor das doutrinas católicas, Lutero sabia que o perdão de
seus pecados só podia ser alcançado se ele confessasse ao padre, por esse motivo ele vivia
pedindo perdão pelos mínimos detalhes com medo de ter esquecido algum e Deus castigá-
lo por esse que ele havia esquecido.
Ele se confessava a Staupitz durante horas, ia embora e depois voltava
correndo com alguma pequena fraqueza que havia esquecido de
mencionar. Certa, vez Staupitz, bastante exasperado, disse: Olhe aqui,
irmão Martinho, se você vai confessar tanto assim por que não faz
algo digno de ser confessado? Mate sua mãe ou seu pai! Cometa
adultério! Pare de vir aqui com tais tolices e pecados falsos.3
Vemos o desespero de Lutero como alguém que tem fortes convicções do
pecado.
Timothy George diz que Lutero cria que a imputação da justiça de Cristo
baseava-se não na cura gradual do pecado, mas na vitória completa de Cristo na cruz, e
essa imputação foi, creditada, colocada e depositada em nossas vidas, de modo que
Cristo cumpre por nós toda lei, e somos tido por justos na presença de Deus
(Rm. 4:5,11), nisto vemos que a Justificação não se prendia em obras como mérito para
salvação, mas que a pessoa era justificada pela fé somente4. Com essa afirmação Lutero
não colocava as obras como inválidas, mas cria que as obras eram uma confirmação
daquilo que se cria.
A doutrina da Justificação pela fé defendida por Lutero foi refutada na Igreja
Católica. E essa obra vem junto com a justificação. A justificação pela fé somente na
doutrina Católica Romana sofreu uma estagnação. Lutero disse que toda doutrina católica
estava errada e as tradições e os papas erraram também Ele dizia que a Justificação pela fé
não era somente um ato de exercer fé, mas que o fruto de alguém justificado era amor
ativo a alguém, espontâneo e em obediência a Deus. Com essa doutrina criou-se uma
revolta muito grande na Igreja Católica.
James Buchanan diz que “a Igreja Romana encarou a doutrina como sendo
nova, Lutero responde a essa objeção dizendo que para a Igreja poderia ser nova, pois os
falsos ensinos da Igreja Católica haviam encoberto a verdade ensinada pelos apóstolos e
pelos pais da igreja.”5
Lutero defendia a doutrina da Justificação pela fé com a mensagem Sola Fide,
com essa mensagem ele assegurava que as pessoas mediante a fé eram justificadas diante
de Deus segundo a conquista de Jesus na cruz, e que as obras acompanhavam aqueles que
com fé aceitavam a Cristo como único Salvador de suas vidas. “Nada poderia ser
acrescentado à Justiça de Cristo. Nenhuma adição humana seria tolerada.”6 Realmente,
uma adição do homem poderia colocar toda a obra de Cristo ao chão, pois as Escrituras
afirmam que a morte de Cristo pode salvar todo pecador que vier a crer em Cristo.
Lutero entendeu o que se passava na mente de Paulo quando disse o Justo
viverá pela fé, “não era a justiça primitiva dos pecados, antes era a justiça que Deus
ofertava ao pecador necessitado, e que esse pecador aceitava pela fé.”7 Aquele homem que
vivia atormentado agora encontrou a paz, havia entendido o quanto Deus o amava, ele
entendeu que Cristo morreu, o justo pelos injustos ( I Pe 3:18) para trazer vida eterna ao
pecador arrependido, de uma vida marcada pela dor e pelo sofrimento, agora Lutero
experimenta a maior de todas as alegrais, a de saber que o justo viverá pela fé e não mais
por seus esforços.
3 Timothy George. Teologia dos Reformadores. Vida Nova, São Paulo, 1994, p 66. 4 Timothy George, Op. cit. pp. 72-74. 5 James Buchanan. Declarado Inocente. PES, São Paulo, 1994, p 48. 6 Héber Carlos de Campos , A Justificação pela fé nas tradições Luterana e Reformada In: Fides Reformata -
Um Ensaio em Teologia Comparativa. Vol. I, n.º 02, Julho-Dezembro, Seminário JMC., São Paulo, 1996, p
32.
1.2. João Calvino
“A única maneira de vivermos na presença de Deus é por meio da justiça.
Portanto, segue-se que a nossa justiça depende da fé.”8
João Calvino como sabemos, foi também um defensor da Justificação pela fé.
Ele cria que o relacionamento entre Deus e os homens só poderia acontecer mediante a
Justificação, e que esse ato de Justificação dependia do exercício de nossa fé nos méritos
de Cristo na cruz.
Calvino também falou da Justificação mediante a fé em detrimento das obras
como ato meritório para a salvação, mas colocou as obras como conseqüência daquele que
com certeza tem o amor de Deus em sua vida.
João Calvino, legou-nos uma profunda compreensão da doutrina da justificação
pela fé. Podemos ver algumas concepções de justificação falada pelo reformador francês.
A primeira delas diz: “O homem se diz justificado à vista de Deus quando, no julgamento
divino, é tido ou aceito como justo por causa dessa justificação”.9 No desenrolar do seu
ensino, ele explica que o veredicto deve vir do julgamento divino, e que o homem
enquanto pecador não pode achar graça diante de Deus, mas a partir do momento em que
ele é justificado, “ele não é mais considerado pecador, mas justo, livre, portanto, diante do
tribunal de Deus.”10
Calvino desconsiderava a hipótese da Justificação pelas obras como ato
meritório para salvação, e dizia que “o homem poderia ser considerado justo diante de
7 Anthony Hoekema. Salvos Pela Graça. Cultura Cristã, Cambuci, SP, 1997, p 159. 8 João Calvino. Exposição de Romanos. Paracletos, São Paulo, 1997, p 61. 9. João Calvino. Vida, Influência e Teologia. Luz Para o Caminho. Campinas – SP, p 301.
Deus a partir das obras quando o homem fosse perfeito e satisfizesse plenamente a
vontade de Deus.”11 Ora Calvino via nesta doutrina a impossibilidade de alguém ser
justificado a partir de obras, porque ele cria que todo homem era pecador e como tal não
poderia receber de Deus o ato judicial de ser justo uma vez que essa pessoa era pecadora.
João Calvino falava da “Justiça de Cristo imputada a nós.”12 Ele mostra que no
texto de Rm 5:19, pela obediência de Cristo à lei de Deus, sua justiça foi imputada a nós
como nosso representante. A justiça de Cristo foi imputada a nós, daí podemos afirmar que
pelos méritos de Cristo é que somos justificados, e que pelos méritos do homem se torna
impossível a entrada na vida eterna por esse caminho. “Segue-se disto que aquela justiça
inerente a Cristo é uma qualidade, mas aquela justiça que propriamente lhe pertence (por
conquista) nos é imputada.”13 Cristo obedeceu a vontade de Deus e em todos os seus
aspectos como o nosso representante federal, isso significa que: assim como Adão foi o
representante federal do pecado no mundo, Cristo foi o nosso representante federal na
justificação, pois ele é o cordeiro que tira o pecado do mundo (Jo 1:29), nós agora somos
e fazemos parte do reino de Deus conquistado por Cristo Jesus em nosso favor. Podemos
dizer também que estamos justificados do nosso pecado pelos méritos de Cristo, é o
mesmo que dizemos que estamos seguros, salvos, tudo isso nos garante Jesus através de
sua morte e ressurreição.
Calvino nos fala a respeito da Justificação pela fé, em comparação com a
justificação pelas obras.
Será justificado pela fé aquele que, excluído da justiça das obras,
apreende pela fé a justiça de Cristo, revestido da qual aparece à vista
de Deus não como pecador, pelo contrário, como justo. Destarte,
10 João Calvino; Op Cit; p.301. 11 João Calvino. Vida, Influência e Teologia. Luz Para o Caminho. Campinas – SP, p 302. 12 Idem. p 302. 13 João Calvino. Exposição de Romanos, Op. Cit. p. 197.
interpretamos nós a justificação simplesmente como a aceitação mercê
da qual, recebidos à sua graça, Deus nos tem por justos. E dizemos
haver consistido na remissão dos pecados e na imputação da justiça
de Cristo.14
João Calvino nos assegura uma doutrina sã, embasada na palavra. Com base
nas Escrituras e nos pais da Igreja, em especial Agostinho, ele concebia a doutrina da
Justificação como um ato amoroso e livre da graça de Deus, sem a participação humana,
A doutrina da Justificação pela fé defendida por Lutero e Calvino serviu para
que os cristãos de sua época pudessem comparar a Justificação pelas obras ensinada
pela Igreja Católica. Com os escritos nas mãos que os reformadores redigiram se tornaria
difícil a permanência ao Catolicismo. A justificação pela fé somente ganhou um campo
muito grande de aceitação por parte desses homens que não conformavam com a doutrina
sustentada pela Igreja Católica.
A diferença entre Lutero e Calvino era que Lutero dava ênfase a pregação e
à Justificação pela fé e Calvino na soberania de Deus.15 Era uma diferença, porém não
significativa, ambos criam na Justificação pela fé como uma doutrina bíblica e que muitas
pessoas tinham de conhecer as verdades da palavra de Deus.
Justificar outra coisa não é senão absolver de culpa aquele que era
considerado culpado, como se aprovada a sua inocência. Destarte,
quando Deus nos justifica pela intercessão de Cristo, absolve-nos Ele
não pela prova de justiça própria, mas pela imputação de justiça, de
sorte que sejamos havidos por justos em Cristo, nós que em nós
mesmos não o somos.16
1.3. Concílio de Trento
14 João Calvino. As Intitutas. Cap. XI,Vol.II, Luz Para O Caminho, São Paulo, 1989, p 189. 15 Earle E. Cairns. O Cristianismo através dos Séculos. Vida Nova, São Paulo, 1988, p 251.
Podemos ver que o Concílio de Trento se reuniu para entre outros assuntos,
discutissem a respeito da Justificação pela fé e chegaram a conclusões bastante distintas
sobre o que pensavam os protestantes.
“O Concílio reuniu-se finalmente em Trento em dezembro de 1545. Carlos V
tinha insistido que a assembléia ocorresse em lugar que lhe pertencia, e foi por isso que
se escolheu essa cidade do norte da Itália, que era parte do Império.”17
Quando o Concílio de Trento foi reunido, a sua intenção foi de “franca
oposição ao protestantismo.”18 Pela quantidade de 213 prelados, podemos ver inicialmente
que esse concílio foi um fracasso em todas as suas conclusões. A Igreja Católica
representada no Concílio de Trento foi radicalmente contra a doutrina da Justificação pela
fé somente e que a Justificação deveria ser contada junto com as obras. O Concílio de
Trento declara no “Cânone 9, da Sexta Sessão: Se alguém diz que o pecado é justificado
pela fé somente, significando que nada mais é requerido para cooperar a fim de obter a
graça da justificação, e que não é de forma alguma necessário que ele seja preparado e
disposto pela ação de sua própria vontade, que seja anátema.”19
A doutrina ensinada no Concílio de Trento mostra nessa sessão que a justiça
conquistada por Cristo foi insuficiente e que para o homem ser justificado ele deveria
cooperar com Cristo e com a graça. Aqui mais uma vez nos firmamos em explicar que
somos justificados mediante a fé e que as obras são as conseqüências de alguém que
firmemente tem Cristo em seu coração.
A visão católica romana não vê a justiça baseada na justiça
imputada, mas na justiça infundida que Deus realmente põe em nós e
que nos transforma internamente, transforma nosso caráter moral.
16. João Calvino. As Intitutas , Op. cit, p, 190. 17 Justo L. Gonzales, Op. cit. p. 198. 18 Robert Hastings Nichols, Op. cit. p 206. 19 Fides Reformata, Op. cit. p. 33.
Assim Ele nos dá variadas medidas de Justificação, conforme a
medida de justiça infundida ou colocada em nós.20
A afirmação Católica Romana com a justiça infundida, cria um dilema, que
se ela é infusa e não imputada, então a pessoa pode ser salva sem que a própria pessoa
não o saiba, ou, embasado em transformação moral, segundo o pensamento católico
romano, alguém pode ser salvo sem que seja convertido, ou que tenha experimentado o
novo nascimento. Nós rejeitamos a posição do Concílio de Trento quanto à Justificação
pela fé somente, por conter palavras que distorcem o sentido da palavra de Deus.
Consideramos que a justiça de Cristo é imputada a nós. É como se Deus considerasse a
justiça de Cristo como se pertence a nós e nos faz justos através de Cristo e não baseada
em nossa bondade.
O Concílio de Trento afirma que é necessário para a salvação a fé nos dogmas
da igreja ou fé teológica apenas. Grudem, fala que “a fé fiducial para a Igreja Católica é
insuficiente, não basta ter somente fé, tem que ter obras para ser salva.”21 Cremos que a
Justificação imputada nos torna justos em Cristo Jesus (Rm 8:1), e que as obras depois de
justificadas confirmam dia após dia o que o nosso coração vivi. Se dependermos de
revelação especial para sabermos se somos ou não salvos como crê a Igreja Católica em
confirmação com o Concílio de Trento, então os católicos estão constantemente inseguros
de sua salvação eterna.
1.4. Documentos Confessionais
20 Wayne Grudem. Teologia Sistemática. Vida Nova, São Paulo, 1999, p. 608.
Esses Documentos nos servirão para confirmar a posição reformada a respeito
da Justificação pela fé. Esses documentos nos mostrarão a firmeza bíblica e uma
interpretação que julgamos ser a mais saudável.
1.4.1. Confissão de Augsburgo
A Confissão de fé de Augsburgo rejeita também toda e qualquer idéia que
possa fazer com que o homem seja salvo através de algum mérito, ou alguma capacidade
no indivíduo que o torna digno da salvação.
A obediência da lei justifica pela justiça da lei. Mas Deus aceita esta
justiça imperfeita da lei somente por causa da fé... Disto fica evidente
que somos justificados diante de Deus pela fé somente, visto que pela
fé somente recebemos o perdão dos pecados e a reconciliação em
nome de Cristo... Portanto, ela (justificação) é recebida pela fé
somente, embora a guarda da lei siga com o Dom do Espírito Santo.22
A Confissão de Fé de Augsburgo também nos mostra que a Justificação pela
fé é aceita por Deus por causa da fé e não da lei, até porque a lei é imperfeita para
salvação por isso, Deus nos justifica pela fé. “A fé não é a base para Justificação, mas
simplesmente o meio, o órgão de apropriação, ou o instrumento dela.”23 A base para a
nossa Justificação é a morte de Jesus na cruz, a fé é apenas um meio pelo qual o Espírito
atua em nossos corações levando-nos a crer no sacrifício vicário.
21 Idem. p.608 (Fé Fiducial: é a confiança em Cristo para receber o perdão dos pecados. Tem haver com o
conteúdo escriturístico).
22 Fides Reformata, Héber Carlos Campos. Op. cit. p. 37. 23 Fides Reformata, Héber Carlos Campos. Op. cit. p. 37.
A Confissão de Augsburgo está tão convencida de que somente está
traduzindo o evangelho que ela considera qualquer acusação de heresia contra ela como
uma violação da unidade e do amor cristão.24
A Confissão de Augsburgo também advoga, que a Justificação é pela fé e não
como pensam os católicos mediante as obras. Queremos uma vez mais dizer que cremos
que somos justificados pela fé e que as obras apenas confirmam aquilo que o coração do
justificado crê, e podemos ir mais além, que alguém pode ser salvo por Deus sem ter
praticado nenhuma boa obra, foi o caso do ladrão na cruz. Fora este fato também
afirmamos que seja impossível ser justificado pela fé e não praticar nenhuma obra, isso
demonstrará que tal justiça não o transformou nem o regenerou. Dissemos que somos
justificados mediante a fé, mas que sem as obras a nossa fé é morta. Fé e obras devem
andar juntas, primeiro somos justificados para que depois com as obras, provarmos que
fomos justificados. Não podemos crer em uma igreja que crê e não se preocupa com o
estado do indivíduo, Justificação deve vir com as marcas de Cristo e de seus apóstolos,
crer, mas também praticar, ou confirmar o que Jesus fez por nós.
Falaremos agora do Catecismo de Heidelberg que também se baseia nas
Escrituras e apoia a Justificação pela fé.
1.4.2. Catecismo de Heidelberg
Pergunta 60: Como você pode estar justificado diante de Deus?
R. Somente pela verdadeira fé em Jesus Cristo. Embora a consciência
me acuse de ter pecado gravemente contra todos os mandamentos de
Deus e de nunca ter guardado a qualquer um deles, e apesar de ainda
estar inclinado a todo mal, entretanto, sem qualquer merecimento de
minha parte, mas somente por pura graça, Deus me concede e credita
24 Donald K. Mckim, Apud. G.C. Berkouwer e outros. Grandes Temas da Tradição Reformada. Pendão Real,
São Paulo, 1999, p 119.
a perfeita satisfação, justiça e santidade de Cristo, como se eu nunca
tivesse pecado ou sido um pecador, como se eu tivesse sido tão
perfeitamente obediente como Cristo O foi por mim. Tudo o que é
preciso fazer é aceitar este presente de Deus com um coração
confiante.25
O Catecismo de Heidelberg apoia também a Justificação pela fé, buscando
esclarecer que mesmo justificado de seus pecados, o homem ainda peca e está inclinado
para o mal, e que nós somos justificados não por méritos ou obras, mas pela graça de Deus,
o catecismo explica ainda dizendo que essa justiça nos é imputada, creditando-nos a
perfeita satisfação, justiça e santidade de Cristo. Esta colocação nos dá uma segurança
total e absoluta, pois agora Deus olha nos como se cumpríssemos perfeitamente a vontade
divina, é como se fôssemos obedientes como Cristo foi, e o único ato que devemos
praticar é a fé em Cristo Jesus como nosso representante legal diante de Deus.
Como podemos observar, o Catecismo de Heidelberg não nos dá margem para
pensar, em modelo de boas obras como merecimento que leve alguém para o céu, pelo
contrário, o catecismo afirma sem sombra de dúvida que somos pecadores e que nos
inclinamos para o mal, e que a justificação dos nossos pecados estão depositados nos
méritos de Cristo e não em nossos méritos.
1.4.3. Confissão Belga
A Confissão Belga (1561). Esta confissão foi escrita por Guido de Brés, um
pregador nas igrejas reformadas da Bélgica, como sumário das crenças dos cristãos
reformados que estavam sendo perseguidos pelo governo Católico Romano.
25 O Catecismo de Heidelberg. ( trabalho não publicado) Traduzido por Paulo Sérgio Gomes. Cosmópolis SP
1996, p. 23.
Artigo 22: Dizemos junto com Paulo, com acerto, que somos
justificados pela fé somente ou pela fé sem obras (Rm 3:28). Não
dizemos que é a própria fé que nos justifica – pois a fé é apenas o
instrumento pelo qual abraçamos a Cristo, justiça nossa. Jesus Cristo é
a nossa justiça colocando ao nosso dispor todo seu mérito e toda santa
obra que Ele faz por nós e em nosso lugar. A fé é o instrumento que
nos mantém juntos com Ele na comunhão de todo seu benefício.
Quando esses benefícios são feitos nossos, são mais do que suficientes
para absolver-nos de nossos pecados.26
A Confissão Belga, como o Catecismo de Heidelberg e a de Augsburgo
advogam a doutrina da Justificação pela fé, em especial a Confissão Belga em seus
artigos nos mostra que somos justificados pela fé e que as obras praticadas pelos homens,
não servem como ato meritório para a sua salvação e que a fé é apenas um instrumento
para que a pessoa justificada possa ser salva por Cristo.
O que podemos seguramente afirmar é que a Confissão Belga diz que as obras
não significam nada sem a presença do exercício da fé e que essa fé não é ela mesma que
justifica, mas é um instrumento pelo qual podemos crer que Cristo é a nossa justiça. A
Confissão Belga afirma seriamente que Cristo foi o nosso substituto sendo suficientemente
capaz para justificar os eleitos. A nossa justificação está embasada na obediência de Cristo
como nosso substituto. “A fé nos mantém em comunhão com aquele que é a nossa
justificação.”27 A Confissão Belga desenvolveu muito bem a justificação pela fé
mostrando que a fé é apenas um instrumento que Deus usa para salvação. O que podemos
dizer da confissão foi que ela não trabalhou as obras após a conversão, não cremos que o
justificado por Cristo fique sem o compromisso de levar adiante o reino de Deus, negando
que à Jesus. É difícil afirmar que um justificado não proclame a salvação, não dê
testemunho ou que passe a vida inteira em sua casa sem a comunhão dos santos,
26 Anthony Hoekema., Op. cit. p 177. 27 Grandes Temas da Tradição Reformada, Op. cit. p 117.
confessando seus pecados etc. Cremos que as obras confirmam a nossa fé, (Tg 2:17). A fé
que afirmamos crer é uma fé ativa e não uma fé morta. O que nos mostra a Confissão
Belga é que a fé que o salvador nos faz crer nEle mesmo é uma fé ativa.
1.4.4. Confissão de Fé de Westminster
A Confissão de fé de Westminster sem dúvida tem sido para os reformados
uma de suas maiores armas no combate em favor da doutrina da Justificação pela fé. O
que nós observaremos a respeito da Justificação pela fé nessa confissão nos assegura uma
doutrina compatível a fé reformada, sem desvio doutrinário, ou dúvidas por parte desses
brilhantes teólogos que muito fizeram pela reforma.
Os que Deus chama eficazmente também livremente justifica. Esta
Justificação não consiste em Deus infundir neles a justificação, mas
em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas
como justas. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles
operada ou por eles feita, mas somente em consideração da obra de
Cristo; não lhes imputando como justiça a própria fé, o ato de crer, ou
qualquer outro ato de obediência evangélica, mas imputando-lhes a
obediência e a satisfação de Cristo, quando eles o receberam e se
firmam nEle pela fé, fé esta que possuem não como oriunda de si
mesmos, mas como dom de Deus.28
A Confissão de fé de Westminster é adotada pela Igreja Presbiteriana do
Brasil por ser ela reformada e Calvinista.
Concordamos com as afirmativas dessa confissão, como por exemplo: que a
Justificação não é infundida ao crente, mas por causa da obediência e satisfação de Cristo
que nos é imputada, justificação infundida é a renovação da natureza espiritual e moral do
homem, onde através dessa infusão da graça é que o homem é justificado. Justificação:
tudo o que Cristo fez e conquistou por nós obediência total a Deus, satisfação plena a
Deus, e tudo isso é creditado, depositado e imputado a nós, e que a nossa fé é também
apenas um instrumento que Deus usa para nos fazer justificados.
Anthony Hoekema fez alguns comentários a respeito desse artigo dizendo “que
a justificação está ligada com a vocação eficaz, e perdão dos pecados e a aceitação dos
crentes como justos, que a justificação repousa sobre a fé e que essa fé é um dom de
Deus.”29
A Confissão de Fé nos seus seis artigos do capítulo XI comprovam que a
justificação pela fé é um ato gracioso de Deus a nós e que não existe absolutamente nada
de bom no homem que o faça merecedor da justificação que nos é imputada, essa doutrina
nos assegura do amor de Deus em nossas vidas de modo que jamais nos perderemos das
mãos do Senhor, pois ousamos dizer que uma vez justificados por Cristo estaremos para
sempre justificados de nossos pecados e que depois de justificados os cristãos demonstram
isso em amor.
28 A Confissão de Fé De Westminster. Cultura Cristã, São Paulo, Cap. XI-I, p. 64. 29 Anthony Hoekema., Op. cit. p 178.
II – DEFINIÇÕES DOS TERMOS E DIFERENCIAÇÃO DE JUSTIFICAÇÃO E OS
DEMAIS TERMOS DA ORDEM DA SALVAÇÃO
2.1. Definição de Termos
Reservamos este espaço para que o leitor possa ter uma boa visão dos termos
empregados quanto ao tema, familiarizando-se com eles, bem como elucidar as
dificuldades da linguagem técnica envolvida na questão.
“ – reto, justo, equitável, portanto, originalmente era aquele cujo
comportamento se encaixava no arcabouço da sua sociedade, e que cumpria suas
obrigações devidas para com os deuses e para com o seu próximo, sendo que a
observância destas obrigações o diferenciam dos injustos.”30 Como essa palavra mesmo
indica, a pessoa que não possuía uma boa virtude não recebia esse nome, portanto esse
adjetivo era dado a uma pessoa civilizada.
. A justiça de Deus é essencialmente Seu modo de tratar Seu
povo, baseado na Sua aliança, que assim em decorrência disso se constitui em uma nova
humanidade, um novo Israel, composto de judeus e gentios juntamente. Esta justiça
divina se revela pelo fato de que os propósitos de Deus não são frustrados pelo pecado do
homem, pelo contrário, Ele continua sendo onipotente, tanto como Senhor quanto como
Salvador, a despeito da rebeldia do homem.31
Como podemos observar, a justiça de Cristo é perfeita e operante, não
cabendo ao homem o livre-arbítrio, pois o homem nunca terá a capacidade de escolher a
Cristo por vontade e desejo próprio. O homem é justificado mediante a fé, e essa fé é algo
prático, busca conhecer mais do seu criador, salvador e justificador. Calvino diz que
Paulo “ nos ensina que nossas almas são tranqüilizadas e pacificadas quando alcançamos
a Justificação mediante a fé.”32 Em I Pe 3:18, podemos ficar seguro no Senhor, pois a
morte de Cristo nos assegura uma condição de perfeição diante de Deus.
As palavras justificar e justo são normalmente usadas naqueles
versículos que descrevem um ato legal ou judicial. Outras palavras
usadas com a equivalência de Justificação também indicam um
mudança de estado judicial e não uma mudança de caráter.33
30 Colin Brown. Apuld, H. Seebass, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol.II, In:
Artigo Justiça e Justificação, Vida Nova, São Paulo, 1982, p. 527. 31 Ibidem. p 537. 32 João Calvino. Comentário de Romanos, Op. cit. p. 175. 33 James Buchanan, Op. cit. p. 62.
Portanto, concluímos que este ato judicial de tornar o pecador justo deve vir
por parte de Deus, e nunca afirmarmos que podemos ser justificados através das obras ou
que existe algo bom em nós, que nos torne merecedor da Justiça de Deus.
O termo hebraico para justificar é Hitsdik, que, na grande maioria
dos casos, significa “declarar judicialmente que o estado de uma
pessoa está em harmonia com as exigências da lei, Ex 23:7; Dt 25:1;
Pv 17:15; Is 5:23. O verbo significa em geral, declarar que
uma pessoa é justa.34
O que podemos dizer que quando Deus declara alguém justo, não significa
que somos santos ou retos, significa que segundo o parecer judicial fomos considerados
justos perante as acusações, e nos tornamos justos nos termos da lei: A Justificação
significa realmente a reintegração do homem, na sua verdadeira relação com Deus.35 J. I.
Packer, concorda também com essa posição dizendo que é um ato judicial de Deus.36 No
contexto em que muitas vezes é defendido a posição judicial, é entendida num aspecto
forense, onde o juiz declara estar livre da culpa o pecador.
Somos impulsionados a pensar na certeza da vida eterna quando pensamos
que Cristo assumiu o nosso pecado na cruz, pois somos incapazes de pagar tal dívida e
satisfazer a justiça divina.
2.2. Diferenças entre Justificação, Regeneração, Santificação, Adoção,
Arrependimento, Conversão e Fé
34 Louis Berkhof. Teologia Sistemática. L.P.C., Campinas – SP, 1994, p. 514. 35 Buckland. Dicionário Bíblico Universal. Vida Nova, São Paulo, 1981, p 258. 36 J.I. Parcker. Teologia Concisa. L.P.C., Campinas – SP, 1999, p 154.
Vemos a necessidade de mostrar a diferença entre a Justificação e as demais
partes da ordem da salvação: Ordo Salutis37. Justificação, Regeneração, Santificação,
Adoção, Arrependimento, Conversão e Fé, para aqui não corrermos o risco de confundir
Justificação com outro termo que possa prejudicar o nosso entendimento.
2.2.1. Regeneração
John Murray nos mostra que a regeneração é um ato de Deus em nós;
Justificação é um julgamento de Deus a respeito de nós, regeneração é um ato que ocorre
em nossos corações enquanto que a Justificação ocorre fora de nós como ato judicial
declarando alguém como sendo justo. 38 Regeneração denota um “segundo casamento”39, é
a alegria constante que o cristão goza pela libertação do domínio do pecado, e a
Justificação é a libertação da culpa do pecado.
Fazemos a distinção, mas concordamos que ambas doutrinas não podem andar
separadas da salvação, neste ponto Stott nos esclarece a proximidade de ambas doutrinas
como sendo parte do processo da salvação.40
Discordamos de Champlim quando ele diz que a “Justificação é o mesmo que
santificação e glorificação”41, pois a Bíblia nos mostra exatamente que estes termos tem
suas definições e sentidos próprios.
2.2.2. Santificação
37 A Ordo Salutis descreve o processo pelo qual a obra da Salvação, realizada em Cristo, é concretizada
subjetivamente nos corações e vidas dos pecadores, conf. Louis Berkhof Op. cit. p 416 38 John Murray. A Redenção Consumada e Aplicada. Cultura Cristã, São Paulo, 1993, p. 136. 39 J.I. Parcker. Vocábulos de Deus. Fiel, São José dos Campos – SP, 1994, p. 135. 40 John R.W. Stott. A Cruz de Cristo. Vida Nova, São Paulo, 1996, p. 168. 41 R.N. Champlim.; J.M. Bentes.; Enciclopédia da Bíblia – Teologia e Filosofia. Vol. 3, Candeia, SP, 1991,
p. 683.
O uso da palavra santificação nos mostra dois sentidos específicos: o primeiro
é que já somos santificados em Cristo Jesus e chamados para sermos santos, I Co 1:2; 6:11;
Ef 5:26; Hb 2:11, JD 1. É somente por Cristo Jesus que somos santificados .
Por outro lado vemos também a necessidade de estarmos santificando e
andando em novidade de vida; e essa nova vida em Cristo nos conduz ao abandono do
pecado (Rm. 6:4).
A Igreja Romana não coloca a santificação como um processo, mas a coloca
junto com a Justificação. Para a Igreja Romana Justificação e santificação são a mesma
coisa.
“O conceito católico romano confunde a Justificação com a santificação.”42
Este conceito só a Igreja Católica desenvolveu, Justificação é: “um ato da livre graça de
Deus, pelo qual Ele nos perdoa os pecados e nos aceita como justos, unicamente por causa
da justiça de Cristo a nós imputada.”43 A nossa santificação está mais ligada a um
relacionamento com Deus, e com o nosso crescimento espiritual, enquanto que a
Justificação tem a ver com Deus em aspectos jurídicos.
“A fé em Cristo, diz Paulo, é o meio pelo qual a justiça é recebida e a
Justificação é proporcionada.”44 O que podemos observar na explanação de Paulo é que a
Justificação pela fé é um ato de Deus através de Cristo que nos é dado em razão de seu
sacrifício na cruz através de nossa fé, acontece de uma vez por todas quando alguém
aceita a Jesus pela fé somente. “Santificação é a obra divina pela qual o crente é separado
42 Louiz Berkhof, Op. cit. p 528. 43 Josué A. de Oliveira. O Aspecto Jurídico da Justificação. CEP, SP, 1982, p 26. 44 J.D. Douglas, Apuld James I.Packer. O Novo Dicionário da Bíblia. Vida Nova, São Paulo, 1995, p 899.
para Deus somente.”45 É uma pessoa que passa do caminho ruim para viver segundo a
vontade do seu Senhor depois de ser justificado.
2.2.3. Adoção
Em Jo 1:12 mostra claramente a doutrina da adoção, onde existe uma filiação
adotiva daqueles que são justificados mediante a fé. Podemos ver que essa filiação é muito
grande, pois inclui os eleitos de toda geração e Deus como Pai de todos aqueles que O
aceitaram como Salvador de seus corações.
Bruce Milne define a adoção como: “àquela obra da graça de Deus pela qual
Ele nos recebe como seus filhos através de Cristo e em união com Ele.”46 A adoção
também é uma graça de Deus concedida aos eleitos para que os mesmos se tornem filhos
adotivos de Deus, e mais uma vez esta obra é, conquistada pelo méritos de Cristo.
J. I. Packer mostra que somos filhos adotivos, mas o Filho de Deus legítimo
é Cristo. Este filho que é a nossa Justificação, nos faz gozar das mais valiosos bênçãos
paternais.47 A nossa adoção acontece no mesmo momento que somos justificados.
2.2.4. Arrependimento
“Arrependimento para a vida é uma graça salvadora, pela qual o pecador,
tendo uma verdadeira consciência de seu pecado e percepção da misericórdia de Deus em
45 Manford G. Gutzke. Manual de Doutrina. Vida Nova, São Paulo, 1990, p 207.
46 Bruce Milne. Estudando as Doutrinas da Bíblia. ABU, São Paulo, 1996, p 195. 47 J.D. Douglas, apud J.I. Packer Op. cit. p. 34.
Cristo, se enche de tristeza e de aversão pelos seus pecados, os abandona e volta para
Deus, inteiramente resolvido a prestar-lhe obediência.”48
A diferença entre arrependimento e Justificação é que o arrependimento leva
a pessoa à consciência de seu pecado, entristece e toma aversão pelos pecados praticados,
o arrependimento consiste essencialmente em uma mudança de coração, mente e vontade
fazendo brotar um novo desejo para a vida. O arrependimento deve fazer parte da vida
individual de cada um que foi justificado. “A fé, desassociada do arrependimento, de fato
não seria a fé que conduz à salvação.”49 todavia a Justificação não é o todo da salvação,
para que haja Justificação é necessário o arrependimento. Deus é sincero ao chamar a
todos, eleitos e não eleitos, porém só serão capacitados a responder esse chamado os
escolhidos.
Hoekema define o arrependimento com as seguintes palavras:
O retorno consciente da pessoa regenerada, para longe do pecado e
para perto de Deus, numa completa mudança de vida, manifestando-
se numa nova maneira de pensamento, sentimento e vontade.50
Dificilmente poderíamos confundir a doutrina do arrependimento com a
Doutrina da Justificação pela fé, embora a fé esteja intimamente ligada ao arrependimento
ambas doutrinas tem suas definições próprias. Podemos dizer que o justificado
necessita sempre do arrependimento diário em sua vida, pois pecamos e necessitamos do
perdão de Deus em nossas vidas.
2.2.5. Conversão
48 Breve Catecismo Op. cit.. CEP, São Paulo, 1991, Res. 87, p. 431. 49 J.D. Douglas, apud J.Murray , Op. cit. p. 141.
50 Anthony Hoekema, Op. cit. p. 133.
A conversão pode ser definida como o ato consciente de uma pessoa
regenerada, no qual ela se volta para Deus em arrependimento e fé.
Em seu sentido mais rico, a conversão inclui os seguintes elementos:
1.º iluminação da mente, pela qual o pecado é conhecido como ele é
na realidade, um comportamento que desagrada a Deus; 2.º autêntica
tristeza pelo pecado; 3.º humilde confissão de pecado; 4.º ódio pelo
pecado; 5.º retorno a Deus como gracioso Pai em Cristo; 6.º alegria de
coração; 7.º amor genuíno por Deus e pelos outros.51
Como podemos observar, a conversão é bastante abrangente e parte primeiro
de Deus capacitando ao homem que busque a Ele reconhecido que é pecador e tem sua
natureza modificada e passa de agora em diante a buscar o amor de Deus e a comunhão
com os irmãos. Podemos ainda observar que a conversão do homem é uma capacitação
do Espírito Santo, mas que é o homem quem se arrepende e não Deus. a conversão é algo
participativo e vivencial do homem, enquanto que a Justificação pela fé é um ato de Deus
com respeito ao homem, e o prepara para a vida de boas obras nas quais Deus tem
preparado para galardoar segundo o seu próprio conselho divino.
2.2.6. Fé
Consideramos a fé como uma doutrina muito importante em nossa vida, pois é
mediante a fé que seremos justificados. Como havíamos falado no começo a Justificação
mediante a fé, é o meio pelo qual somos justificados
51 Anthony Hoekema, Op. cit. pp. 119,120.
“Deus coloca o homem na relação correta consigo mesmo. Indica-lhe um
caminho à sua mesa. A Justificação cria novo relacionamento com Deus e as pessoas.”52
Essa fé que cada um exerce não é uma fé em alguma coisa que se ouve, mas
é a fé em Cristo como único e suficiente salvador. A fé não é a base para a nossa
justificação, se ela fosse, então seria uma obra meritória, e o apóstolo Paulo não
ousaria pronunciar este veredicto. Somos justificados gratuitamente pela graça de Deus, e
isso mediante a redenção que só existe em Cristo Jesus e mais ninguém (Rm 3:24). É
importante ressaltarmos que foi Cristo Jesus quem satisfez todas as vontades de
Deus e cumpriu cabalmente a lei e os profetas, por isso podemos ficar seguros, porque
somos justos perante Deus através de nosso Justificador Jesus, que recebemos pela fé.
Falamos anteriormente que é Deus quem declara o ímpio justo, porém essa Justificação
não é sem vida e desvinculada do amor de Deus, ela se envolve, preocupa-se e é frutífera
e faz bem ao próximo e esses envolvimentos quando manifestados confirmam a
Justificação pela fé.
“Pela fé o pecador se apropria da justiça do mediador já imputada idealmente a
ele pactum salutis53; e, com base nisto, ele agora é justificado formalmente perante Deus.
A fé justifica na medida em que toma posse de Cristo.”54
Fica claro que a fé é o órgão pelo qual nos apropriamos da Justiça de Cristo
como a base da nossa justificação, não é a fé quem nos salva, é Cristo Jesus quem cumpre
a lei e essa justiça é imputada ao homem.
2.2.7. Obras
52 Leonhard Goppelt. Teologia do Novo Testamento. Vol. 2, Sinodal,/Vozes, São Leopoldo- RS, 1988, p
408. 53 Pactum Salutis é a culpa dos pecados dos eleitos, foi transferida para Cristo, e a Justiça de Cristo lhes
foi imputada. Isso aconteceu no conselho da Redenção.
Não podemos, pelas nossas melhores obras, merecer da mão de
Deus perdão de pecado ou vida eterna, em razão da grande
desproporção que há entre Deus e a glória por vir, e da infinita
distância que existe entre nós e Deus, a quem não podemos ser úteis
por meio deles, sem saldar a dívida dos nossos pecados anteriores, e
porque, como boas, procedem de seu Espírito, e, como nossas, são
impuros e misturadas com tanta fraqueza e imperfeição, que não
podemos suportar a severidade do juízo de Deus; assim , depois que
tivermos feito tudo quanto podemos, temos cumprido tão-somente
o nosso dever, e somos servos inúteis55.
Como temos abordado, as obras tem o seu lugar logo após a salvação, não
como mérito, mas como conseqüências na vida daquele que foi justificado por Deus. A
fé não é a base de nossa justificação e nem as obras, se assim o fossem estaríamos
anulando a obra de Cristo na cruz e estaríamos afirmando a auto – suficiência humana
em detrimento, a obra de Cristo. Porém colocaremos as obras em seu devido lugar
para ter uma compreensão das obras como conseqüência.
As obras devem acompanhar todas as pessoas justificadas.
É por isso que as boas obras do amor seguem a justificação e o novo
nascimento, como evidência necessária deles. A árvore deve vir
primeiro, então o fruto. Pois não é a maçã que faz a árvore, mas a
árvore que fez a maçã. De modo que primeiro a fé faz a pessoa,
que depois produz as obras.56
Uma pessoa que se diz justificada pela fé, essa deve produzir frutos de
arrependimento e prática de boas obras, essas obras apenas confirmam o que o seu
coração está cheio. Se estiver cheio do amor de Deus, fluirá coisas boas, ao contrário
se estiver vazio, não fluirá boas obras.
54 Louis Berkhof, Op. cit. p 526. 55 Confissão de Fé de Westminster , Op. cit. p 85 56 John R.W. Stott. Op. cit. p 168
Em Hb. 13.15,16 mostram claramente o que Deus pede a seus filhos que O
tenham em seus corações que são as manifestações de sua fé em Jesus.
Berkhof diz que “a Justificação do justo pelas obras confirmam a
Justificação pela fé”57. Concordamos , pois cremos que as obras são apenas fruto dos
justificados, não que essas obras justificarão para a salvação. Porém podemos ir um
pouco mais longe em afirmar que a justificação que é pela fé esta deverá confirmar-se
através das obras, pois sem obras não confirmamos a fé, e por si só está morta
Tg. 2:17. Ainda continuamos afirmando a doutrina da justificação pela fé somente,
porém queremos ressaltar o caráter prático dessa justificação que, todo cristão deve ter
como desejo ardente em servir a Cristo e aos irmãos.
Falaremos sobre a questão da fé e obras na Bíblia, onde Tiago dá sua ênfase, e
Paula a sua. Resolveremos a questão assumindo uma posição Bíblica e reformada . “Não
foi por obras que o pai Abraão foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio
filho Isaque?” Tg. 2:21. E Paulo parece contrastar a idéia quando diz: “O homem não é
justificado por obras da lei” Gl. 2:16 Ainda em Rm. 3:28. “Concluímos, pois que o
homem é justificado pela fé, independentemente das obras”. Contrastando com Tg. 2:
24 “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente”.
O que podemos ver nestes homens é que não há contradição entre eles, mas
que estão tratando apenas de assuntos diferentes e passando por situações que não são
iguais. Tiago estava falando de uma justificação por obras “ser justificado, neste sentido,
não quer dizer ser aceito por Deus como justo, e, sim, ser visto como crente genuíno.”58
Tiago estava dizendo que quando uma pessoa é justificado ela dá provas de uma fé
viva e operante provando que realmente ouve justificação nesse homem. Hoekema diz
57 Louis Berkhof. Op. cit. p 525 58 J. I. Packer. Op. cit. p. 133
que Tiago combatendo a idéia errada de se pensar que apenas o intelectualismo bíblico
poderia levar alguém a salvação sem que tenha uma intenção entre a fé e o realizar.
Tg. 2:14.59 Discordamos de Champlin que diz que Abraão foi justificado pela fé junto
com as obras, e que essas obras, praticadas por Abraão foi-lhe imputada para justiça60.
Se for verdade essa afirmação então temos aqui uma contradição bíblica, o que para os
reformados isto é impossível acontecer em toda sua extensão. Dagg nos mostra fortes
razões para não crer em alguma obra meritória do homem, ele diz que as obras devem ser
excluídas como ato para salvação pois implicaria em uma imperfeição na obra de
Cristo, daria ao homem motivos para se gloriar perante Deus, e que Tiago estava
mostrando apenas que as obras de Abraão, foi a confirmação da justificação que já
estava em seu coração Tg.2:1861. Claro que podemos afirmar que o homem não é
justificado pelos seus méritos ou obras, mas que as praticas inevitáveis de boas ações
confirmam a fé justificadora. “ Significa que o indivíduo demonstra a existência da sua fé
através de suas ações impelidas por essa fé”62. Como temos visto, Tiago vê a fé
justificadora a partir da confirmação das obras, e que vivemos em Paulo é a justificação
pela fé que trás conseqüências as boas obras.
“Paulo, em sua argumentação, sempre usa a expressão obras da lei, ou obras
de lei (Erga Nomou ), quando diz que somos justificado à parte das obras (Rm. 3.20,28;
Gl. 2:16)”63. O que Paulo falava sobre justificação, era num sentido de retidão
produzido por alguém que foi justificado. Em Gl. 5:6 vemos Paulo falar da fé que atua
pelo amor, logicamente Paulo não deixa transparecer que uma fé morta e sem ação
59 Hoekema Op. cit. p. 167 60 Champlin Op. cit. pp.162/3
61 John L. Dagg, Op. cit. p.218 62 J.D. Dougas, Op. cit. p. 900 63 Anthony Hoekema, Op. cit. p. 167
pode atuar pelo amor, Paulo fala da justificação pela fé e as obras sempre devem
acompanhar todo aquele que verdadeiramente ama a Deus. “É na terminologia, e não no
pensamento, que Tiago difere de Paulo.”64Continuamos afirmando que somente fé e
mais nada não comprova a justificação, isso seria fé morta , mas o que podemos ver
em Abraão foi uma fé ativa que coloca seu próprio filho à prova mostrando a total
confiança em Deus e na sua providência, ele creu, e isso lhe foi imputado para a sua
justiça.
Paulo concordaria com Tiago que só a fé viva justifica . Paulo e
Tiago concordariam com o dito de Calvino. É a fé sozinha que nos
justifica, contudo, a fé que justifica não está sozinha”65.
Paulo falava da justificação pela fé, fé essa que deve ser viva e deve ser
demonstrada no dia –a- dia por todos àqueles que verdadeiramente amam a Jesus.
64 Enciclopédia Histórico Teológico, Vol.II. J.I.Packer. Art. Justificação, Ed. Vida Nova, São Paulo, 1990
p 386 65 Anthony Hoekema, Op. cit. p.169
III. O CONCEITO REFORMADO DA DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
O que veremos neste capitulo é o conceito reformado sobre a justificação
pela fé. Os teólogos não se divergem em suas posições, pois vemos que a justificação
está nos méritos de Cristo em ter cumprido estritamente toda vontade de Deus, e como
sendo o nosso “representante federal”,66 nos garante a justificação que aos homens é
impossível sem Cristo.
3.1. A Justificação pela fé
“A fé não é a base da justificação; se o fosse, a fé tornar-se-ia uma obra
meritória, e Paulo não teria sido capaz de descrever o crente que não trabalha, porém crê
(Rm 4:5).”67 A justificação é pela fé, porém a fé não é a base da justificação, a fé é apenas
66 Representante federal – significa que Ele foi escolhido por Deus para ser assim como Adão o foi, um
representante federal de toda a humanidade. Adão transmitiu o pecado original , Cristo como nosso
representante perdoa-nos. Cf. Berkhof , Op. cit. p 271 67 J.I. Packer. Op. cit, p. 130.
um instrumento pelo qual recebemos a Cristo, a base de nossa justificação é a morte, o
sacrifício de Jesus na cruz, isso sim é a nossa base. “A doutrina da justificação condena
todo esforço tendente à auto justificação.”68 Afirmamos que é Deus quem nos justifica, e
não o esforço do homem através de obras ou sua fé, a justificação é um ato único de
Deus e não um processo.
Essas argumentações para nós são importantes, pois nos esclarecem a respeito
daquilo que cremos.
“Paulo diz que os crentes são justificados “dia Pisteõs” (Rm. 3:25), Pistei
(Rm 3:28), e ek pisteõs, (Rm 3:30). O dativo e a preposição “dia” representam a fé como
o meio instrumental mediante o qual Cristo e Sua justiça são recebidos; a proposição ek
demonstra que a fé ocasiona, e logicamente antecede, nossa justificação pessoal.”69 Paulo
nega veementemente que somos justificados por causa da fé, até porque se a fé fosse a
base da nossa justificação, a fé seria meritória e não uma graça de Deus.
“A fé é antes, as mãos vazias de uma alma crente que se estende para aquele
que Justifica os ímpios na base da misericórdia somente.”70 Concordamos aqui com essa
expressão, pois nós não temos nada a oferecer a Deus que possa nos justificar de nossos
pecados ou nos fazer justos por meio de alguma coisa existente em nós. Aquele que no
entanto crê passa imediatamente através da fé a ficar cheio de Deus. para nós que cremos
em Cristo como nosso Justificador o sangue de Cristo é o pagamento da nossa pena, se
não fosse o sangue de Jesus estaríamos condenados para sempre, quando Cristo obedeceu
toda lei, Ele cumpriu por nós totalmente essa lei. (Rm. 5:9), somos salvos da ira de Deus
por causa do sangue de Cristo, Ele nos guarda para a salvação final de modo que todos
que foram justificados serão salvos por Deus em amor através da morte vicária de Cristo.
68 James Kennedy. Verdades que Transformam. Ed. Fiel, São Paulo, 1981, p. 87. 69 Walter Elwell, A . Enciclopédia Histórico Teológica vol.II. Ed. Vida Nova, São Paulo, 1990, p. 390.
“No exercício da fé todo o mérito é renunciada e total dependência é posta
sobre os méritos de Cristo. Por isso que a fé é o oposto de obras.”71
É o livro de Romanos que trata mais profundamente do tema da justificação
pela fé (Rm 3:20; 3:24; 5:1; 5:9; 5:19) ; onde podemos ver que o que Deus usa para a
salvação do homem é o sangue derramado e a obediência de Cristo. (Rm 3: 20), neste
texto Paulo usa o argumento da impossibilidade humana de alcançar a justificação pela
lei, porque a lei nos faz ver que somos miseráveis pecadores (Rm 3.24), somos
justificados gratuitamente pela graça, mediante o sacrifício de Cristo. É um ato final, e
irreversível de Deus que nos dá a redenção, que foi a liberdade obtida por meio do
pagamento de um preço, a morte de Cristo. Só podemos ver graça, amor, cuidado e
atenção da parte de Deus, enquanto que da parte humana só conseguimos ver a total
incapacidade de se justificar. O muro da separação de Deus e o homem agora foi
removido totalmente, temos paz permanente com Deus. (Rm. 5:1).
Concordamos com J. D. Pentecost quando ele diz: “A graça é o favor de Deus
concedido aos pecadores, a fim de conferir-lhes aquilo que jamais poderiam alcançar por
seus próprios méritos, deixando de lado a sentença por eles merecida.”72 Deus em Cristo
esquece de nosso pecado, perdoa e nos faz justificados e certos do que gozaremos das
bênçãos eternas.
O único meio para a nossa justificação é a fé no sacrifício de Cristo, Ele é a
nossa única esperança, Ele é a única solução para o nosso caso perdido “A fé é o olho que
olha para Cristo, a mão que o segura, a boca que bebe a água da vida.”73. Sem Cristo não
haveria para onde a nossa fé olhar, sem Cristo não haveria em que segurar e a nossa boca
70 Bruce Bickel apud John H. Armstrong, Justificação Pela fé. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, p. 106. 71 John, L. Dagg. Manual de Teologia. Ed. Fiel, São José dos Campos – SP, 1998, p. 214. 72 J. Dwight Pentecost. A Sã Doutrina. Ed. Mundo Cristão, São Paulo, 1981, p. 98. 73 John R. W. Stott. Op. cit. p. 167.
estaria seca, sem ter o que beber, Ele é a nossa fonte é o nosso tudo, sem Cristo a
justificação se resultaria a nada, não adiantaria ter fé.
Enquanto o fundamento da justificação é a morte de Cristo, o meio
pelo qual a justificação se torna eficaz para o indivíduo é a fé. A
justificação é uma dádiva concedida para ser recebida pela fé
(Rm. 3:24,25). A fé significa aceitação desta obra de Deus em
Cristo, confiança completa nEle, e um abandono total das próprias
obras como o fundamento da justificação74.
A justificação por nós afirmada sempre tem assumido essa postura em dizer
que o fundamento é a morte e o meio é a fé, essas duas partes na justificação devem andar
sempre juntas para se evitar dificuldades na compreensão da doutrina.
3.2. A Imputação da Justificação
A imputação da justificação acontece quando Deus considera a justiça de
Cristo como se fosse nossa. Cristo é o nosso representante federal, assim como para o
não cristão o seu representante continua sendo Adão, e o seu pecado . Deus perdoa os
nossos pecados e nos imputa a justiça de Cristo (II Co 5:21), significa computar,
colocar na conta de outra pessoa.
A imputação se refere àquilo que Cristo fez em nosso lugar, morreu como
cordeiro para nos creditar a sua justiça como nosso representante.
“Quando dizemos que Deus nos imputa a justiça de Cristo, queremos dizer que
Deus considera a justiça de Cristo como pertencente a nós. Ele a credita em nossa
conta.”75
74 George Eldon Ladd. Teologia do Novo Testamento. Ed. Exodus, São Paulo, 1997, p. 418/19 75 Wayne Grudem. Op. cit. p. 607.
Seguramente essa Justiça de Cristo passa a ser creditada a nós, de maneira tal
que a justiça dEle passa a nos pertencer.
Os meios que Deus emprega para essa imputação são: o sacrifício de Cristo e
a nossa fé como apropriação, valendo lembrar que essa fé não é um mérito e sim
instrumento.
Sabendo que a imputação de Cristo em nossa vida é um fato bíblico, podemos
salientar a idéia de que “o fardo do pecado foi retirado dos ombros deles e que eles foram
justificados.”76 Isso mostra que a culpa dos pecados dos eleitos foi transferida, imputada a
Cristo, podemos estar seguros do amor de Deus que nos garante a vida eterna desde antes
da fundação do mundo.
Em Rm 3:24, somos justificados gratuitamente por sua graça. “Esta
justificação é, um ato livre da graça de Deus, no qual Ele perdoa todos os nossos pecados,
e nos aceita como justos diante de si.”77 Os teólogos reformados tem concordado com as
mesmas posições referentes à justificação pela fé. “A justificação é algo completamente
imerecido. Não é uma conquista.”78
Na visão dos teólogos reformados como estamos observando não há diferenças
quanto o que se crê. Se Deus nos justifica através de Cristo, pressupõe-se automaticamente
que somos pecadores, e somente como pecadores é que poderemos ser justificados, até
porque não faria sentido Deus justificar alguém justo ou parcialmente justo. Quando
cremos “somos desmascarados pelo tremendo juízo divino.”79
A justificação é imputada a nós, e nos faz unidos com Cristo.
76 Louis Berkhof. Op. cit. p. 522. 77 F.F. Bruce. Introdução e Comentário de Romanos. Ed. Mundo Cristão, São Paulo, 1986, p. 84. 78 Millard J. Erickson. Introdução a Teologia Sistemática. Ed. Vida Nova, São Paulo, 1998, p. 409.
3.3. A Base para Justificação
Como havíamos dito, não é a fé meritória ou alguma coisa inerente a nós, mas
o sacrifício de Jesus é o firme fundamento para a nossa justificação. Com respeito a base
da justificação pela fé os reformadores nos ensinaram.
3.3.1. Negativamente
A palavra negativamente diz respeito ao homem, que não existe nada que o
possa tornar justo. Não há virtude alguma no homem nem em suas obras. A igreja de
Roma ensina que o pecador é justificado com base na justiça inerente que foi infundida
em seu coração80. Discordamos deste pensamento romano, porque essa justiça é
imperfeita e continua por toda a vida no indivíduo, e se Deus é quem dá essa justiça,
já é o fruto da graça de Deus em nossa vidas, e mesmo que o homem pratique boas obras,
essas boas obras já estão contaminadas pelo pecado, sendo então insatisfatória, a
justificação por Cristo. Somos justificados pela graça de Deus gratuitamente, sem que
nós merecêssemos alguma coisa (Rm.3:24). Somos justificados pela fé em Cristo Jesus,
pois depositamos nEle a fé (Rm.3:26). Não anulamos a lei, mas, confirmamos pela fé a
lei de Deus (Rm. 3:31)
79 Carle E. Braaten; & Robert N. Jenson. Dogmática Cristã. Vol. II, Ed. Sinodal, São Paulo, p. 415.
3.3.2. Positivamente
A palavra positivamente diz respeito à ação de Cristo como justificador. A
base da justificação se acha na perfeita justiça de Cristo, justiça que é imputada ao
pecador na justificação (I Co 1:30). Somos de Jesus e Ele se fez justiça por nós ,
(II Co 5.21). Cristo se fez maldição por nós (Gl. 3:13), o homem havia quebrado a
aliança feita com Deus, desobedecendo a lei, tornando-se merecedor da condenação
eterna. Cristo leva para Si a maldição que para nós era cabível, nos trazendo novamente a
paz com Deus. Podemos notar que neste texto o sacrifício de Jesus é a base para o
perdão de nosso pecado, nos dá a vida eterna e nos faz filhos de Deus.
A base da nossa justificação é Cristo, como Adão foi o nosso representante
pelo pecado, Cristo é o nosso representante para a nossa salvação.
Cristo foi o único capaz de ser o nosso representante legal diante de Deus.
lembremos de João Batista “eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).
Somente Cristo é quem pode nos resgatar do juízo justo de Deus, e nada poderia aplacar a
ira justa , a não ser Cristo com sua morte no calvário imputada a nós.
Os textos que falam da Justificação são muitos, porém destacaremos alguns:
(Rm 4:5; Is 5:23; Rm 1:18; 3:20; Sl 145:17; Dt 32:4; Rm 7:12; Dt 4:8; Sl 7:11; etc.)
80 Louis Berkhof. Op. cit. p. 527.
Cristo expiou os nossos pecados na cruz de modo eficaz, nos levando a Deus e
nos inocentando diante de sua lei que antes éramos culpados. Essa justificação acontece
quando nos apropriamos de Cristo pela fé.
Podemos afirmar com toda segurança, que a base de nossa justificação, é Jesus
Cristo morto e ressuscitado (Mc 8:31), e que exerce junto de Deus a sua função como
advogado (I Jo 2:1) nos inocentando da condenação eterna que cabe a todos os
transgressores da lei de Deus (Gl. 3:13).
3.4. A Justificação e a União com Cristo
I Co 1:30 – “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte
de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.”81
A Bíblia tem nos mostrado que para sermos justificados de nossos pecados,
devemos estar unidos a Cristo, para que a justificação seja perfeita precisamos ser
regenerados (Ef. 2:10; II Co. 5:17) perseveramos na vida de fé em união com Cristo,
(Jo10:7,28).
Paulo afirma que Cristo foi feito nossa justiça. Por isto ele quer dizer que em
seu Nome fomos aceitos por Deus, porque ele fez expiação por nossos pecados por meio
de sua morte, e sua obediência nos é imputada para justiça. Porque, visto que a justiça da
fé consiste na remissão de pecados e na graciosa aceitação, nós obtemos ambas através de
Cristo.82
A explicação que podemos dar é que somos ligados a Cristo espiritualmente e
que a satisfação da lei através de Jesus é imputada a nós (Gl. 2:20). “Somos justificados na
81 João Ferreira de Almeida, A Bíblia Sagrada, Revista Atualizada, 1994, p. 159. 82 João Calvino. Comentário de Romanos. Ed. Paracletos, São Paulo, 1996, p. 71.
união com Cristo. Entendemos por justificação o ato de Deus pelo qual ele imputa
(atribui o crédito) aos crentes a perfeita satisfação e justiça de Cristo de tal forma que
todos seus pecados são perdoados e eles são considerados perfeitamente justos aos olhos
de Deus”83.
John L. Dagg nos faz lembrar que “Assim como Adão foi o cabeça natural de
sua posteridade, assim Cristo é o cabeça espiritual de Seu povo.”84
Todos nós nascemos com o pecado de Adão, não que quiséssemos, ele foi o
nosso representante federal, que são unidos a Cristo Jesus como nosso representante são
justificados porque Cristo agora é o nosso representante, Ele é a nossa justiça.
Não apenas recebemos, ou compartilhamos, mas - tornamo-nos
identificados com, a justiça de Deus. isso, porém, só acontece nele.
Quando estamos em Cristo, Deus nos vê, não como estivéssemos em
pecado, mas em Cristo – impecavelmente justos.85
A doutrina da justificação pela fé é muito importante para, compreensão e
esclarecimento da igreja. A igreja que estiver firme na doutrina terá condição de seguir
firme em passos triunfantes em direção a Cristo, não estará sujeita a cair em qualquer erro
doutrinário ou de conduta pecaminosa pondo em risco a igreja de Cristo.
“ Pode-se definir a união mística como união íntima, vital e espiritual entre
Cristo e o Seu povo , em virtude da qual Ele é a fonte da sua vida e de poder, da sua
bendita ventura e salvação.”86
Essa união mística aconteceu na aliança eterna antes da fundação do mundo
no conselho da redenção. A justificação aconteceu desde a eternidade. Recebemos essas
83 Anthony Hoekema. Op. cit. p. 167 84 John L. Dagg. Op. cit. p. 217. 85 Anthony Hoekema. Op. cit. 68. 86 Berkhof, Op. cit. p 451
bênçãos espirituais sobre nossas vidas , porque a união mística é fundamental na
justificação pela fé.
Em Jo, 15:5, vemos que é uma união íntima que nos faz lembrar a videira
e os ramos ligados um ao outro gerando vida. O mesmo é falado sobre a união como
esposo e esposa, Ef. 5:23-32.
É importante dizermos que essa união não é a justificação , pois somos
justificado pela fé somente, através da morte de Cristo, e isso acontece em um
determinado tempo.
Berkhof nos mostra algumas características dessa união mística.
1. É uma união orgânica . Cristo e os crentes formam um corpo. Nesta união
orgânica é preciso ficar claro que Cristo é o cabeça e a igreja o corpo, Jo. 15:5.
2. É uma união vital. Nesta união, Cristo é o princípio vitalizador e
dominante de todo corpo de crentes. É a vida de Cristo animando e habitando os
crentes. Rm. 8:10.
3. É uma união mediada pelo Espírito Santo. Mediante o Espírito Santo,
Cristo agora habita nos crentes, une-os a Si e os entrelaça numa unidade santa I Co.
6:17.
4. É uma união que implica ação recíproca. O ato inicial é de Cristo, que une
os crentes a Si regenerando-os e, deste modo, produzindo fé no interior deles. Jo. 14:23,
Gl. 2:20.
5. É uma união pessoal. Todo crente está unido pessoal e diretamente a
Cristo. Todo crente está vinculado a Cristo Ef. 3. 17,18. II Co. 5:17.
6. É uma união transformadora. Por esta união os crentes são transformados
à imagem de Cristo , segundo a Sua natureza humana. Participam dos sofrimentos,
morrem e são ressuscitados em novidade de vida, com Cristo. Mt. 16:2487
Continuando apoiado pelas Escrituras em Rm. 8:30, somos unidos a Cristo, e
justificados em seu nome.
Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar todos os eleitos; e
Cristo no cumprimento do tempo, morreu pelos pecados deles e
ressuscitou para a justificação deles; contudo, eles não são
justificados até que o Espírito Santo, no tempo próprio e de fato,
comunica-lhes Cristo.88
Essa união é totalmente necessária para que a igreja continue viva e forte.
Sem essa união vital seria impossível a sobrevivência e permanência da igreja de Jesus.
.
3.5 A Justificação é Forense
A justificação forense “tem a ver com um julgamento dado, declarado,
pronunciado; é judicial ou jurídico ou forense. A justificação significa declarar ou
pronunciar alguém como sendo justo.”89
Para que sejamos justificados precisa haver um pronunciamento de um juiz.
No nosso caso estamos falando de Deus como o juiz justo que nos dá uma sentença, e essa
sentença dada por Deus envolve amor. Somos compelidos, impulsionados a vivermos
vida que dignifica Deus.
“Deus nos declara ou nos pronuncia justos ..., somente com base na justiça de
Cristo.”90
87 Berkhof. Op.cit, pp. 452/53 88 Confissão de Fé de Westiminster. Cap. XI, artig IV, p 68 89 John Murray. Op. cit. pp. 135-6. 90 Anthony Hoekema. Op. cit. p. 180.
Deus não vê nada no homem que possa merecer a justificação de sua parte, por
isso Deus nos vê através de Cristo. Depois é que somos visto por Deus
“É a justiça inerente de Cristo e não a justiça do crente que é o fundamento de
nossa justificação.”91 Quando Deus declara-nos justos, com certeza Ele não leva em conta
a nossa justiça, fé ou obras, mas o que é apresentado é a santa e perfeita justiça de Cristo,
desse modo Deus vê sua justiça sendo saciada.
Pv. 17:15- “O que justifica o perverso e o que condena o justo abomináveis são
para o Senhor, tanto um como o outro.”
Vejamos o que Grudem diz:
Aqui a idéia de declaração legal é particularmente forte. Por certo não
seria abominável para o Senhor se justificar significasse fazer com que
alguém se torne bom ou justo por dentro. Nesse caso, justificar o
perverso seria uma coisa muito boa à vista de Deus. Mas se justificar
significa declarar justo, então é perfeitamente claro porque o que
justifica o perverso é a abominável para o Senhor.92
A justificação pela fé na visão dos teólogos reformados nos mostra que sendo
pecadores jamais obteremos a justificação pelo esforço próprio ou que pela luta espiritual
conjunta possa merecer a justificação.
Se somos pecadores, somos totalmente incapazes de nos salvar. Se o homem
através da fé ou qualquer outro merecimento lhe é atribuído, a não ser Cristo, então
anularemos tudo o que Jesus conquistou na cruz; agora se dissermos que através de
Cristo sua justiça nos é imputada por meio de nossa fé, só assim estaremos dentro do que
a Bíblia nos ensina
91 R.C. Sproul. Op. cit. pp. 36-7. 92 Wayne Grudem. Op. cit. p. 605.
Somos justificados pela fé em Cristo, Deus perdoa os nossos pecados, e a
única coisa que nos cabe fazer é aceitar o seu perdão pela fé, e viver de forma digna de
quem aceitou a Cristo.
“A justificação é o pronunciamento do juiz justo de que o homem em Cristo é
justo...”93 Podemos dizer que Deus nos declara justos por meio da fé e que todo mérito é
de Cristo e não do homem.
Infelizmente a doutrina católica afirma que a justificação pela fé, e as obras, é
um processo que anda junto com a santificação.
Deus nos declara justos por meio de Jesus, agora podemos ter esta certeza de
que nada poderá nos separar de seu amor, podemos estar certos que ninguém nos
arrebatará de suas divinas mãos.
3.6. A Justificação pela Fé é Escatológica
“Isso quer dizer que o veredicto que Deus pronunciará sobre nós no dia de
Juízo foi trazido para o presente. Não precisamos temer o dia do Juízo; nós que cremos
em Cristo passamos da morte para a vida. (Jo 5:24).”94
Todos nós sabemos que haverá o dia do Juízo final, e Deus julgará os povo
separando as ovelhas dos cabritos.
Fomos, justificados por Deus e nada mudará esse veredicto nos dando total
segurança no dia vindouro, ninguém nos acusará de alguma coisa (Rm 8:33). Podemos
cantar em tom triunfal como diz em Rm 8:37, “mas em todas estas coisas somos mais que
93 George Eldon Ladd. Op. cit. p. 414. 94 Anthony Hoekema. op. cit. p. 183.
vencedores, por aquele que nos amou.”95 Somos justificados mas ainda somos pecadores,
porém, sendo pecadores, Deus nos perdoa os pecados todos os dias, pois a ação do
Espírito em nossos corações nos faz arrependermos e crermos mais e mais confirmando
tudo o que Cristo fez. Podemos afirmar que Cristo morreu e nos justificou, mesmo assim
continuamos a pecar, porém a condenação de nossos pecados foram eliminados de uma
vez para sempre.
A justificação, que primeiramente significa absolvição no juízo final, já
aconteceu no presente. O juízo escatológico não está mais apenas no futuro, tornou-se um
veredicto na história. A justificação, que pertence ao Século Vindouro e resulta na
salvação futura, tornou-se uma realidade presente desde que o século vindouro retornou à
presente idade má, para trazer suas bênçãos soteriológicas aos homens.96
Fomos pois, absolvidos da condenação eterna, a luz já veio ao mundo, no
entanto apropriamo-nos dessa luz que é Jesus pela fé, e passamos de injustos para
justificados.
O juízo escatológico está presente na Bíblia mostrando que já não há mais
condenação para os que estão em Cristo, e que esse dia de julgamento na realidade servirá
para nos garantir ainda mais a vitória futura.
“Deus absolveu, em Cristo, o crente; logo, ele está certo da libertação da ira
divina (Rm 5:9), e não há mais condenação para ele (Rm 8:1).”97
A justificação pela fé num aspecto escatológico é uma bênção especial de
Deus à nossa vida, pois já não existe mais a dúvida se Deus em Cristo perdoou ou não os
nossos pecados, se no Juízo final Deus pode dar um julgamento que nos condena à morte.
95 Bíblia de Genebra. Op. cit. p. 1332. 96 Georg Eldon Ladd. Op. cit. p. 413. 97 Idem Op. cit. p. 414.
Em Gl 5:5 lemos: “Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da
justiça que provém da fé.”98 A esperança da justiça que provém da fé é justamente a
certeza de se estar absolvido da condenação. Vivemos com a esperança e a fé de que foi
Cristo quem nos justificou, sendo que em nós não mais precisamos recorrer a outro
recurso se não o de Jesus ter cumprido tudo por nós e em nosso lugar.
Podemos já no presente gozar da certeza das bênçãos futuras que estão
reservadas para aqueles que são justificados.
Deus em Cristo nos escolheu e nos justificou, daí podemos dizer que a
esperança e o amor de Deus nos incentiva a andar sempre em novidade de vida (Rm. 6:4),
e esse andar deve dar-se em qualidade de vida, nunca deve ser ao contrário, por aquilo que
fazemos, é que recebemos a justificação.
“A nova comunidade de Jesus é uma comunidade escatológica que já vive na
nova era que Ele inaugurou. Pois a justificação é um evento escatológico. Ela traz ao
presente o veredicto do juízo final. É por isso que a igreja é uma comunidade de
esperança, que aguarda com confiança humilde o futuro.”99
Vivemos essa esperança, porque só é embasada pelo sacrifício vicário de
Cristo.
3.7. Justificação Ativa
98 Bíblia de Genebra. Op. cit. p. 1396. 99 John R.W. Stott. Op. cit. pp. 171-72.
“Justificação Ativa significa que Cristo obedeceu fielmente tudo o que lhe
foi ordenado por Deus”100.
O pecador é declarado justo em vista do fato de que a justiça de Cristo
lhe é imputada. Nesta transação Deus comparece, não como um
Soberano absoluto que simplesmente põe de lado a lei, mas como um
juiz justo, que reconhece os méritos infinitos de Cristo como uma base
suficiente para a justificação, e como um Pai misericordioso, que
perdoa e aceita graciosamente o pecador.101
Essa obediência ativa de Cristo significa basicamente que Ele (Cristo)
guardou a lei de Deus perfeitamente e que essa obediência da lei de Deus começou desde
criança até sua fase adulta, Cristo cumpriu fielmente por nós toda lei de Deus.
“Através da obediência à lei, Cristo cumpriu perfeitamente a lei por nós,
adquirindo para nós o direito de sermos adotados como filhos de Deus e de termos a vida
eterna.”102
Jesus cumpriu fielmente os preceitos que a lei exigia do homem, mostrando
assim que nem Adão conseguiu isso por nós, mas Cristo foi vitorioso cumprindo
fielmente a lei. II Co 5:21 “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós;
para que, Nele, fôssemos feitos justiça de Deus.”
Cristo foi o nosso substituto que cumpriu cabalmente toda a lei, Jesus não
cometeu nenhum pecado sendo o único perfeito para cumprir a lei de Deus.
“Tendo nascido sob a lei, Cristo se tornou nosso substituto, e a sua obediência
e sofrimento são postos em nossa conta, como se nós tivéssemos pessoalmente obedecido e
padecido para satisfazer plenamente a lei.”103
100 Anthony Hoekema Op. Cit. p. 188 101 Louis Berkhof. Op. cit. p. 521. 102 Anthony Hoekema. Op. cit. p. 188. 103 John L. Dagg. Op. cit. p. 215.
Com certeza podemos afirmar que cumprimos plenamente a lei e satisfizemos
a vontade de Deus, pois mais uma vez Cristo cumpriu e satisfaz a lei por nós.
A justiça ativa de Cristo foi realizada em favor dos homens, para que pudesse
receber de Deus a vida eterna.
“A justiça de Cristo é a justiça de sua perfeita obediência, uma justiça
imaculada e imaculável, uma justiça que não somente garante a justiça do ímpio, mas
também aquela que necessariamente suscita e complete tal justificação.”104
Deus pela sua livre graça reconstitui o seu relacionamento com o homem e
mais ainda num sentido paternal. O homem pecador que era não podia se relacionar com o
Deus totalmente santo sem pecado, Seu plano santo faz com que esse homem possa
retornar ao amor paternal através da fé em Jesus Cristo.
3.8. Justificação Passiva
“Justificação Passiva significa um sofrimento penal para remissão de
pecados”105.
Se a justificação ativa de Cristo consiste em obedecer a lei, a justificação
Passiva consiste nos “sofrimentos de Cristo, culminando com sua morte na cruz.”106
Todo o sofrimento que Cristo passou, a causa foi para cumprir os propósitos
divinos tendo em vista o amor dos que foram predestinados. Os sofrimentos de Jesus
tiveram o seu ponto culminante na cruz, mas durante todo trajeto de sua vida Cristo estava
sofrendo pelos pecados que seriam colocados sobre os seus ombros.
104 John Murray. Op. cit. p. 138. 105 Anthony Hoekema. Op. cit. p.188 106 Ibidem.
Os sofrimentos dos homens nada significam, se Cristo não sofresse por eles. Os
sofrimentos de Cristo trás luz e vida ao homem, foi o único sofrimento que Deus pode
aceitar como substituto da humanidade. Para salvação o sofrimento humano de nada vale,
pois o pecado é o que impera nos corações.
Em I Pe 3:18 lemos: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos
pecados...”. Foi pelos nossos pecados que Cristo morreu, a sua morte não teve outro
objetivo se não a justificação do homem que em termos de lei estava sem saída. Nos
apropriamos dessa justificação por meio da fé.
“Porém a fé, deve-se lembrar, é um ato ou exercício da parte do homem. Não é
Deus quem crê em Jesus Cristo, e, assim, o pecador que está sendo justificado. Fé,
portanto, é um instrumento indispensável em conexão com a justificação. Somos
justificados por fé, e fé é o pré-requisito.”107
Foi através dos sofrimentos de Cristo que levou toda a humanidade a
reconciliar com Deus. Adão tinha todas as condições para não pecar, estava fisicamente
sustentado, era um homem que tinha todas as forças para seguir firme, Deus era o seu
amigo, andava com Ele, porém não obedeceu a Deus e levou toda a humanidade as ruínas
eterna, colocando o homem em uma condição totalmente depravada. Ao contrário de
Cristo, através da justificação passiva, Ele conseguiu suportar toda dor, e sofrimento que
podia existir, passou fome e sede, seu corpo ficou fraco, debilitado, se sentiu abandonado e
rejeitado por seu Pai, porém, Ele não podia pecar, Ele tinha de obedecer a lei de Deus, pois
o que Ele tinha em mente, era toda a humanidade dos eleitos no qual seu propósito, era
morrer por eles.
107 John Murray. Op. cit. p. 144.
“Deus nos declara justos ou justificados, porque Jesus tomou sobre si a culpa
do nosso pecado. E como a obra de Cristo foi completa, podemos ter completa segurança
da salvação.”108
3.8.1. Definição sobre Justificação pela fé no Pensamento dos Teólogos Reformados e
suas ênfases.
Os conceitos a seguir nos darão uma visão sobre o pensamento dos teólogos
reformados sobre a justificação pela fé, e suas ênfases.
“A fé é o meio através de que a obra de Cristo é pessoalmente apropriada.”109
Ladd mostra que o papel da fé na justificação é ser o meio pelo qual a obra de Cristo é
aceita pelo homem e que essa fé não é a causa da salvação, ele dá ênfase totalmente na
pessoa e obra de Cristo.
A salvação foi concluída por Cristo, mas para que o homem possa ser aceito
por Deus é necessário crer em Cristo Jesus e aceitá-Lo como único e suficiente salvador.
O Dr. John H. Armstrong diz: “ A justiça que com justa causa declara o
pecador estar correto com Deus é apropriadamente compreendida como sendo imputada a
esse pecador na base única da fé.”110
Cristo é o nosso justificador, Ele foi o único capaz de concluir a obra que
Deus havia confiado em suas mãos. Passamos a nos apropriar dessa obra salvadora através
da fé que é imputada a todo aquele que O aceita. Essa é a base, o firme fundamento, que a
doutrina reformada se apóia.
108 Adão Carlos Nascimento. Curso para Catecúmenos. Ed. SOCEP, Santa Bárbara do Oeste – SP, 1995, p.
57. 109 George Eldon Ladd. Op. cit. p. 419. 110 Bruce Bickel Apud Joh H. Aermstrong.. Op. cit. pp. 99-100.
A graça e a fé pertencem indissoluvelmente uma à outra, uma vez que
a única função da fé é receber o que a graça livremente oferece. Não
somos, pois, justificados por nossa fé, mas pela graça de Deus e pelo
sangue de Cristo. A graça de Deus é a fonte e o sangue de Cristo o
fundamento de nossa justificação; a fé não passa do meio pelo qual
somos unidos a Cristo.111
Graça e fé andam juntas, a graça oferece e a fé aceita de modo que o sangue de
Cristo é o selo pelo qual a graça e a fé si vinculam.
Na visão de Stott, a fé assume um papel fundamental na salvação, embora a
graça de Deus esteja presente e o sacrifício vicário de Jesus, a fé é o meio pelo qual todo
pecador é unido à Cristo como seu salvador.
A fé não somente é o meio, mas é o único meio pelo qual recebemos a Cristo,
ele não coloca qualquer outra coisa que se aproxima ou substitua a fé como meio de
salvação. por isso podemos dizer com a certeza de que somos justificados mediante a fé
em Cristo Jesus.
“Justificação é isto: Deus coloca o homem na relação correta consigo mesmo.
Indicando-lhe um lugar à sua mesa. Ocupar esse lugar para nele viver, eis o que significa
crer.”112
A justificação leva consigo a reconciliação, pois se somos justificados pela fé,
logo em seguida somos reconciliados com o nosso Pai celestial que tem um amor especial
por seus filhos, passamos a fazer parte da família celestial em amor, e todas essas bênçãos
são adquiridas e apropriadas pela fé em Cristo.
As conseqüências da justificação pela fé é que somos reconciliados com Deus
e também somos adotados como filhos de Deus, essa posse passamos tê-la apartir do
111 John R. W. Stott. Op. cit. p. 170. 112 Leonhard Goppelt. Op. cit. p. 408.
momento em que aceitamos Cristo como nosso salvador, e a nossa vida é transformada por
Deus.
Deus os considera justos, declarando-os como tais, não porque eles
tenham guardado pessoalmente a sua lei (o que seria um falso juízo),
mas porque Ele os considera unidos pela fé àquele que observou
representativamente a lei ( e este é um juízo veraz) . assim, os
pecadores são justificados justamente, devido à observação obediente
de Cristo à lei e pelo derramamento do seu sangue.113
A obra de Cristo foi completa, nos declara justos, e morre por nós, assim se
segue que essa obra maravilhosa só poderá nos atingir através da fé. Jesus foi o justo juiz
que morreu e derramou o seu precioso sangue em nosso favor, para nos garantir a vitória
sobre a morte e nos dar a certeza da vida eterna. O sangue de Cristo foi o pagamento pelos
nossos pecados, esse pagamento foi muito alto custando a própria vida de Jesus (I Co
6:20a). A Escritura mostra Jesus como sendo a única e base da nossa justificação, sem
Cristo e seu sacrifício o homem estaria em total desgraça e condenação, sem o sacrifício
vicário só nos restaria acatar a decisão do Justo juiz e pagar a dívida eternamente no
inferno.
Pela fé o pecador, como o ímpio, vem a Deus, que justifica ao ímpio
através de Cristo, que morreu pelos ímpios (Rm 5:6). Não apresenta
nenhum argumento, nem entretém esperança alguma na base de
mérito pessoal; antes, depende totalmente do sangue e da obediência
de Cristo.114
Dagg, também mostra-se bastante firme em suas declarações, pois a
justificação pela fé não está nos méritos humanos mas no sangue derramado e a
113 J.I. Packer. Op. cit. p. 130. 114 John L. Dagg. Op. cit. p. 214.
obediência de Cristo, sem o qual não poderá obter salvação. Cristo é o único caminho,
verdade e vida que nos conduz a Deus o nosso criador e restaurador de nossas vidas.
Se observarmos a justificação pela fé nos faz santos e perfeitos através do
sangue de Jesus que Ele mesmo conquistou por nós. Pelo sacrifício de Jesus os nossos
pecados são perdoados e há uma restauração de relacionamento entre Deus o criador, e o
homem justificado.
Diz a Escritura que somos justificados Dia Pisteos, Ek Pisteos, ou
Pistei (dativo). Rm 3:25, 28,30; 5:1; Gl 2:16; Fp 3:9. A preposição
Dia salienta o fato de que a fé é o instrumento pelo qual nos
apropriamos de Cristo e Sua justiça.”115
Como temos afirmado, a fé é o instrumento pelo qual nós aceitamos a Cristo e
não é que a fé seja a base de nossa justificação, cremos que a fé exerce um papel
fundamental no processo da salvação.
“A perfeita justiça, imputada ou creditada a nós quando, através da fé,
tornamo-nos um em Cristo, é a base adequada da nossa justificação.”116
Vemos sempre através da justificação a ação do amor de Deus na vida dos
homens. Somos justificados pela fé, para agir e trabalhar, não para ficarmos parados ou até
mesmo dando mal testemunho.
A justificação pela fé nos impulsiona a vivermos uma vida de santidade e
amor, fomos unidos a Cristo em perfeita harmonia de modo que a justificação que Deus
esperava dos homens foi totalmente satisfeita na cruz, Deus ficou feliz porque sua lei foi
cumprida pelo seu único filho e agora esse cumprimento integral é colocado a disposição
dos filhos de Deus.
115 Louis Berkhof. Op. cit. p. 524. 116 Anthony Hoekema. Op. cit. p. 197.
Somos justificados pela fé em Cristo Jesus de uma vez por toda. Ele é o
cordeiro perfeito que tira o pecado do mundo, Ele é o nosso substituto, o nosso vigário que
nos tirou das trevas para a luz. Jesus é a nossa fonte inspiradora, que do seu trono flui rios
de água viva.
Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê (Rm 10:4). O
alvo e o propósito da lei é o nosso justificador Cristo Jesus, como diz o texto para justiça
ou justificação de todo aquele que crê, pela fé em seu sacrifício substitutivo.
CONCLUSÃO
Concluímos este trabalho dizendo que não somos justificados por esforço
próprio ou fé meritória .
Tudo que Jesus fez foi capaz e totalmente suficiente de satisfazer a lei de
Deus, o que ao homem estava vedada a condição de cumprir a lei de Deus como o
Senhor requeria em Sua Escritura.
O homem foi totalmente incapaz de se justificar, daí dizermos que Jesus foi
o único de poderia cumprir os preceitos divinos por nós.
A doutrina da Justificação não nós dá o direito de pecar, por saber que já
somos justificados. Aqueles que foram justificados mostram pela transformação da vida.
A doutrina também fundamenta o crente na palavra, faz com que a pessoa
se apóie nas escrituras, e evita os distúrbios doutrinários pelas quais muitas igrejas se
embréiam.
O esclarecimento dessa mensagem a igreja, evita o desvio doutrinário e a
previne das falsas correntes doutrinárias.
Precisamos esclarecer e dar ênfase na pregação da justificação pela fé que é
uma doutrina pouco esplanada pelos pastores. A igreja precisa melhor conhecer o
amor de Deus e de seu Filho Jesus, que morreu na cruz para nos justificar.
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