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Revista Teias v. 13 • n. 27 • 287-298 • jan./abr. 2012 – CURRÍCULOS: Problematização em práticas e políticas 287 PALAVRAS DESDE O LIMBO. Notas para outra pesquisa na Educação ou, talvez, para outra coisa que não a pesquisa na Educação (*) Jorge Larrosa O dispositivo “pesquisa educativa” se perpetua transformando-se e se multiplicando. Vocês conhecem as fórmulas: pesquisa na prática ou para a prática, pesquisa crítica, pesquisa participativa, pesquisa formativa, pesquisa qualitativa, pesquisa reflexiva, pesquisa não sobre jovens, mas com jovens, etc. O que eu queria fazer hoje aqui, com vocês, é problematizar o dispositivo mesmo e examinar se o que fazemos, ou o que, os que amparados na palavra experiência trabalhamos em educação gostaríamos de fazer, é ainda pesquisa, outra forma de fazer pesquisa educativa, ou se é, talvez, outra coisa que não pesquisa. E, eu gostaria de fazer isso no contexto de uma sociedade em que o conhecimento se mercantilizou quase completamente ao constituir uma mercadoria valiosa, nisso que veio a se chamar o “capitalismo cognitivo” –, contribuindo a dar pontos e qualificações comparáveis e intercambiáveis quer dizer, valor mercantil ao que produzem os investigadores e, sobretudo, as instituições de pesquisa e, é praticado no marco dessas palavras mágicas de nossa época que são a inovação e a competitividade, ambas tomadas do mundo da mercadoria que, por suposto, o conhecimento produzido se colocou a serviço de políticas educativas estatais e paraestatais cada vez mais globalizadas. Uma das coisas que fiz, ou tratei de fazer nos últimos anos, com maior ou menor sucesso, foi reivindicar a experiência, o saber de experiência e as linguagens da experiência em educação. Tratando com isso de contribuir para uma forma de pensar, de dizer e de olhar o educativo, que não seja assimilável, nem pela pesquisa técnico-científica essa que se formularia desde o par ciência- técnica , nem pela pesquisa crítica essa que se formularia desde uma teoria da prática , e que por suposto, não seja assimilável pelos dispositivos atuais de governo e gestão dos indivíduos e das populações. Além do mais, não sou experto nem especialista em nada que possa ser útil aos investigadores, desconfio da palavra “utilidade”, e tampouco sou capaz de tratar nenhum tema de (*) Compõem este texto, as notas escritas pelo autor por ocasião de uma palestra organizada pelo Núcleo de Estudos Filosóficos da Infância, Programa de Pós-Graduação em Educação (PROPEd), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 2 de fevereiro de 2012 e as respostas a quatro perguntas formuladas posteriormente por Danilo Augusto Melo, Ingrid Müller Xavier, Maja Vargas e Walter Omar Kohan. A tradução ao português é de Ingrid Müller Xavier.

Larrosa Palavras Desde o Limbo

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  • Revista Teias v. 13 n. 27 287-298 jan./abr. 2012 CURRCULOS: Problematizao em prticas e polticas 287

    PALAVRAS DESDE O LIMBO.

    Notas para outra pesquisa na Educao ou, talvez, para

    outra coisa que no a pesquisa na Educao(*)

    Jorge Larrosa

    O dispositivo pesquisa educativa se perpetua transformando-se e se multiplicando. Vocs

    conhecem as frmulas: pesquisa na prtica ou para a prtica, pesquisa crtica, pesquisa participativa,

    pesquisa formativa, pesquisa qualitativa, pesquisa reflexiva, pesquisa no sobre jovens, mas com

    jovens, etc. O que eu queria fazer hoje aqui, com vocs, problematizar o dispositivo mesmo e

    examinar se o que fazemos, ou o que, os que amparados na palavra experincia trabalhamos em

    educao gostaramos de fazer, ainda pesquisa, outra forma de fazer pesquisa educativa, ou se ,

    talvez, outra coisa que no pesquisa.

    E, eu gostaria de fazer isso no contexto de uma sociedade em que o conhecimento se

    mercantilizou quase completamente ao constituir uma mercadoria valiosa, nisso que veio a se

    chamar o capitalismo cognitivo , contribuindo a dar pontos e qualificaes comparveis e

    intercambiveis quer dizer, valor mercantil ao que produzem os investigadores e, sobretudo, as

    instituies de pesquisa e, praticado no marco dessas palavras mgicas de nossa poca que so a

    inovao e a competitividade, ambas tomadas do mundo da mercadoria que, por suposto, o

    conhecimento produzido se colocou a servio de polticas educativas estatais e paraestatais cada vez

    mais globalizadas.

    Uma das coisas que fiz, ou tratei de fazer nos ltimos anos, com maior ou menor sucesso,

    foi reivindicar a experincia, o saber de experincia e as linguagens da experincia em educao.

    Tratando com isso de contribuir para uma forma de pensar, de dizer e de olhar o educativo, que no

    seja assimilvel, nem pela pesquisa tcnico-cientfica essa que se formularia desde o par cincia-

    tcnica , nem pela pesquisa crtica essa que se formularia desde uma teoria da prtica , e que

    por suposto, no seja assimilvel pelos dispositivos atuais de governo e gesto dos indivduos e das

    populaes. Alm do mais, no sou experto nem especialista em nada que possa ser til aos

    investigadores, desconfio da palavra utilidade, e tampouco sou capaz de tratar nenhum tema de

    (*)

    Compem este texto, as notas escritas pelo autor por ocasio de uma palestra organizada pelo Ncleo de Estudos

    Filosficos da Infncia, Programa de Ps-Graduao em Educao (PROPEd), da Universidade do Estado do Rio de

    Janeiro, em 2 de fevereiro de 2012 e as respostas a quatro perguntas formuladas posteriormente por Danilo Augusto

    Melo, Ingrid Mller Xavier, Maja Vargas e Walter Omar Kohan. A traduo ao portugus de Ingrid Mller Xavier.

  • Revista Teias v. 13 n. 27 287-298 jan./abr. 2012 CURRCULOS: Problematizao em prticas e polticas 288

    atualidade, uma vez que tambm desconfio dessa inveno de polticos e jornalistas chamada

    atualidade e das pessoas que o utilizam. E conhecida minha oposio resignada aos novos

    rumos universitrios, aos que contemplo com um misto de raiva e impotncia. Cada vez estou mais

    convencido de que a universidade que vem no a minha e cada vez me custa mais simpatizar com

    seus habitantes ou com os que aspiram a s-lo.

    Para lhes dar uma ideia do que quero dizer, darei alguns exemplos recorrendo a trs

    autocitaes que, espero, desculpem. O primeiro exemplo a abertura de um texto intitulado Uma

    lngua para a conversao:

    A seo universitria do assim chamado espao educativo europeu (inseparvel de um

    espao universitrio quase totalmente mundializado) est se configurando como uma enorme

    rede de comunicao entre investigadores, expertos, profissionais, especialistas, estudantes e

    professores. Constantemente se constituem grupos de trabalho, redes temticas, ncleos

    nacionais e internacionais de pesquisa e de docncia. A informao circula, as pessoas

    viajam, o dinheiro abunda, as publicaes se multiplicam. Proliferam os encontros de todo

    tipo e, com eles, as oportunidades para o intercmbio, para a discusso, para o debate, para o

    dilogo. Por todo lado fomenta-se a comunicao. As atividades universitrias de produo e

    de transmisso de conhecimento se planificam, se homologam e se coordenam

    massivamente. E todos os dias somos convidados a falar e a escutar, a ler e a escrever, a

    participar ativamente dessa gigantesca maquinaria de fabricao e de circulao de informes,

    de projetos, de textos. A pergunta : em que lngua? E tambm: pode essa lngua ser nossa

    lngua?

    E um pouco mais abaixo:

    O que quero te dizer que quando leio o que circula por essas redes de comunicao ou

    ouo o que se diz nesses encontros de especialistas, a maioria das vezes tenho a impresso de

    que a funciona uma espcie de lngua de ningum, uma lngua neutra e neutralizada da qual

    se apagou qualquer marca subjetiva. Ento o que me acontece que me d vontade de

    levantar a mo e perguntar: Tem algum a ? Alm disso, sinto tambm que essa lngua no

    se dirige a ningum, que constri um leitor ou um ouvinte totalmente abstrato e impessoal.

    Uma lngua sem sujeito s pode ser a lngua de uns sujeitos sem lngua. Por isso tenho a

    sensao de que essa lngua no tem nada a ver com ningum, no s contigo ou comigo,

    mas com ningum, que uma lngua que ningum fala e que ningum escuta, uma lngua

    sem ningum dentro. Por isso no pode ser nossa, no s porque no pode ser nem a tua nem

    a minha, mas tambm, e, sobretudo, porque no pode estar entre mim e ti, porque no pode

    estar entre ns (LARROSA, 2005, p. 25).

    O segundo exemplo, ou a segunda autocitao, pertence a uma das ltimas coisas que

    escrevi: um longo artigo intitulado Fim de jogo como a obra de teatro homnima de Samuel

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    Beckett, e com o subttulo Ler, escrever e pensar em uma Faculdade de Educao, no qual constato

    o lamentvel, definitivo e irremedivel final de uma certa maneira de entender a leitura, de uma

    certa maneira de entender a escritura, e de uma certa maneira de entender o pensamento o que me

    converte claramente em um dinossauro, quer dizer, em um animal sem possibilidades adaptativas

    no curso das coisas, em um nostlgico, em um velho rabugento e mal-humorado, desses que ficam

    resmungando a propsito do que seguramente no entendem ou, o que pior, em um reacionrio.

    Eis ento o ltimo pargrafo:

    Assim que, para terminar, no posso fazer outra coisa seno reiterar a pergunta com a que

    comeava este texto: Tem sentido, aqui e agora, neste lugar (uma Faculdade de Educao) e

    neste tempo (quando o curso ordinrio das coisas o do triunfo sem alternativas de uma

    universidade mercantilizada), tornar a se perguntar pela leitura, a escritura e a conversao?

    Ns sabamos as velhas palavras e agora j no estamos seguros de que queiram dizer nada.

    E no queremos aprender as novas: nem nos fiamos delas, nem tm a ver conosco. Alm do

    mais estamos tristes e cansados e no sentimos seno raiva e impotncia. Seremos capazes

    de provar de novo todos os verbos, por exemplo: ler, escrever, conversar talvez pensar?

    (LARROSA, 2011, p. 302-303).

    E, outro de meus textos recentes tambm um longo artigo intitulado Ferido de realidade.

    Notas sobre as linguagens da experincia, que uma queixa impotente contra as linguagens

    dominantes na pesquisa educativa, uma vez que so linguagens desgarradas da vida. O ltimo

    pargrafo desse texto diz:

    Aos pedagogos nos foi posta uma cara de expertos, de polticos, de jornalistas e de

    funcionrios. E modulamos nossa voz para que corresponda s mscaras de papelo que

    constituem essas posies. Por isso a linguagem dominante no campo uma mescla pastosa,

    pegajosa e totalitria das lnguas de todos esses grmios. Alm disso, a maioria de ns vive

    encurralada, em espaos universitrios postos a servio do governo e completamente

    mercantilizados. Como se fosse pouco, o imperativo dos dispositivos da pesquisa e das

    constries da carreira acadmica nos obrigam a escrever, e a publicar, de uma forma

    completamente absurda, intil e enlouquecida. Escrever (e ler) se converteram em prticas

    esprias e mercenrias encaminhadas produo de textos orientados, sobretudo, aos

    comits de avaliao e aos organismos financiadores de projetos de pesquisa. As formas

    institucionalizadas de escrever expulsam os que tm lngua, os que pensam o que dizem e os

    que no se acomodam s formas coletivas e gregrias de trabalho que se nos impem. Nesta

    poca de indigncia deveria bastar ler. E, se trabalhamos na universidade, deveria bastar

    transmitir o que lemos. Deveria bastar dar a ler. E tratar de propiciar a leitura, a escritura, a

    conversao e o pensamento. Como naqueles tempos remotos em que ainda se estudava.

    (LARROSA, 2010, p. 115).

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    Vou tratar agora de dar conta do qui de meu subttulo; deste qui que separa duas

    possibilidades. A primeira seria propor outra forma de entender a pesquisa educativa. E essa outra

    forma estaria formulada no desde o par cincia-tecnologia, ou desde o par teoria-prtica, mas

    desde o par experincia-sentido. A segunda possibilidade, claro, que o trabalho com a experincia

    e desde a experincia no pode funcionar como uma alternativa na pesquisa educativa, como um

    novo enfoque ou um novo modelo ou um novo paradigma na pesquisa educativa, o que seria ainda

    outra pesquisa, mas que o que faz abrir uma alternativa pesquisa educativa, uma alternativa

    que outra coisa que pesquisa educativa porque no pode nem quer ser pesquisa. E, se no pode

    nem quer ser pesquisa, claro que no se pode mercantilizar, que no serve para pontos nem

    pontinhos, nem crditos nem credenciais, nem rankings nem qualificaes, que no inovadora

    nem competitiva, nem atual nem de atualidade, nem permite criar castas de expertos ou

    especialistas, nem assimilvel por nenhuma poltica. Dito de outro modo, no serve para nada, no

    pode se colocar a servio de nada, no vale nada, no tem nenhum valor, pelo menos desde o que

    hoje, na pesquisa educativa, se chama valor.

    Em outros escritos insisti que no se pode fazer da experincia uma coisa, que no se pode

    objetivar, nem homogeneizar, nem calcular, nem fabricar, nem predizer. Insisti tambm em que a

    experincia no a prtica, que no tem a ver com a ao, mas com a paixo, com a abertura, com a

    exposio. E que, por isso, o sujeito da experincia no se caracteriza por sua fora, mas pela sua

    fragilidade, por sua vulnerabilidade, por sua ignorncia, por sua impotncia, pelo que uma e outra

    vez escapa a seu saber, a seu poder, sua vontade. E reiterei tambm que no se pode fazer da

    experincia um conceito, que no se pode definir, nem determinar, nem delimitar. Porque no se

    ajusta ontologia do ser, mas a do acontecer. Sem dvida, pode-se habitar tambm os espaos

    educativos experiencialmente (no s tecnicamente, ou criticamente, ou profissionalmente), mas o

    que ocorre que no sabemos como. Porque esse, como tem que ser inventado, provado, criado,

    experimentado. Digamos que um pensamento da educao que reclame experincia um

    pensamento que ainda tem que ser pensado ou, dito de outro modo, um pensamento que ainda est

    por pensar ou, melhor, que sempre est por pensar. Por isso ningum pode antecipar como deveria

    ser esse pensamento ou que o que nos poderia dizer.

    Em um livro fundamental sobre as vrias elaboraes da ideia de experincia, desde

    Montaigne at Foucault, intitulado Cantos de experincia, variaes modernas sobre um tema

    universal (JAY, 2009), Martin Jay diz que a realidade da experincia elusiva, que a ideia de

    experincia confusa, mas, ao mesmo tempo, muitos pensadores de diversas pocas e tradies se

    sentiram compelidos a se ocupar dela e lhe formularam belos e apaixonados cantos. E isso, diz Jay,

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    com uma urgncia e uma intensidade que raras vezes acompanha a tentativa de definir e explicar

    um conceito. E isso porque experincia um significante suscetvel de desencadear profundas

    emoes nos que lhe conferem um lugar de privilgio em seu pensamento.

    Por isso, pelo menos para mim, a experincia foi mais o tema de um canto, de um canto de

    protesto, de resistncia, em primeiro lugar, em direo aos modos como se nos d a pensar, dizer e

    seguramente pesquisar em educao, e em segundo lugar um canto de amor ao que se abre ou pode

    abrir-se como uma relao intensiva com a realidade e com o linguagem. O que fiz, ou assim me

    gostaria v-lo neste momento, cantar a experincia de diversos modos e em diversos registros e

    no tentar formular a base positiva ou metodolgica de um paradigma diferente de pesquisa

    educativa. Mais a abertura de um lugar vazio para o pensamento, para a leitura, para a escritura e

    para a conversao que no a formulao de uma alternativa terica, metodolgica ou, inclusive,

    poltica.

    Para mim, cantar a experincia tem a ver com abrir, nas instituies educativas, um tempo

    livre, liberado, roubado necessidade utilidade, para ver se nesse tempo livre podemos constituir

    juntos algo assim como um espao pblico, da palavra e para a palavra, do pensamento e para o

    pensamento, mas tambm um espao de qualquer um e para qualquer um, sem guardies na porta,

    sem ningum que exija qualificaes de nenhum tipo para nele participar, um espao em que o

    nico que teramos em comum seria, precisamente, a capacidade de falar e de pensar. Porque o

    saber hierarquiza (somos desiguais com respeito ao que sabemos), mas a capacidade de falar e a

    capacidade de pensar o que todos compartilhamos, o que nos faz iguais.

    E a est, me parece, o assunto. Porque por vezes pensamos que, se se comea a fazer da

    experincia uma coisa, comeam a abundar os tcnicos ou os especialistas ou os expertos da

    experincia; se se comea a subordinar a experincia prtica e se faz dela algo que tem a ver com

    a melhoria da prtica, se se comea a fazer da experincia um conceito, ou um mtodo, se a

    experincia comea a funcionar no campo educativo como um novo paradigma de pesquisa ou

    como uma alternativa para a pesquisa, como outra pesquisa, ento, qui, vamos ter que ir com a

    msica (com o canto) a outra parte. E abandonar, com todas as suas consequncias, o dispositivo

    mesmo da pesquisa.

    Naturalmente, esse qui de meu subttulo, essa ambiguidade, ou essa oscilao, ou essa

    suspenso entre outra pesquisa e outra coisa que pesquisa, poderia referir-se ao lugar de

    enunciao. Porque a pesquisa um lugar particular de enunciao. Um lugar que constitui um

    sujeito de enunciao (o investigador, o que fala enquanto investigador), uma srie de regras

    discursivas (as que fazem com que o que enunciamos seja classificado como conhecimento), e

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    uma certa maneira de construir o real como objeto ou como tema da enunciao. E quando no

    sabemos se algo ou no pesquisa, quando no sabemos se outra pesquisa ou outra coisa que

    pesquisa, quando o qui indecidvel ento podemos dizer que se situa em uma espcie de

    limbo discursivo, em um lugar que no aceito como pesquisa (o que seria o cu, o lugar dos

    salvos), nem rechaado como pesquisa (o que seria o inferno, o lugar dos condenados), nem

    considerado como aspirante aceitao como pesquisa (o que seria o purgatrio, o lugar dos que

    devem purgar algumas culpas para se salvar).

    E se o limbo fosse, precisamente, o lugar de enunciao de tudo o que escapa lgica da

    pesquisa? Tanto lgica do que a pesquisa , como lgica do que a pesquisa deveria ou poderia

    ser. E se o limbo fosse o lugar dos que no falam desde nada? Dos que no se situam em

    nenhuma posio discursiva, daqueles para os quais falar no posicionar-se, mas, literalmente, se

    expor? Dos que no falam como investigadores, mas como homens, quer dizer, como qualquer um?

    E se o limbo fosse o lugar daqueles cujos enunciados no so conhecimento porque so,

    simplesmente, ditos? Dos que, ao falar dizem alguma coisa? Alguma coisa que qualquer coisa?

    E se o limbo fosse o lugar dos que no tomam o real como um tema ou um objeto, mas como uma

    intensidade, como um afeto, como o que lhes acontece, como uma experincia?

    O limbo , primeiro, um lugar de enunciao desde o qual no se pode explicar nem

    doutrinar, nem sensibilizar, nem informar, nem conscientizar, em que no cabem nem os

    explicadores nem os doutrinadores, nem os informadores nem os conscientizadores, onde no se

    pode falar como algum que sabe, nem como algum que quer fazer algo com o que diz, nem como

    um poltico, nem como um moralista, nem como um experto, nem como um professor, nem como

    um funcionrio.

    Em segundo, um lugar de enunciao livre e pblico, cuja linguagem no pode estar

    capturada nem pela lgica do Estado nem pela lgica do mercado, onde o que se diz

    completamente intil para o trabalho dos aparelhos de gesto, de administrao, de controle e de

    governo dos indivduos e das populaes, e onde o que se diz tampouco possa converter-se em

    mercadoria, em valor de troca, onde o que se diz no se pode vender, portanto, no se pode fixar seu

    preo.

    Terceiro, um lugar de enunciao alheio a qualquer plano de redeno, quer dizer, a

    qualquer teodiceia. A teodiceia esse esquema de pensamento segundo o qual a vida humana sobre

    a terra tem sentido, quer dizer direo, caminha para alguma parte, pode-se pensar a histria como

    aproximao ou afastamento de um final em que tudo ficaria, por fim, cumprido, redimido, e nossa

    tarefa na terra consiste em contribuir para esse destino. Mas o limbo o nico lugar que escapa, ou

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    que escapava, a esse sentido, a esse plano de redeno que, uma vez suprimido o limbo1, se tornou

    universal e no permite escapatria. Nas pginas que Giorgio Agamben (1993) dedica ao limbo,

    nesse livro to bonito, A comunidade que vem, conta que os habitantes do limbo ao desconhecerem

    Deus habitam sem dor esse abandono e permanecem a, esquecidos e esquecidios, como

    extraviados em uma regio situada para alm da perdio e da salvao, indiferentes e impassveis

    perante o plano de Deus, carentes de destino. Por isso o limbo a objeo mais radical que alguma

    fez foi feita contra a prpria ideia de redeno (p. 14).

    A pedagogia, ao menos a que nasce com a modernidade, trouxe para c, para a terra, as

    pretenses salvficas e redentoras, e atua agora em nome de deidades menores, algumas de natureza

    poltica, como o Progresso, A Incluso, a Nao, a Democracia ou a Cidadania, e outras de natureza

    mercantil como a Inovao, a Competitividade, o Emprego, a Criatividade, a Cultura, a

    Comunicao, etc., estes deuses menores que determinam a vida das pessoas e do sentido

    existncia, estes para os quais trabalham os polticos, os funcionrios, os expertos, os jornalistas,

    estes que so os amos do momento, estes em nome dos quais a educao atual exerce sua funo

    batizante, j no em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, em nome da vida eterna, mas em

    nome desses deuses do presente, talvez menos sanguinrios, mas igualmente vorazes e totalitrios,

    aos que me acabo de referir. E s o limbo resistia, ou persistia, ou insistia, como um lugar em que

    ningum est condenado, mas tampouco tem salvao, onde no h juzo, onde no h pena nem

    glria, onde ningum pode arrogar-se a pretenso de salvar nem de condenar a ningum.

    E por ltimo, o limbo um lugar de enunciao, em que ningum pode falar em nome de

    nada, um lugar em que ningum est batizado e em que ningum pode batizar, quer dizer, um lugar

    em que ningum fala nem atua em nome de nada, nem sequer em seu prprio nome. Porque no

    limbo, digamos, s h seres sem identificar, no identificados e no identificveis, esses aos que

    Agamben chama de singularidades quaisquer. De fato, as duas escassas pginas que Agamben

    dedica ao limbo comeam assim: De onde provm as singularidades quaisquer, qual o seu reino?

    As discusses de S. Toms sobre o limbo contm os elementos para uma resposta. (AGAMBEN,

    1993, p. 13).

    Assim, o limbo poderia constituir um lugar de enunciao impossvel. Livre, ou seja, intil.

    Pblico, ou seja, de qualquer um. Alheio a qualquer plano de salvao, quer dizer, profano, onde os

    enunciados no tm fim nem finalidade, no querem fazer nada, nem explicar, nem predicar, nem

    doutrinar, nem ensinar, nem moralizar. Um lugar de enunciao, onde no se outra coisa que

    1 Em outubro de 2004 o Papa Joo Paulo II encarregou o cardeal Ratzinger, ento prefeito da Doutrina da F, a atual

    Inquisio, de criar uma comisso teolgica internacional para estudar a supresso do limbo.

  • Revista Teias v. 13 n. 27 287-298 jan./abr. 2012 CURRCULOS: Problematizao em prticas e polticas 294

    exposio s palavras e aos pensamentos dos outros e exposio tambm das prprias palavras e

    dos prprios pensamentos aos outros. E do que se trata, naturalmente, de averiguar se desde esse

    lugar impossvel se pode desmontar o dispositivo pesquisa (tal como esse dispositivo funciona em

    uma universidade totalmente mercantilizada e posta, como nunca antes, a servio da gesto

    ordenada do que h) e, em geral, se se pode dizer algo desde o limbo, desde um lugar em que o

    dizer e o pensar sobre o que nos acontecer nos espaos educativos no seja imediatamente

    assimilvel, nem pelo Estado nem pelo mercado, e no passe pelas pretenses redentoras e

    batizantes dos deusezinhos que conformam nossa atualidade.

    Terminarei citando o final do ensaio Da experincia, de Michel de Montaigne (1965):

    Embora usemos pernas de pau, para andar temos que mexer as pernas. E, no mais alto trono do

    mundo sobre nosso traseiro que nos sentamos (p. 1.115).

    1. Jorge, Agradecemos esta oportunidade de manter aberta a conversao sobre o texto que voc nos

    apresentou intitulado, Palavras desde o limbo. 2

    Se o limbo o lugar dos ditos (simplesmente!), estar no

    limbo seria uma questo de autodeclarao? Dizer estou no limbo, assumi-lo, habit-lo j me colocaria no

    limbo? Se no for assim, quem seriam, novamente, os porteiros poderosos capazes de situar os ditos dentro

    ou fora dos limbos?

    Larossa. Essa dimenso de acesso livre, sem regras, sem portas e sem porteiros em que insisti ao

    caracterizar o limbo , simplesmente, a dimenso que caracteriza o espao pblico. A rua, se voc

    quiser, mas quando a rua no est controlada, ou seja, no nos limites dos shoppings, nem nos dos

    edifcios institucionais, nem nos dos equipamentos de uso reservado e especializado. A rua como o

    lugar de qualquer um, sem proteo, onde espreita o perigo e pode ocorrer qualquer coisa. Um lugar

    sem outras regras que as que se do, sempre implcita e provisoriamente, os seres annimos que as

    ocupam. E que se referem, fundamentalmente, que ningum pode dela apropriar-se, a que ningum

    mais nem menos que ningum. A rua como espao da igualdade e tambm, claro, da insegurana,

    da sujeira, do comum abandono. A rua como o lugar sem posies, sem graus, sem hierarquias, sem

    especializaes, como o lugar em que se est exposto, como o espao do estar junto ou diante de

    outros, em presena dos outros, exposto presena, aos atos e s palavras dos outros.

    Digo isso porque a universidade, a escola (com suas regras, seus horrios, seus espaos

    segmentados, suas notas, sua ordem, sua linguagem, seus valores, seu currculo, tudo o que

    poderamos chamar o regime pedaggico) seria o contrrio desse espao pblico. Ou, melhor

    dizendo, seria a domesticao e, ao mesmo tempo, a ideologia, desse espao pblico (com suas

    2 As perguntas a seguir foram elaboradas por: Maja Vargas, Ingrid Mller Xavier, Danilo Augusto Melo e Walter Omar

    Kohan, presentes exposio do texto, e respondidas por meio eletrnico por Jorge Larrosa.

  • Revista Teias v. 13 n. 27 287-298 jan./abr. 2012 CURRCULOS: Problematizao em prticas e polticas 295

    regras de cidadania, de convivncia, de comportamento, de racionalidade). Portanto, dizer estou no

    limbo seria algo assim como dizer estou na rua. E no se pode dizer estou na rua quando no

    se est na rua. No porque ningum te impea, mas, simplesmente, porque mentira. Porque no se

    um habitante da rua, embora se esteja na rua, mas um comerciante, ou um policial, ou um

    educador, ou um pesquisador, ou um predicador, ou um funcionrio. E isso os que esto na rua

    sempre notam.

    2. Consideremos o desde do ttulo. Desde parece implicar um modo de pertencimento, de instalao, de

    imanncia. As suas Palavras no so em torno, a partir, acerca, sobre..., mas desde o limbo. A palavra,

    portanto, parece provir do limbo, emergir desse espao de enunciao impossvel. O que dito tem sua

    provenincia. Limbo tambm espao de circulao de afetos. A pena maior a ausncia da viso de Deus

    transforma-se assim em natural alegria (...) eles esto cheios de uma alegria que no pode chegar ao fim.

    Assim, povoando o limbo de uma alegria infinita, comea e termina o segundo pargrafo dos quatro que

    compem Do limbo de Agambem. O segundo pargrafo de Palavras desde o limbo tambm fala de

    afetos, de um misto de raiva e impotncia, que reaparecem adiante, estamos tristes e cansados e no

    sentimos seno raiva e impotncia. Essas palavras, transpassadas de abatimento, so mesmo desde o limbo

    ou padecem sua impossibilidade? H formas diferentes de habitar o limbo e deixar-se habitar por ele?

    Quais?

    Lorossa. Tens razo nesse contraste dos afetos: no limbo h alegria (e no felicidade, porque a

    felicidade o patrimnio dos justos e a alegria o dos inocentes) e meu texto est escrito com raiva

    e impotncia. Como tu bem o dizes, desde o padecimento da impossibilidade ou, melhor, da

    dificuldade do limbo. Para ns, que no somos inocentes, a alegria muito difcil e, desde logo, no

    pode ser nem infinita nem natural. Digamos que a mim, na universidade, porque esse pargrafo

    que citas parte de um texto dedicado universidade, a alegria me muito difcil. sempre um

    acontecimento, quer dizer, uma surpresa, algo que no pode ser, mas que, no entanto, s vezes se

    d, ou se me d. a quando, por um instante, me sinto no limbo. Para imediatamente depois recair

    na nostalgia ou na esperana que, como sabes, so afetos dos que vivem no tempo que sempre o

    da nostalgia do que imaginamos ter perdido ou da esperana do que imaginamos recuperar. Porque

    a nostalgia e a esperana so paixes da imaginao. Da relao com o que j no (e que s

    podemos imaginar, recordar imaginando) ou com o que ainda no (e que s podemos esperar

    imaginando). Trata-se, pois de algo assim como de momentos lmbicos. E claro que h formas

    diferentes de habitar o limbo, ou de deixar-se habitar por ele. Mas no se pode dizer quais, porque

    so sempre o resultado de uma inveno e h que invent-las cada vez, de novo.

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    3. Seu trabalho tem uma orientao que toma distncia dos pares cincia-tecnologia e teoria-prtica. No

    entanto, a aposta continua sendo feita em um par, experincia-sentido. Essa configurao do pareamento,

    casal, reta entre dois pontos, folie a deux, no estaria cansada, e no mereceria um recreio. Recreio que no

    s re-criar, mas tambm reanimar-se do abatimento anmico (Castell). E, com a alegria desafogada que

    recreio permite, a folie a deux do par no estaria precisando de um menge trois?

    Larossa. Em meus escritos, tratei de dotar palavra experincia de uma sonoridade prxima da

    palavra vida. Quer dizer, com a mesma indefinio, com o mesmo desbordamento. Digamos que a

    experincia o que nos acontece e que a vida esse acontecer do que nos acontece e esses modos

    sempre provisrios e sempre fracassados de elaborar seu sentido ou seu sem sentido. Falar de

    sentido, ento, seria afirmar que a vida humana bis e no zo, quer dizer, vida mundana, tecida

    em palavras, apalavrada. O homem, como dizia Aristteles, seria no o animal racional das ms

    tradues (as que traduzem zon por animal, e logos por ratio ou racionalidade), mas o vivente

    dotado de palavra. Ou, dito de outro modo, o vivente que s pode viver sua vida enquanto que

    apalavrada e que s pode pronunciar palavras em tanto que vivente, ou seja, mortal. Colocar o

    pensamento da educao no par experincia/sentido, portanto, no outra coisa que tratar de pensar

    as relaes educativas como relaes vitais. No como relaes tcnicas ou crticas, mas vitais.

    Digamos que uma simplificao, e uma perda, habitar as relaes educativas tecnicamente, ou

    criticamente. E que esse vitalmente, em definitiva, no significa outra coisa que o que sempre

    desborda as dimenses tcnicas, ou crticas, que sem dvida tambm h. Digamos que a vida o

    que nunca se possui (o que se destri e se aniquila quando se quer possuir), o que sempre nos

    escapa, o que est sempre se indo, o que foge entre os dedos, como gua quando se a quer apresar

    na mo. E isso ocorre tambm tanto com a experincia como com o sentido. Portanto, nada de

    emparelhamento, nem de casal, nem de reta entre dois pontos. Nem a experincia nem o sentido so

    pontos. Nem coisas s que se pode dotar de uma identidade substancial. O que ocorre que grande

    parte das formas de racionalidade dominantes em nossa cultura consideram que essa qualidade da

    vida (essa folie) uma imperfeio, um defeito que h que tratar de corrigir reduzindo a vida a todo

    tipo de esquemas.

    4. Defines dois lugares para habitar o pensamento no ensino de nvel superior: uma universidade totalmente

    mercantilizada e o limbo desde onde se trataria de ver se possvel desmontar o dispositivo pesquisa. O

    primeiro o lugar real, da gesto do que h, o que abarca todo o trabalho na universidade; o segundo o

    lugar da pura exposio, da experincia enquanto tal, um lugar impossvel, utpico. No te parece um pouco

    romntico e dualista essa apresentao, e uma maneira de entregar o que existe a uma tendncia majoritria

    que bem poderia ser combatida desde dentro, mas que ao postular um espao ideal imaginrio acaba

    fortalecendo a lgica dominante nos espaos institucionais pblicos? No seria mais interessante operar a

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    resistncia a esses mecanismos desde seu interior, se compreendermos que a experincia s pode ser

    conceituada, metodologizada e subordinada a uma prtica caso ela esteja presente em toda parte, inclusive

    nestes outros lugares institucionais? No seria mais interessante ali fazer o limbo operar seu canto,

    pervertendo os hbitos e os vcios do utilitarismo institucional, compreendendo ainda que esta forma de

    resistncia no se dirige a um fim temporal, mesmo que um dia nossas utopias prevaleam? E por fim, se

    ainda no sabemos como habitar experencialmente estes outros lugares institucionais educativos, no seria o

    caso de pensar e criar os modos pelos quais a paixo, a abertura e a exposio possam acontecer a?

    Larossa. Foi, sem dvida, uma apresentao dualista, truques de orador demasiado evidentes.

    Tanto a universidade mercantilizada como o limbo so constructos demasiado simples, demasiado

    unilaterais. Ao falar do dispositivo pesquisa fabriquei uma espcie de fantasma ou de espantalho

    contra o qual combater. Mas esse fantasma tocou, em boa parte dos ouvintes, incmodos reais com

    respeito ao que nos acontece na universidade. A cada um os seus, claro, mas cada vez mais

    evidente para mim que os novos rumos da universidade, e da assim chamada pesquisa, esto

    deixando muita gente sem ar. E talvez o limbo no seja mais um anncio do que poderia ser esse ar

    vital cuja escassez comea a ser alarmante. Elas Canetti escreve: A palavra liberdade serve para

    expressar uma tenso muito importante, qui a mais importante de todas. Algum que sempre

    quer ir embora, e quando o lugar ao qual quer ir no tem nome, quando indeterminado e nele

    no se v fronteiras, o chamamos liberdade. E algum quer ir embora porque est asfixiado,

    porque o lugar em que se est se lhe parece irrespirvel. Por isso Canetti acrescenta que a origem da

    liberdade est na respirao.

    Uma vez, em um programa de rdio que se chamava, como esta apresentao, Palavras

    desde o limbo, parafraseei Bruce Chatwin: O desassossego uma doena da identidade que tem a

    ver com a alma e com a relao que temos com o tempo. A inquietude, no entanto, comea no

    crebro e mina nossa relao com o espao, destruindo sua familiaridade e suas certezas, e

    convertendo-o em asfixiante. Os msticos e os poetas cultivam o desassossego. Mas a inquietude

    pertence, sobretudo, s crianas e aos viajantes. Um dos sintomas da inquietude poderia chamar-se:

    nostalgia dos espaos abertos. Quando isso ocorre, a pergunta essencial no a inofensiva e

    narcisista: quem sou? Mas a perturbadora e perigosa: que fao aqui? Por isso aqui, no limbo, o

    principal no interrogar o que somos, mas onde estamos. E isso para ir embora imediatamente.

    Eu creio que quando falei do modo mercantilista e mercantilizado, credencialista e servil, cada vez

    mais asfixiante, como a universidade est redefinindo o dispositivo pesquisa, toquei algumas

    inquietudes (essa doena que tem a ver com nossas relaes com o espao) e provoquei, em muitos

    e em muitas, a pergunta: que fao eu aqui? Uma pergunta que no inofensiva. E que, entre outras

    coisas, pode ter respostas como as que tu propes. E outras tambm, claro.

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    REFERNCIAS

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    JAY, Martin. Cantos de experiencia. Buenos Aires: Paids, 2009.

    LARROSA, Jorge. Una lengua para la conversacin. In: LARROSA, Jorge; SKLIAR, Carlos (Comps.). Entre

    pedagoga y literatura. Buenos Aires: Mio y Dvila 2005. p. 25.

    ______. Fin de partida. Sobre leer, escribir, conversar (y tal vez pensar) en una Facultad de Educacin. In: SIMONS,

    Maarten; MASSCHELEIN, Jan; LARROSA; Jorge (Eds.). Jacques Rancire. La educacin pblica y la domesticacin

    de la democracia. Buenos Aires: Mio y Dvila, 2011. p. 302-303.

    ______. Herido de realidad y en busca de realidad. Notas sobre los lenguajes de la experiencia. In: CONTRERAS, Jos;

    LARA, Nuria Prez. (Comps.). Investigar la experiencia educativa. Madrid: Morata, 2010. p. 115.

    MONTAIGNE, Michel. Les Essais. Ed. P. Villey et Saulnier, Verdun L, Paris: Presses Universitaires de France, 1965.

    p. 1115

    Recebido em maro de 2012

    Aprovado em abril de 2012