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ÁLGEBRA DE BOOLE B.1 - DIAGRAMA DE VENN No século XIX Georges Boole desenvolveu uma teoria matemática com base nas leis da lógica - a Álgebra de Boole - cuja aplicação nos circuitos digitais e computadores é de primordial importância. A lógica matemática tem por base a teoria dos conjuntos, podendo utilizar-se meios gráficos como forma de representar propriedades.
1
Diagrama de Venn
A A
Fig 26
Admitindo que o conjunto Universo é o dos números inteiros, pode definir-se:
A - conjunto dos números pares B - conjunto dos múltiplos de 3
Aplicando sobre estes conjuntos as operações lógicas básicas, obtém-se:
2
A.B - Conjunto dos números pares e múltiplos de 3 Conjunção, intersecção ou produto lógico
A B
Fig 27
3
A+B - Conjunto dos números pares ou múltiplos de 3 União, disjunção ou soma lógica
A B
Fig 28
4
A_
- Conjunto dos números ímpares Complemento ou negação
A B
Fig 29
5
B.2 - AXIOMAS DA ÁLGEBRA DE BOOLE Sendo B, definem-se as propriedades seguintes para a estrutura {B, +, .}. B.2.1 - Soma e produto são operações fechadas
a, b B : a + b B
a, b B : a . b B
6
B.2.2 – Comutatividade
a, b B : a + b = b + a
a, b B : a . b = b . a
B.2.3 - Existência de elemento neutro
u B, a B : a + u = a
v B, a B : a . v = a
7
B.2.4 - Distributividade das duas operações uma em relação à outra
a, b, c B : a + (b . c) = (a + b) . (a + c)
a, b, c B : a . (b + c) = (a . b) + (a . c)
B.2.5 – Complementação
a B, a B : a + a = v
a B, a B : a . a = u
_ _
_ _
8
B.3 - TEOREMAS DA ÁLGEBRA DE BOOLE B.3.1 - Unicidade dos elementos neutros O elemento u é único. Demonstração Sejam u1 e u2 dois elementos neutros da soma.
u1 + u2 = u1 (B.2.3) u1 + u2 = u2 (B.2.3) u1 + u2 = u2 + u1 (B.2.2) u1 = u2
9
O elemento v é único. Demonstração Sejam v1 e v2 dois elementos neutros do produto.
v1 . v2 = v1 (B.2.3) v1 . v2 = v2 (B.2.3) v1 . v2 = v2 . v1 (B.2.2) v1 = v2
10
B.3.2 - Idempotência
a B : a + a = a Demonstração
a + a = (a + a) . 1 (B.2.3) a + a = (a + a) . (a + a) (B.2.5) = a + (a . a) (B.2.4) = a + 0 (B.2.5) = a (B.2.3)
11
a B : a . a = a Demonstração
a . a = (a . a) + 0 (B.2.3) a . a = (a . a) + (a . a) (B.2.5) = a . (a + a) (B.2.4) = a . 1 (B.2.5) = a (B.2.3)
12
B.3.3 - Elementos absorventes
a B : a +1 = 1 Demonstração
a + 1 = (a + 1) . 1 (B.2.3) = (a + 1) . (a + a) (B.2.5) = a + (1 . a) (B.2.4) = a + a (B.2.3) = 1 (B.2.5)
13
a B : a . 0 = 0 Demonstração
a . 0 = (a . 0) + 0 (B.2.3) = (a . 0) + (a . a) (B.2.5) = a . (0 + a) (B.2.4) = a . a (B.2.3) = 0 (B.2.5)
14
B.3.4 - Absorção
a, b B : a + (a . b) = a Demonstração
a + (a . b) = (a . 1) + (a . b) (B.2.3) = a . (1 + b) (B.2.4) = a . 1 (B.3.3) = a (B.2.3)
15
a, b B : a . (a + b) = a Demonstração
a . (a + b) = (a + 0) . (a + b) (B.2.3) = a + (0 . b) (B.2.4) = a + 0 (B.3.3) = a (B.2.3)
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B.3.5 - Princípio da dualidade Toda a afirmação ou identidade algébrica dedutível dos axiomas e definições de uma Álgebra de Boole permanece válida se as operações (+) e (.), e os elementos neutros u e v forem trocados. Este princípio resulta da simetria das definições e axiomas em relação às duas operações e aos dois elementos neutros.
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B.3.6 - Unicidade do elemento a
Demonstração
Supor que a1 e a2 são ambos complementos de a.
a1 . 1 = a1 (B.2.3) a1 . (a + a2) = a1 (B.2.5) a1 . a + a1 . a2 = a1 (B.2.4) 0 + a1 . a2 = a1 (B.2.5) a1 . a2 = a1 (B.2.3) a2 . a1 = a1 (B.2.2) a2 . a1 + 0 = a1 (B.2.3) a2 . a1 + a2 . a = a1 (B.2.5) a2 . (a1 + a) = a1 (B.2.4) a2 . 1 = a1 (B.2.5) a2 = a1 (B.2.3)
18
B.3.7 - Involução
Pela definição de complemento conclui-se que
a = a B.3.8 - Leis de De Morgan
1 2 = 1 2a + a a . a 1 2 = 1 2a . a a + a
19
Prova-se o teorema recorrendo às igualdades
(a1 + a2) + (a1 . a2) = 1 (a1 + a2) . (a1 . a2) = 0
que por B.3.6 e B.2.5 permitem concluir que a1 . a2 é o complemento único de a1 + a2. Para a demonstração recorre-se aos lemas:
L1a : a1 + (a1 + a2) = 1 L1b : a1 . (a1 . a2) = 0
20
Demonstração de L1a a1 + (a1 + a2) = 1 . [a1 + (a1 + a2)] (B.2.3) = (a1 + a1).[a1 + (a1 + a2)] (B.2.5) = a1 + [a1 . (a1 + a2)] (B.2.4) = a1 + a1 (B.3.4) = 1 (B.2.5) A demonstração de L1b é dual de L1a.
21
Demonstração de B.3.9 (a1+a2)+(a1.a2)=[(a1+a2)+a1].[(a1+a2)+a2] (B.2.4) = 1 . 1 (L1a) = 1 (B.2.3) (a1+a2).(a1.a2)=a1.(a1.a2)+a2.(a1.a2) (B.2.4) = 0 . 0 (L1a) = 0 (B.2.3) Por B.2.5 e B.3.6 conclui-se que
1 2 = 1 2a + a a . a
22
A demonstração de 1 2 = 1 2a . a a + a é dual da anterior. As leis de De Morgan generalizam-se para n elementos.
1 ... n = 1 ... na + + a a . . a 1 ... n = 1 ... na . . a a + + a
23
B.3.9 – Associatividade
a, b, c B : (a + b) + c = a + (b + c)
a, b, c B : (a . b) . c = a . (b . c)
24
B.4 - ÁLGEBRA DE BOOLE A DOIS VALORES A Álgebra de Boole a dois valores baseia-se na utilização de 2 estados - 0 e 1, ou verdadeiro e falso - tal como o funcionamento dos circuitos digitais binários. Convenciona-se representar o conjunto vazio por 0 e o universo por 1.
25
B.4.1 - Tabelas das operações
Soma lógica Produto lógico Complementação
0 + 0 = 0 0 . 0 = 0 0 + 1 = 1 0 . 1 = 0 0 = 1 1 + 0 = 1 1 . 0 = 0 1 = 0 1 + 1 = 1 1 . 1 = 1
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B.4.2 - Leis da Álgebra de Boole a 2 valores Soma lógica Produto lógico
El. neutro 0 + a = a 1 . a = a El. absorvente 1 + a = 1 0 . a = 0 Idempotência a + a = a a . a = a Complementaridade a + a = 1 a . a = 0 Comutatividade a + b = b + a a . b = b . a Associatividade a + (b + c) = (a + b) + c a . (b . c) = (a . b) . c Distributividade a + b.c = (a + b).(a + c) a.(b + c) = a.b + a.c Absorção a + a.b = a a.(a + b) = a Absorção a + a.b = a + b a.(a + b) = a.b Leis de De Morgan 1 2 1 2a + a = a . a 1 2 1 2a . a = a + a
Leis de De Morgan 1 n 1 na + ... + a = a . ... . a 1 n 1 na . ... . a = a + ... + a
27
B.4.3 - Simplificação algébrica de funções lógicas A um circuito lógico corresponde uma determinada expressão lógica ou booleana. Simplificar uma expressão corresponde a chegar-se a um circuito menos complexo e com menos portas.
28
Exemplo de simplificação
d = c.b.a + c.b.a + b.a + c.b.a Utilizando as propriedades comutativa (B.2.2) e distributiva (B.2.4) obtém-se
d = c.a.(b + b) + b.a.(1 + c) Pela propriedade de complementação (B.2.5) e elemento absorvente (B.3.3) vem
d = c.a.1 + b.a.1
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Assim
d = c.a + b.a O método algébrico não garante a obtenção da expressão mais simples. Para tal utiliza-se um método gráfico de simplificação.
30
B.4.4 - Aplicação da Álgebra de Boole aos circuitos digitais Exemplo de aplicação da propriedade do elemento neutro do produto lógico para transformar uma porta AND de 3 entradas numa porta AND de 2 entradas.
AB
S1
Fig 30
A equação do circuito é S = 1 . A . B
31
A saída S só é 1 quando A e B são simultaneamente 1. Logo pode-se considerar que o circuito acima é equivalente a um circuito AND de 2 entradas.
AB
S1 A
BS Fig 31
Prova-se deste modo que o 1 lógico é o elemento neutro do AND ou produto lógico.
32
Se ligarmos uma das entradas do circuito AND ao 0 lógico, a equação S = A.B.C fica
S = A.B.0 Pela definição do AND basta haver uma entrada a zero para que a saída seja 0. Assim vem S = A.B.0 = 0. Esta propriedade indica que 0 é o elemento absorvente do circuito AND ou produto lógico.
33
Uma outra aplicação da propriedade do elemento neutro permite a transformação de um circuito NAND numa porta NOT.
SA
1
S = A . 1
Fig 32
Sendo A.1 = A a equação do circuito reduz-se a
S = A Logo, o circuito anterior é equivalente a uma negação, desde que a outra entrada esteja ligada ao 1 lógico.
34
Outra forma de realizar uma negação pode ser com base num circuito NAND ou NOR.
Fig 33
35
Uma outra propriedade, a involução, pode ser verificada com 2 circuitos NOT.
A A AS
Fig 34 Quando A=0 então A=1 e A=0, pois é a negação de A. Quando A=1 então A=0 e A=1, pois é a negação de A. Fica assim provado que duas negações seguidas formam uma afirmação, ou seja
A = A
36
Também as leis de De Morgan podem ser aplicadas aos circuitos digitais. A 1ª lei de De Morgan diz que um AND com saída negada é equivalente a um OR com entradas negadas.
Fig 35
O 2º circuito é dual do 1º mas são ambos NAND.
37
Tabela de verdade dos símbolos NAND
A B A . B A + B 0 0 0 . 0 = 0 = 1 0 + 0 = 1 + 1 = 1 0 1 0 . 1 = 0 = 1 0 + 1 = 1 + 0 = 1 1 0 1 . 0 = 0 = 1 1 + 0 = 0 + 1 = 1 1 1 1 . 1 = 1 = 0 1 + 1 = 0 + 0 = 0
As duas colunas da direita são iguais pelo que fica provada a igualdade
A . B = A + B
38
A 2ª lei de De Morgan afirma que um OR com a saída negada é equivalente a um AND com as entradas negadas.
Fig 36
O 2º circuito é dual do 1º mas são ambos NOR.
39
Tabela de verdade dos símbolos NOR
A B A + B A · B 0 0 0 + 0 = 0 = 1 0 . 0 = 1 . 1 = 1 0 1 0 + 1 = 1 = 0 0 . 1 = 1 . 0 = 0 1 0 1 + 0 = 1 = 0 1 . 0 = 0 . 1 = 0 1 1 1 + 1 = 1 = 0 1 . 1 = 0 . 0 = 0
As duas colunas da direita são iguais pelo que fica provada a igualdade
A + B = A . B
40
Exemplo de realização de um AND a partir apenas de portas NOR.
Fig 37
Os circuitos NOR 1 e 2 são utilizados para fazer as negações dos sinais de entrada.
Tem-se assim à entrada do NOR 3: A e B.
41
Considerando o NOR 3 composto por um OR seguido de um NOT, à saída do OR tem-se a soma A + B.
À saída do circuito total tem-se então A + B. A 2ª lei de De Morgan diz que A + B = A . B . Do ponto de vista prático pode utilizar-se a seguinte regra: o 2º membro obtém-se do 1º dividindo em duas a barra por cima do sinal (+) e trocando-o por (·). Aplicando esta regra à expressão A + B obtém-se
A . B
que por sua vez é A · B .
42
Do mesmo modo pode realizar-se um circuito OR a partir apenas de portas NAND.
A
B
A
B
A . B = A + B
Fig 38 Aplicando a 1ª lei de De Morgan divide-se a barra e substitui-se o (·) pelo (+).
A . B = A + B = A + B
43
Exemplo de circuito típico em sistemas digitais
A
B
C
D
A.B
C.D
S = A.B + C.D
Fig 39
O circuito da figura acima tem a equação
S = A.B + C.D
44
Para realizar este circuito é necessário utilizar 2 circuitos integrados: um com portas OR e outro com portas AND.
Através de um artifício pode alterar-se esta situação, uniformizando o tipo de portas a usar.
Sabendo que 2 negações seguidas são uma afirmação vem
Fig 40
Apesar do circuito ser diferente, a função lógica realizada é a mesma.
45
Substituindo agora a porta da direita (NAND) por outra equivalente tem-se
Fig 41
Aplicando a 1ª lei de De Morgan à saída deste circuito seguida da involução fica
A.B . C.D = A.B + C.D = A.B + C.D
46
Os circuitos NAND e NOR são os mais largamente utilizados pois permitem construir quaisquer circuitos básicos, nomeadamente AND, OR e NOT. Para além disso têm uma estrutura electrónica mais simples o que é vantajoso em termos de espaço e energia consumida.
47
B.4.5 - Portas "XOR" e Equivalência Um circuito que existe também na forma integrada é o somador de 1 bit, "ou exclusivo" ou XOR (exclusive or). A
BS S = A B
Fig 42
Este circuito tem saída 1 quando uma das entradas é 1, mas tem saída 0 se ambas as entradas forem simultaneamente 0 ou 1.
48
Tabela de verdade do circuito XOR
A B S 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 1 0
Como a saída é 1 quando A=0 e B=1 ou A=1 e B=0, então o circuito XOR pode ser realizado pela expressão seguinte:
S = A.B + A.B
49
A B S = A.B + A.B 0 0 0.0 + 0.0 = 0 + 0 = 0 0 1 0.1 + 0.1 = 1 + 0 = 1 1 0 1.0 + 1.0 = 0 + 1 = 1 1 1 1.1 + 1.1 = 0 + 0 = 0
Para a realização deste circuito são necessários dois AND, um OR e dois NOT.
50
Fig 43
Pode, no entanto, realizar-se a mesma função XOR só com circuitos NAND.
Fig 44
51
Confirmação:
A.A.B . B.A.B = A.A.B + B.A.B (B.3.8) = A.A.B+B.A.B (B.3.7) = A.(A + B) + B.(A + B) (B.3.8) = A.A + A.B + B.A + B.B (B.2.4) = 0 + A.B + B.A + 0 (B.2.5) = A.B + B.A (B.2.3)
52
Outro circuito simples existente na forma de circuito integrado é o circuito equivalência. É um circuito com 2 entradas que tem saída 1 quando A=B, ou seja, quando A=1 e B=1 ou A=0 e B=0. O circuito equivalência tem uma tabela de verdade que é a negação da tabela do cirucito NOR, logo pode obter-se negando a saída do NOR.
Fig 45
53
Tabela de verdade do circuito equivalência
A B S 0 0 1 0 1 0 1 0 0 1 1 1
54
B.4.6 - Funções booleanas de 2 variáveis Tabela de funções
x1 0 1 0 1 Designação x2 0 0 1 1 y0 0 0 0 0 zero y1 0 0 0 1 produto lógico, ou AND (y = x1.x2) y2 0 0 1 0 inibição, ou NIX (y = x1 NIX x2) y3 0 0 1 1 x2 (y = x2) y4 0 1 0 0 inibição, ou NIX (y = x2 NIX x1) y5 0 1 0 1 x1 (y = x1) y6 0 1 1 0 soma módulo 2, ou exclusivo, ou
XOR (y = x1 x2) y7 0 1 1 1 soma lógica, ou OR (y = x1 OR x2) y8 1 0 0 0 NOR (y = x1 NOR x2 ,
ou y = x1 + x2) y9 1 0 0 1 equivalência (y = x1 x2)
55
y10 1 0 1 0 complementação de x1, (y = x1) y11 1 0 1 1 implicação material (x1 x2) y12 1 1 0 0 complementação de x2, (y = x2) y13 1 1 0 1 implicação material (x2 x1) y14 1 1 1 0 NAND (y = x1 NAND x2 ,
ou y = x1 . x2) y15 1 1 1 1 unidade ou identidade
56
Estas funções podem ser escritas com base nas 3 operações básicas AND, OR e NOT.
57
y0 = 0 y8 = x1 + x2 y1 = x1.x2 y9 = x1.x2 + x1.x2 y2 = x1.x2 y10 = x1 y3 = x2 y11 = x1 + x2 y4 = x2.x1 y12 = x2 y5 = x1 y13 = x1 + x2 y6 = x1.x2 + x1.x2 y14 = x1 . x2 y7 = x1 + x2 y15 = 1