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Pela boca morre o peixe ... e se denuncia J delinquente. Os especialistas em padrões le linguasem individual são capazes ie identificar o autor de um telefonema terrorista ou de um bilhete de resgate. E m 2002, o delegado do Ministério Público deitou por terra o alibi de Stuart Campbell no assassinato da sua sobrinha Danielle Jones, em Essex (Inglaterra). Os peritos demonstraram que foi ele o assas- sino e não a 'vítima, como tinha feito crer. A chave do crime estava nurnas mensagens SM8 que o tio enviou do telemóvel de Danielle. As análises do texto revelaram . sem margem para dúvidas que o estilo era próprio do suspeito, que jamais imaginou que uma centena de caracteres poderiam mandá-lo para trás das grades. .Provavelmente, Campbell tam- bém ignorava que a estrutura e o conteúdo das frases que usamos nas conversas quotidianas são quase únicos, ou que a pontuação e a gramática de uma mensagem airónima podem ser suficientes para averiguar a idade, o sexo e a localização geográfica do seu 66 SUPER ~ ? ••. ~W'" . p'L'l 'J ,4LA~,' ~; ••/Jp«P'-' ~e-! P-- (J LQ.~.,.QA c.b;-'{J rur· .... iJ.:.I:I-;JPar-A..J.J ~ .J:U •••••• J>-J.>-~_lo~.....,r'_ .•,.•..•.• #~ ••••••.•.• . úl~r~,J .~"'~.jul .. )&.U.,,~1~u.,a.Ã .• u..~"~.JWL1l.1 cs.:..IL.J4, -.100 1....,.u,s..r..~I •••• , ~ ~ <IlI.IJJ.. __ ...= .w....,......:.~...J1>u....., •••I.•.• ~~Ul"...sI.JJlJJ,U.~I~ ~t~ ••••.• ,tl •••~-"'I e--,....a.> ••• " .•. ,•. n.........,tt.I'f'1.-fo.ul< """"""'ül.,LS,.,.I •.•.•••.•••.•••.•••..,<41J->-....,.JI ~..,.... "I~ J.,i., ..... _u .••.=- ,,1.1 } .•...... _.~ •••••-_.' •. ll.&:.:.úl- ••••••• ~ •••••• ; .Jl-.l1~, .~ •••..,.. ••••,.".,..w'.Jl-.lI......,I •.••.•.• ..-...,_ .~ ••••••••• . ~I1J..iJI'i.iJ"._.~I#~~~I.w.aulJ,:;..J ...•.~~~1 .......,tIUJ J _._~J.I.1~~.J~.:J:I s. ~J~J:a.I I...,..,.......,..JJ-.j....., ..••.,uI•••• õ.L,IJl •••••••••••••• r.4J.".JlI.,~J.JI>J --J-I' .•••••'........., .o.JUJ,...,.....s' ••••••••••• ,," u"u'~"", ·.P.J-J' •••• .,I ••.•••.• J.JI> .•••.••.•••-_ ..•.•••••.••••.••••• ''->'.,.J •••• .,>b.,>l, '.o>.,.JI•••....J,••.••.••• ,.,.,...,.."..., .••1 .;..,I ''-» 1,'. ;J.ál1' '-'" 1.) -...-{<15'5 .:.. J..J I.••••••••.••• '.,.......u.:u (.;..;.l'''''' .,.üJ'.••• r"AlI .-.A••.•. I ~.,>II ..,>lt,·I rJWI''-»'J . ';.J-J1 ...... __ .•••••. 1•••.••.•.• u:u .....,._'.,ul ).u...,.AI1f'l-I ~I ." "Y') ILJ'"Y ,.,...,.,..,' •• .,..,( .,...Y,....,.J.d< • .....,... ,; • ..wl •••.:..-1-11......,. e.1t •.•.••• ~.,...u.n"-VI.,J( •••••.--d11 ,u,1J ~; .••• 'I'IlJ...,.JI .4.lJ1~~1. autor. O que é certo é que' os lin- guístas forenses manejam diaria- mente estas diferenças no uso das palavras, que ao longo da última .década permitiram identificar ine- quivocamente terroristas e crimi- nosos de todo o tipo. • Palavras que deixam pistas É um factoque existe urn mo- do distintivo na forma como cada indivíduo codifica a linguagem e se expressa com as suas próprias "marcas" linguísticas. Não há duas pessoas que utilizem a lin- guagem exactamente do mesmo modo. Peritos como James Fitzge- rald, investigador do FBI, prova- ram-no depois de vários anos a trabalhar na análise e identifica- ção de documentos anónimos . "Osseres humanos são prisionei- ros da sua própria linguagem", ga- rante o linguista Don Foster, que colaborou com Fitzgerald em vá-. rios casos. E acrescenta: "Por is- so, a análise cie~tífica de um tex- to pode revelar dados tão claros como as impressões digitais ou o ADN." Foi precisamente esta téc- nica que permitiu a Fitzgerald e Foster resolver um caso chave na . história dos Estados Unidos: o do terrorista Fe, mais conhecido co- mo Unabomber, que empreendeu uma cruzada contra o progresso tecnológico enviando cartas-bom- ba durante 18 anos. Depois de muito tempo a espa- lhar o pânico, Unabomber escre- veu um manuscrito de maisde cem páginas, ameaçando fazer ir .- pelos ares um avião se o seu texto não fosse publicàdo na imprensa. As autoridades responderam .ao seu pedido, com a esperança de que o texto os levasse a um suspei- to. Em 1996, prenderam Ted Kac- zynski, alertados pelo seu.irmão depois de ler o manuscrito. O FBI revistou a sua casa à procura de todo o tipo de textos e cartas. A' comparação destes documentos com o 'manuscrito ameaçador confirmou que eram obra da mes- ma pessoa.umaprova tão sólida que permitiu condená-lo. O mais curioso é que Foster chegou a con-

Linguistica Forense

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Page 1: Linguistica Forense

Pelaboca morre o peixe ... e se denunciaJ delinquente. Os especialistas em padrõesle linguasem individual são capazesie identificar o autor de um telefonematerrorista ou de um bilhete de resgate.

Em 2002, o delegado doMinistério Público deitoupor terra o alibi de StuartCampbell no assassinato

da sua sobrinha Danielle Jones,em Essex (Inglaterra). Os peritosdemonstraram que foi ele o assas-sino e não a 'vítima, como tinhafeito crer. Achave do crime estavanurnas mensagens SM8 que o tioenviou do telemóvel de Danielle.As análises do texto revelaram .sem margem para dúvidas que

o estilo era próprio do suspeito,que jamais imaginou que umacentena de caracteres poderiammandá-lo para trás das grades.

.Provavelmente, Campbell tam-bém ignorava que a estrutura e oconteúdo das frases que usamosnas conversas quotidianas sãoquase únicos, ou que a pontuaçãoe a gramática de uma mensagemairónima podem ser suficientespara averiguar a idade, o sexo ea localização geográfica do seu

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autor. O que é certo é que' os lin-guístas forenses manejam diaria-mente estas diferenças no uso daspalavras, que ao longo da última.década permitiram identificar ine-quivocamente terroristas e crimi-nosos de todo o tipo.• Palavras que deixam pistasÉ um factoque existe urn mo-

do distintivo na forma como cadaindivíduo codifica a linguagem ese expressa com as suas próprias"marcas" linguísticas. Não háduas pessoas que utilizem a lin-guagem exactamente do mesmomodo. Peritos como James Fitzge-rald, investigador do FBI, prova-ram-no depois de vários anos atrabalhar na análise e identifica-ção de documentos anónimos .

"Osseres humanos são prisionei-ros da sua própria linguagem", ga-rante o linguista Don Foster, quecolaborou com Fitzgerald em vá-.rios casos. E acrescenta: "Por is-so, a análise cie~tífica de um tex-to pode revelar dados tão claroscomo as impressões digitais ou o

ADN." Foi precisamente esta téc-nica que permitiu a Fitzgerald eFoster resolver um caso chave na .história dos Estados Unidos: o doterrorista Fe, mais conhecido co-mo Unabomber, que empreendeuuma cruzada contra o progressotecnológico enviando cartas-bom-ba durante 18 anos.

Depois de muito tempo a espa-lhar o pânico, Unabomber escre-veu um manuscrito de maisdecem páginas, ameaçando fazer ir .-pelos ares um avião se o seu textonão fosse publicàdo na imprensa.As autoridades responderam .aoseu pedido, com a esperança deque o texto os levasse a um suspei-to. Em 1996, prenderam Ted Kac-zynski, alertados pelo seu.irmãodepois de ler o manuscrito. O FBIrevistou a sua casa à procura detodo o tipo de textos e cartas. A'comparação destes documentoscom o 'manuscrito ameaçadorconfirmou que eram obra da mes-ma pessoa.umaprova tão sólidaque permitiu condená-lo. O maiscurioso é que Foster chegou a con-

Page 2: Linguistica Forense

clusões tão insólitas e precisascomo as revistas preferidas deKaczynski serem a Scientific Ame-rican e a The Saturday Review eque ele era influenciado pelos es-critos do polaco Joseph Conrad.

• Mensagens subllminaresQual é o truque? Os linguistas

forenses comparam os escritoscom às bases de dados de textosdisponíveis em busca de hábitoslinguísticos semelhantes. Isto in-clui a identificação' do vocabulá-rio, do calão, da gíria profissional,dos regionalismos e até da pontua-ção, sem menosprezar os porme-nores do formato do documentoe do suporte físico em que se en-contra. Se a comunicação é oral,por exemplo numa gravação, háque ter em conta, para além. dis-so, o ritmo, â fonética, as pausas,a entoação ou a separação entrepalavras e letras.

Aprofuridando o uso da lingua-gem, os linguistas comprovaram,por exemplo, que a veracidade deum relato é tanto maior quanto

mais completos são os pormeno-res sensoriais que incorpora. Ouque a frustração se desloca paraa linguagem no uso de prelúdiosmaiores que o habitual. São oque alguns especialistas chamam"mensagens sublíminares" outhoughtprints, isto é, traços dopensamento que aparecem conti-nuamente ao comunicarmos. Aisto, há que acrescentar o uso denovas formas de comunicação, co-mo o correio electrónico ou o tele-móvel, que estão a dar que falarentre os forenses.

• Também estudam os SMSO linguista TIm Grant e o foren-

se Kim Brake, da Universidade deLeicester (Reino Unido), puseramem marcha recentemente o pri-meiro estudo forense centradonas mensagens SMS. "Tendo emconta que estas são uma forma decomunicação nova e; ao mesmotempo, um modo especialmenteinformal de usar a linguagem, nãose espera que quem as escreva si-ga as convenções linguísticas", es-

clarece Grant. "Esta liberdade dálugar a diferenças significativasrio estilo, que podem ser usadaspara identificar o seu autor." Paraalém disso, os especialistas estu-dam a influência no nosso estilodos SMS que recebemos.

Outra das incumbências dosespecialistas linguistas e forensesestá em analisar a construção dalinguagem usada nos interroga-tórios e nas confissões. Os cien-tistas também contam com téc-

nicas sofisticadas para a análisde falsificações de assinaturae a detecção de textos redigidocom fins criminosos, como falsacartas de suicidas. São, até, capazes de criar perfis linguísticosde identificar os interlocutores duma conversa a partir de uma gravação de voz.

PARA SABER MAIShttp://www.forenslcdna.comPáginassobreomudo da ciência forense.

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