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Livro Eletrônico - Unidade 2 Livro Eletrônico - Unidade 2 Site: EaD - SEaD Curso: Psicologia do Desenvolvimento - (G3) Livro: Livro Eletrônico - Unidade 2 Impresso por: Humberto Akio Hama 368865 Data: Friday, 30 January 2015, 23:43 Sumário Livro Eletrônico Unidade 2 Unidade 2 - 2.1 - Primeiras palavras 2.2 - Problematizando o tema 2.3 - Concebendo uma nova vida 2.3.1 - Desenvolvimento físico-motor de zero a seis anos de idade 2.3.2 Desenvolvimento cognitivo de zero a seis anos 2.3.3 Desenvolvimento psicossocial de zero a seis anos 2.4 - Considerações finais 2.5 - Estudos Complementares 2.5.1 Saiba mais 2.5.2 Sugestões de leitura 2.5.3 Referências bibliográficas Livro Eletrônico Unidade 2 Educação Musical Psicologia do Desenvolvimento Nome do autor: João dos Santos Carmo Colaboradores: Kelly Canavez, Priscila Mara de Araújo Gualberto; Viviane Colloca Araújo. Unidade 2 - O início da vida e os seis primeiros anos 2.1 - Primeiras palavras A primeira Unidade teve como objetivo apresentar aos leitores e leitoras a área denominada Psicologia do Desenvolvimento. Na presente unidade faremos uma incursão por aspectos específicos do desenvolvimento humano, abrangendo desde a concepção e gestação e indo até a primeira infância (0 a 3 anos) e segunda infância (3 a 6 anos). Para nos tornarmos mais didáticos, o desenvolvimento é dividido em áreas – físico-motor, cognitivo e psicossocial – mas deve ficar claro que a criança se desenvolve integralmente e que as diferentes áreas de desenvolvimento são interdependentes.

Livro Eletronico Unidade 2 Psicologia Do Desenvolvimento

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psicologia e educação

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  • Livro Eletrnico - Unidade 2

    Livro Eletrnico - Unidade 2

    Site: EaD - SEaDCurso: Psicologia do Desenvolvimento - (G3)Livro: Livro Eletrnico - Unidade 2Impresso por: Humberto Akio Hama 368865Data: Friday, 30 January 2015, 23:43Sumrio

    Livro Eletrnico Unidade 2 Unidade 2 - 2.1 - Primeiras palavras 2.2 - Problematizando o tema 2.3 - Concebendo uma nova vida

    2.3.1 - Desenvolvimento fsico-motor de zero a seis anos de idade 2.3.2 Desenvolvimento cognitivo de zero a seis anos 2.3.3 Desenvolvimento psicossocial de zero a seis anos

    2.4 - Consideraes finais 2.5 - Estudos Complementares

    2.5.1 Saiba mais 2.5.2 Sugestes de leitura 2.5.3 Referncias bibliogrficas

    Livro Eletrnico Unidade 2

    Educao Musical

    Psicologia do Desenvolvimento

    Nome do autor: Joo dos Santos CarmoColaboradores: Kelly Canavez, Priscila Mara de Arajo Gualberto; Viviane Colloca Arajo.

    Unidade 2 -

    O incio da vida e os seis primeiros anos

    2.1 - Primeiras palavrasA primeira Unidade teve como objetivo apresentar aos leitores e leitoras a rea denominada Psicologia doDesenvolvimento.

    Na presente unidade faremos uma incurso por aspectos especficos do desenvolvimento humano, abrangendo desde aconcepo e gestao e indo at a primeira infncia (0 a 3 anos) e segunda infncia (3 a 6 anos). Para nos tornarmosmais didticos, o desenvolvimento dividido em reas fsico-motor, cognitivo e psicossocial mas deve ficar claroque a criana se desenvolve integralmente e que as diferentes reas de desenvolvimento so interdependentes.

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  • Voc notar uma mudana de enfoque na redao, pois passaremos a citar diversas referncias que podero serconsultadas para aprofundamento. Outra mudana de enfoque a apresentao de dados de pesquisa relacionados aodesenvolvimento da percepo musical, bem como dados acerca da influncia de estmulos musicais nodesenvolvimento de aspectos especficos, como pensamento e linguagem.

    2.2 - Problematizando o tema

    J sabemos que somos indivduos nicos e que as diferentes etapas do Ciclo de Vida apresentam particularidades, a tal ponto que uma criana , em diversos aspectos, qualitativamente diferente de adolescentes e de adultos.

    Assim, a antiga viso de que a criana um adulto em miniatura cai por terra, em funo de que os dados observacionais e experimentais do ampla sustentao a essas diferenas e particularidades.

    Porm, voc j refletiu mais detidamente acerca de quais so essas diferenas e particularidades?

    Em que medida o ambiente pode determinar as peculiaridades e capacidades de um beb e de crianas pequenas?

    Qual o papel dos fatores biolgicos na configurao do ser humano?

    Procure formular respostas provisrias a essas questes e acompanhe o desenrolar da Unidade a fim de comparar suas reflexes iniciais com o contedo apresentado.

    2.3 - Concebendo uma nova vida

    A vida humana comea no momento da concepo, isto , no momento em que um espermatozide consegue fecundar um vulo. Deste encontro forma-se uma clula-ovo fertilizada, chamada de zigoto. Como as clulas humanas possuem 46 cromossomos cada, o zigoto recebe 23 cromossomos vindos do espermatozide e 23 cromossomos vindos do vulo; ou seja, o zigoto possui uma combinao de cromossomos do pai e da me, num total de 46 cromossomos agrupados em pares. Cada par de cromossomos composto por um cromossomo da me e outro do pai. O vigsimo terceiro par determina o sexo do futuro beb (DAVIDOFF, 1983).

    Esta brevssima descrio pode sugerir que a concepo se reduz a um mero fenmeno biolgico.

    Porm, no exatamente essa a realidade.

    Conceber uma vida, alm de ser um evidente fenmeno biolgico, envolve tambm aspectos sociais e psicolgicos que comeam antes mesmo da concepo e se estendem ao longo do processo gestacional.

    Carmo (no prelo) informa que, antes da concepo, uma vida determinada pelas expectativas e dinmicas envolvendo pai e me. Assim, cada concepo est envolvida em uma das seguintes condies:

    1. Gravidez desejada e planejada 2. Gravidez desejada, mas no-planejada 3. Gravidez no-desejada, mas planejada 4. Gravidez no-desejada e no-planejada

    Claro que uma gravidez que foi desejada e planejada qualitativamente diferente das demais condies, sendo possvel inferir que a qualidade da interao da me com o feto ser bastante diferente. Em outras palavras, uma mulher grvida, que desejou e planejou a gravidez, poder, com maior probabilidade, interagir com a vida em formao atravs de afagos na barriga, canes e murmrios, alm dos cuidados mdicos necessrios. So atividades s quais se entregar com maior prazer do que uma mulher que est grvida sem desejar e/ou sem planejar.O desenvolvimento pr-natal freqentemente dividido em trimestres, porm seria mais interessante dividi-lo em trs perodos: germinal, embrionrio e fetal.

    Perodo germinal: inicia na concepo e se estende at duas semanas, quando o ovo fertilizado se implanta na parede do tero;

    Perodo embrionrio: inicia a partir da implantao do ovo fertilizado na parede uterina e se estende at o final dos doisprimeiros meses de gestao;

    Perodo fetal: comea no incio do terceiro ms e se prolonga at o nascimento.

  • Durante a formao do novo ser, uma srie de influncias ambientais (alm das j citadas) tem um papel determinante no desenvolvimento do futuro beb, dentre elas:

    Idade materna: mulheres adolescentes podem apresentar e mulheres acima dos trinta anos apresentam maiorprobabilidade de gerarem um beb com alguma anomalia congnita; porm, esses riscos tm diminudo emfuno dos exames pr-natais e do aumento na qualidade de vida da populao em geral. Apesar disso, a idadepode ser um fator de risco se associada a uso de lcool ou de outras drogas, bem como outros fatoressocioeconmicos.

    Sade e nutrio materna: baixa nutrio da me pode causar um reduzido desenvolvimento do crebro(CRAIG & DUNN, 2007), no s no perodo fetal, mas tambm nos primeiros anos de vida, principalmente sea desnutrio da me ocorrer por um perodo prolongado durante a gravidez.

    Cuidados pr-natais: evidentemente os cuidados pr-natais esto diretamente associados ao nascimento debebs saudveis.

    Outras interferncias ambientais tambm esto presentes: o apoio ou ausncia do pai; os cuidados e suportes dadospelos familiares prximos; condies de moradia e de trabalho; alimentao; uso de lcool, tabaco ou outras substnciastxicas; quedas e outros acidentes; doenas; realizao de pr-natal; etc. Em resumo, a situao geral da mulher grvidaaltera substancialmente o ambiente qumico no qual o beb em formao se encontra: o tero (BEE, 1986; DAVIDOFF,1983)

    Feto e msica

    O feto ouve sons? Consegue identificar a voz da me? Reage a msicas? Caso sim, a criao de ambientes sonorosagradveis poder alterar as reaes do feto, tornando-o mais calmo e influenciando seu desenvolvimento intra-uterino?Segundo Cabrera (2007):

    a viso que se tinha do tero como um lugar tranqilo, escuro e silencioso, cai por terra. Hoje, sabe-se que otero , na verdade, um lugar bastante ruidoso, onde o feto pode ouvir tanto sons externos, embora abafadospelo lquido amnitico e a placenta, quanto os sons internos, provenientes do corpo da prpria me, como osbatimentos cardacos, a digesto e a circulao sangunea (p. 47).

    Ainda segundo Cabrera (2007) alguns estudos indicam que o feto possui capacidade de sons e melodias. A autora cita ocaso de recm nascidos que apresentam diminuio dos batimentos cardacos aps ouvirem melodias que eram entoadasno ltimo trimestre de gravidez.Se o feto em formao j capaz de uma srie de reaes e, inclusive, de memorizao, o que pensar do neonato e dascapacidades apresentadas pelos bebs? Nos tpicos a seguir, sero apresentadas as principais caractersticas dedesenvolvimento de zero a seis anos.

    2.3.1 - Desenvolvimento fsico-motor de zero a seis anos de idadeDesde o momento da concepo, o processo de crescimento fsico entra em ao. O crescimento pr-natal to importante quanto acelerado e nos perodos embrionrio e fetal ocorrem processos fsicos importantes (COLL, PALACIOS e MARCHESI, 1995).

    No perodo embrionrio, os processos de morfognese e histognese fazem com que o organismo se diferencie. Na morfognese, h a diferenciao progressiva das partes do corpo (cabea, ombro, braos, pernas, etc.) e na histognese ocorre a diferenciao das clulas em tecidos especializados (por exemplo, tecidos epitelial e nervoso).

    Durante o perodo fetal, o crescimento ocorre em alta velocidade, o corpo termina sua formao e vai se tornando cada vez mais proporcional. O feto para de crescer quando ocupa todo o espao disponvel no tero materno, o que vai acontecer entre o oitavo e nono ms aps a concepo.

    As nascer, a sade do beb diagnosticada por uma srie de exames. Um teste comumente utilizado o Teste de Apgar. Trata-se de uma escala que mede, de forma rpida, cinco aspectos no recm-nascido, conforme se pode observar no Quadro 1.

    Cada um dos aspectos recebe uma pontuao e, aps a somatria, uma pontuao 7 ou mais indica um beb em boas condies fsicas; uma pontuao entre 4 e 6 indica que o recm-nascido precisa de cuidados especiais; e uma pontuao de 3 ou menos indica situao de risco e necessidade de atendimento mdico emergencial.

  • Quadro 1As cinco dimenses do Teste de Apgar

    Pontos Atividade (tnusmuscular)

    Pulsao Caretas Aparncia (cor dapele)

    Respirao

    2 O beb move osmembros

    ativamente

    100 batimentospor minuto ou

    mais

    O beb choraintensamente

    Cor normal em todo ocorpo

    Respirao forte echoro

    1 O beb move osmembroslevemente

    Inferior a 100batimentos por

    minuto

    O beb faz caretaou chora

    Cor normal, exceto nasextremidades

    Respirao lenta eirregular

    0 Nenhummovimento;

    msculos flcidos

    No detectvel O beb noresponde

    O beb est azul-acinzentado, todo

    plido

    Sem respirao

    Fonte: KAIL (2004, p. 93).

    Os bebs nascem com um conjunto complexo de reflexos que os capacita a interagir com o mundo. Ao contrrio do que se imaginava, portanto, o beb no vem ao mundo como uma pgina em branco. Suas capacidades permitem que estabelea contatos e responda s diversas estimulaes ambientais (sonoras; tteis; odorficas; gustativas; visuais).

    O tamanho e o peso dos bebs que nascem a termo, variam dentro de uma faixa considerada padro. Em geral o peso varia entre 2,5 Kg e 4,5 Kg e o tamanho fica entre 45 cm e 55 cm. Uma caracterstica fsica marcante do recm nascido a desproporo entre cabea e o restante do corpo: o tamanho da cabea equivale a um quarto do tamanho corporal (PAPALIA, OLD e FELDMAN, 2006).

    Ao nascer, o beb pode fazer muitas coisas a partir dos reflexos de que so dotados (BEE, 1986):Rotao: ao ser tocado suavemente na bochecha, o beb gira a cabea em direo fonte que o tocou; isso facilita ir embusca da fonte de alimentao;

    Suco: suga aquilo que colocado em sua boca;

    Deglutio: outro reflexo importante para sua sobrevivncia, embora ainda no esteja bem coordenado com a respirao;

    Moro: conhecido como reflexo de susto, so os movimentos tpicos de abrir os braos e arquear as costas quando um som alto e desagradvel emitido ou algum contato fsico brusco realizado;

    Babinsky: ao ser tocado suavemente na planta do p, automaticamente estica os artelhos (dedos do p) e, em seguida, osfecha em forma de leque;

    Preenso: um toque na palma da mo suficiente para que o beb feche as mos. Se o objeto que o tocou permanece em sua mo, ele o segura;

    Marcha Automtica: ao ser segurado pelo tronco e colocado em posio ereta, permitindo contato dos ps com alguma superfcie, o beb passa a apresentar movimentos de marcha, alternando os ps.

    Nota-se claramente que esses reflexos servem no apenas para a sobrevivncia imediata do beb, mas so, tambm, recursos que o capacitaro a adquirir outras habilidades futuras. A maior parte dos reflexos desaparecer no decorrer dosquatro primeiros meses. Alguns desaparecero bem cedo (como o reflexo de Moro) enquanto outros passaro de reflexos involuntrios para condutas voluntrias, como o caso da suco.

    Podemos afirmar que os bebs vm ao mundo dotados de um sistema comportamental e fisiolgico regular e competente, o que o capacita aos ajustes necessrios ao novo ambiente. Em relao ao desenvolvimento geral, podemosinformar que o controle motor ainda precrio, mas aos poucos conseguir coordenar os movimentos, de tal forma que conseguir, por volta dos 13 a 15 meses caminhar sem ajuda. A cronologia apresentada a seguir no deve ser vista comoobrigatria, mas representa uma mdia em relao s etapas de desenvolvimento motor.

  • Quadro 2Habilidades fsico-motoras esperadas nos 18 primeiros meses de vida

    Meses de vida Habilidades 01 ms Fica deitado de bruos e consegue erguer o queixo

    02 meses Permanece de bruos e ergue o trax 03 meses Estica o brao em direo a um objeto 04 meses Consegue ficar sentado, com apoio nas costas 05 meses Agarra objetos que esto ao seu alcance 06 meses Permanece sentado, com apoio, por um tempo maior. Nessa

    poca comum o uso do cadeiro 07 meses Consegue sentar sem ajuda e sem apoio 08 meses Estando em p, consegue abaixar-se e se colocar em posio

    de sentar 09 meses Consegue ficar de p, segurando-se no mobilirio; arrasta-se

    pelo cho 10 meses Consegue andar com ajuda de adultos que o seguram pelas

    duas mos. Consegue engatinhar sobre mos e joelhos 11 meses Consegue ficar de p, sem ajuda

    12 meses Caminha com a ajuda do adulto que segura uma de suas mos 13 meses Consegue andar sozinho 18 meses Sobe escadas utilizando as mos e as pernas

    Quadro elaborado pelos autores a partir de informaes de Mussen et al (1988).

    Os avanos posturais e a locomoo transformam o beb em um indivduo mais ativo no ambiente circundante. A postura ereta fundamental para o andar, contudo somente com a ao do princpio de crescimento cfalo-caudal que o beb vai conseguir manter o equilbrio.

    Segundo esse princpio, a cabea e o tronco so as partes do organismo do beb que se desenvolvem primeiro. Nos primeiros meses de vida, portanto, a cabea da criana mais pesada que o restante do corpo, o que faz com que ela perca o equilbrio quando colocada numa postura sentada. Com o passar dos meses, os braos e pernas crescem e tornam o corpo mais proporcional, ajudando a criana a se equilibrar em suas tentativas para andar. Alm disso, para aprender a andar os bebs precisam adquirir habilidades de ficar em p, dar passos alternados e utilizar informaes perceptivas para avaliar superfcies (KAIL, 2004). A Figura 1 mostra os marcos fundamentais do desenvolvimento motor.

  • Figura 1 Marcos fundamentais do desenvolvimento postural e da locomoo. Retirado de Kail (2004, p. 120).

    A partir do incio do segundo ano de vida, a criana comea a apresentar uma independncia cada vez maior. Dominaseu espao e consegue regular muito bem a viso e as habilidades motoras, de modo que a coordenao visomotora, queantes era um tanto mais custosa, agora passa a ser uma capacidade que abrir diversas possibilidades em seudesenvolvimento fsico.

    Esse tipo especfico de coordenao dos movimentos um marco importante no desenvolvimento das habilidadesmotoras finas da criana, pois a criana passa a controlar melhor sua ao de agarrar e alcanar objetos, gerandoexperincias diversificadas para o estmulo do movimento de pina fina. As habilidades motoras finas soespecialmente importantes quando a criana entra na escola e passa a ser exigido dela movimentos cada vez maiscoordenados para o desenvolvimento da escrita e em outras situaes, como por exemplo na realizao de jogos comoquebra-cabea e jogos de tabuleiro.

    Assim, de acordo com Bee (1986), a criana, por volta de:

    Quadro 3Habilidades fsico-motoras esperadas por volta de 02 a 06 anos de idade

    Anos de vida Habilidades

    02 anos Corre; anda para trs; consegue agachar-se para apanhar objetos do cho, sem se desequilibrar

    02 anos e meio Consegue ficar na ponta dos ps e consegue pular com os dois ps

    03 anos Consegue equilibrar-se com um p s, por alguns segundos

  • 04 anos Desce escadas, alternando os ps e sem apoio

    05 anos Consegue saltar com ambos os ps

    06 anos J est pronta para o perodo escolar. A motricidade ampla (grandes movimentos) e a motricidade fina (movimentos menores e mais refinados) a capacitar a segurar o lpis com mais segurana e traar linhas e ondas, que so a base para a escrita

    Quadro elaborado pelos autores a partir de informaes de Bee (1986).

    Verifica-se, a partir do Quadro 3, a importncia para a criana do desenvolvimento das habilidades motoras globais. AFigura 2 apresenta algumas caractersticas que mostram a evoluo dessas habilidades.

    Figura 2 - Evoluo das habilidades motoras globais (KAIL, 2004).

    Ao longo dos anos, as crianas vo ajustando suas aes de agarrar e lanar, conseguindo atingir alvos cada vez mais distantes e desenvolvendo cada vez mais preciso no agarrar objetos arremessados de diferentes distncias.

    Na fase pr-escolar define-se o problema da lateralidade. O corpo humano morfologicamente simtrico, contudo funcionalmente assimtrico. As pessoas mostram claramente preferncia por um dos lados do corpo na realizao de atividades de vida diria. Mas a definio da preferncia coincide com o incio da escolarizao.

    A preferncia lateral pode ser homognea (a criana ou destra, ou canhota) ou cruzada (a criana , por exemplo, canhota de olho e destra de brao e perna). A determinao da preferncia lateral dada pelo crebro e, por isso, forar a criana a contrapor sua preferncia uma contradio em relao organizao cerebral (COLL, PALACIOS e MARCHESI, 1995).Importante tambm no desenvolvimento psicomotor so os aspectos simblicos dessa dimenso da evoluo humana. Arepresentao que se tem do prprio corpo, dos diferentes segmentos corporais, das suas possibilidades de movimento e ao, bem como das suas limitaes constituem o conceito de esquema corporal. Essa representao gradualmente construda como consequncia das experincias que a criana realiza com o corpo. Esse conhecimento do nosso prpriocorpo permite-nos ajustar os movimentos a cada momento de ao sobre o ambiente, em relao ao contexto espacial e temporal no qual as atividades ocorrem.

  • Se voc j observou uma criana de cerca de quatro anos tentando arremessar objetos em um alvo especfico (por exemplo, jogar uma bola no gol), voc pde ver sua dificuldade em acert-lo, por maior que fosse. No fosse o desenvolvimento do esquema corporal, passaramos toda nossa vida envolvidos com ensaios e erros motores. A construo progressiva do esquema corporal se deve, portanto, aos processos de maturao e s aprendizagens decorrentes das vivncias de ajuste da ao do corpo aos estmulos do meio e aos propsitos da ao.

    A poca pr-escolar a fase de plena elaborao do esquema corporal. Dos dois aos cinco anos aumenta a qualidade perceptiva em relao ao corpo; o desenvolvimento das habilidades motoras, com uma preenso mais refinada e uma locomoo mais coordenada, facilita a explorao do meio e das interaes que a criana tem com seu corpo. Contudo, a consolidao do eu corporal vai se estabelecer entre seis e doze anos (COLL, PALACIOS e MARCHESI, 1995).

    2.3.2 Desenvolvimento cognitivo de zero a seis anos

    Para entendermos o desenvolvimento cognitivo torna-se necessrio, primeiramente, uma breve explanao acerca da integrao sensorial e da linguagem.

    O beb apresenta uma dotao sensorial complexa ao nascer. Aos poucos, em contato com o ambiente e suas estimulaes, vai refinando seu campo sensorial e perceptual. As sensaes (isto , a transformao de estimulao externa em impulso cerebral) j so altamente desenvolvidas; mas a percepo (o processo ativo de interpretao das informaes vindas dos sentidos) ainda limitada no incio, porm desenvolve-se rapidamente nos seis primeiros mesesde vida.

    Apesar de, aos cinco ou seis meses, a criana ter feito grandes progressos no desenvolvimento perceptivo, ainda h muito para progredir, principalmente em relao a capacidades mais complexas, como decidir no que focar a ateno e saber como interpretar o que percebido.

    Um exemplo clssico o desenvolvimento da percepo visual. Esta envolve a ateno seletiva, isto , a capacidade de identificar padres e regularidades no ambiente (o rosto da me; a chupeta; os mbiles; etc.), particularmente os contornos dos objetos, de incio. Os bebs humanos so altamente sensveis ao rosto, ou melhor, aos contornos e outras caractersticas de um rosto humano. Nesse sentido, imitam facilmente, e imediatamente, as expresses faciais bsicas e algumas aes, como mostrar a lngua, abrir a boca, sorrir, franzir a testa (BEE, 1986).

    H clara preferncia visual das crianas a certas caractersticas dos estmulos, sobre as quais ela dedica mais tempo explorao. Por exemplo, os bebs preferem olhar para os estmulos brilhantes do que para os foscos; preferem estmulos com movimento aos estticos; preferem estmulos coloridos aos sem cor; tambm se sentem mais atrados porestmulos que emitam sons.

    No incio da vida, essas preferncias parecem ser inatas, porm tornam-se voluntrias medida que a criana vai acumulando experincias, conhecimentos, interesses, motivaes, etc. Ento, prestar ou no ateno no mais depender das caractersticas dos estmulos, mas sim das caractersticas individuais (seus interesses e motivos).

    A acuidade visual para profundidade e distncia tambm vai se desenvolver gradativamente na vida da criana. Um experimento clssico para verificar a percepo de profundidade em bebs o abismo visual (Figura 3). Neste dispositivo, a criana colocada no centro de uma mesa de tampo transparente. Numa metade da mesa colocada, em contato com o vidro, uma prancha com um desenho xadrez, enquanto embaixo da outra metade h uma prancha com o mesmo desenho, mas localizada no cho, longe do vidro. Essa configurao d a sensao de que h uma queda a partir da metade da mesa.

    As crianas que, em geral, participam desse experimento so as que sabem engatinhar. As mes ficam no lado da mesa que d a sensao do abismo, chamando seus filhos. Nessa situao, com crianas com idade aproximada de seis meses, 90% das crianas evitam o lado transparente da mesa. Independente dessa ser uma capacidade inata ou aprendida, o fato que por volta de seis meses as crianas j exibem percepo de profundidade.

  • Figura 3 Abismo visual utilizado para o estudo da percepo de profundidade. Retirado de Coll, Palacios e Marchesi(1995, p. 51).

    Outro exemplo clssico o desenvolvimento da percepo auditiva. Bebs podem facilmente localizar a direo da fonte sonora, ao movimentarem a cabea em direo a essa fonte. Alm disso, so bastante sensveis voz humana, em particular a voz materna (DAVIDOFF, 1983). So capazes tambm, logo nos primeiros dias aps o nascimento, de discriminar diferentes vozes, mostrando preferncia por vozes familiares, como a da me.

    Paladar, olfato e tato tambm esto presentes desde o incio, de tal forma que vo se refinando cada vez mais. Por exemplo, foi observado que crianas recm-nascidas reagem positivamente a estmulos doces e negativamente aos salgados e amargos.

    Podemos afirmar que ocorre, aos poucos, uma integrao sensorial ao longo das primeiras semanas de vida (CRAIG & DUNN, 2007), ou seja, a habilidade de combinar informaes provindas de diferentes canais sensoriais e que passam a serem integradas em uma percepo nica (por exemplo, olhar um brinquedo e estender a mo em sua direo para alcan-lo).

    V-se, portanto, que a percepo serve para relacionar o organismo com seu meio, sobretudo os aspectos do meio que so importantes para o indivduo. A maior ou menor importncia de um aspecto concreto do ambiente determinada parte pelo cdigo gentico herdado filogeneticamente e parte pela histria de aprendizagem do indivduo em questo (COLL, PALACIOS E MARCHESI, 1995).

    Outro marco importante o desenvolvimento da linguagem, ou seja, a produo de sons cada vez mais prximos dos sons produzidos pelos adultos e que so emitidos dentro de contextos especficos.

    Podemos dividir a linguagem em receptiva e produtiva. A primeira se refere fala, palavras e sentenas. A segunda se refere produo de linguagem por meio de palavras faladas ou escritas. De acordo com Craig e Dunn (2007), independentemente da lngua ou da cultura, em mdia por volta dos 21 meses de vida ocorre um fenmeno chamado de exploso da linguagem, caracterizado por um acrscimo rpido de vocabulrio, em uma taxa semanal bastante superior ao que ocorria anteriormente. Essa conquista permite criana a produo de palavras encadeadas (sentenas) que vo se complexificando e refinando cada vez mais.

  • Os pais (e adultos em geral) ajudam os bebs a dominar os sons da lngua utilizando um estilo didtico de comunicao com eles. Na fala dirigida ao beb, os adultos falam pausadamente e com alteraes de tom e volume. Esse tipo de fala atrai a ateno dos bebs porque o ritmo lento e as mudanas acentuadas do pistas para o entendimento e a aprendizagem da lngua (KAIL, 2004).

    A produo de fala comea, por volta de dois meses, com um fenmeno conhecido como arrulho.

    Os arrulhos so as primeiras experincias da criana com seu aparelho fonador. Nesse momento, os bebs podem produzir inmeros tipos de fonemas e, ao longo do tempo, a sociedade vai modelando a produo dos sons de acordo com o que convencionado na lngua materna. Por isso, h em algumas lnguas de culturas diferentes da nossa, sons que ns, como adultos, no conseguimos reproduzir facilmente (como por exemplo, o som de th da lngua inglesa norte americana).

    Aps o arrulho, vem o balbucio, quando entre os cinco e seis meses de idade os bebs passam a reproduzir sons semelhantes fala, mas ainda sem significado (por exemplo, d, b, p, etc.). As crianas experimentam diferentes slabas e, com o passar do tempo, passa a repeti-las e combin-las. Os adultos so bastante atrados pelos balbucios infantis, o que auxilia no processo de modelagem da fala das crianas. Os pais, principalmente, do significados s slabas faladas pelos bebs e fazem festa cada vez que a criana produz sons parecidos com mam e pap, por exemplo. Esse processo de interao da criana com o adulto ajuda na diferenciao da fala produtiva por parte da criana.

    O prximo passo, ento, a produo das primeiras palavras. A descoberta de que as palavras do nome aos objetos expande a percepo das crianas sobre o ambiente no qual elas esto inseridas. As crianas passam a entender que as palavras so smbolos e isso gera muitas novas possibilidades.

    A linguagem possibilita rotular as coisas ao redor, classificar, agrupar, categorizar. A linguagem modula o pensamento e comea a partir das interaes com o mundo ao redor; mas essa interao no seria possvel sem o desenvolvimento da percepo, tendo por base os sentidos.

    Dessa maneira, percepo e linguagem esto na base do desenvolvimento cognitivo .

    Segundo Piaget, no perodo compreendido entre zero e dois anos de idade, os bebs apresentam uma caracterstica cognitiva fundamental: o conhecimento do mundo a partir de sensao e ao (da a expresso sensrio-motor). Entretanto, conhecer o mundo a partir de sensaes e aes apenas um passo para uma habilidade ainda mais importante: simbolizar. Em outras palavras, a habilidade de lidar com o ambiente a partir de smbolos ou representaesdo ambiente.

    Alguns estudos tm demonstrado que os bebs so capazes de identificar variaes nas quantidades pequenas de coisas ao seu redor (GELMAN & GALLISTEL, 1978), identificar que um objeto permanece no ambiente aps ser escondido (o que chamado de permanncia do objeto), memorizar fatos, nomes e localizao espacial dos objetos.

    Essas e outras capacidades preparam, de certa forma, as crianas para novas conquistas cognitivas. Assim, a partir dos dois anos de idade, as crianas comeam a apresentar uma srie de caractersticas cognitivas que passamos a resumir a seguir:

    Quadro 4

    Habilidades cognitivas comuns em crianas no perodo pr-escolar

    Habilidades Cognitivas Descrio Uso de smbolos No necessrio estar em contato direto com o objeto,

    pessoas ou evento para ser capaz de pensar nele.So capazes de pensar que os objetos ou pessoaspossuem propriedades diferentes das que realmentetm. Por exemplo, uma criana pode segurar umacaneta e fazer de conta que um avio.

    Compreenso de identidades So capazes de entender que mudanas superficiaisno alteram a natureza das coisas. Sabem, porexemplo, que um colega fantasiado de policialcontinua sendo seu colega por trs da fantasia.

  • Compreenso de causa e efeitoConseguem identificar as causas dos eventos. Porexemplo, ao ver algum chorando capaz de perguntarde est machucado.

    Capacidade de classificar Conseguem agrupar pessoas, objetos e eventos em categorias com significado. Por exemplo, separa blocosvermelhos e triangulares de blocos azuis quadrados.

    Compreenso de nmeros Conseguem recitar a cadeia numrica e identificar quantidades a partir do uso da contagem.

    Empatia So capazes de imaginar como os outros se sentem oucomo se sentiriam em dada situao. Por exemplo,pode consolar um colega que est chorando.

    Teoria da mente Tornam-se cada vez mais conscientes dos pensamentose do funcionamento da cognio em geral. Fazeminferncias acerca do pensamento alheio e podempredizer comportamentos a partir do entendimento decomo os outros pensam.

    Fonte: Papalia et al (2007), com adaptaes dos autores.

    Apesar das capacidades descritas acima, h limitaes cognitivas claramente percebidas e que precisam ser conhecidaspelo adulto a fim de que este no julgue inadequadamente algumas formas de manifestao das crianas com idadeentre 03 e 06 anos. Desse modo, temos:

    Quadro 5Limitaes cognitivas comuns em crianas no perodo pr-operacional (Segundo Jean Piaget)

    Limitaes Cognitivas Descrio

    Centrao Concentram-se em um aspecto especfico e esquecem ouno conseguem descentrar, isto , negligenciam ou noobservam outros aspectos relevantes. Por exemplo, umacriana julga que seu irmo tem mais dinheiro do que elaprpria por verificar que possui apenas duas moedas decinqenta centavos, enquanto seu irmo possui quatro devinte e cinco centavos. Neste caso, diramos que o queest controlando o julgamento da criana a quantidadede moedas, em detrimento do valor total que deveria serum aspecto relevante.

    Irreversibilidade Nem sempre so capazes de compreender que uma aoou operao pode ser revertida at uma situao original.Ao usar o cubo mgico, pode no entender que afigura formada pela manipulao do cubo pode voltar aser a figura original a partir da reverso das aes.

    Foco em estados e no nas transformaes Nem sempre compreendem o significado dastransformaes entre estados. Por exemplo, podem noentender que verter o lquido de um copo largo para umcopo fino no altera a quantidade do lquido.

    Raciocnio transdutivo Ainda no utilizam raciocnio dedutivo ou intuitivo,podendo inferir uma causa que no existe. Por exemplo,a criana pode julgar que seu cachorrinho morreu porqueela foi desobediente com a me.

    Egocentrismo Freqentemente agem como se os outros pensassem,sentissem ou percebessem da mesma forma que elaspensam, sentem ou percebem. Por exemplo, uma crianapode fechar os olhos e esconder o rosto e, dessa maneira,julgar que os outros no conseguem enxerg-la.

  • Animismo Freqentemente atribuem vida a objetos inanimados. Porexemplo, uma criana pode brincar com uma caneta edizer que um cachorro, imitando seu latido.

    Dificuldade em distinguir aparncia e realidade Freqentemente podem confundir o real e o aparente.Por exemplo, uma criana pode achar que um urso depelcia um animal real e, portanto, est vivo.

    Fonte: Papalia et al (2007), com adaptaes dos autores.

    O quadro acima foi desenvolvido a partir das consideraes piagetianas, porm deve ser visto como um indicativo dealgumas limitaes de percepo ou de inferncia presentes em crianas pequenas; nunca como uma concluso de quecrianas pequenas so limitadas cognitivamente. As habilidades apontadas no Quadro 4, em contraste com o Quadro 5,no deixam dvidas de que crianas pequenas, contrariamente ao que Piaget julgava, possuem diversas possibilidades,as quais so desenvolvidas a partir das experincias proporcionadas pelos ambientes familiares, educacionais e sociais.

    O desenvolvimento cognitivo , portanto, uma construo progressiva e, segundo Salvador, Miras, Goi e Gallart(1999), para Piaget os fatores responsveis por esse desenvolvimento so:

    I. Maturidade orgnica trata-se do processo biologicamente determinado que o organismo possa se preparar fsica e fisiologicamente para novas experincias. Por exemplo, o maior controle postural permite criana vivenciar novas experincias que a levam ao aprendizado do andar. Esse um fator necessrio e indispensvel, que permite a apario de novas condutas.

    II. Experincia com os objetos fsicos diversificadas experincias com os objetos disponveis nos ambientes osquais a criana tem acesso permite que, pelo processo de assimilao/acomodao, os esquemas cognitivos sejam ampliados a cada momento, gerando maior conhecimento da criana sobre os objetos, em suas caractersticas fsicas e relacionais.

    III. Experincia e interao com outras pessoas apesar de considerar tal experincia como decorrncia do desenvolvimento cognitivo, ou seja, a criana ser capaz de compreender as especificidades das relaes sociais quando estiver cognitivamente preparada para tal, Piaget no nega que as interaes sociais contribuem para exercitar e modificar os esquemas, no sentido que promove situaes para que a criana explore seu ambiente.

    IV. Mecanismo de equilibrao processo cognitivo, postulado teoricamente por Piaget, que organiza e articula a ao dos trs fatores anteriores.

    2.3.3 Desenvolvimento psicossocial de zero a seis anos

    As primeiras experincias sociais do beb ocorrem, em geral, na famlia. Alm da me, comum que o beb esteja mergulhado em uma malha mais complexa de interaes sociais. Me, pai, irmos, tios e tias, avs e outros cuidadores, como as babs, proporcionam ao beb padres diferenciados de interao e oferecem os primeiros modelos a serem observados e imitados.

    Os processos sociais de interao so fundamentais para que o beb comece a identificar emoes, expressar sentimentos e necessidades. H, no entanto, outro processo extremamente importante nos primeiros dias de vida: o apego. Por apego nos referimos a um processo social e emocional que inicia a partir dos contatos e cuidados dispensados pelos adultos e que podem ser traduzidos por uma forte tendncia aproximao fsica e emocional. O apego recproco, ou seja, tanto o beb passa a depender do cuidador, quanto este passa a se adaptar ao beb. O mais interessante que o apego independe de o beb ser filho biolgico ou adotado.

    John Bowlby (1907-1990), estudioso dos processos de apego e vnculos sociais, indicou o que o adulto no fornece apenas cuidados relacionados sobrevivncia orgnica do beb, mas possibilita padres de interaes sociais bsicas necessrias (sorrir, afagar, tocar, brincar, conversar, olhar). Alm disso, os adultos so bastante sensveis s reaes do beb e, em geral, demonstram ternura simples presena de uma criana de colo. Portanto, mais importante que a presena da me biolgica parece ser a presena de um adulto que no s fornea os cuidados bsicos, mas tambm sejafonte de interaes sociais fundamentais, uma vez que esses padres iniciais fornecero a base para as futuras interaesda criana com o mundo.

    De acordo com Bowlby (2004), por volta dos seis meses de idade, o beb humano j est habituado presena de seus

  • cuidadores (consegue identificar rostos, reconhece vozes, sente o cheiro familiar do pai ou da me, reconhece o espao em que mora etc). Nessa poca comum registrar um episdio chamado de ansiedade de separao: o beb chora quando a me (o pai, o cuidador) se afasta, seja este um afastamento momentneo e sem sair do ambiente em que o beb se encontra, seja um afastamento mais prolongado.

    Em torno dos oito a doze meses, alm das reaes de choro separao, observa-se a reao de medo em relao a pessoas estranhas ao seu convvio. Porm, se o beb vive constantemente cercado de pessoas, recebe cuidados de mais de uma pessoa, segurado e afagado por diversos adultos, sua reao ser bem diferente diante do afastamento de um adulto em particular ou diante de um rosto novo que se aproxima, ou seja, no haver a chamada ansiedade de separao ou o choro em alta freqncia presena de um estranho.

    vlido destacar que em nossa sociedade o indivduo tende a aumentar o nmero de vnculos sociais, partindo de vnculos restritos famlia para vnculos mais amplos na sociedade. Assim, a chamada socializao primria ocorre geralmente na famlia, que seu grupo de origem; enquanto a socializao secundria ocorre principalmente na escola, em contato com professores e colegas.

    A depender do local em que vive e da maior ou menor proximidade entre vizinhos, pode-se notar que vnculos vo se estabelecendo no contato com colegas da vizinhana, primos etc. Como quer que seja, a ampliao das interaes sociais acompanha a ampliao da independncia e autonomia do indivduo em geral, seja em relao ao domnio da linguagem, seja em relao ao seu crescimento fsico, desenvolvimento cognitivo e autonomia de deslocamento espacialpara alm dos limites da famlia e da escola.

    O contato inicial com a famlia possibilita a aprendizagem de valores, normas e regras de conduta. Os estilos de cuidadoque os pais fornecem criana tambm podem interferir com seu desenvolvimento psicossocial. A combinao da quantidade de afeto que os pais utilizam no trato da criana em combinao com a quantidade de controle que existe nessa relao gera quatro estilos de cuidado parentais. So eles:

    Educao autoritria: este estilo combina alto controle com baixo afeto. Em geral, so pais que fixam suasregras e esperam que elas sejam seguidas sem nenhum tipo de contestao. H autoritarismo nessa relao e ahierarquia vertical, de cima para baixo (do pai para a criana). Os interesses e desejos da criana no soconsiderados nas decises dos pais em relao a ela e a criana pode se sentir desvalorizada.

    Educao competente: combina alto grau de controle parental com alto grau de afeto e ateno. Em geral, sopais que explicam as regras, os motivos das permisses e restries, ao mesmo tempo em que encorajam adiscusso por parte da criana. Nesse tipo de educao h respeito na relao, fazendo com que a criana sesinta respeitada em seus interesses e necessidades e estimulada a defender suas vontades.

    Educao permissiva-indulgente: combina bastante afeto e ateno com baixo controle parental. Em geral, sopais que aceitam o comportamento dos filhos e raramente os punem. Nesse tipo de educao a criana pode sesentir abandonada, uma vez que os pais no fazem esforos para tentar colocar limites para os comportamentosexcessivos da criana.

    Educao indiferente-distante: no fornece afeto nem controle. Em geral, so pais que apenas atendem asnecessidades fsicas e emocionais bsicas filhos. Procuram, muitas vezes, oferecer objetos materiais(brinquedos e dinheiro) como compensao pelo pouco tempo que passam com os filhos e pelo poucoenvolvimento emocional existente na relao adulto-criana.

    importante salientar que esse modelo de estilo parental de educao compe-se como uma predominncia, ou seja, todos os pais utilizam, ao longo da educao dos filhos, todos os tipos descritos, mas h o estilo que ocorre com maior frequncia em suas relaes com a criana.

    Os relacionamentos entre irmos e entre amigos tambm influenciam o desenvolvimento do comportamento social. Frequentemente, os irmos estabelecem um tipo de relao na infncia, de amizade ou de competio, que permanece ao longo de suas vidas. E a conduta dos pais parece interferir no estabelecimento dessa relao. Relaes de amizade so mais frequentes quando os irmos acreditam que os pais no tm favoritos ou quando a diferena de tratamento entre irmos justificada por uma real necessidade de uma das crianas.

    Os relacionamentos entre amigos ganham importncia na vida da criana a partir dos trs anos de idade. Na fase pr-escolar surge a brincadeira cooperativa e as interaes que a criana desenvolve com os colegas a auxilia no fortalecimento de uma srie de habilidades novas, como por exemplo, o seguimento de regras e a capacidade de resolver conflitos. Nessa fase, como as habilidades sociais ainda esto em desenvolvimento, surgem muitos episdios de agressividade entre as crianas. Por isso, fundamental a participao do adulto para auxiliar as crianas a controlarem seus comportamentos.

  • De um modo geral, podemos afirmar que o beb e a criana em seus primeiros anos de vida, apresentam algumas caractersticas cruciais para o desenvolvimento psicossocial, tais como:

    1. Expressam emoes bsicas nos primeiros anos de vida (raiva, surpresa, tristeza, alegria); 2. Por volta dos 02 anos de idade comea a expressar culpa e embarao; 3. Apresentam uma tpica capacidade de imitao desde seus primeiros meses de vida e, ao final do primeiro ano,

    utilizam as reaes emocionais alheias como referncia para suas prprias emoes; 4. Por volta de 18 meses de vida, comeam a desenvolver a noo de eu e, portanto, de individualidade e j

    conseguem reconhecer seu reflexo no espelho; 5. Vivenciam uma ampliao de seus grupos sociais, desde a famlia at a escola; 6. Utilizam os jogos e brincadeiras como forma natural de comunicar, interagir e formar papis sociais e de

    gnero, bem como expressar emoes e conflitos; 7. Por outro lado, tambm so capazes de manifestar agresso, que considerada como uma resposta natural e

    universal. A agresso fsica tipicamente aumenta nos anos pr-escolares (PAPPALIA et al, 2007), pormdeclina medida em que as crianas aprendem a resolver conflitos. O declnio da agresso fsica coincide comum aumento na agresso verbal. Evidentemente, a agresso sofre influncia direta dos modelos oferecidospelos adultos, da mesma forma que tanto adultos como a mdia podem fornecer modelos alternativos desoluo de conflitos;

    8. Por volta dos 04 anos de idade, as crianas se engajam mais intensamente em brincadeiras de faz-de-conta,envolvendo o uso da imaginao, compartilhamento de fantasias e a incluso de regras compartilhadas pelogrupo de pares (POOLE, WARREN & NUEZ, 2007);

    9. Crianas podem criar companhias imaginrias, conversar com eles e trat-los como reais. Segundo Poole et al.(2007), crianas que criam amigos imaginrios tendem a ser menos tmidas, so mais criativas e tendem a termais amigos;

    10.Por volta dos 5 e 6 anos de vida, a competncia social (isto , padres regulares de interao social) j estbem estabelecida e tende a se tornar estvel ao longo da vida (POOLE et al, 2007). Por esta razo, torna-seimprescindvel incentivar as crianas a desenvolver competncia social a partir dos modelos de interaooferecidos pelos adultos.

    A emoo um componente importante do comportamento social. Os bebs nascem com a capacidade de reconhecer pelo menos duas expresses faciais diferentes: de alegria (sorriso, olhos bem abertos) e de tristeza (sobrancelhas franzidas, boca rebaixada). A partir das experincias com os seres humanos, elas passaro rapidamente a reconhecer outras expresses faciais de emoo, como o medo e a raiva, e a partir de 24 meses j ser capaz de reconhecer emoesmais complexas, como culpa, orgulho e embarao.

    interessante notar que os sorrisos dos bebs so, inicialmente, expresses de estados fisiolgicos internos. Eles sorriem quando dormem ou logo aps terem sido alimentados. Contudo, os sorrisos causam reaes emocionais intensasnos adultos, o que acaba por estimular o contato social no momento do sorriso. O beb percebe, assim, que sorrir chamaa ateno do adulto e esse comportamento torna-se voluntrio e contingente s interaes sociais. O sorriso social vai surgir por volta de dois meses.

    Alm de muito cedo as crianas serem capazes de reconhecer emoes, elas tambm iniciam cedo o controle dessas emoes. Por volta dos seis meses, as crianas j demonstram alguns comportamentos que parecem estratgias para o controle das emoes. Por exemplo, os bebs desviam o olhar de uma pessoa, objeto ou evento que a esteja assustando e, quando esto com medo, aproximam-se de um dos pais buscando apoio para o enfrentamento dessa emoo (KAIL, 2004).

    No poderamos terminar o tpico sobre desenvolvimento psicossocial sem tratarmos do desenvolvimento da autoestima. A autoestima trata-se do sentimento de valor que a criana atribui a si mesma. Refere-se confiana que o indivduo tem em seus atos e na sua capacidade de julgamento. Ter autoestima elevada gera sentimentos favorveis e debem-estar em relao a si mesmo, enquanto ter baixa autoestima gera julgamentos negativos sobre si mesmo, sentimentos de tristeza e vontade de ser outra pessoa.

    Durante a fase pr-escolar a criana passa a assumir papis diferenciados. Ela no somente filho, agora ela tambm aluno. Com isso, a criana desenvolve maior autonomia e ganha responsabilidades. Ela agora deve vestir-se sozinha, escolher sua roupa para ir escola, tomar conta de seus pertences no ambiente escolar, entre outros afazeres. Ela passa aser mais livre para explorar sozinha os ambientes e fazer perguntas sobre o mundo. Essas novas experincias promovemoportunidade para o desenvolvimento da autoestima. Portanto, crianas na fase pr-escolar tendem a demonstrar autoestima elevada, enquanto no Ensino Fundamental torna-se mais frequente encontrarmos crianas com baixa

  • autoestima (KAIL, 2004).

    2.4 - Consideraes finaisAs descries apresentadas na Unidade 2 podem ser entendidas como um corolrio de alguns aspectos importantes que envolvem o desenvolvimento geral de zero a seis anos de idade. Foram identificadas as principais caractersticas do desenvolvimento fsico-motor, cognitivo e psicossocial, porm todas essas caractersticas devem ser entendidas a partir de uma perspectiva bioecolgica (ver item 1.3.3.1.1 da Unidade 1).

    Em outras palavras, preciso olhar para os contextos especficos em que uma criana se desenvolve. As condies concretas da famlia, habitao, qualidade de vida e de interao entre os adultos e entre adultos e crianas, so condies que determinaro os rumos do desenvolvimento da criana.

    Assim, precisamos entender o desenvolvimento de forma global, dos microssistemas aos macrossistemas e cronossistema que fazem parte das histrias particulares de vida.

    2.5 - Estudos Complementares

    So apresentadas, a seguir, algumas sugestes para aprofundamento dos estudos sobre as diferentes reas dodesenvolvimento humano

    2.5.1 Saiba mais

    Conhecer o desenvolvimento humano nos auxilia a entender como a musicalidade se desenvolve. Deste modo, sugerimos a leitura do artigo de Silvia Nassif, que pode ser acessado no link:

    http://www.fflch.usp.br/dl/simcam4/downloads_anais/SIMCAM4_Silvia_Nassif.pdf

    2.5.2 Sugestes de leitura

    Para um maior entendimento das diferentes caractersticas nas diferentes reas do desenvolvimento, sugerimos que pesquise os captulos 3 a 10 do seguinte livro:

    Kail, R. V. (2004). A criana. So Paulo: Prentice Hall, 2004.

    Nesse livro, vocs encontraro, de forma detalhada e com muitos exemplos, a descrio de cada uma das reas de desenvolvimento tratadas nesta unidade.

    2.5.3 Referncias bibliogrficas

    BOWLBY, J. (2004). Apego e perda. 3 ed. So Paulo: Martins Fontes (volumes 1, 2 e 3).

    CABRERA, S. M. P. Sons e gestao: implicaes do ambiente sonoro sobre a sade da gestante e do feto. Dissertao de Mestrado. Programa de Ps-Graduao em Msica. Instituto de Artes. Universidade Estadual Paulista- campus So Paulo, 2007.

    CRAIG, G. J.; DUNN, W. L. Understanding human development. New Jersey: Prentice-Hall, 2007.

    DAVIDOFF, L. L. Introduo psicologia. So Paulo: McGraw-Hill, 1983.

    GELMAN, R.; GALLISTEL, C. R. The childs understanding of number. Cambridge: Harvard University Press, 1978.

    KAIL, R. V. A criana. So Paulo: Prentice-Hall, 2004.

    MUSSEN, P. H.; CONGER, J. J.; KAGAN, J.; HUSTON, A. C. Desenvolvimento e personalidade da criana. 2 ed. So

    http://www.fflch.usp.br/dl/simcam4/downloads_anais/SIMCAM4_Silvia_Nassif.pdf
  • Paulo: Harbra, 1988.

    PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 8 ed. Porto Alegre: ArtMed, 2007.

    POOLE, D.; WARREN, A.; NUEZ, N. The story oh human development. New Jersey: Prentice-Hall, 2007;

    SALVADOR, C. C.; MIRAS, M. M.; GOI, J. O.; GALLART, I. S. Psicologia daEducao. Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 1999.