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Livros Grátislivros01.livrosgratis.com.br/cp001882.pdf · Magneto-optical Kerr effect magnetometry techniques were used to measure the magnetic properties. We also studied, from

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  • Rodríguez Suárez, Roberto Lázaro

    Fenômenos magneto-eletrônicos em interfacesmetálicas / Roberto Lázaro Rodríguez Suárez –Recife : O Autor, 2006.

    v, 256 folhas : il., fig., tab.

    Tese (doutorado) – Universidade Federal de

    Pernambuco. CCEN. Física, 2006.

    Inclui bibliografia.

    1. Física da matéria condensada – Magnetismo. 2. Multicamadas magnéticas – Interfaces – Acoplamento entre camadas. 3. Técnicas experimentais – Ressonância ferromagnética – Espalhamento de luz Brillouin. 4. Nanoestruturas magnéticas – Excitação de ondas de spin. I. Título.

    537.63 CDU (2.ed.) UFPE 538.3 CDD (22.ed.) BC2006-288

  • DEDICATÓRIA

    A la tropa florentina: Abuela Julia, Abuela Josefa, Tía Maria Julia, Tía Charo, Tío Ñico,

    Tío Morera, Jorge Raúl e Rainer.

    A la tropa chilena: Mi nene andino y su negra Danay.

    A la nueva tropa Brasileña: Mi negrona, Tai y Jujucita.

    A los mayores responsables: Papás Roberto y Jorge y mamás Dania y Norma.

  • AGRADECIMENTOS

    Sem eles teria sido tremendamente difícil....

    Aos que me acompanharam pelos ambientes frios do departamento: Alexandre, Luis,

    Robson, Lídice, Luciana, João, Camila, Gil, René, Chico....

    Aos professores: Sandra, Mauricio Coutinho, Sergio Coutinho, Flávio, Jairo, Sergio

    Rezende, Rios, Lúcio....

    Aos amigos que me acompanham na distancia: Maria, Tamara, Alex, Jorgito....

    Aos bigoderos que são muitos...

    À cubanada: Ernesto, Eduardo, Sergio, Raiden, Suseti e Raidencito.

    A minha família pela parte da minha negra: Valéria, Ednaldo, Camila, Carol, Eugênio,

    Luciana, Eudes...

    A minha família por parte de Eliana e Beta: Edmilson, Laura, Canda, Murilo, Rozana,

    Tati.....

    À mais imortal das tropas: Beta (cachaceira), Sergio (cachaceiro), Claudia (cachaceira),

    Jorge (cachaceiro), Pedruque, Eliana, Ernesto e ao grande Pixi...

    A Antonio, por sua orientação e por todo o que tenho aprendido com ele, lhe fico

    eternamente agradecido.

  • i

    RESUMO

    Nesta tese foram investigadas tanto do ponto de vista experimental quanto teórico as

    propriedades estáticas e dinâmicas de estruturas magnéticas onde as interfaces representam

    um papel primordial. Nos sistemas válvulas de spin, variamos a espessura da camada

    espaçadora com o propósito de investigar a competição entre os vários tipos de

    acoplamento e apresentamos o cálculo detalhado da relação de dispersão que nos permite

    encontrar os parâmetros fenomenológicos através do ajuste dos dados experimentais

    obtidos por ressonância ferromagnética (FMR) e espalhamento de luz Brillouin (BLS). Para

    investigar o efeito de exchange bias fizemos um estudo detalhado em bicamadas Py/IrMn

    variando a espessura da camada antiferromagnética de IrMn. Com isto investigamos o

    campo de anisotropia rotatória induzido pelos grãos instáveis que ocorrem na interface

    antiferromagnético/ferromagnético e sua correlação com outras grandezas tais como: o

    campo de exchange bias (medido por magnetometria óptica e FMR), o campo coercitivo e a

    largura de linha em FMR. Foi descoberta a geração de tensão dc, induzida pelo

    bombeamento de spin (spin pumping) em interfaces FM/AF. Para explicar este efeito

    propomos um modelo que leva em conta o efeito da corrente de spin através da interface

    provocada pela precessão da magnetização, que explica de maneira satisfatória os

    resultados experimentais. Também estudamos os mecanismos de relaxação magnética

    pelos processos de espalhamento de 2-mágnons e de spin pumping nas interfaces

    ferromagnético/metal não-magnético (FM/NM). As técnicas experimentais utilizadas neste

    estudo foram as de Ressonância Ferromagnética (FMR), Espalhamento de Luz Brillouin

    (BLS) e Magnetometría Óptica por efeito Kerr (MOKE). Para o estudo da geração de

    tensão dc foi desenvolvida a técnica de detecção dc em ressonância ferromagnética. Nesta

    tese também estão descritos os métodos de preparação das amostras. Também estudamos,

    do ponto de vista teórico, o transporte de spins polarizados em nanoestruturas magnéticas.

    Neste sentido apresentamos um modelo que explica as medidas experimentais mais

    recentes da geração de ondas de spin provocadas por correntes dc de spins polarizados

    quando o campo magnético externo é aplicado num ângulo qualquer em relação ao plano da

    estrutura magnética. Também comparamos nossos cálculos com os modelos teóricos

    existentes. Quando o campo magnético é aplicado perpendicular ao plano das amostras

  • ii

    todos os modelos falham. Para tentar ajustar os dados experimentais neste caso, calculamos

    a freqüência das ondas de spin versus corrente aplicada utilizando o modelo proposto por

    Slonczewski no formalismo do espaço de dimensão fracionária.

  • iii

    ABSTRAC

    In this thesis we investigated from both, the experimental and theoretical point of view, the

    static and dynamic properties of magnetic structures where the interfaces play a key role. In

    the spin valves systems, we vary the thickness of the nonmagnetic spacer layer to

    investigate the competition between the existent couplings, and present a detailed calculus

    of the dispersion relation that can be used to find the phenomenological parameters through

    the fit of the experimental data obtained by ferromagnetic resonance (FMR) and Brillouin

    light scattering (BLS). In order investigate the exchange bias effect we carried out an

    investigation in Ni81Fe19/Ir20Mn80 bilayers in which the thickness of the antiferromagnetic

    layer is varied and the thickness of the Permalloy layer is kept fixed. We investigated the

    induced rotatable anisotropy field by the unstable grains presented in the

    antiferromagnetic/ferromagnetic interface and their correlation with physical quantities

    like: exchange bias field, coercive field and line width in FMR by optical magnetometry

    and FMR. In order to investigate a generated dc voltage, induced by the spin pumping in

    FM/AF interfaces, we developed a special experimental set up. To explain this dc voltage,

    we considered a model that takes into account the spin current effect through the interface,

    generated by the magnetization precession. This model explains in satisfactory way the

    experimental results. We also studied the magnetic relaxation mechanisms by the two

    magnons and spin pumping processes in ferromagnetic/nonmagnetic metal (FM/NM)

    interfaces. Magnetron sputtering technique was used to prepare all the samples investigated

    in this thesis. Ferromagnetic resonance (FMR), Brillouin light scattering (BLS) and

    Magneto-optical Kerr effect magnetometry techniques were used to measure the magnetic

    properties. We also studied, from the theoretical point of view, the spin polarized transport

    in magnetic nanostructures. In this sense, we presented a model that explain the most recent

    experimental measurements of spin-wave generation by dc currents of spin polarized when

    the external magnetic field is applied in an arbitrary direction in relation to the current

    density. We also compared our calculations with existent theoretical models. When the

    magnetic field is applied perpendicular to the sample plane all the models fail. In this case,

    we developed a model using the formalism of non-integer dimension to calculate the spin

    wave frequency versus applied magnetic field using the model proposed by Slonczewski.

  • iv

    INDICE

    CAPÍTULO 1 - Introdução.................................................................................................. 1

    Referências. ................................................................................................................... 6

    CAPÍTULO 2 - Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin ........... 7 2.1 Introdução................................................................................................................ 7

    2.2 Bicamadas acopladas por exchange. ....................................................................... 7

    2.3 Válvulas de Spin. ................................................................................................... 12

    2.4 Energia magnética livre. ........................................................................................ 15

    2.4.1 Energia de desmagnetização......................................................................... 17

    2.4.2 Energia magnetocristalina. ........................................................................... 18

    2.4.3 Acoplamento entre camadas......................................................................... 22

    2.4.3.1 Acoplamento indireto entre camadas ferromagnéticas..................... 23

    2.4.3.2 Acoplamento direto. Energia de intercâmbio na interface FM/AF. . 25

    2.4.4 Anisotropia Rotatória ................................................................................... 29

    2.5 Referências. ........................................................................................................... 31

    CAPÍTULO 3 - Técnicas Experimentais. Interpretação das medidas .......................... 34

    3.1 Introdução.............................................................................................................. 34

    3.2 Deposição por evaporação catódica ou Sputtering................................................ 34

    3.2.1 Plasma. Descargas luminosas . ..................................................................... 37

    3.2.2 Processos de Sputtering. ............................................................................... 39

    3.3 Reflectometria de raios-X em baixo ângulo. ......................................................... 41

    3.4 Efeito Kerr magneto-óptico (MOKE).................................................................... 44

    3.4.1 Origem dos efeitos magneto-ópticos . .......................................................... 46

    3.4.2 Efeito Kerr Longitudinal (LMOKE) ............................................................ 52

    3.4.3 Montagem experimental. .............................................................................. 54

    3.5 Ressonância Ferromagnética (FMR). .................................................................... 54

    3.5.1 Resposta de amostra magnética a campo de microondas . ........................... 55

    3.5.2 Equação de Landau-Lifshitz-Gilbert . .......................................................... 57

  • v

    3.5.3 Montagem experimental . ............................................................................. 63

    3.6 Brillouin Light Scattering (BLS)........................................................................... 66

    3.6.1 Ondas de Spin-Introdução. ........................................................................... 67

    3.6.2 Espalhamento de luz Brillouin. Fenomenologia........................................... 69

    3.6.3 Montagem experimental. .............................................................................. 71

    3.7 Tensão dc gerada em experimentos de FMR......................................................... 74

    3.7.1 Teoria Fenomenológica dos efeitos dc em ressonância ferromagnética. ..... 75

    3.7.2 Montagem experimental. .............................................................................. 80

    3.8 Referências. ........................................................................................................... 82

    CAPÍTULO 4 - Relaxação em filmes e multicamadas magnéticas:Efeitos de interfaces................................................................................................................... 85

    4.1 Introdução.............................................................................................................. 85

    4.2 Mecanismos de Relaxação..................................................................................... 85

    4.2.1 Espalhamento por elétrons de condução. ..................................................... 86

    4.2.2 Espalhamento de dois mágnons. Mecanismo de Arias e Mills. ................... 91

    4.2.3 Bobeamento de spin.em multicamadas magnéticas (spin pump) ............... 101

    4.2.3.1 Acumulação de spins em bicamadas FM/NM................................ 104

    4.2.3.2 Acumulação de spins em tricamadas FM1/NM/FM2...................... 108

    4.3 Resultados. ........................................................................................................... 113

    4.3.1 Filmes simples de Py(d)/Si(001) e bicamadas de Py(d)/NiO/Si(001) e

    Py(d)/IrMn/Si(001).............................................................................................. 114

    4.3.2 Multicamadas de NM/Py(d)/NM com NM=Pd (40 Å),Cu (42 Å ) e

    Cr (15 Å).............................................................................................................. 119

    4.4 Referências........................................................................................................... 123

    CAPÍTULO 5 - Propriedades estáticas e dinâmicas de bicamadas acopladas por exchange e válvulas de spin................................................................... 126

    5.1 Introdução............................................................................................................ 126

    5.2 Interpretação das curvas de magnetização nas bicamadas FM/AF acopladas por

    exchange . ............................................................................................................ 126

    5.3 Relação de dispersão. .......................................................................................... 130

  • vi

    5.3.1 Formulação da energia-Campo de ressonância ferromagnética ................. 133

    5.3.2 Método de aproximação contínua-relação de dispersão com k>0.............. 142

    5.4 Resultados numéricos e comparação com os experimentos................................ 152

    5.4.1 Bicamadas FM/AF...................................................................................... 153

    5.4.2 Válvulas de spin-Efeitos da competição entre camadas............................. 167

    5.5 Referências. ......................................................................................................... 180

    CAPÍTULO 6 - Tensão dc gerada em interfaces ferromagneto-metal normal devido ao efeito de "spin pumping" .................................................................. 183

    6.1 Introdução............................................................................................................ 183

    6.2 Tensão dc gerada nas estruturas magnéticas FM/NM devido ao bombeamento de

    spins. .................................................................................................................... 183

    6.3 Resultados experimentais. ................................................................................... 192

    6.4 Referências. ......................................................................................................... 196

    CAPÍTULO 7 - Excitação de ondas de spin por correntes dc em nanoestruturas magnéticas .............................................................................................. 197

    7.1 Introdução............................................................................................................ 197

    7.2 Introdução histórica à excitação de ondas de spin .............................................. 197

    7.3 Modos de ondas de spin em filmes finos............................................................. 200

    7.3.1 Filmes finos magnetizados no plano .......................................................... 205

    7.3.2 Filmes finos magnetizados fora do plano ................................................... 209

    7.4 Excitação dos modos de ondas de spin por uma corrente dc............................... 213

    7.5 Efeitos da interação entre mágnons (efeitos não lineares). ................................. 218

    7.6 Resultados numéricos e comparação com experimentos. ................................... 230

    7.7 Excitação de ondas de spin por corrente com polarização de spin-Aproximaçao

    em dimensão fracionaria...................................................................................... 242

    7.8 Referências. ......................................................................................................... 250

    CAPÍTULO 8 - Conclusões.............................................................................................. 253

  • 1

    CAPÍTULO 1

    Introdução

    O entendimento das propriedades dinâmicas e estáticas da magnetização em nano-

    estruturas magnéticas, bem como o estudo das propriedades de transporte eletrônico através

    destas estruturas é um assunto de interesse atual. A previsão teórica e a investigação

    experimental destes fenômenos são determinantes para a sua aplicação prática. Tanto do

    ponto de vista de Física Básica como do ponto de vista de aplicação tecnológica este tipo de

    investigação tem motivado a comunidade que estuda magnetismo nos últimos anos. As

    propriedades de anisotropia que determinam a posição de equilíbrio do vetor magnetização,

    bem como os mecanismos de relaxação que determinam o tempo necessário para a

    magnetização atingir este equilíbrio, necessitam ser investigadas tendo em vista o fato de

    que estas estruturas possuem dimensões atômicas. As superfícies e interfaces, assim como

    imperfeições estruturais e defeitos, passam a ter um papel preponderante no comportamento

    da magnetização.

    Nas últimas décadas, o desenvolvimento de técnicas de alto vácuo e de crescimento

    controlado de materiais tornou possível projetar materiais com um nível de detalhe

    inimaginável. Técnicas tais como: deposição física de vapor (PVD),[1] deposição química

    de vapor (CVD),[2] epitaxia por feixes moleculares (MBE)[3] e evaporação catódica ou

    sputtering[4] entre outras, tornaram-se accessíveis e se espalharam por inúmeros grupos de

    pesquisa no mundo. Na área de magnetismo foram descobertos vários fenômenos novos

    que significaram uma verdadeira revolução e fez surgir aplicações tecnológicas em áreas

    tais como armazenamento de dados, comunicações, computação,[5-8] etc. A possibilidade de

    fabricar multicamadas com interfaces controladas de materiais diferentes permitiu a

    descoberta de fenômenos tais como: acoplamento entre camadas, magnetoresistência

    gigante,[9] tunelamento magnético, exchange bias,[10] transporte com polarização de spin,

    etc. Isto tudo motivou o aparecimento de uma nova área de pesquisa em Física chamada de

    Magneto-eletrônica ou Spintrônica.[11,12] Dentre os maiores desafios nesta área estão: 1)

    Utilizar correntes elétricas com polarização de spin para modificar o estado da

    magnetização; 2) Utilizar a magnetização para modificar as propriedades de condução e

  • Capítulo 1: Introdução

    2

    processar sinais elé tricos em nível nanométrico. A resposta a estes desafios se encontra na

    possibilidade de podermos gerar corrente de spins polarizados que pode exercer um torque

    na magnetização local. Ao mesmo tempo esta corrente pode também ser modificada pelo

    estado da magnetização local. Um efeito impressionante é que o torque exercido localmente

    sobre a magnetização, pode ser utilizado para gerar radiação de microondas por

    dispositivos em escala nanométrica.[13-20]

    Nesta tese investigamos nano-estruturas magnéticas metálicas onde as propriedades

    dinâmicas e estáticas da magnetização são fortemente dependentes das naturezas Física e

    Química das interfaces. Estas propriedades dependem também fortemente do grau de

    polarização dos spins dos elétrons de condução que atravessam estas interfaces. As

    principais contribuições desta tese nesta área estão descritas a seguir.

    (a) Investigamos detalhadamente o efeito do acoplamento interfacial que ocorre entre

    um material ferromagnético e um material antiferromagnético. Investigamos

    propriedades de relaxação induzida pela diluição do material antiferromagnético

    nestas interfaces. Investigamos o papel representado pelos grãos

    antiferromagnéticos no surgimento de um campo magnético efetivo que acompanha

    o sentido de equilíbrio da magnetização. Este campo, chamado de campo rotatório,

    influi fortemente os processos de magnetização e de relaxação magnética.

    (b) Investigamos o efeito do spin pumping de um ponto de vista completamente novo,

    onde mostramos que a injeção pura de spins numa interface ferromagnético/metal-

    não magnético gera uma tensão dc na superfície da bicamada. Criamos um modelo

    teórico baseado na lei de ohm generalizada para metais magnéticos, que interpreta

    os resultados experimentais.

    (c) Investigamos os processos de relaxação magnética, induzidos por interfaces, tais

    como: Espalhamento de dois mágnons; espalhamento por elétrons de condução e

    injeção de spin em interfaces FM/NM. Identificamos que a dependência da largura

    de linha nestas bicamadas depende fortemente da natureza Física e Química da

    interface.

    (d) Investigamos as propriedades estáticas e dinâmicas de estruturas válvulas de spin.

    Deduzimos a relação de dispersão de ondas de spin para um vetor de onda qualquer.

    Estas relações de dispersão foram estudadas experimentalmente utilizando as

  • Capítulo 1: Introdução

    3

    técnicas de espalhamento de luz Brillouin e ressonância ferromagnética. As

    propriedades estáticas das válvulas de spin foram estudadas por magnetometria.

    Todas as medidas foram interpretadas utilizando-se o mesmo conjunto de

    parâmetros fenomenológicos, definidos no modelo.

    (e) Investigamos teoricamente os processos de geração de ondas de spin que ocorrem

    em experimentos de injeção de elétrons com polarização de spin. Apresentamos um

    modelo teórico que interpreta a geração de ondas de spin para uma configuração

    generalizada onde o campo aplicado faz um ângulo arbitrário em relação ao plano

    da estrutura magnética.

    Com o objetivo de facilitar a leitura, os capítulos da tese estão divididos da seguinte

    maneira:

    O capítulo 2 é um capítulo de revisão onde descrevemos os principais modelos

    fenomenológicos das energias magnéticas que contribuem para a descrição das

    propriedades interfaciais dos filmes finos e as multicamadas magnéticas. O principal

    objetivo neste, é apresentar a expressão mais geral da energia livre magnética de uma

    estrutura válvula de spin que servirá para interpretar os resultados experimentais discutidos

    ao longo dos outros capítulos.

    O capítulo 3 também é um capítulo de revisão onde são apresentadas as técnicas

    experimentais utilizadas nesta teses bem como a interpretação analítica dos resultados

    obtidos por cada uma delas. As técnicas são: (i) A técnica sputtering utilizada para preparar

    as estruturas magnéticas estudadas, (ii) Reflectometría de raios-X em baixo ângulo,

    utilizada para calibrar as espessuras das camadas que compõem as estruturas magnéticas

    analisadas, (iii) Magnetometría óptica por efeito Kerr (MOKE), Espalhamento de Luz

    Brillouin (BLS), Ressonância Ferromagnética (FMR), e detecção dc em FMR. As três

    primeiras serão utilizadas para estudar as propriedades magnéticas das bicamadas FM/NM

    e as válvulas de spin enquanto que os processos de relaxação e bombeamento de spins nas

    interfaces FM/NM serão estudados através das técnicas de FMR e detecção dc. Esta última

    técnica será empregada pela primeira vez para estudar os efeitos do bombeamento de spin

    na interface FM/NM na dinâmica da magnetização nas bicamadas FM/NM.

    No capítulo 4 apresentamos uma breve introdução aos mecanismos de relaxação mais

    importantes, presentes em filmes finos e multicamadas magnéticas. Entre estes

  • Capítulo 1: Introdução

    4

    descreveremos: (i) O espalhamento por elétrons de condução, (ii) o espalhamento por 2-

    mágnons e (iii) o espalhamento devido à transferência de momento angular na interface.

    Para cada uns deles apresentamos as expressões fenomenológicas da constante de

    amortecimento de Gilbert que serviram para poder identificar, a partir das medidas

    experimentais de largura de linha em FMR o mecanismo de relaxação predominante. Estas

    medidas serão realizadas em filmes simples, bicamadas FM/AF e tricamadas NM/FM/NM.

    No capítulo 5 estudamos as propriedades magnéticas das bicamadas FM/NM acopladas

    por exchange e dos sistemas válvulas de spin através das técnicas de MOKE, BLS e FMR.

    Nos sistemas válvulas de spin, variamos a espessura da camada espaçadora com o propósito

    de investigar a competição entre os vários tipos de acoplamento e apresentamos o cálculo

    detalhado da relação de dispersão que nos permite encontrar os parâmetros

    fenomenológicos através do ajuste dos dados experimentais obtidos por ressonância

    ferromagnética (FMR) e espalhamento de luz Brillouin (BLS). Para investigar o efeito de

    exchange bias fizemos um estudo detalhado em bicamadas Py/IrMn variando a espessura

    da camada antiferromagnética de IrMn. Com isto investigamos o campo de anisotropia

    rotatória induzido pelos grãos instáveis no AF e sua correlação com outras grandezas tais

    como: o campo de exchange-bias (medido por MOKE e FMR), o campo coercitivo e a

    largura de linha em FMR.

    No capítulo 6 é apresentada pela primeira vez a observação da geração de tensão dc nas

    bicamadas FM/NM devido ao bombeamento de spins desde o FM ao metal adjacente.

    Apresentamos também de maneira inédita um modelo detalhado que explica

    satisfatoriamente os resultados experimentais das medidas de tensão em função da

    espessura da camada NM.

    No capítulo 7 apresentamos um modelo que servirá para estudar a dinâmica da

    magnetização em filmes simples e multicamadas magnéticas atravessados por uma corrente

    dc de spins polarizados. O modelo apresentado é extensivo ao caso mais geral onde o

    campo externo é aplicado num ângulo qualquer em relação ao plano do filme. Como os

    modelos existentes não explicam satisfatoriamente os resultados experimentais quando o

    campo externo é aplicado perpendicular ao plano, apresentamos um método alternativo que

    consiste em escrever o modelo proposto por Slonczewski no formalismo dos espaços de

    dimensão fracionária.

  • Capítulo 1: Introdução

    5

    Finalmente no capítulo 8 apresentamos as considerações finais onde deixaremos claro

    quais as contribuições inéditas desta tese.

  • Capítulo 1: Introdução

    6

    Referências

    [1] Thin film Processes, eds. John L. Vossen and Werner Kern, Academic Press Inc., San

    Diego (1978).

    [2] M. Ohring, em The Materials Science of Thin Films, Cap. 4, Academic Press Inc., San

    Diego (1992).

    [3] K. Ploog, Ann. Rev. Mater. Sci. 11, 171 (1981).

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    L. I. Maissel and R. Glang, McGraw-Hill, New York (1970).

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    [9] M. Baibich et al., Phys. Rev. Lett. 61, 2472 (1988).

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    [17] S. I. Kiselev, J. C. Sankey, I. N. Krivorotov, N. C. Emley, A. G. F. Garcia, R. A.

    Buhrman, and D. C. Ralph, Phys. Rev. B 72, 064430 (2005).

    [18] W. H. Rippard, M. R. Pufall, S. Kaka, T. J. Silva and S. E. Russek, Phys. Rev B 70,

    100406 (R) (2004).

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    Buhrman, Science 307, 228 (2005).

    [20] S. M. Rezende, F. M. de Aguiar, and A. Azevedo, Phys. Rev. Lett. 94, 037202 (2005).

  • 7

    CAPÍTULO 2

    Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    2.1 Introdução

    Neste capítulo faremos uma introdução dos principais efeitos de interface e superfície

    em filmes finos magnéticos.O objetivo é desenvolver o conceito da energia magnética livre

    e aplicá-la a estruturas que apresentam vários tipos de interfaces como as estruturas

    válvulas de spin. Nas seções (2.2, 2.3) discutiremos a fenomenologia básica das bicamadas

    acopladas por exchange das válvulas de spin. Na seção (2.4) descreveremos os principais

    modelos fenomenológicos das energias magnéticas que contribuem para a descrição das

    propriedades magnéticas dos filmes finos e as multicamadas magnéticas. O objetivo

    principal deste capítulo é demonstrar a equação (2.22), que descreve a energia livre para um

    sistema válvula de spin.

    2.2 Bicamadas acopladas por exchange

    Em 1956 Meiklejohm e Beam[1] (M-B) observaram que esfriando uma amostra

    composta por partículas de cobalto (Co) submetida à ação de um campo magnético o ciclo

    de histerese ficava deslocado ao longo da direção do campo. As partículas de Co, que é um

    material ferromagnético (FM), foram parcialmente oxidadas formando o oxido nativo,

    CoO, que é antiferromagnético (AF), e possui uma temperatura de Néel de 291 K. Assim,

    as partículas podem ser consideradas como formadas por um núcleo de Co (na forma de

    monodomínio magnético) recobertas por uma casca de CoO. M-B[2,3] atribuíram o

    fenômeno observado à interação de intercâmbio (exchange) entre os spins do núcleo de Co

    ferromagnético e a casca de CoO antiferromagnética. Esta interação induz um novo tipo de

    anisotropia magnética que foi chamada de “anisotropia de intercâmbio” (exchange

    anisotropy) ou anisotropia unidirecional.

    Apesar de que vários sistemas granulares como Ni-NiO, Fe-FeO, FeCo-FeCoO também

    terem sido investigados,[3-5] as pesquisas no estudo dos aspectos fundamentais que

    determinam a interação de intercambio que ocorre na interface têm sido focalizadas

    principalmente nas interfaces formadas por filmes finos.[6-12] Isto se deve ao fato de que na

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    8

    última década, com o desenvolvimento das técnicas de fabricação baseadas em processos

    de evaporação física de alto vácuo e epitaxia por feixe molecular, foi possível obter

    bicamadas ferromagnético/antiferromagnético (FM/AF) acopladas por exchange de

    maneira sistemática. Estas técnicas permitiram a fabricação de estruturas com a interface

    bem controlada e a deposição de bicamadas com as mais diversas composições e

    combinações. Enquanto nos sistemas granulares tradicionais só se pode fazer tratamento

    químico na superfície para criar as cascas AF (CoO, NiO...), nos sistemas bidimensionais,

    como as bicamadas FM/AF, a ordem das camadas pode ser alterada bem como a área

    efetiva entre as camadas. Neste caso o material antiferromagnético pode ser o próprio

    substrato (com espessura da ordem de mm) ou ambas as camadas podem ser depositadas

    sobre um substrato que pode ser policristalino, monocristalino ou amorfo. O interesse em se

    investigar este tipo de fenômeno tem sido motivado principalmente pelo seu uso em

    aplicações tecnológicas, tais como: em cabeças de leitura de discos rígidos magnéticos, em

    sensores magnetoresistivos e em memórias magnetoresistivas de acesso aleatório

    (MRAM).[13-22]

    Uma das técnicas mais comuns para se preparar estas bicamadas acopladas por

    exchange consiste em aquecer o sistema a temperaturas acima da temperatura de Néel (TN)

    do material antiferromagnético. Comumente, os materiais ferromagnéticos usados

    apresentam a temperatura de Curie (TC) bem acima da temperatura de Néel do AF. Se um

    campo magnético é aplicado a uma temperatura T tal que TN

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    9

    de magnetização. O ciclo de histerese da magnetização do sistema FM/AF a T

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    10

    (Fig. 2.2 a). Se o valor do campo aplicado H, for suficientemente forte para inverter a

    magnetização (H>|HE+HC|), os spins do FM ficarão orientados no sentido contrário e a

    magnetização da amostra estará saturada. O campo necessário para reverter a magnetização

    (H = |HE+HC|) é maior do que aquele necessário se o filme FM não estivesse em contato

    com o material AF (Fig. 2.2 b), isto é, para vencer o torque microscópico exercido pelos

    spins no AF é necessário um campo magnético adicional.

    Fig. 2.2- Diagrama descrevendo a configuração ideal dos spins numa bicamada FM/AF em diferentes

    estágios de um ciclo de histerese.

    a

    b

    c

    d

    H

    (b)

    M

    (a)

    (d) (c)

    FM

    AF

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    11

    Contrariamente, quando o valor do campo começa a diminuir, seguindo o ramo

    ascendente do ciclo de histerese, os spins no FM começarão a girar em um valor de campo

    menor, pois devido à interação com os spins do AF estes últimos exercem um torque na

    mesma direção do campo aplicado (Fig. 2.2 d) favorecendo o processo de reversão da

    magnetização. Macroscopicamente, a bicamada FM/AF comporta-se como se existisse um

    campo de anisotropia de intercâmbio (interno) apontando em um único sentido, campo de

    exchange-bias HE (Fig. 2.1 a).[3, 14, 24] O efeito resultante será então o de deslocar o ciclo de

    histerese ao longo da direção e no sentido contrário de EHr

    (Fig. 2.1 b).

    Quando a anisotropia do AF não é tão intensa, a situação é diferente, como mostrado na

    figura (2.3). Como no caso anterior, depois de baixar a temperatura a T

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    12

    Fig. 2.3- Diagrama descrevendo a configuração ideal dos spins numa bicamada FM/AF em diferentes estágios de um ciclo de histerese quando a anisotropia no AF é pequena. Neste caso o deslocamento do ciclo de histerese é desprezível, mas o campo coercitivo é muito mais intenso quando comparado à coercitividade do filme simples.

    2.3 Válvulas de Spin

    O descobrimento em 1988 do efeito de magnetoresistência gigante (GMR), por Baibich

    et al.[26], é considerado o começo de uma nova eletrônica baseada no controle do spin do

    a

    b

    c

    d

    FM

    AF

    H

    (b) M

    (a)

    (d) (c)

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    13

    elétron, chamada de Spintrónica[26-28]. A GMR é um efeito quântico observado em

    estruturas magnéticas artificiais compostas por camadas finas ferromagnéticas e não

    magnéticas alternadas. Quando os momentos magnéticos das camadas ferromagnéticas são

    paralelos o espalhamento dos portadores de carga, dependente do spin, é minimizado. No

    caso contrário, quando os momentos magnéticos das camadas FM são antiparalelos, o

    espalhamento dos portadores de carga é maximizado e a estrutura apresenta uma resistência

    maior que a do primeiro caso.

    Fig. 2.4- Esquema do transporte de spins polarizados desde um metal ferromagnético até um segundo metal ferromagnético através de um metal não magnético para as configurações de: a) Alinhamento paralelo dos momentos magnéticos nos FM, b) Alinhamento antiparalelo dos momentos magnéticos nos FM. φ representa um canal de condução proibido.

    O transporte de spins polarizados ocorre de maneira natural em qualquer material para o

    qual exista um desbalanço nas populações de spin (up e down) no nível de Fermi. Este

    desbalanço ocorre comumente nos metais ferromagnéticos, pois a densidade de estados

    para os elétrons com spin para-acima (up) e para-baixo (down) são quase idênticas, mas os

    estados estão deslocados em energia um em relação ao outro. Este deslocamento faz com

    que as bandas não sejam preenchidas da mesma forma e é a causa da existência do

    momento magnético resultante nos FM. Isto também explica porque os portadores de carga

    com spin-up e spin-down, no nível de Fermi, sejam diferentes em número, caráter e

    mobilidade. Esta diferença permite utilizar os metais FM como fonte de portadores de carga

    a) Resistência baixa b) Resistência alta

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    14

    com spin polarizado nas medidas de transporte, como mostramos esquematicamente na

    figura (2.4).

    As válvulas de spin são obtidas artificialmente depositando seqüencialmente camadas

    finas magnéticas e não magnéticas (usualmente cobre) em um substrato seguindo uma

    ordem específica e de maneira tal que os momentos magnéticos de uma das camadas FM

    sejam difíceis de reverter num campo magnético enquanto que os momentos magnéticos da

    outra camada sejam fáceis de reverter. A primeira camada magnética é chamada de

    “camada presa” e a outra de “camada livre”. Na figura (2.5 a) mostramos uma válvula de

    spin como as que serão estudadas nesta tese. A mesma é constituída basicamente por quatro

    camadas: duas camadas FM, uma camada metálica não magnética (separador) e uma

    camada antiferromagnética (NiO, IrMn, FeMn,...etc.).

    Fig. 2.5- Estruturas Válvulas de spin produzidas artificialmente.

    Uma das camadas ferromagnéticas, a camada presa (FM2), está acoplada diretamente a

    uma camada antiferromagnética. Como vimos na seção anterior, devido à interação de

    exchange na interface FM2/AF3, é induzida uma anisotropia unidirecional na camada FM2

    que leva a que seja difícil reverter sua magnetização quando o campo aplicado for

    antiparalelo a EHr

    . Sobre esta camada FM é depositada em seqüência uma camada de um

    a) b)

    livre

    espaçador

    presa AF

    AF3

    FM2

    FM1 Condutor (NM)

    Substrato AF

    FM3

    FM2

    FM1 Condutor

    Ru

    Substrato

    AF sintético

    livre

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    15

    material metálico não magnético (NM) e outra camada ferromagnética (FM1). O espaçador

    não-magnético (usualmente Cu) serve para isolar as camadas FM de maneira que a

    magnetização de camada de acima, a livre, possa ser revertida para campos relativamente

    baixos (Fig. 2.5 a). O material da camada espaçadora deve ser capaz de manter a

    polarização de spin dos portadores de carga.

    Recentemente, a camada presa tem sido trocada por um antiferromagnético sintético:

    duas camadas FM separadas por um metal não magnético muito fino (~10 Å), usualmente

    Ru como mostramos na figura (2.5 b). O acoplamento entre as duas camadas FM (FM2 e

    FM3) é fortemente antiferromagnético[30,31] (as magnetizações ficam antiparalelas)

    permitindo que este sistema seja imune a campos magnéticos externos e a mudanças de

    temperatura na operação das válvulas de spin.

    As aplicações das válvulas de spin são as mais diversas. Elas podem ser utilizadas em

    sensores de campo, em cabeçotes de leitura nos discos rígidos e em memórias

    magnetoresistivas de acesso aleatório (MRAM), mas a sua eficiência e versatilidade

    dependem em grande medida da compreensão e do conhecimento dos fenômenos físicos

    envolvidos na sua construção e operação.

    Nesta tese estudaremos as propriedades estáticas (acoplamento entre camadas

    magnéticas e anisotropias induzidas) e dinâmicas (como mecanismos de relaxação e

    transferência de torque devido à passagem de uma corrente de spins polarizados) nestas

    estruturas.

    O primeiro passo para desenvolver a teoria fenomenológica que servirá para interpretar

    os resultados experimentais é tentar descrever as anisotropias magnéticas e a interação entre

    as camadas magnéticas de maneira macroscópica, para assim se chegar a uma expressão

    para a energia magnética livre. Isto será discutido na próxima seção.

    2.4 Energia magnética livre

    Nesta seção serão discutidos e apresentados os principais modelos fenomenológicos das

    energias magnéticas que contribuem para a descrição de fenômenos físicos que ocorrem em

    filmes e multicamadas magnéticas. Fenômenos tais como absorção de microondas, reversão

    da magnetização, mecanismos de relaxação, etc podem ser explicados por estes modelos.

    Os principais termos de energia tratados aqui são: Zeeman, desmagnetização, anisotropia

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    16

    de superfície e anisotropia magnetocristalina. Além destas, trataremos as contribuições

    devidas às interações entre camadas: interação de exchange indireta (mediada por uma

    camada metálica não magnética, NM) e a interação de exchange direta que ocorre na

    interface entre um meio ferromagnético e outro meio antiferromagnético.

    Consideremos um sistema como o mostrado na Fig. (2.5 a) de três camadas magnéticas

    que denotamos por FM1 (camada livre), FM2 (camada presa) e AF3 (antiferromagnético).

    Os vetores da magnetização para as três camadas vêm dados por 1Mr

    , 2Mr

    , 3Mr

    ( 3Mr

    representa a magnetização de uma das subredes no AF em contato com FM2) e as

    espessuras são t1, t2 , e t3 respectivamente. A camada livre está separada da camada presa

    por um separador não magnético de espessura d.

    A energia magnética livre por unidade de área da estrutura pode ser escrita como:

    EXEAFM EEEE ++= , (2.1)

    onde, o primeiro termo representa a energia livre dos filmes ferromagnéticos, o segundo

    termo representa a contribuição do acoplamento direto de exchange na interface FM2/AF3 e

    o último termo representa a interação de exchange entre as camadas livre e presa.

    Trataremos agora cada termo em separado. O primeiro termo na equação (2.1) pode ser

    escrito como:

    ( ) ......2211 ++++⋅−= ANDFM EEtMtMHErrr

    , (2.2)

    onde agora, o primeiro termo representa a interação das magnetizações dos filmes FM com

    o campo externo Hr

    (energia Zeeman) e o segundo a energia de desmagnetização que surge

    dos dipolos não compensados que são induzidos na superfície do material quando este é

    magnetizado fazendo com que o campo interno seja diferente do campo externo Hr

    . O

    terceiro é a energia de anisotropia magnetocristalina que tem sua origem nas interações de

    intercâmbio, dipolar e spin-órbita. Para os metais ferromagnéticos (Fe, Ni, Co) o efeito da

    interação de intercâmbio é desprezível, pois a energia desta interação é proporcional ao

    produto escalar entre os spins e, portanto independe do ângulo entre estes momentos e os

    eixos cristalinos. Por outra parte, a interação dipolar depende da orientação relativa entre a

    magnetização e os eixos cristalinos e poderia contribuir para a anisotropia

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    17

    magnetocristalina. No entanto, pode-se demonstrar em primeira aproximação, que a

    contribuição dipolar para esta anisotropia em cristais cúbicos é nula, mesmo em Co (hcp) a

    correção devida a interação dipolar é ~ -0.67 %.[32,33]

    As anisotropias magnéticas contidas no segundo e terceiro termo da equação (2.2) são

    a fonte de muitas das aplicações tecnológicas dos filmes ferromagnéticos. Filmes com a

    magnetização fora do plano são usados em dispositivos de gravação perpendicular e

    magneto-ótica. Por outro lado, aqueles com a magnetização no plano são aplicados em

    dispositivos de gravação longitudinal, sensores de campo magnético, cabeçotes

    magnetoresistivos, etc.

    Consideremos, para simplificar, que temos um filme fino FM de espessura t e vejamos

    como podemos escrever as energias de desmagnetização e de anisotropia magnetocristalina

    neste sistema simples.

    2.4.1 Energia de desmagnetização

    Quando as amostras são finitas a formação de dipolos não compensados, que são

    induzidos na superfície do material quando este é magnetizado, provocam o aparecimento

    de um campo interno )( iHv

    no material. O campo interno dado por Di HHHrrr

    −= , é

    diferente do campo externo Hr

    como é mostrado na figura (2.6) para uma amostra com

    simetria elipsoidal.

    Fig. 2.6- Campo interno produzido pelos dipolos não compensados induzidos na superfície da amostra.

    O campo DHr

    é o campo de desmagnetização e é igual a:

    Hr

    DHr

    Di HHHrrr

    −=

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    18

    MNH Drtr

    ⋅−= , (2.3)

    onde Nt

    é o tensor de forma que depende da geometria da amostra.

    Considerando o filme como contínuo a energia dipolar ou energia de desmagnetização,

    é definida como:[34, 35]

    ∫ ⋅−= dVHME DDrr

    21 , (2.4)

    onde V é o volume do filme.

    Para um filme fino, a única componente não nula de Nt

    é π4=xxN (no sistema CGS).

    Assim, na equação (2.4), a energia de desmagnetização (por unidade de área) é escrita

    como:

    tnMtMED222 )ˆ(2)cos2( ⋅==

    rπθπ , (2.5)

    onde o vetor unitário n̂ representa a direção normal ao plano do filme. Como fica evidente

    da equação anterior, a energia é mínima quando 2πθ = , ou seja, a direção fácil de

    magnetização está no plano do filme.

    2.4.2 Energia magnetocristalina

    A energia magnetocristalina, como vimos, é atribuída à interação spin-órbita e depende

    da orientação da magnetização em relação aos eixos cristalinos. A existência desta pode ser

    constatada nas curvas de magnetização de diferentes sistemas monocristalinos. Nestes,

    observa-se que campos menos intensos são requeridos para magnetizar o sistema em certas

    direções. Os eixos cristalográficos onde a magnetização tende a se alinhar são chamados de

    eixos fáceis. Por outro lado, aqueles eixos nos quais é mais difícil de produzir a saturação

    são chamados de eixos duros. A energia de anisotropia é a diferença de energia entre o

    sistema saturado ao longo do eixo duro e o sistema saturado ao longo do eixo fácil.

    Suponhamos que temos um cristal simples de material magnético o qual está

    magneticamente saturado, ou seja, o sistema como um todo se comporta como um

    monodomínio. É comum expressar a energia magnetocristalina como uma série de

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    19

    potências dos co-senos diretores da magnetização (Fig. (2.7)). Isto é, para um cristal

    ferromagnético com magnetização Mr

    escrevemos a energia de anisotropia como:

    tbbbbEi ji kji

    llkji

    kjiijklkjiijkjiijiiA

    ++++= ∑ ∑ ∑ ∑

    , ,, ,,,321 ...),,( ααααααααααααα , (2.6)

    onde, 321 ,, ααα são os co-senos diretores de Mr

    em relação a um sistema de eixos

    cartesianos no cristal. Esta expressão é completamente geral e não leva em conta a simetria

    do cristal.

    Fig. 2.7- Co-senos diretores da magnetização em coordenadas esféricas.

    As formas mais comuns destas anisotropias são a uniaxial e a cúbica. A anisotropia

    uniaxial surge quando o crescimento ocorre em uma rede com simetria hexagonal, sendo o

    eixo fácil paralelo ao eixo c e o eixo duro paralelo ao plano de simetria da rede, como no

    Cobalto. A anisotropia uniaxial também pode ser gerada pela tensão mecânica induzida no

    crescimento do filme devido, por exemplo, ao descasamento entre as constantes de rede do

    substrato e do material em crescimento.[36] A anisotropia cúbica advém da estrutura

    cristalina cúbica, como no Ferro e no Níquel. Se um material cúbico tiver algum tipo de

    defeito que induza uma tensão mecânica, é comum o mesmo apresentar uma superposição

    dos dois tipos de anisotropia magnetocristalina: cúbica + uniaxial.

    z

    Mr

    y

    x

    δ γ

    β

    θδα

    φθγαφ

    coscos

    coscoscos

    3

    2

    1

    ==

    ====

    sensensenθβα

    θ =ângulo polar φ =ângulo azimutal

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    20

    Anisotropia Cúbica

    No caso da anisotropia cúbica muitos termos na Eq. (2.6) não aparecem, pois a energia

    livre tem que ser invariante em relação à inversão do sentido da magnetização e troca de

    eixos, em outras palavras, é independente da mudança de sinal em qualquer dos s'α e

    portanto não pode conter potências ímpares destes, nem termos cruzados como 21αα . Então

    na expressão 233222

    211 ααα bbb ++ é necessário que 321 bbb == e como 1

    23

    22

    21 =++ ααα

    nenhuma anisotropia resulta deste termo.

    Por outro lado como )(21

    21 4

    342

    41

    22

    23

    23

    21

    22

    21 ααααααααα ++−=++ não é necessário

    escrever o termo de quarto grau. Desta maneira a equação (2.6) pode ser escrita como:

    ( )[ ] tKKE CCC 23222122123232222211321 ),,( αααααααααααα +++= , (2.7)

    onde 1CK e 2CK são as constantes de anisotropia cúbica de primeira e segunda ordem,

    respectivamente. Em geral, nos resultados experimentais, é verificado que 21 CC KK >> e

    portanto a equação (2.7) fica:

    ( ) tKE CC 2133232222211321 ),,( ααααααααα ++= . (2.8)

    Dependendo do material, 1CK (erg/cm2) pode ser positiva ou negativa. Dois exemplos

    de materiais com anisotropia cúbica são o ferro ( 01 >CK ) e o níquel ( 01

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    21

    ( ) tsenKsenKE UUU θθθ 4)2(2)1()( += (2.10)

    Alguns sistemas apresentam anisotropias do tipo uniaxial no plano do filme, 2πθ = ,[37]

    então na Eq. (2.6) devem aparecer potências pares de )( Usen φφ − , ou seja

    [ ] tsensenKsensenKE UUUUU )()(),( 44)2(22)1( φφθφφθφθ −+−= , (2.11)

    onde Uφ define a direção do eixo uniaxial em relação aos eixos cristalinos e )2()1( , UU KK são

    as constantes de anisotropia uniaxial de primeira e segunda ordem respectivamente. Se

    0)1( >UK , ( )0)1(

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    22

    (2.3) deve ser corrigido. De fato, a energia dipolar dos planos superficiais é menor em

    relação aos planos mais internos, gerando assim uma energia de desmagnetização média

    que pode ser expressa como a soma de um termo de volume com um termo proporcional a

    t1 . Supondo que

    tK 1α′ , a energia livre por unidade de superfície em (2.12) pode ser escrita

    como:

    ( )++++−=+ 212323222221122 cos)2[( ααααααθπ CSAND KtK

    MEE (2.13)

    ( ) tsensenK UU ]22)1( φφθ − ,

    onde o termo t

    KS , que foi introduzido de forma fenomenológica, explica as variações das

    constantes de anisotropia devido à superfície e à interface.

    Se considerarmos agora uma multicamada (válvula de spin) como a mostrada na Fig.

    (2.5 a) a energia livre por unidade de área pode ser escrita como:

    ( ) 12

    1

    11

    2

    1

    1

    1

    1212211

    ˆˆ2 t

    MuMK

    MnM

    tK

    MtMtMHE US

    ⋅−

    −++⋅−=

    rrrrr

    π (2.14)

    ( )EXEAUS EEtMuM

    KM

    nMt

    KM ++

    ⋅−

    −+ 2

    2

    2

    22

    2

    1

    1

    1

    121

    ˆˆ2

    rr

    π

    O ultimo termo na equação anterior que representa a interação entre as camadas será

    explicitado na próxima seção.

    2.4.3 Acoplamento entre camadas

    Algumas das estruturas magnéticas estudadas experimentalmente nesta tese são as

    bicamadas acopladas por exchange (FM/AF) e as válvulas de spin (FM/NM/FM/AF) como

    a mostrada na Fig. (2.5 a). Fica evidente então que na expressão para a energia magnética

    livre devemos levar em conta a contribuição das interações de exchange entre as camadas

    magnéticas que compõem a estrutura. Nesta seção trataremos em separado as contribuições

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    23

    do acoplamento indireto entre as camadas livre e presa e o acoplamento direto na interface

    FM/AF.

    2.4.3.1 Acoplamento indireto entre camadas ferromagnéticas

    Na década dos 80 Grünberg[39] et al. mostraram que as magnetizações de duas camadas

    metálicas ferromagnéticas, separadas por uma camada metálica não magnética poderiam se

    acoplar. O tipo de acoplamento, como foi demonstrado, dependia da espessura e da

    natureza química da camada metálica separadora. Os acoplamentos foram identificados

    como: bilinear e biquadrático.

    Acoplamento bilinear

    A expressão fenomenológica da energia magnética associada ao acoplamento bilinear é

    dada por:

    21

    21

    MMMM

    JE blbl

    rr⋅

    −= , (2.15)

    onde blJ é a constante de acoplamento bilinear que pode ser positiva ou negativa e 1Mr

    e

    2Mr

    são as magnetizações das camadas ferromagnéticas FM1 e FM2 respectivamente (ver

    Fig. 2.5 a). Notemos que apesar de que a equação anterior ser semelhante à energia de

    acoplamento entre spins vizinhos proposta por Heisenberg[40] a interação descrita acima

    ocorre entre camadas adjacentes, isto é em escala macroscópica.

    Fig. 2.8- Ilustração dos tipos de acoplamento bilinear entre as camadas ferromagnéticas. a) blJ > 0. b)

    blJ < 0.

    1Mr

    2Mr

    FM1

    FM2

    NM

    1Mr

    2Mr

    FM1

    FM2

    NM

    a) b)

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    24

    Da equação (2.15) fica evidente que a configuração das magnetizações que minimiza a

    energia bilinear depende do sinal de blJ . Assim, se blJ > 0 a configuração na qual as

    magnetizações são paralelas ( )21 // MMrr

    é favorecida energeticamente, resultando num

    acoplamento ferromagnético como mostramos na figura (2.8 a).

    No caso em que blJ < 0, a energia bilinear é minimizada numa configuração na qual as

    magnetizações fiquem antiparalelas que resulta num acoplamento antiferromagnético (Fig.

    2.8 b). O sinal da constante de acoplamento depende da espessura e da natureza química do

    material espaçador como foi demonstrado por Parkin[41] et al.

    Fig. 2.9- a) Ilustração do acoplamento biquadrático. b) Ciclo de histerese de uma amostra de Fe(40

    Å)/Cr(25 Å)/Fe(40 Å) com o campo aplicado ao longo do eixo fácil de magnetização (100).

    Acoplamento biquadrático

    Desde o início descobriu-se que certos sistemas apresentam um acoplamento de

    exchange adicional que pode ser modelado por uma energia de interação biquadrática[42-44]

    que fenomenologicamente pode ser escrita como:

    2

    21

    21

    ⋅=

    MMMM

    JE bqbq

    rr

    , (2.16)

    1Mr

    2Mr

    NM

    -200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200

    -1.0

    -0.5

    0.0

    0.5

    1.0

    Sina

    l MO

    KE

    (nor

    mal

    izad

    a)

    Campo magnético aplicado no plano (Oe)

    a)

    b)

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    25

    onde bqJ é a constante de acoplamento biquadrático e sempre é positiva, 1Mr

    e 2Mr

    são as

    magnetizações das camadas adjacentes.

    Da equação (2.16) fica claro que este tipo de acoplamento favorece a configuração na

    qual as magnetizações fiquem alinhadas a 900 uma em relação à outra (Fig. 2.9).

    Finalmente o termo da interação de exchange entre as camadas ferromagnéticas

    adjacentes na estrutura FM1/NM/FM2/AF3 (terceiro termo na Eq. 2.1) pode ser escrito

    como:

    2

    21

    21

    21

    21

    ⋅+

    ⋅−=

    MMMM

    JMMMM

    JE bqblEX

    rrrr

    , (2.17)

    O segundo termo na Eq. (2.1) que como falamos, leva em conta a interação na interface

    FM/AF será tratado a seguir.

    2.4.3.2 Acoplamento direto. Energia de intercâmbio na interface FM/AF

    Como já vimos na primeira seção deste capítulo, nas bicamadas FM/AF existe um

    acoplamento na interface entre os momentos magnéticos de ambos os filmes que induz uma

    anisotropia unidirecional. O termo da energia de exchange na interface FM/AF poderia ser

    tratado dentro do contexto das anisotropias magnéticas vistas nas seções (2.4.1) e (2.4.2),

    mas por sua importância no estudo dos sistemas magnéticos e por envolver fenômenos

    complicados que ocorrem na interface preferimos abordar esta contribuição de maneira

    independente.

    Teoricamente, o primeiro modelo desenvolvido para explicar o exchange-bias foi

    proposto por Meiklejohn e Bean,[2,3] que foi descrito intuitivamente na seção (2.2). Este

    modelo simples assume que as camadas magnéticas são homogêneas no plano e a interface

    é não compensada, isto é, a magnetização resultante da primeira camada no AF é diferente

    de zero como mostramos na Fig. (2.1 a). M-B supuseram também que no processo de

    reverter a magnetização do FM os spins neste, giram de forma coerente e que os eixos

    fácies no FM e no AF são paralelos. De acordo com este modelo macroscópico a campo de

    intercâmbio ou de exchange (HE) calculado é duas ordens de grandeza maior que os valores

    observados experimentalmente.

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    26

    A primeira modificação importante neste modelo foi proposta por Néel.[49,50] O

    principal destaque no modelo de Néel foi considerar que quando o campo é revertido, em

    vez de ter uma interface magnética definida, se formaria uma parede de domínio paralela à

    interface FM/AF no AF, no FM, ou em ambos, dependendo de onde seja favorável

    energeticamente. A formação da parede de domínio pode diminuir consideravelmente a

    energia na configuração de equilíbrio magnética e conseqüentemente o valor do campo de

    exchange efetivo.

    No espírito do modelo de M-B, a energia de exchange que contribui para a energia

    magnética livre por unidade de área pode ser escrita fenomenologicamente como:

    ( )EXEXEA JE φφ −−= cos , (2.18)

    onde EXJ é a constante de anisotropia de intercâmbio ou exchange (entre as camadas FM e

    AF) e EXφ é o ângulo entre a direção do campo de anisotropia, definido como

    FM

    EXEX tM

    JH = , e o eixo fácil de magnetização. Este termo é mínimo quando a magnetização

    é paralela ao campo de anisotropia e máximo quando esta esteja orientada no sentido

    oposto, favorecendo, na ausência de campo aplicado, uma direção preferencial

    unidirecional.

    Para incorporar na energia de exchange a parede de domínio assumiremos o modelo

    proposto por Mauri et al.[51] Neste modelo, a espessura do FM é considerada muito menor

    que a espessura da parede de domínio estável que se formaria neste. De fato, para o

    permalloy (Ni80Fe20), que é o material FM utilizado por nós, a espessura da parede de

    domínio é ~100 nm,[23] muito maior que as espessuras dos filmes ferromagnéticos

    estudados ao longo desta tese. Com base nisto, podemos assumir então que a parede de

    domínio é formada no AF e que spins no FM tem o mesmo ângulo em relação ao eixo x,

    escolhido por nós como o eixo de anisotropia uniaxial no AF.

    Desta forma, a energia de interação entre as camadas FM/AF (e que é responsável pelo

    campo de anisotropia unidirecional) é uma combinação da energia de exchange na interface

    e da energia da parede de domínio no AF.

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    27

    Fig. 2.10- Esquema da formação da parede de dominio no AF. A anisotropia uniaxial no

    antiferromagnético é ao longo do eixo x. A figura mostra a situação na qual, o campo magnético é aplicado contrário a x. Só mostramos os spins de uma das subredes do AF.

    Na figura (2.10), mostramos de maneira esquemática o modelo de interface FM/AF

    com formação de parede de domínio em uma sub-rede do antiferromagnético onde

    assumimos que a espessura do filme antiferromagnético é infinita. Cálculos feitos

    considerando a espessura finita podem ser encontrados nas referências (52, 53).

    A energia da parede de domínio no AF contribui para a energia magnética por unidade

    de área com um termo da forma:[51,54]

    ( )βσ cos1−= WWE , (2.19)

    onde AFW AK2=σ é a energia por unidade de área da parede de domínio no AF e β é o

    ângulo entre a magnetização da primeira camada no AF (em contato com a interface) e a

    direção do eixo uniaxial de anisotropia do mesmo (eixo x). AFK e A são as constantes de

    anisotropia cristalina e a constante de intercâmbio no AF respectivamente.

    Considerando, como no modelo de M-B[2,3] que os eixos fáceis de anisotropia do FM e

    do AF coincidem, EXφβ = e a contribuição à energia livre magnética por unidade de área

    do termo de interação na interface FM/AF na Eq. (2.1) se escreve como:

    3Mr

    x

    z

    2Mr

    φ β

    AF FM

    AF3 FM2

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    28

    ( ) ( )βσβφ cos1cos −+−−= WEXEA JE . (2.20)

    Evidentemente além deste modelo macroscópico abordado por nós, outros modelos têm

    sido desenvolvidos. Dentre estes se encontram os modelos microscópicos que são aqueles

    que levam em conta os detalhes acerca da configuração de spin de cada átomo (ou conjunto

    de átomos) no volume do sistema, isto é, nas direções x, y, z. Uns dos trabalhos pioneiros

    no modelo das interfaces compensadas foi proposto por Koon.[55] Ele demonstra que a

    configuração de energia mínima numa interface do AF compensada acopla os spins do FM

    e do AF perpendiculares uns em relação aos outros como mais tarde foi demonstrado

    experimentalmente.[56-58] Koon denomina o acoplamento perpendicular na interface como

    acoplamento “spin-flop”. Assim, um novo termo na equação da energia, do tipo,

    ( )2cosφFMAF MMJ ′ (biquadrático) é introduzido nos modelos macroscópicos para levar em conta o estado de spin-flop. Koon argumenta que introduzir a rugosidade na interface no

    seu modelo resultaria numa transição desde o acoplamento perpendicular ao acoplamento

    colinear. Esta transição pode ser atribuída ao incremento na densidade dos spins no

    antiferromagnético não compensados na interface. A presença do estado de spin-flop nas

    bicamadas FM/AF deve ser menos relevante em filmes policristalinos como os estudados

    nesta tese e por esta razão, e com o propósito de simplificar o modelo, não será levada em

    conta na energia magnética livre. Schulthess e Butler[59] mostraram que apenas o

    acoplamento spin-flop não é suficiente para explicar o efeito de exchange-bias.

    Miltényi et al.[60] mostraram que é possível variar fortemente o exchange-bias em

    bicamadas Co/CoO diluindo-se a camada de CoO. Isto pode ser feito inserindo-se

    substituições não magnéticas no volume do AF. Eles observaram que o campo de

    exchange-bias aumentava por três vezes. O exchange-bias não ocorreria na interface, mas

    seria devido à configuração de domínios que se criariam no AF (volume). As paredes de

    domínio passariam preferencialmente através dos sítios não-magnéticos, reduzindo

    consideravelmente a energia necessária para criar um domínio.

    Entre os modelos macroscópicos, como o adotado por nós, e os microscópicos, se

    encontram os modelos mesoscópicos. Estes últimos levam em consideração, de uma

    maneira ou outra, a possível diferença na configuração de spin no plano x, y da estrutura.

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    29

    Neste sentido, na próxima seção discutiremos o modelo proposto por Stiles e McMichael[61]

    e introduziremos o conceito de anisotropia rotatória.[61,62]

    2.4.4 Anisotropia Rotatória

    Assim como Stiles e McMichael[61,62] fizeram, consideremos que o filme AF é formado

    por um conjunto de grãos de tamanhos e direções de anisotropias diferentes. Num sistema

    como este, os grãos para os quais a constante de acoplamento direto na interface FM/AF é

    alta e com a direção de anisotropia perto de EHr

    , não revertem seus spins no processo de

    reversão da magnetização no FM. Estes grãos preservam a ordem antiferromagnética longe

    da interface, isto é, apresentam um comportamento reversível e são os que contribuem para

    o exchange-bias. Por outro lado, os spins daqueles grãos com constante de acoplamento

    alta na interface e eixos fácies orientados formando um certo ângulo, além do ângulo crítico

    em relação ao eixo fácil do FM acompanharão os spins do FM apresentando com isto um

    comportamento irreversível. Estes últimos contribuem para o aumento do campo coercitivo,

    Hc. Adicionalmente, os grãos com acoplamento fraco na interface FM/AF não contribuem

    nem para HE nem para HC. A magnetização destes últimos rotaciona juntamente com a

    magnetização FM sem exercer torque.

    Os grãos cuja magnetização acompanha a rotação da magnetização do FM )(Mr

    contribuem para um campo efetivo que é paralelo à direção de equilíbrio da magnetização

    )ˆ( 0m , isto é, podemos dizer que estes provocam uma anisotropia rotatória. A contribuição

    desta anisotropia na energia magnética livre da bicamada FM2/AF3 pode ser incluída

    fenomenologicamente através do seguinte termo:

    rara HMErr

    ⋅−= 2 , (2.21)

    onde raHr

    define o campo de anisotropia rotatória[62] que se comporta como um campo

    magnético efetivo que gira rigorosamente paralelo a 02m) , a direção de equilíbrio da

    magnetização no FM2.

    A anisotropia rotatória tem uma contribuição importante em experimentos como os de

    ressonância ferromagnética (FMR) e Susceptibilidade ac.[25,63,64] que são sensíveis à

    curvatura da energia livre em torno da direção da magnetização, como veremos nesta tese.

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    30

    Finalmente, das equações (2.14, 2.17, 2.20, 2.21) a Eq. (2.1) da energia magnética livre

    para uma tricamada FM1/NM/FM2/AF3 (ver Fig. 2.5 a) pode ser escrita

    fenomenologicamente como:

    +

    ⋅−

    −+⋅−= ∑

    =

    2

    1

    22

    2 ˆˆ2i i

    iUi

    i

    i

    i

    Siiiii M

    uMK

    MnM

    tK

    MtMHErr

    rrπ

    +⋅−⋅

    −⋅

    − 223

    3

    32

    32 ˆ tMHM

    uMMMMM

    J raWEXrr

    rrr

    σ (2.22)

    2

    21

    21

    21

    21

    ⋅−

    ⋅−

    MMMM

    JMMMM

    J bqbl

    rrrr

    ,

    onde û define a direção de anisotropia uniaxial no AF que assumimos que coincide com a

    do filme FM.

    Notemos que se quisermos estudar de maneira independente as propriedades das

    bicamadas FM/AF teremos apenas que fazer na equação anterior 0== bqbl JJ e tomar na

    soma o termo que corresponde a FM2.

  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

    31

    2.5 Referências

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  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

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  • Capítulo 2: Energia magnética livre aplicada a estruturas válvulas de spin

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  • 34

    CAPÍTULO 3

    Técnicas experimentais. Interpretação das medidas

    3.1 Introdução

    Neste capítulo são apresentadas as técnicas experimentais utilizadas nesta tese. Na

    seção (3.2) introduzimos a técnica de sputtering utilizada para obter os filmes e

    multicamadas magnéticas investigadas neste trabalho. Na seção (3.3) apresentamos a

    técnica de refletometria de raios-X em baixo ângulo, utilizada na calibração das espessuras

    das camadas que compõem as estruturas analisadas. Na seção (3.4), apresentamos uma

    breve introdução ao Efeito Kerr magneto-óptico (MOKE), na (3.5) apresentam-se os

    princípios básicos da ressonância ferromagnética (FMR), na (3.6) mostramos os

    fundamentos básicos da técnica de Espalhamento de luz Brillouin (BLS) e por último, na

    seção (3.7) introduzimos a técnica detecção dc em ressonância ferromagnética que tem sido

    utilizada pela primeira vez no estudo dos mecanismos de relaxação nos filmes finos e nas

    multicamadas magnéticas. Esta técnica de detecção dc será utilizada para estudar o efeito

    do bombeamento se spin através de intrefaces FM/NM, como será visto no capítulo (6).

    3.2 Deposição por evaporação catódica ou Sputtering

    O método de deposição física de vapor ou physical vapor deposition (PVD) mais

    utilizado na fabricação de filmes finos é a evaporação catódica ou sputtering. O sputtering

    é um processo a vácuo que retira átomos de um material alvo para depositar um filme numa

    superfície ou substrato.

    A figura (3.1) mostra um sistema típico de evaporação catódica. O processo começa

    com a injeção de um gás nobre (geralmente argônio, Ar) no interior de uma câmara de

    vácuo com uma pressão menor que 10-6 Torr (no nosso caso, 2.0 x 10-7 Torr) até 1 mToor.

    Um substrato que serve de ânodo é colocado em frente a um alvo conectado ao terminal

    negativo de uma fonte dc ou rf (catodo).

    Neste processo, a energia cinética dos íons energéticos é transferida aos átomos da

    superfície do alvo que serão ejetados se a energia dos íons é maior que a energia de

  • Capítulo 3: Técnicas experimentais. Interpretação das medidas

    35

    ionização destes átomos superficiais. Os átomos com maior energia atingem o substrato,

    onde são depositados ou criam novas reações. Uma vez depositados, a energia cinética

    destes é redistribuída uniformemente na superfície do substrato em forma de energia

    potencial, criando ligações entre eles e formando assim as primeiras camadas do filme. Isto

    ocorre quando a energia cinética dos íons é relativamente baixa, mas suficiente para ejetar

    os átomos confinados nas primeiras 5-10 monocamadas do alvo.

    Fig. 3.1-Sistema típico de evaporação catódica ou sputtering.

    Energias cinéticas muito maiores que a energia de ligação dos átomos do alvo podem

    deslocá-los até outros sítios provocando recristalização da rede, vacâncias e até defeitos no

    alvo. Nessa faixa de energias, os átomos ejetados têm energias suficientemente altas e

    podem até danificar o substrato. A energia de ligação está relacionada à energia mínima

    que um íon deve possuir para ejetar um átomo do material do alvo. Na tabela (3.1)

    Ânodo

    Ions de Argônio (Ar+) acelerados

    Átomos ejetados do alvo

    Alvo Campo magnético

    Campo elétrico

    Magneto

    Magnetron (Catodo)

    Câmara de Vácuo

    Substrato

  • Capítulo 3: Técnicas experimentais. Interpretação das medidas

    36

    apresentamos os valores de energia mínima de um átomo de Ar para a maioria dos

    materiais utilizados nesta dissertação. [1]

    Material Emin (eV)

    Fe 20

    Ni 21

    Co 25

    Cu 17

    W 33

    Ta 26

    SiO2 16

    Tabela 3.1- Energia mínima de um átomo de Ar para ejetar um átomo da superfície do alvo para alguns dos materiais utilizados nesta tese.

    Além da energia mínima iônica é necessário definir a eficiência do sputtering ou

    sputtering yield, S, definida como o número de átomos ejetados por íon incidente. A teoria

    de maior sucesso para descrever o sputtering yield foi proposta por Sigmund.[2] Esta teoria

    permite calcular valores de S apenas a partir do conhecimento de dados cristalográficos e

    parâmetros de cada material, sem parâmetros de ajuste.

    Todo estudo de S, deve considerar as características da colisão (elástica ou inelástica),

    seção transversal de espalhamento, estrutura do material do alvo (randômico ou cristalino),

    natureza e força das ligações na superfície do alvo, geometria da deposição (ângulo de

    incidência, distância alvo-substrato) etc.[3]

    Seguindo a teoria de Sigmund, a eficiência do processo, S, é dada por:

    ( ) bEE

    MMMMS 12

    21

    212

    3

    +=πα

    ( 1E

  • Capítulo 3: Técnicas experimentais. Interpretação das medidas

    37

    ( )b

    n

    EES

    MMM

    ZZZZS 1

    21

    13/2

    23/2

    1

    2156.3++

    = α ( 1E > 1keV) (3.2)

    onde M1 e M2 são as massas atômicas da partícula incidente e do alvo, respectivamente, 1E

    é a energia da partícula incidente, bE é a energia de ligação do átomo na superfície; Z1 e Z2

    são os números atômicos das partículas 1 e 2, α uma função de M1/M2, e ( )1ESn a perda de energia por unidade de comprimento durante a colisão.

    Material S(íon/átomo)

    Ar (Energia 0.5 KeV)

    S(íon/átomo)

    Ar (Energia 1 KeV)

    Fe 1.10 1.3

    Ni 1.45 2.2

    Co 1.22 -

    Cu 2.35 2.85

    W 0.57 -

    Ta 0.57 -

    SiO2

  • Capítulo 3: Técnicas experimentais. Interpretação das medidas

    38

    plasma, a densidade total de partículas deve ser alta em comparação com suas dimensões

    para garantir um número suficiente de interações eletrostáticas, e as densidades de elétrons

    e íons devem ser pequenas em relação à densidade total. Tipicamente, o grau de ionização,

    ou a razão entre o número de íons e os átomos neutros, é aproximadamente de 10-4. Os

    plasmas que aparecem no sputtering são chamados de descargas luminosas.

    Para entender como um plasma é formado consideremos o sistema simplificado da Fig.

    (3.1). Quando uma voltagem é aplicada entre os eletrodos, inicialmente começam a fluir

    pequenas correntes devido ao pequeno número de partículas carregadas (íons e elétrons).

    Neste estágio, na medida em que a voltagem aumenta, é transferida as partículas carregadas

    uma energia suficiente para produzir mais portadores de carga. Isto ocorre através das

    colisões dos íons com o catodo, que libera elétrons secundários, e pela ionização dos

    átomos neutros no gás de Ar (e-+Ar0→Ar++2e-). Com a multiplicação das partículas

    carregadas, a corrente aumenta rapidamente, mas a voltagem, limitada pela alta impedância

    da fonte de potência, permanece constante. Este regime é conhecido como descarga

    Townsend. Neste estágio, um grande número de elétrons e íons são criados em avalanche.

    Eventualmente, quando uma quantidade suficiente de elétrons gerados produz suficientes

    íons para regenerar o mesmo número de elétrons iniciais, a descarga torna-se auto-

    sustentada, o gás começa a brilhar e a voltagem decresce acompanhada de um aumento

    súbito da corrente. Este estado é chamado de descarga luminosa normal. Nele, a densidade

    de íons que atingem a superfície do cátodo é não uniforme e é concentrada em torno das

    bordas e outras irregularidades. À medida que a potência é aumentada, os íons acelerados

    se distribuem por toda a superfície do catodo até a densidade ser uniforme. Este é o estado

    de descarga anormal e é a região operativa do sputtering. Devido a que ambos, substrato e

    alvo, estão dentro da região do plasma, os subprodutos criados nas colisões podem

    bombardear ambas as superfícies. Os átomos neutros ejetados da superfície do alvo devem

    atravessar a descarga luminosa antes de atingir o substrato, podendo ser ionizados mediante

    colisões. Isto afeta a qualidade do filme resultante, embora, as reações químicas e processos

    originados no plasma, geralmente favorecem a depo