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uriel-nascimento
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Imaginar um texto que deseja, que sonha, cujo emaranhado de pulsões não
apenas tivesse um autor como pressuposto, mas como desejado, tamanha a gama
pulsional liberada na sua leitura: desejo pela repressão em detrimento do gozo. Ordem
de concatenação inexplicável: primeiro, segundo, terceiro e quarto apenas reduzidos a
meras palavras, significantes puros, nenhum significado que não pular ao próximo
significante, ordenação ininteligível que, entretanto, não cessa se produzir efeitos, não
cessa de descentralizar. Ler o texto e saber-me contemplado precisamente porque não
existo frente a ele se não como esse efeito efêmero de sujeito que, por sua vez, já se foi.
Não se foi quando eu fecho o texto e sim na medida em que o texto e eu nem sequer
podemos nos separar, numa união ontológica quase mística (os idiotas pensam em
ocultismo e acertam como o cego que atira no alvo sem saber bem o porquê). Que é o
fim de uma história se não o nosso próprio ensaio no qual nós mesmos fechamos o livro
porque morremos um pouco?