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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 5 – O Português popular do Brasil, Portugal e África: aproximações e distanciamentos. 158 CONFRONTOS E CONTRASTES ENTRE DUAS VARIEDADES LUSÓFONAS NO EMPREGO DA CONCORDÂNCIA VERBAL Sebastião Carlos Leite GONÇALVES 1 Cássio Florêncio RUBIO 2 RESUMO: Com base nas aproximações e distanciamentos entre as variedades lusófonas, propomos neste trabalho investigar se a variação evidenciada para o português brasileiro (PB, doravante), em relação à aplicação da regra de concordância verbal (CV, doravante), considerada a estratificação das amostras de fala em culta e popular, se confirma também para variedades do português europeu (PE, doravante). O tema dessa pesquisa se justifica por buscar a comparação sociolinguística interdialetal entre o PB e o PE em relação à CV, o que é pouco explorado até o presente momento, principalmente, se considerarmos a variabilidade restrita no PE, no tocante à CV. Para o PB, serão consideradas as amostras da variedade do Noroeste do Estado de São Paulo (RUBIO, 2008), extraídas do Banco de Dados Iboruna, projeto ALIP (Amostra Linguística do Interior Paulista) (GONÇALVES, 2005), composto de 152 entrevistas, estratificadas uniformemente mediante os fatores sociais escolaridade, faixa etária e gênero, e para o PE, amostras extraídas do banco de dados do Centro Linguístico da Universidade de Lisboa, córpus oral Português Fundamental. Usando como subsídio principal a Teoria da Variação Linguística (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972), procederemos à investigação da CV de terceira pessoa do plural (3PP, daqui em diante) de 10 informantes de cada uma das variedades (PE e PB), com estratificação social por nível de escolaridade (5 informantes com escolaridade variável de 0 a 4 anos (português popular (PP)) e 5 informantes com escolaridade superior a 11 anos (português culto (PC))). Buscaremos apresentar evidências de que, ainda que haja variação de CV no PE, essa variação não apresenta as mesmas características da apresentada no Brasil, seja em relação índice de aplicação de plural nos verbos, ou mesmo em relação aos fatores linguísticos relacionados ao fenômeno. Para a variedade brasileira, foram selecionados os fatores modalidade (culta e popular), paralelismo formal de nível discursivo, traço semântico do sujeito e saliência fônica. Para a variedade europeia, foi selecionado apenas o fator traço semântico do sujeito. 3 1 Bolsista produtividade do CNPq e Professor da Universidade Estadual Paulista – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – Rua Cristóvão Colombo, 2265 CEP 15054-000 – São José do Rio Preto SP Brasil – [email protected] / [email protected]. 2 Bolsista CAPES e doutorando do Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Estadual Paulista – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – Rua Cristóvão Colombo, 2265 CEP 15054-000 – São José do Rio Preto SP Brasil – [email protected]. 3 Por considerar que o termo variedade linguística possui uma pluralidade de usos, relacionados tanto a fatores diastráticos quanto a fatores diatópicos, optou-se pela utilização do termo modalidade, para fazer referência às vertentes culta e popular do português (fator diastrático) e pelo uso do termo variedade para referência ao português do Brasil e de Portugal (fator diatópico).

LuísaVilela, Ana Alexandra Silva ISBN: 978-972-99292-4-3 · tema dessa pesquisa se justifica por buscar a comparação sociolinguística interdialetal entre o PB e o PE em relação

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 5 – O Português popular do Brasil, Portugal e África: aproximações e distanciamentos.

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CONFRONTOS E CONTRASTES ENTRE DUAS VARIEDADES LUSÓFONAS NO EMPREGO DA CONCORDÂNCIA VERBAL

Sebastião Carlos Leite GONÇALVES1 Cássio Florêncio RUBIO2

RESUMO: Com base nas aproximações e distanciamentos entre as variedades lusófonas, propomos neste trabalho investigar se a variação evidenciada para o português brasileiro (PB, doravante), em relação à aplicação da regra de concordância verbal (CV, doravante), considerada a estratificação das amostras de fala em culta e popular, se confirma também para variedades do português europeu (PE, doravante). O tema dessa pesquisa se justifica por buscar a comparação sociolinguística interdialetal entre o PB e o PE em relação à CV, o que é pouco explorado até o presente momento, principalmente, se considerarmos a variabilidade restrita no PE, no tocante à CV. Para o PB, serão consideradas as amostras da variedade do Noroeste do Estado de São Paulo (RUBIO, 2008), extraídas do Banco de Dados Iboruna, projeto ALIP (Amostra Linguística do Interior Paulista) (GONÇALVES, 2005), composto de 152 entrevistas, estratificadas uniformemente mediante os fatores sociais escolaridade, faixa etária e gênero, e para o PE, amostras extraídas do banco de dados do Centro Linguístico da Universidade de Lisboa, córpus oral Português Fundamental. Usando como subsídio principal a Teoria da Variação Linguística (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972), procederemos à investigação da CV de terceira pessoa do plural (3PP, daqui em diante) de 10 informantes de cada uma das variedades (PE e PB), com estratificação social por nível de escolaridade (5 informantes com escolaridade variável de 0 a 4 anos (português popular (PP)) e 5 informantes com escolaridade superior a 11 anos (português culto (PC))). Buscaremos apresentar evidências de que, ainda que haja variação de CV no PE, essa variação não apresenta as mesmas características da apresentada no Brasil, seja em relação índice de aplicação de plural nos verbos, ou mesmo em relação aos fatores linguísticos relacionados ao fenômeno. Para a variedade brasileira, foram selecionados os fatores modalidade (culta e popular), paralelismo formal de nível discursivo, traço semântico do sujeito e saliência fônica. Para a variedade europeia, foi selecionado apenas o fator traço semântico do sujeito.3 1 Bolsista produtividade do CNPq e Professor da Universidade Estadual Paulista – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – Rua Cristóvão Colombo, 2265 CEP 15054-000 – São José do Rio Preto SP Brasil – [email protected] / [email protected]. 2 Bolsista CAPES e doutorando do Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Estadual Paulista – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – Rua Cristóvão Colombo, 2265 CEP 15054-000 – São José do Rio Preto SP Brasil – [email protected]. 3 Por considerar que o termo variedade linguística possui uma pluralidade de usos, relacionados tanto a fatores diastráticos quanto a fatores diatópicos, optou-se pela utilização do termo modalidade, para fazer referência às vertentes culta e popular do português (fator diastrático) e pelo uso do termo variedade para referência ao português do Brasil e de Portugal (fator diatópico).

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PALAVRAS-CHAVE: concordância verbal; português culto; português popular; português europeu; português brasileiro. O fenômeno variável da CV

No tocante à determinação dos contextos de variação, Naro (2003) adverte que,

em um modelo quantitativo de análise, devem ser selecionados os fatores linguísticos e

extralinguísticos que podem favorecer ou refrear o uso de uma ou outra variante.

A atuação dos fatores extralinguísticos

Trataremos, na pesquisa, do fator diatópico (dimensão geográfica - origem) e do

fator diastrático (dimensão social – modalidade (culta e popular)). A variação diatópica

relaciona-se às diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre

falantes de origens geográficas distintas. A variação social, por sua vez, relaciona-se a

um conjunto de fatores ligados à identidade dos falantes e também à organização sócio-

cultural da comunidade de fala.

No Brasil, o estudo da CV já alcança mais de três décadas e abrange grande

parte dos dialetos do PB, já estando mais do que provado que, mesmo fora dos

contextos variáveis admitidos pela tradição gramatical, a CV constitui uma regra

variável do PB, tanto para a modalidade falada quanto para a escrita, (v. SCHERRE,

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2005).4 Em Portugal, contudo, a resistência em reconhecer a variação na CV faz com

que a esse fenômeno não seja dispensada atenção que lhe é devida.

Ainda que não se tenha dimensão da amplitude de ocorrência da variação da CV

em Portugal, pode-se considerar que o fenômeno é suficientemente notável, a ponto de

pesquisadores da dialetologia portuguesa, desde início da década de 1950, apontarem

como “frequente” o uso da variável não-padrão (SILVA PEREIRA, 1951; MIRA, 1954;

MOURA, 1960; COELHO, 1967; BAPTISTA, 1967; PEIXOTO, 1968; CRUZ, 1991;

ALVES, 1993; apud NARO & SCHERRE (2007)). São exemplos dessas observações:

LISBOA – sudoeste de Portugal: dados colhidos da fala de pessoas

simples e analfabetas de bairros pobres de Lisboa (Curraleira, perto do

Alto de São João, Alfama, Castelo, Bairro Alto, Casal Ventoso, doca

do Cais do Sodré e outros) (MIRA, 1954: 117, 149-150).

III – VERBOS

(...)

“2 – Casos gerais (...)

b) – as formas verbais de terceira pessoa do plural (sobretudo

dos verbos da 3ª conjugação) terminadas em vogal nasal “e”

desnasalizam-se:

eles oube (m) (...)

eles sacode (m) (...)”

(MIRA, 1954: 117, apud NARO & SCHERRE, 2007: 108-109)

III – CONCORDÂNCIA

(...)

4 Sob a vertente variacionista, podemos citar o trabalho pioneiro de Lemle e Naro (1977), para o dialeto carioca; o de Nina (1980), para o dialeto da Região Bragantina; o de Nicolau (1984), para o dialeto mineiro; o de Rodrigues (1987), para o português popular de São Paulo; o de Graciosa (1991), para a fala culta carioca; o de Rodrigues (1997), para o dialeto de Rio Branco; o de Anjos (1999), para a fala pessoense; o de Monguilhott & Coelho (2002), para a fala da Região Sul, os estudos de Gameiro (2005) e de Monte (2007), para a fala da região central do estado de São Paulo, o estudo de Rubio (2008), para a região noroeste do estado de São Paulo (região de São José do Rio Preto), o estudo de Lucchesi, Baxter e Silva (2009), para o dialeto da Helvécia, interior da Bahia, além das inúmeras contribuições de Naro & Scherre (1999, 2000a, 2000b, 2003 e 2007) e Scherre & Naro (1998, 1999, 2000, 2001, 2005 e 2006).

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“São frequentes na LP (língua popular), as faltas de

concordância, consideradas erros do ponto de vista gramatical (...)

“os nossos agasalhos é estes” (...)

“só tem as raízes enterrado na carne” (...) “

(MIRA, 1954: 149-150, apud NARO & SCHERRE, 2007: 109, grifos

originais).

A variação na CV por perda da nasalização (comem por come) é considerada

como característica do PB, a exemplo da desnasalização de formas não-verbais como

em garage(m), bagage(m), home(m). Outros fenômenos de variação na CV, porém de

ordem morfológica, ocorrem no PB, como a substituição de uma desinência -eram

(como em comeram) por outra -eu (como em comeu).

Varejão (2006), recorrendo a amostras do Cordial-sin, constituídas por falantes

do português europeu de baixa escolaridade, verificou variação em relação à CV de 3PP

também nessa variedade europeia. No entanto, as frequências de pluralização dos

verbos mostraram-se superiores às frequências de pluralização apresentadas nos estudos

para o PB.

Para o grupo de fatores modalidade a hipótese inicial é de que um aumento da

escolaridade do informante e, consequentemente, um maior contato com a norma culta

presente no ambiente escolar acarretem um maior índice de pluralização verbal, tanto

nas amostras do PE quanto nas amostras do PB (v. RODRIGUES, 1997, NARO &

SCHERRE, 1998 e RUBIO, 2008, dentre outros).

Por uma limitação imposta pelo córpus do PE, a investigação recai somente

sobre o fator diastrático modalidade e o fator diatópico origem geográfica do

informante.

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A atuação dos fatores linguísticos

Dentre os fatores linguísticos já comprovados correlacionarem-se à variação da

CV, há aqueles relacionados diretamente a propriedades do verbo, como transitividade

e tipo morfológico, aqueles relacionados diretamente ao SN-sujeito, como, por exemplo,

traço semântico do sujeito, tipo estrutural, e referencialidade, e aqueles que explicitam

a relação SN-sujeito/verbo, como paralelismo formal e posição do sujeito em relação

ao verbo.

Quanto às propriedades do SN-sujeito, o traço semântico é um fator que tem se

mostrado estatisticamente relevante para aplicação de CV. O traço [+humano]

favoreceria a presença de marcas de plural nos verbos, enquanto o traço [-humano] a

desfavoreceria.

Relativamente às relações morfossintáticas envolvendo o SN-sujeito e o verbo, a

variável paralelismo formal constitui importante critério para a investigação da CV.

Essa variável prevê que o tipo de marca existente no sujeito pode influenciar o tipo de

marca existente no verbo, ou seja, as marcas de plural no sujeito podem levar à presença

de marcas de plural no verbo, da mesma forma que a ausência de marcas de plural no

sujeito levaria a ausência de marcas no verbo. Traduz essa assertiva do paralelismo

formal a crença de que marca leva a marca e zero leva a zero.

Scherre e Naro (1993) verificaram que o paralelismo formal pode ser

considerado sob duas dimensões diferentes. A primeira, chamada paralelismo

oracional, busca evidenciar se há correlação entre o tipo de marca existente no sujeito,

controlador da concordância, e o tipo de marca existente no verbo. Foram controlados

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também os casos com sujeitos complexos que apresentam a possibilidade da marca de

plural nos elementos de um SPrep interno a um SN. Considerou-se apenas a última

marca da construção. Os resultados apresentados pelos autores confirmam que a

presença de –s no último elemento do SN-sujeito é um fator significativo para a

marcação de plural nos verbos, ainda que esse elemento não seja o núcleo do sujeito.

Para os sujeitos com último elemento do tipo numeral, a concordância mantém-se numa

faixa intermediária, enquanto os sujeitos com a última marca neutralizada demonstram

ter comportamento semelhante aos casos em que a marca de plural no último elemento é

explícita.

A segunda dimensão do paralelismo formal, chamada paralelismo discursivo,

busca evidenciar se, em uma construção seriada, a presença de pluralização no(s)

verbo(s) anterior(es) pode levar a um maior índice de pluralização do verbo dentro da

oração analisada. Os resultados apresentados por Scherre & Naro (1993) confirmam que

a presença de marcas em um verbo influencia a marcação de plural no verbo

subsequente, e a não marcação de plural em um verbo influencia negativamente a

pluralização do verbo seguinte.

Também a variável posição do sujeito (S) em relação ao verbo (V) é mencionada

como importante fator que se correlaciona à variação da CV (SCHERRE, 2005). Pontes

(1989) foi quem primeiramente mostrou que, quando o SN ocupa posição à direita do

verbo (V SN), a tendência é que não ocorra nenhuma marca de pluralização no verbo,

uma vez que o SN fora de sua posição prototípica de sujeito é mais provável de ser

identificado como objeto do que como sujeito da sentença, atuação que guarda relação

estreita tanto com a variável transitividade quanto com a variável traços semânticos do

SN.

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Nos pares verbais singular/plural, para os contextos de 3PP, a oposição se dá

sempre entre as terceiras pessoas do singular e do plural. A oposição mínima verificada

entre a forma singular e a forma plural nos verbos em terceira pessoa envolve apenas

mudança na qualidade da vogal na forma plural (cantava/cantavam, sabe/sabem). A alta

saliência fônica ocorrerá, por exemplo, com o verbo irregular ser (é/são). O fator

saliência fônica, comprovadamente, exerce grande influência sobre fenômenos

variáveis de ordem morfossintática, dentre eles a CV (v. LEMLE & NARO, 1977;

NARO 1981; SCHERRE & NARO 1997, SCHERRE & NARO, 2006, dentre inúmeros

outros).

Vale esclarecer que os contextos variáveis acima citados são apenas

exemplificativos das correlações estruturais que podem ser consideradas na aplicação da

CV. Na análise, consideraremos apenas os fatores selecionados como relevantes para a

amostra.

Breve caracterização dos corpora de pesquisa

Para exibir um comportamento de uma variedade linguística do PB em relação à

CV selecionamos 10 inquéritos do banco de dados Iboruna, que conta com amostras de

fala de informantes da região Noroeste do Estado de São Paulo, estratificadas

socialmente por escolaridade, gênero e faixa etária, e está disponível no site

www.iboruna.ibilce.unesp.br e na sede do banco de dados, a Universidade Estadual

Paulista, campus de São José do Rio Preto/SP. Das 10 entrevistas selecionadas, 5 delas

são de falantes com escolaridade considerada baixa (PP) (0 a 4 anos) e 5 são de falantes

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com escolaridade elevada (PC) (mais de 11 anos). Para o estudo da CV no PE,

recorremos às amostras de fala do córpus denominado Português Falado - Variedades

Geográficas e Sociais, disponível no site

http://www.clul.ul.pt/sectores/linguistica_de_corpus, graças a uma parceria entre o

Centro de Linguística da Universidade de Lisboa – instituição coordenadora – e das

Universidades de Tolouse-le-Mirail e Provença-Aix-Marselha. Consoante às amostras

do PB, foram selecionadas 10 entrevistas de informantes do PE, 5 delas de informantes

do chamado PP (0 a 4 anos de escolarização) e as outras 5 de informantes do PC (mais

de 11 anos de escolarização). A opção pela seleção de faixas de escolaridade que se

localizam nos extremos da estratificação proposta pelos bancos de dados, justifica-se

pela busca de representantes legítimos de cada modalidade (culta e popular).

Seleção das ocorrências

Foram selecionadas as ocorrências em que se evidenciava no sujeito, a terceira

pessoa do plural (3PP), com marcação ou não de plural nos verbos, como nos exemplos

(1a) e (1b):

(1) a. você vai tá sendo a favor pra que as pessoas comprem armas [PB-C-AC-042, l. 303] 5

b. tudo mais, já sabe como é. elas agora entende que a, que a liberdade e a felicidade que se constrói assim mas... está bem.

[PE-C-A juventude ontem e hoje-l. 27] 6

5 Para as ocorrências do PB, recorremos aos seguintes parâmetros de identificação: [PB (português brasileiro) – C (culto) ou P (popular) – AC – 042 (amostra censo - número), l. 303 (linha da ocorrência)].

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Os fatores extralinguísticos e linguísticos considerados na análise das

ocorrências foram: origem geográfica, modalidade (culta e popular), paralelismo

formal de nível oracional e discursivo, traço semântico do sujeito, posição e

distanciamento do sujeito em relação ao verbo e saliência fônica.

Análise dos resultados

Foi analisado um total de 653 ocorrências de 3PP, com 477 para a variedade

brasileira e 276 para a variedade europeia. Do total verificado para o PB, 67% (320)

apresentaram marcas de plural explícitas nos verbos e 33% (157) não apresentaram

pluralização. Das ocorrências do PE, apenas 5% (14) não exibiram marcas de plural nos

verbos e 95% (262) apresentaram marcas de CV.

Tabela 1: Percentual de aplicação e não aplicação de CV em diferentes variedades do português.

variedade PB

PE

Presença de CV 67% 320 95% 262 Ausência de CV 33% 157 5% 14

Total 100% 477 100% 276

As frequências apresentadas demonstram haver uma diferença entre o PE e o

PB, ao menos, nas variedades consideradas. Para além da diferença quantitativa, foi

6 Para as ocorrências do PE, os parâmetros de identificação são: [PE (português europeu) – C (culto) ou P (popular) - A juventude ontem e hoje (identificação da entrevista no banco de dados) - l. 27 (linha da ocorrência)].

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possível observar, por meio de uma analise qualitativa dos dados, que os contextos de

variação para cada uma das variedades lusófonas e os fatores responsáveis por essa

variação não são comuns. Para o PE, tanto no PP quanto no PC, as ocorrências de não

aplicação de pluralização nos verbos se restringem apenas a casos de sujeitos compostos

acompanhados ou não da relativa (que) (2a), de verbos com saliência fônica mínima

entre singular e plural, ou seja, verbos em que o plural se faria somente pela nasalização

da vogal final (2b), de cópulas com o verbo ser (2c), casos de variação admitidos até

mesmo pela gramática normativa (concordância com o predicativo) e de sujeito

posposto ao verbo (2d).

(2) a. elas entendem que a, que a liberdade e a felicidade que se constrói assim mas. [PE-C-A juventude ontem e hoje-l. 27]

b. e eu i[...], ia a, estava ali à beira de uma casa - os senhores não conhece, não vale a pena dizer o nome da pessoa, não é, - e estava ali.

[PE-P-Um nomoro de outros tempos-l. 59] c. porque as nossas mobílias são muito bonitas. as deles é aquele tipo liso

[PE-P-Na base militar de Beja-l. 323] d. as bolsas da soga na molhelha e caiu a molhelha ao chão e, e ia as sogas às voltas,

conforme o meu irmão [...] assim, assim estavam. [PE-P-Bruxedos-l. 226]

Uma única ocorrência levantada em meio aos dados do PE popular guarda

semelhança com ocorrências comumente encontradas no PB (3).

(3). duma vez, saí daqui com os bois e mais um irmão meu aí de cima, desse portão, e quando chegamos ali a uma mata, os bois desapareceu e nunca mais os vimos e levavam a chocalhada.

[PE-P-Bruxedos-l. 111]

Para Lucchesi, Baxter & Silva (2009, p. 331), esse tipo de variação encontrado

no PE é tida como “residual e periférica” e distingue-se, não só quantitativamente, mas

também qualitativamente da variação de CV encontrada nas variedades do PB.

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CV no português culto e popular

Abaixo apresentamos os resultados, quando as ocorrências são estratificadas nas

modalidades culta e popular.

Tabela 2: CV nas modalidades culta e popular em duas variedades do português.

variedade modalidade

PB PE

português popular 48% 97/202 93% 130/140 português culto 81% 223/275 97% 132/136

Já era previsível que as modalidades populares apresentassem percentuais

menores de CV em relação às modalidades cultas, contudo, para o PE, a diferença não

ultrapassa os quatro pontos percentuais. Para o PB, temos uma diferença de 33 pontos,

da modalidade culta em relação à popular. Considerando que o PC normalmente

aproxima-se mais da norma-padrão do que o PP, é possível afirmar que há uma grande

diferença, não somente da modalidade popular em relação à culta, mas também entre a

norma-padrão e o PP brasileiro. Ao menos em relação à CV.

Faraco (2008) afirma que a norma-padrão foi construída no Brasil de forma

artificial, baseada no modelo de norma europeu escrito. Não houve, como em outros

países, uma preocupação em tomar como modelo a chamada norma urbana comum

brasileira.

Ao considerarmos a formação da norma-padrão no Brasil, é possível explicar a

sensível diferença apresentada entre o comportamento dos falantes do PP e dos falantes

do PC.

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Segundo Lucchesi, Baxter & Silva (2009, p. 360):

observa-se no português do Brasil... uma polarização sociolinguística,

calcada na alta frequência de aplicação da regra de concordância na

norma culta, em contraste com uma aplicação muito baixa da regra na

norma popular, a que correspondem sistemas distintos de avaliação

subjetiva das variantes e tendências de mudança igualmente

diferenciadas em cada uma das normas.

Apenas por meio dos percentuais, já era previsto que, para o PB, o fator

modalidade seria selecionado como relevante na aplicação da CV. Após a análise

quantitativa, esse fator mostrou ser o que mais influencia a CV na amostra do PB

considerada. A seguir, a tabela com os resultados.

Tabela 3: Frequência e PR de CV no PB, segundo a modalidade modalidade Frequência de plural Peso relativo

português popular 97/202 48% .23 português culto 223/275 81% .71

Consoante o que já foi discutido, amostras de falantes do PP apresentaram peso

relativo bem inferior às amostras de falantes do PC, o que confirma a tendência de que a

maiores ou menores frequência de aplicação de plural nos verbos está intimamente

ligada a maior ou menor escolarização dos falantes brasileiros.

A atuação do fator traço semântico do sujeito

Em variedades do PB, o fator traço semântico do sujeito mostrou influenciar o

índice de aplicação de plural nos verbos, visto sujeitos com traço [+humano] terem

apresentado uma frequência de pluralização maior nos verbos do que sujeitos com traço

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[-humano], sejam eles [+ ou – animados] (SCHERRE & NARO, 1998;

MONGUILHOTT & COELHO, 2002 e RUBIO, 2008). Apresentamos, a seguir, os

resultados para o PB.

Tabela 4: Frequência e PR de CV no PB, segundo o grupo de fatores traço semântico do sujeito

traço semântico do sujeito Frequência de plural Peso relativo humano 272/395 69% .55 animado 4/7 60% .29

inanimado 42/75 59% .26

Conforme expectativa, o fator traço semântico do sujeito demonstrou influenciar

a CV do PB. Sujeitos com traço [+ humano] (4a) apresentaram peso relativo mais

elevado (.55), por consequência, influência positiva na aplicação de plural nos verbos,

do que sujeitos com traço [- humano], sejam eles animados (4b) (.29) ou inanimados

(4c) (.26).

(4) a. as enfermeiras éh::... iam no quarto e falavam

[PB-C-AC-102, p.1, l.21] b. só pá quem as vaca conhece assim... que vai bastante... daí... to/ vai assim todo dia...

[PB-P-AC-004, p.7 l. 311] c. então... lá pelas seis... os móveis tava chegando de caminhão lá no sítio

[PB-P-AC-009, p.3, l.121]

Ainda que a não aplicação de CV no PE tenha sido pouco considerável (5%), o

fator traço semântico do sujeito também foi selecionado como relevante para variedade

europeia. Vejamos os resultados.

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Tabela 5: Frequência e PR de CV no PE, segundo o grupo de fatores traço semântico do sujeito

Traço semântico do sujeito Frequência de plural Peso relativo humano 211/216 98% .60 animado 16/17 94% .23

inanimado 35/43 81% .16

Os resultados demonstram, como no PB, influência positiva de sujeitos de traço

[+ humano] (5a) na CV, com peso relativo de .60 e influência negativa na CV, de

sujeitos com traço [- animado] (5c), por apresentaram baixo peso relativo (.16). Para as

ocorrências com sujeito de traço semântico [+ animado] (5b), o peso relativo, ainda que

baixo, permaneceu, conforme a expectativa, em patamar intermediário ao de sujeitos de

traço [+ humano] e de traço [- animado].

(5) a. Deus me livre! mas o, o, os rapazes também lá deram conta de si, vamos, mas, mas est[...], mas esta também deu, mas, mas foi mais um, à força.

[PE-C-A juventude ontem e hoje-l. 434] b. e quando chegamos ali a uma mata, os bois desapareceu e nunca mais os vimos e

levavam a chocalhada. [PE-P-Bruxedos-l. 111]

c. o homem tem que trabalhar, aí... as coisas já vão um bocado mal. [PE-C-O marido ideal-l. 23]

É importante notar que as diferenças de pesos relativos verificadas entre sujeitos

de traço [+ humano] e de traço [inanimado], para a variedade europeia (44 centésimos),

superaram as diferenças apresentadas para a variedade brasileira (29 centésimos).

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A atuação do fator paralelismo formal de nível discursivo

Além dos fatores já tratados, para a variedade do PB, mais dois fatores

linguísticos foram selecionados como relevantes na aplicação da CV de 3PP.

Para o fator paralelismo formal de nível discursivo, comprovadamente atuante

na CV em variedades brasileiras, conforme atestam, dentre outros, os estudos de

Scherre & Naro (1993) e Rubio (2008), a expectativa era de que os contextos em que os

verbos anteriores fossem marcados com o plural favorecessem a marcação de plural nos

verbos posteriores, seguindo-se os mesmos parâmetros adotados na categoria

paralelismo formal de nível oracional (marcas levam a marcas (POPLACK 1980,

NARO 1981)). Por outro lado, verbos antecedidos de verbos sem a marcação de plural

refreariam a aplicação da CV. Passemos à análise dos resultados.

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Tabela 6: Frequência e PR de CV no PB, segundo o grupo de fatores paralelismo formal – nível discursivo

Contexto variável Frequência de plural Peso relativo verbo anterior c/ marca de plural 83% 62/75 .73 verbo anterior s/ marca de plural 28% 10/36 .13

verbo isolado ou primeiro 69% 243/351 .47

Para o fator verbo anterior com marca de plural (6a), o peso relativo

evidenciado é de .73, ou seja, confirma a expectativa de que verbos anteriores com

marcas de plural influenciam a pluralização dos verbos posteriores. O fator verbo

anterior sem marca de plural (6b), considerando o valor apresentado (.13), influencia a

não aplicação da CV.

(6) a. eles conseguiram fazer crescer um pouco mais e:: mesmo assim ficaram com bastante fazen::da

[PB-C-AC-045, l. 175] b. lá eles entra na religião deles ... começa a falar bonito falar ... gritado ... sapatear

vira bispo [PB-P-AC-147, l. 225]

Para o grupo de fatores saliência fônica verbal, último selecionado para a

variedade do PB, verifica-se na bibliografia pesquisada que formas mais salientes de

plural em relação às suas formas singulares (7a) tendem a ser mais marcadas do que as

formas plurais menos salientes (7b), ou seja, oposições mais salientes são mais

perceptíveis e, portanto, aumentam a probabilidade de ocorrência da variante explícita

de plural (v. LEMLE & NARO, 1977; NARO 1981; SCHERRE & NARO 1997,

SCHERRE & NARO, 2006, dentre inúmeros outros).

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(07) a as crianças não são / (é) feitas prá/ prá::/ prá bater nelas... [PB-P-AC-004, l. 260]

b quando as jabuticabas nasciam / (nascia)... que estavam na época de colher [PB-C-AC-031, l. 24]

Abaixo, apresentam-se os resultados para esse grupo.

Tabela 7: Frequência e PR de CV no PB, segundo o grupo de fatores saliência fônica. Saliência fônica Frequência de plural Peso Relativo

mínima diferenciação fonológica 155/255 61% .37 média diferenciação fonológica 118/166 71% .57

máxima diferenciação fonológica 47/56 84% .83

Na tabela, observa-se, conforme a expectativa, que o aumento do nível de

saliência fônica acompanha o aumento do percentual de CV. Para os verbos em que a

saliência fônica entre a forma plural e a singular é menos perceptível (mínima

diferenciação fonológica) (8c), o peso relativo é de apenas .37. Contudo, para as

ocorrências em que há grande saliência fônica entre a forma singular e a plural (máxima

diferenciação fonológica) (8a), o valor é extremamente elevado (.83). Em posição

intermediária, ficaram os casos de saliência média (8b) (média diferenciação

fonológica).

(8) a. esses passos da segurança é (são) muito importante [PB-P-AC-139, l. 340]

b. nessa fazenda meus avôs fez (fizeram) um cercado... fez um pomar de:: jabuticaba. [PB-C-AC-102, l. 174]

c. é:: eles tava no sítio do pai dele tava (tavam) o pai de::le a mãe [PB-P-AC-55, l. 59]

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Conclusões

Os resultados, ainda que limitados pela dimensão do córpus, apontaram, em

primeiro lugar, uma diferença quantitativa do PE em relação ao PB. Os percentuais de

aplicação da CV em amostras da variedade europeia chegaram a 95%, enquanto na

variedade brasileira não ultrapassaram os 70%.

O fator social modalidade demonstrou que a realidade sociolinguística do Brasil

é diferente da realidade sociolinguística de Portugal, pois a estratificação dos

informantes em PC e PP revelou, no tocante à CV, a existência de dois polos, um deles,

mais próximo da realidade europeia, o outro, diferenciado e distante tanto da realidade

do português de Portugal, quanto da norma-padrão dos dois países.

Para além da divergência quantitativa, temos ainda uma diferença qualitativa do

PE em relação ao PB, já apontada por Lucchesi, Baxter e Silva (2009). Foi possível

observar que a variação na CV de 3PP no PE restringe-se apenas a contextos

específicos, tais como saliência fônica mínima entre as formas verbais de singular e

plural, sujeitos pospostos, verbo cópula ser e sujeitos compostos com núcleos

singulares.

Na consideração dos fatores envolvidos no fenômeno, com exceção do grupo de

traço semântico do sujeito, que se mostrou relevante tanto na variedade europeia,

quanto na variedade brasileira, pudemos observar que não há a atuação da maioria

deles, já anteriormente comprovada para variedades do PB.

Se para a variedade do PE, a maioria dos fatores linguísticos considerados não se

mostrou relevante, as ocorrências de não aplicação de plural nos verbos poderiam ser

apenas “aleatórias e periféricas”, não sendo capazes de contestar o que o que se

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considera regra categórica na comunidade. Por outro lado, é possível que a variação no

PE esteja sujeita a fatores diferentes dos já comprovados atuarem no PB.

Para as modalidades brasileiras culta e popular, comprova-se a validade do

controle de fatores como saliência fônica verbal e paralelismo formal, pois, mais uma

vez, mostraram-se atuantes no fenômeno variável da CV.

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