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Setembro, 2015
MACROECONOMIA
& MERCADOS
Relatório Iº Semestre 2015
2
Introdução
O primeiro semestre do ano terminou com os mercados envoltos em várias
incertezas que têm posto em causa a confiança dos investidores. Para além das
negociações entre a Grécia e seus credores, a degradação das expectativas em
relação à China e a provável subida das taxas de juro nos Estados-Unidos têm
contribuído para o aumento da volatilidade dos mercados.
Em consequência, as previsões apontam para níveis modestos de crescimento
económico. De acordo com as últimas estimativas da Comissão Europeia, a
economia mundial deverá crescer 3.5%, em 2015, e 3.9%, em 2016. O ritmo de
crescimento manter-se-á, contudo, desigual entre as várias regiões do mundo,
devido à transferência de rendimento das economias produtoras para as
consumidoras de petróleo, às diferentes políticas monetárias e às alterações
cambiais.
A economia angolana foi altamente afectada por um choque externo que
condicionou seriamente o seu desempenho no primeiro semestre de 2015. A
resposta inicial de política privilegiou a vertente orçamental, tendo-se traduzido
na aprovação de uma ampla revisão do OGE/2015 aprovado em Dezembro de
2014 (com destaque para cortes muito expressivos na dotação de despesas, em
especial, nas de investimento que diminuíram em 53%). Cumpre recordar que,
na base dessa ampla revisão orçamental, esteve a redução para a metade (de
USD 81 para USD 40) da previsão do preço médio do barril de petróleo para
2015.
Disclaimer: Este documento foi elaborado com base em informação obtida em fontes consideradas fiáveis, mas a sua precisão não pode ser totalmente garantida. O conteúdo deste documento não constitui recomendação para investir, desinvestir ou manter o investimento nos activos aqui descritos ou em qualquer outro, bem como não constitui oferta, convite, nem solicitação para a compra ou venda dos instrumentos referidos. As opiniões expressas são da inteira responsabilidade dos seus autores, reflectindo apenas os seus pontos de vista e podendo não coincidir com a posição da COMISSÃO DO MERCADO DE CAPITAIS nos mercados referidos. Este documento não deve ser utilizado na avaliação dos instrumentos nele referidos, não podendo a COMISSÃO DO MERCADO DE CAPITAIS ser responsabilizada por qualquer perda, directa ou potencial, decorrente da utilização deste documento ou
dos seus conteúdos. A reprodução de parte ou totalidade desta publicação é permitida, sujeita a indicação da fonte.
3
ENQUADRAMENTO
Macroeconómico
4
Estados Unidos
5
Durante o primeiro semestre de 2015, a política monetária americana - não convencional
(mormente, medidas de quantitative easing) - permaneceram inalteradas, tendo em
conta que a taxa de juro base da Reserva Federal (FED) manteve-se entre 0 e 0,25%.
O carácter expansionista daquela política, reflectida pelas baixas taxas de juros,
permitiu um crescimento moderado da economia americana no primeiro semestre de
2015, facto que aumentou as perspectivas de elevação da taxa de juro de referência
por parte do FED, mantida perto de zero desde a crise financeira de 2008. Comparando
com o semestre homólogo, as estimativas apontam para um crescimento do PIB dos
Estados Unidos de 2,3% (Junho), tendo registado um crescimento de 2,4%, no período
anterior.
A expansão da actividade económica no primeiro semestre foi impulsionada pelo
aumento do consumo interno e pelo fortalecimento do mercado de trabalho. O consumo
interno nos Estados Unidos (dois terços da procura agregada) cresceu a uma taxa de
2,9% no período correspondente. Importa ainda referir que, o choque na oferta de
petróleo, reflectido nos baixos preços da commodity, beneficiou tanto a economia
quanto o consumidor norte-americano.
Outra consequência do crescimento económico e do melhoramento do mercado de
trabalho foi a diminuição da taxa de desemprego norte-americana, comparativamente
à 2014, que passou de 5,7% para 5,4%.
No período em análise, a taxa de inflação permaneceu estável em torno dos 0,1%,
abaixo da meta de 2% estabelecida pelo FED. Um dos grandes drivers para a baixa
inflação foi a queda drástica no preço do petróleo e o fortalecimento do dólar
relativamente as principais moedas mundiais.
O maior desafio para a economia americana, nos próximos tempos, será manter a
competitividade das exportações, em função do dólar estar cada vez mais forte, das
expectativas de desaceleração económica da Europa e do abrandamento da economia
chinesa.
6
Crescimento do PIB, Inflação e Desemprego
Fonte: Bloomberg
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Zona Euro
8
A economia da Zona Euro continua numa trajectória de recuperação económica,
depois dos danos da crise financeira de 2008, tendo grande parte das economias
apresentado melhorias significativas, com excepção da Grécia, não obstante os
ainda altos níveis de desemprego, baixos níveis de confiança e fraco nível de
investimento.
A economia da Zona Euro vem se expandindo desde o final do segundo semestre
de 2014. Uma combinação de euro fraco, baixo preço de petróleo e estímulos do
Banco Central Europeu (BCE) por meio da política monetária expansionista, auxiliou
o processo de recuperação económica da região. Durante o primeiro semestre de
2015, a economia daquela região apresentou uma taxa de crescimento de 1,6%,
com a França, Itália e Alemanha (que juntos representam aproximadamente 51%
do PIB da Zona Euro, segundo o WEO de Outubro 2014 do FMI) a crescerem 0,7%,
0,4% e 0,8%, respectivamente.
Esta recuperação modesta do crescimento poderá levar o BCE a continuar com o
programa de expansão monetária e de reduzida taxa de juro de referência
(permanecem num mínimo histórico de 0,05%).
As medidas expansionistas debilitaram a cotação do Euro que, por sua vez, tornou
mais baratas e competitivas as exportações europeias. Para além disso, a taxa de
facilidade permanente de cedência de liquidez também permanece inalterada nos
0,30%.
Crescimento do PIB, Inflação e Desemprego
Fonte: Bloomberg
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Taxa de Desemprego
Taxa de Cres. do PIB Zona Euro (eixo esquerda)
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Taxa de Inflação
Zona Euro
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Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS)
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Brasil
A ideologia dá
lugar ao
pragmatismo
Rússia
A tempestade perfeita
Durante o primeiro semestre de 2015, as maiores economias emergentes mundiais
apresentaram um fraco desempenho económico, com excepção da Índia, em grande medida
devido à conjuntura económica internacional e a baixa no preço do petróleo.
A economia brasileira tem estado em recessão técnica desde o final de 2014. O fraco
desempenho desta economia tem sido largamente influenciado pelos baixos preços das
commodities, pelo baixo crescimento dos principais parceiros económicos, especialmente a
China, pelo declínio do investimento e pela instabilidade social e política. Até ao final do
semestre em análise, o crescimento real do PIB brasileiro foi negativo em -1,6%, a taxa de
inflação permaneceu alta em 9,6%, e, como consequência, o nível de desemprego aumentou
para 6,7%.
A dependência do Brasil de exportações de commodities, aliada aos seus baixos preços,
colocou pressão na balança comercial que, embora tenha fechado o semestre com um
superávite de quase USD 4,5 mil milhões, ficou abaixo das previsões do Ministério do
Desenvolvimento, responsável pela divulgação dos resultados comerciais brasileiros.
Noutro ponto do globo, a baixa do preço do petróleo, a crise cambial e as sanções devidas
ao conflito na Ucrânia, afectaram negativamente a economia Russa, tendo a mesma
contraído 4,6% no final do primeiro semestre de 2015, a maior contracção desde 2009.
Depois de uma crise cambial que afectou a procura dos consumidores, o Rublo seguiu
desvalorizando-se fortemente face ao dólar (43%) durante o período em análise, devido à
queda no preço do petróleo e à austeridade fiscal imposta por uma forte descida das
receitas fiscais, ameaçando já arrastar aquela economia para uma recessão mais profunda
(tendo em que conta, antes de tudo, que as exportações de petróleo e gás representam
71% das exportações do país).
Verificou-se ainda um aumento da taxa de inflação para 15,3%, ao mesmo tempo em que
o nível de desemprego permaneceu alto em torno dos 5,6%. Num cenário em que a
tendência de baixos preços das commodities prevaleça, a perspectiva de recuperação
económica da Rússia para o próximo semestre não é positiva.
11
Índia
Ganhos graduais
China
O “new normal”
África do Sul
Perspectivas sombrias
Num contexto em que há uma desaceleração global relativa, a economia indiana
surpreendeu positivamente e se expandiu, tendo registado a mais alta taxa de crescimento
dos BRICS (7,5%) no final do primeiro semestre de 2015.
A contribuir para este crescimento estiveram a baixa do preço do petróleo e as baixas
taxas de juros; o banco central indiano reduziu a sua taxa dos contratos de recompra para
7,25%, benchmark este que usa para emprestar aos bancos comerciais, num esforço para
reanimar o investimento. Como resultado do forte crescimento, os níveis de desemprego
reduziram para 6,3%, comparado a taxa de 8,6% no semestre anterior. Além disso, a taxa
de inflação permanece estável em 5,7%, abaixo do tecto de 6% do banco central.
Um dos tópicos que dominou o primeiro semestre de 2015 foi certamente o abrandamento
da economia chinesa no sentido de um “new normal” (ou novo normal). A taxa de
crescimento da China deixou de ser de dois dígitos, estimando-se em 7,1%, no final do
semestre em análise. Até então, este crescimento tinha sido fortemente sustentado por
uma combinação de um excesso de capacidade da indústria tradicional e um forte nível
de exportações.
A desaceleração da actividade económica da China resultou na deterioração da balança
comercial chinesa, tendo o superávite comercial caído de 9,34% do PIB, em 2008, para
2,8%, em 2015, demonstração de que o país deixou de ser capaz de sustentar um elevado
desempenho económico nas exportações. O Governo Chinês tem respondido com uma
política monetária expansionista, reduzindo a taxa de juro e incentivando a expansão do
crédito para reanimar a economia, tendo a mesma passado de 5,9%, no final de 2014,
para 4,8%, no final do primeiro semestre de 2015.
Muito embora a taxa de desemprego tenha permanecido estável em 4%, a inflação
desacelerou para 1,6%, aumentando a perspectiva de deflação.
Pela frente, os grandes desafios para a China passam em mudar de uma estratégia de
crescimento baseada nas exportações, i.e., export-led growth, para uma mais sustentável
impulsionada pela procura interna. Para isto, será necessário que a China avance com
reformas que incentivem o consumo, por exemplo, por meio de uma melhor redistribuição
do rendimento.
A economia sul-africana contraiu em 1,3% durante o primeiro semestre de 2015, em
relação ao semestre anterior, quando havia expandido 4,1%. O indicador de produção
industrial e mineira (13% para a economia) caiu em 2,4% refletindo a menor produção
dos minérios- carvão e ferro- bem como cortes de energia severos verificados devido à
falhas técnicas na principal barragem hidroelétrica do país, enquanto a produção agrícola
contraiu 16,6%, devido à forte seca que assolou o país. Este fraco desempenho económico
resultou no aumento do nível de desemprego na África do Sul para 26,4%, o maior nível
em 11 anos. O número total de desempregados ronda os 5.5 milhões, sugerindo que o
desemprego continua a ser um dos grandes problemas da economia sul-africana.
Muito embora se tenha verificado uma expansão na produção mineira e no sector de
serviços, isto não foi suficiente para compensar a queda na indústria e na produção
agrícola. O Rand desvalorizou 3,4% face ao Dólar, enquanto a inflação aumentou para
4,7%.
12
Economias BRICS I Taxa de Crescimento do PIB e Taxa de Inflação
Fonte: Bloomberg
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Taxa de Crescimento PIB África do Sul (eixo esquerda)
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Taxa de Crescimento PIB Brasil (eixo esquerda)
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Taxa de Crescimento PIB India (eixo esquerda)
Taxa de Inflação India
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Taxa de Crescimento PIB China (eixo esquerda)
Taxa de Inflação China
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Taxa de Crescimento PIB Russia (eixo esquerda)
Taxa de Inflação Russia
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Visto de Perto: A Crise da Dívida Grega
Desde o início de 2010, a Zona Euro tem vindo a enfrentar uma crise de divida soberana. Governos
de vários países têm acumulado níveis insustentáveis de dívida pública, sendo que, a Grécia se
encontra no topo desta lista com um rácio de dívida pública sobre o PIB igual a 175% e um défice
orçamental em torno dos 3,5% do PIB.
No fim do mês de Junho de 2015, quase dois terços da dívida grega, estimada em EUR 320 mil
milhões, estava relacionada com financiamentos obtidos junto de organismos internacionais como
o FMI e o Banco Central Europeu (BCE), e cerca de EUR 57 mil milhões com financiamento
proveniente da Alemanha.
A economia Grega entrou em recessão em 2008 e tem sido marcada por contracções persistentes
da actividade económica, tendo o PIB já caído em mais de 27% desde então. Este número é
comparável à Grande Depressão, quando a economia norte-americana contraiu numa magnitude
similar, cerca de 26%, entre 1929 e 1933. A queda na produção levou a um aumento da taxa de
desemprego para 25,5%, considerando o final do semestre em análise.
Para controlar os efeitos da crise, o país teve acesso a fundos do programa de resgate do FMI e
do BCE. Porém, o país falhou em completar o programa de resgate e não quitou a dívida com o
FMI em Junho do corrente ano. De seguida, foram introduzidos controlos de capitais em resultado
da significativa fuga de capitais e de corrida aos bancos. Estas medidas tiveram um forte impacto
sobre o sistema bancário e sobre a economia em geral, resultando na deterioração da
sustentabilidade da dívida. O enfraquecimento da economia levou à uma redução das receitas
fiscais, colocando ainda mais pressão sobre as finanças públicas.
14
Taxa de crescimento do PIB vs Taxa de Desemprego I Taxa de desemprego Dívida (% PIB)
Fonte: Bloomberg
E se a Grécia sair da Zona Euro?
O programa de resgate recém-acordado reduz a probabilidade de curto prazo da Grécia deixar a
Zona Euro, porém a médio e longo prazo um ‘Grexit’ ainda é possível.
O sistema bancário seria o gatilho mais provável para o ‘Grexit’. O BCE tem dado à Grécia
financiamento de emergência e controles de capitais estão em vigor. Contudo, caso a Grécia saísse
formalmente da Zona Euro, esta teria de emitir uma nova moeda; que implicaria uma desvalorização
significativa da sua moeda em relação ao euro, o que tornaria mais caro para a Grécia importar
bens e serviços, bem como, levaria a um aumento da inflação. A probabilidade de a Grécia entrar
em recessão profunda neste cenário seria eminente.
O impacto sobre os mercados financeiros iria depender se o “Grexit” se desse de forma ordenada
ou desordenada. Uma saída ordenada poderá envolver as instituições da União Europeia que
teriam o compromisso de ajudar a Grécia na transição para a nova moeda, e ao mesmo tempo
apoiariam outros países da Zona Euro e os bancos. Em tal cenário, o contágio poderia ser limitado
e ocorreria apenas uma reacção de curto prazo nos mercados, porém, os credores sofreriam perdas
significativas.
Por outro lado, uma saída desordenada, aonde a Grécia fosse forçada a introduzir uma nova
moeda, talvez logo após ao colapso do seu sistema bancário, e com o mínimo de intervenção por
parte das autoridades europeias, poderia levar a uma reacção prolongada nos mercados
financeiros.
Por fim, a queda na confiança por parte das empresas e consumidoras poderia levar toda a Zona
Euro de volta a recessão.
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Angola
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Comportamento da Taxa de Inflação I 2013 - 2015
Fonte: INE
Desempenho do produto
A expressiva queda do preço do barril de petróleo tem colocado, desde o último
trimestre de 2014, um grande desafio à condução da política económica em Angola,
desde logo, a julgar pela revisão feita ao OGE-2015. Aquele choque externo está a
condicionar seriamente o desempenho da economia angolana ao longo do ano de
2015, tendo já resultando na revisão, por parte do FMI, em baixa da taxa de
crescimento económico prevista para 2015 (de 4,5% para 3,5%).
A par da alteração da política orçamental, foram ainda aprovadas medidas de
controlo directo das importações (de natureza administrativa), visando a manutenção
dos níveis das Reservas Internacionais Liquidas (RIL).
Evolução da inflação
No que toca à inflação, o Instituto Nacional de Estatística revelou um aumento do
ritmo de crescimento do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos últimos 12 meses,
fechando o mês de Junho de 2015 nos 8,83% (contra os 6,89% do período
homólogo). A tendência de aumento da taxa de inflação é também resultado do
impacto do aumento dos preços dos combustíveis e do ajustamento cambial, sendo
provável que esta tendência de subida se mantenha nos próximos meses, o que torna
o objectivo de uma inflação não superior a 9%, em 2015 (apresentado no relatório de
fundamentação do OGE-2015 revisto), inexequível.
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8,86%
6,10%
6,60%
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17
Política Monetária
O primeiro semestre de 2015 foi marcado por uma política monetária mais restritiva. O BNA adoptou
várias medidas com o objectivo de controlar os efeitos da desvalorização do Kwanza sobre os níveis
de preços. Estas medidas consistiram no aumento do coeficiente de reservas obrigatórias de 20%
para 25% (incidentes sobre os saldos das responsabilidades em moeda nacional), no aumento da
taxa básica de juro de 9,25% para 9,75% e na taxa da Facilidade Permanente de Cedência de
Liquidez, de 10% para 10,5%. Adicionalmente, a autoridade monetária angolana determinou que os
bancos participantes nas sessões de compra e venda de divisas passassem a constituir no momento
em que comunicam à autoridade o volume das necessidades em divisas para a semana seguinte,
uma reserva específica, em moeda nacional, o montante correspondente ao das necessidades em
moeda estrangeira anunciadas. Esta reserva, que não é elegível para efeitos de cumprimento das
reservas obrigatórias, deve permanecer imobilizada para assegurar a cobertura exclusiva das
operações de compra de divisas ao BNA.
Estas medidas tiveram impactos sobre o nível de liquidez da banca, que tem levado a um aumento
do custo de financiamento da economia, a julgar pelos níveis da taxa de juro no interbancário que
tiveram seus valores aumentados ao longo do semestre e pela taxa de crescimento média do stock
de crédito à economia que tem sido cada vez menor, tendo-se fixado, de Janeiro a Junho de 2015
em 0,6% contra os 3% registados de Julho a Dezembro de 2014.
Reservas Internacionais Líquidas
Durante o primeiro semestre de 2015, o stock de reservas cambiais fixou-se, em média, em USD
25,79 mil milhões, resultado de uma gestão apertada por parte do BNA, tendo no final de Junho
se cifrado nos USD 24,75 mil milhões em RIL, 8,84% abaixo do nível registado no final de 2014.
As reservas em meses de importação mantiveram-se acima dos 6 meses, em linha com os
objectivos de política económica, plasmados no relatório de fundamentação do OGE 2015.
Porém, a gestão das reservas tem sido conseguida à custa da depreciação do Kwanza relativamente
ao Dólar, com forte impacto sobre o nível e custo de todas as categorias de importação, incluindo os
imprescindíveis para os objectivos do programa de aceleração da diversificação da economia.
18
Reservas Internacionais Líquidas I Reservas em Meses de Importações
Fonte: Banco Nacional de Angola
Política Fiscal
Os valores programados e executados do OGE no primeiro semestre foram significativamente
determinado pelo comportamento do preço do petróleo nos mercados internacionais, o que resultou
numa diminuição das receitas fiscais para o primeiro e segundo trimestre em relação ao período
homólogo em 33,5% e 39,0%, respetivamente. Esta queda das receitas fiscais é resultado de uma
queda combinada das receitas petrolíferas e não petrolíferas, pese embora esta última apenas ter
reduzido 6% no segundo trimestre, em relação ao período homólogo, ao passo que a primeira caiu
56,1%.
Como se esperava, as despesas do Estado também viram os seus valores reduzir, em termos
homólogos, em 38,6% e 41,2%, nos primeiro e segundo trimestres, respectivamente.
O Ministério das Finanças, durante o primeiro semestre de 2015, adoptou medidas no sentido de
minimizar os efeitos da queda das receitas fiscais sobre a economia, em linha com as medidas de
carácter contra cíclico previstas na proposta de OGE Revisto. Neste âmbito, enquadra-se a aprovação
de um diploma que visa a tributação de operações sobre invisíveis correntes.
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Execução Orçamental versus Despesas (mil milhões de kwanzas)
Estrututas das despesas versus Estruturas das Receitas Fiscais
Fonte: MINFIN
Petroliferas (66,27%)
Não Petrolíferas (33,73%)
Despesas Correntes (58,04%)
Despesas Capital
(41,96%)
Despesas Correntes Despesas Capital
20
.
O abrandamento das economias
emergentes e as expectativas do fim dos
estímulos monetários nos EUA
condicionaram em parte o desempenho
dos mercados financeiros
No segundo Semestre assistiu-se uma considerável volatilidade nos mercados financeiros. O
abrandamento das economias emergentes, a recuperação anémica da Zona Euro, os
conflitos no Médio Oriente e a expectativas sobre o fim dos estímulos monetários nos
Estados-Unidos e no Reino Unido, condicionaram a evolução das várias classes de activos,
desde as acções às obrigações, passando pelas commodities.
DESEMPENHO
dos Mercados
21
Mercados Accionistas
Fonte: Bloomberg
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1950
2000
2050
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3700
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Eurostoxx50 (eixo esquerdo) S&P500
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jan/15 fev/15 mar/15 abr/15 mai/15 jun/15 jul/15
MSCIEmergentes
Mercados Accionistas
No início do primeiro semestre de 2015, os mercados foram influenciados pela implementação de
medidas não convencionais de política monetária do BCE e pelas eleições legislativas na Grécia,
vencidas pelo Syriza (partido de esquerda radical). Nos EUA, o índice bolsista S&P 500 apresentou
uma variação negativa de 3%, em relação ao semestre anterior, penalizado pela perspectiva de
aumento das taxas de juros pela reserva federal norte-americana (FED). O Eurostoxx50 seguiu
uma trajectória contrária, apresentando uma variação acumulada positiva na ordem dos 6%. Nos
mercados emergentes, verificou-se, igualmente, uma variação acumulada ligeiramente positiva na
ordem dos 1%.
Na parte final do semestre, em Junho, a generalidade dos mercados accionistas mundiais
registaram perdas significativas, em resultado da incerteza em relação à economia da Grécia e a
sua continuidade na Zona Euro (o Eurostoxx50 caiu 3,93%). Igualmente, motivada pela perspectiva
do aumento das taxas juros pelo FED, o índice americano S&P500 registou uma queda de 2,00%.
Por sua vez, o MSCI Emerging Markets registou uma variação acumulada negativa de 3,17%,
fortemente influenciado por indicadores pessimistas da economia chinesa.
22
Mercados Cambiais
Evolução do Kwanza, Dólar e do Euro
Fonte: Bloomberg
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jun/13 out/13 fev/14 jun/14 out/14 fev/15 jun/15
EUR/USD USD/AOA
No primeiro trimestre, o BNA realizou leilões de venda de divisas no montante total de USD 1.123
milhões, um decréscimo na ordem de 32,02% em relação ao verificado no período anterior. Em
consequência, verificou-se a tendência de depreciação do Kwanza face ao Dólar, na ordem dos
1,27%, fixando-se em 104,17.
No segundo trimestre, a moeda nacional foi sofrendo desvalorizações, sendo que, mais para o final
do período, esta registou a maior desvalorização face ao dólar dos últimos 10 anos. A taxa de
câmbio USD/AOA fixou-se no final de Junho em AOA 121,78, representando uma desvalorização
de cerca de 9,89% relativo a Maio, superando a desvalorização mensal de 8,46% assinalada em
Outubro de 2009. Dentre os principais factores na base desta desvalorização estão a necessidade
do BNA de diminuir a pressão sobre as RILs do país e restabelecer o equilíbrio no mercado cambial
através da diminuição da procura por divisas.
No campo internacional, o Dólar verificou ganhos face ao Euro, fixando-se em 1,13 EUR/USD, em
Janeiro. Este ganho deveu-se, em parte, às políticas monetárias não convencionais implementadas
pelo BCE e à fuga de capitais da Europa em resposta ao factor Grécia. No segundo trimestre,
apesar da situação na Grécia, a taxa de câmbio EUR/USD permaneceu estável, oscilando entre
1,10 e 1,12, influenciados em parte pelas perspectivas de recuperação económica da Zona Euro.
23
Evolução das Taxas de Juro
Fonte: Bloomberg
Mercado Interbancário
No início do primeiro semestre de 2015, no mercado interbancário angolano, os bancos
realizaram entre si cedências de liquidez overnight (1 dia), sem garantias de títulos, num
montante acumulado de KZ 274,5 mil milhões, valor inferior em cerca de 59,9% ao período
anterior. A Luibor overnight situou-se em 8,80% a.a.. A Luibor para as maturidades de 30, 90,
180, 270 e 360 dias situou-se em 7,59%, 8,29%, 8,91%, 9,34% e 9,75% respectivamente.
Contudo, até ao final do semestre, a taxa de juro overnight do mercado interbancário angolano
subiu para 11,29%. A LUIBOR para as maturidades de 30, 90, 180, 270 e 360 dias situou-se em
8,21%, 8,65%, 9,20%, 9,64% e 10,07%.
Este aumento da taxa overnight podem ser entendido como resultado das medidas restritivas do
BNA, estimuladas pela necessidade de se conter a inflação face à desvalorização do Kwanza.
Na esfera internacional, a taxa Libor 6M (Londres) registou uma ligeira subida, fixando-se em
0,37%. Enquanto a Euribor 6M (Zona Euro) permaneceu a sua tendência decrescente, reflectindo
os efeitos das medidas não convencionais do BCE, tendo fechado o mês de Janeiro em 0,15%,
comparada com os 0,17% do mês transacto.
0,00%
2,00%
4,00%
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10,00%
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0,45%
0,50%
jul/14 ago/14 set/14 out/14 nov/14 dez/14 jan/15 fev/15 mar/15 abr/15 mai/15 jun/15
LIBOR 6M (Eixo à Esq.) EURIBOR 6M (Eixo à Esq.) LUIBOR 6M (Eixo à Dir.)
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Mercado de Dívida Pública
No primeiro semestre de 2015, verificou-se de um modo geral uma variação
significativa na emissão de divida pública. Em Junho, o Tesouro emitiu títulos
(bilhetes e obrigações de tesouro) num total de AOA 1,365.9 mil milhões,
repartidos proporcionalmente, e em montantes superiores aos registados no
final de 2014 em AOA 70,72 mil milhões. As taxas de juros dos títulos de
dívida pública de curto prazo do Estado angolano tiveram um ligeiro aumento
em relação ao período homólogo.
Quanto às finanças públicas internacionais, verificou-se uma queda nos
rendimentos dos títulos (yields) gregos e portugueses, em mais de 10 pontos-
base e até ao final de Junho, após a aprovação da União Europeia de um novo
pacote de reformas que sinalizou que a Grécia não iria entrar em default.
A yield a 10 anos da dívida pública portuguesa diminuiu 14-15 pontos, para
uma taxa de juro de 2.96%. Por outro lado, a yield grega seguiu uma trajectória
ascendente, sendo que, a taxa de juro aumentou de 9,25% no início do
semestre para 10,85% até ao final de Junho. O mercado de dívida português
é particularmente vulnerável a eventos na Grécia, sendo que, este sofreu um
dos episódios mais graves de contágio desde o auge da crise da divida da
Zona Euro. Quanto às economias mais avançadas da Zona Euro, as yields
alemãs aumentaram 6 pontos, para 0,76%. Relativamente à França, as yields
dos títulos de maturidade semelhante (10 anos) aumentaram
significativamente desde Março, com uma taxa de juro de 1,10%. Estes
aumentos foram resultado do programa de compra de activos do BCE que
limitaram o efeito contágio da Grécia.
Emissões de Títulos Internos
Maturidades 2014
(milhões de AOA, total)
Taxas de Juros
2015-até Junho (milhões de AOA
,total)
Taxas de Juros
Bilhetes do Tesouro
91 dias 3,64% 4,44%
182 dias 43.187 4,03% 399,4 5,03%
364 dias 5,00% 7,04%
Obrigações do Tesouro (Taxa Fixa)
2 anos 7,00% 7,00%
3 anos n.d 7,75% 934,2 7,25%
4 anos 8,00% 7,50%
5 anos 8,25% 7,77%
Obrigações Tesouro (Taxa indexada)
2 anos 7,16% 7,25%
3 anos 27,53 7,64% 32,3 7,52%
4 anos 8,00% 8,00%
5 anos 8,25% 8,25%
Fonte: BNA
25
Dívida Pública core – yields a 10 anos
Fonte: Bloomberg
O mercado das Commodities
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0
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1
1
1
1
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/14
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/15
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Yield França Yield Alemanha
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jul/
14
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/14
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ou
t/1
4
no
v/1
4
de
z/1
4
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/15
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15
mar
/15
abr/
15
mai
/15
jun
/15
Yield Portugal Yield Grécia
Durante o primeiro semestre, as commodities apresentaram comportamentos diferentes nas
respectivas bolsas. No início do período, o Brent, petróleo de referência das exportações angolanas,
começou por seguir uma trajectória de baixa, tendo o preço do benchmark se fixado em 49,13
USD/barril, em relação a 57,3 USD/barril do semestre anterior. O ouro registou uma variação
acumulada positiva de 8,4%, sendo que, o trigo exibiu um decréscimo durante o mês de Janeiro,
fixando-se no final do mês à 502,75 USD/bushel.
De seguida, houve uma ligeira recuperação do Brent, para 62,58 USD/barril em Fevereiro. Este
aumento foi influenciado pela diminuição do número de unidades de perfuração de jazidos de
petróleo e gás nos EUA, e uma expectativa do aumento na procura do petróleo nos mercados
internacionais. O ouro, em contraste, teve uma variação negativa de 5,24%, devido a forte
valorização do dólar face a outras moedas mundiais. O trigo apresentou um aumento de 517, 50
USD/bushel.
Por fim, no final do semestre, as commodities terminaram o mês registando ligeiras quedas, à
excepção do trigo. O Brent fixou-se em 63,59 USD/barril, em relação ao mês anterior em que
cotava a 65,56 USD/barril, e influenciado pelo crescente pessimismo sobre a economia chinesa.
Quanto aos metais, o ouro fechou o semestre em queda, menos 1,53%, e o trigo, por seu turno,
apresentou um acréscimo significativo de 137,75 USD/bushel, fixando-se em 614,75 USD/bushel,
muito devido a atrasos nas colheitas registados em Maio.
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26
Evolução das Commodities
Fonte: Bloomberg
0,00
100,00
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dez/13 jun/14 dez/14 jun/15
Ouro Trigo (eixo à esquerda)
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40,00
60,00
80,00
100,00
120,00
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72,00
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92,00
102,00
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dez/13 jun/14 dez/14 jun/15
Brent WTI
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Notas Finais
A perspectiva de crescimento da economia mundial deve manter-se em níveis relativamente sólidos, apesar
da diminuição da confiança empresarial verificada no final do último semestre de 2015. De acordo com as
últimas estimativas do FMI e da Comissão Europeia, a economia mundial deverá crescer 3.5%, em 2015, e
3.9% no próximo ano. O ritmo de crescimento mantém-se, contudo, desigual entre as várias regiões do mundo,
devido à transferência de rendimento das economias produtoras para as consumidoras de petróleo, às
diferentes políticas monetárias e alterações cambiais.
Apesar dos sinais positivos, persistem, porém, algumas nuvens no horizonte, nomeadamente, as tensões
geopolíticas com a Rússia e, mais recentemente, a crise na Grécia e a ameaça de uma saída da Zona Euro.
Sendo verdade que a Europa está hoje melhor preparada para enfrentar a turbulência, será importante
monitorizar os seus efeitos na confiança dos agentes e na economia.
Para a economia angolana, é expectável um segundo semestre mais desafiante no que diz respeito à
condução da política económica. E a conclusão que nesta altura se pode avançar, decorrido o primeiro
semestre, é a de que as alterações orçamentais não se mostraram suficientes para repor o equilíbrio na oferta
e procura de divisas, continuando a assistir-se a um claro turbilhão no mercado cambial o que significa, pois,
que ainda não foi possível ajustar o nível da despesa, nomeadamente na aquisição de produtos e serviços
importados.
No que toca a taxa de inflação, espera-se, com um maior deslizamento cambial, uma aceleração dos preços,
afigurando-se razoável admitir, desde já, a impossibilidade de cumprir o objectivo anual da inflação que,
segundo a proposta de Revisão do OGE, não deveria exceder os 9%, em média anual.
Salienta-se ainda que, num cenário de política de ajustamento, é pouco realista procurar manter o objectivo
da inflação definido no OGE 2015, face à necessidade imperiosa de normalizar a situação do mercado cambial
e de preservar a solvabilidade externa, por via da gestão das Reservas Internacionais Líquidas. Havendo
necessidade de serem feitas escolhas, na conjuntura difícil decorrente do choque externo, torna-se claro que
o objectivo da solvabilidade externa teria de prevalecer sobre o do cumprimento da meta da inflação.
s
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