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12 | Salvador, terça-feira, 24 de janeiro 2017 Mais | 13 Salvador, terça-feira, 24 de janeiro 2017 Mais BRASIL VIOLÊNCIA Arco-íris de sangue Número de mortes LGBTs bate recorde histórico em 2016 Jorge Gauthier [email protected] Itaberly Lozano era alegre, vaidoso e amava a família. Mas ele foi morto a facadas pelas mãos da própria mãe. Edival- do Silva de Oliveira, o Nino, e Jeovan Bandeira eram amigos e queridos pela população da cidade de Santa Luz, no inte- rior da Bahia. Mas foram mor- tos e tiveram os corpos carbo- nizados por assaltantes. A tra- vesti Sheila Santos, adorava sambar e era a felicidade na Gamboa, em Salvador. Mas foi assassinada com um tiro na cabeça no meio da rua. Itaber- ly, Nino, Jeovan e Sheila com- põem uma triste estatística que mancha de sangue as co- res do arco-íris que são sím- bolo da população LGBT (lés- bicas, gays, bissexuais, tra- vestis e transexuais). Dados divulgados ontem pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) mostram que o ano de 2016 foi o mais violento desde 1970 contra pessoas LGBTs. Foram registradas 343 mortes, entre janeiro e dezembro do ano passado. Ou seja, a cada 25 horas um LGBT foi assassina- do, o que faz do Brasil o cam- peão mundial de crimes con- tra as minorias sexuais. A Ba- hia ocupa a segunda posição dentre os estados com 34 mor- tes ficando atrás apenas de São Paulo (49 casos). Segundo o antropólogo Luiz Mott, responsável pelo site Quem a Homofobia Matou Hoje - que faz a tabulação dos casos de violência que aconte- cem contra os LGBTs de acordo com matérias e recortes de jornais e sites do Brasil já que não há estatística oficial sobre esse tipo de crime - nunca an- tes na história do Brasil regis- traram-se tantas mortes des- de 1970, quando o GGB come- çou a fazer as estatísticas. “Matam-se mais homosse- xuais aqui do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte contra os LGBTs. Tais números alar- mantes são apenas a ponta de um iceberg de violência e san- gue, pois não havendo estatís- ticas governamentais sobre crimes de ódio, tais números são sempre subnotificados já que nosso banco de dados se baseia em notícias publicadas na mídia, internet e informa- ções pessoais”, explica Mott. Dos 343 assassinatos regis- trados em 2016, 173 eram ho- mens gays (50%), 144 (42%) trans (travestis e transexuais), dez lésbicas (3%), quatro bis- sexuais (1%), incluindo na lis- ta também 12 heterossexuais, como os amantes de transe- xuais (“T-lovers”), além de parentes ou conhecidos de LGBT que foram assassinados por algum envolvimento com a vítima como foi o caso do vendedor Luís Carlos Ruas, 54 anos, que foi morto ao defen- der travestis no metrô de São Paulo. VIOLÊNCIA E DOR Ano passado, os estados que tiveram o maior número de LGBTs assassinatos em termos absolutos foram São Paulo com 49 homicídios, Bahia, 32, Rio de Janeiro, 30, e Amazo- Impunidade aumenta crimes A evolução no número de mortes de pessoas LGBTs não segue o mesmo ritmo das in- vestigações e punições dos acusados. De acordo com o relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), somente em 17% dos homicídios registra- dos em 2016 o criminoso foi identificado (60 de 343), e menos de 10% das ocorrên- cias ocasionou a abertura de processo e punição dos assas- sinos. Dentre os autores identificados, muitos eram conhecidos das vítimas: o companheiro atual (27%), ex-amante (7%) e parentes da vítima (13%). Clientes, profissionais do sexo e desco- nhecidos em sexo casual fo- ram responsáveis por 47,5% desses crimes. Como a pesquisa leva em consideração apenas relatos que saíram na imprensa, é um consenso que há uma subnotificação dos casos. O antropólogo Luiz Mott desta- ca que “99% desses ‘homocí- dios’ contra LGBTs têm como motivo, seja a LGBTfobia in- dividual (quando o assassino tem mal resolvida sua própria sexualidade), seja a homo- transfobia cultural (que ex- pulsa as travestis para as margens da sociedade onde a violência é endêmica ou leva os LGBT ao suicídio), seja a homofobia institucional (quando os governantes não garantem a segurança nos es- paços frequentados pela po- pulação LGBT nem aprovam leis que criminalizem a LGBTfobia)”, define. O presidente do GGB, Mar- celo Cerqueira, defende que a LGBTfobia seja considerada crime. “ Ser travesti, lésbica ou gay já é um agravante de periculosidade dentro da in- tolerância machista domi- nante em nosso país! Exigi- mos a equiparação da homo- fobia ao crime de racismo já!”, argumenta. EMPATIA A coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direi- tos Humanos (CAODH) do Mi- nistério Público da Bahia (MP-BA), Márcia Teixeira, si- naliza que o volume alto de mortes de LGBTs reflete às questões de violência da pró- pria sociedade, mas isso não é o único motivo. “ Isso também pode sinalizar tempos difíceis de falta de amor. As pessoas vêm exercitando sua incapa- cidade de fazer empatia e pro- curando resolver seus proble- mas e frustações com violên- cia”. A promotora ressalta ainda que “as políticas públicas não estão levando a sério a questão da LGBTfobia. Precisamos que as secretarias e governos ga- rantam os direitos. Além dis- so, os processos não seguem os prazos estabelecidos pelo có- digo penal”, afirma. O coordenador do Centro Mu- nicipal de Referência LGBT, vinculado à Secretaria Muni- cipal da Reparação (Semur) da prefeitura, destaca que os ca- sos de violência precisam ser acompanhados para que eles reduzam. “O preconceito é o principal fator que leva a aumentar os casos de LGBTfobia. No Centro de Referência ( Rio Vermelho) damos apoio às vítimas de agressão e acompanhamos as famílias em casos de homicí- dio, já que eles são investiga- dos pela polícia”, afirma. NÚCLEO Em nota, a Secretaria da Segu- rança Pública da Bahia, atra- vés da Superintendência de Prevenção à Violência, afir- mou que está em processo de implantação do Núcleo de Atendimento Qualificado às Vítimas de Preconceito Racial, Intolerância Religiosa e da Po- pulação LGBT, que funcionará “reforçando o suporte a esses públicos desde o primeiro atendimento na delegacia até o acolhimento na rede de apoio constituída por diversos órgãos estaduais”. A SSP-BA, contudo, não in- formou quando o núcleo será instalado. “Além da análise no melhor local para abrigar o núcleo, também são aguarda- das a chegada das viaturas ad- quiridas recentemente pela Polícia Civil, assim como a posse de novos delegados, es- crivães e investigadores que vão compor o quadro da uni- dade”, disse a secretaria. 17 dos casos tiveram seus autores identificados Parem de matar os nossos filhos. A LGBTfobia e o preconceito precisam acabar Inês Silva, Coordenadora do coletivo nacional Famílias pela Diversidade, que tem sede na Bahia Matam-se mais homossexuais aqui do que nos 13 países do Oriente e África Luiz Mott Antropólogo responsável pela contabilização dos casos de mortes de LGBTs no Brasil nas, 28. “Meu irmão era uma pessoa muito querida na cida- de onde vivia. Era respeitado e amado, mas foi morto com re- quintes de crueldade”, relata Sival Lima, irmão de Jeovan, professor morto na cidade de Santa Luz, na Bahia, em junho de 2016. O único estado do Brasil que não registrou casos de morte por LGBTfobia foi Roraima que em 2014 liderou a lista, com 6,14 LGBTs assassinados para um milhão de habitantes. “Essa é, aliás, uma caracterís- tica desses crimes de ódio: sua variação e imprevisibilidade. No mesmo estado em um ano predominam mortes de tra- vestis, no outro de gays, no ano seguinte, o contrário”, argumenta o analista de siste- mas, Eduardo Michels, res- ponsável pela atualização do banco de dados. CRIMES EM ALTA Michels projeta que, em 2017, a realidade não deve ser muito diferente em função da evolu- ção histórica do levantamento de dados. Entre 1970 e 2016, o GGB contabilizou 6.882 mor- tes de LGBTs em todo Brasil. “Infelizmente, a única previ- são recorrente é que neste ano serão assassinados mais de 300 LGBTs”, afirma. A perspectiva entristece a coordenadora do coletivo Fa- mílias pela Diversidade, Inês Silva, que reúne famílias LGBTs em vários estados do Brasil na luta pelo respeito à diversidade. “Há uma cres- cente de morte em função do momento que vivemos de dis- seminação de ódio. A igno- rância que gera o preconceito, que gera os assassinatos. Por isso, pedimos a criminaliza- ção da LGBTfobia para que se tenham estatísticas e políticas públicas de proteção”. Para o coordenador da co- missão de diversidade sexual da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção do Estado da Ba- hia, Filipe Garbelotto, os nú- meros refletem uma carência de políticas públicas que com- batam a discriminação e con- sequentemente reduzam o preconceito. “ A polícia ainda deixa a desejar na apuração de casos de discriminação e vio- lência contra os LGBTs”. 343 LGBTS MORTOS EM 2016 NO BRASIL A cada 25 horas, um LGBT é morto no Brasil GAYS TRANS E TRAVESTIS BRANCOS NEGROS LÉSBICAS BISSEXUAIS HETEROSSEXUAIS, TLOVERS E/OU PARENTES DE LGBTs POR ESTADOS (NÚMEROS ABSOLUTOS) POR IDADE (EM %) 17% TEVE APENAS A IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR 10% DOS CASOS FORAM TRANSFORMADOS EM PROCESSO 4 10 12 173 144 36 64 49 32 30 SP BA RJ ENTRE 19 E 30 ANOS 20,6 7 32 MENOR DE 18 ANOS TERCEIRA IDADE 343 MORTES EM 2016 COR DAS VÍTIMAS (EM %) Fonte Grupo Gay da Bahia RELEMBRE CASOS DE CRIMES ENVOLVENDO LGBTS EM 2016 Crueldade O estudante Itaberlly Lozano, 17 anos, foi morto, em dezembro, com golpes de facada no pescoço. A mãe dele foi presa pelo crime. Em depoimento, familiares disseram que ela não aceitava a homossexuali- dade do jovem. Metrô O vendedor ambu- lante Luís Carlos Ruas, 54 anos, foi morto em uma esta- ção do metrô de São Paulo na noite de Natal quando de- fendia duas travestis, que haviam sido atacadas. O caso dele entra no relatório do GGB, mesmo ele não sendo gay, pois eles computam também quan- do a pessoa morre em função de um LGBT. Transformista O ator transformista Fernando Bergen Monteiro, 46 anos, foi morto a tiros, em maio, no bairro de Tororó, em Salvador. Fernando era conhecido como sua personagem Andrezza Lamarck e interpretava uma personagem inspirada em Clara Nunes nos seus shows. Ele também era maquiador. TRISTE RECORDE A violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais fez 343 vítimas no ano de 2016. Segundo o Grupo Gay da Bahia, o ano passado teve mais registros de mortes contra LGBTs no Brasil desde 1970; Bahia ficou em 2º ONDE BUSCAR AJUDA? O Centro de Referência LGBT de Salvador está localizado no bairro do Rio Vermelho e funciona de 8h às 17h, de segunda a sexta-feira. O ambiente dispõe de recepção, refeitório e auditório, além das salas de atendimento, divididos entre térreo e primeiro andar. Mais informações pelo telefone: (71) 3202-2750 MUNDO Trump assina decreto para remover EUA da Parceria Transpacífico >> pág. 18 VIOLÊNCIA Dois PMs são sequestrados e mortos por assaltantes de banco no interior>> pág. 14 EVOLUÇÃO DAS MORTES DE LGBTS NO BRASIL Apesar do alto número de homicídios, a LGBTfobia não é considerada crime Fonte GGB CORREIO GRÁFICOS 0 130 132 126 125 158 135 112 142 187 199 260 266 338 314 320 319 343 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Oeste A travesti Sabrina Souza, 32 anos, foi morta por espancamento na cidade de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, em julho. Gamboa A travesti Sheila Santos, 36 anos, foi assassi- nada com um tiro na cabeça, em junho, enquanto usava crack na Gamboa de Baixo, em Salvador. Ela trabalhava como empregada doméstica. Assalto O empresário Henrique Assis das Neves, 30 anos, foi morto durante as- salto na Praça da Piedade, em janeiro. Ele também era ator transformista e interpretava a personagem Lívia de Castro. Santa Luz Os professores Edivaldo de Oliveira e Jeovan Bandeira, foram mortos e tiveram os corpos queimados na Bahia, em junho.

Maisredebahia.com.br ItaberlyLozano eraalegre, vaidosoeamavaafamília.Mas ele foi morto a facadaspelas mãosda própria mãe.Edival-do Silva de Oliveira, oNino, e Jeovan Bandeira eram

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12 | Salvador, terça-feira, 24 de janeiro 2017 Mais | 13Salvador, terça-feira, 24 de janeiro 2017

MaisBRASIL VIOLÊNCIA

Arco-íris de sangueNúmero demortes LGBTsbate recordehistórico em 2016

Jorge Gauthier

[email protected]

Itaberly Lozano era alegre,vaidoso e amava a família. Masele foi morto a facadas pelasmãos da própria mãe. Edival-do Silva de Oliveira, o Nino, eJeovan Bandeira eram amigose queridos pela população dacidade de Santa Luz, no inte-rior da Bahia. Mas foram mor-tos e tiveram os corpos carbo-nizados por assaltantes. A tra-vesti Sheila Santos, adoravasambar e era a felicidade naGamboa, em Salvador. Mas foiassassinada com um tiro nacabeça no meio da rua. Itaber-ly, Nino, Jeovan e Sheila com-põem uma triste estatísticaque mancha de sangue as co-res do arco-íris que são sím-bolo da população LGBT (lés-bicas, gays, bissexuais, tra-vestis e transexuais).

Dados divulgados ontempelo Grupo Gay da Bahia(GGB) mostram que o ano de2016 foi o mais violento desde1970 contra pessoas LGBTs.Foram registradas 343 mortes,entre janeiro e dezembro doano passado. Ou seja, a cada 25horas um LGBT foi assassina-do, o que faz do Brasil o cam-peão mundial de crimes con-tra as minorias sexuais. A Ba-hia ocupa a segunda posiçãodentreosestadoscom34mor-tes ficando atrás apenas de SãoPaulo (49 casos).

Segundo o antropólogo LuizMott, responsável pelo site

Quem a Homofobia MatouHoje - que faz a tabulação doscasos de violência que aconte-cemcontraosLGBTsdeacordocom matérias e recortes dejornais e sites do Brasil já quenão há estatística oficial sobreesse tipo de crime - nunca an-tes na história do Brasil regis-traram-se tantas mortes des-de 1970, quando o GGB come-çou a fazer as estatísticas.

“Matam-se mais homosse-xuais aqui do que nos 13 paísesdo Oriente e África onde hápena de morte contra osLGBTs. Tais números alar-mantes são apenas a ponta deum iceberg de violência e san-gue, pois não havendo estatís-ticas governamentais sobrecrimes de ódio, tais númerossão sempre subnotificados jáque nosso banco de dados sebaseia em notícias publicadasna mídia, internet e informa-ções pessoais”, explica Mott.

Dos 343 assassinatos regis-trados em 2016, 173 eram ho-mens gays (50%), 144 (42%)trans (travestis e transexuais),dez lésbicas (3%), quatro bis-sexuais (1%), incluindo na lis-ta também 12 heterossexuais,como os amantes de transe-xuais (“T-lovers”), além deparentes ou conhecidos deLGBT que foram assassinadospor algum envolvimento coma vítima como foi o caso dovendedor Luís Carlos Ruas, 54anos, que foi morto ao defen-der travestis no metrô de SãoPaulo.

VIOLÊNCIA E DORAno passado, os estados quetiveram o maior número deLGBTs assassinatos em termosabsolutos foram São Paulocom 49 homicídios, Bahia, 32,Rio de Janeiro, 30, e Amazo-

Impunidade aumenta crimesA evolução no número demortes de pessoas LGBTs nãosegue o mesmo ritmo das in-vestigações e punições dosacusados. De acordo com orelatório do Grupo Gay daBahia (GGB), somente em17% dos homicídios registra-dos em 2016 o criminoso foiidentificado (60 de 343), emenos de 10% das ocorrên-cias ocasionou a abertura deprocesso e punição dos assas-sinos. Dentre os autoresidentificados, muitos eramconhecidos das vítimas: ocompanheiro atual (27%),ex-amante (7%) e parentesda vítima (13%). Clientes,profissionais do sexo e desco-nhecidos em sexo casual fo-ram responsáveis por 47,5%desses crimes.

Como a pesquisa leva emconsideração apenas relatosque saíram na imprensa, éum consenso que há umasubnotificação dos casos. Oantropólogo Luiz Mott desta-ca que “99% desses ‘homocí-dios’ contra LGBTs têm comomotivo, seja a LGBTfobia in-dividual (quando o assassinotem mal resolvida sua própriasexualidade), seja a homo-transfobia cultural (que ex-pulsa as travestis para asmargens da sociedade onde aviolência é endêmica ou levaos LGBT ao suicídio), seja ahomofobia institucional(quando os governantes nãogarantem a segurança nos es-paços frequentados pela po-pulação LGBT nem aprovamleis que criminalizem aLGBTfobia)”, define.

O presidente do GGB, Mar-

celo Cerqueira, defende que aLGBTfobia seja consideradacrime. “ Ser travesti, lésbicaou gay já é um agravante depericulosidade dentro da in-tolerância machista domi-nante em nosso país! Exigi-mos a equiparação da homo-fobia ao crime de racismojá!”, argumenta.

EMPATIAA coordenadora do Centro deApoio Operacional dos Direi-tos Humanos (CAODH) do Mi-nistério Público da Bahia(MP-BA), Márcia Teixeira, si-naliza que o volume alto demortes de LGBTs reflete àsquestões de violência da pró-pria sociedade, mas isso não éo único motivo. “ Isso tambémpode sinalizar tempos difíceisde falta de amor. As pessoasvêm exercitando sua incapa-cidade de fazer empatia e pro-curando resolver seus proble-mas e frustações com violên-cia”.

A promotora ressalta aindaque “as políticas públicas nãoestão levando a sério a questãoda LGBTfobia. Precisamos queas secretarias e governos ga-rantam os direitos. Além dis-so,osprocessosnãoseguemosprazos estabelecidos pelo có-

digo penal”, afirma.O coordenador do Centro Mu-nicipal de Referência LGBT,vinculado à Secretaria Muni-cipal da Reparação (Semur) daprefeitura, destaca que os ca-sos de violência precisam seracompanhados para que elesreduzam.

“O preconceito é o principalfator que leva a aumentar oscasos de LGBTfobia. No Centrode Referência ( Rio Vermelho)damos apoio às vítimas deagressão e acompanhamos asfamílias em casos de homicí-dio, já que eles são investiga-dos pela polícia”, afirma.

NÚCLEOEm nota, a Secretaria da Segu-rança Pública da Bahia, atra-vés da Superintendência dePrevenção à Violência, afir-mou que está em processo deimplantação do Núcleo deAtendimento Qualificado àsVítimas de Preconceito Racial,Intolerância Religiosa e da Po-pulação LGBT, que funcionará“reforçando o suporte a essespúblicos desde o primeiroatendimento na delegacia atéo acolhimento na rede deapoio constituída por diversosórgãos estaduais”.

A SSP-BA, contudo, não in-formou quando o núcleo seráinstalado. “Além da análise nomelhor local para abrigar onúcleo, também são aguarda-das a chegada das viaturas ad-quiridas recentemente pelaPolícia Civil, assim como aposse de novos delegados, es-crivães e investigadores quevão compor o quadro da uni-dade”, disse a secretaria.

17dos casos tiveram

seus autoresidentificados

Parem dematar osnossos filhos.A LGBTfobia eo preconceitoprecisamacabarInês Silva,Coordenadora do coletivo nacional Famíliaspela Diversidade, que tem sede na Bahia

Matam-semaishomossexuaisaqui do que nos13 países doOriente eÁfricaLuiz MottAntropólogo responsável pela contabilizaçãodos casos de mortes de LGBTs no Brasil

nas, 28. “Meu irmão era umapessoa muito querida na cida-de onde vivia. Era respeitado eamado, mas foi morto com re-quintes de crueldade”, relataSival Lima, irmão de Jeovan,professor morto na cidade deSanta Luz, na Bahia, em junhode 2016.

O único estado do Brasil quenão registrou casos de mortepor LGBTfobia foi Roraima queem 2014 liderou a lista, com6,14 LGBTs assassinados paraum milhão de habitantes.“Essa é, aliás, uma caracterís-

tica desses crimes de ódio: suavariação e imprevisibilidade.No mesmo estado em um anopredominam mortes de tra-vestis, no outro de gays, noano seguinte, o contrário”,argumenta o analista de siste-mas, Eduardo Michels, res-ponsável pela atualização dobanco de dados.

CRIMES EM ALTAMichels projeta que, em 2017,a realidade não deve ser muitodiferente em função da evolu-ção histórica do levantamentode dados. Entre 1970 e 2016, oGGB contabilizou 6.882 mor-tes de LGBTs em todo Brasil.“Infelizmente, a única previ-são recorrente é que neste anoserão assassinados mais de300 LGBTs”, afirma.

A perspectiva entristece acoordenadora do coletivo Fa-mílias pela Diversidade, InêsSilva, que reúne famíliasLGBTs em vários estados doBrasil na luta pelo respeito àdiversidade. “Há uma cres-cente de morte em função domomento que vivemos de dis-seminação de ódio. A igno-rância que gera o preconceito,que gera os assassinatos. Porisso, pedimos a criminaliza-ção da LGBTfobia para que setenham estatísticas e políticaspúblicas de proteção”.

Para o coordenador da co-missão de diversidade sexualda Ordem dos Advogados doBrasil - Seção do Estado da Ba-hia, Filipe Garbelotto, os nú-meros refletem uma carênciade políticas públicas que com-batam a discriminação e con-sequentemente reduzam opreconceito. “ A polícia aindadeixa a desejar na apuração decasos de discriminação e vio-lência contra os LGBTs”.

343 LGBTSMORTOSEM2016 NOBRASILA cada 25 horas, um LGBTémorto no Brasil GAYS

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FonteGrupo Gay da Bahia

RELEMBRE CASOS DE CRIMES ENVOLVENDO LGBTS EM 2016

ò Crueldade O estudanteItaberlly Lozano, 17 anos, foimorto, em dezembro, comgolpes de facada no pescoço.A mãe dele foi presa pelocrime. Em depoimento,familiares disseram que elanão aceitava a homossexuali-dade do jovem.

ò Metrô O vendedor ambu-lante Luís Carlos Ruas, 54anos, foi morto em uma esta-ção do metrô de São Paulo nanoite de Natal quando de-fendia duas travestis, quehaviam sido atacadas. O casodele entra no relatório do GGB,mesmo ele não sendo gay, poiseles computam também quan-

do a pessoa morre em funçãode um LGBT.

ò Transformista O atortransformista FernandoBergen Monteiro, 46 anos, foimorto a tiros, em maio, nobairro de Tororó, em Salvador.Fernando era conhecido comosua personagem AndrezzaLamarck e interpretava umapersonagem inspirada emClara Nunes nos seus shows.Ele também era maquiador.

TRISTE RECORDEA violência contra lésbicas, gays, bissexuais,

travestis e transexuais fez 343 vítimas no ano de2016. Segundo o Grupo Gay da Bahia, o ano

passado teve mais registros de mortes contraLGBTs no Brasil desde 1970; Bahia ficou em 2º

ONDE BUSCAR AJUDA?O Centro de Referência LGBT de Salvador está localizado nobairro do Rio Vermelho e funciona de 8h às 17h, de segunda asexta-feira. O ambiente dispõe de recepção, refeitório eauditório, além das salas de atendimento, divididos entretérreo e primeiro andar. Mais informações pelo telefone: (71)3202-2750

MUNDOTrump assina decretopara remover EUA da

ParceriaTranspacífico

>> pág. 18

VIOLÊNCIADois PMs são

sequestrados emortos por

assaltantes de bancono interior>> pág. 14

EVOLUÇÃODASMORTESDE LGBTSNOBRASILApesar do alto número de homicídios,a LGBTfobia não é considerada crime

FonteGGB CORREIO GRÁFICOS

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ò Oeste A travesti SabrinaSouza, 32 anos, foi morta porespancamento na cidade deLuís Eduardo Magalhães, naBahia, em julho.

ò Gamboa A travesti SheilaSantos, 36 anos, foi assassi-nada com um tiro na cabeça,em junho, enquanto usavacrack na Gamboa de Baixo,em Salvador. Ela trabalhavacomo empregada doméstica.

ò Assalto O empresárioHenrique Assis das Neves, 30anos, foi morto durante as-salto na Praça da Piedade, emjaneiro. Ele também era atortransformista e interpretava apersonagem Lívia de Castro.

ò Santa Luz Os professoresEdivaldo de Oliveira e JeovanBandeira, foram mortos etiveram os corpos queimadosna Bahia, em junho.