Manifesto Do Movimento de Acção Nacional (MAN)

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/19/2019 Manifesto Do Movimento de Acção Nacional (MAN)

    1/3

    Manifesto do Movimento de Acção Nacional (MAN)

    I.

    Ao longo dos tempos, a História sofreu as diversas alterações inerentes às conhecidas alterações políticas.Conhecidas são também situações e ideias que daí emanaram e que, a partir de certa altura, foram, em maior

    ou menor medida, transformando os povos, quase falsificando a sua própria natureza, traindo, deturpando outornando inferiores os seus objectivos e as suas aspirações, abandonando os desprotegidos ou explorando-lhescarências, despeitos, cobiças, invejas e ingenuidades, delapidando as riquezas naturais desses povos, tal comoo capital das suas energias espirituais, promovendo, através de projectos políticos extraviados, a criação defortes consórcios económicos, com que sobrevive a sociedade capitalista, ou a existência de um povo semmemória, descaracterizado, alheio aos mais altos ideais e conduzível a outro tipo de materialismo, o dasociedade marxista.

    Opondo-se a estas duas correntes de opressão dos povos, as quais criaram e se alimentaram defuncionamentos tidos como “imperialistas” (e não correctamente imperiais), surge, no horizonte já próximo,uma terceira via, correspondente a uma perspectiva histórica de signo revolucionário (contra as perversões erevoluções anteriores e anemizadoras), nacionalista (liberto do equívoco individualista) e que se apresenta

    como abolição dos sistemas dominantes.

    Após a Revolução demo-liberal de 1789, após a Revolução marxista de 1917, a consequente desintegrado dosmodelos políticos preponderantes e que dessas revoluções haviam recebido o poder, abre caminho à TerceiraRevolução, exactamente aquela na qual nos incluímos e pela qual trabalhamos.

    A ideia que propomos é a constituição de uma alternativa histórica ao regime. Sob todos os aspectos, adefinição dessa alternativa passa pela implantação de um novo molde de movimento político. A nossa missãonão é, meramente, fazer ressurgir processos e estruturas políticas já desaparecidas. Não nos esqueceremos doque continua válido nos métodos de organização de há cinquenta anos, nem sequer da permanentecongruência de ordenamentos de há séculos atrás, mas teremos em conta que, desde então até hoje, aHistória sofreu mutações e a realidade de hoje apresenta modulações diferentes, pelo que, precisando nós deagir sobre ela para a modificar, teremos de usar alguns processos adaptados e outros específicos, de maneira aobter resultados adequados à finalidade que nos conduz. Entre as diferenças a considerar, registe-se agrassante diminuição de homens de qualidade interior, o definhamento ou a extinção de aparelhos que ospropiciem e defendam, as abastardadas características dos protótipos de comportamento para a gente emgeral. Por outro lado, ou concomitantemente, os nossos adversários são hoje bem mais poderosos do queoutrora, dedicados, como estão, à construção dum Estado que, declaradamente ou com hipócritos disfarces, édespótico e “autoritarista’’ (em vez de justamente autoritário), proteico e repressivo, burocrático etecnocrático, artificial e ilegítimo (porque simples aparelho aposto e imposto à Nação e, pelo menostendencialmente, seu distorcedor e destruidor). Através da técnica e mediante a burocracia, nunca a coacçãodas massas foi tão gigantesca e eficaz. Por tudo isso, o movimento que lançamos agora aspira a romperbarreiras de intoxicação e dificuldades, expor as nossas ideias e ser o porta-voz do modelo de sociedade pela

    qual nos batemos.

    Depois da segunda Grande Guerra, o mundo conheceu nova e inédita mudança e foi repartido por aquelesque, em Yalta, aceitaram dividir ao meio a Europa, ao mesmo tempo que criavam dois blocos militares paraimpedirem as nações de usufruírem de uma política de Independência Nacional. Tanto no Leste como noOeste, os dois sistemas que aí dirigem os destinos dos seus povos dispõem de meios jamais conhecidos, deimplacáveis, múltiplos, invasores e, por vezes, até sofisticados instrumentos para alienação e “lavagens aocérebro”, tal como para forçamento e eliminação, com capacidade imensa para cortar o caminho aosverdadeiros nacionalistas que pretendem fazer perigar a sua estabilidade, e também com imensadisponibilidade para se aproveitarem dos pretensos “nacionalistas” (sem Nação autêntica) de modo atornarem-nos seus serventuários. Assim, o sistema desses dois sistemas adultera os povos e integra asmassas nos seus mecanismos de produção e consumo. Impõe-se, portanto, a necessidade de resistir,

    primeiro, e de avançar, depois, a uma atitude mais activa, não só contestatária, mas também de conquista,congregação e regeneração. Seremos reaccionários ou revolucionários? Ambas as coisas; e semincompatibilidade. Não haveremos de reagir contra a degradação das concepções e formas políticas,económicas, culturais, sociais, contra a dissolução dos costumes, contra o rebaixamento das mentalidades,contra o abandono do valor espiritual como padrão? Não haveremos de querer restabelecer a antiga Ordem

  • 8/19/2019 Manifesto Do Movimento de Acção Nacional (MAN)

    2/3

    assim postergada? Seremos, pois, reaccionários. E haveremos de aceitar, som buscar bani-las, a manutençãoe a continuidade de todas essas dominações, a estabilidade deste charco ou o plano inclinado destemaquinismo voraz? Adversários de tal aceitação ou de tal resignação demitentes, seremos, pois,revolucionários.

    Simplesmente, precisamos de distinguir. Não somos irmãos dos que se limitam a querer restabelecer caducasformas inadequadas, vazias e recusadas ou rebentadas pela energia dos conteúdos perpétuos; nem dosreaccionários que atribuem mais importância à restituição do acidental do que à do essencial; nem dosreaccionários que, perante o surgimento da jovem proposição que respira, pelo mundo afora, querem abatê-la

    e que se regresse à geral idolatria dos velhos mitos demo-liberal, socialista, marxista, individualista, comunistae quejandos. Também não somos irmãos nem descendentes dos revolucionários que fizeram ou prepararamas Revoluções de 1789 e de 1917, sejam eles liberais, democráticos, equivocamente “totalitários”,anarquistas, ou outros semelhantes.

    Sabemos que a guerra terá longa duração, já que as máquinas do duplo sistema são robustas, tentaculares eabsorventes. Mas a situação em que nos encontramos, a nossa obrigação perante os mais altos valores, acoerência, o dever de dignidade, a honra, a fidelidade e a fé, o nosso senso das responsabilidades, enfim,impõem-nos uma atitude consentânea. E, dentro disso, damos especial importância à luta nacional que, apartir de agora, desenvolveremos.

    II.

    Acreditamos que o nosso momento chegou. Depois de termos sido, ao longo de anos abrilinos, merosresistentes, pensamos que atingimos a altura de reunir todos aqueles que estão fartos do actual naufrágio eque sabem e querem reagir. Pertence ao conhecimento geral que este regime e a sua classe política nãoservem os interesses de Portugal e dos Portugueses.

    A constante degradação do Estado e de outras instituições, da economia e de todos os outros sectores da vidanacional é coisa patente, de consequências já alarmantes e cada vez mais graves. Ameaça-nos o espectro daruína total.

    Perante isto, torna-se indispensável mudar as estruturas, o regime, o sistema e o pessoal políticos, redefinir osvalores e, de acordo com eles, restaurar e intensificar os valores nacionais, renovar espiritualmente o Homem,as mentalidades, o comportamento, o conceito de Cultura, a ideia de Nação e a própria ideia de Estado,reorganizar a sociedade, dinamizar as actividades, estabelecer a confiança a o sentido comunitário.

    Para conseguir tais objectivos, requere-se, no entanto, que se congreguem quantos condenam o descalabro aque nos conduziu a revolução de Abril, mas, primeiramente, que aqueles que souberam manter-se naresistência a assumam na plenitude e destino da sua fonte. Teremos de unir esforços, de maneira a criar umconjunto de forças em pugna por um país melhor, por um Portugal recuperado, por um mundo dignificado.

    Essa verificação e esses motivos levaram-nos a constituir um movimento para desencadear, aumentar efortalecer uma corrente política e social da qual brote a alternativa ao sistema e ao regime abrilinos.

    Queremos levantar a consciência nacional, com base na nossa mobilização, dar voz à desejável revolta contraos inimigos do Portugal de sempre, imprimir novos rumos ao nosso país, obter uma nova política quedetermine uma nova maneira de pensar nacional, despertar e desenvolver a tarefa de reconstrução nacional,alcançar as aspirações históricas do nosso povo, estimulando a sua criatividade e libertando-o do competitivoegoísmo burguês. Queremos que a juventude inconformista participe num largo processo para a fundação,sobre o permanente conceito de honra, de um escol revolucionário, politicamente diferenciado, portador, em simesmo, de um ideal Estado que haverá de ser construído.

    Defendemos um Nacionalismo Popular Revolucionário. Um Nacionalismo Popular, porque assente num Povointeiro e não numa parcela ou numa classe ou na utópica igualdade. Um Nacionalismo Revolucionário, porqueindissolúvel do mandato e da continuidade históricos e não dependente de maiorias momentâneas, deminorias desenraizadas, de votos instáveis, de individualismos interesseiros, de particularismos desinseridos.Não um Nacionalismo estreito, fechado em si mesmo, inimigo dos seus pares, mas sim um Nacionalismo quese justifica pela própria ideia de unidade e do universal.

    Precisamos de uma participação activa de todos os que sentem e pensam como nós, assim como do apoio e da

  • 8/19/2019 Manifesto Do Movimento de Acção Nacional (MAN)

    3/3

    colaboração decidida dos verdadeiros e conscientes portugueses. Precisamos de homens que defendam adoutrina, com fidelidade, e a acção com coragem, determinação e inteligência. Precisamos de uma estruturasólida que, dia a dia, realize uma estratégia apropriada.

    Como actuaremos? Ocupando a posição de vanguarda na luta de libertação nacional; e, tendo como nossavontade a vontade de Portugal, isso é uma garantia de vitória. De facto, as nossas ideias estão de acordo comos interesses de Portugal e da sua independência, e, por isso, a acção política e o interesse nacionaisdeterminarão, a qualquer momento a atitude a tomar em relação aos acontecimentos. Conjugaremosesforços com pessoas e instituições interessadas em modificar a actual situação reinante. Estamos

    identificados com os problemas da Nação e da acção política nacional e com muitos grupos de portuguesesque, por toda a parte, despertam e acreditam na nossa Revolução. Contamos com as potencialidades e aconsciência das novas gerações.

    A disciplina, o trabalho e os objectivos farão com que nos assumamos e nos comportemos de acordo com asnossas ideias. Tudo isso, e a força de vontade, e a camaradagem, são, sem dúvida, factores contrários aosistema. No entanto, o militante deverá preparar-se ideologicamente, para evitar ser nele integrado. E, nocombate que travarmos, o movimento político deverá ser testemunho do modelo de sociedade que pretendeedificar a na qual se concretizarão os anseios e as aspirações de um Povo.

    Assim, continuamos a preconizar a Revolução não no sentido de desordem. Só levaremos vantagem, se nosapresentarmos unidos, endurecidos e organizados. A breve trecho, terá de formar-se uma consciêncianacional, cimentada na solidariedade, de modo a permitir o alcance da sociedade política. Desenvolveremosuma estratégia nacional, solidarista, revolucionária e de viragem.

    A nossa Revolução será veemente e categórica. Conhecemos as dificuldades e a magnitude doempreendimento. Assumimos as responsabilidades, com espírito de serviço e missão e pelejaremos, com todosos meios, pelos objectivos de fortalecimento, reunião e expansão do movimento enérgico, popular e patrióticoque há-de dirigir a nossa luta e a dos que como nós pensam, até à vitória final.

    JUSTIÇA – NAÇÃO – REVOLUÇÃOMarço de 1985