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IV Simpósio LusoBrasileiro de Cartografia Histórica Porto, 9 a 12 de Novembro de 2011 ISBN 978-972-8932-88-6 Antónia Fialho Conde - [email protected] Departamento de História da Universidade de Évora/CIDEHUS- UE/HERCULES Maria Virgínia Henriques - [email protected] Departamento de Geociências da Universidade de Évora Nuno Gracinhas Guiomar - [email protected] Departamento de Planeamento e Ordenamento da Universidade de Évora (colaborador) A costa algarvia três séculos depois - O olhar entre a Geografia e a História Resumo O período moderno, no contexto europeu, foi caracterizado pela circulação de mestres e ideias em diversas áreas do saber. A arquitectura e a engenharia, em particular a engenharia militar, foram campos determinantes neste período, e Portugal desde cedo regista a presença de italianos, flamengos, franceses, entre outros, com uma clara influência na criação e execução de obras neste domínio. Por outro lado, foram também determinantes na formação de especialistas nacionais a nível da arquitectura, numa realidade geográfica que ultrapassou o contexto nacional. Se o século XVII ditou, por razões político-estratégicas, o reforço da fronteira seca, também existiram propostas para defesa da costa; no caso do Algarve, foram diversos os projectos que surgiram. Partindo de uma da proposta assinada por Mateus do Couto (sobrinho), em 1686, pertencente ao espólio da Biblioteca Pública de Évora, testa-se a aceitação canónica das regras de fortificação entre o Barlavento e Sotavento algarvios. Esta proposta apresenta ao mesmo tempo algumas particularidades da região ao nível da paisagem e da ocupação dos solos. O trabalho é desenvolvido nem contexto multidisciplinar, aproximando as áreas da Geografia, do Desenho, recorrendo ainda aos Sistemas de Informação Geográfica. A localização e a conservação do património identificado, em conjunto com outros indicadores, podem servir para a compreensão a actual dinâmica do litoral do Algarve. Palavras-chave Mateus do Couto; Algarve; engenharia militar; morfologia costeira; património construído.

Maria Virgínia Henriques - Nuno Gracinhas Guiomar - A ...eventos.letras.up.pt/ivslbch/comunicacoes/104.pdf · concepção das fortalezas durante o segundo quartel do século XVI;

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IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica

Porto 9 a 12 de Novembro de 2011 ISBN 978-972-8932-88-6

Antoacutenia Fialho Conde - mcondeuevorapt Departamento de Histoacuteria da Universidade de EacutevoraCIDEHUS-UEHERCULES

Maria Virgiacutenia Henriques - Virginiauevorapt Departamento de Geociecircncias da Universidade de Eacutevora

Nuno Gracinhas Guiomar - nunogracinhashotmailcom Departamento de Planeamento e Ordenamento da Universidade de Eacutevora (colaborador)

A costa algarvia trecircs seacuteculos depois - O olhar entre a Geografia e a Histoacuteria

Resumo O periacuteodo moderno no contexto europeu foi caracterizado pela circulaccedilatildeo de mestres e ideias em diversas aacutereas do saber A arquitectura e a engenharia em particular a engenharia militar foram campos determinantes neste periacuteodo e Portugal desde cedo regista a presenccedila de italianos flamengos franceses entre outros com uma clara influecircncia na criaccedilatildeo e execuccedilatildeo de obras neste domiacutenio Por outro lado foram tambeacutem determinantes na formaccedilatildeo de especialistas nacionais a niacutevel da arquitectura numa realidade geograacutefica que ultrapassou o contexto nacional Se o seacuteculo XVII ditou por razotildees poliacutetico-estrateacutegicas o reforccedilo da fronteira seca tambeacutem existiram propostas para defesa da costa no caso do Algarve foram diversos os projectos que surgiram Partindo de uma da proposta assinada por Mateus do Couto (sobrinho) em 1686 pertencente ao espoacutelio da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora testa-se a aceitaccedilatildeo canoacutenica das regras de fortificaccedilatildeo entre o Barlavento e Sotavento algarvios Esta proposta apresenta ao mesmo tempo algumas particularidades da regiatildeo ao niacutevel da paisagem e da ocupaccedilatildeo dos solos O trabalho eacute desenvolvido nem contexto multidisciplinar aproximando as aacutereas da Geografia do Desenho recorrendo ainda aos Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica A localizaccedilatildeo e a conservaccedilatildeo do patrimoacutenio identificado em conjunto com outros indicadores podem servir para a compreensatildeo a actual dinacircmica do litoral do Algarve Palavras-chave ndash Mateus do Couto Algarve engenharia militar morfologia costeira patrimoacutenio construiacutedo

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Abstract

The modern period in Europe was characterized by the circulation of masters and ideas in several areas of knowledge The architecture and the engineering particularly the military engineering were determinative fields in this perspective and in Portugal it is registered the presence of Italians Flemish Frenchmen between others with a clear influence in the creation and execution in this field that were determinants to the formation of national masters in military Portuguese architecture shaped in a space that exceeds the geographical context of Portugal If in the land plan the XVII century meant the reinforcement of the frontiers because of political raisons we also have new plans of defence for the coast in case of the Algarve numerous projects and proposals appeared It is from one of these proposals signed by Mateus do Couto in 1686 which makes part of the documentary estate of the Public Library of Evora which we intend to test the canonical acceptance of the rules of fortifying between the lee and the windward from the Algarve This proposal bequeathed at the same time excellent evidences of the region particularly at the level of landscape and occupation of soils The present work must be understood in a multidisciplinary approach between areas as Geography Drawing and using also the Geographical Information System Tools The location and the preservation of some of this built inheritance with others indicators are useful to understand is according the actual model of the coastal dynamic of the region

Key-words ndashndash MMaatteeuuss ddoo CCoouuttoo AAllggaarrvvee MMiilliittaarryy eennggiinneeeerriinngg ccooaassttaall mmoorrpphhoollooggyy bbuuiilltt IInnhheerriittaannccee

O periacuteodo moderno e as fortificaccedilotildees abaluartadas em Portugal

Portugal nos iniacutecios do periacuteodo moderno conheceu diversas iniciativas a propoacutesito da

confirmaccedilatildeo fronteiriccedila Destacam-se os trabalhos de Duarte drsquoArmas em 1509 por

mandado de D Manuel onde confirmou os pontos de defesa da fronteira seca Sublinhamos

neste trabalho o rigorismo do Autor em relaccedilatildeo aos elementos militares (torres de menagem

e as barbacatildes atalaias e guaritas instalaccedilotildees da guarniccedilatildeo e do alcaide zonas de acesso

seteiras e cisternas entre outros) preocupando-se em os levantar situar e descrever bem

como em relaccedilatildeo agrave presenccedila de elementos do quotidiano das populaccedilotildees hoje

imprescindiacuteveis para a anaacutelise histoacuterica (zonas de bosques e zonas cultivadas linhas de

aacutegua e pontes moinhos igrejas e conventos cruzeiros cemiteacuterios)

A niacutevel europeu particularmente em Itaacutelia a aposta era na adaptaccedilatildeo das construccedilotildees

fortificadas ao uso da artilharia surgindo o novo baluarte poligonal que revolucionaria a

concepccedilatildeo das fortalezas durante o segundo quartel do seacuteculo XVI Benedetto de Ravenna

foi em Portugal um dos principais responsaacuteveis pela difusatildeo das ideias italianas A partir de

meados deste seacuteculo (XVI) assistimos agrave multiplicaccedilatildeo de planos de fortificaccedilatildeo de diversas

cidades europeias Propotildeem-se muralhas abaluartadas para protecccedilatildeo dos burgos tendo

como ideia base a de que a protecccedilatildeo (defesa) ideal era a assegurada por planta

hexagonal mais cara que as demais embora muitas vezes os acidentes de terreno

obrigassem a optar pela planta pentagonal Muitas destas fortificaccedilotildees apresentam planos

de transiccedilatildeo nomeadamente com a presenccedila de baluartes redondos ainda que adaptados

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agrave artilharia Esta mudanccedila construtiva corporizou-se em todo o espaccedilo portuguecircs no

continente e aleacutem-mar como entre noacutes estaacute particularmente bem estudado (Moreira 1988

1989 2001) Este foi tambeacutem o periacuteodo do reconhecimento da importacircncia votada agrave

Arquitectura Militar indissociaacutevel da Arte Militar

(hellip) E a Architectura Militar he tatildeo necessaacuteria q sem ella natildeo seraacute possiacutevel fazer guerra porque em todas se fazem alojamentos trincheiras amp mais reparos amp em todas as proviacutencias he necessaacuterio auer fortificaccedilotildees nos lugares conuenientes amp assi natildeo poderaacute nenhum exercito sem ella durar muito tempo em campanha nem hua prouincia conseruarse E natildeo soacute he arte pertencente agrave Militar mas hua parte della sem a qual natildeo pode auer Arte Militar pois ella he o principal subjeito das duas partes que se seguem depois desta primeira (hellip)

1

Em Portugal o periacuteodo da guerra da Restauraccedilatildeo (1641-1668) significou o reforccedilo da raia

terrestre (sendo o litoral alvo de atenccedilatildeo muito mais tarde ou ficando os projectos para ele

desenhados por concretizar ou concretizados mais tardiamente) baseado no reforccedilo da

rede medieval fortificada e nem sempre significou uma profunda reformulaccedilatildeo no sistema

defensivo Poreacutem uma nova atitude perante a importacircncia do reforccedilo defensivo germinaria

com a subida ao trono de D Joatildeo IV logo em Dezembro de 1640 Efectivamente foram

criados na altura o Conselho de Guerra e a Junta de Fronteiras com funccedilotildees bem definidas

no sentido de inspeccionar e tratar toda a mateacuteria relativa agraves fortificaccedilotildees O Conselho e a

Junta agiam numa nova geografia poliacutetica administrativa mas tambeacutem militar ao serem

criadas seis proviacutencias militares cada uma com seu governador sendo o Alentejo a maior

delas com mais de vinte e seis mil quiloacutemetros quadrados

Apesar de serem a mais impressionante fonte de despesas do Estado esgotando em 1641

60 das suas proacuteprias receitas satildeo uma parcela pouco estudada do patrimoacutenio portuguecircs

da altura Estas intervenccedilotildees foram sinoacutenimo de exigecircncia ao niacutevel construtivo implicando o

conhecimento de novas teacutecnicas e taacutecticas militares Aqui se insere a figura de Luiacutes Serratildeo

Pimentel autor do Methodo Lusitano estando a seu cargo desde 1647 a Aula de

Fortificaccedilatildeo e Arquitectura Militar para a formaccedilatildeo de engenheiros militares numa altura em

que quem trabalhava nas fortificaccedilotildees eram maioritariamente engenheiros estrangeiros

Serratildeo Pimentel inspirava-se basicamente sob o ponto de vista teoacuterico em Adam Freitag

Mathias Dogen Goldman Marolois Coheorn e Stevin sendo que ao niacutevel praacutetico convivia

com esses mesmos estrangeiros estabelecidos agrave eacutepoca em Portugal

1 Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora Novo Reservado 1476 Arte Militar 1612

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(hellip) Trago varias regras novas amp facillimas com que summamente se facilitatildeo as mediccediloens das muralhas amp outras ategravegora natildeo vistas nem excogitadas para se orsar quanto merece cada braccedila conforme ficar elevada no plano do terreno fundo ou Fosso ou alicerse ainda que o preccedilo seja geral de hum tanto por cada hua ateacute toda a altura que se contrattou que hua muralha havia de subir por evitar os enganos que nesta parte se faziatildeo(hellip) O fim com que escrevi esta obra ultima de alguas que tenho composto he para que fique noticia conservada entre nos amp possamos ter Engenheiros naturaes havendo por onde apprendatildeo a Sciencia pois ainda que a experiencia he muito necessaacuteria para a practica com tudo os que nesta entratildeo com liccedilatildeo faacutecil amp brevemente se fazem destros assim nas cousas que viratildeo obrar como nas que natildeo viratildeo porque a noticia da liccedilatildeo os habilita de huas para as outras o que natildeo succede naquelles que somente por experiencia sem preceder liccedilatildeo ou doutrina fundada se metem a obrar (hellip) pello que nem sograve a sciencia nem sograve a experiencia bastatildeo hua amp outra satildeo necessaacuterias para formar

hum bom Engenheiro (hellip)2

Este ideal de formaccedilatildeo dos engenheiros militares de nacionalidade portuguesa entende-se

num contexto em que as fortalezas deste periacuteodo eram concebidas maioritariamente por

engenheiros europeus (franceses italianos e dos Paiacuteses Baixos) alguns deles jaacute na

Peniacutensula ao serviccedilo dos Filipes e cujo trabalho reflectia o abandono do modelo italiano a

favor dos modelos noacuterdicos (escolas holandesa e alematilde) com fortificaccedilotildees desenhadas

para o interior dos poliacutegonos perfis escalonados em taludes adaptados aos terrenos

regresso de guaritas angulares abundacircncia de obras externas elevando o niacutevel cientiacutefico

da fortificaccedilatildeo Sublinhamos ainda que ao trabalho da engenharia e da arquitectura militares

natildeo pode ser alheia a questatildeo do levantamento topograacutefico a concepccedilatildeo da fortificaccedilatildeo

dependia de um trabalho jaacute existente a esse niacutevel ou implicava o levantamento propriamente

dito daiacute a relaccedilatildeo entre a cartografia do Portugal de Seiscentos e a engenharia militar

Temos tambeacutem que muitos dos projectos efectuados se satildeo valiosos na perspectiva militar

natildeo o satildeo tanto do ponto de vista cartograacutefico (ausecircncia de detalhes do terreno)

Durante o largo periacuteodo de conflito entre Portugal e a Espanha (1640-1668) muitos destes

engenheiros trabalharam para os dois reinos (Langres P Santa Colomba Cosmander)

sendo que alguns engenheiros militares portugueses comeccedilavam tambeacutem a desenvolver

trabalho nesta Proviacutencia como foi o caso de Mateus do Couto (sobrinho) Aliaacutes esta

arquitectura teve em Portugal um papel de vanguarda quando o decliacutenio dos Filipes como

jaacute apontaacutemos natildeo significou o debandar de c de 100 engenheiros europeus (franceses

flamengos italianos holandeses suecos e ingleses) que em Portugal se mantiveram

Assim 1640 ditou a fortificaccedilatildeo da raia terrestre guarnecendo o litoral apenas de baterias

2 Luiacutes Serratildeo Pimentel Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das praccedilas

regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

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com fins de vigilacircncia e defesa restrita (alcanccedilada a paz com a Holanda e dado o estado

desgastado da marinha espanhola) A substituiccedilatildeo da barragem de fogo das fortalezas por

uma sucessatildeo de pequenos pontos fortificados segundo a mobilidade taacutectica barroca

explica a falta de interesse pelas grandes fortalezas do litoral o forte da Ponta da Bandeira

no Algarve edificado em Lagos em 1679 na praia junto ao castelo por Inaacutecio Pereira eacute um

simples quadrado com terraccedilo alto virado ao mar e canhoeiras (as guaritas satildeo recentes) O

Algarve crucial no seacuteculo XVI e que no periacuteodo filipino conhecera ainda fortificaccedilotildees

tornou-se uma aacuterea marginal pouco se concretizando dos projectos de vaacuterios engenheiros

sendo o estado das suas fortificaccedilotildees durante a guerra da Restauraccedilatildeo muito lamentaacutevel

Mateus do Couto (c 1630-1696)

Na Histoacuteria da Arquitectura e Engenharia Militares em Portugal temos duas personagens

denominadas como Mateus do Couto que tinham entre si uma relaccedilatildeo familiar (eram tio e

sobrinho) Uma das primeiras referecircncias documentais a este nome e apelido no domiacutenio

que apontaacutemos surge em 1617 enquanto olheiro e apontador do mosteiro de Santos e que

conheceu diversos ofiacutecios em 1629 foi nomeado arquitecto das ordens militares em 1634

era arquitecto do Santo Ofiacutecio sendo nomeado em 1643 para assistente das obras do forte

de S Lourenccedilo da Cabeccedila Seca e mais fortalezas da barra de Lisboa e 3 anos depois foi

nomeado como arquitecto de Lisboa encarregado de fazer uma vistoria agraves portas e

muralhas da cidade Trata-se de Mateus do Couto tio e que faleceu c de 1664 sem filhos

sucedendo-lhe um seu sobrinho homoacutenimo que foi nomeado para lhe suceder em 1669

como arquitecto das ordens militares

Entre 1647 e 1678 Mateus do Couto sobrinho prestou muitos serviccedilos agrave Coroa arquitecto

e engenheiro do rei mestre assistente das fortificaccedilotildees da barra entre outros Em 1669

alcanccedilou o Alvaraacute de mercecirc para mantimento do ordenado anual de 80$000 reacuteis enquanto

Arquitecto das obras das Ordens religiosas em 1679 recebeu 12$000 reacuteis de tenccedila com o

haacutebito de Cristo Veio a morrer em 1696 Alguns anos antes em 1679 D Pedro II

reconhecera-lhe os seus serviccedilos sumariando-os entre 1647 e 1678 da seguinte forma

ldquo() no ministeacuterio das fortificaccedilotildees das marinhas desta Cocircrte e Estremadura fortes da

costa praccedila de Cascaes Setuval Santarem Abrantes Pinhel Brelenga fortes da barra e

fortificaccedilatildeo de Lisboa praccedilas da proviacutencia do Alentejo e outras do reino (hellip)rdquo3

Arquitecto real e engenheiro militar eacute apontado por alguns estudiosos como um dos

predilectos de D Pedro II (Carvalho 1977) foi seu sucessor o arquitecto Joatildeo Antunes e

3 Sousa Viterbo Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e Constructores

Portugueses Lisboa Vol I p 258

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enquanto seu disciacutepulo destacou-se um seu sobrinho Manuel do Couto Poreacutem os seus

trabalhos natildeo se limitam agrave arquitectura militar uma vez que tambeacutem apresentou propostas

nas aacutereas da arquitectura civil e religiosa assim aleacutem de ter trabalhado acerca do Algarve

na deacutecada de 80 seacuteculo XVII juntamente com Pedro Correia Rebelo Mateus do Couto foi

ainda

(hellip) valoroso soldado engenheiro e arquitecto militar foi um dos mais prodigiosos construtores de palaacutecios e igreja do uacuteltimo quartel do seacuteculo XVII (desde a segunda igreja de Santa Engraacutecia desmoronada em 1681 agraves Francesinhas ou a Santa Clara de Coimbra)(hellip) [teve pois] uma muacuteltipla actividade arquitectoacutenica natildeo soacute em obras reais mas tambeacutem para a Companhia de Jesus podendo-se

aventar a hipoacutetese da sua intervenccedilatildeo em tantas igrejas do Brasil (hellip)4

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

Pretendendo contribuir para o conhecimento das diversas propostas defensivas que

conheceu a costa algarvia mateacuteria sobre a qual diversos estudos tecircm sido publicados e

seguindo a obra de Mateus do Couto sobrinho no que respeita agrave arquitectura Militar

procuraacutemos compreender comparar e contextualizar um conjunto de Cartas por ele

assinadas e que localizaacutemos na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

A Pasta conteacutem 27 Cartas intituladas no primeiro foacutelio como Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve em papel com marca de aacutegua aguareladas referindo-se a fortes fortificaccedilotildees

convento e fortificaccedilatildeo seguindo uma loacutegica depois de uma representaccedilatildeo da costa

algarvia de sotavento para o barlavento As Cartas estatildeo assinadas sendo ainda que em

duas delas o desenho se encontra datado eacute o caso da fortificaccedilatildeo de Sagres datada de 10

de Junho de1686 feita em Lisboa e da de Castro Marim que indica apenas o mecircs e o ano

(Junho 1686)

A dimensatildeo das Cartas eacute em geral de 5843cm (as excepccedilotildees satildeo a carta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim com 102107m o desenho da costa algarvia com 058126m a carta da

fortificaccedilatildeo de Faro com 114113m a da cidade de Lagos com 8858cm e a carta da

fortificaccedilatildeo de Sagres com 115043m) sendo indicadas diferentes escalas o petipeacute eacute

indicado em varas braccedilas de 10 palmos em braccedilas em palmos e em palmos craveiros

Em algumas das Cartas estaacute presente o carimbo da instituiccedilatildeo a que pertencem Biblioteca

Puacuteblica de Eacutevora sendo que na primeira delas (Desenho de toda a costa) conteacutem uma data

possivelmente a da incorporaccedilatildeo da peccedila no espoacutelio da Biblioteca 18 de Julho de 1941

4 Ayres de Carvalho ldquoIntroduccedilatildeordquo In Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Na Biblioteca Nacional de

Lisboa encontram-se as plantas da Igreja e Coleacutegio da Companhia de Jesus de Portalegre 1678 p XIII

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Procuraacutemos atraveacutes do registo de incorporaccedilotildees existente no Arquivo Distrital de Eacutevora

localizar a desta peccedila tanto em termos do tipo de incorporaccedilatildeo (compra doaccedilatildeohellip) como

da pessoa ou instituiccedilatildeo por isso responsaacutevel tarefa que natildeo deu qualquer fruto Em suma

a peccedila existe natildeo se sabe quando passou a fazer parte do espoacutelio da Biblioteca nem

quem ou que instituiccedilatildeo a fez a ela chegar

De acordo com a sua sequecircncia na Pasta e respeitando ainda as marcas da encadernaccedilatildeo

temos a seguinte listagem dos desenhos Desenho da costa algarvia Planta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim (datado 1686) Castelo de Cacela Forte de S Joatildeo Tavira Forte de S

Lourenccedilo Faro Fortificaccedilatildeo da cidade de Faro Forte de Santo Antoacutenio de Quarteira

Albufeira Forte de Santo Antoacutenio de Pecircra Forte de Nossa Senhora da Rocha Forte de

Nossa Senhora da Encarnaccedilatildeo do Cabo Carvoeiro Forte de S Joatildeo na barra de Vila Nova

de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Portimatildeo Castelo da Vila de Alvor Forte de S Joseacute

da Meia Praia Lagos Ponta da Bandeyra na ribeira da cidade de Lagos Forte do Pinhatildeo

junto agrave cidade de Lagos Forte de Nossa Senhora da Luz Forte de S Luiacutes de Almadena

Forte da Vera Cruz da Figueira Forte de Santo Inaacutecio do Azevial Forte de Nordf Srordf da Guia

da Baleyra Planta da fortificaccedilatildeo de Sagres (Lisboa 10 Junho 1686) Convento e

fortificaccedilatildeo do Cabo de S Vicente Forte de Nordf Srordf da Conceiccedilatildeo no lugar da Carrapateira

Forte da Arrifana

O conjunto documental apresentado eacute uma proposta de Mateus do Couto Se eacute certo que

este trabalho vem na senda de outros similares de que destacamos o de Alexandre Massai

autor da obra Descripccedilatildeo do Reino do Algarve (em que faz um relatoacuterio sequente ao

levantamento que efectuou a partir de 1617 e concluiacutedo em 1621) outros se lhe seguiram

para a mesma regiatildeo como o trabalho de Joseacute de Sande de Vasconcelos mas jaacute para o

seacuteculo XVIII

Tentaacutemos compreender a sua importacircncia documental sobretudo em termos de ser peccedila

original e uacutenica do Autor Os nossos esforccedilos direccionaram-se sobretudo para a Torre do

Tombo para a Biblioteca Nacional de Portugal para a Biblioteca Nacional de Espanha e

para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo) aleacutem da necessaacuteria pesquisa no

Portugaliae Monumenta Cartographica Nesta uacuteltima obra os trabalhos de Mateus do Couto

sobrinho satildeo referidos apenas para a zona geograacutefica entre Leiria e Vila Nova de Milfontes

constando os desenhos do espoacutelio da Casa Cadaval cota M-VII-25 829 Em nenhuma das

outras Bibliotecas mencionadas encontraacutemos ateacute agora qualquer referecircncia a esta

proposta de arquitectura militar para a costa algarvia de Mateus do Couto (e diga-se

poucas ou nulas conforme as instituiccedilotildees agraves outras enquanto arquitecto civil e religioso)

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Foi apenas na Torre do Tombo que tivemos oportunidade de nos Arquivos da Casa

Cadaval encontrar de alguma forma uma ligaccedilatildeo com o material encontrado em Eacutevora

Temos na Torre do Tombo quatro pastas com as seguintes cota e sequecircncia

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta vermelha) contendo do desenho 1 ao 2524 alguns

desenhos satildeo assinados por Joatildeo Roiz de Mouro em 1693 (Milfontes Sines Palmela Torre

de Beleacutem Santo Amaro) que assinala engenheiros seus antecessores como Difur

Francisco Pimentel e Mateus do Couto Este uacuteltimo nesta pasta assina os desenhos 1617

(Torre do Bugio) apresentando um traccedilo muito similar ao seu a fortaleza de S Sebastiatildeo as

plataformas dos Aacutelamos e da Junqueira o reduto de S Pedro de Beleacutem a torre de Beleacutem (3

desenhos) o forte de S Pedro de Paccedilo drsquoArcos o forte de S Joatildeo das Maias (3 desenhos)

e a plataforma de Santo Amaro

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta amarela) contendo do desenho 2625 ao 5455 Nesta

pasta parece-nos que todos os desenhos pertencem a Mateus do Couto embora nem

todos estejam assinados datados entre Junho e Novembro de 1693 As assinaturas

quando existentes satildeo rigorosamente iguais agraves presentes nas Cartas de Eacutevora Assim

Mateus do Couto assina os desenhos da fortaleza de SJuliatildeo da Barra da cidadela de

Cascais os fortes do Magoito e da Ericeira de S Pedro de Milreco de Santa Susana do

Porto Novo de Nossa Senhora dos Anjos de Nossa Senhora da Consolaccedilatildeo (3 desenhos)

da vila e fortaleza de Peniche (4 desenhos) das fortalezas de S Francisco de Peniche de

Nordf Srordf da Nazareacute uma planta da ilha Berlenga e um conjunto de 7 desenhos que compotildeem

a Planta da Costa de Portugal desde a foz do Lis ateacute Vila Nova de Milfontes (veja-se aqui a

coincidecircncia com o que referem o Almirante Teixeira da Mota e Jaime Cortesatildeo) Desta

Pasta fazem ainda parte os desenhos dos fortes do Junqueiro de S Domingos de Rana de

Santo Antoacutenio de S Joatildeo da Cruz de Santo Antoacutenio de S Teodoacutezio de Santo Antoacutenio de

S Roque dos Inocentes de Santa Catarina junto a Cascais de Santa Marta de Nordf Srordf da

Guia de S Jorge de Sanchete de S Jorge de baixo do Guincho e da Roca

- PT-TT-CCDV29 nordm 29 (2 pastas a verde e a preta) Os conteuacutedos destas duas pastas

podem ser consultados e visualizados no site da Direcccedilatildeo Geral de Arquivos com

descriccedilotildees da costa portuguesa desde o rio Minho ao Guadiana algumas plantas de

fortalezas da costa algarvia da costa alentejana de Setuacutebal e seu porto da barra de Lisboa

plantas de Argel Larache Mazagatildeo entre outras Algumas satildeo atribuiacutedas a Filipe Tersio e

ao capitatildeo Fratino outras assinadas por Leonardo Turriano e Alexandre Massai (4 desenhos

para Portimatildeo) entre outros sem constar Mateus do Couto

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Esta documentaccedilatildeo encontrada na Torre do Tombo e no que respeita a desenhos

assinados por Mateus do Couto permite-nos sugerir que as Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve que existem na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora antecederam em c de sete anos os

desenhos que o Autor apresentou para a costa portuguesa (entre a foz do Lis e Vila Nova de

Milfontes) e para os fortes e fortalezas na zona de LisboaCascaisPeniche Trata-se de uma

fase da sua carreira que repartiu entre a arquitectura civil e religiosa (esta uacuteltima

possivelmente numa fase mais inicial de finais da deacutecada de 70 do seacuteculo XVII) e a

arquitectura militar tambeacutem ela geograficamente localizada entre o Alentejo e o Algarve e

que parece ter sido gizada do interior alentejano para o litoral algarvio e daqui ao longo da

costa portuguesa em sentido ascendente Aleacutem da sua experiecircncia enquanto soldado e

com conhecimento do terreno que aliaacutes revela nas Cartas do Algarve (particularmente para

Castro Marim Faro e Lagos desenhando linhas de aacutegua indicando a natureza do solo)

sabemos tambeacutem da importacircncia do seu trabalho de gabinete na capital que se revela nas

cartas datadas todas supostamente elaboradas em Lisboa

Esta documentaccedilatildeo deveraacute ver o seu valor confirmado tanto por questotildees de actualizaccedilatildeo

ao niacutevel cientiacutefico como por questotildees mais praacuteticas e que se prendem nomeadamente

com intervenccedilotildees no terreno especialmente de cariz arqueoloacutegico A representaccedilatildeo dos

siacutetios de Mateus do Couto eacute distinta da de quem o antecedeu e da de quem lhe sucedeu

(devido tambeacutem agrave distacircncia cronoloacutegica em relaccedilatildeo a Alexandre Massai por exemplo) e

sabemos da importacircncia da mesma a niacutevel patrimonial

A relaccedilatildeo da Geografia com a Histoacuteria

A Geografia tem como objectivo principal o estudo da interacccedilatildeo do homem com o territoacuterio

numa perspectiva dinacircmica que apela aos conhecimentos das ciecircncias da terra e das

ciecircncias sociais e humanas O caraacutecter multidisciplinar da geografia permite o

estabelecimento de uma visatildeo de conjunto da superfiacutecie terrestre e o desenvolvimento de

conhecimentos e instrumentos de anaacutelise integradores e indispensaacuteveis para a formulaccedilatildeo

de poliacuteticas e para o ordenamento e gestatildeo do territoacuterio

O estudo da relaccedilatildeo reciacuteproca entre o homem e o espaccedilo geograacutefico onde as suas

actividades se desenrolam implica o conhecimento da evoluccedilatildeo desta relaccedilatildeo a vaacuterias

escalas temporais e espaciais soacute possiacuteveis de avaliar com os conhecimentos fornecidos por

ciecircncias como a histoacuteria e a cartografia para aleacutem de outras de natureza fiacutesica e

socioeconoacutemica Em suma um dos temas centrais da geografia eacute a relaccedilatildeo do homem com

o meio fiacutesico O meio fiacutesico entendido como as forccedilas que geram e moldam o espaccedilo

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

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Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Abstract

The modern period in Europe was characterized by the circulation of masters and ideas in several areas of knowledge The architecture and the engineering particularly the military engineering were determinative fields in this perspective and in Portugal it is registered the presence of Italians Flemish Frenchmen between others with a clear influence in the creation and execution in this field that were determinants to the formation of national masters in military Portuguese architecture shaped in a space that exceeds the geographical context of Portugal If in the land plan the XVII century meant the reinforcement of the frontiers because of political raisons we also have new plans of defence for the coast in case of the Algarve numerous projects and proposals appeared It is from one of these proposals signed by Mateus do Couto in 1686 which makes part of the documentary estate of the Public Library of Evora which we intend to test the canonical acceptance of the rules of fortifying between the lee and the windward from the Algarve This proposal bequeathed at the same time excellent evidences of the region particularly at the level of landscape and occupation of soils The present work must be understood in a multidisciplinary approach between areas as Geography Drawing and using also the Geographical Information System Tools The location and the preservation of some of this built inheritance with others indicators are useful to understand is according the actual model of the coastal dynamic of the region

Key-words ndashndash MMaatteeuuss ddoo CCoouuttoo AAllggaarrvvee MMiilliittaarryy eennggiinneeeerriinngg ccooaassttaall mmoorrpphhoollooggyy bbuuiilltt IInnhheerriittaannccee

O periacuteodo moderno e as fortificaccedilotildees abaluartadas em Portugal

Portugal nos iniacutecios do periacuteodo moderno conheceu diversas iniciativas a propoacutesito da

confirmaccedilatildeo fronteiriccedila Destacam-se os trabalhos de Duarte drsquoArmas em 1509 por

mandado de D Manuel onde confirmou os pontos de defesa da fronteira seca Sublinhamos

neste trabalho o rigorismo do Autor em relaccedilatildeo aos elementos militares (torres de menagem

e as barbacatildes atalaias e guaritas instalaccedilotildees da guarniccedilatildeo e do alcaide zonas de acesso

seteiras e cisternas entre outros) preocupando-se em os levantar situar e descrever bem

como em relaccedilatildeo agrave presenccedila de elementos do quotidiano das populaccedilotildees hoje

imprescindiacuteveis para a anaacutelise histoacuterica (zonas de bosques e zonas cultivadas linhas de

aacutegua e pontes moinhos igrejas e conventos cruzeiros cemiteacuterios)

A niacutevel europeu particularmente em Itaacutelia a aposta era na adaptaccedilatildeo das construccedilotildees

fortificadas ao uso da artilharia surgindo o novo baluarte poligonal que revolucionaria a

concepccedilatildeo das fortalezas durante o segundo quartel do seacuteculo XVI Benedetto de Ravenna

foi em Portugal um dos principais responsaacuteveis pela difusatildeo das ideias italianas A partir de

meados deste seacuteculo (XVI) assistimos agrave multiplicaccedilatildeo de planos de fortificaccedilatildeo de diversas

cidades europeias Propotildeem-se muralhas abaluartadas para protecccedilatildeo dos burgos tendo

como ideia base a de que a protecccedilatildeo (defesa) ideal era a assegurada por planta

hexagonal mais cara que as demais embora muitas vezes os acidentes de terreno

obrigassem a optar pela planta pentagonal Muitas destas fortificaccedilotildees apresentam planos

de transiccedilatildeo nomeadamente com a presenccedila de baluartes redondos ainda que adaptados

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agrave artilharia Esta mudanccedila construtiva corporizou-se em todo o espaccedilo portuguecircs no

continente e aleacutem-mar como entre noacutes estaacute particularmente bem estudado (Moreira 1988

1989 2001) Este foi tambeacutem o periacuteodo do reconhecimento da importacircncia votada agrave

Arquitectura Militar indissociaacutevel da Arte Militar

(hellip) E a Architectura Militar he tatildeo necessaacuteria q sem ella natildeo seraacute possiacutevel fazer guerra porque em todas se fazem alojamentos trincheiras amp mais reparos amp em todas as proviacutencias he necessaacuterio auer fortificaccedilotildees nos lugares conuenientes amp assi natildeo poderaacute nenhum exercito sem ella durar muito tempo em campanha nem hua prouincia conseruarse E natildeo soacute he arte pertencente agrave Militar mas hua parte della sem a qual natildeo pode auer Arte Militar pois ella he o principal subjeito das duas partes que se seguem depois desta primeira (hellip)

1

Em Portugal o periacuteodo da guerra da Restauraccedilatildeo (1641-1668) significou o reforccedilo da raia

terrestre (sendo o litoral alvo de atenccedilatildeo muito mais tarde ou ficando os projectos para ele

desenhados por concretizar ou concretizados mais tardiamente) baseado no reforccedilo da

rede medieval fortificada e nem sempre significou uma profunda reformulaccedilatildeo no sistema

defensivo Poreacutem uma nova atitude perante a importacircncia do reforccedilo defensivo germinaria

com a subida ao trono de D Joatildeo IV logo em Dezembro de 1640 Efectivamente foram

criados na altura o Conselho de Guerra e a Junta de Fronteiras com funccedilotildees bem definidas

no sentido de inspeccionar e tratar toda a mateacuteria relativa agraves fortificaccedilotildees O Conselho e a

Junta agiam numa nova geografia poliacutetica administrativa mas tambeacutem militar ao serem

criadas seis proviacutencias militares cada uma com seu governador sendo o Alentejo a maior

delas com mais de vinte e seis mil quiloacutemetros quadrados

Apesar de serem a mais impressionante fonte de despesas do Estado esgotando em 1641

60 das suas proacuteprias receitas satildeo uma parcela pouco estudada do patrimoacutenio portuguecircs

da altura Estas intervenccedilotildees foram sinoacutenimo de exigecircncia ao niacutevel construtivo implicando o

conhecimento de novas teacutecnicas e taacutecticas militares Aqui se insere a figura de Luiacutes Serratildeo

Pimentel autor do Methodo Lusitano estando a seu cargo desde 1647 a Aula de

Fortificaccedilatildeo e Arquitectura Militar para a formaccedilatildeo de engenheiros militares numa altura em

que quem trabalhava nas fortificaccedilotildees eram maioritariamente engenheiros estrangeiros

Serratildeo Pimentel inspirava-se basicamente sob o ponto de vista teoacuterico em Adam Freitag

Mathias Dogen Goldman Marolois Coheorn e Stevin sendo que ao niacutevel praacutetico convivia

com esses mesmos estrangeiros estabelecidos agrave eacutepoca em Portugal

1 Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora Novo Reservado 1476 Arte Militar 1612

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(hellip) Trago varias regras novas amp facillimas com que summamente se facilitatildeo as mediccediloens das muralhas amp outras ategravegora natildeo vistas nem excogitadas para se orsar quanto merece cada braccedila conforme ficar elevada no plano do terreno fundo ou Fosso ou alicerse ainda que o preccedilo seja geral de hum tanto por cada hua ateacute toda a altura que se contrattou que hua muralha havia de subir por evitar os enganos que nesta parte se faziatildeo(hellip) O fim com que escrevi esta obra ultima de alguas que tenho composto he para que fique noticia conservada entre nos amp possamos ter Engenheiros naturaes havendo por onde apprendatildeo a Sciencia pois ainda que a experiencia he muito necessaacuteria para a practica com tudo os que nesta entratildeo com liccedilatildeo faacutecil amp brevemente se fazem destros assim nas cousas que viratildeo obrar como nas que natildeo viratildeo porque a noticia da liccedilatildeo os habilita de huas para as outras o que natildeo succede naquelles que somente por experiencia sem preceder liccedilatildeo ou doutrina fundada se metem a obrar (hellip) pello que nem sograve a sciencia nem sograve a experiencia bastatildeo hua amp outra satildeo necessaacuterias para formar

hum bom Engenheiro (hellip)2

Este ideal de formaccedilatildeo dos engenheiros militares de nacionalidade portuguesa entende-se

num contexto em que as fortalezas deste periacuteodo eram concebidas maioritariamente por

engenheiros europeus (franceses italianos e dos Paiacuteses Baixos) alguns deles jaacute na

Peniacutensula ao serviccedilo dos Filipes e cujo trabalho reflectia o abandono do modelo italiano a

favor dos modelos noacuterdicos (escolas holandesa e alematilde) com fortificaccedilotildees desenhadas

para o interior dos poliacutegonos perfis escalonados em taludes adaptados aos terrenos

regresso de guaritas angulares abundacircncia de obras externas elevando o niacutevel cientiacutefico

da fortificaccedilatildeo Sublinhamos ainda que ao trabalho da engenharia e da arquitectura militares

natildeo pode ser alheia a questatildeo do levantamento topograacutefico a concepccedilatildeo da fortificaccedilatildeo

dependia de um trabalho jaacute existente a esse niacutevel ou implicava o levantamento propriamente

dito daiacute a relaccedilatildeo entre a cartografia do Portugal de Seiscentos e a engenharia militar

Temos tambeacutem que muitos dos projectos efectuados se satildeo valiosos na perspectiva militar

natildeo o satildeo tanto do ponto de vista cartograacutefico (ausecircncia de detalhes do terreno)

Durante o largo periacuteodo de conflito entre Portugal e a Espanha (1640-1668) muitos destes

engenheiros trabalharam para os dois reinos (Langres P Santa Colomba Cosmander)

sendo que alguns engenheiros militares portugueses comeccedilavam tambeacutem a desenvolver

trabalho nesta Proviacutencia como foi o caso de Mateus do Couto (sobrinho) Aliaacutes esta

arquitectura teve em Portugal um papel de vanguarda quando o decliacutenio dos Filipes como

jaacute apontaacutemos natildeo significou o debandar de c de 100 engenheiros europeus (franceses

flamengos italianos holandeses suecos e ingleses) que em Portugal se mantiveram

Assim 1640 ditou a fortificaccedilatildeo da raia terrestre guarnecendo o litoral apenas de baterias

2 Luiacutes Serratildeo Pimentel Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das praccedilas

regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

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com fins de vigilacircncia e defesa restrita (alcanccedilada a paz com a Holanda e dado o estado

desgastado da marinha espanhola) A substituiccedilatildeo da barragem de fogo das fortalezas por

uma sucessatildeo de pequenos pontos fortificados segundo a mobilidade taacutectica barroca

explica a falta de interesse pelas grandes fortalezas do litoral o forte da Ponta da Bandeira

no Algarve edificado em Lagos em 1679 na praia junto ao castelo por Inaacutecio Pereira eacute um

simples quadrado com terraccedilo alto virado ao mar e canhoeiras (as guaritas satildeo recentes) O

Algarve crucial no seacuteculo XVI e que no periacuteodo filipino conhecera ainda fortificaccedilotildees

tornou-se uma aacuterea marginal pouco se concretizando dos projectos de vaacuterios engenheiros

sendo o estado das suas fortificaccedilotildees durante a guerra da Restauraccedilatildeo muito lamentaacutevel

Mateus do Couto (c 1630-1696)

Na Histoacuteria da Arquitectura e Engenharia Militares em Portugal temos duas personagens

denominadas como Mateus do Couto que tinham entre si uma relaccedilatildeo familiar (eram tio e

sobrinho) Uma das primeiras referecircncias documentais a este nome e apelido no domiacutenio

que apontaacutemos surge em 1617 enquanto olheiro e apontador do mosteiro de Santos e que

conheceu diversos ofiacutecios em 1629 foi nomeado arquitecto das ordens militares em 1634

era arquitecto do Santo Ofiacutecio sendo nomeado em 1643 para assistente das obras do forte

de S Lourenccedilo da Cabeccedila Seca e mais fortalezas da barra de Lisboa e 3 anos depois foi

nomeado como arquitecto de Lisboa encarregado de fazer uma vistoria agraves portas e

muralhas da cidade Trata-se de Mateus do Couto tio e que faleceu c de 1664 sem filhos

sucedendo-lhe um seu sobrinho homoacutenimo que foi nomeado para lhe suceder em 1669

como arquitecto das ordens militares

Entre 1647 e 1678 Mateus do Couto sobrinho prestou muitos serviccedilos agrave Coroa arquitecto

e engenheiro do rei mestre assistente das fortificaccedilotildees da barra entre outros Em 1669

alcanccedilou o Alvaraacute de mercecirc para mantimento do ordenado anual de 80$000 reacuteis enquanto

Arquitecto das obras das Ordens religiosas em 1679 recebeu 12$000 reacuteis de tenccedila com o

haacutebito de Cristo Veio a morrer em 1696 Alguns anos antes em 1679 D Pedro II

reconhecera-lhe os seus serviccedilos sumariando-os entre 1647 e 1678 da seguinte forma

ldquo() no ministeacuterio das fortificaccedilotildees das marinhas desta Cocircrte e Estremadura fortes da

costa praccedila de Cascaes Setuval Santarem Abrantes Pinhel Brelenga fortes da barra e

fortificaccedilatildeo de Lisboa praccedilas da proviacutencia do Alentejo e outras do reino (hellip)rdquo3

Arquitecto real e engenheiro militar eacute apontado por alguns estudiosos como um dos

predilectos de D Pedro II (Carvalho 1977) foi seu sucessor o arquitecto Joatildeo Antunes e

3 Sousa Viterbo Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e Constructores

Portugueses Lisboa Vol I p 258

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enquanto seu disciacutepulo destacou-se um seu sobrinho Manuel do Couto Poreacutem os seus

trabalhos natildeo se limitam agrave arquitectura militar uma vez que tambeacutem apresentou propostas

nas aacutereas da arquitectura civil e religiosa assim aleacutem de ter trabalhado acerca do Algarve

na deacutecada de 80 seacuteculo XVII juntamente com Pedro Correia Rebelo Mateus do Couto foi

ainda

(hellip) valoroso soldado engenheiro e arquitecto militar foi um dos mais prodigiosos construtores de palaacutecios e igreja do uacuteltimo quartel do seacuteculo XVII (desde a segunda igreja de Santa Engraacutecia desmoronada em 1681 agraves Francesinhas ou a Santa Clara de Coimbra)(hellip) [teve pois] uma muacuteltipla actividade arquitectoacutenica natildeo soacute em obras reais mas tambeacutem para a Companhia de Jesus podendo-se

aventar a hipoacutetese da sua intervenccedilatildeo em tantas igrejas do Brasil (hellip)4

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

Pretendendo contribuir para o conhecimento das diversas propostas defensivas que

conheceu a costa algarvia mateacuteria sobre a qual diversos estudos tecircm sido publicados e

seguindo a obra de Mateus do Couto sobrinho no que respeita agrave arquitectura Militar

procuraacutemos compreender comparar e contextualizar um conjunto de Cartas por ele

assinadas e que localizaacutemos na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

A Pasta conteacutem 27 Cartas intituladas no primeiro foacutelio como Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve em papel com marca de aacutegua aguareladas referindo-se a fortes fortificaccedilotildees

convento e fortificaccedilatildeo seguindo uma loacutegica depois de uma representaccedilatildeo da costa

algarvia de sotavento para o barlavento As Cartas estatildeo assinadas sendo ainda que em

duas delas o desenho se encontra datado eacute o caso da fortificaccedilatildeo de Sagres datada de 10

de Junho de1686 feita em Lisboa e da de Castro Marim que indica apenas o mecircs e o ano

(Junho 1686)

A dimensatildeo das Cartas eacute em geral de 5843cm (as excepccedilotildees satildeo a carta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim com 102107m o desenho da costa algarvia com 058126m a carta da

fortificaccedilatildeo de Faro com 114113m a da cidade de Lagos com 8858cm e a carta da

fortificaccedilatildeo de Sagres com 115043m) sendo indicadas diferentes escalas o petipeacute eacute

indicado em varas braccedilas de 10 palmos em braccedilas em palmos e em palmos craveiros

Em algumas das Cartas estaacute presente o carimbo da instituiccedilatildeo a que pertencem Biblioteca

Puacuteblica de Eacutevora sendo que na primeira delas (Desenho de toda a costa) conteacutem uma data

possivelmente a da incorporaccedilatildeo da peccedila no espoacutelio da Biblioteca 18 de Julho de 1941

4 Ayres de Carvalho ldquoIntroduccedilatildeordquo In Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Na Biblioteca Nacional de

Lisboa encontram-se as plantas da Igreja e Coleacutegio da Companhia de Jesus de Portalegre 1678 p XIII

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Procuraacutemos atraveacutes do registo de incorporaccedilotildees existente no Arquivo Distrital de Eacutevora

localizar a desta peccedila tanto em termos do tipo de incorporaccedilatildeo (compra doaccedilatildeohellip) como

da pessoa ou instituiccedilatildeo por isso responsaacutevel tarefa que natildeo deu qualquer fruto Em suma

a peccedila existe natildeo se sabe quando passou a fazer parte do espoacutelio da Biblioteca nem

quem ou que instituiccedilatildeo a fez a ela chegar

De acordo com a sua sequecircncia na Pasta e respeitando ainda as marcas da encadernaccedilatildeo

temos a seguinte listagem dos desenhos Desenho da costa algarvia Planta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim (datado 1686) Castelo de Cacela Forte de S Joatildeo Tavira Forte de S

Lourenccedilo Faro Fortificaccedilatildeo da cidade de Faro Forte de Santo Antoacutenio de Quarteira

Albufeira Forte de Santo Antoacutenio de Pecircra Forte de Nossa Senhora da Rocha Forte de

Nossa Senhora da Encarnaccedilatildeo do Cabo Carvoeiro Forte de S Joatildeo na barra de Vila Nova

de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Portimatildeo Castelo da Vila de Alvor Forte de S Joseacute

da Meia Praia Lagos Ponta da Bandeyra na ribeira da cidade de Lagos Forte do Pinhatildeo

junto agrave cidade de Lagos Forte de Nossa Senhora da Luz Forte de S Luiacutes de Almadena

Forte da Vera Cruz da Figueira Forte de Santo Inaacutecio do Azevial Forte de Nordf Srordf da Guia

da Baleyra Planta da fortificaccedilatildeo de Sagres (Lisboa 10 Junho 1686) Convento e

fortificaccedilatildeo do Cabo de S Vicente Forte de Nordf Srordf da Conceiccedilatildeo no lugar da Carrapateira

Forte da Arrifana

O conjunto documental apresentado eacute uma proposta de Mateus do Couto Se eacute certo que

este trabalho vem na senda de outros similares de que destacamos o de Alexandre Massai

autor da obra Descripccedilatildeo do Reino do Algarve (em que faz um relatoacuterio sequente ao

levantamento que efectuou a partir de 1617 e concluiacutedo em 1621) outros se lhe seguiram

para a mesma regiatildeo como o trabalho de Joseacute de Sande de Vasconcelos mas jaacute para o

seacuteculo XVIII

Tentaacutemos compreender a sua importacircncia documental sobretudo em termos de ser peccedila

original e uacutenica do Autor Os nossos esforccedilos direccionaram-se sobretudo para a Torre do

Tombo para a Biblioteca Nacional de Portugal para a Biblioteca Nacional de Espanha e

para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo) aleacutem da necessaacuteria pesquisa no

Portugaliae Monumenta Cartographica Nesta uacuteltima obra os trabalhos de Mateus do Couto

sobrinho satildeo referidos apenas para a zona geograacutefica entre Leiria e Vila Nova de Milfontes

constando os desenhos do espoacutelio da Casa Cadaval cota M-VII-25 829 Em nenhuma das

outras Bibliotecas mencionadas encontraacutemos ateacute agora qualquer referecircncia a esta

proposta de arquitectura militar para a costa algarvia de Mateus do Couto (e diga-se

poucas ou nulas conforme as instituiccedilotildees agraves outras enquanto arquitecto civil e religioso)

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Foi apenas na Torre do Tombo que tivemos oportunidade de nos Arquivos da Casa

Cadaval encontrar de alguma forma uma ligaccedilatildeo com o material encontrado em Eacutevora

Temos na Torre do Tombo quatro pastas com as seguintes cota e sequecircncia

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta vermelha) contendo do desenho 1 ao 2524 alguns

desenhos satildeo assinados por Joatildeo Roiz de Mouro em 1693 (Milfontes Sines Palmela Torre

de Beleacutem Santo Amaro) que assinala engenheiros seus antecessores como Difur

Francisco Pimentel e Mateus do Couto Este uacuteltimo nesta pasta assina os desenhos 1617

(Torre do Bugio) apresentando um traccedilo muito similar ao seu a fortaleza de S Sebastiatildeo as

plataformas dos Aacutelamos e da Junqueira o reduto de S Pedro de Beleacutem a torre de Beleacutem (3

desenhos) o forte de S Pedro de Paccedilo drsquoArcos o forte de S Joatildeo das Maias (3 desenhos)

e a plataforma de Santo Amaro

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta amarela) contendo do desenho 2625 ao 5455 Nesta

pasta parece-nos que todos os desenhos pertencem a Mateus do Couto embora nem

todos estejam assinados datados entre Junho e Novembro de 1693 As assinaturas

quando existentes satildeo rigorosamente iguais agraves presentes nas Cartas de Eacutevora Assim

Mateus do Couto assina os desenhos da fortaleza de SJuliatildeo da Barra da cidadela de

Cascais os fortes do Magoito e da Ericeira de S Pedro de Milreco de Santa Susana do

Porto Novo de Nossa Senhora dos Anjos de Nossa Senhora da Consolaccedilatildeo (3 desenhos)

da vila e fortaleza de Peniche (4 desenhos) das fortalezas de S Francisco de Peniche de

Nordf Srordf da Nazareacute uma planta da ilha Berlenga e um conjunto de 7 desenhos que compotildeem

a Planta da Costa de Portugal desde a foz do Lis ateacute Vila Nova de Milfontes (veja-se aqui a

coincidecircncia com o que referem o Almirante Teixeira da Mota e Jaime Cortesatildeo) Desta

Pasta fazem ainda parte os desenhos dos fortes do Junqueiro de S Domingos de Rana de

Santo Antoacutenio de S Joatildeo da Cruz de Santo Antoacutenio de S Teodoacutezio de Santo Antoacutenio de

S Roque dos Inocentes de Santa Catarina junto a Cascais de Santa Marta de Nordf Srordf da

Guia de S Jorge de Sanchete de S Jorge de baixo do Guincho e da Roca

- PT-TT-CCDV29 nordm 29 (2 pastas a verde e a preta) Os conteuacutedos destas duas pastas

podem ser consultados e visualizados no site da Direcccedilatildeo Geral de Arquivos com

descriccedilotildees da costa portuguesa desde o rio Minho ao Guadiana algumas plantas de

fortalezas da costa algarvia da costa alentejana de Setuacutebal e seu porto da barra de Lisboa

plantas de Argel Larache Mazagatildeo entre outras Algumas satildeo atribuiacutedas a Filipe Tersio e

ao capitatildeo Fratino outras assinadas por Leonardo Turriano e Alexandre Massai (4 desenhos

para Portimatildeo) entre outros sem constar Mateus do Couto

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Esta documentaccedilatildeo encontrada na Torre do Tombo e no que respeita a desenhos

assinados por Mateus do Couto permite-nos sugerir que as Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve que existem na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora antecederam em c de sete anos os

desenhos que o Autor apresentou para a costa portuguesa (entre a foz do Lis e Vila Nova de

Milfontes) e para os fortes e fortalezas na zona de LisboaCascaisPeniche Trata-se de uma

fase da sua carreira que repartiu entre a arquitectura civil e religiosa (esta uacuteltima

possivelmente numa fase mais inicial de finais da deacutecada de 70 do seacuteculo XVII) e a

arquitectura militar tambeacutem ela geograficamente localizada entre o Alentejo e o Algarve e

que parece ter sido gizada do interior alentejano para o litoral algarvio e daqui ao longo da

costa portuguesa em sentido ascendente Aleacutem da sua experiecircncia enquanto soldado e

com conhecimento do terreno que aliaacutes revela nas Cartas do Algarve (particularmente para

Castro Marim Faro e Lagos desenhando linhas de aacutegua indicando a natureza do solo)

sabemos tambeacutem da importacircncia do seu trabalho de gabinete na capital que se revela nas

cartas datadas todas supostamente elaboradas em Lisboa

Esta documentaccedilatildeo deveraacute ver o seu valor confirmado tanto por questotildees de actualizaccedilatildeo

ao niacutevel cientiacutefico como por questotildees mais praacuteticas e que se prendem nomeadamente

com intervenccedilotildees no terreno especialmente de cariz arqueoloacutegico A representaccedilatildeo dos

siacutetios de Mateus do Couto eacute distinta da de quem o antecedeu e da de quem lhe sucedeu

(devido tambeacutem agrave distacircncia cronoloacutegica em relaccedilatildeo a Alexandre Massai por exemplo) e

sabemos da importacircncia da mesma a niacutevel patrimonial

A relaccedilatildeo da Geografia com a Histoacuteria

A Geografia tem como objectivo principal o estudo da interacccedilatildeo do homem com o territoacuterio

numa perspectiva dinacircmica que apela aos conhecimentos das ciecircncias da terra e das

ciecircncias sociais e humanas O caraacutecter multidisciplinar da geografia permite o

estabelecimento de uma visatildeo de conjunto da superfiacutecie terrestre e o desenvolvimento de

conhecimentos e instrumentos de anaacutelise integradores e indispensaacuteveis para a formulaccedilatildeo

de poliacuteticas e para o ordenamento e gestatildeo do territoacuterio

O estudo da relaccedilatildeo reciacuteproca entre o homem e o espaccedilo geograacutefico onde as suas

actividades se desenrolam implica o conhecimento da evoluccedilatildeo desta relaccedilatildeo a vaacuterias

escalas temporais e espaciais soacute possiacuteveis de avaliar com os conhecimentos fornecidos por

ciecircncias como a histoacuteria e a cartografia para aleacutem de outras de natureza fiacutesica e

socioeconoacutemica Em suma um dos temas centrais da geografia eacute a relaccedilatildeo do homem com

o meio fiacutesico O meio fiacutesico entendido como as forccedilas que geram e moldam o espaccedilo

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

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BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

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em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

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VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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agrave artilharia Esta mudanccedila construtiva corporizou-se em todo o espaccedilo portuguecircs no

continente e aleacutem-mar como entre noacutes estaacute particularmente bem estudado (Moreira 1988

1989 2001) Este foi tambeacutem o periacuteodo do reconhecimento da importacircncia votada agrave

Arquitectura Militar indissociaacutevel da Arte Militar

(hellip) E a Architectura Militar he tatildeo necessaacuteria q sem ella natildeo seraacute possiacutevel fazer guerra porque em todas se fazem alojamentos trincheiras amp mais reparos amp em todas as proviacutencias he necessaacuterio auer fortificaccedilotildees nos lugares conuenientes amp assi natildeo poderaacute nenhum exercito sem ella durar muito tempo em campanha nem hua prouincia conseruarse E natildeo soacute he arte pertencente agrave Militar mas hua parte della sem a qual natildeo pode auer Arte Militar pois ella he o principal subjeito das duas partes que se seguem depois desta primeira (hellip)

1

Em Portugal o periacuteodo da guerra da Restauraccedilatildeo (1641-1668) significou o reforccedilo da raia

terrestre (sendo o litoral alvo de atenccedilatildeo muito mais tarde ou ficando os projectos para ele

desenhados por concretizar ou concretizados mais tardiamente) baseado no reforccedilo da

rede medieval fortificada e nem sempre significou uma profunda reformulaccedilatildeo no sistema

defensivo Poreacutem uma nova atitude perante a importacircncia do reforccedilo defensivo germinaria

com a subida ao trono de D Joatildeo IV logo em Dezembro de 1640 Efectivamente foram

criados na altura o Conselho de Guerra e a Junta de Fronteiras com funccedilotildees bem definidas

no sentido de inspeccionar e tratar toda a mateacuteria relativa agraves fortificaccedilotildees O Conselho e a

Junta agiam numa nova geografia poliacutetica administrativa mas tambeacutem militar ao serem

criadas seis proviacutencias militares cada uma com seu governador sendo o Alentejo a maior

delas com mais de vinte e seis mil quiloacutemetros quadrados

Apesar de serem a mais impressionante fonte de despesas do Estado esgotando em 1641

60 das suas proacuteprias receitas satildeo uma parcela pouco estudada do patrimoacutenio portuguecircs

da altura Estas intervenccedilotildees foram sinoacutenimo de exigecircncia ao niacutevel construtivo implicando o

conhecimento de novas teacutecnicas e taacutecticas militares Aqui se insere a figura de Luiacutes Serratildeo

Pimentel autor do Methodo Lusitano estando a seu cargo desde 1647 a Aula de

Fortificaccedilatildeo e Arquitectura Militar para a formaccedilatildeo de engenheiros militares numa altura em

que quem trabalhava nas fortificaccedilotildees eram maioritariamente engenheiros estrangeiros

Serratildeo Pimentel inspirava-se basicamente sob o ponto de vista teoacuterico em Adam Freitag

Mathias Dogen Goldman Marolois Coheorn e Stevin sendo que ao niacutevel praacutetico convivia

com esses mesmos estrangeiros estabelecidos agrave eacutepoca em Portugal

1 Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora Novo Reservado 1476 Arte Militar 1612

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(hellip) Trago varias regras novas amp facillimas com que summamente se facilitatildeo as mediccediloens das muralhas amp outras ategravegora natildeo vistas nem excogitadas para se orsar quanto merece cada braccedila conforme ficar elevada no plano do terreno fundo ou Fosso ou alicerse ainda que o preccedilo seja geral de hum tanto por cada hua ateacute toda a altura que se contrattou que hua muralha havia de subir por evitar os enganos que nesta parte se faziatildeo(hellip) O fim com que escrevi esta obra ultima de alguas que tenho composto he para que fique noticia conservada entre nos amp possamos ter Engenheiros naturaes havendo por onde apprendatildeo a Sciencia pois ainda que a experiencia he muito necessaacuteria para a practica com tudo os que nesta entratildeo com liccedilatildeo faacutecil amp brevemente se fazem destros assim nas cousas que viratildeo obrar como nas que natildeo viratildeo porque a noticia da liccedilatildeo os habilita de huas para as outras o que natildeo succede naquelles que somente por experiencia sem preceder liccedilatildeo ou doutrina fundada se metem a obrar (hellip) pello que nem sograve a sciencia nem sograve a experiencia bastatildeo hua amp outra satildeo necessaacuterias para formar

hum bom Engenheiro (hellip)2

Este ideal de formaccedilatildeo dos engenheiros militares de nacionalidade portuguesa entende-se

num contexto em que as fortalezas deste periacuteodo eram concebidas maioritariamente por

engenheiros europeus (franceses italianos e dos Paiacuteses Baixos) alguns deles jaacute na

Peniacutensula ao serviccedilo dos Filipes e cujo trabalho reflectia o abandono do modelo italiano a

favor dos modelos noacuterdicos (escolas holandesa e alematilde) com fortificaccedilotildees desenhadas

para o interior dos poliacutegonos perfis escalonados em taludes adaptados aos terrenos

regresso de guaritas angulares abundacircncia de obras externas elevando o niacutevel cientiacutefico

da fortificaccedilatildeo Sublinhamos ainda que ao trabalho da engenharia e da arquitectura militares

natildeo pode ser alheia a questatildeo do levantamento topograacutefico a concepccedilatildeo da fortificaccedilatildeo

dependia de um trabalho jaacute existente a esse niacutevel ou implicava o levantamento propriamente

dito daiacute a relaccedilatildeo entre a cartografia do Portugal de Seiscentos e a engenharia militar

Temos tambeacutem que muitos dos projectos efectuados se satildeo valiosos na perspectiva militar

natildeo o satildeo tanto do ponto de vista cartograacutefico (ausecircncia de detalhes do terreno)

Durante o largo periacuteodo de conflito entre Portugal e a Espanha (1640-1668) muitos destes

engenheiros trabalharam para os dois reinos (Langres P Santa Colomba Cosmander)

sendo que alguns engenheiros militares portugueses comeccedilavam tambeacutem a desenvolver

trabalho nesta Proviacutencia como foi o caso de Mateus do Couto (sobrinho) Aliaacutes esta

arquitectura teve em Portugal um papel de vanguarda quando o decliacutenio dos Filipes como

jaacute apontaacutemos natildeo significou o debandar de c de 100 engenheiros europeus (franceses

flamengos italianos holandeses suecos e ingleses) que em Portugal se mantiveram

Assim 1640 ditou a fortificaccedilatildeo da raia terrestre guarnecendo o litoral apenas de baterias

2 Luiacutes Serratildeo Pimentel Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das praccedilas

regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

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com fins de vigilacircncia e defesa restrita (alcanccedilada a paz com a Holanda e dado o estado

desgastado da marinha espanhola) A substituiccedilatildeo da barragem de fogo das fortalezas por

uma sucessatildeo de pequenos pontos fortificados segundo a mobilidade taacutectica barroca

explica a falta de interesse pelas grandes fortalezas do litoral o forte da Ponta da Bandeira

no Algarve edificado em Lagos em 1679 na praia junto ao castelo por Inaacutecio Pereira eacute um

simples quadrado com terraccedilo alto virado ao mar e canhoeiras (as guaritas satildeo recentes) O

Algarve crucial no seacuteculo XVI e que no periacuteodo filipino conhecera ainda fortificaccedilotildees

tornou-se uma aacuterea marginal pouco se concretizando dos projectos de vaacuterios engenheiros

sendo o estado das suas fortificaccedilotildees durante a guerra da Restauraccedilatildeo muito lamentaacutevel

Mateus do Couto (c 1630-1696)

Na Histoacuteria da Arquitectura e Engenharia Militares em Portugal temos duas personagens

denominadas como Mateus do Couto que tinham entre si uma relaccedilatildeo familiar (eram tio e

sobrinho) Uma das primeiras referecircncias documentais a este nome e apelido no domiacutenio

que apontaacutemos surge em 1617 enquanto olheiro e apontador do mosteiro de Santos e que

conheceu diversos ofiacutecios em 1629 foi nomeado arquitecto das ordens militares em 1634

era arquitecto do Santo Ofiacutecio sendo nomeado em 1643 para assistente das obras do forte

de S Lourenccedilo da Cabeccedila Seca e mais fortalezas da barra de Lisboa e 3 anos depois foi

nomeado como arquitecto de Lisboa encarregado de fazer uma vistoria agraves portas e

muralhas da cidade Trata-se de Mateus do Couto tio e que faleceu c de 1664 sem filhos

sucedendo-lhe um seu sobrinho homoacutenimo que foi nomeado para lhe suceder em 1669

como arquitecto das ordens militares

Entre 1647 e 1678 Mateus do Couto sobrinho prestou muitos serviccedilos agrave Coroa arquitecto

e engenheiro do rei mestre assistente das fortificaccedilotildees da barra entre outros Em 1669

alcanccedilou o Alvaraacute de mercecirc para mantimento do ordenado anual de 80$000 reacuteis enquanto

Arquitecto das obras das Ordens religiosas em 1679 recebeu 12$000 reacuteis de tenccedila com o

haacutebito de Cristo Veio a morrer em 1696 Alguns anos antes em 1679 D Pedro II

reconhecera-lhe os seus serviccedilos sumariando-os entre 1647 e 1678 da seguinte forma

ldquo() no ministeacuterio das fortificaccedilotildees das marinhas desta Cocircrte e Estremadura fortes da

costa praccedila de Cascaes Setuval Santarem Abrantes Pinhel Brelenga fortes da barra e

fortificaccedilatildeo de Lisboa praccedilas da proviacutencia do Alentejo e outras do reino (hellip)rdquo3

Arquitecto real e engenheiro militar eacute apontado por alguns estudiosos como um dos

predilectos de D Pedro II (Carvalho 1977) foi seu sucessor o arquitecto Joatildeo Antunes e

3 Sousa Viterbo Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e Constructores

Portugueses Lisboa Vol I p 258

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enquanto seu disciacutepulo destacou-se um seu sobrinho Manuel do Couto Poreacutem os seus

trabalhos natildeo se limitam agrave arquitectura militar uma vez que tambeacutem apresentou propostas

nas aacutereas da arquitectura civil e religiosa assim aleacutem de ter trabalhado acerca do Algarve

na deacutecada de 80 seacuteculo XVII juntamente com Pedro Correia Rebelo Mateus do Couto foi

ainda

(hellip) valoroso soldado engenheiro e arquitecto militar foi um dos mais prodigiosos construtores de palaacutecios e igreja do uacuteltimo quartel do seacuteculo XVII (desde a segunda igreja de Santa Engraacutecia desmoronada em 1681 agraves Francesinhas ou a Santa Clara de Coimbra)(hellip) [teve pois] uma muacuteltipla actividade arquitectoacutenica natildeo soacute em obras reais mas tambeacutem para a Companhia de Jesus podendo-se

aventar a hipoacutetese da sua intervenccedilatildeo em tantas igrejas do Brasil (hellip)4

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

Pretendendo contribuir para o conhecimento das diversas propostas defensivas que

conheceu a costa algarvia mateacuteria sobre a qual diversos estudos tecircm sido publicados e

seguindo a obra de Mateus do Couto sobrinho no que respeita agrave arquitectura Militar

procuraacutemos compreender comparar e contextualizar um conjunto de Cartas por ele

assinadas e que localizaacutemos na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

A Pasta conteacutem 27 Cartas intituladas no primeiro foacutelio como Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve em papel com marca de aacutegua aguareladas referindo-se a fortes fortificaccedilotildees

convento e fortificaccedilatildeo seguindo uma loacutegica depois de uma representaccedilatildeo da costa

algarvia de sotavento para o barlavento As Cartas estatildeo assinadas sendo ainda que em

duas delas o desenho se encontra datado eacute o caso da fortificaccedilatildeo de Sagres datada de 10

de Junho de1686 feita em Lisboa e da de Castro Marim que indica apenas o mecircs e o ano

(Junho 1686)

A dimensatildeo das Cartas eacute em geral de 5843cm (as excepccedilotildees satildeo a carta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim com 102107m o desenho da costa algarvia com 058126m a carta da

fortificaccedilatildeo de Faro com 114113m a da cidade de Lagos com 8858cm e a carta da

fortificaccedilatildeo de Sagres com 115043m) sendo indicadas diferentes escalas o petipeacute eacute

indicado em varas braccedilas de 10 palmos em braccedilas em palmos e em palmos craveiros

Em algumas das Cartas estaacute presente o carimbo da instituiccedilatildeo a que pertencem Biblioteca

Puacuteblica de Eacutevora sendo que na primeira delas (Desenho de toda a costa) conteacutem uma data

possivelmente a da incorporaccedilatildeo da peccedila no espoacutelio da Biblioteca 18 de Julho de 1941

4 Ayres de Carvalho ldquoIntroduccedilatildeordquo In Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Na Biblioteca Nacional de

Lisboa encontram-se as plantas da Igreja e Coleacutegio da Companhia de Jesus de Portalegre 1678 p XIII

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Procuraacutemos atraveacutes do registo de incorporaccedilotildees existente no Arquivo Distrital de Eacutevora

localizar a desta peccedila tanto em termos do tipo de incorporaccedilatildeo (compra doaccedilatildeohellip) como

da pessoa ou instituiccedilatildeo por isso responsaacutevel tarefa que natildeo deu qualquer fruto Em suma

a peccedila existe natildeo se sabe quando passou a fazer parte do espoacutelio da Biblioteca nem

quem ou que instituiccedilatildeo a fez a ela chegar

De acordo com a sua sequecircncia na Pasta e respeitando ainda as marcas da encadernaccedilatildeo

temos a seguinte listagem dos desenhos Desenho da costa algarvia Planta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim (datado 1686) Castelo de Cacela Forte de S Joatildeo Tavira Forte de S

Lourenccedilo Faro Fortificaccedilatildeo da cidade de Faro Forte de Santo Antoacutenio de Quarteira

Albufeira Forte de Santo Antoacutenio de Pecircra Forte de Nossa Senhora da Rocha Forte de

Nossa Senhora da Encarnaccedilatildeo do Cabo Carvoeiro Forte de S Joatildeo na barra de Vila Nova

de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Portimatildeo Castelo da Vila de Alvor Forte de S Joseacute

da Meia Praia Lagos Ponta da Bandeyra na ribeira da cidade de Lagos Forte do Pinhatildeo

junto agrave cidade de Lagos Forte de Nossa Senhora da Luz Forte de S Luiacutes de Almadena

Forte da Vera Cruz da Figueira Forte de Santo Inaacutecio do Azevial Forte de Nordf Srordf da Guia

da Baleyra Planta da fortificaccedilatildeo de Sagres (Lisboa 10 Junho 1686) Convento e

fortificaccedilatildeo do Cabo de S Vicente Forte de Nordf Srordf da Conceiccedilatildeo no lugar da Carrapateira

Forte da Arrifana

O conjunto documental apresentado eacute uma proposta de Mateus do Couto Se eacute certo que

este trabalho vem na senda de outros similares de que destacamos o de Alexandre Massai

autor da obra Descripccedilatildeo do Reino do Algarve (em que faz um relatoacuterio sequente ao

levantamento que efectuou a partir de 1617 e concluiacutedo em 1621) outros se lhe seguiram

para a mesma regiatildeo como o trabalho de Joseacute de Sande de Vasconcelos mas jaacute para o

seacuteculo XVIII

Tentaacutemos compreender a sua importacircncia documental sobretudo em termos de ser peccedila

original e uacutenica do Autor Os nossos esforccedilos direccionaram-se sobretudo para a Torre do

Tombo para a Biblioteca Nacional de Portugal para a Biblioteca Nacional de Espanha e

para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo) aleacutem da necessaacuteria pesquisa no

Portugaliae Monumenta Cartographica Nesta uacuteltima obra os trabalhos de Mateus do Couto

sobrinho satildeo referidos apenas para a zona geograacutefica entre Leiria e Vila Nova de Milfontes

constando os desenhos do espoacutelio da Casa Cadaval cota M-VII-25 829 Em nenhuma das

outras Bibliotecas mencionadas encontraacutemos ateacute agora qualquer referecircncia a esta

proposta de arquitectura militar para a costa algarvia de Mateus do Couto (e diga-se

poucas ou nulas conforme as instituiccedilotildees agraves outras enquanto arquitecto civil e religioso)

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Foi apenas na Torre do Tombo que tivemos oportunidade de nos Arquivos da Casa

Cadaval encontrar de alguma forma uma ligaccedilatildeo com o material encontrado em Eacutevora

Temos na Torre do Tombo quatro pastas com as seguintes cota e sequecircncia

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta vermelha) contendo do desenho 1 ao 2524 alguns

desenhos satildeo assinados por Joatildeo Roiz de Mouro em 1693 (Milfontes Sines Palmela Torre

de Beleacutem Santo Amaro) que assinala engenheiros seus antecessores como Difur

Francisco Pimentel e Mateus do Couto Este uacuteltimo nesta pasta assina os desenhos 1617

(Torre do Bugio) apresentando um traccedilo muito similar ao seu a fortaleza de S Sebastiatildeo as

plataformas dos Aacutelamos e da Junqueira o reduto de S Pedro de Beleacutem a torre de Beleacutem (3

desenhos) o forte de S Pedro de Paccedilo drsquoArcos o forte de S Joatildeo das Maias (3 desenhos)

e a plataforma de Santo Amaro

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta amarela) contendo do desenho 2625 ao 5455 Nesta

pasta parece-nos que todos os desenhos pertencem a Mateus do Couto embora nem

todos estejam assinados datados entre Junho e Novembro de 1693 As assinaturas

quando existentes satildeo rigorosamente iguais agraves presentes nas Cartas de Eacutevora Assim

Mateus do Couto assina os desenhos da fortaleza de SJuliatildeo da Barra da cidadela de

Cascais os fortes do Magoito e da Ericeira de S Pedro de Milreco de Santa Susana do

Porto Novo de Nossa Senhora dos Anjos de Nossa Senhora da Consolaccedilatildeo (3 desenhos)

da vila e fortaleza de Peniche (4 desenhos) das fortalezas de S Francisco de Peniche de

Nordf Srordf da Nazareacute uma planta da ilha Berlenga e um conjunto de 7 desenhos que compotildeem

a Planta da Costa de Portugal desde a foz do Lis ateacute Vila Nova de Milfontes (veja-se aqui a

coincidecircncia com o que referem o Almirante Teixeira da Mota e Jaime Cortesatildeo) Desta

Pasta fazem ainda parte os desenhos dos fortes do Junqueiro de S Domingos de Rana de

Santo Antoacutenio de S Joatildeo da Cruz de Santo Antoacutenio de S Teodoacutezio de Santo Antoacutenio de

S Roque dos Inocentes de Santa Catarina junto a Cascais de Santa Marta de Nordf Srordf da

Guia de S Jorge de Sanchete de S Jorge de baixo do Guincho e da Roca

- PT-TT-CCDV29 nordm 29 (2 pastas a verde e a preta) Os conteuacutedos destas duas pastas

podem ser consultados e visualizados no site da Direcccedilatildeo Geral de Arquivos com

descriccedilotildees da costa portuguesa desde o rio Minho ao Guadiana algumas plantas de

fortalezas da costa algarvia da costa alentejana de Setuacutebal e seu porto da barra de Lisboa

plantas de Argel Larache Mazagatildeo entre outras Algumas satildeo atribuiacutedas a Filipe Tersio e

ao capitatildeo Fratino outras assinadas por Leonardo Turriano e Alexandre Massai (4 desenhos

para Portimatildeo) entre outros sem constar Mateus do Couto

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Esta documentaccedilatildeo encontrada na Torre do Tombo e no que respeita a desenhos

assinados por Mateus do Couto permite-nos sugerir que as Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve que existem na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora antecederam em c de sete anos os

desenhos que o Autor apresentou para a costa portuguesa (entre a foz do Lis e Vila Nova de

Milfontes) e para os fortes e fortalezas na zona de LisboaCascaisPeniche Trata-se de uma

fase da sua carreira que repartiu entre a arquitectura civil e religiosa (esta uacuteltima

possivelmente numa fase mais inicial de finais da deacutecada de 70 do seacuteculo XVII) e a

arquitectura militar tambeacutem ela geograficamente localizada entre o Alentejo e o Algarve e

que parece ter sido gizada do interior alentejano para o litoral algarvio e daqui ao longo da

costa portuguesa em sentido ascendente Aleacutem da sua experiecircncia enquanto soldado e

com conhecimento do terreno que aliaacutes revela nas Cartas do Algarve (particularmente para

Castro Marim Faro e Lagos desenhando linhas de aacutegua indicando a natureza do solo)

sabemos tambeacutem da importacircncia do seu trabalho de gabinete na capital que se revela nas

cartas datadas todas supostamente elaboradas em Lisboa

Esta documentaccedilatildeo deveraacute ver o seu valor confirmado tanto por questotildees de actualizaccedilatildeo

ao niacutevel cientiacutefico como por questotildees mais praacuteticas e que se prendem nomeadamente

com intervenccedilotildees no terreno especialmente de cariz arqueoloacutegico A representaccedilatildeo dos

siacutetios de Mateus do Couto eacute distinta da de quem o antecedeu e da de quem lhe sucedeu

(devido tambeacutem agrave distacircncia cronoloacutegica em relaccedilatildeo a Alexandre Massai por exemplo) e

sabemos da importacircncia da mesma a niacutevel patrimonial

A relaccedilatildeo da Geografia com a Histoacuteria

A Geografia tem como objectivo principal o estudo da interacccedilatildeo do homem com o territoacuterio

numa perspectiva dinacircmica que apela aos conhecimentos das ciecircncias da terra e das

ciecircncias sociais e humanas O caraacutecter multidisciplinar da geografia permite o

estabelecimento de uma visatildeo de conjunto da superfiacutecie terrestre e o desenvolvimento de

conhecimentos e instrumentos de anaacutelise integradores e indispensaacuteveis para a formulaccedilatildeo

de poliacuteticas e para o ordenamento e gestatildeo do territoacuterio

O estudo da relaccedilatildeo reciacuteproca entre o homem e o espaccedilo geograacutefico onde as suas

actividades se desenrolam implica o conhecimento da evoluccedilatildeo desta relaccedilatildeo a vaacuterias

escalas temporais e espaciais soacute possiacuteveis de avaliar com os conhecimentos fornecidos por

ciecircncias como a histoacuteria e a cartografia para aleacutem de outras de natureza fiacutesica e

socioeconoacutemica Em suma um dos temas centrais da geografia eacute a relaccedilatildeo do homem com

o meio fiacutesico O meio fiacutesico entendido como as forccedilas que geram e moldam o espaccedilo

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

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VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

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Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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(hellip) Trago varias regras novas amp facillimas com que summamente se facilitatildeo as mediccediloens das muralhas amp outras ategravegora natildeo vistas nem excogitadas para se orsar quanto merece cada braccedila conforme ficar elevada no plano do terreno fundo ou Fosso ou alicerse ainda que o preccedilo seja geral de hum tanto por cada hua ateacute toda a altura que se contrattou que hua muralha havia de subir por evitar os enganos que nesta parte se faziatildeo(hellip) O fim com que escrevi esta obra ultima de alguas que tenho composto he para que fique noticia conservada entre nos amp possamos ter Engenheiros naturaes havendo por onde apprendatildeo a Sciencia pois ainda que a experiencia he muito necessaacuteria para a practica com tudo os que nesta entratildeo com liccedilatildeo faacutecil amp brevemente se fazem destros assim nas cousas que viratildeo obrar como nas que natildeo viratildeo porque a noticia da liccedilatildeo os habilita de huas para as outras o que natildeo succede naquelles que somente por experiencia sem preceder liccedilatildeo ou doutrina fundada se metem a obrar (hellip) pello que nem sograve a sciencia nem sograve a experiencia bastatildeo hua amp outra satildeo necessaacuterias para formar

hum bom Engenheiro (hellip)2

Este ideal de formaccedilatildeo dos engenheiros militares de nacionalidade portuguesa entende-se

num contexto em que as fortalezas deste periacuteodo eram concebidas maioritariamente por

engenheiros europeus (franceses italianos e dos Paiacuteses Baixos) alguns deles jaacute na

Peniacutensula ao serviccedilo dos Filipes e cujo trabalho reflectia o abandono do modelo italiano a

favor dos modelos noacuterdicos (escolas holandesa e alematilde) com fortificaccedilotildees desenhadas

para o interior dos poliacutegonos perfis escalonados em taludes adaptados aos terrenos

regresso de guaritas angulares abundacircncia de obras externas elevando o niacutevel cientiacutefico

da fortificaccedilatildeo Sublinhamos ainda que ao trabalho da engenharia e da arquitectura militares

natildeo pode ser alheia a questatildeo do levantamento topograacutefico a concepccedilatildeo da fortificaccedilatildeo

dependia de um trabalho jaacute existente a esse niacutevel ou implicava o levantamento propriamente

dito daiacute a relaccedilatildeo entre a cartografia do Portugal de Seiscentos e a engenharia militar

Temos tambeacutem que muitos dos projectos efectuados se satildeo valiosos na perspectiva militar

natildeo o satildeo tanto do ponto de vista cartograacutefico (ausecircncia de detalhes do terreno)

Durante o largo periacuteodo de conflito entre Portugal e a Espanha (1640-1668) muitos destes

engenheiros trabalharam para os dois reinos (Langres P Santa Colomba Cosmander)

sendo que alguns engenheiros militares portugueses comeccedilavam tambeacutem a desenvolver

trabalho nesta Proviacutencia como foi o caso de Mateus do Couto (sobrinho) Aliaacutes esta

arquitectura teve em Portugal um papel de vanguarda quando o decliacutenio dos Filipes como

jaacute apontaacutemos natildeo significou o debandar de c de 100 engenheiros europeus (franceses

flamengos italianos holandeses suecos e ingleses) que em Portugal se mantiveram

Assim 1640 ditou a fortificaccedilatildeo da raia terrestre guarnecendo o litoral apenas de baterias

2 Luiacutes Serratildeo Pimentel Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das praccedilas

regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

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com fins de vigilacircncia e defesa restrita (alcanccedilada a paz com a Holanda e dado o estado

desgastado da marinha espanhola) A substituiccedilatildeo da barragem de fogo das fortalezas por

uma sucessatildeo de pequenos pontos fortificados segundo a mobilidade taacutectica barroca

explica a falta de interesse pelas grandes fortalezas do litoral o forte da Ponta da Bandeira

no Algarve edificado em Lagos em 1679 na praia junto ao castelo por Inaacutecio Pereira eacute um

simples quadrado com terraccedilo alto virado ao mar e canhoeiras (as guaritas satildeo recentes) O

Algarve crucial no seacuteculo XVI e que no periacuteodo filipino conhecera ainda fortificaccedilotildees

tornou-se uma aacuterea marginal pouco se concretizando dos projectos de vaacuterios engenheiros

sendo o estado das suas fortificaccedilotildees durante a guerra da Restauraccedilatildeo muito lamentaacutevel

Mateus do Couto (c 1630-1696)

Na Histoacuteria da Arquitectura e Engenharia Militares em Portugal temos duas personagens

denominadas como Mateus do Couto que tinham entre si uma relaccedilatildeo familiar (eram tio e

sobrinho) Uma das primeiras referecircncias documentais a este nome e apelido no domiacutenio

que apontaacutemos surge em 1617 enquanto olheiro e apontador do mosteiro de Santos e que

conheceu diversos ofiacutecios em 1629 foi nomeado arquitecto das ordens militares em 1634

era arquitecto do Santo Ofiacutecio sendo nomeado em 1643 para assistente das obras do forte

de S Lourenccedilo da Cabeccedila Seca e mais fortalezas da barra de Lisboa e 3 anos depois foi

nomeado como arquitecto de Lisboa encarregado de fazer uma vistoria agraves portas e

muralhas da cidade Trata-se de Mateus do Couto tio e que faleceu c de 1664 sem filhos

sucedendo-lhe um seu sobrinho homoacutenimo que foi nomeado para lhe suceder em 1669

como arquitecto das ordens militares

Entre 1647 e 1678 Mateus do Couto sobrinho prestou muitos serviccedilos agrave Coroa arquitecto

e engenheiro do rei mestre assistente das fortificaccedilotildees da barra entre outros Em 1669

alcanccedilou o Alvaraacute de mercecirc para mantimento do ordenado anual de 80$000 reacuteis enquanto

Arquitecto das obras das Ordens religiosas em 1679 recebeu 12$000 reacuteis de tenccedila com o

haacutebito de Cristo Veio a morrer em 1696 Alguns anos antes em 1679 D Pedro II

reconhecera-lhe os seus serviccedilos sumariando-os entre 1647 e 1678 da seguinte forma

ldquo() no ministeacuterio das fortificaccedilotildees das marinhas desta Cocircrte e Estremadura fortes da

costa praccedila de Cascaes Setuval Santarem Abrantes Pinhel Brelenga fortes da barra e

fortificaccedilatildeo de Lisboa praccedilas da proviacutencia do Alentejo e outras do reino (hellip)rdquo3

Arquitecto real e engenheiro militar eacute apontado por alguns estudiosos como um dos

predilectos de D Pedro II (Carvalho 1977) foi seu sucessor o arquitecto Joatildeo Antunes e

3 Sousa Viterbo Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e Constructores

Portugueses Lisboa Vol I p 258

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enquanto seu disciacutepulo destacou-se um seu sobrinho Manuel do Couto Poreacutem os seus

trabalhos natildeo se limitam agrave arquitectura militar uma vez que tambeacutem apresentou propostas

nas aacutereas da arquitectura civil e religiosa assim aleacutem de ter trabalhado acerca do Algarve

na deacutecada de 80 seacuteculo XVII juntamente com Pedro Correia Rebelo Mateus do Couto foi

ainda

(hellip) valoroso soldado engenheiro e arquitecto militar foi um dos mais prodigiosos construtores de palaacutecios e igreja do uacuteltimo quartel do seacuteculo XVII (desde a segunda igreja de Santa Engraacutecia desmoronada em 1681 agraves Francesinhas ou a Santa Clara de Coimbra)(hellip) [teve pois] uma muacuteltipla actividade arquitectoacutenica natildeo soacute em obras reais mas tambeacutem para a Companhia de Jesus podendo-se

aventar a hipoacutetese da sua intervenccedilatildeo em tantas igrejas do Brasil (hellip)4

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

Pretendendo contribuir para o conhecimento das diversas propostas defensivas que

conheceu a costa algarvia mateacuteria sobre a qual diversos estudos tecircm sido publicados e

seguindo a obra de Mateus do Couto sobrinho no que respeita agrave arquitectura Militar

procuraacutemos compreender comparar e contextualizar um conjunto de Cartas por ele

assinadas e que localizaacutemos na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

A Pasta conteacutem 27 Cartas intituladas no primeiro foacutelio como Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve em papel com marca de aacutegua aguareladas referindo-se a fortes fortificaccedilotildees

convento e fortificaccedilatildeo seguindo uma loacutegica depois de uma representaccedilatildeo da costa

algarvia de sotavento para o barlavento As Cartas estatildeo assinadas sendo ainda que em

duas delas o desenho se encontra datado eacute o caso da fortificaccedilatildeo de Sagres datada de 10

de Junho de1686 feita em Lisboa e da de Castro Marim que indica apenas o mecircs e o ano

(Junho 1686)

A dimensatildeo das Cartas eacute em geral de 5843cm (as excepccedilotildees satildeo a carta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim com 102107m o desenho da costa algarvia com 058126m a carta da

fortificaccedilatildeo de Faro com 114113m a da cidade de Lagos com 8858cm e a carta da

fortificaccedilatildeo de Sagres com 115043m) sendo indicadas diferentes escalas o petipeacute eacute

indicado em varas braccedilas de 10 palmos em braccedilas em palmos e em palmos craveiros

Em algumas das Cartas estaacute presente o carimbo da instituiccedilatildeo a que pertencem Biblioteca

Puacuteblica de Eacutevora sendo que na primeira delas (Desenho de toda a costa) conteacutem uma data

possivelmente a da incorporaccedilatildeo da peccedila no espoacutelio da Biblioteca 18 de Julho de 1941

4 Ayres de Carvalho ldquoIntroduccedilatildeordquo In Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Na Biblioteca Nacional de

Lisboa encontram-se as plantas da Igreja e Coleacutegio da Companhia de Jesus de Portalegre 1678 p XIII

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Procuraacutemos atraveacutes do registo de incorporaccedilotildees existente no Arquivo Distrital de Eacutevora

localizar a desta peccedila tanto em termos do tipo de incorporaccedilatildeo (compra doaccedilatildeohellip) como

da pessoa ou instituiccedilatildeo por isso responsaacutevel tarefa que natildeo deu qualquer fruto Em suma

a peccedila existe natildeo se sabe quando passou a fazer parte do espoacutelio da Biblioteca nem

quem ou que instituiccedilatildeo a fez a ela chegar

De acordo com a sua sequecircncia na Pasta e respeitando ainda as marcas da encadernaccedilatildeo

temos a seguinte listagem dos desenhos Desenho da costa algarvia Planta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim (datado 1686) Castelo de Cacela Forte de S Joatildeo Tavira Forte de S

Lourenccedilo Faro Fortificaccedilatildeo da cidade de Faro Forte de Santo Antoacutenio de Quarteira

Albufeira Forte de Santo Antoacutenio de Pecircra Forte de Nossa Senhora da Rocha Forte de

Nossa Senhora da Encarnaccedilatildeo do Cabo Carvoeiro Forte de S Joatildeo na barra de Vila Nova

de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Portimatildeo Castelo da Vila de Alvor Forte de S Joseacute

da Meia Praia Lagos Ponta da Bandeyra na ribeira da cidade de Lagos Forte do Pinhatildeo

junto agrave cidade de Lagos Forte de Nossa Senhora da Luz Forte de S Luiacutes de Almadena

Forte da Vera Cruz da Figueira Forte de Santo Inaacutecio do Azevial Forte de Nordf Srordf da Guia

da Baleyra Planta da fortificaccedilatildeo de Sagres (Lisboa 10 Junho 1686) Convento e

fortificaccedilatildeo do Cabo de S Vicente Forte de Nordf Srordf da Conceiccedilatildeo no lugar da Carrapateira

Forte da Arrifana

O conjunto documental apresentado eacute uma proposta de Mateus do Couto Se eacute certo que

este trabalho vem na senda de outros similares de que destacamos o de Alexandre Massai

autor da obra Descripccedilatildeo do Reino do Algarve (em que faz um relatoacuterio sequente ao

levantamento que efectuou a partir de 1617 e concluiacutedo em 1621) outros se lhe seguiram

para a mesma regiatildeo como o trabalho de Joseacute de Sande de Vasconcelos mas jaacute para o

seacuteculo XVIII

Tentaacutemos compreender a sua importacircncia documental sobretudo em termos de ser peccedila

original e uacutenica do Autor Os nossos esforccedilos direccionaram-se sobretudo para a Torre do

Tombo para a Biblioteca Nacional de Portugal para a Biblioteca Nacional de Espanha e

para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo) aleacutem da necessaacuteria pesquisa no

Portugaliae Monumenta Cartographica Nesta uacuteltima obra os trabalhos de Mateus do Couto

sobrinho satildeo referidos apenas para a zona geograacutefica entre Leiria e Vila Nova de Milfontes

constando os desenhos do espoacutelio da Casa Cadaval cota M-VII-25 829 Em nenhuma das

outras Bibliotecas mencionadas encontraacutemos ateacute agora qualquer referecircncia a esta

proposta de arquitectura militar para a costa algarvia de Mateus do Couto (e diga-se

poucas ou nulas conforme as instituiccedilotildees agraves outras enquanto arquitecto civil e religioso)

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Foi apenas na Torre do Tombo que tivemos oportunidade de nos Arquivos da Casa

Cadaval encontrar de alguma forma uma ligaccedilatildeo com o material encontrado em Eacutevora

Temos na Torre do Tombo quatro pastas com as seguintes cota e sequecircncia

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta vermelha) contendo do desenho 1 ao 2524 alguns

desenhos satildeo assinados por Joatildeo Roiz de Mouro em 1693 (Milfontes Sines Palmela Torre

de Beleacutem Santo Amaro) que assinala engenheiros seus antecessores como Difur

Francisco Pimentel e Mateus do Couto Este uacuteltimo nesta pasta assina os desenhos 1617

(Torre do Bugio) apresentando um traccedilo muito similar ao seu a fortaleza de S Sebastiatildeo as

plataformas dos Aacutelamos e da Junqueira o reduto de S Pedro de Beleacutem a torre de Beleacutem (3

desenhos) o forte de S Pedro de Paccedilo drsquoArcos o forte de S Joatildeo das Maias (3 desenhos)

e a plataforma de Santo Amaro

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta amarela) contendo do desenho 2625 ao 5455 Nesta

pasta parece-nos que todos os desenhos pertencem a Mateus do Couto embora nem

todos estejam assinados datados entre Junho e Novembro de 1693 As assinaturas

quando existentes satildeo rigorosamente iguais agraves presentes nas Cartas de Eacutevora Assim

Mateus do Couto assina os desenhos da fortaleza de SJuliatildeo da Barra da cidadela de

Cascais os fortes do Magoito e da Ericeira de S Pedro de Milreco de Santa Susana do

Porto Novo de Nossa Senhora dos Anjos de Nossa Senhora da Consolaccedilatildeo (3 desenhos)

da vila e fortaleza de Peniche (4 desenhos) das fortalezas de S Francisco de Peniche de

Nordf Srordf da Nazareacute uma planta da ilha Berlenga e um conjunto de 7 desenhos que compotildeem

a Planta da Costa de Portugal desde a foz do Lis ateacute Vila Nova de Milfontes (veja-se aqui a

coincidecircncia com o que referem o Almirante Teixeira da Mota e Jaime Cortesatildeo) Desta

Pasta fazem ainda parte os desenhos dos fortes do Junqueiro de S Domingos de Rana de

Santo Antoacutenio de S Joatildeo da Cruz de Santo Antoacutenio de S Teodoacutezio de Santo Antoacutenio de

S Roque dos Inocentes de Santa Catarina junto a Cascais de Santa Marta de Nordf Srordf da

Guia de S Jorge de Sanchete de S Jorge de baixo do Guincho e da Roca

- PT-TT-CCDV29 nordm 29 (2 pastas a verde e a preta) Os conteuacutedos destas duas pastas

podem ser consultados e visualizados no site da Direcccedilatildeo Geral de Arquivos com

descriccedilotildees da costa portuguesa desde o rio Minho ao Guadiana algumas plantas de

fortalezas da costa algarvia da costa alentejana de Setuacutebal e seu porto da barra de Lisboa

plantas de Argel Larache Mazagatildeo entre outras Algumas satildeo atribuiacutedas a Filipe Tersio e

ao capitatildeo Fratino outras assinadas por Leonardo Turriano e Alexandre Massai (4 desenhos

para Portimatildeo) entre outros sem constar Mateus do Couto

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Esta documentaccedilatildeo encontrada na Torre do Tombo e no que respeita a desenhos

assinados por Mateus do Couto permite-nos sugerir que as Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve que existem na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora antecederam em c de sete anos os

desenhos que o Autor apresentou para a costa portuguesa (entre a foz do Lis e Vila Nova de

Milfontes) e para os fortes e fortalezas na zona de LisboaCascaisPeniche Trata-se de uma

fase da sua carreira que repartiu entre a arquitectura civil e religiosa (esta uacuteltima

possivelmente numa fase mais inicial de finais da deacutecada de 70 do seacuteculo XVII) e a

arquitectura militar tambeacutem ela geograficamente localizada entre o Alentejo e o Algarve e

que parece ter sido gizada do interior alentejano para o litoral algarvio e daqui ao longo da

costa portuguesa em sentido ascendente Aleacutem da sua experiecircncia enquanto soldado e

com conhecimento do terreno que aliaacutes revela nas Cartas do Algarve (particularmente para

Castro Marim Faro e Lagos desenhando linhas de aacutegua indicando a natureza do solo)

sabemos tambeacutem da importacircncia do seu trabalho de gabinete na capital que se revela nas

cartas datadas todas supostamente elaboradas em Lisboa

Esta documentaccedilatildeo deveraacute ver o seu valor confirmado tanto por questotildees de actualizaccedilatildeo

ao niacutevel cientiacutefico como por questotildees mais praacuteticas e que se prendem nomeadamente

com intervenccedilotildees no terreno especialmente de cariz arqueoloacutegico A representaccedilatildeo dos

siacutetios de Mateus do Couto eacute distinta da de quem o antecedeu e da de quem lhe sucedeu

(devido tambeacutem agrave distacircncia cronoloacutegica em relaccedilatildeo a Alexandre Massai por exemplo) e

sabemos da importacircncia da mesma a niacutevel patrimonial

A relaccedilatildeo da Geografia com a Histoacuteria

A Geografia tem como objectivo principal o estudo da interacccedilatildeo do homem com o territoacuterio

numa perspectiva dinacircmica que apela aos conhecimentos das ciecircncias da terra e das

ciecircncias sociais e humanas O caraacutecter multidisciplinar da geografia permite o

estabelecimento de uma visatildeo de conjunto da superfiacutecie terrestre e o desenvolvimento de

conhecimentos e instrumentos de anaacutelise integradores e indispensaacuteveis para a formulaccedilatildeo

de poliacuteticas e para o ordenamento e gestatildeo do territoacuterio

O estudo da relaccedilatildeo reciacuteproca entre o homem e o espaccedilo geograacutefico onde as suas

actividades se desenrolam implica o conhecimento da evoluccedilatildeo desta relaccedilatildeo a vaacuterias

escalas temporais e espaciais soacute possiacuteveis de avaliar com os conhecimentos fornecidos por

ciecircncias como a histoacuteria e a cartografia para aleacutem de outras de natureza fiacutesica e

socioeconoacutemica Em suma um dos temas centrais da geografia eacute a relaccedilatildeo do homem com

o meio fiacutesico O meio fiacutesico entendido como as forccedilas que geram e moldam o espaccedilo

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

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BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

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em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

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VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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com fins de vigilacircncia e defesa restrita (alcanccedilada a paz com a Holanda e dado o estado

desgastado da marinha espanhola) A substituiccedilatildeo da barragem de fogo das fortalezas por

uma sucessatildeo de pequenos pontos fortificados segundo a mobilidade taacutectica barroca

explica a falta de interesse pelas grandes fortalezas do litoral o forte da Ponta da Bandeira

no Algarve edificado em Lagos em 1679 na praia junto ao castelo por Inaacutecio Pereira eacute um

simples quadrado com terraccedilo alto virado ao mar e canhoeiras (as guaritas satildeo recentes) O

Algarve crucial no seacuteculo XVI e que no periacuteodo filipino conhecera ainda fortificaccedilotildees

tornou-se uma aacuterea marginal pouco se concretizando dos projectos de vaacuterios engenheiros

sendo o estado das suas fortificaccedilotildees durante a guerra da Restauraccedilatildeo muito lamentaacutevel

Mateus do Couto (c 1630-1696)

Na Histoacuteria da Arquitectura e Engenharia Militares em Portugal temos duas personagens

denominadas como Mateus do Couto que tinham entre si uma relaccedilatildeo familiar (eram tio e

sobrinho) Uma das primeiras referecircncias documentais a este nome e apelido no domiacutenio

que apontaacutemos surge em 1617 enquanto olheiro e apontador do mosteiro de Santos e que

conheceu diversos ofiacutecios em 1629 foi nomeado arquitecto das ordens militares em 1634

era arquitecto do Santo Ofiacutecio sendo nomeado em 1643 para assistente das obras do forte

de S Lourenccedilo da Cabeccedila Seca e mais fortalezas da barra de Lisboa e 3 anos depois foi

nomeado como arquitecto de Lisboa encarregado de fazer uma vistoria agraves portas e

muralhas da cidade Trata-se de Mateus do Couto tio e que faleceu c de 1664 sem filhos

sucedendo-lhe um seu sobrinho homoacutenimo que foi nomeado para lhe suceder em 1669

como arquitecto das ordens militares

Entre 1647 e 1678 Mateus do Couto sobrinho prestou muitos serviccedilos agrave Coroa arquitecto

e engenheiro do rei mestre assistente das fortificaccedilotildees da barra entre outros Em 1669

alcanccedilou o Alvaraacute de mercecirc para mantimento do ordenado anual de 80$000 reacuteis enquanto

Arquitecto das obras das Ordens religiosas em 1679 recebeu 12$000 reacuteis de tenccedila com o

haacutebito de Cristo Veio a morrer em 1696 Alguns anos antes em 1679 D Pedro II

reconhecera-lhe os seus serviccedilos sumariando-os entre 1647 e 1678 da seguinte forma

ldquo() no ministeacuterio das fortificaccedilotildees das marinhas desta Cocircrte e Estremadura fortes da

costa praccedila de Cascaes Setuval Santarem Abrantes Pinhel Brelenga fortes da barra e

fortificaccedilatildeo de Lisboa praccedilas da proviacutencia do Alentejo e outras do reino (hellip)rdquo3

Arquitecto real e engenheiro militar eacute apontado por alguns estudiosos como um dos

predilectos de D Pedro II (Carvalho 1977) foi seu sucessor o arquitecto Joatildeo Antunes e

3 Sousa Viterbo Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e Constructores

Portugueses Lisboa Vol I p 258

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enquanto seu disciacutepulo destacou-se um seu sobrinho Manuel do Couto Poreacutem os seus

trabalhos natildeo se limitam agrave arquitectura militar uma vez que tambeacutem apresentou propostas

nas aacutereas da arquitectura civil e religiosa assim aleacutem de ter trabalhado acerca do Algarve

na deacutecada de 80 seacuteculo XVII juntamente com Pedro Correia Rebelo Mateus do Couto foi

ainda

(hellip) valoroso soldado engenheiro e arquitecto militar foi um dos mais prodigiosos construtores de palaacutecios e igreja do uacuteltimo quartel do seacuteculo XVII (desde a segunda igreja de Santa Engraacutecia desmoronada em 1681 agraves Francesinhas ou a Santa Clara de Coimbra)(hellip) [teve pois] uma muacuteltipla actividade arquitectoacutenica natildeo soacute em obras reais mas tambeacutem para a Companhia de Jesus podendo-se

aventar a hipoacutetese da sua intervenccedilatildeo em tantas igrejas do Brasil (hellip)4

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

Pretendendo contribuir para o conhecimento das diversas propostas defensivas que

conheceu a costa algarvia mateacuteria sobre a qual diversos estudos tecircm sido publicados e

seguindo a obra de Mateus do Couto sobrinho no que respeita agrave arquitectura Militar

procuraacutemos compreender comparar e contextualizar um conjunto de Cartas por ele

assinadas e que localizaacutemos na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

A Pasta conteacutem 27 Cartas intituladas no primeiro foacutelio como Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve em papel com marca de aacutegua aguareladas referindo-se a fortes fortificaccedilotildees

convento e fortificaccedilatildeo seguindo uma loacutegica depois de uma representaccedilatildeo da costa

algarvia de sotavento para o barlavento As Cartas estatildeo assinadas sendo ainda que em

duas delas o desenho se encontra datado eacute o caso da fortificaccedilatildeo de Sagres datada de 10

de Junho de1686 feita em Lisboa e da de Castro Marim que indica apenas o mecircs e o ano

(Junho 1686)

A dimensatildeo das Cartas eacute em geral de 5843cm (as excepccedilotildees satildeo a carta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim com 102107m o desenho da costa algarvia com 058126m a carta da

fortificaccedilatildeo de Faro com 114113m a da cidade de Lagos com 8858cm e a carta da

fortificaccedilatildeo de Sagres com 115043m) sendo indicadas diferentes escalas o petipeacute eacute

indicado em varas braccedilas de 10 palmos em braccedilas em palmos e em palmos craveiros

Em algumas das Cartas estaacute presente o carimbo da instituiccedilatildeo a que pertencem Biblioteca

Puacuteblica de Eacutevora sendo que na primeira delas (Desenho de toda a costa) conteacutem uma data

possivelmente a da incorporaccedilatildeo da peccedila no espoacutelio da Biblioteca 18 de Julho de 1941

4 Ayres de Carvalho ldquoIntroduccedilatildeordquo In Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Na Biblioteca Nacional de

Lisboa encontram-se as plantas da Igreja e Coleacutegio da Companhia de Jesus de Portalegre 1678 p XIII

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Procuraacutemos atraveacutes do registo de incorporaccedilotildees existente no Arquivo Distrital de Eacutevora

localizar a desta peccedila tanto em termos do tipo de incorporaccedilatildeo (compra doaccedilatildeohellip) como

da pessoa ou instituiccedilatildeo por isso responsaacutevel tarefa que natildeo deu qualquer fruto Em suma

a peccedila existe natildeo se sabe quando passou a fazer parte do espoacutelio da Biblioteca nem

quem ou que instituiccedilatildeo a fez a ela chegar

De acordo com a sua sequecircncia na Pasta e respeitando ainda as marcas da encadernaccedilatildeo

temos a seguinte listagem dos desenhos Desenho da costa algarvia Planta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim (datado 1686) Castelo de Cacela Forte de S Joatildeo Tavira Forte de S

Lourenccedilo Faro Fortificaccedilatildeo da cidade de Faro Forte de Santo Antoacutenio de Quarteira

Albufeira Forte de Santo Antoacutenio de Pecircra Forte de Nossa Senhora da Rocha Forte de

Nossa Senhora da Encarnaccedilatildeo do Cabo Carvoeiro Forte de S Joatildeo na barra de Vila Nova

de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Portimatildeo Castelo da Vila de Alvor Forte de S Joseacute

da Meia Praia Lagos Ponta da Bandeyra na ribeira da cidade de Lagos Forte do Pinhatildeo

junto agrave cidade de Lagos Forte de Nossa Senhora da Luz Forte de S Luiacutes de Almadena

Forte da Vera Cruz da Figueira Forte de Santo Inaacutecio do Azevial Forte de Nordf Srordf da Guia

da Baleyra Planta da fortificaccedilatildeo de Sagres (Lisboa 10 Junho 1686) Convento e

fortificaccedilatildeo do Cabo de S Vicente Forte de Nordf Srordf da Conceiccedilatildeo no lugar da Carrapateira

Forte da Arrifana

O conjunto documental apresentado eacute uma proposta de Mateus do Couto Se eacute certo que

este trabalho vem na senda de outros similares de que destacamos o de Alexandre Massai

autor da obra Descripccedilatildeo do Reino do Algarve (em que faz um relatoacuterio sequente ao

levantamento que efectuou a partir de 1617 e concluiacutedo em 1621) outros se lhe seguiram

para a mesma regiatildeo como o trabalho de Joseacute de Sande de Vasconcelos mas jaacute para o

seacuteculo XVIII

Tentaacutemos compreender a sua importacircncia documental sobretudo em termos de ser peccedila

original e uacutenica do Autor Os nossos esforccedilos direccionaram-se sobretudo para a Torre do

Tombo para a Biblioteca Nacional de Portugal para a Biblioteca Nacional de Espanha e

para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo) aleacutem da necessaacuteria pesquisa no

Portugaliae Monumenta Cartographica Nesta uacuteltima obra os trabalhos de Mateus do Couto

sobrinho satildeo referidos apenas para a zona geograacutefica entre Leiria e Vila Nova de Milfontes

constando os desenhos do espoacutelio da Casa Cadaval cota M-VII-25 829 Em nenhuma das

outras Bibliotecas mencionadas encontraacutemos ateacute agora qualquer referecircncia a esta

proposta de arquitectura militar para a costa algarvia de Mateus do Couto (e diga-se

poucas ou nulas conforme as instituiccedilotildees agraves outras enquanto arquitecto civil e religioso)

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Foi apenas na Torre do Tombo que tivemos oportunidade de nos Arquivos da Casa

Cadaval encontrar de alguma forma uma ligaccedilatildeo com o material encontrado em Eacutevora

Temos na Torre do Tombo quatro pastas com as seguintes cota e sequecircncia

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta vermelha) contendo do desenho 1 ao 2524 alguns

desenhos satildeo assinados por Joatildeo Roiz de Mouro em 1693 (Milfontes Sines Palmela Torre

de Beleacutem Santo Amaro) que assinala engenheiros seus antecessores como Difur

Francisco Pimentel e Mateus do Couto Este uacuteltimo nesta pasta assina os desenhos 1617

(Torre do Bugio) apresentando um traccedilo muito similar ao seu a fortaleza de S Sebastiatildeo as

plataformas dos Aacutelamos e da Junqueira o reduto de S Pedro de Beleacutem a torre de Beleacutem (3

desenhos) o forte de S Pedro de Paccedilo drsquoArcos o forte de S Joatildeo das Maias (3 desenhos)

e a plataforma de Santo Amaro

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta amarela) contendo do desenho 2625 ao 5455 Nesta

pasta parece-nos que todos os desenhos pertencem a Mateus do Couto embora nem

todos estejam assinados datados entre Junho e Novembro de 1693 As assinaturas

quando existentes satildeo rigorosamente iguais agraves presentes nas Cartas de Eacutevora Assim

Mateus do Couto assina os desenhos da fortaleza de SJuliatildeo da Barra da cidadela de

Cascais os fortes do Magoito e da Ericeira de S Pedro de Milreco de Santa Susana do

Porto Novo de Nossa Senhora dos Anjos de Nossa Senhora da Consolaccedilatildeo (3 desenhos)

da vila e fortaleza de Peniche (4 desenhos) das fortalezas de S Francisco de Peniche de

Nordf Srordf da Nazareacute uma planta da ilha Berlenga e um conjunto de 7 desenhos que compotildeem

a Planta da Costa de Portugal desde a foz do Lis ateacute Vila Nova de Milfontes (veja-se aqui a

coincidecircncia com o que referem o Almirante Teixeira da Mota e Jaime Cortesatildeo) Desta

Pasta fazem ainda parte os desenhos dos fortes do Junqueiro de S Domingos de Rana de

Santo Antoacutenio de S Joatildeo da Cruz de Santo Antoacutenio de S Teodoacutezio de Santo Antoacutenio de

S Roque dos Inocentes de Santa Catarina junto a Cascais de Santa Marta de Nordf Srordf da

Guia de S Jorge de Sanchete de S Jorge de baixo do Guincho e da Roca

- PT-TT-CCDV29 nordm 29 (2 pastas a verde e a preta) Os conteuacutedos destas duas pastas

podem ser consultados e visualizados no site da Direcccedilatildeo Geral de Arquivos com

descriccedilotildees da costa portuguesa desde o rio Minho ao Guadiana algumas plantas de

fortalezas da costa algarvia da costa alentejana de Setuacutebal e seu porto da barra de Lisboa

plantas de Argel Larache Mazagatildeo entre outras Algumas satildeo atribuiacutedas a Filipe Tersio e

ao capitatildeo Fratino outras assinadas por Leonardo Turriano e Alexandre Massai (4 desenhos

para Portimatildeo) entre outros sem constar Mateus do Couto

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Esta documentaccedilatildeo encontrada na Torre do Tombo e no que respeita a desenhos

assinados por Mateus do Couto permite-nos sugerir que as Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve que existem na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora antecederam em c de sete anos os

desenhos que o Autor apresentou para a costa portuguesa (entre a foz do Lis e Vila Nova de

Milfontes) e para os fortes e fortalezas na zona de LisboaCascaisPeniche Trata-se de uma

fase da sua carreira que repartiu entre a arquitectura civil e religiosa (esta uacuteltima

possivelmente numa fase mais inicial de finais da deacutecada de 70 do seacuteculo XVII) e a

arquitectura militar tambeacutem ela geograficamente localizada entre o Alentejo e o Algarve e

que parece ter sido gizada do interior alentejano para o litoral algarvio e daqui ao longo da

costa portuguesa em sentido ascendente Aleacutem da sua experiecircncia enquanto soldado e

com conhecimento do terreno que aliaacutes revela nas Cartas do Algarve (particularmente para

Castro Marim Faro e Lagos desenhando linhas de aacutegua indicando a natureza do solo)

sabemos tambeacutem da importacircncia do seu trabalho de gabinete na capital que se revela nas

cartas datadas todas supostamente elaboradas em Lisboa

Esta documentaccedilatildeo deveraacute ver o seu valor confirmado tanto por questotildees de actualizaccedilatildeo

ao niacutevel cientiacutefico como por questotildees mais praacuteticas e que se prendem nomeadamente

com intervenccedilotildees no terreno especialmente de cariz arqueoloacutegico A representaccedilatildeo dos

siacutetios de Mateus do Couto eacute distinta da de quem o antecedeu e da de quem lhe sucedeu

(devido tambeacutem agrave distacircncia cronoloacutegica em relaccedilatildeo a Alexandre Massai por exemplo) e

sabemos da importacircncia da mesma a niacutevel patrimonial

A relaccedilatildeo da Geografia com a Histoacuteria

A Geografia tem como objectivo principal o estudo da interacccedilatildeo do homem com o territoacuterio

numa perspectiva dinacircmica que apela aos conhecimentos das ciecircncias da terra e das

ciecircncias sociais e humanas O caraacutecter multidisciplinar da geografia permite o

estabelecimento de uma visatildeo de conjunto da superfiacutecie terrestre e o desenvolvimento de

conhecimentos e instrumentos de anaacutelise integradores e indispensaacuteveis para a formulaccedilatildeo

de poliacuteticas e para o ordenamento e gestatildeo do territoacuterio

O estudo da relaccedilatildeo reciacuteproca entre o homem e o espaccedilo geograacutefico onde as suas

actividades se desenrolam implica o conhecimento da evoluccedilatildeo desta relaccedilatildeo a vaacuterias

escalas temporais e espaciais soacute possiacuteveis de avaliar com os conhecimentos fornecidos por

ciecircncias como a histoacuteria e a cartografia para aleacutem de outras de natureza fiacutesica e

socioeconoacutemica Em suma um dos temas centrais da geografia eacute a relaccedilatildeo do homem com

o meio fiacutesico O meio fiacutesico entendido como as forccedilas que geram e moldam o espaccedilo

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

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VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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enquanto seu disciacutepulo destacou-se um seu sobrinho Manuel do Couto Poreacutem os seus

trabalhos natildeo se limitam agrave arquitectura militar uma vez que tambeacutem apresentou propostas

nas aacutereas da arquitectura civil e religiosa assim aleacutem de ter trabalhado acerca do Algarve

na deacutecada de 80 seacuteculo XVII juntamente com Pedro Correia Rebelo Mateus do Couto foi

ainda

(hellip) valoroso soldado engenheiro e arquitecto militar foi um dos mais prodigiosos construtores de palaacutecios e igreja do uacuteltimo quartel do seacuteculo XVII (desde a segunda igreja de Santa Engraacutecia desmoronada em 1681 agraves Francesinhas ou a Santa Clara de Coimbra)(hellip) [teve pois] uma muacuteltipla actividade arquitectoacutenica natildeo soacute em obras reais mas tambeacutem para a Companhia de Jesus podendo-se

aventar a hipoacutetese da sua intervenccedilatildeo em tantas igrejas do Brasil (hellip)4

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

Pretendendo contribuir para o conhecimento das diversas propostas defensivas que

conheceu a costa algarvia mateacuteria sobre a qual diversos estudos tecircm sido publicados e

seguindo a obra de Mateus do Couto sobrinho no que respeita agrave arquitectura Militar

procuraacutemos compreender comparar e contextualizar um conjunto de Cartas por ele

assinadas e que localizaacutemos na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

A Pasta conteacutem 27 Cartas intituladas no primeiro foacutelio como Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve em papel com marca de aacutegua aguareladas referindo-se a fortes fortificaccedilotildees

convento e fortificaccedilatildeo seguindo uma loacutegica depois de uma representaccedilatildeo da costa

algarvia de sotavento para o barlavento As Cartas estatildeo assinadas sendo ainda que em

duas delas o desenho se encontra datado eacute o caso da fortificaccedilatildeo de Sagres datada de 10

de Junho de1686 feita em Lisboa e da de Castro Marim que indica apenas o mecircs e o ano

(Junho 1686)

A dimensatildeo das Cartas eacute em geral de 5843cm (as excepccedilotildees satildeo a carta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim com 102107m o desenho da costa algarvia com 058126m a carta da

fortificaccedilatildeo de Faro com 114113m a da cidade de Lagos com 8858cm e a carta da

fortificaccedilatildeo de Sagres com 115043m) sendo indicadas diferentes escalas o petipeacute eacute

indicado em varas braccedilas de 10 palmos em braccedilas em palmos e em palmos craveiros

Em algumas das Cartas estaacute presente o carimbo da instituiccedilatildeo a que pertencem Biblioteca

Puacuteblica de Eacutevora sendo que na primeira delas (Desenho de toda a costa) conteacutem uma data

possivelmente a da incorporaccedilatildeo da peccedila no espoacutelio da Biblioteca 18 de Julho de 1941

4 Ayres de Carvalho ldquoIntroduccedilatildeordquo In Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Na Biblioteca Nacional de

Lisboa encontram-se as plantas da Igreja e Coleacutegio da Companhia de Jesus de Portalegre 1678 p XIII

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Procuraacutemos atraveacutes do registo de incorporaccedilotildees existente no Arquivo Distrital de Eacutevora

localizar a desta peccedila tanto em termos do tipo de incorporaccedilatildeo (compra doaccedilatildeohellip) como

da pessoa ou instituiccedilatildeo por isso responsaacutevel tarefa que natildeo deu qualquer fruto Em suma

a peccedila existe natildeo se sabe quando passou a fazer parte do espoacutelio da Biblioteca nem

quem ou que instituiccedilatildeo a fez a ela chegar

De acordo com a sua sequecircncia na Pasta e respeitando ainda as marcas da encadernaccedilatildeo

temos a seguinte listagem dos desenhos Desenho da costa algarvia Planta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim (datado 1686) Castelo de Cacela Forte de S Joatildeo Tavira Forte de S

Lourenccedilo Faro Fortificaccedilatildeo da cidade de Faro Forte de Santo Antoacutenio de Quarteira

Albufeira Forte de Santo Antoacutenio de Pecircra Forte de Nossa Senhora da Rocha Forte de

Nossa Senhora da Encarnaccedilatildeo do Cabo Carvoeiro Forte de S Joatildeo na barra de Vila Nova

de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Portimatildeo Castelo da Vila de Alvor Forte de S Joseacute

da Meia Praia Lagos Ponta da Bandeyra na ribeira da cidade de Lagos Forte do Pinhatildeo

junto agrave cidade de Lagos Forte de Nossa Senhora da Luz Forte de S Luiacutes de Almadena

Forte da Vera Cruz da Figueira Forte de Santo Inaacutecio do Azevial Forte de Nordf Srordf da Guia

da Baleyra Planta da fortificaccedilatildeo de Sagres (Lisboa 10 Junho 1686) Convento e

fortificaccedilatildeo do Cabo de S Vicente Forte de Nordf Srordf da Conceiccedilatildeo no lugar da Carrapateira

Forte da Arrifana

O conjunto documental apresentado eacute uma proposta de Mateus do Couto Se eacute certo que

este trabalho vem na senda de outros similares de que destacamos o de Alexandre Massai

autor da obra Descripccedilatildeo do Reino do Algarve (em que faz um relatoacuterio sequente ao

levantamento que efectuou a partir de 1617 e concluiacutedo em 1621) outros se lhe seguiram

para a mesma regiatildeo como o trabalho de Joseacute de Sande de Vasconcelos mas jaacute para o

seacuteculo XVIII

Tentaacutemos compreender a sua importacircncia documental sobretudo em termos de ser peccedila

original e uacutenica do Autor Os nossos esforccedilos direccionaram-se sobretudo para a Torre do

Tombo para a Biblioteca Nacional de Portugal para a Biblioteca Nacional de Espanha e

para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo) aleacutem da necessaacuteria pesquisa no

Portugaliae Monumenta Cartographica Nesta uacuteltima obra os trabalhos de Mateus do Couto

sobrinho satildeo referidos apenas para a zona geograacutefica entre Leiria e Vila Nova de Milfontes

constando os desenhos do espoacutelio da Casa Cadaval cota M-VII-25 829 Em nenhuma das

outras Bibliotecas mencionadas encontraacutemos ateacute agora qualquer referecircncia a esta

proposta de arquitectura militar para a costa algarvia de Mateus do Couto (e diga-se

poucas ou nulas conforme as instituiccedilotildees agraves outras enquanto arquitecto civil e religioso)

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Foi apenas na Torre do Tombo que tivemos oportunidade de nos Arquivos da Casa

Cadaval encontrar de alguma forma uma ligaccedilatildeo com o material encontrado em Eacutevora

Temos na Torre do Tombo quatro pastas com as seguintes cota e sequecircncia

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta vermelha) contendo do desenho 1 ao 2524 alguns

desenhos satildeo assinados por Joatildeo Roiz de Mouro em 1693 (Milfontes Sines Palmela Torre

de Beleacutem Santo Amaro) que assinala engenheiros seus antecessores como Difur

Francisco Pimentel e Mateus do Couto Este uacuteltimo nesta pasta assina os desenhos 1617

(Torre do Bugio) apresentando um traccedilo muito similar ao seu a fortaleza de S Sebastiatildeo as

plataformas dos Aacutelamos e da Junqueira o reduto de S Pedro de Beleacutem a torre de Beleacutem (3

desenhos) o forte de S Pedro de Paccedilo drsquoArcos o forte de S Joatildeo das Maias (3 desenhos)

e a plataforma de Santo Amaro

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta amarela) contendo do desenho 2625 ao 5455 Nesta

pasta parece-nos que todos os desenhos pertencem a Mateus do Couto embora nem

todos estejam assinados datados entre Junho e Novembro de 1693 As assinaturas

quando existentes satildeo rigorosamente iguais agraves presentes nas Cartas de Eacutevora Assim

Mateus do Couto assina os desenhos da fortaleza de SJuliatildeo da Barra da cidadela de

Cascais os fortes do Magoito e da Ericeira de S Pedro de Milreco de Santa Susana do

Porto Novo de Nossa Senhora dos Anjos de Nossa Senhora da Consolaccedilatildeo (3 desenhos)

da vila e fortaleza de Peniche (4 desenhos) das fortalezas de S Francisco de Peniche de

Nordf Srordf da Nazareacute uma planta da ilha Berlenga e um conjunto de 7 desenhos que compotildeem

a Planta da Costa de Portugal desde a foz do Lis ateacute Vila Nova de Milfontes (veja-se aqui a

coincidecircncia com o que referem o Almirante Teixeira da Mota e Jaime Cortesatildeo) Desta

Pasta fazem ainda parte os desenhos dos fortes do Junqueiro de S Domingos de Rana de

Santo Antoacutenio de S Joatildeo da Cruz de Santo Antoacutenio de S Teodoacutezio de Santo Antoacutenio de

S Roque dos Inocentes de Santa Catarina junto a Cascais de Santa Marta de Nordf Srordf da

Guia de S Jorge de Sanchete de S Jorge de baixo do Guincho e da Roca

- PT-TT-CCDV29 nordm 29 (2 pastas a verde e a preta) Os conteuacutedos destas duas pastas

podem ser consultados e visualizados no site da Direcccedilatildeo Geral de Arquivos com

descriccedilotildees da costa portuguesa desde o rio Minho ao Guadiana algumas plantas de

fortalezas da costa algarvia da costa alentejana de Setuacutebal e seu porto da barra de Lisboa

plantas de Argel Larache Mazagatildeo entre outras Algumas satildeo atribuiacutedas a Filipe Tersio e

ao capitatildeo Fratino outras assinadas por Leonardo Turriano e Alexandre Massai (4 desenhos

para Portimatildeo) entre outros sem constar Mateus do Couto

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Esta documentaccedilatildeo encontrada na Torre do Tombo e no que respeita a desenhos

assinados por Mateus do Couto permite-nos sugerir que as Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve que existem na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora antecederam em c de sete anos os

desenhos que o Autor apresentou para a costa portuguesa (entre a foz do Lis e Vila Nova de

Milfontes) e para os fortes e fortalezas na zona de LisboaCascaisPeniche Trata-se de uma

fase da sua carreira que repartiu entre a arquitectura civil e religiosa (esta uacuteltima

possivelmente numa fase mais inicial de finais da deacutecada de 70 do seacuteculo XVII) e a

arquitectura militar tambeacutem ela geograficamente localizada entre o Alentejo e o Algarve e

que parece ter sido gizada do interior alentejano para o litoral algarvio e daqui ao longo da

costa portuguesa em sentido ascendente Aleacutem da sua experiecircncia enquanto soldado e

com conhecimento do terreno que aliaacutes revela nas Cartas do Algarve (particularmente para

Castro Marim Faro e Lagos desenhando linhas de aacutegua indicando a natureza do solo)

sabemos tambeacutem da importacircncia do seu trabalho de gabinete na capital que se revela nas

cartas datadas todas supostamente elaboradas em Lisboa

Esta documentaccedilatildeo deveraacute ver o seu valor confirmado tanto por questotildees de actualizaccedilatildeo

ao niacutevel cientiacutefico como por questotildees mais praacuteticas e que se prendem nomeadamente

com intervenccedilotildees no terreno especialmente de cariz arqueoloacutegico A representaccedilatildeo dos

siacutetios de Mateus do Couto eacute distinta da de quem o antecedeu e da de quem lhe sucedeu

(devido tambeacutem agrave distacircncia cronoloacutegica em relaccedilatildeo a Alexandre Massai por exemplo) e

sabemos da importacircncia da mesma a niacutevel patrimonial

A relaccedilatildeo da Geografia com a Histoacuteria

A Geografia tem como objectivo principal o estudo da interacccedilatildeo do homem com o territoacuterio

numa perspectiva dinacircmica que apela aos conhecimentos das ciecircncias da terra e das

ciecircncias sociais e humanas O caraacutecter multidisciplinar da geografia permite o

estabelecimento de uma visatildeo de conjunto da superfiacutecie terrestre e o desenvolvimento de

conhecimentos e instrumentos de anaacutelise integradores e indispensaacuteveis para a formulaccedilatildeo

de poliacuteticas e para o ordenamento e gestatildeo do territoacuterio

O estudo da relaccedilatildeo reciacuteproca entre o homem e o espaccedilo geograacutefico onde as suas

actividades se desenrolam implica o conhecimento da evoluccedilatildeo desta relaccedilatildeo a vaacuterias

escalas temporais e espaciais soacute possiacuteveis de avaliar com os conhecimentos fornecidos por

ciecircncias como a histoacuteria e a cartografia para aleacutem de outras de natureza fiacutesica e

socioeconoacutemica Em suma um dos temas centrais da geografia eacute a relaccedilatildeo do homem com

o meio fiacutesico O meio fiacutesico entendido como as forccedilas que geram e moldam o espaccedilo

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

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Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Procuraacutemos atraveacutes do registo de incorporaccedilotildees existente no Arquivo Distrital de Eacutevora

localizar a desta peccedila tanto em termos do tipo de incorporaccedilatildeo (compra doaccedilatildeohellip) como

da pessoa ou instituiccedilatildeo por isso responsaacutevel tarefa que natildeo deu qualquer fruto Em suma

a peccedila existe natildeo se sabe quando passou a fazer parte do espoacutelio da Biblioteca nem

quem ou que instituiccedilatildeo a fez a ela chegar

De acordo com a sua sequecircncia na Pasta e respeitando ainda as marcas da encadernaccedilatildeo

temos a seguinte listagem dos desenhos Desenho da costa algarvia Planta da fortificaccedilatildeo

de Castro Marim (datado 1686) Castelo de Cacela Forte de S Joatildeo Tavira Forte de S

Lourenccedilo Faro Fortificaccedilatildeo da cidade de Faro Forte de Santo Antoacutenio de Quarteira

Albufeira Forte de Santo Antoacutenio de Pecircra Forte de Nossa Senhora da Rocha Forte de

Nossa Senhora da Encarnaccedilatildeo do Cabo Carvoeiro Forte de S Joatildeo na barra de Vila Nova

de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Portimatildeo Castelo da Vila de Alvor Forte de S Joseacute

da Meia Praia Lagos Ponta da Bandeyra na ribeira da cidade de Lagos Forte do Pinhatildeo

junto agrave cidade de Lagos Forte de Nossa Senhora da Luz Forte de S Luiacutes de Almadena

Forte da Vera Cruz da Figueira Forte de Santo Inaacutecio do Azevial Forte de Nordf Srordf da Guia

da Baleyra Planta da fortificaccedilatildeo de Sagres (Lisboa 10 Junho 1686) Convento e

fortificaccedilatildeo do Cabo de S Vicente Forte de Nordf Srordf da Conceiccedilatildeo no lugar da Carrapateira

Forte da Arrifana

O conjunto documental apresentado eacute uma proposta de Mateus do Couto Se eacute certo que

este trabalho vem na senda de outros similares de que destacamos o de Alexandre Massai

autor da obra Descripccedilatildeo do Reino do Algarve (em que faz um relatoacuterio sequente ao

levantamento que efectuou a partir de 1617 e concluiacutedo em 1621) outros se lhe seguiram

para a mesma regiatildeo como o trabalho de Joseacute de Sande de Vasconcelos mas jaacute para o

seacuteculo XVIII

Tentaacutemos compreender a sua importacircncia documental sobretudo em termos de ser peccedila

original e uacutenica do Autor Os nossos esforccedilos direccionaram-se sobretudo para a Torre do

Tombo para a Biblioteca Nacional de Portugal para a Biblioteca Nacional de Espanha e

para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo) aleacutem da necessaacuteria pesquisa no

Portugaliae Monumenta Cartographica Nesta uacuteltima obra os trabalhos de Mateus do Couto

sobrinho satildeo referidos apenas para a zona geograacutefica entre Leiria e Vila Nova de Milfontes

constando os desenhos do espoacutelio da Casa Cadaval cota M-VII-25 829 Em nenhuma das

outras Bibliotecas mencionadas encontraacutemos ateacute agora qualquer referecircncia a esta

proposta de arquitectura militar para a costa algarvia de Mateus do Couto (e diga-se

poucas ou nulas conforme as instituiccedilotildees agraves outras enquanto arquitecto civil e religioso)

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Foi apenas na Torre do Tombo que tivemos oportunidade de nos Arquivos da Casa

Cadaval encontrar de alguma forma uma ligaccedilatildeo com o material encontrado em Eacutevora

Temos na Torre do Tombo quatro pastas com as seguintes cota e sequecircncia

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta vermelha) contendo do desenho 1 ao 2524 alguns

desenhos satildeo assinados por Joatildeo Roiz de Mouro em 1693 (Milfontes Sines Palmela Torre

de Beleacutem Santo Amaro) que assinala engenheiros seus antecessores como Difur

Francisco Pimentel e Mateus do Couto Este uacuteltimo nesta pasta assina os desenhos 1617

(Torre do Bugio) apresentando um traccedilo muito similar ao seu a fortaleza de S Sebastiatildeo as

plataformas dos Aacutelamos e da Junqueira o reduto de S Pedro de Beleacutem a torre de Beleacutem (3

desenhos) o forte de S Pedro de Paccedilo drsquoArcos o forte de S Joatildeo das Maias (3 desenhos)

e a plataforma de Santo Amaro

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta amarela) contendo do desenho 2625 ao 5455 Nesta

pasta parece-nos que todos os desenhos pertencem a Mateus do Couto embora nem

todos estejam assinados datados entre Junho e Novembro de 1693 As assinaturas

quando existentes satildeo rigorosamente iguais agraves presentes nas Cartas de Eacutevora Assim

Mateus do Couto assina os desenhos da fortaleza de SJuliatildeo da Barra da cidadela de

Cascais os fortes do Magoito e da Ericeira de S Pedro de Milreco de Santa Susana do

Porto Novo de Nossa Senhora dos Anjos de Nossa Senhora da Consolaccedilatildeo (3 desenhos)

da vila e fortaleza de Peniche (4 desenhos) das fortalezas de S Francisco de Peniche de

Nordf Srordf da Nazareacute uma planta da ilha Berlenga e um conjunto de 7 desenhos que compotildeem

a Planta da Costa de Portugal desde a foz do Lis ateacute Vila Nova de Milfontes (veja-se aqui a

coincidecircncia com o que referem o Almirante Teixeira da Mota e Jaime Cortesatildeo) Desta

Pasta fazem ainda parte os desenhos dos fortes do Junqueiro de S Domingos de Rana de

Santo Antoacutenio de S Joatildeo da Cruz de Santo Antoacutenio de S Teodoacutezio de Santo Antoacutenio de

S Roque dos Inocentes de Santa Catarina junto a Cascais de Santa Marta de Nordf Srordf da

Guia de S Jorge de Sanchete de S Jorge de baixo do Guincho e da Roca

- PT-TT-CCDV29 nordm 29 (2 pastas a verde e a preta) Os conteuacutedos destas duas pastas

podem ser consultados e visualizados no site da Direcccedilatildeo Geral de Arquivos com

descriccedilotildees da costa portuguesa desde o rio Minho ao Guadiana algumas plantas de

fortalezas da costa algarvia da costa alentejana de Setuacutebal e seu porto da barra de Lisboa

plantas de Argel Larache Mazagatildeo entre outras Algumas satildeo atribuiacutedas a Filipe Tersio e

ao capitatildeo Fratino outras assinadas por Leonardo Turriano e Alexandre Massai (4 desenhos

para Portimatildeo) entre outros sem constar Mateus do Couto

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Esta documentaccedilatildeo encontrada na Torre do Tombo e no que respeita a desenhos

assinados por Mateus do Couto permite-nos sugerir que as Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve que existem na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora antecederam em c de sete anos os

desenhos que o Autor apresentou para a costa portuguesa (entre a foz do Lis e Vila Nova de

Milfontes) e para os fortes e fortalezas na zona de LisboaCascaisPeniche Trata-se de uma

fase da sua carreira que repartiu entre a arquitectura civil e religiosa (esta uacuteltima

possivelmente numa fase mais inicial de finais da deacutecada de 70 do seacuteculo XVII) e a

arquitectura militar tambeacutem ela geograficamente localizada entre o Alentejo e o Algarve e

que parece ter sido gizada do interior alentejano para o litoral algarvio e daqui ao longo da

costa portuguesa em sentido ascendente Aleacutem da sua experiecircncia enquanto soldado e

com conhecimento do terreno que aliaacutes revela nas Cartas do Algarve (particularmente para

Castro Marim Faro e Lagos desenhando linhas de aacutegua indicando a natureza do solo)

sabemos tambeacutem da importacircncia do seu trabalho de gabinete na capital que se revela nas

cartas datadas todas supostamente elaboradas em Lisboa

Esta documentaccedilatildeo deveraacute ver o seu valor confirmado tanto por questotildees de actualizaccedilatildeo

ao niacutevel cientiacutefico como por questotildees mais praacuteticas e que se prendem nomeadamente

com intervenccedilotildees no terreno especialmente de cariz arqueoloacutegico A representaccedilatildeo dos

siacutetios de Mateus do Couto eacute distinta da de quem o antecedeu e da de quem lhe sucedeu

(devido tambeacutem agrave distacircncia cronoloacutegica em relaccedilatildeo a Alexandre Massai por exemplo) e

sabemos da importacircncia da mesma a niacutevel patrimonial

A relaccedilatildeo da Geografia com a Histoacuteria

A Geografia tem como objectivo principal o estudo da interacccedilatildeo do homem com o territoacuterio

numa perspectiva dinacircmica que apela aos conhecimentos das ciecircncias da terra e das

ciecircncias sociais e humanas O caraacutecter multidisciplinar da geografia permite o

estabelecimento de uma visatildeo de conjunto da superfiacutecie terrestre e o desenvolvimento de

conhecimentos e instrumentos de anaacutelise integradores e indispensaacuteveis para a formulaccedilatildeo

de poliacuteticas e para o ordenamento e gestatildeo do territoacuterio

O estudo da relaccedilatildeo reciacuteproca entre o homem e o espaccedilo geograacutefico onde as suas

actividades se desenrolam implica o conhecimento da evoluccedilatildeo desta relaccedilatildeo a vaacuterias

escalas temporais e espaciais soacute possiacuteveis de avaliar com os conhecimentos fornecidos por

ciecircncias como a histoacuteria e a cartografia para aleacutem de outras de natureza fiacutesica e

socioeconoacutemica Em suma um dos temas centrais da geografia eacute a relaccedilatildeo do homem com

o meio fiacutesico O meio fiacutesico entendido como as forccedilas que geram e moldam o espaccedilo

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

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BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

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QUARESMA Antoacutenio Martins Alexandre Massai a Escola Italiana de Engenharia Militar no

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VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

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Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Foi apenas na Torre do Tombo que tivemos oportunidade de nos Arquivos da Casa

Cadaval encontrar de alguma forma uma ligaccedilatildeo com o material encontrado em Eacutevora

Temos na Torre do Tombo quatro pastas com as seguintes cota e sequecircncia

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta vermelha) contendo do desenho 1 ao 2524 alguns

desenhos satildeo assinados por Joatildeo Roiz de Mouro em 1693 (Milfontes Sines Palmela Torre

de Beleacutem Santo Amaro) que assinala engenheiros seus antecessores como Difur

Francisco Pimentel e Mateus do Couto Este uacuteltimo nesta pasta assina os desenhos 1617

(Torre do Bugio) apresentando um traccedilo muito similar ao seu a fortaleza de S Sebastiatildeo as

plataformas dos Aacutelamos e da Junqueira o reduto de S Pedro de Beleacutem a torre de Beleacutem (3

desenhos) o forte de S Pedro de Paccedilo drsquoArcos o forte de S Joatildeo das Maias (3 desenhos)

e a plataforma de Santo Amaro

- PT-TT-CCDV28 nordm 28 (pasta amarela) contendo do desenho 2625 ao 5455 Nesta

pasta parece-nos que todos os desenhos pertencem a Mateus do Couto embora nem

todos estejam assinados datados entre Junho e Novembro de 1693 As assinaturas

quando existentes satildeo rigorosamente iguais agraves presentes nas Cartas de Eacutevora Assim

Mateus do Couto assina os desenhos da fortaleza de SJuliatildeo da Barra da cidadela de

Cascais os fortes do Magoito e da Ericeira de S Pedro de Milreco de Santa Susana do

Porto Novo de Nossa Senhora dos Anjos de Nossa Senhora da Consolaccedilatildeo (3 desenhos)

da vila e fortaleza de Peniche (4 desenhos) das fortalezas de S Francisco de Peniche de

Nordf Srordf da Nazareacute uma planta da ilha Berlenga e um conjunto de 7 desenhos que compotildeem

a Planta da Costa de Portugal desde a foz do Lis ateacute Vila Nova de Milfontes (veja-se aqui a

coincidecircncia com o que referem o Almirante Teixeira da Mota e Jaime Cortesatildeo) Desta

Pasta fazem ainda parte os desenhos dos fortes do Junqueiro de S Domingos de Rana de

Santo Antoacutenio de S Joatildeo da Cruz de Santo Antoacutenio de S Teodoacutezio de Santo Antoacutenio de

S Roque dos Inocentes de Santa Catarina junto a Cascais de Santa Marta de Nordf Srordf da

Guia de S Jorge de Sanchete de S Jorge de baixo do Guincho e da Roca

- PT-TT-CCDV29 nordm 29 (2 pastas a verde e a preta) Os conteuacutedos destas duas pastas

podem ser consultados e visualizados no site da Direcccedilatildeo Geral de Arquivos com

descriccedilotildees da costa portuguesa desde o rio Minho ao Guadiana algumas plantas de

fortalezas da costa algarvia da costa alentejana de Setuacutebal e seu porto da barra de Lisboa

plantas de Argel Larache Mazagatildeo entre outras Algumas satildeo atribuiacutedas a Filipe Tersio e

ao capitatildeo Fratino outras assinadas por Leonardo Turriano e Alexandre Massai (4 desenhos

para Portimatildeo) entre outros sem constar Mateus do Couto

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Esta documentaccedilatildeo encontrada na Torre do Tombo e no que respeita a desenhos

assinados por Mateus do Couto permite-nos sugerir que as Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve que existem na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora antecederam em c de sete anos os

desenhos que o Autor apresentou para a costa portuguesa (entre a foz do Lis e Vila Nova de

Milfontes) e para os fortes e fortalezas na zona de LisboaCascaisPeniche Trata-se de uma

fase da sua carreira que repartiu entre a arquitectura civil e religiosa (esta uacuteltima

possivelmente numa fase mais inicial de finais da deacutecada de 70 do seacuteculo XVII) e a

arquitectura militar tambeacutem ela geograficamente localizada entre o Alentejo e o Algarve e

que parece ter sido gizada do interior alentejano para o litoral algarvio e daqui ao longo da

costa portuguesa em sentido ascendente Aleacutem da sua experiecircncia enquanto soldado e

com conhecimento do terreno que aliaacutes revela nas Cartas do Algarve (particularmente para

Castro Marim Faro e Lagos desenhando linhas de aacutegua indicando a natureza do solo)

sabemos tambeacutem da importacircncia do seu trabalho de gabinete na capital que se revela nas

cartas datadas todas supostamente elaboradas em Lisboa

Esta documentaccedilatildeo deveraacute ver o seu valor confirmado tanto por questotildees de actualizaccedilatildeo

ao niacutevel cientiacutefico como por questotildees mais praacuteticas e que se prendem nomeadamente

com intervenccedilotildees no terreno especialmente de cariz arqueoloacutegico A representaccedilatildeo dos

siacutetios de Mateus do Couto eacute distinta da de quem o antecedeu e da de quem lhe sucedeu

(devido tambeacutem agrave distacircncia cronoloacutegica em relaccedilatildeo a Alexandre Massai por exemplo) e

sabemos da importacircncia da mesma a niacutevel patrimonial

A relaccedilatildeo da Geografia com a Histoacuteria

A Geografia tem como objectivo principal o estudo da interacccedilatildeo do homem com o territoacuterio

numa perspectiva dinacircmica que apela aos conhecimentos das ciecircncias da terra e das

ciecircncias sociais e humanas O caraacutecter multidisciplinar da geografia permite o

estabelecimento de uma visatildeo de conjunto da superfiacutecie terrestre e o desenvolvimento de

conhecimentos e instrumentos de anaacutelise integradores e indispensaacuteveis para a formulaccedilatildeo

de poliacuteticas e para o ordenamento e gestatildeo do territoacuterio

O estudo da relaccedilatildeo reciacuteproca entre o homem e o espaccedilo geograacutefico onde as suas

actividades se desenrolam implica o conhecimento da evoluccedilatildeo desta relaccedilatildeo a vaacuterias

escalas temporais e espaciais soacute possiacuteveis de avaliar com os conhecimentos fornecidos por

ciecircncias como a histoacuteria e a cartografia para aleacutem de outras de natureza fiacutesica e

socioeconoacutemica Em suma um dos temas centrais da geografia eacute a relaccedilatildeo do homem com

o meio fiacutesico O meio fiacutesico entendido como as forccedilas que geram e moldam o espaccedilo

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

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VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

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Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Esta documentaccedilatildeo encontrada na Torre do Tombo e no que respeita a desenhos

assinados por Mateus do Couto permite-nos sugerir que as Cartas Mariacutetimas do Reino do

Algarve que existem na Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora antecederam em c de sete anos os

desenhos que o Autor apresentou para a costa portuguesa (entre a foz do Lis e Vila Nova de

Milfontes) e para os fortes e fortalezas na zona de LisboaCascaisPeniche Trata-se de uma

fase da sua carreira que repartiu entre a arquitectura civil e religiosa (esta uacuteltima

possivelmente numa fase mais inicial de finais da deacutecada de 70 do seacuteculo XVII) e a

arquitectura militar tambeacutem ela geograficamente localizada entre o Alentejo e o Algarve e

que parece ter sido gizada do interior alentejano para o litoral algarvio e daqui ao longo da

costa portuguesa em sentido ascendente Aleacutem da sua experiecircncia enquanto soldado e

com conhecimento do terreno que aliaacutes revela nas Cartas do Algarve (particularmente para

Castro Marim Faro e Lagos desenhando linhas de aacutegua indicando a natureza do solo)

sabemos tambeacutem da importacircncia do seu trabalho de gabinete na capital que se revela nas

cartas datadas todas supostamente elaboradas em Lisboa

Esta documentaccedilatildeo deveraacute ver o seu valor confirmado tanto por questotildees de actualizaccedilatildeo

ao niacutevel cientiacutefico como por questotildees mais praacuteticas e que se prendem nomeadamente

com intervenccedilotildees no terreno especialmente de cariz arqueoloacutegico A representaccedilatildeo dos

siacutetios de Mateus do Couto eacute distinta da de quem o antecedeu e da de quem lhe sucedeu

(devido tambeacutem agrave distacircncia cronoloacutegica em relaccedilatildeo a Alexandre Massai por exemplo) e

sabemos da importacircncia da mesma a niacutevel patrimonial

A relaccedilatildeo da Geografia com a Histoacuteria

A Geografia tem como objectivo principal o estudo da interacccedilatildeo do homem com o territoacuterio

numa perspectiva dinacircmica que apela aos conhecimentos das ciecircncias da terra e das

ciecircncias sociais e humanas O caraacutecter multidisciplinar da geografia permite o

estabelecimento de uma visatildeo de conjunto da superfiacutecie terrestre e o desenvolvimento de

conhecimentos e instrumentos de anaacutelise integradores e indispensaacuteveis para a formulaccedilatildeo

de poliacuteticas e para o ordenamento e gestatildeo do territoacuterio

O estudo da relaccedilatildeo reciacuteproca entre o homem e o espaccedilo geograacutefico onde as suas

actividades se desenrolam implica o conhecimento da evoluccedilatildeo desta relaccedilatildeo a vaacuterias

escalas temporais e espaciais soacute possiacuteveis de avaliar com os conhecimentos fornecidos por

ciecircncias como a histoacuteria e a cartografia para aleacutem de outras de natureza fiacutesica e

socioeconoacutemica Em suma um dos temas centrais da geografia eacute a relaccedilatildeo do homem com

o meio fiacutesico O meio fiacutesico entendido como as forccedilas que geram e moldam o espaccedilo

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

Lisboa Ciacuterculo de Leitores 2003 Vol I

BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

no tempo de D Manuel (1495-1521)rdquo lt httplerletrasupptuploadsficheiros3875pdfgt

acesso Janeiro 2009

CARVALHO Ayres de Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Lisboa Biblioteca Nacional

1977

COUTINHO Valdemar (coord de) Dinacircmica defensiva da costa do Algarve Do periacuteodo

islacircmico ao seacuteculo XVIII Portimatildeo 2001

DIAS Joatildeo Alveirinho Rodrigues Aurora Magalhatildees Fernando Evoluccedilatildeo da linha de

costa em Portugal desde o uacuteltimo maacuteximo glaciaacuterio ateacute agrave actualidade siacutentese dos

conhecimentos Estudos do Quaternaacuterio (1) APEQ Lisboa 1997

DIAS Pedro A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos (1415-1769) Lisboa 2000

DINIS Jorge Henriques Virgiacutenia Freitas Conceiccedilatildeo Andrade Ceacutesar Natural to

anthropogenic forcing in the Holocenic evolution of three coastal lagoons (Caldas da Rainha

valleywestern Portugal Quaternary International 150 Elsevier pp41-51 2006

FORTES Azevedo Engenheiro Portuguecircs1728

GUEDES Liacutevio da CostaDescripccedilatildeo de Alexandre Massai (1621) In Separata do Arquivo

Histoacuterico Militar Lisboa 1988

IDEM - A construccedilatildeo de Mazagatildeo cartas ineacuteditas 1541-1542 Lisboa Instituto Portuguecircs do

Patrimoacutenio Arquitectoacutenico 2001

IDEM - Castelos fortalezas e torres da regiatildeo do Algarve Faro 1997

IDEM - Histoacuteria das Fortificaccedilotildees Portuguesas no Mundo Lisboa Ed Alfa 1989

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IDEM ldquoAs fortalezas da costa algarvia durante o periacuteodo das economias-mundo centradas

em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

LAMB H Climate history and modern world Second edition London Routledge

MAGALHAtildeES Nateacutercia Algarve Castelos Cercas e Fortalezas Faro 2008

MOREIRA Rafael Histoacuteria da Arte em Portugal Lisboa Ed Alfa 1988

PIMENTEL Luiacutes Serratildeo Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das

praccedilas regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a

arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor

Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

QUARESMA Antoacutenio Martins Alexandre Massai a Escola Italiana de Engenharia Militar no

Litoral Alentejano (seacuteculos XVI e XVII) Sines Centro Cultural Emmeacuterico Nunes 2007

VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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geograacutefico isto eacute a dinacircmica e interacccedilotildees que existem entre a atmosfera litosfera

hidrosfera e biosfera o homem entendido como um agente capaz de modificar

consideravelmente as forccedilas da natureza atraveacutes da sua cultura e da sua tecnologia Desta

relaccedilatildeo reciacuteproca resulta um espaccedilo geograacutefico que foi modificado pelo homem ao longo da

histoacuteria que conteacutem um passado histoacuterico e foi transformado pela organizaccedilatildeo social

teacutecnica e econoacutemica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares

A influecircncia do meio fiacutesico na construccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico actual as tentativas de

adaptaccedilatildeo do homem ao ambiente em que estava inserido assim como a forma como

tentou modificar esse meio soacute satildeo possiacuteveis de avaliar com o recurso agrave informaccedilatildeo

histoacuterica geofiacutesica e geomorfoloacutegica

A evoluccedilatildeo da fachada atlacircntica que constitui hoje Portugal eacute um bom exemplo das relaccedilotildees

estreitas entre a geografia e a histoacuteria a vaacuterias escalas temporais Haacute cerca de 18000 anos

(Uacuteltimo Maacuteximo Glaciaacuterio) quando o niacutevel meacutedio do mar se localizava em meacutedia cerca de

120 m abaixo do actual o litoral e os estuaacuterios situavam-se cerca de 10km para poente

configurando um espaccedilo substancialmente diferente do actual (Dias 1997) A deglaciaccedilatildeo

posterior e a modificaccedilatildeo do clima introduziram modificaccedilotildees significativas na paisagem Na

ausecircncia de documentaccedilatildeo histoacuterica as evidecircncias geoloacutegicas sedimentoloacutegicas e

morfoloacutegicas permitem a reconstituiccedilatildeo paleoambiental a esta escala temporal Haacute cerca de

3000 anos o mar atingiu o niacutevel meacutedio proacuteximo do actual mas a configuraccedilatildeo da linha de

costa era significativamente diferente da de hoje predominando um recorte mais acentuado

resultante da presenccedila de estuaacuterios lagunas e campos dunares mais amplos e reentrantes

intercalados por arribas Desta eacutepoca ateacute ao presente as caracteriacutesticas baacutesicas do clima

mantiveram-se em termos de circulaccedilatildeo atmosfeacuterica geral Contudo ocorreram pequenas

oscilaccedilotildees climaacuteticas (positivas e negativas) que se manifestaram na morfologia e no

coberto vegetal com repercussotildees socioeconoacutemicas na ocupaccedilatildeo do territoacuterio (Lamb

1995) alterando assim a relaccedilatildeo do homem com o meio em especial nas aacutereas litorais e

ribeirinhas (Dinis 2007) Em eacutepocas em que os registos instrumentais cartograacuteficos e

fotograacuteficos natildeo existiam ou eram ainda muito incipientes a magnitude (ainda que

aproximada) de pequenas variaccedilotildees do niacutevel do mar e oscilaccedilotildees climaacuteticas de eventos

extremos (tempestades sismos tsunamis entre outros) ou de modificaccedilotildees da paisagem soacute

pode ser avaliada atraveacutes de registos documentais pois agrave escala secular e decenal os

registos sedimentares ou geomorfoloacutegicos nem sempre manifestam de forma evidente a

assinatura destes fenoacutemenos ou se ela estaacute presente muitas vezes a sua correlaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com recurso agrave documentaccedilatildeo histoacuterica eou ao contexto

socioeconoacutemico e poliacutetico que esta nos pode fornecer

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

Lisboa Ciacuterculo de Leitores 2003 Vol I

BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

no tempo de D Manuel (1495-1521)rdquo lt httplerletrasupptuploadsficheiros3875pdfgt

acesso Janeiro 2009

CARVALHO Ayres de Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Lisboa Biblioteca Nacional

1977

COUTINHO Valdemar (coord de) Dinacircmica defensiva da costa do Algarve Do periacuteodo

islacircmico ao seacuteculo XVIII Portimatildeo 2001

DIAS Joatildeo Alveirinho Rodrigues Aurora Magalhatildees Fernando Evoluccedilatildeo da linha de

costa em Portugal desde o uacuteltimo maacuteximo glaciaacuterio ateacute agrave actualidade siacutentese dos

conhecimentos Estudos do Quaternaacuterio (1) APEQ Lisboa 1997

DIAS Pedro A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos (1415-1769) Lisboa 2000

DINIS Jorge Henriques Virgiacutenia Freitas Conceiccedilatildeo Andrade Ceacutesar Natural to

anthropogenic forcing in the Holocenic evolution of three coastal lagoons (Caldas da Rainha

valleywestern Portugal Quaternary International 150 Elsevier pp41-51 2006

FORTES Azevedo Engenheiro Portuguecircs1728

GUEDES Liacutevio da CostaDescripccedilatildeo de Alexandre Massai (1621) In Separata do Arquivo

Histoacuterico Militar Lisboa 1988

IDEM - A construccedilatildeo de Mazagatildeo cartas ineacuteditas 1541-1542 Lisboa Instituto Portuguecircs do

Patrimoacutenio Arquitectoacutenico 2001

IDEM - Castelos fortalezas e torres da regiatildeo do Algarve Faro 1997

IDEM - Histoacuteria das Fortificaccedilotildees Portuguesas no Mundo Lisboa Ed Alfa 1989

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

16

IDEM ldquoAs fortalezas da costa algarvia durante o periacuteodo das economias-mundo centradas

em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

LAMB H Climate history and modern world Second edition London Routledge

MAGALHAtildeES Nateacutercia Algarve Castelos Cercas e Fortalezas Faro 2008

MOREIRA Rafael Histoacuteria da Arte em Portugal Lisboa Ed Alfa 1988

PIMENTEL Luiacutes Serratildeo Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das

praccedilas regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a

arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor

Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

QUARESMA Antoacutenio Martins Alexandre Massai a Escola Italiana de Engenharia Militar no

Litoral Alentejano (seacuteculos XVI e XVII) Sines Centro Cultural Emmeacuterico Nunes 2007

VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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De salientar ainda a importacircncia do ldquoSiacutetiordquo e da ldquoPosiccedilatildeordquo dos lugares ocupados pelo

homem Reflexo das relaccedilotildees deste com o espaccedilo com os outros povos com os quais

comunica ou com os espaccedilos em que se desloca evidenciam a interdependecircncia entre o

ldquoespaccedilordquo o ldquotempordquo e a ldquofunccedilatildeordquo Na avaliaccedilatildeo e evoluccedilatildeo destas relaccedilotildees a necessidade

de aproximaccedilatildeo da Geografia agrave Histoacuteria e o caraacutecter de charneira destas duas ciecircncias eacute

determinante como se pode constatar neste estudo da representaccedilatildeo das estruturas

defensivas do litoral do Algarve agrave semelhanccedila da heranccedila do seacuteculo XVII que tambeacutem

consagrava a aproximaccedilatildeo entre aacutereas do conhecimento como testemunhamos nas

propostas legadas por Mateus do Couto

A localizaccedilatildeo e o rigor das plantas dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas

Cartas Mariacutetimas do Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com detalhe e rigor geomeacutetrico as fortificaccedilotildees da

costa algarvia acompanhadas quase sempre de um pequeno enquadramento geograacutefico

da aacuterea envolvente As representaccedilotildees revelam um observador atento que nuns casos

recorre a elementos geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais

Noutros representa com grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de

arriba que facilitam e enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo

perspectivada das arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no

sapal de Castro Marim ou na fortificaccedilatildeo da cidade de Faro

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees cartografadas nem sempre foi possiacutevel Contudo

verificou-se que as construccedilotildees assentes sobre arribas foram mais difiacuteceis de identificar no

terreno Ao contraacuterio do que inicialmente supuacutenhamos algumas construiacutedas em locais

baixos nas imediaccedilotildees de dunas ou restingas resultantes da migraccedilatildeo dos canais para o

largo foram facilmente identificadas e georreferenciadas Nos locais de litologia mais branda

e maior hidrodinamismo natildeo foi possiacutevel localizar algumas das fortificaccedilotildees havendo

informaccedilotildees que indiciam o seu desaparecimento (por desmoronamento) em virtude de um

acentuado recuo da linha de costa (Santo Antoacutenio de Quarteira e S Lourenccedilo da Barra de

Portimatildeo)

Estudos de caso

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

Lisboa Ciacuterculo de Leitores 2003 Vol I

BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

no tempo de D Manuel (1495-1521)rdquo lt httplerletrasupptuploadsficheiros3875pdfgt

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1977

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islacircmico ao seacuteculo XVIII Portimatildeo 2001

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costa em Portugal desde o uacuteltimo maacuteximo glaciaacuterio ateacute agrave actualidade siacutentese dos

conhecimentos Estudos do Quaternaacuterio (1) APEQ Lisboa 1997

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DINIS Jorge Henriques Virgiacutenia Freitas Conceiccedilatildeo Andrade Ceacutesar Natural to

anthropogenic forcing in the Holocenic evolution of three coastal lagoons (Caldas da Rainha

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Patrimoacutenio Arquitectoacutenico 2001

IDEM - Castelos fortalezas e torres da regiatildeo do Algarve Faro 1997

IDEM - Histoacuteria das Fortificaccedilotildees Portuguesas no Mundo Lisboa Ed Alfa 1989

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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IDEM ldquoAs fortalezas da costa algarvia durante o periacuteodo das economias-mundo centradas

em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

LAMB H Climate history and modern world Second edition London Routledge

MAGALHAtildeES Nateacutercia Algarve Castelos Cercas e Fortalezas Faro 2008

MOREIRA Rafael Histoacuteria da Arte em Portugal Lisboa Ed Alfa 1988

PIMENTEL Luiacutes Serratildeo Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das

praccedilas regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a

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Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

QUARESMA Antoacutenio Martins Alexandre Massai a Escola Italiana de Engenharia Militar no

Litoral Alentejano (seacuteculos XVI e XVII) Sines Centro Cultural Emmeacuterico Nunes 2007

VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito procurou-se avaliar se o rigor que este Autor

apresenta no desenho das fortificaccedilotildees corresponde tambeacutem ao rigor dos elementos

naturais que acompanham as plantas assim como a configuraccedilatildeo actual dos monumentos

representados Esta abordagem eacute feita atraveacutes de correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste das

imagens a um espaccedilo definido por um sistema de coordenadas de referecircncia Esta tarefa

compreende o registo (com translaccedilatildeo e rotaccedilatildeo da informaccedilatildeo) ou a rectificaccedilatildeo (ou

warping) atraveacutes do ajuste a um polinoacutemio de primeira segunda ou terceira ordens

conforme o erro obtido durante o processo de georreferenciaccedilatildeo Este processo consiste no

reconhecimento de pontos de controlo (GCP ou ground control points) na imagem na

entrada das coordenadas reais dos GCPrsquos e na escolha do polinoacutemio a ser aplicado agrave

transformaccedilatildeo Uma vez que a selecccedilatildeo dos pontos de controlo eacute decisiva para a qualidade

da correcccedilatildeo geomeacutetrica e como as imagens satildeo muito antigas opta-se por utilizar o

edificado Na impossibilidade de o fazer teratildeo de encontrar-se outras referecircncias fiacutesicas

coincidentes entre a imagem a georreferenciar e a imagem georreferenciada a usar como

base

Para a concretizaccedilatildeo deste objectivo procedeu-se agrave selecccedilatildeo das plantas em que estatildeo

representados elementos fisiograacuteficos e cujas estruturas puderam ser identificadas (ainda

que parcialmente) nas Cartas Militares de Portugal em Ortofotomapas ou em imagens de

sateacutelite A partir desta opccedilatildeo foram escolhidos os exemplos de mais faacutecil identificaccedilatildeo em

vaacuterias unidades geomorfoloacutegicas No litoral central e oriental entre a foz do rio de Guadiana

e a regiatildeo do Ancatildeo dominado por praias coroadas por dunas e um complexo sistema de

cordotildees litorais e ilhas-barreira que formam a ria Formosa com predomiacutenio de acumulaccedilatildeo

Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datado 1686) Forte de S Joatildeo Tavira No litoral

ocidental em sectores de arriba que abrigam as baiacuteas reentrantes de Portimatildeo Alvor e

Lagos Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo Forte de Santa Catarina Forte

de S Joseacute da Meia Praia Forte do Pinhatildeo junto agrave cidade de Lagos Forte de S Luiacutes de

Almadena (Figura 1)

O rigor da representaccedilatildeo

A metodologia acima descrita cerca pocircde ser aplicada a sete representaccedilotildees de Mateus do

Couto No Algarve oriental (entre a Foz do Guadiana e o Ancatildeo) foi avaliado o rigor da

representaccedilatildeo para a Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) e para a Planta

da Forte de S Joatildeo O primeiro (Figura 2) revela um ajuste razoaacutevel na geometria do

edificado e a rede hidrograacutefica que margina a colina do forte e a cidade aproximam-se da

configuraccedilatildeo A maior discrepacircncia ocorre na localizaccedilatildeo dos principais canais de mareacute e do

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

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identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

15

Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

Lisboa Ciacuterculo de Leitores 2003 Vol I

BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

no tempo de D Manuel (1495-1521)rdquo lt httplerletrasupptuploadsficheiros3875pdfgt

acesso Janeiro 2009

CARVALHO Ayres de Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Lisboa Biblioteca Nacional

1977

COUTINHO Valdemar (coord de) Dinacircmica defensiva da costa do Algarve Do periacuteodo

islacircmico ao seacuteculo XVIII Portimatildeo 2001

DIAS Joatildeo Alveirinho Rodrigues Aurora Magalhatildees Fernando Evoluccedilatildeo da linha de

costa em Portugal desde o uacuteltimo maacuteximo glaciaacuterio ateacute agrave actualidade siacutentese dos

conhecimentos Estudos do Quaternaacuterio (1) APEQ Lisboa 1997

DIAS Pedro A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos (1415-1769) Lisboa 2000

DINIS Jorge Henriques Virgiacutenia Freitas Conceiccedilatildeo Andrade Ceacutesar Natural to

anthropogenic forcing in the Holocenic evolution of three coastal lagoons (Caldas da Rainha

valleywestern Portugal Quaternary International 150 Elsevier pp41-51 2006

FORTES Azevedo Engenheiro Portuguecircs1728

GUEDES Liacutevio da CostaDescripccedilatildeo de Alexandre Massai (1621) In Separata do Arquivo

Histoacuterico Militar Lisboa 1988

IDEM - A construccedilatildeo de Mazagatildeo cartas ineacuteditas 1541-1542 Lisboa Instituto Portuguecircs do

Patrimoacutenio Arquitectoacutenico 2001

IDEM - Castelos fortalezas e torres da regiatildeo do Algarve Faro 1997

IDEM - Histoacuteria das Fortificaccedilotildees Portuguesas no Mundo Lisboa Ed Alfa 1989

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

16

IDEM ldquoAs fortalezas da costa algarvia durante o periacuteodo das economias-mundo centradas

em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

LAMB H Climate history and modern world Second edition London Routledge

MAGALHAtildeES Nateacutercia Algarve Castelos Cercas e Fortalezas Faro 2008

MOREIRA Rafael Histoacuteria da Arte em Portugal Lisboa Ed Alfa 1988

PIMENTEL Luiacutes Serratildeo Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das

praccedilas regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a

arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor

Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

QUARESMA Antoacutenio Martins Alexandre Massai a Escola Italiana de Engenharia Militar no

Litoral Alentejano (seacuteculos XVI e XVII) Sines Centro Cultural Emmeacuterico Nunes 2007

VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

18

Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

19

Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

20

Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

21

Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

22

Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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rio Guadiana representado nas imediaccedilotildees do burgo e hoje deslocado cerca de 15km para

oriente Mesmo considerando que se trata de uma superfiacutecie de sapal muito baixa sulcada

por muacuteltiplos canais de mareacute e sujeita a vaacuterias utilizaccedilotildees do solo a configuraccedilatildeo

representada poderaacute agrave partida ser uma opccedilatildeo do Autor para representar sem a

preocupaccedilatildeo da escala os elementos geograacuteficos principais (canais de mareacute principais

salinas e rio Guadiana)

Ainda no Algarve oriental eacute surpreendente a correspondecircncia entre o desenho e o estado

actual do Forte de S Joatildeo de Tavira em Cabanas (Figura 3) O desenho da costa eacute muito

rigoroso resultando a diferenccedila observada da progressatildeo da restinga no canal de Tavira

para ocidente alimentada pelos sedimentos provenientes da Foz do Guadiana

No sector do Algarve ocidental obteve-se um excelente ajuste entre as representaccedilotildees de

Mateus do Couto e os testemunhos conservados Na barra de Portimatildeo o Forte de Santa

Catarina encontra-se actualmente mais afastado do mar (Figuras 4 e 5) em resultado da

acumulaccedilatildeo arenosa decorrente da acccedilatildeo antroacutepica exercida aos longos dos tempos dada

a sua importacircncia estrateacutegica e econoacutemica Na margem esquerda do estuaacuterio em posiccedilatildeo

interior mais abrigada o Forte de S Joatildeo da barra de Vila Nova de Portimatildeo e a aacuterea

envolvente mantiveram configuraccedilatildeo muito proacutexima da representada (Figura 6) com ligeiro

acreacutescimo da sedimentaccedilatildeo

Ainda neste sector entre as Baiacuteas de Lagos e Alvor identificaram-se os Fortes de S Joseacute

da Meia Praia de S Luiacutes de Almadena e embora com localizaccedilatildeo duvidosa o forte do

Pinhatildeo No primeiro caso (Figura 7) a estrutura situa-se a baixa altitude no cordatildeo arenoso

que se estende entre as duas baiacuteas Os detritos resultantes da elevada taxa de recuo das

arribas deste sector e o abrigo provocado pela Ponta da Piedade permitiram a manutenccedilatildeo

da estrutura e o crescimento significativo do cordatildeo arenoso (cerca de 100 m nos uacuteltimos 3

seacuteculos) Mais para ocidente na representaccedilatildeo do Forte de S Luiacutes de Almadena

implantado no topo de uma arriba vigorosa (Figura 8) pode observar-se uma estreita

coincidecircncia entre o limite do desenho e o actual limite do topo da arriba que o Autor faz

coincidir com a linha de costa Este aspecto sublinha a sensibilidade e o rigor deste para as

questotildees do relevo no caso deste forte eacute mais difiacutecil a apreciaccedilatildeo do desenho em relaccedilatildeo agrave

estrutura construiacuteda pois esta encontra-se muito degradada A localizaccedilatildeo do Forte do

Pinhatildeo natildeo eacute segura pois a referencias escritas encontradas5 descrevem vestiacutegios de

ruiacutenas desta construccedilatildeo no topo num rochedo bem destacado do continente e difiacutecil de

5 Consulta em httpwwwmonumentosptSiteAPP_PagesUserSIPASearchaspxid=0c69a68c-

2a18-4788-9300-11ff2619a4d2 acesso em 1 Setembro 2011

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

14

identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

Lisboa Ciacuterculo de Leitores 2003 Vol I

BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

no tempo de D Manuel (1495-1521)rdquo lt httplerletrasupptuploadsficheiros3875pdfgt

acesso Janeiro 2009

CARVALHO Ayres de Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Lisboa Biblioteca Nacional

1977

COUTINHO Valdemar (coord de) Dinacircmica defensiva da costa do Algarve Do periacuteodo

islacircmico ao seacuteculo XVIII Portimatildeo 2001

DIAS Joatildeo Alveirinho Rodrigues Aurora Magalhatildees Fernando Evoluccedilatildeo da linha de

costa em Portugal desde o uacuteltimo maacuteximo glaciaacuterio ateacute agrave actualidade siacutentese dos

conhecimentos Estudos do Quaternaacuterio (1) APEQ Lisboa 1997

DIAS Pedro A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos (1415-1769) Lisboa 2000

DINIS Jorge Henriques Virgiacutenia Freitas Conceiccedilatildeo Andrade Ceacutesar Natural to

anthropogenic forcing in the Holocenic evolution of three coastal lagoons (Caldas da Rainha

valleywestern Portugal Quaternary International 150 Elsevier pp41-51 2006

FORTES Azevedo Engenheiro Portuguecircs1728

GUEDES Liacutevio da CostaDescripccedilatildeo de Alexandre Massai (1621) In Separata do Arquivo

Histoacuterico Militar Lisboa 1988

IDEM - A construccedilatildeo de Mazagatildeo cartas ineacuteditas 1541-1542 Lisboa Instituto Portuguecircs do

Patrimoacutenio Arquitectoacutenico 2001

IDEM - Castelos fortalezas e torres da regiatildeo do Algarve Faro 1997

IDEM - Histoacuteria das Fortificaccedilotildees Portuguesas no Mundo Lisboa Ed Alfa 1989

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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IDEM ldquoAs fortalezas da costa algarvia durante o periacuteodo das economias-mundo centradas

em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

LAMB H Climate history and modern world Second edition London Routledge

MAGALHAtildeES Nateacutercia Algarve Castelos Cercas e Fortalezas Faro 2008

MOREIRA Rafael Histoacuteria da Arte em Portugal Lisboa Ed Alfa 1988

PIMENTEL Luiacutes Serratildeo Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das

praccedilas regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a

arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor

Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

QUARESMA Antoacutenio Martins Alexandre Massai a Escola Italiana de Engenharia Militar no

Litoral Alentejano (seacuteculos XVI e XVII) Sines Centro Cultural Emmeacuterico Nunes 2007

VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

17

Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

18

Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

19

Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

20

Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

21

Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

22

Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

14

identificar A figura 9 corresponde a uma possiacutevel localizaccedilatildeo obtida pela toponiacutemia e pelo

ajuste do desenho de Mateus do Couto Contudo a ser correcta revela uma vez mais o

padratildeo de rigor comum aacute generalidade dos casos estudados

Ao contraacuterio do inicialmente suposto natildeo foi possiacutevel proceder agrave georreferenciaccedilatildeo do

conjunto das fortalezas de Sagres e do Cabo de S Vicente pelo facto de natildeo haver

coincidecircncia na geometria das edificaccedilotildees representadas nas plantas de Mateus do Couto e

a as actualmente existentes

Conclusotildees

A presente abordagem partiu da anaacutelise de uma proposta ineacutedita de Mateus do Couto

(sobrinho) engenheiro militar do seacuteculo XVII para uma estrateacutegia de defesa do litoral

algarvio Esta proposta cujo original pertence ao acervo da Biblioteca Puacuteblica de Eacutevora

permitiu apreciar a aplicaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo das regras do abaluartado entre o barlavento e o

sotavento algarvios

Satildeo analisadas de uma forma transdisciplinar algumas das plantas das fortificaccedilotildees

desenhadas pelo Autor para atraveacutes da perspectiva integrada da Histoacuteria e da Geografia

completada pelo uso de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica as apreciar no contexto da

dinacircmica actual do litoral

Mateus do Couto (sobrinho) apresenta com rigor as fortificaccedilotildees da costa algarvia

acompanhadas de um pequeno enquadramento geograacutefico da aacuterea em que se inserem O

conjunto dos desenhos revela um observador atento que nuns casos recorre a elementos

geograacuteficos linhas de aacutegua canais importantes restingas sapais noutros representa com

grafismos diferenciados os litorais arenosos pantanosos ou de arriba que facilitam e

enriquecem a leitura Referem-se como exemplo a representaccedilatildeo perspectivada das

arribas no cabo de S Vicente ou o entrelaccedilado dos canais de mareacute no sapal de Castro

Marim

A localizaccedilatildeo precisa das fortificaccedilotildees representadas nem sempre foi possiacutevel admitindo-se

mesmo que algumas tenham sido apenas projectadas Por outro lado algumas foram

destruiacutedas pela erosatildeo normal das arribas (Santo Antoacutenio de Quarteira S Lourenccedilo da

barra de Faro) Outras teratildeo sido danificadas por eventos extremos (sismos tsunamis ou

ciclones) e posteriormente intervencionadas As edificadas em locais baixos ambientes de

dunas restingas ou estuaacuterios onde prevaleceram condiccedilotildees de abrigo e acumulaccedilatildeo foram

facilmente identificadas no terreno e georreferenciadas

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

Lisboa Ciacuterculo de Leitores 2003 Vol I

BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

no tempo de D Manuel (1495-1521)rdquo lt httplerletrasupptuploadsficheiros3875pdfgt

acesso Janeiro 2009

CARVALHO Ayres de Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Lisboa Biblioteca Nacional

1977

COUTINHO Valdemar (coord de) Dinacircmica defensiva da costa do Algarve Do periacuteodo

islacircmico ao seacuteculo XVIII Portimatildeo 2001

DIAS Joatildeo Alveirinho Rodrigues Aurora Magalhatildees Fernando Evoluccedilatildeo da linha de

costa em Portugal desde o uacuteltimo maacuteximo glaciaacuterio ateacute agrave actualidade siacutentese dos

conhecimentos Estudos do Quaternaacuterio (1) APEQ Lisboa 1997

DIAS Pedro A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos (1415-1769) Lisboa 2000

DINIS Jorge Henriques Virgiacutenia Freitas Conceiccedilatildeo Andrade Ceacutesar Natural to

anthropogenic forcing in the Holocenic evolution of three coastal lagoons (Caldas da Rainha

valleywestern Portugal Quaternary International 150 Elsevier pp41-51 2006

FORTES Azevedo Engenheiro Portuguecircs1728

GUEDES Liacutevio da CostaDescripccedilatildeo de Alexandre Massai (1621) In Separata do Arquivo

Histoacuterico Militar Lisboa 1988

IDEM - A construccedilatildeo de Mazagatildeo cartas ineacuteditas 1541-1542 Lisboa Instituto Portuguecircs do

Patrimoacutenio Arquitectoacutenico 2001

IDEM - Castelos fortalezas e torres da regiatildeo do Algarve Faro 1997

IDEM - Histoacuteria das Fortificaccedilotildees Portuguesas no Mundo Lisboa Ed Alfa 1989

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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IDEM ldquoAs fortalezas da costa algarvia durante o periacuteodo das economias-mundo centradas

em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

LAMB H Climate history and modern world Second edition London Routledge

MAGALHAtildeES Nateacutercia Algarve Castelos Cercas e Fortalezas Faro 2008

MOREIRA Rafael Histoacuteria da Arte em Portugal Lisboa Ed Alfa 1988

PIMENTEL Luiacutes Serratildeo Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das

praccedilas regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a

arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor

Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

QUARESMA Antoacutenio Martins Alexandre Massai a Escola Italiana de Engenharia Militar no

Litoral Alentejano (seacuteculos XVI e XVII) Sines Centro Cultural Emmeacuterico Nunes 2007

VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

17

Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

18

Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

19

Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

21

Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

22

Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

15

Atendendo agrave riqueza do espoacutelio ineacutedito avaliou-se o rigor que Mateus do Couto (sobrinho)

apresenta tanto ao niacutevel do desenho da planta das fortificaccedilotildees como ao niacutevel dos

elementos naturais que acompanham as citadas plantas A avaliaccedilatildeo deste rigor foi feita

com recurso a correcccedilatildeo geomeacutetrica pelo ajuste dos desenhos a um espaccedilo definido por um

sistema de coordenadas de referecircncia

Foi ainda estabelecida a relaccedilatildeo entre a localizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo das fortificaccedilotildees e a

tendecircncia evolutiva do conjunto do litoral algarvio

Bibliografia

BARATA Manuel Themudo TEIXEIRA Nuno Severiano Nova Histoacuteria Militar de Portugal

Lisboa Ciacuterculo de Leitores 2003 Vol I

BARROCA Maacuterio Jorge ldquoTempos de resistecircncia e de inovaccedilatildeo a arquitectura portuguesa

no tempo de D Manuel (1495-1521)rdquo lt httplerletrasupptuploadsficheiros3875pdfgt

acesso Janeiro 2009

CARVALHO Ayres de Cataacutelogo da Colecccedilatildeo de Desenhos Lisboa Biblioteca Nacional

1977

COUTINHO Valdemar (coord de) Dinacircmica defensiva da costa do Algarve Do periacuteodo

islacircmico ao seacuteculo XVIII Portimatildeo 2001

DIAS Joatildeo Alveirinho Rodrigues Aurora Magalhatildees Fernando Evoluccedilatildeo da linha de

costa em Portugal desde o uacuteltimo maacuteximo glaciaacuterio ateacute agrave actualidade siacutentese dos

conhecimentos Estudos do Quaternaacuterio (1) APEQ Lisboa 1997

DIAS Pedro A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos (1415-1769) Lisboa 2000

DINIS Jorge Henriques Virgiacutenia Freitas Conceiccedilatildeo Andrade Ceacutesar Natural to

anthropogenic forcing in the Holocenic evolution of three coastal lagoons (Caldas da Rainha

valleywestern Portugal Quaternary International 150 Elsevier pp41-51 2006

FORTES Azevedo Engenheiro Portuguecircs1728

GUEDES Liacutevio da CostaDescripccedilatildeo de Alexandre Massai (1621) In Separata do Arquivo

Histoacuterico Militar Lisboa 1988

IDEM - A construccedilatildeo de Mazagatildeo cartas ineacuteditas 1541-1542 Lisboa Instituto Portuguecircs do

Patrimoacutenio Arquitectoacutenico 2001

IDEM - Castelos fortalezas e torres da regiatildeo do Algarve Faro 1997

IDEM - Histoacuteria das Fortificaccedilotildees Portuguesas no Mundo Lisboa Ed Alfa 1989

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

16

IDEM ldquoAs fortalezas da costa algarvia durante o periacuteodo das economias-mundo centradas

em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

LAMB H Climate history and modern world Second edition London Routledge

MAGALHAtildeES Nateacutercia Algarve Castelos Cercas e Fortalezas Faro 2008

MOREIRA Rafael Histoacuteria da Arte em Portugal Lisboa Ed Alfa 1988

PIMENTEL Luiacutes Serratildeo Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das

praccedilas regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a

arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor

Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

QUARESMA Antoacutenio Martins Alexandre Massai a Escola Italiana de Engenharia Militar no

Litoral Alentejano (seacuteculos XVI e XVII) Sines Centro Cultural Emmeacuterico Nunes 2007

VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

IV Simpoacutesio LusoBrasileiro de Cartografia Histoacuterica ISBN 978-972-8932-88-6

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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Figura 3 ndash Planta Forte de S Joatildeo da barra de Tavira georreferenciada sobre imagem de

sateacutelite

Figura 4 - Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 8 ndash Planta do forte de S Luiacutes de Almadena georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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IDEM ldquoAs fortalezas da costa algarvia durante o periacuteodo das economias-mundo centradas

em Amsterdatildeo e Londresrdquo In O Algarve da Antiguidade aos nossos dias Lisboa 1999

LAMB H Climate history and modern world Second edition London Routledge

MAGALHAtildeES Nateacutercia Algarve Castelos Cercas e Fortalezas Faro 2008

MOREIRA Rafael Histoacuteria da Arte em Portugal Lisboa Ed Alfa 1988

PIMENTEL Luiacutes Serratildeo Proemio de Methodo Lusitano de desenhar fortificaccediloens das

praccedilas regulares e irregulares fortes de campanha e outras obras pertencentes a

arquitectura militar distribuiacutedo em duas partes Operativa e Qualitativa Lisboa Impressor

Antoacutenio Craesbeeck de Mello 1680

QUARESMA Antoacutenio Martins Alexandre Massai a Escola Italiana de Engenharia Militar no

Litoral Alentejano (seacuteculos XVI e XVII) Sines Centro Cultural Emmeacuterico Nunes 2007

VITERBO Sousa Dicionaacuterio Histoacuterico e Documental dos Arquitectos Engenheiros e

Constructores Portugueses Lisboa 1904

Figuras

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos Fortes e Fortificaccedilotildees representados nas Cartas Mariacutetimas do

Reino do Algarve por Mateus do Couto (sobrinho)

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Figura 2 ndash Planta da fortificaccedilatildeo de Castro Marim (datada 1686) georreferenciada sobre

imagem de sateacutelite

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sateacutelite

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Figura 5- Planta do Forte de Santa Catarina georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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Figura 6 ndash Planta da S Joatildeo da Barra de Portimatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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Figura 9- Planta do Forte do Pinhatildeo georreferenciada sobre imagem de sateacutelite

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sateacutelite

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Figura 7 ndash Planta do Forte de S Joseacute da Meia Praia georreferenciada sobre imagem de Sateacutelite

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