Mário Aviscaio, Contos Sonhados de Então, Cap. V - 150511

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    Direitos reservados para Fernando Chiavassa, 2011. Autor: Fernando Chiavassa.Pseudônimo: Mário Aviscaio.Capa: Fernando Chiavassa.

    Imaem da Capa: Casas e !rutos, pintura " #ápis de cor, $0 % &0 cm., pape# !a'riano, 200$( Imaem copiadaatrav)s de scanner e esmaecida tendo sido a#terada na sua nitide*, som'ra e desta+ues, Fernando Chiavassa.

    Prepara-o e revis-o: Fernando Chiavassa.Diarama-o: Fernando Chiavassa.

      Sem

      Mário  Contos Sonhados

     

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    Mário Aviscaio

    s personaens e situa/es desta o'ra s-o reais apenas no universo da !ic-o portanto, n-o se re!erem a pessoas e !atos concretos e so're e#es n-o emitem opini-o.

    s direitos de edi-o desta o'ra ainda n-o !oram ad+uiridos. odos os direitos reservados ao autor. enhuma parte desta o'ra pode ser apropriada e estocada em sistema de 'ancos de dados ou processo simi#ar, em

    +ua#+uer !orma ou meio, se3a e#etrônico, c4pias, !otoc4pias, rava-o, etc. sem a permiss-o do autor.Certi!icado de 5eistro no 6scrit4rio de Direitos Autorais da Funda-o 7i'#ioteca aciona#

    do 5io de 8aneiro so' o 9.: &1.$$; < =ivro >? < Fo#ha 20,Protoco#o de 5e+uerimento 9.: 2011@P(;$.

    Dados Internacionais de Cata#oa-o na Pu'#ica-o CIPBCamara 7rasi#eira do =ivro, @P, 7rasi# 

    Chiavassa, Fernando. Aviscaio, Mário.

    Contos @onhados de 6nt-o: Mário Aviscaio, Contos < @-o Pau#o, a ser pu'#icado, sem editora, 2010.

    7i'#iora!ia.I@7 ( sem nmero, ainda n-o inscrito.

    I. 7rasi#, Contos. I. Aviscaio, Mário. I. tu#o.

    @Enmero CDD(sEnmero

    ndices para catá#oo sistemático:I. Contos:Fic-o.

    Fernando Chiavassa e Mário Aviscaio.5ua Gurea, 20> < Hi#a Mariana < @-o Pau#o < 7rasi# 

    !ernandochiavassa.ar+.'r JJJ.chiavassa.ar+.'r 

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    mailto:[email protected]:[email protected]

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    ContosSonhados de

    Então.Mário Aviscaio.

    Sumário.

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    I. O homem da capapreta....................007II. Sobradinhos dealuguel.................027III. Sem sapatos e semmeias.............047IV. Madrugada nãoidentifcada.......067V. e !olta aocol"gio.........................0#$

    VI. % namoradaperdida....................&&4VII. ' os dentesca(ram.....................&)2VIII. % perna

    es*uerda...................&4&I+. %o tele,one com meupai..............&-6

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    +. Voando nasalturas.......................&76+I. 'stranha corrida det/i..............+II. uga comsucesso.....................202+III. Os cabe1asbai/as..................20$+IV. % parede do!iinho...............22#

    Ilustrações dogasolina...

    3apa 3asinhas e,rutos.....................000

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    3aderninho deanota15es.....................0#7Sol e !nus !istos daterra...................0##3an1ão do !ento e da!ida.....................&&)Sonho para são paulo erio....................&)&ecado coloridoes*uecido....................&--

    8intura para a lu da!ida...................3ro*uis fnal num pub para

     9ames.......24-

    Introdução.

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     :3ontos Sonhados de 'ntão " um

    li!ro de contos; todos eles sonhados <completa e/austão. São *uatore sonhosbastante signifcati!os e repetiti!os;sempre sonhados de no!o; durante todaa !ida do menino gasolina. 'm cada ,ase

    de sua !ida ele reinterpreta os sonhos erein!enta a sua !ida. %inda ho9e eletenta rein!entar estes mesmos e muitosoutros sonhos. 8assando da in,=ncia <,ase adulta; os sonhos ,oram fccionadospor outro personagem não menos,antstico *ue o pr>prio autor in!entou;para conseguir !i!er suas hist>rias <

    dist=ncia; bem tentando assim; entendernão somente a sua !ida; mas a !ida detodo mundo. ?entou pelo menosentender a !ida de todo mundo; apenas;por*ue a sua !ida; somente sentiumesmo; o menino gasolina.

    @asolina " um menino; *ue tendo seencontrado muito bem consigo mesmo;

    procura se achar no mundo de deus. ?endo nascido e amadurecido com!alores e ideais; totalmente nãoadapt!eis neste mundo; tentadesesperadamente encontrar um lugar

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    ao sol; mesmo sabendo *uepro!a!elmente nasceu em tempo e emespa1o errado. 'le; decerto Anaturalmente A considera *ue pode estar< beira da loucuraB se 9 não esti!ermuito doente; mesmo.

    Mrio %!iscaio. 

    São8aulo; &4 de 9aneiro de 2.0&&.

    V. De volta ao colégio.

    Era tudo de umabsurdo imensoC Pisava e repisava no chão,com raiva; lia sem parar um comunicado da diretoria da escola. Lia, relia etudo novamente lia e não dava mesmo para acreditar na minha completadegola. Então, eu não tinha sido integralmente aprovado antes? Dava paraacreditar? Estava, pois, numa gaiola! Não podia tirar os olhos docomunicado. Seria possível? Devia ser engano. u rincadeira? Então liatudo e relia novamente. Sentia "ue meu cora#ão "uase estourava. Estava"uase no $inal do ano letivo, do %ltimo dos tr&s anos do colegial, e somente

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    agora tinha tido notícia ' atrav(s de um peda#o de papel ' "ue não seriaaprovado? )o $inal, o comunicado di*ia mecanicamente "ue+

    ... K... Portanto, o re!erido a#uno em epra!e n-o será aprovadodiretamente, sendo considerado, para todos os e!eitos, como Ka#uno emrecupera-oL, pois tem ressa#vas com re#a-o a cr)ditos nas discip#inas de!sica, +umica, 'io#oia e educa-o !sica. A recupera-o ) re!erente aconceitos e m)dias !inais de perodos esco#ares anteriores. re!eridoa#uno estará su3eito a novas provas o'3etivas, a serem ap#icadasindividua#mente, em datas e horários previamente aendados. a#uno será

    convocado para as provas e demais veri!ica/es oportunamente. ... L ...

    as a"uilo não podia ser verdade! as, como, então K... re!erente aconceitos e m)dias !inais de perodos anteriores. ...L ? Não tinha tido notastão ruins nos outros anos! Por"ue ser-, então, "ue eu tinha passado de ano' o$icialmente ' ano aps ano; um depois do outro, sem ter me dado contade algo errado? E sem nunca ter sido avisado antes? Somente agora, ao$inal? "ue era isso? /uando tirava os olhos do comunicado e parava deler, tentava me lemrar de tudo "uanto pudesse. Não tinha tido, mesmo,notas su$icientes, em algumas mat(rias... as e o conselho de classe?

    Lemro "ue me deram os pontos "ue eu precisava+ para todos os e$eitos,minhas notas tinham sido su$icientes... 0echei todas as m(dias+ 1- tinhasaído no meu histrico escolar! 2Então, alguma coisa de podre acontecia naescola desta comarca!3 Parece rincadeira, mas ( o "ue me ocorria! 4aviaalgo rolando a"ui, do "ual não $a*ia a mínima id(ia. Estava vivendo umatrag(dia! Era urgente $alar com o pro$essor de $ísica, "ue saia sempre detudo... 5inha "ue encontrar o gasolina; mas $a*ia tempo, não o via, a"uelealmo$adinha!

    Então a "uímica de novo! Ser- "ue não me livro desta s%plica? Elaera o drama de todos+ apenas "uatro estudavam "uímica, num universo detre*entos alunos. Estes "uatro alunos ' 2"ue saiam "uímica3 ' tinham

    vindo de outra escola, trans$eridos. s pro$essores, então, não en6ergavamo prolema, 2entendendo3 haver ai6o nível intelectual e $alta de interessepor parte de todos os alunos. )"ueles velhos pro$essores, $echando osolhos, $a*iam de conta e viviam iludidos a não mais ensinar+ de$initivamentenão se es$or#avam mais. 7- tinham entregado os pontos! Procurandoentender melhor a"uela nova situa#ão, recapitulava os $atos tentando porem ordem minha atormentada visão de $uturo... 8eceera um comunicado

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    "ue in$ormara o impedimento da conclusão do colegial sem novas provascomplementares. Então o meu livre curso rumo 9 $aculdade estava em 1ogo,a não ser "ue tirasse oas notas... Portanto, estava agora preso a novasprovas de e6atas... 7ustamente na"uelas mat(rias, "ue não me identi$icava,com a"ueles pro$essores aacas! Nunca iria entender "uímica na vida. Eagora, so*inho, ' cara a cara com a"ueles aacas ' iria $alhar!... Nãohavia possiilidade de aprendi*ado. Eu tinha colado em todas as provas de"uímica da minha vida inteira. E a"uelas provas coladas de "uímica, tinhamsido as melhores; magistrais!

    Para nos de$endermos da "uímica e dos pro$essores ' velhos tiranosdesinteressados e decadentes ' todos ns, es$or#ados alunos da"uelaescola estadual, nos reuníramos para $ormar uma das maiores alian#asestudantis, 1amais vista. :mpar! )"uela sociedade $ormava uma verdadeira$raternidade estudantil ' anti"uímica ' "ue não dei6ava ningu(m de $ora!Então, eu sempre tinha passado muito em e a"uilo, para mim, era umaen#ão do c(u... eu deus, meu pai, 1esus! )"uela $raternidade ' coma1uda de todo mundo ' tinha desenvolvido um sistema muito preciso e autosu$iciente de colas para o colegial. Ningu(m, de$initivamente ningu(m,$icava de $ora! E todos os estudantes passavam, sem e6ce#maginem... 5odos emesmo os pagãos, "ue nem eu, receiam as &n#ãos do c(u!

    Eu nunca mais me es"uecerei do aspecto artesanal da"uelas provasmimeogra$adas nas cores vermelha, a*ul, verde e preta. Então, os "uatro

    cra"ues da "uímica receiam as "uatro provas di$erentes e resolviam tudo$acilmente, em "uin*e ou vinte minutos. Depois preparavam cpias em$olhas su$icientes, para todos na primeira classe, da primeira prova do dia.)s provas resolvidas "ue eram passadas pelas 1anelas, despertavamgrande alvoro#o. 5odas elas tra*iam instru#

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    a ser chamado da"uela lista, era o aluno mais a(reo da escola inteira.Lemro, muito em, "ue o pro$essor iniciava a chamada, 1- com um grandesorriso nos l-ios+

     ... KFu#anoNL ... KDe*.L ... KDe*NL ...

    8isos ai6os incontidos, apenas aguardando...

    ... KDe*L ...

    )plausos!

    ... KCicranoNL ... Kito.L ... K ... Há #á: ito e meio ... L ...

    ais palmas! mais engra#ado era um aluno, "ue de tão alienado,mal saia calcular de "uanto precisava. pior ( "ue para $a*er gra#a,ningu(m a1udava. Alaro, "ue muito "uerido ' tudo arrumado ' os c-lculos

     1- estavam $eitos, s o gasolina não saia. Ele nunca saia nada. Basolina! pro$essor o amava. )li-s, o pro$essor tam(m era nosso. Saia dasincongru&ncias todas da escola e do sistema de ensino nacional; tinha

    consci&ncia das p(ssimas "ualidades dos pro$essores, inclusive dele! Não"ueria impor nenhum conhecimento a ningu(m e era tão suversivo, "uantotodos ali. Então, a"uele momento era de uma grande $esta. 5odos amavamo gasolina, de uma pure*a angelical alienada da vida; aseado talve* nasestrelas ' talve* as mesmas estrelas lun-ticas do pro$essor astro$ísico.Ns ador-vamos o pro$essor, "ue por sua ve* tinha pai6ão em cham-lo;ali-s, adorava a classe, amava tudo. Dando se"C&ncia, o astro$ísico comum grande sorriso, di*ia, em tom solene ' para o delírio de todos ' "ue 1- iaterminando o curso, "ue tiv(ssemos calma. E em sil&ncio, anunciou+

    )gora, "uero chamar... o meu "uerido... Basolina!>mediatos aplausos, assovios, gritos, atidas no chão; urros e ao

    $inal, palmas $ren(ticas e risos! )o $inal dos aplausos, mesmo sem saer denada, encarando a todos com um $ranco sorriso, o gasolina, sempre aerto,apenas di*ia, simplesmente+

    )í, 2sor3... ele*a? ele*a! Então, t-!

     

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    amos! Estou esperando... 5odos estamos esperando. E então?0ala, gasolina!

    5- om!Lemrome como se $osse ho1e... Lemraria para sempre do coro...

    Do decoro... Não es"ueceria dos gritos e dos assovios... Não es"ueceria 1amais do meu amigo gasolina! )ssim decorria o tempo, a memria gravavao signi$icado, a lu*, o espa#o e as palmas ...8isos incontrol-veis, palmas,assovios... pro$essor interveio+

    Sil&ncio! Sil&ncio, pessoal!5inham, mesmo, loucura pelo gasolina. arulho! as depois, sempre

    o sil&ncio... Diante disso e somente depois disso ' apenas em sil&ncio ' ogasolina se dispFs a $alar+

    ... em, eu não pre*o muito aos discursos... Sou pura a#ão! Então

    vou ser r-pido! om... /uero di*er "ue vou sentir muitas saudades de todosos meus amigos a"ui presentes. Eu sei "ue amigos ' pre$erencialmente 'nunca são construídos, por(m, reconhecidos ao longo da vida. Duranteestes anos, pude me sentir muito "uerido em meio a uma grande $amília;conhecendo e a1udando a todos "uanto pude. Aonversei com muitos, senãocom todos voc&s ' sem nunca ter $eito distin#ão ou restri#ão de nada ' e

    especialmente, com alguns mais pr6imos e tam(m com um ou doispro$essores, aprendi "ue nada sei. Eu nunca estudei nada de "ue nãogostasse, por"ue não "uero ser ningu(m especialmente $ormado por estaescola, "ue não representa nenhum ideal de vida para mim e "ue (somente uma passagem $or#ada, pelo menos no meu caso. /uero apenasviver a vida como ela se d-. Não "uero me $ormar em nenhum cursopro$issional por nenhuma $aculdade estaelecida, por "ue sei muito em o"ue eu "uero. Eu não procuro regras, nem "uero estaelecer grupos, muitomenos institui#

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    Eu vou $a*er a minha parte. )grade#o do $undo do meu cora#ão atodos "ue me a1udaram nas provas e mesmo os pro$essores, por"ueso*inho não passaria. Não dou a mínima para o diploma "ue vem a seguir,mas sei "ue ele ( importante para a sociedade e sei "ue tenho "uetraalhar. Sei "ue muitos vão aderir ao mundo dos negcios; ( di$ícil $ugirdele. as mesmo assim, eu não "uero me perder de voc&s. Não sees"ue#am de mim! 5odos 1- $oram em casa e saem onde me procurar.inha casa tem portas e 1anelas aertas a todo mundo "ue não tiver paraonde ir, nem souer o "ue $a*er na vida. Eu amo todos voc&s. Pro$essor,minhas considera#

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    ... 5anto os paradigmas cientí$icos como os culturais de $orma#ão, da

    educa#ão escolar, inevitavelmente passam por comple6as trans$orma#

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    nascer da Krevo#u-o industria#LO $ , o emprego da mesma escravidão; agoradis$ar#ada com contratos e 2protegida3 por leis desumanas. esmo com oadvento de um novo modelo de estado, como a rep%lica se1a capitalista oucomunista ou ainda socialista, ou "uais"uer outros sistemas, os humanos 'sem capital ' a em da verdade, tem sido e6plorados como ratos e aindacomo coaias para o desenvolvimento alheio. )t( "uando?

    ... uitos escritores anteciparam este momento, sendo "ue muitas

    utopias descritas não se parecem mais tão irreais+ 2mi# novecentos e oitentae +uatro, de eore orJe##LO >, nos mostra parte deste "uadro somrio "ueestamos vivendo, numa sociedade sem privacidade e sem lierdade, em"ue uma humanidade descon$iada, vive desorientada num mundo em "ue otempo e as distKncias se encurtam a cada segundo. 4- tempos, desde2 p#at-o,  com a rep'#icaL , passando por Kthomas more,  com utopiaLO 10,lemrando Ktommaso campane##a  com a cidade do so#LO 11  chegando emKorJe##LO > ou at( KsQinner, com Ja#den IILO 12 ou mesmo, Ka#dous huR#eS, comseu admiráve# mundo novoLO 1, todos estes grandes, eternos e ador-veisincon$ormados, pro1etaram os perigos e as maravilhas das vidas emsociedades alternativas. Desta $orma, não posso criticar a"ueles "ue não"uerem seguir os %ltimos passos de um d(il capitalismo. Digo isso por"ue

    esta $orma de domina#ão econFmica 1- est- dando sinais de e6austão,principalmente nos países desenvolvidos do hemis$(rio norte. Deveremospresenciar grandes trans$orma#

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    anos, em m(dia, temos tido ' nos %ltimos du*entos anos ' grandes esurpreendentes revolu#

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    dese1amos, não surgirão nem atrav(s da $ísica nem de ci&ncia nenhuma.Surgirão somente atrav(s das almas e dentro dos cora#

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    os olhos por instantes; em seguida, me dei6ei olhar para o c(u, a verestrelas... Bostava muito de olhar o $uturo no passado... Se passasse noconcurso vestiular, não poderia $a*er minha matricula em tão sonhada$aculdade. as o "ue estava acontecendo? 5inha um enorme $rio naarriga... E agora, essa! Eu, "ue tinha acaado de sair do anheiro, aindasentia clicas? Não; eram s gases... Eu era todo et(reo, "uase a sumir,ainda a pensar... /ue descon$orto! Aad& as provas das "uais tinha mesa$ado? nde estavam a"ueles traalhos? Então todos não entregues?/uem $e* isso? as como podia me lemrar das e"uipes e dos colegas?nde estava o gasolina, "ue entendia de tudo "ue importava para a gente esaia de todos? Aomo poderia ter me saído tão mal nas provas da"uelesanos passados? E repetia ' massivamente para mim ' perguntando por"ue tinham dei6ado at( o %ltimo ano do colegial, para "uerer organi*arsomente agora a minha vida o$icial de estudante? 5udo isso e muito mais,iria descorir numa reunião com o diretor da escola no meio do período danoite e no ato; um pou"uinho antes da $inal do campeonato! 7usto ho1ea"uela triste*a toda... as o comunicado "ue receera ' na $orma de umasucinta noti$ica#ão escolar ' era e6plicito! E a"uilo $oi o m-6imo. Não...Devia ser rincadeira... Logo, alguns amigos ' de "ue não me lemrava 'vieram se sentar comigo... Eles "ueriam saer, "ue cara era a"uela minha,

    "ue tam(m nunca tinham visto. Então passei a contar o "ue sucedera.Eu sa"uei de um ma#o de cigarros, primeiro o$erecendo para osamigos de então e depois acendi um para mim mesmo. Emprestei meuis"ueiro, para "uem "uisesse e depois acendi alguns outros cigarros para"uem não tinha... Essa era a minha vida! Dei uma tragada, mas continueipensativo, dei6ando os amigos de agora tam(m ansiosos... Perguntava dogasolina "ue ningu(m saia, nem conhecia. E eu me via perdido. /uandocontei ' desaa$ando ' do comunicado e dos e6ames a "ue teria "ue mesumeter, $icaram todos incr(dulos gesticulando "ue não com as cae#as...Disse a eles todos "ue estava reprovado em algumas disciplinas, a meuver, por $alta de organi*a#ão da escola! s amigos se revoltaram, sem

    acreditar+ podia estar acontecendo com eles? Entreguei o comunicado para"ue todos vissem. Aontei a eles, pelo "ue tinha entendido, "ue tinhamperdido minhas provas, meus traalhos e minhas notas... Aoladas mesmo edaí? Depois, lemraram eles todos de muitas $a#anhas, da"uelas suadasprovas; das provas de "uímica, das colas, dos amigos, das mímicas...)"uelas tais provas tam(m tinham sido as minhas "ue não entendia picas.as agora eu estava so*inho... E perdido. Perguntei se algu(m via uma

     

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    saída. Aontei a eles da reunião no meio da noite! as todos se calaraminertes, olhandose mutuamente con$iantes e decididos. )lguma coisa elessaiam... ) lua "uase cheia, 1- come#ava a suir um pouco mais alta noc(u e a"ueles amigos todos ainda continuavam a conversar e a cominarnão sei o "ue, de tão entretidos "ue estavam! as agora, a essas alturas,todos 1- estavam mergulhados no clarão da lua, da"uela noite prateadasem somra. ) lua cheia não estava mais por tr-s da copa das palmeiras"ue eu tanto adorava. Então chegara a minha hora...

    Eu me levantei, ati as cal#as na unda e olhei para os meusamigos, "ue seriamente me pediram "ue "uando saísse da reunião,voltasse a ter com eles+ "ue não me es"uecesse, "ue voltasse ali! solhares de todos me passaram toda a con$ian#a "ue me $altava... Entãoatravessei a rua. Entrei no p-tio da escola. i muitos gra$ites pi6ados nosmuros. i tam(m, pr6imo da cantina, algumas garotas "ueridas. andeiei1inhos 9 elas e passei reto, 9 secretaria direto. Passei por algunspro$essores, mas apenas sorri para eles. Passei pelo pro$essor de $ísica, enuma paradinha, disse ' com o canto da oca, olhando muito em para oslados, para tr-s e para cima ' "ue tinha dado merda. pro$essor "uissaer por "ue, naturalmente. Eu $alei das novas provas... as o astro$ísicome e6plicou ' entre a$oradas de um tosco toco de cigarro ' nervosa e

    rapidamente, "ue ele 1- saia. Besticulava "ue sim com a cae#a, olhandopara todos os lados sem parar. Seguia di*endo "ue tinham pedido pararever todas as notas, de todo mundo, do ano passado. tresloucadopro$essor tinha trans$ormado parte delas em traalhos, mas nada $icou em$eito+ $alou "ue tinha achado na (poca, não ser preciso nada melhor. Disseainda, entre a$oradas de um novo cigarro, "ue a"uela esta do diretortinha resolvido complicar a vida dele... Entendeu? lhou $irme para mim egarantiu "ue sairíamos desta+

    Segura! Est- tudo arrumado! Depois nos vemos 1untos, não sees"ue#a!

    En"uanto, ns dois, assentimos com a cae#a; chegava o diretor!

    0omos amos convidados a entrar. as, eu, "uerendo ameni*ar omomento, e ao mesmo tempo, "uerendo saer mais do prolema ' talve*ganhar sua simpatia ' perguntei da pro$essora de "uímica. diretor, seco,a$irmou "ue atendia apenas um %nico pro$essor por ve*! )rris"uei outrain$orma#ão, "uem sae ele amolecia ' desta ve* para os meus colegas 'teriam outros alunos envolvidos? E o diretor respondeu, "ue 1- astava umidiota por ve*! Aaminhamos e atravessamos a secretaria ' desta ve* em

     

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    desconcertante sil&ncio ' indo parar os tr&s numa sala dos $undos. Portas$echadas. 0rio, umidade, mo$o. Sentamos todos ns. )tFnitos. 7untos, masso*inhos. 5inha na garganta uma pergunta muito simples. Por"ue somenteeu tinha "ue dar e6plica#

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    "ue no rasil, s nasceu depois da rep%lica; o "ue eu "uero di*er ( "ue oestado rasileiro nunca, nem 1amais, em atendeu ao seu povo, mas sim,apenas 9 aristocracia!

    as "ue maravilha, e onde "ueremos chegar? em, ilustríssimo diretor, "ueria di*er com isso, "ue não h- escola

    p%lica neste país! )li-s, desculpem+ não h- escola alguma! De novo; e eu lhe pergunto, e daí? En"uanto puder, $arei da educa#ão a minha vida! as isso ( o "ue $a*emos todos, pois não? E para "ue? Para

    "uem ( "ue estamos a nos es$or#ar? Para 1ovens como este a"ui; ou para 1ovens como o gasolina? Basolina! E voc& ai! nde 1- se viu? Passarem avida colando? Desrespeitando nossos $uncion-rios, desvirtuando o melhorespírito cívico? 5emos tido "ue traalhar com p(ssimos alunos. E olha "uetemos $eito muita vista grossa a p(ssimos e6emplos. u então, estamos atraalhar com pro$essores como o senhor, "ue vive deturpando o melhorcurrículo "ue a secretaria determina! /uem ( "ue tem dado notas a "uem"uiser e precisar? "ue voc&s dois t&m a me di*er? 0a#am o seu melhordiscurso agora!

    Eu digo "ue o currículo enviado no ano passado não receeuconsenso! 0oi imposto na calada de uma semana va*ia, por uma minoria

    pregui#osa! /ueríamos dividir as turmas em humanas, e6atas e iolgicas.Por"uanto isto não $oi possível, temos 1ovens origados a estudar "uímicanuma carga hor-ria por demais pesada, sendo "ue nunca mais a usarãoem suas vidas!

    oc& sae muito em, meu "uerido astrFnomo, "ue a divisãodentre colegiais, em humanas, iolgicas e e6atas, 1amais seria possível!

    Não seria uma ova! Droga! 7- e6istiram sistemas assim! Eumesmo venho de $aulosas escolas vocacionais. Depois "ue elas $orame6tintas, participei de v-rias escolas "ue separavam colegiais em tr&sturmas, pelo menos. as tudo o "ue almas perseverantes constroem 9 lu*do dia, ( destruído 9 noite, 9 escuras, traidoramente. Não me venha $alar

    de e6peri&ncia educacional. /uantas escolas o sr. dirigiu? =ma; duas?5r&s, se tanto? Eu estive em v-rias, durante mais de cin"Centa anos e (sempre a mesma coisa! Nossa escola de grau m(dio ( uma palha#ada edigo isto me re$erindo não somente 9s p%licas, como tam(m 9sparticulares; são todas $arinha do mesmo saco! S ensinam a passar novestiular! Essa ( a escola "ue "ueremos?

    E "ual escola o senhor "uer, senhor doutor honoris causa?

     

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    =ma escola preocupada com o indivíduo, com o ser humano empotencial. Estruturada com novos paradigmas scio econFmicos e com umaeduca#ão "ue o1etivamente desenvolva as potencialidades e6istentes;latentes e di$erentes em cada aluno. E cae a ns pro$essores descorilose encaminh-los. Não d- mais para 1og-los para a $rente, cegos, surdos emudos! Baranto "ue comigo eles aprendem muito mais do "ue os milharesde estudantes itolados ' oedientes como o senhor "ueria, mas perdidosna usca de imprest-veis $aculdades interessadas no dinheiro e não no serhumano. Estes imediatistas itolados, se não $orem em 2indicados3 logoestarão irremediavelmente desempregados a mendigar vagas o$erecidasapenas a tare$as sem especiali*a#

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    $ísica... ) princípio, permaneci em d%vidas, mal articulando uma palavrase"uer. diretor, per"uirindo ' astuciosamente ' adiantou, "ue se eu podiaem entender de histria, de literatura, de $iloso$ia e at( de matem-tica,estava tudo muito em e era esperado; mas de $ísica, disse "ue tinhacerte*a de "ue eu não entendia nada de nada. Então, perguntava $irme,alto, e de uma $orma a intimidar+ como ( "ue tinha passado em $ísica, ecom ase no "ue tinha sido dada a minha nota... Ns dois ' verdadeirosamigos ' nos entreolhamos.

    ...Então me enchi de coragem, respirei $undo e e6ultei+ Aom ase......Escuro! Surpreso, surpresos? Surpresa! Nesse e6ato minuto, caíram

    as lu*es na escola. Est-vamos os tr&s numa escuridão total. ) tensão sedissipou! diretor, atendo os punhos na mesa reiteradamente, estavasurpreso! >ndignado! Não havia mais nenhuma energia na escola. Aomisso, o diretor perdeu o seu melhor momento para sempre e a escola a sua$or#a... )pesar dos possíveis coment-rios anais "ue são $eitos nessasoportunidades, aproveitei para rela6ar e ri como nunca, mas sem emitirsons, sem me virar para tr-s, na cara do cego diretor... Eu não vi, mas senti

    "ue o astro$ísico 1- estava no chão a estreuchar de tanto rir, mas "uieto.Lemrei "ue ho1e era dia de uma das $inais do campeonato paulista de$uteol; "ue tínhamos pedido dispensa das tr&s %ltimas aulas; "ue estadispensa tinha sido oviamente inde$erida pelo in$ame diretor; lemreitam(m de "ue ningu(m poderia perder este 1ogo; muito menos o pro$essorde $ísica; "ue ningu(m mais podia ter $altas e de "ue tínhamos cominadoassistir ao 1ogo de "ual"uer 1eito. /ual"uer 1eito... temor "ue me assaltou,me $e* es"uecer de tudo. diretor ainda surpreso, 1- taciturno, mas muitoensimesmado, cancelou a reunião por interm(dio de uma rouca e tr&mulavo*. Despedimonos todos. diretor carrancudo, in$le6ível e ine6periente"ue era, "ue h- minutos não di*ia mais uma s palavra, caminhava irada e

    pesadamente para os andares superiores.Eu e o pro$essor de $ísica, "uase postos para $ora, 1- est-vamos nop-tio... Livres, ns dois, por en"uanto... Entreolh-vamonos $eli*es... E nosconvidamos para o 1ogo, como não? ) poucos passos da pracinha, 1- haviauma pe"uena multidão esperando. Ns dois amigos, pro$essor e aluno,duas almas diletantes do $uteol, aliviados, mas um pouco preocupados,seguimos em dire#ão 9 multidão. Ahegando l-, perguntei o "ue tinha

     

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    acontecido. )o "ue muitas vo*es, 9s ve*es desencontradas, di*iam aomesmo tempo "ue sem $usíveis, sem lKmpadas e sem relgios, o col(gionão podia $uncionar. louco do gasolina ' "ue andava sumido de propsito' tinha prometido tirar todos os $usíveis dos "uadros de $or#a+ 1urou "uetodos, sem $alta, iriam ao est-dio e $icariam sem $altas; tinha dito "ueningu(m seria incomodado pelo diretor; "ue ele mesmo sumiria com aslKmpadas, cortaria as en$ia#

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    em "ueria a"ueles colegas, possíveis amigos, "ue admirava pela corageme lealdade! Não importava nada+ a"ueles todos eram uns grandes caras! Eeu os "ueria meus amigos!

    )s horas passaram e o 1ogo acaou, mas todos puderam passarhoras magní$icas 1untos, torcendo para seus times. Eu, 1uro mesmo, torciapela humanidade. as a noite estava apenas come#ando para mim, "ue 1-estava em casa e "ue ultimamente so$ria de insFnia. )"uilo tudo tinha mepesado $undo. Eu "ue nunca mais iria precisar nem de $ísica, nem de"uímica, nem de iologia, estava preso no colegial. as, agora, era demais+pensar "ue as notas de educa#ão $ísica tam(m tinham sumido... >sso spoderia ser rincadeira... 5udo a"uilo não podia ser mais do "ue um grandepesadelo. Eu tinha perdido o meu sossego. E era desconcertante sentirme9 merc& de um diretor prepotente e castrador. Eu não via a hora de "uetudo estivesse arrumado, e em de novo. Por "ue, mais uma ve*, a $ísicaem minha vida? )i, meu deus, a "uímica então! Eu "ue "ueria passar oresto de minha vida escrevendo e pintando... 5alve* $i*esse ar"uitetura; ouseria um pintor, escritor; 1ornalista; o "ue $osse! as $ísico? /uímico?ilogo? Esportista? ) ordem era sentar e pensar. "ue $a*er? Sil&ncio emminha mente... Sil&ncio...

    Sil&ncio... Por $avor, sil&ncio! Sil&ncio... De repente, no Kmago do

    meu desespero, pensei "ue deveria agir... 0alaria então com a pro$essorade "uímica; ela deveria saer de algo... Não, não tinhamos intimidade...0alaria então com o diretor... )i, isso não, meu deus! Então, colo"uei asmãos em $orma de ora#ão contra minha oca preocupada+ tinha minhacae#a em chamas... Sil&ncio...

    ...Nisso, toca o tele$one! 5ele$one? Eu estava so*inho; meus pais ao

    cinema; irmãos $ora+

    ... K ... A#ôN ... L ... 

    >maginem... Era o pro$essor de $ísica, com vo* de urg&ncia... Aontou"ue o diretor tinha tido um $ulminante ata"ue cardíaco! )ssustado, eucustava a acreditar e pedia para "ue ele $alasse mais alto... em mais alto!)"uele amigo gritava, ao tele$one, "ue o diretor tinha tido um en$arto $atal eestava muito mal. reconhecedor do c(u, das estrelas e planetas, contavaestarrecido "ue, antes de sair da escola, o diretor tinha dado um escKndalo+

     

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    ... K ... 6#e perdeu a #inha, e rodou a 'aiana ... L ...

    Eu ouvia preocupado, o velho amigo ' do outro lado da linha ' aindacontando, "ue o diretor gritava "ue $a*ia picadinho de mim, dele e dogasolina. Di*ia o pro$essor, "ue o diretor insistia em "ue isso não $icavaassim... Sem acreditar, o ouvia ' chorando, não sei por "ue de remorsoO 'di*er "ue+

    ... K ... diretor atirou seus me#hores #ivros contra a parede e contratodos. Depois de um 'erro, desmaiou, ao cair no ch-o ... L ...

    Não acreditava no "ue me contava. Aoitado! as o pro$essor nãoachava nada disso; e di*ia $urioso+

    ... K ... Tue coitado +ue nada ... L ...  2 ... 7em !eito: +uem mandou semeter na vida dos outros < ritou < +ue tivesse deiRado tudo como estava+ue n-o tivesse meRido nas notas +ue tinha dado +ue eu sa'ia do +ue eracapa* ... K ... K ... Tue me deiRasse em pa* ... L ... K ... otas antias, nada:a coisa devia ser pessoa# ... L ...

    E o pro$essor desandava a $alar e a desaa$ar... Di*ia, "ue haviamuito "ue $a*er! Eu tinha tentado interromp&lo por v-rias ve*es e agoragritava, e agora? E o pro$essor, seguro de si, e6clamou "ue agora, eu "uecuidasse da minha vida!

    ... K ... 6s+uea de tudo de todo esse pesade#o ... L ... 

    Di*ia, sem parar, "ue recome#asse todos os meus planos+ "ue euvoltasse a estudar e cuidasse dos e6ames; 9s $aculdades. )"uele era oom e velho amigo de todos! as incon$ormado, pedi "ue contasse mais...Eu saia "ue havia mais para contar. pro$essor contou então "ue ele e

    alguns outros $uncion-rios, em como outros pro$essores, estavam todos l-no hospital. Disse "ue $i*eram uma reunião com os m(dicos de plantão epelo "ue eles todos puderam a$irmar, o diretor não voltaria 9s suas $un#

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    alunos ainda, como o gasolina! Por isso então, o gasolina andava sumido;eu disse! )o $inal, 1- se despedindo, disse a mim "ue achava "ue estahistria não iria mais dar em nada...

    )lguns dias se passaram. ) escola 1- tinha os $usíveis e todas aslKmpadas em seus lugares; tudo em ordem de novo, em todo canto, comopor encanto. Ningu(m tinha $altado mais um dia se"uer. time adoradopela escola tinha sido campeão. pro$essor de $ísica $e* ' de novo ' ac(lere chamada oral $inal de costume. E o diretor, desenganado, $oide$initivamente a$astado. Na"uela semana $inal, os pro$essores puderamterminar seus cursos com calma. Descoriram ainda "ue muitos outrosalunos iriam ser chamados para responder pelos seus atos, não $osse oa$astamento do diretor. assunto $icou em casa e "uem contou $oi uma$uncion-ria chegada ao diretor ' di*iam "ue era seu mais antigo caso deamor ' a lucimara.

    Soueram tam(m "ue eu tinha sido o primeiro a ser escolhido para"ue pudessem tirar in$orma#

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    comunicado para re$a*er "uatro provas. 5alve* não pudesse mais continuarali. Poderia ser mandado emora. as "ue lugar era a"uele?

    Em muitos outros sonhos parecidos, como numa s(rie a continuar;muitas pro$essoras en$-ticamente me di*iam "ue não dava mais+ "uena"uele ano, eu não iria passar. E perguntavam a vida toda, onde estavamos meus livros. as onde estavam os meus livros? Emora nunca ostivesse comprado, os "ueria tanto e tão em guardava, "ue não entendiacomo não podia mais saer dos meus livros? s %nicos livros "ue eucomprei, com tanta pai6ão; o seo levou!

    as 1- tinha e6plicado para a"uelas insones pro$essoras, "ueperdera os meus livros para um seo! Não somente eu, mas minha mulhere meus $ilhos tínhamos comido os meus livros, com $ome e sem dinheiro!as elas insistiam e sempre reclamavam de minhas $altas! )o "ue eu malrespondia, apenas gemia, sem nunca ter as respostas certas. as comoestudaria, tendo "ue traalhar de noite e de dia?

    )s pro$essoras perguntavam sempre por onde eu tinha andado?5anto tempo longe? nde eu tinha estado? K... ra'a#hando ... L Eu estavaagora na pracinha, namorando a lua cheia, por detr-s da"uelas palmeirasdas "uais tanto gostava! lhos $echados, "uase dormindo... Sentia umarisa leve, mas constante, atendo nas palmeiras da pra#a.

    ) lu* da lua anhava o meu rosto. Eu podia "uase ouvir a vo* deuma doce garota, "ue me chamava para em perto dela... as eu nãorespondia... ) garota insistia. >nsistia tal "ual as pro$essoras... Ela mechamava, e me chamava sem parar! E "ue insist&ncia...

    as eu não me incomodava... Estava namorando estrelas... 5entavaentender a escola da minha vida... uscava o c(u da minha esperan#a!as a garota não perdia a vontade, nem o interesse+ não desistia!

    Se e la não  $osse apenas mais uma garota na minha vida euatenderia, pois ouviria se $osse a mulher da minha vida, "ue nunca chegou.as era somente uma garota "ue não parava de me chamar.

    pior ( "ue sempre achando "ue era a minha mulher de verdade,

    eu atendi cegamente a varias garotas. )ntes tivesse $icado so*inho. asela me chamava e chamava; então me chamava, chamava; não cansava de

    me chamar!... ...!

     

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    Duem o chama!a agoraera sua mulher, "ue era a da hora e não era a sua esperada mulherde verdade. Ela tentava acord-lo. >nsistia, chamava o pregui#oso; di*endoestar na hora... Perguntava se tinha dormido em, ternamente apostando"ue ele tinha sonhado de novo... Devagar, ele me6ia com suas pernas,desli*ando nos len#is ao mesmo tempo em "ue levava as mãos no rosto...)ria os ra#os a espregui#ar! E ela pacientemente rincando...Perguntando se ainda estava sonhando... Se o sonho era om ou ruim.En"uanto ele con$irmava seus primeiros movimentos, ela aria levementeuma das 1anelas. Saia "ue ele adorava 1anelas, o calor e a lu* do dia!0inalmente, ele contou "ue tinha sonhado com o col(gio de novo. Suamulher caiu na gargalhada ' mais sonhos recorrentes ' e ela se ria a valer,"ue os sonhos eram a cara dele!

    /uando sua mulher perguntou do resultado do 1ogo, 1- sentado, eleeso#ou um sorriso, di*endo "ue não saia. >ncon$ormada ela di*ia, comonão saia? E ele então se riu+

    Dormi assistindo a $inal, sem saer do resultado; sentado, numest-dio lotado; sonhando acordado.

    )cordado, ou dormindo, meu lindo? Sae, no $undo eu "ueria ser como o gasolina! oc& nunca $oi outra coisa na vida, senão um sonhador, um

    artista! Por "ue ser- "ue me pego sonhando, a vida inteira estudando? )ceite "ue voc& ( um artista, sem dinheiro, sem eira nem eira! Por"ue ser- "ue ( recorrente, me perder da minha gente? E voc& ainda não se acostumou? Parece um cigano! Aomo posso sempre sonhar a me reprovar at( em $ísica? oc& ( um artista! /ueria mesmo, poder ser como o gasolina...

    amos, ota um sorriso no rosto e se prepara "ue 1- ( hora!Aarrancudo esse menino, ela di*ia! En"uanto ele ia para o anheiro, elagritava ' agora 1- de longe ' "ue ele tinha compromisso! as ele pre$eriulevantar devagar. /ue o dia esperasse um pouco, pensou; e perguntou+

    Aad& o gasolina?Por"ue ele tinha sempre "ue sonhar com a"uelas escolas? Por"ue

    alguns sonhos ocorriam em tempos e espa#os "ue eram o retrato $iel de

     

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    sua escola; outros em nada parecidos com a sua %nica escola de vida deverdade? Nunca na vida tinha convivido e6atamente com todos a"uelespro$essores sonhados, a lhe importunar com tantas perguntas das "uais elenão tinha respostas, nem com a"ueles alunos todos da"ueles sonhos. Stinha a ver com ele a escola do comunicado, da "uímica, da $ísica, e daeduca#ão $ísica... Era com ele mesmo a"uela histria 1unto ao diretor, dasnotas; dos $usíveis; da $inal do campeonato e do diretor doente a$astado. Eele sempre se lemraria do gasolina. E para sempre teria saudades,guardando o maior respeito pelo "uerido astro$ísico, um honoris causa, oreconhecedor do c(u e das estrelas!

    as o "ue seria a"uilo tudo; "ual signi$icado atriuir? Ele mal podiaentender. Sentou na cama... 5erminou de arir as 1anelas, para entrar no"uarto um sol maravilhoso. @ pe"uena distKncia, podia avistar uma de suaspalmeiras $avoritas alan#ando indolentemente ao vento e rilhando,vi#osa, na lu* do sol. )"ueles movimentos ma1estosos, naturais, geravamsons para ele, musicais. Então, ho1e, haveria de pintar. u $aria umpoema... Aome#aria um conto, um romance? Palavras ao vento... palmeirasao tempo, a sotavento. inha vida a arlavento...

    )dorava as palavras, suas imagens e a"ueles sons. Bostava dosigni$icado das palmeiras e das ananeiras 9 lu* da lua; no rilho, ou na

    somra do sol. as amava sempre o sol. E adorava ananeiras, a ver asoreposi#ão das $olhas dan#ando verdes $ran1as aos ventos. /ueria lu* etranspar&ncias a ouvir as palmas das $olhas a agitar a vida. Precisava daverdade, mesmo da sua. Não era 9 toa a $alta de sintonia com a sociedade.nde escolas de gente? /ual política decente? Em "ue mundo coerente?Não havia nenhum! Não tinha mundo, nem país.

    5inha mulher e $ilhos; mas s possuía esperan#as e o seu tempoinventado. ivia nas "ueridas 1anelas da vida. E para ser $eli*, tinha "ue sedesligar! Para ser, precisava estar longe das demandas da vida

    )dorava não ter prolemas. Detestava os sistemas, não gostava dasescolas, mas adorava estudar. Estudava a vida inteira. Para isso tudo,

    precisava da sua lierdade e de seu desapego do mundo.No $undo ele tam(m não "ueria ser nada. >gual ao gasolina e comosua amiga clarice ' de outros tantos sonhos ines"uecíveis ' ele não "ueriaser escritor, muito menos pintor. Detestava coran#as. Ela lhe disse umave* "ue não "ueria ser pro$issional nenhuma, e tinha ra*ão.

    De certos pontos de vista, os sonhos coravam posturas nãotomadas. 8enegadas! Então ele se sentia um e6ilado das escolas e do

     

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    mundo social, como tal. arginal, $ora da lei! anido, proscrito. aldito! =mp-ria; um não con$orme... as chega... Para mim chega...

    )gora 1- passou... S "uero o sol e o vento,Lu*; palmeiras, ananeiras e vinhedos,E amor, "ue em palavras eu avento+

    0ran1as ananeiras do tempo,)$astem todos os medos...Dessa vida a contento...

    )o soltar o vento, mar invento,) arlavento.

    Sotavento,) mar(,) mar

    Sol.

     

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    ... K ... Imaem de uma Ri#oravura !eita pe#o aso#ina há trinta e seteanos atrás +uando ainda tinha 1? anos, um pouco antes de preparar o seu memoráve# discurso diante da c#asse do co#)io. 6sta imaem!oi !eita em homenaem ao poema K can-o do vento e da minhavidaL, de Kmanue# 'andeiraL ... L ...

     

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     ...im...

    ...im dos contos; mas não

    dos sonhos......Os bons sonhos nunca

    acabam......Os sonhos não

    terminam...

    ...Ea terra do 'ntão...NN

     

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    ... K ... aso#ina, se tornou um artista comp#eto, sem no entanto ter  pu'#icado nenhuma de suas o'ras. 6#e n-o aceitava nem as rerasdo mercado nem muito menos as imposi/es est)tico acadUmicas.am')m n-o ostava muito da crtica. Mas tinha +ue viver disso...odavia, desenvo#veu interessantes tra'a#hos musicais, nas artes

     p#ásticas e na #iteratura. Dentre muitos cro+uis +ue !a*ia paraestudos, havia um es'oo !eito há de*enas de anos, +ue ainda n-otinha se trans!ormado em pintura... Tuando e onde e#e teria !eitoa+ue#e rápido estudoN +ue teria acontecidoN @empre havia muitostra'a#hos por terminar, apenas esperando o momento certo. +uesini!icariam a+ue#es traosN Tua# o motivo da demoraN... K...

    Eotas e cita15es*1 < KdescartesL ' 8en( Descartes GHIGIQO+ $ilso$o, $ísico e matem-tico $ranc&s.

     

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    *2 < Ka#i#euL ' Balileu Balilei GIRGIRO+ $ilso$o, $ísico, matem-tico e astrFnomo italiano.*3 < KrenascimentoL ' Período europeu "ue marca o $im da idade m(dia e início da moderna.*4 < Ki#uminismoL ' Período mundial "ue marca a grande trans$orma#ão do mundo moderno.*5 < KQantL < >mmanuel Tant GURGJQRO+ $ilso$o alemão PrussiaO, pensador moderno dos mais in$luentes. 

    *6 < KneJtonL ' >saac NeVton GIRWGUUO+ $ilso$o, $ísico, matem-tico e astrFnomo ingl&s.*7 < Krevo#u-o industria#L < 5rans$orma#ão dos meios de produ#ão e do mercado com as m-"uinas a vapor.*8 < 2mi# novecentos e oitenta e +uatro, de eore orJe##L < ra do escritor ingl&s, Beorge rVell GHQWGHQO.*9 < 2 p#at-o, com a rep'#icaL < ra do $ilso$o e matem-tico grego, Platão RJWRJa.AO.*10 < Kthomas more, com utopiaL < ra do escritor, advogado e diplomata ingl&s, 5homas ore GRUJGWO. *11 < Ktommaso campane##a, com a cidade do so#L 1 ' ra do $ilso$o italiano, 5ommaso Aampanella GIJGIWHO.*12 < KsQinner, com Ja#den IIL < ra do psiclogo estaduniense, urrhus 0rederic SXinner GHQRGHHQO.*13 < Ka#dous huR#eS, com seu admiráve# mundo novoL < ra do escritor ingl&s, )ldous L. 4u6leY GJHRGHIWO.

    *14 ' KdurQheinL  ' Emile DurXhein ( considerado um dos pais da  sociologia moderna. DurXheim $oi o $undador da

    escola $rancesa de  sociologia, posterior a  ar6, "ue cominava a pes"uisa  empírica com a teoria sociolgica.

    DurXheim analisa dentre as categorias de entendimento, as de g&nero e de causalidade de$endendo a tesesegundo a "ual classi$icamos os seres do universo em grupos, chamados g&neros, por"ue temos o e6emplo dassociedades humanas. )s classi$ica#