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Memórias de um sargento de milícias Manuel Antônio de Almeida Leonardo ou Leonardinho o (o 1º da literatura brasileira) antiherói do romance, vadio, malandro, que adora fazer estripulias e criar problemas. Mulherengo, quase perde seu amor, por ser inconsciente. É criado pelo padrinho, já que os pais se separam e não têm paciência para lhe suportar as traquinagens. Chega a ser preso, tornase granadeiro e Sargento de Milícias. Casase e tornase assentado. Leonardo Pataca pai de Leonardo, acaba casado com Chiquinha, depois que abandona o filho com o compadre. Luisinha moça com a qual Leonardo se casa. Em princípio é desengonçada e estranha, depois melhora. Casase com José Manuel, por influência da tia, arranjando um marido que só deseja seus bens. É órfã. Fica viúva e unese a Leonardo. Vidinha mulata jovem, bonita e animada, toca viola e canta modinhas. Cativa Leonardo, que vive em sua casa por algum tempo. O Compadre barbeiro de profissão, cria Leonardo, protegeo e acaba deixandolhe uma herança que surrupiou do comandante de um navio. A Comadre defende e acompanha Leonardo em qualquer circunstância. Adora o afilhado. D. Maria doida por uma demanda judicial, ganha a guarda de Luisinha, quando ela perde os pais. José Manuel salafrário e calculista, casase com Luisinha por dinheiro e morre. Major Vidigal militar que persegue Leonardo, até conseguir integrálo às forças milicianas. Calcado em uma figura real. Maria da Hortaliça mãe do personagem, portuguesa, trai o Pataca e foge com outro para Portugal. Chiquinha casase com Leonardo Pataca. É filha da Comadre. Há ainda, o tomalargura, sua esposa, Maria Regalada, as viúvas… Análise do livro Queda da idealização romântica dos personagens, mostrandonos, inclusive, a figura de um antiherói como protagonista do enredo. Enfoque de época (tempo) diferenciado do habitualmente apresentado pelos romances românticos. Falase do período da vinda da família real para o Brasil, do tempo em que D. João VI refugiouse no Rio de Janeiro início do século 19. vida suburbana do Rio de Janeiro, os subúrbios cariocas constituem o espaço estilizado, em contraste com a vida da corte, que normalmente surge em obras do Romantismo. Público alvo: não é a nobreza, mas a classe média. Popular. A linguagem é popular, coloquial, mais de acordo com pessoas de nível cultural inferior, pertencente a camadas sociais simples.

Memórias de Um Sargento de Milícias

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Memórias de Um Sargento de Milícias

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Memórias de um sargento de milícias ­ Manuel Antônio de Almeida

Leonardo ou Leonardinho ­ o (o 1º da literatura brasileira) anti­herói do romance, vadio, malandro, que adora fazer estripulias e criar problemas. Mulherengo, quase perde seu amor, por ser inconsciente. É criado pelo padrinho, já que os pais se separam e não têm paciência para lhe suportar as traquinagens. Chega a ser preso, torna­se granadeiro e Sargento de Milícias. Casa­se e torna­se assentado.

Leonardo Pataca ­ pai de Leonardo, acaba casado com Chiquinha, depois que abandona o filho com o compadre.

Luisinha ­ moça com a qual Leonardo se casa. Em princípio é desengonçada e estranha, depois melhora. Casa­se com José Manuel, por influência da tia, arranjando um marido que só deseja seus bens. É órfã. Fica viúva e une­se a Leonardo.

Vidinha ­ mulata jovem, bonita e animada, toca viola e canta modinhas. Cativa Leonardo, que vive em sua casa por algum tempo.

O Compadre ­ barbeiro de profissão, cria Leonardo, protege­o e acaba deixando­lhe uma herança que surrupiou do comandante de um navio.

A Comadre ­ defende e acompanha Leonardo em qualquer circunstância. Adora o afilhado.

D. Maria ­ doida por uma demanda judicial, ganha a guarda de Luisinha, quando ela perde os pais.

José Manuel ­ salafrário e calculista, casa­se com Luisinha por dinheiro e morre.

Major Vidigal ­ militar que persegue Leonardo, até conseguir integrá­lo às forças milicianas. Calcado em uma figura real.

Maria da Hortaliça ­ mãe do personagem, portuguesa, trai o Pataca e foge com outro para Portugal.

Chiquinha ­ casa­se com Leonardo Pataca. É filha da Comadre.

Há ainda, o toma­largura, sua esposa, Maria Regalada, as viúvas…

Análise do livro

Queda da idealização romântica dos personagens, mostrando­nos, inclusive, a figura de um anti­herói como protagonista do enredo.

Enfoque de época (tempo) diferenciado do habitualmente apresentado pelos romances românticos. Fala­se do período da vinda da família real para o Brasil, do tempo em que D. João VI refugiou­se no Rio de Janeiro ­início do século 19.

vida suburbana do Rio de Janeiro, os subúrbios cariocas constituem o espaço estilizado, em contraste com a vida da corte, que normalmente surge em obras do Romantismo. Público ­ alvo: não é a nobreza, mas a classe média. Popular.

A linguagem é popular, coloquial, mais de acordo com pessoas de nível cultural inferior, pertencente a camadas sociais simples.

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Contraste entre posturas moralizantes e atitudes que vão contra os preceitos morais. Sem sentimentalismo típico do romantismo; retrata a vida real, não a vida idealizada. Retrata o grupo dos portugueses que povoam o Rio de Janeiro da época, com seus

costumes e peculiaridades. Traz, em sua essência, traços carnavalizados, como o contraste entre as propostas

de seriedade e ordem e os momentos de completa desorganização. Enquadram­se, ainda, como componentes dos referidos traços, a forte presença do humor na obra. O caricatural, o que faz rir, a ironia, misturam­se em um conjunto que retrata o ridículo de diversas situações retratadas.

Não há o predomínio da linearidade na obra, pois acontecem digressões e a quebra do enredo interrompe comentários, explicações.

Várias tramas desenvolvem­se ao mesmo tempo, sendo Leonardo, o personagem central, responsável por atá­las tornando­se o elo entre elas, o que permite que a obra seja denominada também de novela.

Uso da linguagem conotativa ou figurada. No final, a vida de Leonardo organiza­se, tudo se encaixa satisfatoriamente,

mostrando­nos mais claramente a presença do Romantismo no texto. metalinguagem :Aparecem diversas explicações sobre a obra na própria obra. O foco narrativo é em terceira pessoa, com um narrador onisciente, que interfere no

texto, faz observações e busca contato com o leitor (tentativa de diálogo). dinamismo e ação em todo o decorrer da história. Ao final da obra, o que impera é a ordem sobre a desordem, fechando­se o processo

de carnavalização. Forma­se, no todo, um grande painel do Rio de Janeiro na época enfocada. A crítica

social pode ser sentida no desenvolvimento da trama. Leonardo foi o precursor de Macunaíma, o qual só surgiria no Modernismo

Capítulo 1

Origem, nascimento e batizado

A história se passa no início do século XIX, o “tempo do rei”, ou seja, quando D. João VI, rei de Portugal, estava no Brasil, no Rio de Janeiro.

O autor inicia discorrendo sobre a classe dos meirinhos, como se chamavam na época os oficiais de justiça, com grande “influência moral” por serem responsáveis pelo pontapé inicial dos custosos processos judiciais.

Entre eles está Leonardo “Pataca”, o mais velho, vindo de Portugal onde era algibebe (vendedor de roupas). Este senhor gordo, lento, pachorrento, de cabelos brancos e face vermelha, vivia reclamando dos pagamentos por seus serviços, daí seu apelido “Pataca”.

Ainda em sua viagem de Portugal, Leonardo cruzara com Maria da Hortaliça, uma saloia (mulher do campo), e após uma “pisadela e um beliscão” namoraram durante a viagem. Resultado disso foi, já no Brasil, o nascimento de Leonardo, filho, que é o personagem central do livro. Curiosidade: o garoto nasceu gordo e cabeludo, porém apenas sete meses

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depois do encontro dos dois; haveria aí um golpe da barriga? O livro não esclarece, apenas indica.

No batizado do menino a parteira foi escolhida como madrinha e o barbeiro vizinho como padrinho. Neste ponto o autor sublinha a tentativa de Leonardo Pataca de organizar um festejo com ares aristocráticos, mas que logo se perdeu no meio de muita algazarra, que denunciava a origem pouco nobre dos presentes. Quanto ao Leonardo filho, se resumia a guinchos e esperneios no meio da balbúrdia.

Brevemente foi citada a existência do Vidigal, chefe de policia da região, que passando próximo à festa intimidava a barulheira, fazendo com que tudo se encerrasse mais cedo.

Capítulo 2

Primeiros infortúnios

O narrador dá um pulo de sete anos, quando Leonardo já aprendera a falar e era o terror da vizinhança e de seus pais, entre gritos, choros, bagunças e muita gula.

O comportamento do garoto de certa forma refletia o de seus pais: Maria se aproveitava da ausência de Leonardo Pataca para se divertir com outros homens e Leonardo Pataca ao suspeitar da traição se enfurece e larga sua casa, ou seja, eram dois irresponsáveis. No meio dessa confusa separação Leonardo se diverte rasgando os processos que seu pai deixara num canto. Ao ver a desgraça Pataca ainda dá um chute no garoto, que vai se proteger com seu padrinho, o barbeiro.

O barbeiro, que sabia de tudo que ocorria na casa, ainda tenta ajudar o casal, mas também é surpreendido quando, numa das tentativas de reuni­los, descobre que Maria partiu de volta à Portugal com um capitão de um navio. Furioso, Leonardo Pataca sai também abandonando seu filho, que se tornou, então, uma carga para o padrinho.

Capítulo 3

Despedida às travessuras

Assim que ganhou intimidade com a nova casa, Leonardo pôs em prática suas tradicionais traquinagens: atormentava os transeuntes, os clientes de seu padrinho e os vizinhos. Mas o barbeiro, velho solitário, se encantou pelo garoto e via todas suas diabruras como brincadeiras inocentes.

Logo começou a fazer planos para o garoto, considerando que mesmo com seu temperamento havia de arranjar algo para fazer, lembrando de que ele mesmo “arranjou­se”, mas sem explicar bem como. Então pensou em mandar Leonardo para estudos em Coimbra, mas decidiu que ele deveria ser um clérigo, rezar missas, e assim provaria à vizinhança a bondade que enxergava no garoto.

Aos nove anos Leonardo soube dos planos de seu padrinho, que lhe deu alguns últimos dias para se divertir em suas travessuras. O menino, que não gostava nem de ir à missa,

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pouca atenção deu ao planejamento feito e concentrou­se na “permissão” a ele concedida, e saiu a fazer suas brincadeiras.

O narrador explica um costume da época, uma procissão que se realizava geralmente às quartas­feiras, por padres e irmãos, num caminho que representava a via­sacra. No meio do evento religioso, outros “devotos”, jovens garotos, se divertiam ao zombar das rezas e cantos, gritando obscenidades e atormentando os seguidores. Vendo tal movimento Leonardo resolve, no uso de sua “permissão”, se embrenhar na “festa”. Conhece outros dois garotos de sua idade e quando percebe está no fim da via­sacra, na Igreja do Bom Jesus.

Capítulo 4

Fortuna

O narrador dá um tempo às travessuras de Leonardo, que agora é aflitivamente procurado pelo compadre, para contar as desventuras do Leonardo pai.

Com Maria das Hortaliças distante, Pataca não demora a se prender a outra paixão – ele era um romântico. Mas a cigana com que se meteu era tão ouriçada quanto a anterior e também possuía seus amantes. Chegou um dia em que ela decidiu se livrar de Leonardo Pataca e fugiu, como fez Maria. Desacreditado com tanto “azar” Leonardo pôs­se a procurar por “fortuna”.

Novamente o livro narra alguns costumes da época: dessa vez era sobre a busca da “fortuna” em rituais de nigromancia – magia negra – realizados, curiosamente, por pessoas que viviam de forma muito pobre em cabanas perdidas no meio de mangues, aparentemente sem qualquer fortuna para lhes ajudar!

Pois aí Leonardo Pataca procura ajuda e após realizar diversas provas que não surtiram efeito acaba participando de um ritual em que fica nu, coberto por um manto, faz algumas rezas e pratica uma estranha dança ao redor de uma fogueira, com outros três “feiticeiros”.

Durante o ritual, aparece o já citado Vidigal.

Capítulo 5

O Vidigal

O narrador descreve o Major Vidigal, personagem real do início do século XIX, no Rio de Janeiro. Com uma equipe de polícia ainda pouco organizada, Vidigal era visto como um árbitro supremo, que ditava as regras, vistoriava as ocorrências, determinava as penas e, apesar de ter tanto poder concentrado, o usava com moderação, dentro do cabível.

Os realizadores do ritual tentam fugir do casebre, mas este estava cercado. Assim que Vidigal entra, ordena que todos continuem a dançar até cansarem. Ao final seus granadeiros punem a todos com chibatadas. Em seguida o major usa de sua posição para dar lições de moral e questiona, especificamente, Leonardo Pataca, de quem não esperava

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este comportamento por ser uma pessoa da justiça, e talvez por isso o utiliza como exemplo, dando a ele a maior punição.

A Casa da Guarda ficava no Largo da Sé e funcionava como um depósito dos que eram presos durante a noite até que se lhes desse um destino. Qualquer um preso logo se tornava conhecido de todos na cidade, e essa foi a “fortuna” de Leonardo. Seus amigos meirinhos se inteiraram da situação e até se mostraram sentidos ao saber que dali Pataca iria para a cadeia – punição bem mais séria – , mas no fundo se alegravam por saber que todos clientes de Leonardo – e eram muitos – se dividiriam entre eles.

Capítulo 6

Primeira noite fora de casa

O compadre não demorou muito para adivinhar onde estaria metido Leonardo (filho!), e

decidiu fazer o caminho da via­sacra, até a Igreja do Bom Jesus. Não o encontrou, mas

soube que foram visto três garotos a serem postos para fora da Igreja pelo padre. Como já

era tarde e não tinha mais pistas preferiu se recolher e voltar à busca no dia seguinte.

Enquanto o barbeiro não dormia de tanta preocupação, Leonardo estava acompanhado de

seus dois novos amigos, que descobrira pertencerem a um acampamento cigano. O

narrador descreve este agrupamento, sua origem (emigrados de Portugal), sua fama

(ociosos, de poucos escrúpulos, enganadores) e seus costumes (festas, correntes de ouro).

Vale lembrar que o Leonardo Pataca envolvera­se em seu último enrosco justamente por

uma paixão por uma cigana!

Após passar a noite entre as danças e festejos desse grupo, que o faziam em devoção a

algum santo do dia, Leonardo pede para ser levado à sua casa por seus amigos e logo o

compadre o encontra. Este poderia se enfurecer pelo susto que o garoto dera, mas cede à

“inocência” do menino, que falou que por saber que seria padre teria ido visitar um

“oratório”.

Capítulo 7

A comadre

Uma personagem citada no primeiro capítulo agora entra em foco, é a madrinha de

Leonardo. É descrita como uma beata típica da época, que além de ter seu ofício de

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parteira e benzedeira, tinha fama de “papa­missas” por ocupar seu dia inteiro indo de igreja

a igreja, sabendo os horários de cada uma das missas que participava.

Entre as carolas da cidade era comum o trato compartilhado da vida alheia (fofoca). Entre

uma dessas atividades a comadre ouviu sobre briga de Leonardo Pataca e Maria, e o

destino do filho, junto ao compadre. Para saber mais detalhes, foi procurá­lo.

Na casa do barbeiro descobriu o destino de Leonardo­pai e os planos para Leonardo­filho,

nos quais não pôs muita fé, embora o compadre se empenhasse em ensinar­lhe o á­bê­cê.

Capítulo 8

O pátio dos bichos

É descrita uma saleta que existia no saguão do palácio del­rei e que abrigava velhos oficiais

superiores “incapazes para a guerra e inúteis na paz”, era conhecido como o “pátio dos

bichos”. Um destes senhores, um tenente­coronel, era o mais velho e havia acompanhado

el­rei em sua viagem para o Brasil.

Certo dia a comadre vai visitá­lo e explica a situação de Leonardo Pataca, solicitando que o

tenente­coronel interceda por ele perante o Major Vidigal. O motivo deste encontro não é

explicado neste momento, mas o narrador indica que o fará em breve. Esta quebra de

ordem entre fatos e motivos é bem chata, mas constante no livro.

Capítulo 9

O arranjei­me do compadre

Agora é a vez de o compadre ter sua história contada: tudo o que se sabe é que foi criado

por um barbeiro, que não sabe se era seu pai, padrinho ou qualquer outra coisa, e que lhe

ensinou o ofício. Além de ajudar na barbearia o então garoto também exercia a atividade

doméstica. Cansado desta última decidiu deixar seu “mestre” e seguiu sozinho à procura de

serviço.

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Conseguiu um trabalho embarcando num navio negreiro como médico, pois também tinha

conhecimentos de sangria – prática comum na época para a cura de quaisquer doenças.

Deu­se muito bem nesta atividade, mantendo todos os que estavam a bordo sãos e salvos.

No entanto, já próximo ao retorno ao Brasil, o capitão do navio passou por um mal que

nenhuma sangria deu jeito. Sabendo que logo morreria chamou o barbeiro­médico, em

quem confiava pela qualidade dos serviços prestados, e lhe confiou suas reservas de

dinheiro para que entregasse a uma filha sua, que indicou a morada.

Chegando ao Rio de Janeiro, no entanto, despediu­se dos serviços a bordo e aproveitou­se

de que ninguém mais sabia do desejo confiado a ele pelo capitão: se autodeclarou herdeiro

da fortuna que com ele estava, enfim, arranjou­se.

Capítulo 10

Explicações

Aqui o narrador expõe a confusa relação entre o tenente­coronel e Leonardo Pataca: ainda

em Portugal o tenente­coronel tinha um filho que se relacionou com uma jovem moça

prometendo­lhe casamento. A tal moça, no entanto, era filha de uma “colareja”, uma

prostituta, que veio ao tenente cobrar­lhe alguma atitude, já que seu filho tinha tirado a

virgindade de sua filha. Então o tenente­coronel pagou um valor pelo seu dote. A tal garota

era Mariazinha, a mesma que surgiu neste livro como Maria das Hortaliças.

Anos depois o tenente­coronel soube da chegada de Maria ao Brasil junto de Leonardo.

Solicitou à comadre, que era sua conhecida, que lhe informasse de qualquer necessidade

por que ela passasse, assim compensaria o mal que seu filho a fez ainda em Portugal. No

entanto o tenente nunca a ajudou diretamente, mas só ao seu companheiro, Leonardo, num

caso com uma irregularidade num processo.

Agora Leonardo meteu­se de novo em problemas e mais uma vez o tenente­coronel se

dispôs a ajudar – apesar de não haver uma lógica explícita neste auxílio, já que Maria nem

mais estava no Brasil… Talvez tenha sido por Leonardo ser pai do filho de Maria… Ou

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quem sabe o filho de Maria não fosse realmente filho de Leonardo, mas neto do tenente!

Enfim, isso não fica claro.

Fato é que após conferir a história diretamente com Leonardo Pataca o tenente­coronel foi à

procura de um amigo – personagem sobre o qual nenhuma explicação foi dada – que

intercederia por ele diretamente a el­rei. É curioso que a necessidade primeira era de se

interceder perante o Major Vidigal, mas o tenente preferiu levar o caso ao rei.

Talvez essa excessiva exploração do autor sobre o “tráfico de influências” entre

personagens seja somente com o intuito de apresentar costumes da época – que até hoje

se sustentam.

Enfim, Leonardo foi solto e teve de enfrentar o escárnio de seus companheiros de trabalho

por muitos dias.