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Universidade do MinhoInstituto de Letras e Ciências Humanas
Mengyao Ren
julho de 2019
A Cultura Antroponímica em Português e Chinês
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9
Universidade do MinhoInstituto de Letras e Ciências Humanas
Mengyao Ren
julho de 2019
A Cultura Antroponímica em Português e Chinês
Trabalho efetuado sob a orientação daProfessora Doutora Anabela Leal de Barros
Dissertação de Mestrado Mestrado em Estudos Interculturais Português/Chinês: Tradução, Formação e Comunicação Empresarial
II
DIREITOS DEAUTOR ECONDIÇÕES DEUTILIZAÇÃO DOTRABALHO POR TERCEIROS
Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que
respeitadas as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos
direitos de autor e direitos conexos.
Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo
indicada.
Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em
condições não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do
RepositóriUM da Universidade do Minho.
Licença concedida aos utilizadores deste trabalho
AtribuiçãoCC BYhttps://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
III
AGRADECIMENTOS
Depois de dois anos de estudos no âmbito da Comunicação Intercultural
Portugal/Chinês, esta dissertação foi finalmente realizada, o que não teria acontecido sem a
ajuda de muitas pessoas, às quais gostaria de expressar a minha gratidão.
Em primeiro lugar, os meus agradecimentos sinceros à minha orientadora distinta e
cordial, Professora Doutora Anabela Leal de Barros, que me influenciou com as suas ideias
perspicazes e inspirações significativas, me orientou com os seus conselhos académicos
práticos e instruções viáveis, e me iluminou enquanto estava confusa durante o procedimento
de escrita. Os seus comentários foram indispensáveis para a realização desta dissertação.
A minha gratidão também aos professores ilustres do Curso de Mestrado em Estudos
Interculturais Português/Chinês: Tradução, Formação e Comunicação Empresarial,
Professora Doutora Sun Lam, Professor Doutor Luís Cabral, Professor Doutor Manuel Gama e
Professora Doutora Pilar P. Barbosa, cujas instruções cuidadosas me capacitaram com boa
competência linguística e atitude académica correta.
Também agradeço profundamente aos meus amigos e colegas portugueses, pela ajuda
académica ao nível da língua portuguesa e pela amizade preciosa e rica, em particular à
Cláudia Silva, à Ângela Miranda, à Tatiana Carvalho e ao Joni Santos. Aos meus amigos
chineses, sobretudo a Tian Han, Xi Wang, Yiran Zhang, pela sua inspiração criativa acerca do
assunto da dissertação, por dar-me uma mãozinha quando me sentia confusa.
Por último, um grande agradecimento à minha família. Aos meus pais, pela
preocupação e compreensão incondicional, pelo encorajamento permanente. Ao meu avô,
pela amor e solicitude absoluta, revelando a sua preocupação com o progresso do meu
trabalho mesmo numa cama de hospital.
IV
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE
Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e
confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou
falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducentes à sua
elaboração.
Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade
do Minho.
V
A Cultura Antroponímica em Português e Chinês
Resumo
Este trabalho tem como objetivo estudar o processo de evolução da cultura
antroponímica em português e chinês nos diferentes períodos destas línguas e civilizações,
determinando os fatores que promoveram essas mudanças e usando as cinco dimensões de
cultura propostas pelo humanista Geert Hofstede: o individualismo versus coletivismo, a
aversão à incerteza, a distância relativamente ao poder, a masculinidade versus feminilidade
e a orientação de curto prazo versus longo prazo, com a finalidade de medir as diferenças
culturais e a orientação de valores entre a China e Portugal, explorando os critérios atuais de
seleção do nome: fonéticos ou estéticos; semânticos ou relativos ao “poder” do nome; de
respeito pelos antepassados e pela tradição; autenticidade ou vernaculidade em cada língua;
universalidade ou caráter internacional do nome; exotismo e grau de raridade ou vulgaridade
do mesmo; ordem alfabética, etc.
Palavras-chave:
antroponímia/antropónimo; alcunhas; cultura antroponímica; dimensão da cultura; estudo
intercultural português-chinês; nomes
VI
Antroponimic Culture in Portuguese and Chinese
Abstract
This work aims to study the evolution of anthroponymic culture in Portuguese and
Chinese from different periods of these languages and civilizations, determining the factors
that promoted changes and using five dimensions of culture proposed by the humanist Geert
Hofstede: individualism versus collectivism, aversion to uncertainty, distance from power,
masculinity versus femininity, and short-term versus long-term orientation to measure cultural
differences and value orientation between China and Portugal. This study also explores
current selection criteria of the name: phonetic or aesthetic; semantic or relative to the
"power" of the name; respect for ancestors or traditions; authenticity or vernaculity;
universality or international character; exoticism and degree of rarity or vulgarity; alphabetical
order, etc.
Keywords:
anthroponymy/anthroponym; anthropomorphic culture; cultural dimension; nickname; names;
portuguese-chinese intercultural study
VII
中葡姓名学文化研究
摘要
本文旨在通过对葡萄牙及中国姓名学文化发展中的关键节点进行研究,探索
葡萄牙及中国姓名学文化演变的轨迹,并利用著名人文学博士吉尔特·霍夫斯塔
德提出的五个文化尺度:个人主义和集体主义,不确定性规避,权力距离,“男
性化”倾向和长期取向与短期取向来衡量中葡两国之间的文化差异和价值取向区
别。基于此研究基础,再依据字母或文字的音、形、义、意、数等原理,按照名
学、易学、五行学、社会学、民族文化等方面,从多个角度对现代社会选择姓名
的原则进行深度探索,找出最适合的名字并对其目标论证其特定的吉凶与变化趋
势。
关键词:
绰号;姓名学/姓名学的;姓名学文化;文化尺度;跨文化研究;姓名
VIII
ÍNDICE
Introdução........................................................................................................................1
Capítulo 1
Antroponímia e mudança linguística..................................................................................5
1.1 A antroponímia enquanto parte da onomástica............................................................6
1.2 Antropónimos na toponímia........................................................................................ 8
1.3 As alcunhas..............................................................................................................11
1.3.1 Interesse sociocultural....................................................................................12
1.3.2 Interesse linguístico........................................................................................15
Capítulo 2
Antroponímia e mudança histórica..................................................................................18
2.1 Em Portugal............................................................................................................. 19
2.1.1 Fixação do território (até ao século XIV).......................................................... 19
2.1.2 Expansão e Descobrimentos (séculos XV-XVI)..................................................25
2.1.3 Da monarquia dual/domínio filipino ao iluminismo (séculos XVII-XVIII).............26
2.1.4 Decadentismo, modernização e contemporaneidade (séculos XVIII-XX)............28
2.2 Na China..................................................................................................................34
2.2.1 Antes da reunificação da Dinastia Qin (antes de III a.C.).................................. 35
2.2.2 Da Dinastia Qin à Dinastia Tang......................................................................37
2.2.3 Da Dinastia Song à dinastia Qing.....................................................................41
2.2.4 Após a guerra do ópio (séculos XVIIII-XX)........................................................ 46
2.2.5 Representação especial do título chinês: Zi, Hao............................................. 48
Capítulo 3
Antroponímia e culturas comparadas..............................................................................52
3.1 Individualismo versus coletivismo............................................................................. 53
3.2 Aversão à incerteza.................................................................................................. 54
3.3 Distância ao poder....................................................................................................56
3.4 Masculinidade versus feminilidade............................................................................57
3.5 Orientação de curto prazo versus longo prazo........................................................... 59
IX
Capítulo 4
O estado atual da atribuição e receção do nome em português e em chinês.................... 61
4.1 Critérios atuais da seleção do nome em chinês......................................................... 62
4.1.1 Semânticos ou relativos ao “poder” do nome..................................................62
4.1.2 Fonéticos ou estéticos.................................................................................... 63
4.1.3 Configuração dos carateres............................................................................ 65
4.2 Critérios atuais da seleção do nome em português....................................................66
4.2.1 Lista de nomes permitidos em Portugal...........................................................66
4.2.2 Inspiração para o nome perfeito......................................................................68
Conclusão...................................................................................................................... 71
Referências bibliográficas............................................................................................... 75
Referências situgráficas.................................................................................................. 82
X
Índice de figuras
Figura 1 Universidade de Sun Yat-Sen..............................................................................10
Figura 2 Centro Comercial Vasco da Gama...................................................................... 10
Figura 3 Dicionário dos sobrenomes, e appellidos mais uzados, e communs em Portugal.23
Figura 4 Os estados vassalos no início do período das Primaveras e Outonos................... 36
Figura 5 Os quatro tons em chinês.................................................................................. 65
XI
Índice de tabelas
Tabela 1 Alcunhas para pessoas altas ou baixinhas..........................................................14
Tabela 2 Nomes e Alcunhas dos Ídolos Estrangeiros........................................................ 15
Tabela 3 Nomes masculinos mais frequentes dos processados da Inquisição de Lisboa....29
Tabela 4 Nomes femininos mais frequentes dos processados da Inquisição de Lisboa...... 29
Tabela 5 Nomes mais comuns no século XX.................................................................... 33
Tabela 6 Transmissão de nomes entre gerações.............................................................. 34
Tabela 7 Três tipos de 谥号 (Shì hào)............................................................................50
Tabela 8 Os 庙号 (Miào hào) dos imperadores............................................................... 51
Tabela 9 Nomes mais populares em Portugal no ano de 2017..........................................67
XII
AO MEU QUERIDO AVÔ
致我敬爱的外公
QUE MERECE ESTE TRABALHO
1
Introdução
2
Desde os tempos antigos que os nomes têm desempenhado um importante papel na
identificação pessoal. Numa grande variedade de atividades comunicativas, as pessoas
geralmente começam por perguntar os nomes umas das outras.
O nome, como uma espécie de embaixador cultural, tem sofrido, ao longo da história,
uma grande evolução, mostrando pertença a determinados grupos étnicos e linguísticos e
revelando conotações culturais ricas que refletem as características da cultura nacional ou
do clã, grupo a que pertence.
Apesar de Portugal não ser um país tão antigo como a China, passou também ele por
muita turbulência durante a sua evolução, com um processo de desenvolvimento histórico
que podemos considerar épico. Os primeiros documentos escritos em português datam do
século XII (Martins 1999, 2001, 2004; Castro, Marquilhas e Albino 2001; Castro 2004; Souto
Cabo 2003, 2004), mas essa língua românica, o galego-português, formou-se e usou-se
oralmente muito antes de Portugal se tornar um país independente, em 1143. Os romanos
chegaram à Península Ibérica em 218 a.C. Durante o reinado do Imperador Augusto,
dividiram-na em três províncias — a Tarraconensis, a Lusitania e a Betica. É claro que não
trouxeram apenas a língua latina, mas também a cultura única da antiga Roma e do império
romano em formação. A característica mais marcante é que os portugueses nesta época
gostavam muito de usar os nomes compostos dos clãs e nomes de família tanto do pai como
da mãe, pois, os nomes dos cidadãos eram geralmente compostos por cinquenta ou sessenta
letras, eram demasiado longos para serem registados - veja-se o caso da Rainha Augusta
Vitória, que foi batizada com o nome mais longo de Portugal: Augusta Vitória Guilhermina
Antónia Matilde Luísa Josefina Maria Isabel de Hohenzollern-Sigmaringen (Proença, 2008:
347). Com o intuito de facilitar o registo dos nomes, o governo acabou por emitir um
conjunto de regras segundo as quais cada português só poderia ter no máximo dois nomes
próprios e quatro apelidos (decreto-Lei n.º 131/95 de 06/06/1995), e hoje em dia, o nome
completo deve compor-se, no máximo, de seis vocábulos gramaticais, simples ou compostos,
dos quais só dois podem corresponder ao nome próprio e quatro a apelidos (IRN,
09/11/2017).
A origem dos nomes chineses, desde a antiguidade, radica na ideia dominante de
criação de um apelido centrado na origem materna, com o radical 女 (nǚ, 'mulher'), que
passou a ser o núcleo para essa formação. Esta inferência pode ser verificada em muitas
lendas e em algumas palavras que servem de apelidos. A criação de carateres é a
3
cristalização da experiência e sabedoria dos antepassados, e também o símbolo da
humanidade a entrar na civilização. O significado original das palavras apelido e nome é bom
exemplo disso. Como referido na antiquíssima obra 史记•五帝本纪 (Shǐjì•wǔdì běnjì)1, o
caráter 姓 (xìng, 'apelido') reflete as características históricas do período matriarcal.
Naquela época, os descendentes da mesma mãe viviam juntos, formando grupos iniciais,
clãs, nos quais o nome e a herança passavam de mãe para filhos. A partir daí, podemos
inferir que o nome chinês nasceu nos tempos antigos, com registos escritos, e a nação
chinesa dá disso provas literárias há cerca de quatro mil anos.
O nome aparenta ser uma coisa simples e básica, mas por detrás dele existe uma
enorme riqueza cultural. Partindo da sua evolução histórica diferente, o Oriente e o Ocidente
criaram muitas diferenças entre si. Como estudante chinesa da língua portuguesa, partirei
destes dois países, Portugal e China, como objeto de análise, de forma a identificar e explicar
as diferenças históricas e culturais que contribuíram para as diferenças que existem nos
nomes que conhecemos atualmente.
A presente dissertação está organizada em quatro partes, o que corresponde aos quatro
capítulos que inclui.
Antes de tudo, no primeiro capítulo, introduz-se o termo antroponímia, esclarecendo o
seu significado e aplicação em diferentes cenários e analisando designações de pessoa a
partir de características particulares, físicas ou psicológicas/morais.
No segundo capítulo aprecia-se o desenvolvimento da antroponímia ao longo dos
períodos históricos. A análise foi realizada separadamente em Portugal e na China,
mostrando as particularidades e destaques em cada etapa diferente. Além do mais, para
evidenciar as modas linguísticas em cada época, selecionaram-se alguns exemplos dos
nomes mais utilizados e apreciados entre os séculos III a.C. e XX, não só em Portugal, mas
também na China, chamando a atenção para aspetos como a origem, a mudança e a
evolução dos nomes. Para isso, socorremo-nos de exemplos comuns mas típicos de obras
antigas e contemporâneas, como os trabalhos de de Ana Belo, Anabela Leal de Barros, Ding
Chongming e outros.
O terceiro capítulo apresenta uma comparação entre a cultura antroponímica em
português e chinês com base nos capítulos anteriores, aplicando uma teoria desenvolvida por
Hofstede a partir de um dos maiores estudos empíricos das cinco dimensões culturais, que é
1 É um livro que regista mais de 3 000 anos de história da China.
4
um quadro-referência com cinco dimensões de valores entre as culturas nacionais.
Por último, investiga-se o estado atual da atribuição e receção do nome em português e
em chinês, começando pelos critérios atuais para a seleção do nome, quer em português
quer em chinês, e observando as tendências da moda.
5
Capítulo 1
Antroponímia e mudança linguística
6
1.1. A antroponímia enquanto parte da onomástica
Os seres humanos possuem um património hereditário que evidencia até que ponto
sabem tomar apontamento da evolução da sociedade e têm o instinto de preservação e
conservação de documentos da história. Assim, no âmbito de cada área do saber existem
registos históricos para se conhecer como se passaram as coisas na antiguidade e ao longo
do tempo — como eram, o que faziam e falavam os nossos antepassados.
Uma dessas ciências é a onomástica. Trata-se da disciplina que se dedica à análise e
classificação dos nomes, ou seja, do ato de nomear, centrando-se nesse processo de
denominação. É fácil identificar a presença da onomástica na lexicografia, a ciência que se
dedica à organização do repertório lexical de cada língua. Mas a onomástica não é
importante apenas para criar conhecimento sobre uma língua, pois fornece também dados
importantes noutros âmbitos, sobretudo o relacionado com o estudo da História.
Tendo-se desenvolvido sobretudo na segunda metade do século XIX, a onomástica é
uma disciplina que se liga aos recursos humanos. As investigações foram feitas em
documentos antigos em casca, pele, bambu, pedra, madeira ou papel, que fornecem
informação acerca da origem, evolução e cronologia do surgimento dos nomes.
Geralmente, reconhecem-se dois setores ou especialidades na onomástica. Um é a
toponímia, que trata de registar as denominações de lugar. Dentro do seu âmbito,
destacam-se a hidronímia, a oronímia e outros ramos indicados abaixo, dedicados ao estudo
de diferentes nichos ou topoi:
Hidrónimos: nomes de rios e outros cursos da água. Limnónimos: nomes de lagos. Talassónimos: nomes de mares e oceanos. Orónimos: nomes de montes e outros elementos do relevo. Corónimos: nomes de subdivisões administrativas e de estradas. Exónimos: nomes de lugares em línguas estrangeiras em relação à falada no próprio lugar.
(Amaral, 1997: 31-42)
A antroponímia, por sua vez, está centrada nos nomes dos seres humanos, que é o foco
desta dissertação. O seu ramo permite conhecer a origem, o desenvolvimento e a cronologia
dos apelidos e nomes próprios.
Trata-se de um ramo importante também para que os historiadores e outros
investigadores possam estudar as relações de poder através dos nomes próprios de famílias
que estiveram à frente de sociedades ao longo dos anos. O mesmo conceito vale para
7
instituições de poder como a Igreja, por exemplo. A antroponímia permite estabelecer
relações entre a etimologia, a evolução fonética, morfológica e semântica destes nomes e o
desenvolvimento do mundo e da sociedade, em todos os seus aspetos e manifestações.
Naturalmente, os estudos antroponímicos, e onomásticos em geral, pressupõem o
estudo da mudança fonética e fonológica, morfológica, morfossintática, semântica e
pragmática dos nomes, já que a sua materialidade é especialmente relevante e o seu sentido
e utilização não o são menos. Tal como acontece com quaisquer outras palavras da língua,
também os nomes sofrem mudança ao longo do tempo, contudo, não sendo essa a minha
área de especialização, e tendo em conta que estão em causa não apenas um, mas dois
sistemas linguísticos de famílias diferentes, o português e o chinês, e todos os períodos da
sua evolução, limitar-me-ei a pequenos apontamentos etimológicos, morfológicos, semânticos
e pragmáticos a respeito de nomes selecionados como exemplos. Para se ter uma ideia da
mudança e variação fonéticas e fonológicas que afetam os nomes ao longo do tempo basta
atentar, como mero exemplo, nos nomes próprios e apelidos que o autor anónimo do
manuscrito 2126 da Livraria, editado por Anabela Barros (2018) incluiu no seu dicionário de
português desde o período medieval até ao século XVIII (1769) como verbetes — e não
simplesmente nas listas ou dicionários temáticos que acrescenta no final do códice — por se
tratar de variantes com mudanças que os utilizadores da língua poderiam não compreender
à data, tal como refere Barros (2018: 112-114) na Introdução.
No Vocabulário geral podem ainda ler-se variantes onomásticas já necessitadas de explicação,seja por motivos meramente gráficos, como Migel, ou fonéticos e morfofonológicos, como osnomes próprios com metátese Antoino e Ander, a antiga forma abreviada de Sebastião, oapelido Passagno/Pessagno, também integrado na lista de apelidos como Pessanha, ou asformas aglutinadas Fernandalvares e Lopofons:
Affonce O nome de Affonço. (45)Ander Andrè. (11)Anrique Henrique, nome proprio. (39)Antoino Antonio. (11)Bastião Bestião. Sebastião. (69)Bartolo Bartholomeo. Outros erradamente, Bertolo. (68)Beatrix2 Brites. [vd. Briatizinha] (73)Briatizinha Briteszinha. Diminutivo de Brites. [vd. Beatrix] (73)Bertolameu3 Bartholomeo. (68)Caloro Carlos, nome proprio. [vd. Calros] (133)Calros Carlos. Nome proprio. [vd. Caloro] (103)Catrina Catharína. Nome proprio. (103)
2 O autor registou Beatríz na lista inicial de lemas.3 A mesma mão registou Bartolameo na lista inicial de lemas.
8
Cosmo Cosme, nome proprio. (134)Damiano Damião, nome proprio. (156)Delisabeth4 Izabel. (155)Gonçale Gonçalo. (205)Guimar Guiomar, nome proprio de molher, dirivado de Guilherme. (205)Guiteria Quiteria, nome proprio de molher. (200)Ilena Elena, nome proprio de molher. (210)Issopote Izopo, ou Ezopo. (210)Jabel Jzabel. (209)Jhoam5 João. [vd. Joane; Joham] (210)Jaccome Jacome. (210)Jerolymo6 Jeronymo, nome proprio de homem. (208)Joane João. [vd. Jhoam; Joham] (210)Joham João, nome proprio de homem. [vd. Jhoam; Joane] (210)Jozey Jozè, nome proprio de homem. (208)Madanèla Magdalena, nome proprio de molher. De tres Magdalenas entre si destinctas
faz memoria a Sagrada Escritura. Huma irmã de Lazaro; outra que ungidapoz [sic] de Christo, em caza de Farizeo; outra, de quem o mesmo Senhorlançou sette demonios. (225)
Matuca Maria, nome proprio. (234)Migel Miguel, nome proprio. (242)Pere Pedro, nome proprio. [vd. Però] (267)Però Palavra antiquada. Porem. [vd. Peròm; Peròo] Em outro sentido he Pedro,
nome proprio. [vd. Pere] (267)Rotrigue7 Rodrigo, nome proprio. (283)Xaviel Xavier. (318)Passagno8 Pessanha. Apellido. (267)Fernandalvares9 Fernando Alvares. (196)Lopofons Lopo Affonço. (218)
1.2. Antropónimos na toponímia
A Toponímia é o estudo dos nomes de lugares, levando em conta a influência e a
relevância dos nascimentos e os processos de mudança. Está intimamente ligada às
pesquisas históricas, filosóficas, religiosas, antropológicas, geográficas e humanísticas. O
termo é oriundo da Grécia e significa, literalmente, 'nomes de lugar'. Mas a Toponímia vai
além do estudo das denominações de países, províncias, cidades, vilas ou municípios,
havendo muitas subdivisões que se encarregam do estudo das diferentes áreas.
Enquanto recurso para a identificação, orientação e comunicação entre as pessoas, tem
a função prática de permitir a localização e identificação dos imóveis urbanos e rústicos, das
4 Delizabeth na lista inicial de lemas.5 Jhoaam na lista inicial de lemas.6 Jerolimo na lista inicial de lemas.7 Rodrigue na lista inicial de lemas.8 Pessagno na lista inicial de lemas.9 Fernandalves na lista inicial de lemas.
9
freguesias, localidades, lugares de morada e outros locais que refletem sentimentos,
personalidades e memórias de figuras populares e de relevo, de épocas, de factos históricos,
usos e costumes. A atribuição ou alteração dos topónimos deve revestir-se de grande cuidado,
de modo a respeitar a sensibilidade das populações e os valores históricos, culturais e sociais,
contudo, nem sempre é assim que acontece na prática. As designações toponímicas acabam
por ser duráveis, contudo, são frequentemente influenciadas por fatores de circunstância ou
por critérios subjetivos, dado que a nomeação pelo povo é muitas vezes espontânea e vai
ganhando tradição com a passagem do tempo (Cardoso, 1988: 45).
No âmbito da toponímia não se observa por norma a necessidade de complementos
para compreensão dos nomes, sendo estes constituídos por um só elemento lexical,
compostos de dois ou mais elementos ou formados a partir da fusão de dois ou mais
elementos independentes.
Deve-se notar que os antropónimos incluídos na toponímia geralmente têm um
significado profundo por detrás, seja uma lenda bonita ou uma história valiosa de valor
comemorativo.
Tais situações são muito comuns na China. Veja-se o exemplo de 黄帝 (Huángdì,
'Imperador Amarelo'), um dos Três Augustos, reis lendários, sábios e moralmente perfeitos
que teriam governado a China durante um período anterior à Dinastia Xia. Durante o seu
reinado, ele interessou-se especialmente pela saúde e pela condição humana, questionando
os seus ministros-médicos sobre a tradição médica da época. Passou a ser considerado um
grande herói e fundador da nação chinesa, após ter conduzido a sua tribo, dos 轩辕
(Xuānyuán), à vitória contra a tribo vizinha dos 神农 (Shénnóng), na Batalha de 阪泉
(Bǎnquán) (Sima, 1982: 1).
Outro exemplo conhecido é o de 孙中山 (Sūn Zhōngshān, 'Sun Yat-sen'), estadista,
político e líder revolucionário chinês. Como principal pioneiro da China republicana, Sun é
frequentemente referido como o Pai da Nação. Em outubro de 1911, desempenhou um papel
fundamental no derrube da Dinastia Qing, a última dinastia imperial da China. Foi o
primeiro-ministro provisório quando a República da China foi fundada, em 1912, e mais tarde
co-fundador do Kuomintang, de que foi o primeiro líder.
Tendo em consideração os grandes líderes da China Moderna, tanto as cidades grandes
como as pequenas têm estradas ou ruas com o seu nome. O mais conhecido é o de 中山大
学 (zhōngshān dàxué, 'Universidade de Sun Yat-Sen'), assim denominada em sua
10
homenagem (Wu, 2006: 6).
Figura 1 Universidade de Sun Yat-Sen
Em Portugal os exemplos também não são escassos, e um dos mais recentes e
paradigmáticos é o do Centro Comercial Vasco da Gama.
Figura 2 Centro Comercial Vasco da Gama
O Vasco da Gama é um centro comercial localizado em Lisboa, no Parque das Nações.
Inaugurado em 1999, é uma referência para quem gosta de fazer as suas compras, aliadas
11
às atividades de lazer e ocupação de tempos livres. O seu nome é uma homenagem a Vasco
da Gama, magnífico navegador, explorador e administrador português do século XV, que deu
um grande contributo para o sucesso das navegações e conquistas portuguesas na época
dos Descobrimentos (Fonseca, 2016: 65-69).
Outro exemplo interessante é o de Luís Vaz de Camões, o autor do poema épico Os
Lusíadas e do mundialmente famoso soneto de incipit Amor é fogo que arde sem se ver (em
chinês 爱情是燃烧着的无形之火, Àiqíng shì ránshāozhede wúxíngzhīhuǒ) (Costa, 1994:
119), que revelou notável sensibilidade e talento ao escrever sobre os dramas humanos,
sejam amorosos ou existenciais. Hoje é considerado um dos maiores escritores de língua
portuguesa e um dos maiores representantes da literatura mundial. O seu nome é conhecido
em todo o mundo e é usado em diversas praças, avenidas, ruas e instituições.
Não podemos igualmente esquecer José Saramago ao tratar esta questão da aplicação
de antropónimos na toponímia. No contexto atual das literaturas modernas da Língua
Portuguesa, José Saramago é um dos autores de maior destaque, não só por ter sido o
primeiro escritor proveniente de um país lusófono a ganhar o Prémio Nobel da Literatura,
mas também pela qualidade dos seus textos. No romance português contemporâneo,
Saramago destaca-se também pela construção de romances que têm como pano de fundo a
história de Portugal, das suas raízes medievais à atualidade. Com engenho e criatividade
incomuns, o seu trabalho inaugurou uma nova era na literatura moderna portuguesa. Os seus
romances revelam muitas cruéis realidades sociais com forte ressonância na vida da classe
média e baixa. A fim de expressar reconhecimento e celebrar o seu sucesso, muitos
elementos locais são batizados com o seu nome.
1.3. As alcunhas
Alcunha é um epíteto que geralmente aprecia um indivíduo, tendo em consideração
uma particularidade física ou moral que se lhe atribui, ou algum episódio ou facto da sua
existência.
A alcunha é um signo que capta, em geral, aspectos essenciais do indivíduo que pretenderetratar. Por outras palavras, o discurso da alcunha é um discurso de rigor (Ramos, 2002: 11).
Em algumas ocasiões, a alcunha foi considerada como parte da identidade de alguma
celebridade. Geralmente serve na vida quotidiana como título coloquial e informal. Algumas
são carinhosas e doces, servindo para indicar a proximidade ou familiaridade, outras são
12
críticas e depreciativas, visando causar o riso e ridicularizar. Na sua esmagadora maioria
estas não são registadas oficialmente em documentos, embora no passado, quando era
comum os indivíduos possuírem apenas o nome próprio, ou este e um apelido, ela pudesse
servir para distinguir entre pessoas do mesmo nome, acabando por permanecer agregadas
ao nome até passarem a figurar nos documentos oficiais.
Atualmente a alcunha, criada a partir de qualquer característica positiva ou negativa, é
uma designação popular, não oficial, usada em situações informais em que a atmosfera é
relativamente relaxada entre as pessoas mais familiares. Uma mulher muito pequenina pode
ser chamada de sardinha10, enquanto uma mulher gorda costuma ser chamada de
almôndega.
1.3.1. Interesse sociocultural
Entre as alcunhas chinesas um exemplo muito comum é 狗子 (gǒuzi , 'cãozinho'),
cujo uso no Norte da China vem desde os tempos antigos. A mais famosa é a história de 天
津狗不理包子 (Tiānjīn gǒubùlǐ bāozi , 'Pãozinho Goubuli de Tianjin').
A marca de 狗不理 (gǒubùlǐ, 'cãozinho ignora pães') foi fundada em 1858. Na Era de
Xianfeng da dinastia Qing, havia um jovem chamado Gao Guiyou que vivia na aldeia de Yang,
condado de Wuqing, província de Hebei. Como o seu pai só teve o filho quando tinha
quarenta anos, aspirando à sua segurança escolheu-lhe a alcunha de 狗 子 (gǒuzi,
'cãozinho'). Ele desejava que o filho pudesse viver facilmente como um cãozinho (de acordo
com os costumes do Norte da China, esse nome está carregado de afeto simples e
carinhoso).
Aos catorze anos, o 狗子 (gǒuzi, 'cãozinho') foi para Tianjin aprender diversas técnicas
de fazer pãezinhos. E assim se tornou um empregado do restaurante Liu, especializado em
comida a vapor, que ficava ao lado do Canal Sul de Tianjin. Gao Guiyou era um estudande
engenhoso, diligente e agencioso a fazer os pãezinhos; as suas habilidades a fazê-los
cresciam sob a orientação cuidadosa dos professores. Praticando diariamente, o jovem
tornou-se rapidamente famoso pelas suas habilidades. Depois de três anos de estudo, Gao
Guiyou já dominava várias técnicas de fazer pãezinhos, pelo que se tornou independente,
abrindo um restaurante especializado, intitulado 德聚号 (déjùhào, 'marca de excelência').
10. De acordo com o provérbio conhecido em Portugal “A mulher e a sardinha, quanto maior, mais daninha”.
13
Gao Guiyou tinha boas técnicas, fazia as coisas a sério, nunca adulterando as receitas
aprendidas com o seu mestre. Além disso, os pãezinhos tinham uma textura macia e um
sabor delicioso e um aspeto não gorduroso, com forma de crisântemo, sendo distintos na cor,
no aroma, no sabor e na aparência. Deste modo, várias pessoas de lugares distantes foram
atraídas a provar e comprar os seus pãezinhos, pelo que o negócio tornou-se florescente
rapidamente, e logo depois a fama bateu-lhe à porta. Os clientes eram cada vez mais, e Gao
Guiyou andava tão atarefado que não tinha oportunidade para falar com eles, por isso estes
diziam num tom humorístico que “o cãozinho vende pãezinhos e ignora as pessoas”. Com o
passar do tempo, as pessoas já estavam acostumadas a esta brincadeira, chamando-lhe 狗
不理 (gǒubùlǐ, 'cãozinho ignora pães'), e passando a chamar ao seu restaurante 狗不理
包子铺 (gǒubùlǐ bāozipù, 'Restaurante de Pãezinhos do Goubuli'). O nome original do
restaurante foi gradualmente esquecido, os pãezinhos do Goubuli tornaram-se um dos pratos
típicos e mais famosos de Tianjin e, inclusivamente, já têm um nome em inglês: Go Believe.
A razão pela qual o protagonista viveu tão bem foi porque algumas pessoas também
contribuíram com uma parte dos méritos para uma boa alcunha simbólica. Cães, tigres,
galinhas e outros animais domésticos podem afugentar os maus espíritos, no pensamento
dos chineses, portanto, são sempre denominados por esses nomes, pois se acredita que a
pessoa ganha a capacidade correspondente aos conceitos dos nomes que se lhe atribuem.
Por outras palavras, a origem inicial da alcunha é proteger as crianças dos espíritos, para
que estas cresçam com mais saúde e com muitos exemplos positivos. São cada vez mais as
pessoas que acreditam e usam estas alcunhas.
No que respeita à alcunha portuguesa, também é de fácil visualização que está
intimamente relacionada com a cultura social, mas não da mesma forma, na verdade, o uso
de elogio em português é raro e muitos são depreciativos e críticos.
É facilmente constatável que o processo sociológico das alcunhas aparece tradicionalmenteligado à ruralidade. Sendo as alcunhas, neste meio, uma das formas de designação ereferência por etiquetagem dos membros de uma comunidade, elas funcion(av)am sobretudoem espaços geográfica e demograficamente não muito vastos de modo a permitirem apossibilidade do interconhecimento total na comunidade (Teixeira, 2007: 207).
Pode ser impiedosa, mas é frequentemente bem humorada a forma da alcunha. O
usuário é como um romancista realista talentoso, porque evita a ação da força, apenas
usando um “palavrão” que traz um golpe mental inestimável para o objeto.
Além disso, os portugueses são particularmente eminentes em utilizar metáforas ou
14
metonímias para associar subtilmente nomes a alcunhas.
Baleia - Gorda Rato - Muito activo Burro - Estúpido, teimoso Porca - Pouco asseada Pisco - Pequeno Batata - Nariz grande Tomate - Corado/a em excesso Cenoura - Cabelo ruivo
(Teixeira, 2007: 215)
De acordo com a observação, existem dois métodos principais para a atribuição de
alcunhas de base metonímica, sendo umas físicas e outras comportamentais. Assim, a
alcunha “Baleia” é baseada no estado do corpo e “Burro” tem a ver com a atitude diária
abaixo das expetativas, ou pouco regular.
Comparada com o nome original, a alcunha é sempre imposta pela comunidade ao
indivíduo e tem um significado muito fácil e transparente, com a finalidade de revelar um
pormenor relevante daquele que a possui.
Observem-se abaixo algumas alcunhas do Tratado das Alcunhas Alentejanas (Ramos, 2002):
Para as pessoas altas Para as pessoas baixas
Arranha-céu Amostra grátis
Bambu Anão
Tabela de basquetebol Cavaquinho
Desengonçada Mascote
Gigante Microscópico
Monstro Pipoca
Montanha Pixel
NBA Pouca sombra
Perna Longa Reduzido
Pilar Salva Vidas de Aquário
Tabela 1 Alcunhas para pessoas altas ou baixinhas
No total, contém 10 alcunhas para designar pessoas altas e baixas. Algumas são mais
15
simpáticas e graciosas, outras mais ofensivas, mas cada uma tem uma relação com o
respetivo interesse sociocultural. Por exemplo, é óbvio que as pessoas que jogam bem
basquetebol e podem jogar na NBA são as mais altas, enquanto que o mosquito, sendo um
inseto, é muito pequeno.
1.3.2. Interesse linguístico
A alcunha, como um derivativo da conotação cultural e tradicional, é difundida
amplamente por causa da sua vivacidade, novidade e fácil lembrança. Às vezes revela
proximidade, como a usada entre amigos para demonstrar uma amizade mais profunda, e às
vezes poderá até conter uma anedota ou história. Os fãs chineses são definitivamente
criativos quando se trata de alcunhar as suas celebridades favoritas, e isso pode ser um sinal
de afeição para com os seus ídolos.
No caso de Timothée Chalamet, ator bem-conhecido pelo filme Call Me by Your Name
(em português: Chama-me pelo teu nome), a sua alcunha é 甜茶 (tiánchá, 'chá doce'),
porque Tim Cha soa como Tian Cha, que significa literalmente 'chá doce'. Já no caso da
cantora americana Lady Gaga, famosa internacionalmente, com muitas músicas populares,
uma das suas alcunhas é 鸭妹 (yāmèi, 'irmã do pato'), porque gaga na China é 'o som que
faz o pato'. As alcunhas não são apenas para o auto-entretenimento dos fãs chineses, pois
algumas já têm a aceitação dos próprios ídolos.
Nome Alcunha
John Oliver 囧橄榄 jiǒnggǎnlǎn , 'azeitona'
Jon Stewart 囧叔 jiǒngshū, 'tio vergonhoso'
Joss Whedon 尾灯 wěidēng, 'lanterna traseira'
Jude Law 裘花 qiúhuā, 'flor'
Justin Timberlake 贾老板 jiǎlǎobǎn, 'patrão Jia'
Katy Perry 水果姐 shuǐguǒjiě , 'irmã de fruto'
Kendrick Lamar 喇嘛 lǎma , 'lama'
Léa Seydoux 蕾老师 lěilǎoshī, 'professora Lei'
Tabela 2 Nomes e Alcunhas dos Ídolos Estrangeiros(知乎 zhīhū11, 2018)
11 Um dos média Q & A mais populares na China.
16
Em Portugal, alcunhas carinhosas são muito usadas na atividades comunicativas,
normalmente por familiares e amigos, significando que o relacionamento é mais íntimo, que
a distância é pequena e existe amor, tal como o uso de fofinho, (a)mor, cuchi-cuchi, entre os
casais. Um recurso comum para a criação de alcunhas em português é a aplicação de
sufixos diminutivos ou aumentativos. Na gramática da língua portuguesa os diminutivos
usam-se no processo de derivação, que permite modificar os substantivos ou adjetivos a fim
de exprimir diminuição ou aumento, depreciação ou valorização. Quando se emprega este
procedimento gramatical a uma alcunha esta tem o nome de hipocorístico.
O substantivo hipocorístico tem origem no grego ὑποκοριστικός, que
significa 'chamar com voz suave', sendo um tratamento derivado de um nome próprio. Há
cinco formas principais de hipocorísticos no sistema de nomenclatura portuguesa. Os
exemplos são escolhidos do livro 1001 nomes de bebés (Barradas, 2016: 15).
Diminutivo do nome verdadeiro: Rosa - Rosinha Tatiana - Tatianinha Teresa – TeresinhaAumentativo do nome verdadeiro: Paulo – Paulão Lobo - Lobaz, LobãoForma reduzida do nome verdadeiro: António - Tó, Totó Mariana - Mari Isabel/Isabela - Isa, BelaVariante do nome verdadeiro: Francisco - Chico Diego – YagoRepetição ou duplicação de sílabas: Eduardo – Dudu Nilo – Nini
Como o hipocorístico é formado por alterações na própria palavra de origem,
geralmente os nomes de género diferente só têm variação de género.
Heleno/Helena - Leno/Lena Francisco/Francisca - Chico/Chica
Às vezes, nomes de géneros diferentes têm hipocorísticos completamente diferentes:
Vitor - Vitinho e Vic Vitória - Vivi, Vicky
Também existe a possibilidade de dois nomes de géneros diferentes possuírem o mesmo
hipocorístico:
Daniel/Daniela - Dani Alexandre/Alexandra - Ale/Alex
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Além disso, o mesmo nome tem hipocorísticos distintos em países diferentes. Por
exemplo, Daniel — Dangel em alemão, Dani em espanhol e português e Dano ou Danós em
húngaro (Carvalho, 2016: 73).
18
Capítulo 2
Antroponímia e mudança histórica
19
2.1. Em Portugal
Tendo em consideração a riqueza da evidência histórica, a abundância de documentos
publicados, a quantidade e a variedade da antroponímia, dividiu-se em 4 etapas
representativas: da pré-história à fixação do território, da expansão e dos descobrimentos, da
monarquia dual/domínio filipino ao iluminismo e do decadentismo, modernização e
contemporaneidade.
2.1.1. Fixação do território (até ao século XIV)
No III milénio a.C., a maré de migração começou a desenvolver-se, muitos povos
indo-europeus, celtas chegaram à Europa Central e invadiram o território português. Devido à
invasão de novas raças, várias civilizações começaram a misturar-se, formando alguns
grupos étnicos, com numerosas tribos, entre os quais avultam os galaicos, que criaram a
cultura castreja a norte, os lusitanos no centro, os célticos no Alentejo, e os cónios no
extremo sul de Portugal (regiões do Algarve e Alentejo). Estes povos, de origem mista, viviam
geralmente no alto dos montes, em povoações rodeadas de muralhas (Castro, 2006: 47).
Ano após ano, os romanos, que eram um povo forte, muito desenvolvido e com um
exército muito bem organizado, conquistaram pela força das armas as terras à volta do mar
Mediterrâneo. Os soldados venciam com facilidade a maior parte dos seus adversários.
No ano 218 a.C., durante a Segunda Guerra Púnica contra Cartago, o plano dos
romanos era invadir a Península Ibérica, mais concretamente o território de Portugal atual. E
no século I a.C. foi formada a província da Lusitânia, que correspondia à maior parte de
Portugal atual. Os romanos venceram os cartagineses12, mas, terminadas as guerras, em vez
de se irem embora, resolveram instalar-se e dominar todas as tribos da Península (Mommsen,
1854 - 1855: 1934).
No processo de assimilação cultural, os lusitanos não ficaram parados como outras
tribos, mas lutaram bravamente pelas suas crenças e persistência em manter a sua própria
cultura. Comandados por Viriato13, mantinham-se vigilantes nas montanhas, sem se deixar
impressionar pela grandiosidade e organização do exército romano. Mesmo com armas mais
frágeis, os lusitanos não deixavam de atacar em força: desciam dos montes, de vez em
quando, e travavam batalhas violentas com os romanos. Morria sempre muita gente. Nestas
12 Cartagineses: um povo de comerciantes do Norte de África que tinha fundado algumas cidades na Península Ibérica.13 Viriato (181 a.C. – 139 a.C., Lusitânia) foi um dos líderes da tribo lusitana que confrontou os romanos na PenínsulaIbérica.
20
batalhas, os romanos nunca conseguiam vencer os lusitanos. No entanto, uma coisa é
incontestável: os romanos influenciaram os povos que conquistaram em várias áreas, e os
lusitanos não são exceção. Por exemplo: os costumes, as leis, a arte, a moeda, a rede viária,
o direito de cidadania e o mais importante: a língua (o latim) (Martins, 1998: 105-121).
Nos anos 407-409 d.C., com o declínio do Império Romano, chegam em massa os
invasores germânicos, a que os romanos chamavam bárbaros. Os romanos usavam a palavra
“bárbaro” para todos aqueles que habitavam fora das fronteiras do império e que não
falavam a sua língua oficial: o latim (Castro, 2006: 53).
No processo de agressões, os vândalos foram para o Sul, os suevos para Noroeste e os
alanos para nordeste. Algumas pessoas encaravam os povos germânicos como libertadores
do confrangimento romano, outras como invasores. As influências imediatas das invasões
foram a confusão e a desmoralização. Vieram depois a rapina feroz e as emigrações
massiças. Perde-se assim o equilíbrio imperial (Bustamante, 2006: 136).
Em 711, um exército formado principalmente por soldados berberes e árabes atravessou
o estreito de Gibraltar e começou a conquista da Península de sul para norte. A velocidade de
conquista foi muito rápida, e o seu efeito, duradouro. Após cinco anos, chegaram ao centro
da atual Espanha e expandiram as campanhas militares no que viria a ser Portugal, mais
precisamente em cidades como Beja, Évora, Coimbra e Santarém. Mas a dominação não teve
a mesma duração, nem as mesmas repercussões, em todas as zonas. Foi fraca nas Beiras, a
norte do rio Douro, principalmente na região onde viria a se constituir o Condado
Portucalense. Também não provocou nenhuma mudança importante, embora aí se tenham
fixado, em maior ou menor número, tribos muçulmanos, sobretudo, as de origem berbere.
Isso dá aos outros invasores uma nova oportunidade. Em 754, o pequeno reino cristão das
Astúrias conseguiu expulsar definitivamente os muçulmanos para o sul do Douro. De fato, foi
no sul de Portugal que o Islã deixou marcas profundas, comparáveis à contribuição da
presença romana na estrutura do que, mais tarde, seria a civilização portuguesa.
No entanto, deve notar-se que a ocupação árabe teve efeitos diferentes em vários
lugares de Portugal durante este período. Os árabes não chegaram à região norte, que esteve
sempre sob o domínio cristão. A influência foi mínima a norte do Douro e na área interior do
território português atual. Sentiu-se mais na Estremadura e Beira Litoral, e o máximo nas
províncias do sul, sobretudo na Algarve. Habitavam todo o sul e centro de Portugal atual, até
à região do Mondego ou porventura do Douro, e no norte existiam só estabelecimentos
21
ocasionais (Castro, 1990: 165)
Pode-se afirmar que a presença do colono muçulmano não foi igual. A norte do Douro a
autoridade muçulmana desapareceu nos fins do século VII, depois de cinquenta anos de
domínio irrequieto e incompleto.
Alguns anos mais tarde, em 1096, o rei Afonso VI de Leão e Castela entregou o governo
do Condado Portucalense, formado em 868 entre os rios Minho e Douro, a um primo de
Raimundo, o conde Henrique de Borgonha, juntamente com a sua filha Teresa de Leão,
passando Henrique a ser conde de Portucale. Em 1139, depois de uma grande vitória contra
um forte contingente mouro na batalha de Ourique, D. Afonso Henriques foi afirmado como
rei de Portugal, com o apoio das suas forças militares, e deste modo nascia o Reino de
Portugal. Em 1297, o rei D. Dinis finalmente garantiu a estabilidade com os reinos de Leão e
de Castela e publicou o Tratado de Alcanizes, a fim de fixar os limites fronteiriços. E
acompanhando a reconquista, reconheceu o português como língua oficial em Portugal, e na
documentação pública, em vez do latim (Castro, 2006: 73).
Em suma, através da observação do desenvolvimento da história portuguesa, as terras
foram conquistadas sucessivamente pelos povos celtas, iberos, romanos e árabes. É por
causa da sua presença que existem muitas evidências arqueológicas relacionadas. Deles
restam também termos linguísticos que se mantêm vivos no português dos nossos dias. Ao
mesmo tempo, com base em materiais sobre antroponímia portuguesa, podemos analisar a
situação linguística num específico período histórico, não só no âmbito da escrita, mas
também da fonética. Os testemunhos antroponímicos são importantes para a análise da
qualquer língua, permitindo análises regionais ou locais. As variantes do vocabulário da
antroponímia proporcionam-nos referências fonéticas, lexicais, gráficas, gramaticais e
culturais a respeito dos desenvolvimentos linguísticos, permitindo um melhor conhecimento
da história da língua portuguesa.
A língua portuguesa tem a sua origem na língua latina. Até à atualidade, em
consequência das alterações linguísticas, ocorreram várias mudanças fonéticas, fonológicas e
morfossintáticas, todavia, também continuam a utilizar-se vocábulos cultos na antroponímia.
A seguir apresentam-se alguns exemplos típicos retirados do livro Nomes próprios (Belo,
1995), acompanhados da sua etimologia, referência histórica mais evidente e da indicação de
personagens que os usaram, incluindo papas e santos.
22
Augusto
Vem do latim AUGUSTUS, que significa 'majestoso, venerável, consagrado'. Os Imperadores deRoma que usaram este nome (depois de Otávio) eram considerados iguais aos deuses. Forammuitos os missionários e santos com este nome. Lembremos Santo Agostinho de Cantuária,que baptizou dez mil ingleses de uma assentada.
César
Do latim CAESAR, nome de importante família romana (GENS JULIA). Todos sabem quem foi JúlioCésar, que pretendia descender de Vénus. Foi um político extraordinário, cuja eloquênciaempolgava as multidões, era um ídolo para as tropas que comandava, empreendeu numerosascampanhas e saiu vitorioso de quase todas. Os imperadores romanos usaram a partir de entãoo título de César.
Vicente
Vem do latim VINCENS ('vencedor'). São Vicente, diácono espanhol, morreu em Valência (séc. IV)depois de torturado. É o padroeiro dos vinhateiros. Entre os numerosos santos com este nomedestacam-se São Vicente de Paula, eclesiástico que se dedicou aos pobres e fundou a Ordemdas Irmãs da Caridade. Dele derivaram Vicentino e as formas femininas Vicentina e Vicência.
Se é verdade que os romanos estabeleceram uma base sólida para a formação inicial
da língua portuguesa, também há que reconhecer que os germanos e árabes tiveram um
papel imensurável no seu desenvolvimento. Pode-se dizer que os efeitos deles se
manifestaram nos vários aspetos da vida quotidiana, especialmente nos substantivos para
designar vegetais e produtos hortícolas. Existem também muitas palavras que têm relação
com a economia, a tecnologia, o mobiliário e instrumentos diversos. Esse léxico geralmente
foi adotado para descrever uma realidade nova e essa descrição sempre resulta em
renovação na área da linguística. Sendo assim, as modas e as coisas foram mudando e
novos nomes mais modernos foram aparecendo.
São exemplo de nomes germânicos, de entre os mais usados em Portugal já no século
XVIII, Henrique e Carlos (Barros, 2018: 403-410):
Henrique
Tem origem no nome germânico HAIMIRICH, composto pela união dos elementos HEIM, quesignifica 'lar', 'casa', e RIK, que quer dizer 'senhor', 'príncipe', 'poder'. Dessa junção, resulta osignificado 'senhor do lar', 'príncipe do lar' ou 'governante da casa' (Dicionário de nomespróprios-lista de nomes germânicos masculinos, rank 3).
Carlos
Tem origem no germânico KARL, a partir dos termos KARAL, KERL, que significa literalmente'homem do povo'. Há estudiosos da onomástica que apontam também a relação do nomeCarlos com o termo germânico hari, e nesse caso o significado seria 'exército' ou 'guerreiro'(Dicionário de nomes próprios-lista de nomes germânicos masculinos, rank 6).
23
Exemplo de nomes árabes, colhidos no Índice de nomes próprios gregos e latinos
(1995), são Ademir e Fátima:
Ademir
Significa 'feito de ferro' ou possivelmente 'estrangeiro'. Existem duas possíveis origens para onome Ademir, ambas do árabe: - Ademir pode significar 'de ferro', se for originado no nomeAD-DEMIRI, uma cidade egípcia; outra possível origem é o nome ADJEMIR, uma cidade santa doIndostão. Nesse caso o significado seria 'estrangeiro' (Dicionário de nomes próprios - lista denomes árabes masculinos mais vistos, rank 3).
Fátima
Vem do árabe FATIMA e significa 'aquela que desmama (uma criança)'. Assim se chamavam aesposa do profeta Maomé e a esposa de Ali, o quarto dos califas. A devoção a Nossa Senhorade Fátima pôs em uso este nome (Dicionário de nomes próprios - lista de nomes árabesfemininos mais vistos, rank 1).
Figura 3 Dicionário dos sobrenomes, e appellidos mais uzados, e communs em Portugal
Além do latim e do árabe, a religião teve também grande influência na antroponímia
portuguesa deste período. No século II e III, os templos e as aras aparecem como um dos
efeitos mais significativos do processo de romanização (Castro, 2006: 60). Com eles
mudaram-se substancialmente os aspetos concretos das práticas religiosas ao nível do
processo de aculturação entre romanos e indígenas. À medida que a romanização se
processava, verificaram-se diversas demonstrações de sincretismo entre as divindades
existentes. Com efeito, no Império Romano, que tinha como “plano de fundo” a religiosidade
24
proto-romana, a partir do século II começaram a instalar-se os deuses romanos
paralelamente aos cultos indígenas na Península, o que poderá ter-se iniciado já na época
pré-romana, por influência dos contactos com os Fenícios, Gregos e Cartaginenses, que
teriam introduzido os seus substitutos.
O cristianismo, quando penetrou na Península Ibérica, através dos canais do Império
Romano, foi encontrar um “fundo religioso” multissecular constituído por uma multiplicidade
de deuses e cultos. E os cristãos celebram as etapas mais importantes da vida com
determinados costumes e rituais que, nalguns casos, foram sendo transmitidos ao longo dos
séculos (Castro, 2006: 60). Estes acreditam que Deus os acompanha desde o nascimento até
à morte, motivo pelo qual muitos pais batizam os seus filhos pouco tempo depois de
nascerem. Em todas as confissões cristãs, seguindo o exemplo de João Baptista, é
derramada água sobre a cabeça do batizando, ou este é imerso em água. Ao mesmo tempo,
a palavra batismo também está relacionada com o ato de dar um nome a alguém. Dizem que
os nomes de batismo são apenas usados por pessoas dessa religião e costumam ser os
mesmos dados pelos pais no nascimento. Quando os pais católicos selecionam um nome
para os seus filhos, consideram que também selecionam um nome de batismo. E não é
incomum serem nomes de santos.
Assim, podemos afirmar que as características essenciais do cristianismo têm uma
relação muito próxima com a antroponímia portuguesa, e uma evidência disso são os nomes
de batismo originários da Bíblia (Gonçalves, 2013: 230). Vejam-se alguns exemplos:
Maria
Tem origem no hebraico MYRIAM, que significa 'senhora soberana' ou 'a vidente'. É um dosnomes mais comuns do mundo há séculos, e pode ser visto também como segundo nome eaté em conjugação com nomes masculinos, como João Maria ou José Maria. Por ser utilizadopor muitas culturas, o nome tem um vasto leque de interpretações. A versão mais utilizada é aadvinda do hebraico MARAH, que quer dizer 'aquele que é insistente' ou 'sabor amargo'. Asegunda interpretação mais difundida é a do egípcio MRYM, que significa 'amada de Amón', ouseja, 'amada por Deus', explicação que foi tomada de empréstimo pela Igreja Católica séculosmais tarde (Dicionário de nomes bíblicos-Dicionário online de português).
João
Tem origem no hebraico YEHOKHANAN, IOHANAN, composto pela junção dos elementos YAH, quequer dizer 'Javé, Jeová, Deus', e HANNAH, que quer dizer 'graça'. Significa 'Deus é gracioso,agraciado por Deus, a graça e misericórdia de Deus, Deus perdoa'. Este nome deve a suapopularidade a dois personagens do Novo Testamento, ambos santos muito reverenciados. Oprimeiro foi João, o Batista, um eremita judeu considerado o antecessor de Jesus Cristo. Osegundo foi São João Evangelista, um dos doze apóstolos de Cristo, autor do EvangelhoSegundo João e do livro da revelação apocalíptica (Dicionário de nomes bíblicos-Dicionário
25
online de português).
2.1.2. Expansão e Descobrimentos (séculos XV-XVI)
Para o homem dos séculos XV-XVI, o mundo exterior revelava-se em superfície, hoje,
porém, ele é estudado com minúcia e em profundidade. A expansão e os descobrimentos
foram realizados graças à curiosidade dos povos, ávidos de novo saber, acabando por
generalizar-se a emoção que de tal resultava, a cada passo reconhecida como superior ao
que as fábulas antigas tinham engrandecido e celebrado.
No início da expansão portuguesa, os portugueses quiseram conquistar Ceuta, cidade
muçulmana do Norte de África. Tratava-se de um entreposto comercial para os que traziam o
ouro da zona a Sul do deserto do Sara, ocupava uma posição estratégica e localizava-se
numa zona de solos muitos férteis. No entanto, os resultados esperados não foram os
melhores, Ceuta, uma cidade rica, passou a uma cidade pobre, pois os Árabes desviaram as
rotas comerciais para a Itália. Enfrentando tal situação, os portugueses decidiram seguir um
outro caminho: o das viagens marítimas, com o objetivo de atingir diretamente as zonas
produtoras de ouro. Assim aconteceram a descoberta da Madeira e dos Açores, a exploração
da costa africana, a chegada à Índia e a descoberta do Brasil (Cortesão, 1993: 219). Nesse
processo, várias culturas se fundiram.
O estudo da antroponímia em Portugal dos séculos XV-XVI inicia-se no período da
história da língua portuguesa conhecido como português médio. Trata-se do período de
transição entre o português antigo e o português clássico. O período do português médio
caracteriza-se por importantes mudanças linguísticas, enquanto o período do português
clássico se caracteriza pelo esforço de uniformização e consolidação (Castro, 1990: 11).
A língua portuguesa deste período prestava-se a diversos fins: não só era veículo de
expressão lírico-literária, em poesia, mas também, em forma de prosa, aparecia em
documentos, de preferência cartulários, bem como na antroponímia (Castro, 2006: 74). A
característica mais típica é que os neologismos latinos se incorporavam à língua,
conservando a ortografia original, com pequena adaptação à fonética portuguesa. Pode-se
dizer que o período quatrocentista e quinhentista se incluía no período fonético da ortografia,
porquanto a escrita procurava espelhar a pronúncia.
Quanto às vogais, havia no galego-português grande abundância de hiatos, resultantes
da queda de consoantes intervocálicas nas palavras latinas (Maia, 1986: 179), por exemplo,
maa (> má), paaço (> paço), caaveira (> caveira), seer (> ser), meestre (> mestre). Estes
26
hiatos, que mantinham as duas sílabas dos étimos, foram desaparecendo progressivamente
na pronúncia, porém a grafia conservou-os por longo tempo.
As vogais orais simples mudaram-se ao longo da história do português. Assim,
encontramos, por exemplo, <a> em lugar de <e> ou <e> por <a>, ora por assimilação
(Piedade > Piadade) ora por dissimilação (Manhã > Menhã, Razão > Rezão, Catarina >
Caterina).
Tratando-se de consoantes, há um fenómeno fonético e fonológico que influi
diretamente na ortografia das palavras. Entre as consoantes sibilantes havia distinção na
pronúncia de “s” intervocálico e <z>, <ss> e <ç>, <ch> e <x> (Martins, 1999: 491-534).
Se atentarmos em variantes como Andresa/Andreza; Lusia/Luzia; Cesar/Cezar;
Ambrosio/Ambrozio; Cardoso/Cardozo, concluímos que diferem no que respeita aos
grafemas <z> e <s>, representando sons sibilantes predorsodentais e ápico-alveolares
sonoros.
Quanto a Gomçalo/Gomcalo/Gomsalo; Lourenço/Lourenco/Louremso;
Colaço/Colaco/Colaso, revelam oscilação gráfica na representação das sibilantes
predorsodentais e ápico-alveolares surdas.
Existe ainda alternância entre as grafias <s> e <ss> em contexto intervocálico:
Pesador/Pessador; Matoso/Matosso.
A alternância da terminação de nomes como Adriam/Adrião; Armam/Armão;
Simom/Simam/Simão ficou a dever-se à uniformização das terminações nasais das formas
nominais do singular, já concluída no português clássico, embora tenham perdurado as
representações gráficas distintas por mais algum tempo.
Em nomes como Ayres/Ayrres; Baros/Barros; Ferador/Ferrador, a oscilação gráfica
entre <r> e <rr> poderá ou não evidenciar variação fonética, sobretudo em contexto
intervocálico.
Os nomes Eanes/Ianes e Moniz/Muniz diferem nas grafias <i> e <e>, <o> e <u> devido
à proximidade acústica e articulatória das vogais (Martins, 1999: 491-534).
2.1.3. Da monarquia dual/domínio filipino ao iluminismo (séculos XVII-XVIII)
Em 1580, com a morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, Portugal
enfrenta uma crise dinástica cuja análise se mostrou complexa. Nessa altura, havia três
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candidatos ao trono de Portugal: Dona Catarina14, D. António15 e D. Filipe II de Espanha.
Com o apoio da nobreza e os setores ligados ao comércio e ao artesanato, D. Filipe II de
Espanha acabou por ser reconhecido como rei de Portugal, tornando-se Filipe I de Portugal
em 1583. Durante o seu mandato, fez algumas promessas importantes aos portugueses,
sendo as principais a manutenção dos dois reinos (Espanha e Portugal) e a ocupação dos
cargos administrativos em Portugal e no Império português somente por portugueses. Uma
promessa que teve um impacto profundo na área cultural é que o português se manteria
como a língua oficial, pois garantiu a sustentabilidade do desenvolvimento da língua
portuguesa (Silva, 2000: 124).
Mas os bons tempos não foram longos, pois em 1598 D. Filipe I faleceu. Os sucessores
D. Filipe II e D. Filipe III não respeitaram as promessas feitas aos portugueses, forçando-os a
integrar o exército espanhol e a combater por toda a Europa (Silva, 2000: 21). Devido a essa
mistura forçada, o campo da língua, e consequentemente o campo da antroponímia,
passaram por grandes mudanças. Por exemplo: em Rui/Ruy/Ruj, a vogal <i> vê-se
representada através das grafias <y> e <j>. Em Gorge/Jorge; Joam/Yoam, a consoante
fricativa palatal sonora surge representada pelos grafemas <g>, <j> ou <y>. Em
Marqez/Marquez; Arcas/Archas, a consoante oclusiva velar surda é representada pelos
grafemas <q>e <qu>, <c> e <ch>. Essa alternância entre grafias pode explicar-se por
influência de formas castelhanas.
Por incompetência dos reis espanhóis, Portugal sofreu muitos ataques militares e
perdeu muitas cidades, fortalezas e terras no Brasil, África e Ásia. Ao mesmo tempo, o povo
português ficou muito descontente com a Monarquia Dual, tendo começado a Revolução que
ficou conhecida como “Restauração”. Depois, Portugal entrou na Era pombalina e no
absolutismo (Santos, 1982: 122), um período marcado por reformas:
As reformas religiosas tiveram influência cultural na composição do nome. O
primeiro-ministro expulsou os jesuítas da metrópole e das colónias, confiscando os seus bens,
alegando que a Companhia de Jesus agia como um poder autónomo dentro do Estado
português, e diminuiu o poder da igreja, subordinando a Inquisição ao Estado.
A reforma na educação influenciou a herança e disseminação do nome. Foram
destruídos e proibidos livros de autores que eram tidos como “corruptores da Religião e da
Moral” e de conteúdo “ofensivo da paz e sossego público”; introduziram-se importantes
14 Duquesa de Bragança, familiar de D. Sebastião.15 Prior do Crato, membro da família real.
28
mudanças no sistema de ensino superior, passando-o ao controlo do Estado.
As reformas no aparelho de Estado influenciaram os regulamentos específicos de
atribuição do nome. Introduziram-se importantes mudanças através da criação das primeiras
compilações de direito civil, que substituíram assim o direito canónico; através da introdução
da censura de livros e publicações de caráter político.
Essas reformas afetaram o comércio francês e inglês, contribuindo para devolver a
Lisboa a sua grandiosidade como entreposto atlântico. Tais trocas económicas também
contribuíram para a diversificação dos fatores de composição do nome português. Atentemos
em alguns exemplos típicos:
Adílson
Por influência do inglês, e uma vez que SON quer dizer 'filho', o nome significa 'filho de Adiel',ou 'filho de Adil'. Adiel é um nome de origem hebraica que une as palavras ADI (ornamento) eEL (Deus), e significa 'ornamento de Deus' (Vasconcelos, 1928).
Nicole
Significa 'a que vence com o povo' ou 'a que conduz o povo à vitória'. Nicole surgiu a partir dofrancês NICOLE, que é a variante feminina de Nicolau, nome de origem grega. Nicolau surge dogrego NIK LAOS. Seu significado decorre da junção dos elementos níke, que significa 'vitória', elaos, que quer dizer 'povo' (Dicionário de nomes próprios - lista de nomes franceses femininosmais vistos, rank 4).
2.1.4. Decadentismo, modernização e contemporaneidade (séculos XVIII-XX)
A força de Portugal diminuiu à medida que os outros países europeus conquistavam
sucessivamente a hegemonia marítima. No século XVII, um grande número de portugueses
imigrou para o Brasil, causando uma grave perda populacional.
Em 1 de novembro de 1755, um terramoto de magnitude 9 atingiu Lisboa. Os danos
causados pelo terramoto e o tsunami e fogo subsequentes destruíram toda a cidade. A
catástrofe teve consequências que a economia portuguesa não suportou. Em 1807, Napoleão
atacou Portugal, tendo ocupado Lisboa a 1 de dezembro do mesmo ano. Foi somente em
1812 que o reino se libertou do domínio francês. Em agosto de 1820, a revolução liberal
ocorreu em Portugal, e a primeira medida do novo governo foi convidar o rei D. João VI,
exilado no Brasil, a retornar a Portugal. Após uma série de lutas, a cerimónia de coroação
teve lugar a 1 de dezembro de 1822. Desta forma, Portugal foi ultrapassando gradualmente a
crise (Silva, 2006: 184-197).
29
Durante a segunda metade do século XIX, a criação de muitas indústrias, a evolução
dos meios de transporte e comunicação e o aumento da população contribuíram para o
crescimento das cidades. As principais cidades do país — Lisboa e Porto — foram as que
mais cresceram e se modernizaram. Naquele tempo, a burguesia era o grupo social mais
importante da cidade. Neste contexto histórico, a distribuição dos nomes mais comuns era
aproximadamente a seguinte:
Século XVII Século XVIII/XIX
Nome % Nome %
Manuel 14.1 Manuel 15.4
António 10.8 José 14.0
João 10.7 António 13.5
Francisco 4.8 João 11.0
Pedro 4.6 Francisco 4.1
Diogo 4.5 Luís 3.3
Luís 3.5 Joaquim 2.5
Simão 3.0 Diogo 2.3
Domingos 2.8 Domingos 2.3
Tabela 3 Nomes masculinos mais frequentes dos processados da Inquisição de Lisboa
Século XVII Século XVIII/XIX
Nome % Nome %
Maria 19.9 Maria 20.2
Isabel 12.6 Ana 9.3
Beatriz 7.6 Isabel 7.3
Catarina 7.4 Leonor 4.5
Ana 6.9 Catarina 4.0
Leonor 6.3 Beatriz 3.9
Joana 3.6 Joana 3.3
Branca 3.0 Antónia 3.1
Violante 2.7 Josefa 2.8
Tabela 4 Nomes femininos mais frequentes dos processados da Inquisição de Lisboa16
16 Foram utlizados para esta sondagem preliminar os ficheiros informáticos elaborados, no âmbito do projeto dirigido por
30
As tabelas mostram que, com poucas exceções, os nomes masculinos e femininos
escolhidos com maior frequência no século XVII continuavam a sê-lo nos dois séculos
seguintes. Entre os nomes masculinos, os de Simão e Gaspar desaparecem da lista dos dez
nomes mais frequentes depois do século XVII, sendo substituídos, respetivamente, por
Joaquim e José. Entre os nomes femininos, desaparecem depois do século XVII Branca,
Violante e Inês. Os nomes que os substituíram foram, nos séculos XVIII/XIX, Mariana, Josefa
e Antónia. Mas a grande maioria dos nomes próprios manteve a sua popularidade.
No dicionário manuscrito que compõe o códice 2126 dos Arquivos Nacionais-Torre do
Tombo, da Livraria, de 1769, editado por Anabela Barros (2018), foram incluídas pelo autor
anónimo listas dos nomes próprios mais comuns, entre os quais figuram ainda alguns que
tiveram bem pouca fortuna em épocas posteriores. Sendo listas por secções alfabéticas, não
é possível avaliar quais de entre eles seriam os mais privilegiados. Separados de acordo com
o sexo, surgem assim, no final da obra, o Dictionario. Dos nomes proprios de homens, mais
communs, e uzados em Portugal e o Dictionario. Dos nomes mais communs de molheres:
Robert Rowland no Instituto Gulbenkian de Ciência entre 1982 e 1987, a partir do catálogo oitocentista dos processos daInquisição de Lisboa do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Foram excluídos os nomes estrangeiros.
31
Adrião*Affonço*AgostinhoAlbertoAleixoAlexandreAmadorAmaroAmbrozioAnacletoAnastacioAndrèAngeloAnselmoAntamAntonioAttanazioBaltazarBartholomeoBazilioBentoBernardinoBernardo
BoaventuraBràsCaetanoCalisto*Candido*CarlosCazimiro*ClaudioClementeConstantinoCosmeCustodioDamazoDamiamDiogoDionizioDomingosDuarteEduardoEstacioEstevãoEugenioFeliciano
FelicioFelixFernandoFlorençio*FlorentinoFortunatoFranciscoHenriqueGabrielGasparGonçaloGregorioIgnacioJacintoJeronymoJoãoJoaquimJozèJuliãoJulioLazaro*Leandro*Leonardo
LourençoLucasLuizMamedeManoelMarçalMarcelo*MarcosMattheusMatthiasMauricioMiguelNarcizoNunoPantalião*PascoalPaulino*PauloPedroPlacidoPolicarpo*QuintinoRafael
Raimundo*RobertoRoqueSantosSebastiãoSemeãoSimãoTeodoroTeodozioTeotonioThomàzThomèTristãoValentimValerioVenancio*Verissimo*ViçenteVictorino
32
Adriana*AguedaAldonça*AnastaciaAndrezaAngelaAngelicaAnnaAntoniaArcangelaAugostinhaAurelia*BaptistaBàrbaraBentaBernardaBernardinaBraziaBrizida*CaetanaCatharinaCazimira*Claudia
ClemenciaConstanciaDamianaDioniziaDomingasDorotheaEfigeniaElenaEngraciaEufraziaEugeniaFaustinaFeliciaFeliciannaFelizardaFilippaFlorenciaFranciscaGabrielaGerarda*Gervazia*Ge[r]trudesGregoria
Guimar*IgnaciaIgnez*Innocencia*IriaIzabelJacintaJeronymaJoannaJoaquinaJozefaJuliaJulianaJusta*Justina*LaureanaLeocadia*LeonardaLeonorLourençaLucreciaLuizaLuzia
MagdalenaManoela*MariaMartaMauriciaMeciaMicaelaMonicaNarcizaPascoaPaulaPaulinaPerpetuaPetronilhaPlacidaPoloniaQuiteriaRitaRofina*RozaRozaliaRozalinaSabina*
SebastianaSerafina*SimeanaSimoa*SuzanaTeotoniaTheodora*Theodozia*TherezaThomaziaTimòtea*UmbelinaUrsulaValeriaVicenciaVictoriaVictorina
Violante
Após o processo de modernização, Portugal entrou num novo capítulo, o da
Contemporaneidade. Em outubro de 1910, uma revolução derrubou a monarquia de Portugal
e estabeleceu a Primeira República. Depois, um golpe militar ocorreu, em maio de 1926, e
uma ditadura militar foi estabelecida. O Ministro das Finanças, Salazar, organizou a “Liga
Nacional” em 1931, e em 1933 uma nova constituição foi aprovada para estabelecer um
novo sistema nacional (Estado Novo), de natureza fascista, que é a “segunda república” na
história de Portugal. A revolução dos cravos aconteceu em 25 de abril de 1974 e o processo
de democratização começou (Pessoa, 2015: 283-285, 298-303).
A cultura dos nomes na nova era tornou-se cada vez mais abundante, tendo em
consideração fatores diferentes de nomenclatura. Por exemplo, a musicalidade ou som
agradável do nome, a estética visual ou gráfica do mesmo, o seu significado ou “poder
sugestivo”, o seu caráter internacional ou existência em várias línguas.
33
Anos 1950 Anos 1960
1 José 151.223 Maria 514.968 José 161.857 Maria 460.197
2 António 105.676 Ana 40.323 António 104.462 Ana 84.217
3 Manuel 83.427 Rosa 22.303 João 67.542 Rosa 26.1
4 João 52.717 Isabel 12.951 Manuel 66.127 Isabel 26.036
5 Carlos 39.98 Fernanda 7960 Carlos 58.701 Fernanda 22.543
6 Joaquim 36.244 Teresa 7610 Paulo 42.441 Teresa 15.464
7 Fernando 33.924 Margarida 6370 Fernando 39.118 Margarida 13.908
8 Francisco 22.027 Emília 5592 Luís 37.354 Emília 13.668
9 Luís 20.34 Deolinda 5409 Joaquim 34.325 Deolinda 13.515
10 Jorge 15.281 Filomena 4761 Jorge 28.438 Filomena 10.438
Anos 1970 Anos 1980
1 José 93.137 Maria 181.855 João 46.251 Ana 85.002
2 Paulo 68.512 Ana 88.828 Pedro 39.659 Maria 40.924
3 João 60.434 Rosa 49.969 Bruno 37.548 Joana 22.099
4 António 56.128 Isabel 49.416 Ricardo 35.951 Carla 21.521
5 Carlos 50.632 Fernanda 35.748 José 35.442 Sandra 20.378
6 Luís 48.475 Teresa 28.893 Luís 31.075 Andreia 19.865
7 Pedro 46.557 Margarida 28.434 Nuno 28.563 Susana 16.801
8 Nuno 43.371 Emília 22.769 Carlos 26.433 Tânia 16.673
9 Rui 42.33 Deolinda 21.4 Tiago 25.914 Patrícia 16.61
10 Jorge 28.649 Filomena 17.573 Rui 23.085 Cátia 16.55
Tabela 5 Nomes mais comuns no século XX17
No entanto, a identificação das pessoas nunca foi, no contexto português, durante o
período de decadentismo, modernização e contemporaneidade, função exclusiva dos nomes
próprios. Desde a Idade Média, os portugueses começaram a imitar a maneira romana que
usava a combinação de dois tipos de nomes: os nomes próprios e um ou mais sobrenomes.
Esses sobrenomes usados para acrescentar aos nomes próprios eram de vários tipos.
Podiam derivar: a) de alcunhas pessoais; b) de nomes próprios (normalmente, com um
prefixo ou sufixo a fim de significar 'filho de, alguém'; c) de toponímia; ou d) de trabalhos ou
cargos. Serviam, por um lado, para fazer uma distinção entre homónimos, por outro lado,
para garantir que esse indivíduo independente permaneça no interior da linhagem ou grupo
familiar. No início, pelo menos, podiam ser considerados como um complemento, de
natureza tendencialmente pessoal e intransmissível, ao nome próprio. Só mais tarde alguns
17 Fonte: IRN-instituto dos registos e do notariado.
34
começaram a funcionar como nomes de família, transmissíveis de geração em geração.
Marido Mulher Filho(s) Filha(s)
1 Afonso Fernandes — Nuno Fernandes —
2 Afonso Lourenço — — Domingas Lourenço
3 Afonso Marques — Miguel Marques
Lourenço Marques
—
4 Álvaro Afonso — — Isabel Gonçalves
5 Álvaro Esteves — — Catarina Dias
6 Álvaro Fernandes — Domingos Fernandes
João Fernandes
Leonor Fernandes
7 António Afonso — António Afonso
João Afonso
Maria Afonso
8 António Fernandes Maria Vasques — Isabel Vasques
9 António Machado — Afonso Montes Antónia Montes
Maria Beiça
10 António Martins — Vicente Martins Catarina Martins
11 Baltasar Luís — João Luís —
12 Baltasar Martins Vilão — — Elvíra Lopes
Tabela 6 Transmissão de nomes entre gerações18
2.2. Na China
A história da China é longa, densa e complicada. Trata-se de uma cultura milenar que já
vivenciou centenas de grandes acontecimentos. É preciso considerar as diferenças na
questão cultural, uma vez que a China é um país de enormes dimensões, onde estão
integrados diversos povos e civilizações. Já foram descobertas evidências de sinais de vida
há cerca de 250 000 anos e os primeiros registos históricos são muito antigos (Li, 2011: 13).
18 Fonte: Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, vol. 12 (1), 2008.
35
Isto tem-se verificado com muitos monumentos e vestígios encontrados nos últimos anos. Por
sua vez, tais restos mostraram a presença de túmulos de imperadores, palácios de
burocratas e coleções particulares da nobreza.
A antroponímia, como parte da dimensão cultural, tem sido um dos principais elos entre
a vida material e espiritual da nação chinesa e desempenha um papel extremamente
importante nos campos da política, cultura e atividades sociais. Os achados arqueológicos
provaram que os chineses começaram a viver nas suas próprias terras há mais de um milhão
de anos, mas a história dos 姓 (xìng, 'apelidos') começou mais tarde, apenas na sociedade
matriarcal (há cinco ou seis mil anos). Portanto, é necessário estudar o desenvolvimento e as
mudanças dos nomes chineses de acordo com limites de tempo específicos — dinastias —
que são um dos elementos mais importantes na estrutura histórica da China, tendo alargado
de maneira considerável a sua influência e poder.
2.2.1. Antes da reunificação da Dinastia Qin (anteriormente a III a.C.)
Antes da dinastia Qin, 姓 (xìng, 'apelido') e 氏 (shì, 'definições semelhantes ao
apelido em português'), eram separados e eram dois conceitos diferentes; 姓 era usado
para distinguir os antecessores e 氏 para indicar o nível hierárquico. Os nobres tinham o
direito de obter 氏, ao passo que os humildes só possuíam alcunhas (Li, 2011: 8-10).
Durante o reinado do Imperador Amarelo (2717 a.C.-2599 a.C.), 姓 (xìng, 'apelido')
nasce da sociedade matriarcal, e pode ser visto nas escrituras pictográficas que cada tribo
tem um antecessor feminino, e que o 姓 é o símbolo dessa tribo. Os oito 姓 antigos — 姬
19 (jī), 姚 (yáo), 妫 (guī), 姒 (sì), 姜 (jiāng), 嬴 (yíng), 姞 (jí), 妘 (yún) — todos têm
女 (nǚ, 'mulher') como radical. Mais tarde, entrou-se na sociedade patriarcal, mas o símbolo
da civilização tribal, 姓, ainda era preservado, tal como o exemplo de 姬 (jī) na tribo 黄
帝 (Huángdì, 'Imperador Amarelo'). Depois disso, 姓 continuou a evoluir durante os Três
Imperadores, os Cinco Imperadores e as Dinastias Xia, Shang e Zhou, tendo-se gradualmente
formado os xing mais comuns de hoje.
Na Dinastia Zhou, o 姓 (xìng, 'apelido') de 姬 (jī) do Imperador Amarelo foi dividido
19 姬 não tem significado concreto em chinês.
36
em 411 姓, incluindo 周 (zhōu), 吴 (wú), 郑 (zhèng), 王 (wáng), 鲁 (lǔ), 曹 (cáo),
魏 (wèi), etc., representando 82% de todos os 姓 (o número total é de 504).
O 姜 (jiāng) de 炎帝 (Yán Dì) é uma das origens importantes de 吕 (lǚ), 谢 (xiè),
齐(qí), 高 (gāo), 卢 (lú), 崔 (cuī) e assim por diante.
O 姚 (yáo) de 舜帝 (Shùn Dì) originou mais de 60 姓, como 陈 (chén), 王(wáng),
胡 (hú), 孙 (sūn), 虞 (yú), 田 (tián), 袁 (yuán), 车 (chē), 陆 (lù).
Os descendentes de Vulcano 祝融 (Zhù Róng) utilizaram sempre 己 (jǐ), 董 (dǒng),
彭 (péng), 禿 (tū), 妘 (yún), 曹 (cáo), 斟 (zhēn) e 芈 (mǐ).
Estes 姓 (xìng, 'apelido') derivados foram chamados 氏 (shì, 'definições semelhantes
ao apelido em português') no período pré-Qin (Liang, 2017: 42).
Como as tribos continuaram a desenvolver-se e perpetuar-se, a população de cada uma
delas foi crescendo, e algumas pessoas mudaram-se para outros lugares. A fim de distinguir
essas pessoas, surgiu o 氏 (shì, 'definições semelhantes ao apelido em português'). Mais
tarde, surgiram mais métodos para definir 氏.
Figura 4 Os estados vassalos no início do período das Primaveras e Outonos
37
Além de 氏 (shì, 'definições semelhantes ao apelido em português') ser nome do feudo
20 齐 (qí), 鲁 (lǔ), 晋 (jìn), 宋 (sòng), 郑(zhèng), 吴 (wú), 越 (yuè), 秦 (qín), 楚
(chǔ), 卫 (wèi), 韩 (hán), 赵 (zhào), 魏(wèi), 燕 (yàn), etc., ainda dá nome a cargos,
tais como 司徒 (sītú), 司马 (sīmǎ) e 司空 (sīkōng); nomes de profissões, tais como
陶 (táo, 'ceramista, oleiro'), 屠 (tú, 'carniceiro'); nomes de localização, tais como 西门
(xīmén), 东郭 (dōngguō), 邱 (qiū); posição da família, tais como 伯 (bó), 仲 (zhòng),
叔 (shū), 季 (jì), entre outros. 伯 (bó), 仲 (zhòng), 叔 (shū), 季 (jì) são os nomes
dados aos irmãos por ordem de idade, 伯 (bó) é o chefe ou irmão mais velho, 仲 (zhòng)
é o segundo irmão, 叔 (shū) é o terceiro e 季 (jì) é o mais novo (Liang, 2017: 33).
2.2.2. Da Dinastia Qin à Dinastia Tang
Durante muito tempo, o norte da China esteve dominado pelos bárbaros. O sul tinha
ficado bem dividido em diversas regiões. Um general do exército 秦始皇帝 (Qínshǐhuángdì,
'Imperador de Qinshihuang'), o primeiro imperador chinês (desde 247 até 221 a.C.),
conseguiu iniciar o processo de reunificação do país, depois de muitas lutas sangrentas e
conflitos políticos. Nos anos que se seguiram, os seus filhos continuaram a reunificar o
território que hoje conhecemos como China.
Na dinastia Qin, o Imperador de Qinshihuang unificou os seis países.
秦灭六国,子孙该为民庶,或以国为姓,或以姓为氏,或以氏为氏,姓氏之失,由
此始……兹姓与氏浑为一者也。
Qín miè liùguó, zǐsūn gāiwéi mínshù, huò yǐguówéixìng, huò yǐxìngwéishì, huò yǐshìwéishì,xìngshì zhīshī, yóucǐshǐ...Zī xìng yǔ shì húnwéiyīzhěyě.O reino Qin destruiu os outros seis pequenos reinos, portanto, os descentes dos derrotadosdevem ser plebeus. Podem intitular-se shì por xìng.
(Zheng, 1995: 4)
Desde então, não há grande diferença entre o姓 (xìng, 'apelido') e o氏 (shì, 'definições
semelhantes ao apelido em português'). Ambos são consistentes com o significado de apelido
hoje em dia.
Além disso, um fenómeno muito interessante é que, naquele tempo, as pessoas
consideravam os porcos como auspiciosos, por isso alguns nomes de pessoas tinham na sua
20 No feudalismo, um feudo é a terra ou uma fonte de renda concedida por um suserano ao vassalo, em troca de fidelidadee ajuda militar.
38
composição uma alusão a estes animais. Por exemplo, o filho mais novo do Imperador de
Qinshihuang chamava-se 胡亥 (Hú Hài), cujo significado é 'porco', o que hoje em dia não é
considerado tão auspicioso (Sima, 1982: 87).
Existiu também uma dinastia, chamada Han (associada à evolução da língua chinesa e
ao seu sistema de escrita baseado nos carateres), que promoveu o pensamento de Confúcio;
dessa forma começaram a aparecer os primeiros funcionários que administraram a China
durante séculos. O papel foi inventado na China e muito contribuiu para a educação.
Comparado com a cultura de antroponímia antes da Dinastia Qin, o nome na dinastia
Han mudou muito. Palavras como veneração, bondade, mérito, virtude e assim por diante
tornaram-se nas primeiras escolhas das pessoas. Com base nos quatro carateres de 伯 (bó),
仲 (zhòng), 叔 (shū), 季 (jì), que eram comummente usados pelos povos pré-Qin, eles
acrescentaram 元 (yuán), 长 (zhǎng), 次 (cì), 幼 (yòu), 少 (shào), 公 (gōng), 翁
(wēng), 君 (jūn ), 臣 (chén), 侯 (hóu), 宾 (bīn), 士 (shì), 民 (mín), 郎 (láng), etc.
(Liang, 2017: 33).
Por exemplo, o compilador de 盐铁论 21 (Yántiělùn, Teoria do Sal e do Ferro), cujo
nome é 桓宽 (Huán Kuān ) ou 次公 (Cì Gōng), que indica que ele é o segundo filho em
casa; um dos nove ministros22 do governo imperial chama-se 翁子 (Wēng Zǐ), e o seu
significado é 'homem velho'.
A caraterística da antroponímia mais marcante da dinastia Han é que, seja um membro
da família real ou um cidadão comum, é nomeado com um único caráter, como o Imperador
Gaozu de Han, 刘邦 (Liú Bāng); o Imperador Huidi de Han, 刘盈 (Liú Yíng) e o Imperador
Wendi de Han, 刘恒 (Liú Héng). Entre os 24 imperadores da dinastia Han, apenas o
Imperador Zhaodi de Han, 刘弗陵 (Liú Fúlíng) assumiu um nome com dois carateres, mas
depois de ser entronizado retirou o caráter 陵 (líng), ficando só com o caráter 弗 (fú).
Depois do reinado do Imperador Zhaodi, de facto, o trono imperial esteve sujeito à
turbulência resultante de conflitos palacianos. Esses graves conflitos ocorriam sempre que os
parentes do herdeiro do trono tentavam legitimar a sua ascensão política por meio de golpes
ou assassinatos, e não havia mecanismos eficientes para impedi-los. O Segundo Imperador,
por exemplo, foi responsável pela morte do próprio irmão. A imperatriz 吕 (lǚ), esposa de
21 Um livro muito famoso na dinastia Han Ocidental, que narra os debates políticos, económicos, militares, diplomáticos eculturais dessa dinastia.22 Que dirigiam um ministério especializado e subordinados aos Três Conselheiros de Estado.
39
Gaozu, aproveitou a morte do marido para conduzir a corte visando os interesses da sua
família. Foram apenas necessários quinze anos para que, por ocasião de sua morte, toda a
sua família fosse assassinada numa contenda palaciana.
王莽 (Wáng Mǎng) era parente da imperatriz 王 (wáng) — membro da família
imperial 刘 (liú) —, que controlou a corte por um tempo considerável durante a viuvez. Ele
serviu como regente durante o governo de imperadores menores e, no ano 9 d.C., assumiu o
título imperial e fundou a dinastia Xin (ou “Nova” dinastia). Chamado por muitos de
“usurpador”, 王莽 (Wáng Mǎng) era um grande conhecedor da filosofia confuciana e
realizou reformas administrativas orientado pelos clássicos. Durante o seu governo
funcionários foram renomeados, templos construídos e custos supérfluos cortados. Ele
também acreditava que o nome devia conter apenas um caráter, que fosse uma etiqueta
antiga, e que devia ser herdado e levado adiante. Portanto, sob a influência de "respeito ao
clássico", o nome com apenas um caráter tornou-se cada vez mais popular (Meng, 2016:
390).
前汉书·匈奴传 (Qián hànshū ·xiōngnúzhuàn) regista:
时莽奏令中国不得有二名,因使使者以风(讽)单于,宜上书慕化,为一名,汉
必加厚赏。单于从之。
Shí mǎng zòulìng zhōngguó búdéyǒu èrmíng, yīnshǐ shǐzhě yǐfēng( fěng) Chán Yú, yíshàngshūmùhuà, wéi yīmíng, hàn bìjiā hòushǎng. Chán Yú cóngzhī.Naquela época, Wang Mang ordenou que os povos nas Planícies Centrais não permitissem doiscarateres nos seus nomes, e enviou mensageiros para a área dos hunos, sugerindo que o líderdos hunos 单于 (Chán Yú) também cumprisse essa ordem. 单于 (Chán Yú) temia o castigode sua majestade e queria obter uma recompensa generosa, então mudou de imediato o seunome para um caráter.
春秋公羊传·哀公十三年 (Chūnqiū gōngyáng zhuàn · āigōng shí sānnián) também regista:
二名非礼也。
Èrmíng fēi lǐ yě .O nome que contém dois carateres não está de acordo com a lei.
(Huang & Zeng, 2016: 12).
Desde então, o período dos Três Reinos, a Dinastia Jin Ocidental e nos seguintes cerca
de trezentos anos, os nomes de um caráter prevaleceram.
Depois das Dinastias do Sul e do Norte, o estilo do nome com dois carateres ficou na
moda de forma gradual, e os nomes começaram a aparecer com duas caraterísticas
principais: primeiro, a palavra auxiliar 之 (zhī) tornou-se cada vez mais popular; segundo,
40
não prestem enorme atenção à relação de hierarquia entre pessoas.
A Dinastia Sui foi uma dinastia imperial de pequena importância. Os Sui unificaram as
dinastias do Norte e do Sul e reinstalaram o governo da etnia Han na China, bem como as
antigas minorias no seu território. No meio da dinastia Sui, o império recém-unificado entrou
numa era de prosperidade, com um vasto excedente agrícola que sustentava o crescimento
agudo da população. Amplas reformas e projetos de construção foram realizados para
consolidar o estado recém-unificado, com influências duradouras além do curto reino
dinástico. À dinastia Sui sucedeu-se a dinastia Tang, que herdou largamente a sua fundação.
A dinastia Tang, geralmente, é considerada como um ponto alto na civilização chinesa e
uma era de ouro da cultura cosmopolita. O seu território, adquirido através das campanhas
militares dos seus primeiros governantes, rivalizava com o da dinastia Han, e a capital dos
Tang, Chang’an (atual Xi’an), era a cidade mais populosa do mundo. Naquele tempo, o paço
mantinha um sistema de serviço civil ao recrutar autoridades académicas por meio de
exames padronizados e recomendações para o cargo. A cultura chinesa floresceu e
amadureceu ainda mais durante a era Tang; considerada a maior época da poesia chinesa.
Dois dos poetas mais famosos da China, 李白 (Lǐ Bái) e 杜甫 (Dù Fǔ), viveram nessa
época, assim como muitos pintores famosos, como 韩滉 (Hán Huàng), 张萱 (Zhāng Xuān)
e 周昉 (Zhōu Fǎng). Houve muitas inovações notáveis durante a dinastia Tang, incluindo o
desenvolvimento da impressão em xilogravura.
A antroponímia na dinastia Tang tem uma característica interessante: prevaleceram os
nomes com carateres duplos. Por exemplo, em 敦煌文献研究 (Dūnhuáng wénxiàn yánjiū,
'Os escritos póstumos de Dunhuang'23) (Zhou, 1995: 103).
米和和、贾憨憨、曹娘娘、郑王王、杜是是、令狐仙仙、索来来、权龙龙
Mǐ Héhé, Jiǎ Hānhān, Cáo Niángniáng, Zhèng Wángwáng, Dù Shìshì, Lìnghú Xiānxiān, SuǒLáilái, Quán Lónglóng
De acordo com a pronúncia do chinês, os nomes com carateres duplos não só soam
muito íntimos, mas também são facilmente lembrados.
23 Os escritos póstumos de Dunhuang, também conhecidos como literatura de Dunhuang ou manuscritos de Dunhuang, sãoos nomes gerais de um grupo de livros encontrados na Gruta n.º 17 de Dunhuang Mogao em 1900, referindo-se aos antigosescritos e gravuras de Dunhuang do século II ao XIV.
41
2.2.3. Da Dinastia Song à dinastia Qing
A Dinastia Song foi uma época importante na história chinesa que começou em 960 e
continuou até 1279. Sucedeu ao período das Cinco Dinastias e Dez Reinos, e foi seguida pela
Dinastia Yuan. Foi o primeiro governo na história do mundo a emitir cédulas bancárias ou a
autenticar o papel-moeda nacionalmente, e o primeiro governo chinês a estabelecer uma
marinha permanente. Esta dinastia também viu o primeiro uso conhecido da pólvora, bem
como a primeira indicação do norte verdadeiro usando uma bússola. Os comerciantes persas
e árabes levaram a bússola para a Europa, onde esse invento chinês desempenharia um
importante papel nas Grandes Navegações dos séculos XV-XVI (Chen, 2016: 4).
A Dinastia Song pode ser dividida em dois períodos distintos: Song do Norte (960-1127),
que se refere ao período em que a capital do Império chinês estava na cidade setentrional de
Bianjing (atual Kaifeng); e Song do Sul (1127-1279), que começou quando o Império perdeu
o controlo da sua metade norte para a dinastia 女真 (nǚ zhēn), nas Guerras 宋金 (sòng
jīn). Durante esse período, a corte Song recuou para sul do Yangtze e estabeleceu a sua
capital em Lin’an (agora Hangzhou). Embora a dinastia Song tenha perdido o controlo do
tradicional “berço da civilização chinesa” ao longo do rio Amarelo, a economia Song ainda
era forte, pois o império Song do sul contava com uma extensa população e terras agrícolas
produtivas.
A Dinastia Song do Norte foi uma época de extraordinária peculiaridade e
desenvolvimento desigual. Por um lado, embora possuísse um grande exército, a sua força
militar não era forte e por isso estava em desvantagem quando confrontada com Liao24 e Xi
Xia; embora a economia fosse muito próspera, o governo da Dinastia Song do Norte não tinha
riquezas suficientes para conseguir sobreviver. Como a Dinastia Song do Norte era “fraca”
nas forças armadas e “pobre” na economia, ficou considerada pelos historiadores como “a
dinastia mais fraca da história chinesa”. No entanto, por outro lado, foi uma das dinastias da
história da China com a tecnologia mais desenvolvida, a cultura mais florescente e a arte
mais próspera. Apareceram muitas invenções respeitáveis. Nos séculos XI e XII, o nível de
vida era equiparável ao de qualquer outra cidade no mundo. Os cidadãos reuniam-se para ver
e trocar obras de arte preciosas, a população juntava-se em festivais públicos e clubes
privados, e as cidades tinham animadas áreas de entretenimento. A disseminação da
24 Liao e Xi Xia pertenciam ambos ao países minoritários.
42
literatura e do conhecimento foi reforçada pela rápida expansão da impressão em xilogravura
e pela invenção, no século XI, da impressão do tipo móvel. Tecnologia, ciência, filosofia,
matemática e engenharia floresceram ao longo desse tempo. Filósofos como 程颐 (Chéng
Yí) e 朱熹 (Zhū Xī) revigoraram o confucionismo com novos comentários infundidos em
ideais budistas e enfatizaram uma nova organização de textos clássicos, destacando a
doutrina central do neoconfucionismo. Embora a instituição dos exames do serviço civil
tivesse existido desde a dinastia Sui, tornou-se muito mais proeminente no período Song
(Chen, 2016: 455).
Além disso, a antroponímia da dinastia Song mostrou uma tendência diversificada, e as
características ficaram mais fáceis de resumir. Primeiro de tudo, os nomes têm uma
tendência de “volta à antiguidade”: aparecem neles frequentemente os carateres chineses
que costumavam significar respeito pelos mais velhos, 老 (lǎo),叟 (sǒu),翁 (wēng) e
assim por diante.
Por exemplo, o autor do livro 东京梦华录 (Dōngjīng mènghualù) chamava-se 孟元
老 (Mèng Yuánlǎo)e o autor do livro 鹤山堂 (Hèshāntáng) chamava-se 魏了翁 (Wèi
Liǎowēng).
Em segundo lugar, além de considerar a tradicional etiqueta um tabu, as pessoas
também prestavam atenção aos 五行 (wǔxíng, 'cinco elementos'), 阴 (yīn) e 阳 (yáng)25,
e 生辰八字 (shēngchén bāzì, 'o nascimento dos oito carateres'). Entre eles, “o nascimento
dos oito carateres” e os “cinco elementos do Yin e Yang” são os mais populares.
A teoria dos cinco elementos do horóscopo chinês — Fogo, Terra, Metal, Água e Madeira
simbolizam as energias cíclicas do universo. Os cinco elementos são componentes
importantes da astrologia chinesa tradicional e estão em constante interação e
relacionamento. Eles seguem, opõem-se e dão à luz um ao outro.
Os chineses acreditam que todos nós temos os cinco elementos nos nossos corpos e ao
nosso redor. A falta ou o excesso deles em nós pode ser equilibrado com a alimentação,
objetos ou atividades físicas que são relacionados com as suas características deles (Qi, 2010:
133).
A terceira grande mudança no nome durante a dinastia Song foi a popularização da
“nomeação segundo a geração”. A genealogia mais completa da família Kong foi editada na
25 Yin e Yang, os dois princípios opostos na natureza, o anterior representa feminino e coisas negativas, e o últimorepresenta masculino e coisas positivos.
43
Era de Yuan Feng, Dinastia Song do Norte. Observe-se o arquivo 孔氏家族族谱 (Kǒngshì
jiāzú zúpǔ, 'Genealogia da família Kong')26:
Da 56ª à 65ª geração:27
希(士)、言(伯)、公(文)、彦(朝)、 承(永)、 宏(以)、闻(质)、
贞(用)、 尚(之)、衍(茂)
xī(shì), yán(bó), gōng(wén), yàn(cháo), chéng(yǒng), hóng(yǐ), wén(hì), zhēn(yòng), shàng(zhī),yǎn(mào)
Da 66ª à 75ª geração:兴(起)、毓(钟)、传(振)、继(体)、 广(京)、 昭(显)、宪(法)、
庆(泽)、 繁(羽)、祥(瑞)
xīng(qǐ), yù (zhōng), chuán(zhèn), jì (tǐ), guǎng(jīng), zhāo(xiǎn), xiàn(fǎ), qìng(zé), fán(yǔ),xiáng(ruì)
Da 76ª à 85ª geração:令、德、维、垂、佑、钦、绍、念、显、扬。
lìng, dé, wéi, huí, yòu, qīn, shào, niàn, xiǎn, yáng 20 carateres adicionados:
建、道、敦、安、定,懋、修、肇、彝、常、裕、文、焕、景、瑞、永、锡、世、
绪、昌
jiàn, dào, dūn, ān, dìng, mào, xiū, zhào, yí, cháng, yù, wén, huàn, jǐng, ruì, yǒng, xī, shì, xù,chāng
Da 86ª à 105ª geração:宏、闻、贞、尚、衍、兴、毓、传、纪、广、昭、宪、庆、繁、祥、令、德、维、
垂、佑、钦、绍、念、显、扬、鼎、新、开、国、运、克、服、振、家、声、建、
道、敦、安、定、懋、修、肇、益、常、裕、文、焕、景、瑞,永、锡、世、绪、
昌
hóng, wén, zhēn, shàng, yǎn, xìng, yù, chuán, jì, guǎng, zhāo, xiàn, qìng, fán, xiáng, lìng, dé,wéi, chuí, yòu, qīn, shào, niàn, xiǎn, yáng, dǐng, xīn, kāi, guó, yùn, kè, fú, zhèn, jiā, shēng,jiàn, dào, dūn, ān, dìng, mào, xiū, zhào, yì, cháng, yù, wén, huàn, jǐng, ruì, yǒng, xī, shì, xù,chāng
Imediatamente após a Dinastia Song, a Dinastia Yuan foi estabelecida por Kublai Khan
(nome mongol na época, em chinês 忽必烈 (hūbìliè), líder do clã mongol Borjigin (em
chinês 博尔济吉特 bóěrjìjítè). Embora os mongóis tivessem governado territórios que
incluíam o atual norte da China há décadas, foi somente em 1271 que Kublai Khan
proclamou oficialmente a dinastia no estilo tradicional chinês. O seu reino estava, nessa
altura, isolado dos outros canatos, e ele controlava a maior parte da China atual e seus
arredores, incluindo a moderna Mongólia e a Coreia. Foi a primeira dinastia estrangeira a
26 Não se trata de um livro, mas de um arquivo privado, mantido pelos Arquivos Nacionais da China.27 Fonte: Douban, encontrados em https://www.douban.com/note/671618323/
44
governar toda a China e durou até 1368; depois, os governantes Genghisid (em chinês 成吉
思汗 chéngjísīhán) retornaram à sua pátria mongol e continuaram a governar a dinastia
Yuan do Norte. Alguns dos imperadores mongóis Yuan dominavam a língua chinesa, enquanto
outros usavam apenas a sua língua nativa, o mongol.
Além do Imperador da China, Kublai Khan (em chinês 忽必烈 hūbìliè) também
reivindicou o título de Grande Khan (em chinês 汗国 hánguó), supremo sobre os outros
khans sucessores: o Chagatai (em chinês 察合台汗国 cháhétái hánguó), a Horda de Ouro
e o Ilkhanate (em chinês 伊利汗国 yīlì hánguó). Como tal, o Yuan também era conhecido
como o Império do Grande Khan (em chinês 汗国 hánguó).
Quanto à antroponímia, de todas as dinastias, o uso de nomes numéricos foi mais
popular na dinastia Yuan. Por exemplo, 张士诚 (Zhāng Shìchéng), um dos líderes do
exército rebelde no final da dinastia Yuan, cujo nome original era 九四 (jiǔ sì, 'novo e
quatro'), e 士诚 (shìchéng, 'pessoa honesta') foi-lhe posteriormente dado por um letrado
(Zhang, 2015: 11).
De facto, esse costume de usar números como nomes está realmente relacionado com
a política da corte. Na Dinastia Yuan, os chineses de etnia han, as pessoas comuns e as
pessoas sem ocupação não podiam receber nomes com um significado real, só podiam ser
chamados pelas posições das suas famílias, a idade dos seus pais, a data dos seus
nascimentos e assim por diante.
Por exemplo, quando uma criança nascia, se o seu pai tivesse 29 anos e a sua mãe
tivesse 25, a soma era 54. Portanto, a criança era chamada de 五十四 (wǔshísì, 'cinquenta
e quatro'). Se o pai tivesse 23 anos, a mãe tivesse 22 e a soma da idade dos pais fosse 45
anos, a criança podia ser chamada de 四十五 (sìshíwǔ, 'quarenta e cinco') ou 五十九
(wǔshíjiǔ, 'cinquenta e nove'), pois quando cinco é multiplicado por nove resulta em quarenta
e cinco. Há também uma maneira especial de nomeação, que é o nome constituído pela
idade do avô quando a criança nasceu. Se a criança nasceu quando o seu avô tinha 73 anos,
será nomeada como 七十三 (qīshísān, 'setenta e três') (Chayulanshi28, 2018).
A Dinastia Qing foi a última dinastia imperial da China, tendo durado 268 anos (de 1644
até 1912), com uma breve restauração abortada em 1917. Foi precedida pela dinastia Ming e
sucedida pela República da China. Foi formada pela etnia manchu minoritária, povo nómada
28 Pseudónimo de um escritor em App. Douban.
45
originário da região leste da Ásia, que atualmente inclui o extremo nordeste da China,
também chamado de Manchúria Interior, e uma parte da Sibéria. O seu fundador foi Aisin
Gioro (em chinês 爱新觉罗 àixīnjuéluó), líder do clã manchu da região nordeste da China.
Nurhachi (em chinês 努尔哈赤 nǔěrhāchì), o seu sucessor, originalmente um vassalo do
imperador Ming, iniciou uma ação de unificação dos clãs da região, conseguindo o seu
intento no final do século XVI. A sua principal estratégia foi a criação do sistema de governo e
a distribuição do poder conhecido como 八旗 29 (bāqí, 'oito bandeiras'), em que todos os
manchus pertenciam a uma das “oito bandeiras”, que uniam o poder civil de uma região
com unidades militares da mesma área (Du, 2015).
Os nomes manchus eram, naturalmente, escritos e pronunciados em língua manchu.
Como mencionado acima, Aisin Gioro (em chinês 爱新觉罗 àixīnjuéluó) e Nurhachi (em
chinês 努尔哈赤 nǔěrhāchì). Com o estabelecimento do regime manchu nas Planícies
Centrais, os funcionários queriam escrever os seus nomes em carateres da etnia Han
(carateres chineses atuais), isto é, escrever os carateres chineses correspondentes de acordo
com a pronúncia Manchu. Portanto, no começo as pessoas só se importavam se a pronúncia
era correta ou não, e não se importavam com o significado dos carateres chineses. Depois
disso, os nomes manchus mudaram rapidamente com o desenvolvimento da sociedade (Du,
2015: 12).
Primeiro, os nomes mostram uma forte adoração natural e ancestral. Por exemplo, o
povo manchu viveu na vizinhança da Montanha Changbai no século XVI de modo
semi-agrícola e semi-selvagem, pelo que costumava usar uma certa parte dos animais como
nome das crianças. Nuerhachi (em chinês 努尔哈赤 nǔěrhāchì) é uma transliteração dos
Nurhaci da língua manchu, que significa 'pele de porco selvagem'. Os seus pais esperavam
que o Nurhaci fosse tão corajoso como o javali na floresta e tão duro como a sua pele. Além
disso, um dos irmãos de Nurhaci chamava-se Surhaci (em chinês 舒尔哈齐 shūěrhāqí),
que significa 'pele de leopardo'; um irmão de Surhaci chamava-se Dorgon (em chinês 多尔
衮 duōěrgǔn), que significa 'texugo', e um filho de Nurhaci chamava-se Dudu (em chinês 杜
度 dùdù), que significa 'pomba' (Base de dados de rede de Fenglin, 2018).
Em segundo lugar, com o aprofundamento da cultura Han, começou-se a moldar a
personagem no nome, expressando o desejo de bênção e auspiciosidade. Por exemplo, o
29 É a forma de organização militar da vida social da dinastia Qing e é também o sistema fundamental da dinastia Qing.
46
terceiro Imperador da Dinastia Qing, Shunzhi (1638-1661), recebeu como nome próprio 福
临 (fúlín) , que significa 'a vinda da bênção', a sua mulher favorita, 董鄂妃 (Dǒngèfēi), foi
nomeada por imperatriz 孝娴端庄 (xiàoxián duānzhuāng), que significa 'piedosa, garbosa,
digna e generosa', e as suas filhas, 和顺 (héshùn) e 和硕 (héshuò), que significam
'pacífico, suave e rico'.
Em terceiro lugar, o Imperador Kangxi decretou que as deveriam utilizar o nome de
geração, o que aumentou a influência pela assimilação da etnia Han. Por exemplo, todos os
nomes dos filhos do Imperador Kangxi incluem o caráter 胤 (yìn): 胤禔 (yìntí), 胤礽
(yìnréng), 胤祉 (yìnzhǐ), 胤禛 (yìnzhēn), 胤禩 (yìnsì), 胤禟 (yìntáng), 胤䄉 (yìné), 胤
祥 (yìnxiáng), 胤禵 (yìntí) (Yan, 2007).
2.2.4. Após a guerra do ópio (séculos XVIIII-XX)
A época moderna da China teve início em 1840 e perdurou até 1919. O seu principal
símbolo remete para a Guerra do Ópio, ocorrida justamente nesse ano.
No início do século XVIIII, quando a China ainda estava sob o reinado da Dinastia Qing,
Portugal, Espanha, Alemanha, Grã-Bretanha e França já eram potências imperialistas e
controlavam o comércio entre a Ásia e o Ocidente. Mas a China estava fechada para o
comércio internacional, com exceção do porto de Cantão. Assim, Cantão tornou-se um centro
importante de comércio entre a China e o Ocidente. Um dos principais produtos levados para
o país por comerciantes ocidentais foi o ópio, droga que passou a ser muito consumida
naquela altura. Mas o ministro sábio proibiu a sua importação, e o contrabando do ópio
tornou-se um negócio lucrativo para os comerciantes ocidentais, principalmente para os
britânicos.
Devido ao facto de os principais traficantes terem sido expulsos e os interesses
investidos terem sido danificados, a Inglaterra declarou guerra à China, mandou para o país
uma frota de guerra e ocupou Xangai. Em 1842, com inferioridade tecnológica no
armamento, os chineses renderam-se. Por conta da pesada “dívida de guerra”, aceitaram
tratados de comércio injustos, entre eles o chamado Tratado de Nanquim, que forçava a
China a pagar pesadas multas, a abrir cinco portos ao comércio e a ceder Hong Kong aos
britânicos. Depois da 2ª e 3ª Guerras do Ópio, travadas em 1856 e 1858, mais 11 portos
foram abertos aos ocidentais. Durante os anos de 1894 e 1895, a China perdeu Taiwan
47
numa guerra com o Japão e foi forçada a reconhecer a independência da Coreia. Os países
vitoriosos obrigaram o governo Qing a conceder maiores direitos de comércio e a doar mais
territórios (Zhu, 2011: 143).
Nesse contexto, a falta de força da dinastia Qing para enfrentar as sucessivas
humilhações impostas pelos ocidentais contribuiu para criar um clima favorável à rebelião
das massas. Em 1911, 孙中山 (Sūn Zhōngshān, 'Sun Yat-Sen') dirigiu uma revolução
democrática burguesa que pôs fim à dominação da dinastia em vigor. Assim terminou a
monarquia, que havia durado mais de dois mil anos, e se estabeleceu o Governo Provisório
da República da China. O presidente provisório, Sun Yat-Sen, não conseguiu manter-se
efetivamente no poder e renunciou em 15 de fevereiro de 1911. Assumiu a presidência o
general 袁世凯 (Yuán Shìkǎi, 'Yuan Shin-kai'), que acabou por fazer concessões ainda
maiores aos estrangeiros. Em decorrência disso, Sun Yat-Sen e os outros nacionalistas, que
haviam formado o Partido Nacionalista, levaram a cabo mais uma rebelião. Desta forma, a
Revolução de 1911 (Revolução de Xinhai) eclodiu. Tratou-se de uma grande revolução
democrático-burguesa na sociedade chinesa moderna, derrubando a monarquia feudal que
governou a China por mais de dois mil anos. Depois aconteceram sucessivamente a
Revolução Nacional, o Confronto de Dez Anos entre Partido Nacionalista e Partido Comunista,
a Guerra Anti-japonesa, etc.
Neste contexto, os nomes do povo chinês estão intimamente relacionados com a
situação política da época. Apenas pelo nome, pode-se dizer em que época a pessoa nasceu.
Por exemplo, uma pessoa com o nome 国庆 (guóqìng), 建国 (jiànguó), 国昌 (guóchāng),
国强 (guóqiáng), 建华 (jiànhuá) é provável que tenha nascido nos primeiros dias da
fundação da Nova China, porque os nomes chineses significam, quer uma declaração direta
da ocorrência da fundação da Nova China, quer uma celebração da alegria da nova era.
O significado desses nomes expressa a alegria da fundação da Nova China ou expressa
o incidente de maneira direta. De acordo com o Bureau Nacional de Estatísticas da República
Popular da China (2013), um total de 406 860 pessoas no país têm o nome de 国庆
(guóqìng).
Outras pessoas têm nomes com relação direta com a guerra para resistir à agressão
dos EUA e ajudar a Coreia: 抗美 (kàngměi, 'luta contra os Estados Unidos'), 援朝
(yuáncháo, 'ajuda para a Coreia do Norte'), 反帝 (fǎndì, 'contra o imperialismo'), 卫国
(wèiguó, 'guarda o país').
48
Pessoas que possuem os nomes 卫星 (wèixīng, 'satélite'), 卫红 (wèihóng, 'protege o
Exército Vermelho'), 卫兵 (wèibīng, 'protege os soldados'), 卫东 (wèidōng, 'protege o
Oriente'), 跃 进 (yuèjìn, 'salto para a frente') nasceram, basicamente, no período da
Revolução Cultural, depois de 1966.
Após a Reforma e Abertura na década de 1980, os nomes começaram a expressar
sentimentos e esperanças pessoais. Os pais estão cada vez mais a dar às crianças um nome
composto por dois carateres. Os meninos são habitualmente chamados 勇 (yǒng,
'coragem'), 伟 (wěi, 'grandeza'), 飞 (fēi, 'voo'), 鹏 (péng, 'esforço'), enquanto as meninas
são chamadas de 丽 (lì, 'lindeza'), 雪 (xuě, 'neve'), 佳 (jiā, 'honra') ou 娜 (nà,
'suavidade'). Os nomes pretendem assim fazer ressaltar as características de homens e
mulheres.
No final do século XX, a nomeação pela pronúncia do nome inglês começou a ser
popular nas grandes cidades. Há vários nomes estrangeiros como 查理 (chálǐ, do inglês
Charlie), 温蒂 (wēndì, do inglês Wendy), 罗斯 (luósī, do inglês Ross) e 安妮 (ānnī, do
inglês Anne) (Censo nacional da China em 2010).
2.2.5. Representação especial do título chinês: Zi, Hao
Na China Antiga, 名 (míng, 'nome próprio'), é utilizado pelos familiares antes da idade
adulta, e 字 (zì) é usado pelos outros depois de atingir a maturidade na sociedade.
《疏》云:“始生三月而始加名,故云幼名,年二十有为父之道,朋友等类不可复呼
其名,故冠而加字。”Shū yún: “shǐshēng sānyuè ér shǐjiāmíng, gùyún yòumíng, nián èrshíyǒu wéifù zhīdào,péngyǒu děnglèi bu kěfùhū qímíng, gùguànér jiāzì.Shu disse: quando a criança tem três meses, os pais dão-lhe um nome que é o nome infantil:quando atinge a idade de 20 anos e se torna pai, os seus amigos não podem chamá-lodiretamente por esse nome, e para resolver esse problema, ele adiciona ozì.
(Sima, 1982)
A partir disto, pode-se concluir que o 名 (míng, 'nome próprio'), é da altura da infância
e é utilizado pelos progenitores, enquanto o 字 (zì) serve para facilitar o tratamento pelos
outros e pode evidenciar polidez e respeito.
O 号 (hào) concentra-se em mostrar a aspiração, a afeição e o ideal da vida. A maioria
das pessoas comuns não possuíam 号 (hào), enquanto os literatos que prestavam atenção
49
à elegância o tinham. Posteriormente, nas dinastias Ming e Qing, 号 (hào) tornou-se quase
o nome exclusivo das celebridades, por isso, 号 (hào) também se apelida de 雅号
(yǎhào).
O 号 (hào) dos antigos chineses pode ser dividido em 自号 (zìhào), 谥号 (shìhào),
庙号 (miàohào), 法号 (fǎhào), 道号 (dàohào) e assim por diante (Wang, 2011: 125).
1. 自号 (zìhào), é o nome escolhido pelo próprio.
Por exemplo, 陶渊明 (Táo Yuānmíng), também conhecido como 陶潜 (Táo Qián), foi
um distinto poeta e um eminente recluso durante as dinastias Jin Oriental (317-420) e Liu
Song (420-479). É considerado um dos maiores poetas do período das Seis Dinastias30 (em
chinês 六朝 Liùcháo) . Ele referiu-se a si próprio com o 号 (hào) de 五柳先生 (wǔliǔ
xiānshēng, 'Mestre dos cinco salgueiros'), mostrando assim o seu desejo de viver uma vida
tranquila e solitária no interior do país. Sabe-se que 陶渊明 (Táo Yuānmíng) passou a maior
parte do tempo em reclusão, morando numa pequena casa no campo, lendo, bebendo vinho,
recebendo ocasionalmente convidados e escrevendo poemas, nos quais refletia com
frequência sobre os prazeres e dificuldades da vida no campo, bem como na sua decisão de
se retirar do serviço público. O seu estilo simples, direto e incomum encontrava-se em
discordância com as normas da escrita literária do seu tempo.
2. 谥号 (shìhào) é o título póstumo do imperador, imperatriz, nobres, ministros e
outras pessoas de alto escalão, começando na Dinastia Zhou Ocidental.
Os 谥号 (shìhào) dos nobres e ministros eram geralmente concedidos pela corte
imperial após a morte; os 谥号 (shìhào) dos imperadores eram geralmente obtidos por
intermédio do imperador sucessor; o 谥号 (shìhào) do último imperador de uma dinastia
era indicado pelo imperador da dinastia seguinte, ou pelo líder do povo.
De acordo com a experiência de vida dessa pessoa, existem três tipos de 谥号
(shìhào): compaixão, malícia e louvor:
30 As Seis Dinastias (222-589) geralmente referem as seis dinastias do Sul na história da China, dos Três Reinos à DinastiaSui. Isto é, Sun Wu (ou Wu Oriental, Três Reinos Wu), Jin Oriental, Song das Dinastias do Sul (ou Liu Song), Qi das Dinastiasdo Sul (ou Xiao Qi), Liang das Dinastias do Sul e Chen das Dinastias do Sul.
50
Parte I 悯谥 (Mǐn shì): para expressar compaixão
谥号 (Shì hào) Significadoshāng -伤/殇 Morreu antes de se casar
āi-哀 Perdeu os filhosmǐn-愍 Teve um desastre enormedào-悼 Morreu antes da meia idade
Parte II 恶谥 (È shì:) para expressar malícia
谥号 (Shì hào) Significadolì-厉 Matou muitas pessoas inocentes
zhuāng -庄 Dominou mal o Kung Fulíng-灵 Alcançou o ideal após a morteyōu-幽 Aconteceram distúrbios
Parte III 美谥 (Měi shì:) para expressar louvor
谥号 (Shì hào)) Significadowén-文 Teve uma moral elevadawǔ -武 Possuiu poder militar fortedài -戴 Governou bem o paíshuì-惠 Praticou gentilezas na vida
xiāng-襄 Expandiu-se para novos territórios
Tabela 7 Três tipos de 谥号 (Shì hào)31
3. 庙号 (miàohào) e 谥号 (shìhào) têm um significado semelhante, e ambos se
referem à avaliação da vida que os outros fizeram de alguém após a sua morte. A única
diferença é que o 庙号 (miàohào) é unicamente utilizado para o imperador. O significado de
庙 号 (miàohào) é fixo, por exemplo, 太 祖 (tàizǔ) é empregado exclusivamente pelo
imperador fundador.
31 Fonte: Yi Zhoushu, ‘Livro sobre Imperadores’: capítulo 54.
51
Nome 庙号 (Miàohào) 谥号 (shìhào)
Chéng Tāng 成汤 太祖 Tàizǔ da Dinastia Shang 武 wǔ
Liú Bāng 刘邦 太祖 Tàizǔ da Dinastia Han 高 gāo
Cáo Cāo 曹操 太祖 Tàizǔ da Dinastia Wei 武 wǔ
Sūn Quán 孙权 太祖 Tàizǔ da Dinastia Wu 大 dà
Sīmǎ Zhāo 司马昭 太祖 Tàizǔ da Dinastia Jin 文 wén
Liú Wèichén 刘卫辰 太祖 Tàizǔ da Dinastia Xia 桓 huán
Liú Yìlóng 刘义隆 太祖 Tàizǔ da Dinastia Song 文 wén
Yáng Zhōng 杨忠 太祖 Tàizǔ da Dinastia Sui 武文 wǔ wén
Yēlǜābǎojī 耶律阿保机 太祖 Tàizǔ da Dinastia Liao大圣大明神烈天
dàshèng dàmíng shénliètiān
Tabela 8 Os 庙号 (Miào hào) dos imperadores
(Wan, 2005: 21)
4. 法号 (fǎhào), o termo búdico, refere-se ao nome dado aos budistas. Ou seja,
quando um monge é mantido após a cerimónia de barbear, ou após a sua morte, este é
nomeado pelo seu mestre.
5. 道号 (dàohào) refere-se ao título de honra taoísta. O 道号 (dàohào) comum é
principalmente terminado com 子 (zǐ), 道 人 (dàorén), 散 人 (sǎnrén) ou 先 生
(xiānshēng).
Por exemplo, 鬼谷子 (guǐgǔzǐ), 纯阳子 (chúnyángzǐ), 玄诚子 (xuánchéngzǐ),
凌 霄 子 (língxiāozǐ), 清 净 子 (qīngjìngzǐ), 无 为 子 (wúwéizǐ), 玄 诚 道 人
(xuánchéngdàorén), 凌霄道人 (língxiāodàorén), etc. Todos os 道号 (dàohào) têm a
ideologia da sua própria escola de pensamento/doutrina (Wang, 2011: 168).
52
Capítulo 3
Antroponímia e culturas comparadas
53
3.1. Individualismo versus coletivismo
Essa dimensão é um padrão do nível de ligação entre as pessoas, que se reflete na
auto-consciência dos povos definidos como o “eu” ou o “nós” (Hofstede, 2001: 209).
Do ponto de vista da composição dos antropónimos, o chamado 姓名 (xìng míng,
'nome completo') na China inclui primeiro o 姓 (xìng, 'nome de família') e depois o 名
(míng, 'nome próprio'). O 姓 é o símbolo de ascendência, e os chineses respeitam as suas
ascendências. Em vista disso, colocam o 姓 da ascendência na frente e depois os seus
próprios nomes, o que indica que o indivíduo é em primeiro lugar um membro da família, e
os interesses pessoais estão sujeitos aos interesses da família. Isso mostra plenamente que a
China tem uma orientação de valor coletivista desde os tempos antigos.
Os chineses enfatizam que eles são a herança do sangue, a continuação da família.
Desde os tempos antigos, tem havido um ditado que diz que “行不更名,坐不改姓”
(xíngbùgēngmíng, zuòbúgǎixìng, 'as pessoas não mudam de nome a qualquer momento').
A China tem um total de 5 730 姓 (xìng, 'nome de família'). Os mais comuns são “As
Centenas de Nomes” frequentemente mencionados nos 俗语 (súyǔ, 'provérbios'), num total
de cerca de 100 (Chen, 2008: 12).
Entre eles, os 姓 (xìng, 'nomes de família') de 李 (lǐ), 王 (wáng), 张 (zhāng)
representam, respetivamente, 7.9%, 7.4% e 7.1% do povo chinês, seguidos por 刘 (liú), 陈
(chén), 杨 (yáng), 赵 (zhào), 黄 (huáng), 周 (zhōu), 吴 (wú), 徐 (xú), 孙 (sūn), 胡
(hú), 朱 (zhū), 高 (gāo), 林 (lín), 何 (hé), 郭 (guō) e 马 (mǎ). Estes 19 apelidos
respondem a 50% dos 姓 da população chinesa, mostrando uma concentração de alta
densidade (Chen, 2008: II). Mas a quantidade de 名 (míng, 'nome próprio') do povo chinês
é elevada e qualquer combinação de um ou dois carateres chineses pode compor um nome
próprio completo.
Nos países de língua portuguesa, o nome completo é composto primeiramente de nome
próprio e depois seguido por apelido, o que comprova que as pessoas locais enfatizam a
importância do indivíduo. Eles buscam a liberdade individual e defendem as lutas individuais,
argumentando que o papel do indivíduo é mais importante que o sucesso coletivo.
Ao analisar o significado de apelido, pode-se saber que também pode ser chamado
como sobrenome. O prefixo sobre ilustra a relação posicional, que fica acima do nome.
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Também se lhe pode chamar nome de família, demonstrando a relação com a família mas
não enfatizando o parentesco familiar.
Em comparação com a China, o apelido em português teve origem muito tarde. Na
verdade, não há apelido no início, apenas nomes próprios, como Maria, João, Eva, Adão, etc.
Em consequência disso, a taxa de repetição de nomes próprios é muito alta, a fim de melhor
distinguir um dos outros, e as características de identificação do apelido desempenham um
papel importante.
Conclui-se que a cultura da China tem grande tendência para o coletivismo enquanto a
de Portugal tende para o individualismo.
3.2. Aversão à incerteza
O índice de aversão à incerteza é definido como “a tolerância de uma sociedade à
ambiguidade”, em que as pessoas abraçam ou evitam um evento de algo inesperado,
desconhecido ou distante da situação atual. As sociedades que obtêm um alto grau nesse
índice optam por códigos rígidos de comportamento, lei ou linha de direção e geralmente
dependem da verdade absoluta ou da crença conhecida. Ao contrário, um grau mais baixo
neste índice mostra uma maior aceitação de pensamentos ou ideias diferentes. Nesse tipo de
sociedade tende-se a impor menos regulamentações, por isso a ambiguidade é mais tolerada
e o ambiente é mais fluido (Hofstede, 2001: 145).
Com respeito à cultura antroponímica em Portugal, é imprescindível mencionar a
religião. Portugal é um país extremamente religioso. As igrejas que podem ser vistas em toda
a parte são a maior prova disso. Um estudo feito pelo Centro de Estudos e Sondagens de
Opinião e pelo Centro de Estudos de Religião e Culturas da Universidade Católica Portuguesa
revelou os dados da religião em Portugal:
Igreja Católica: 79,5% da população;
Protestante e Evangélica: 2,8% da população;
Testemunha de Jeová: 1,5% da população;
As outras religiões minoritárias: 16.2%.
Portanto, os portugueses frequentemente escolhem os nomes das personagens na
Bíblia para nomear os seus filhos, a fim de expressar a adoração e sublinhar a fé em Deus.
55
Em Portugal, as pessoas também costumam usar os nomes das personagens de obras
literárias e de filmes conhecidos. Por exemplo, Romeu e Julieta, personagens da tragédia do
amor do poeta William Shakespeare, fazem parte do ranking de nomes mais populares das
personalidades literárias.
Com o intuito de comemorar as personagens extraordinárias ou expressar admiração
por elas, os portugueses costumam usar os nomes de heróis antigos ou pessoas
historicamente influentes para nomear os seus filhos, esperando que herdem as virtudes dos
grandes homens. Ao mesmo tempo, os nomes de reis, presidentes e ídolos do país também
são altamente respeitados, assim como Afonso, Henrique, Isabel, Mariza, Cristiano, etc.
Além disso, em Portugal as crianças também podem ter o mesmo nome dos seus pais,
avós ou parentes, e os portugueses acham que esse comportamento não é considerado nada
estranho nem feio. Pelo contrário, algumas pessoas ficam muito felizes em deixar os seus
filhos e netos seguirem os nomes de antepassados e orgulharem-se deles. Para diferenciar o
pai e o filho com o mesmo nome, normalmente os portugueses adotam um segundo nome.
Por exemplo, se o pai do bebé tem o nome de Luís, podendo o avô ter o nome de Miguel,
unindo os dois nomes fica “Luis Miguel”. Se o bebé for menina, podendo o nome da mãe
combinar com o da avó, pode também criar um nome composto para ela.
Claro, isso também depende de cada família. Podem usar diminutivos para o mais novo
ou dizer, por exemplo, João Júnior, Lucas Filho, Carlos Neto e outros.
Tal situação é absolutamente proibida na China, porque a hierarquia social tradicional é
muito distinta: os nomes dos pais, os nomes dos parentes, os nomes dos funcionários do
governo ou outros dignitários são tabus para os povos chineses comuns. Ninguém se atreve a
usar esses nomes para nomear crianças. Um princípio orientador da etnia Han é “Evite o
mesmo”, pelo que existem muito poucos exemplos de uso de nomes existentes como nomes
novos.
Os princípios distintos na antroponímia têm a ver com o facto de a cultura chinesa
pertencer ao conjunto das culturas com o grau mais alto de aversão à incerteza e Portugal
ter uma cultura com o grau mais baixo de aversão à incerteza.
56
3.3. Distância relativamente ao poder
A definição de distância relativamente ao poder dentro das Dimensões Culturais de
Hofstede refere-se ao grau de consideração com que as pessoas se comportam perante os
seus superiores hierárquicos, bem como o grau em que se sente a indispensabilidade de ter
respeito e deferência pelos seus chefes e subalternos. Para a maioria dos países asiáticos,
uma pontuação baixa representa uma distância de baixa potência, onde a igualdade pode ser
percebida, e isso pode ser observado principalmente nos países europeus (Hofstede, 2001:
79).
Na China, os 姓氏 (xìngshì, 'nomes de família') são símbolos de clã e marcas de
comunidade. Como diz o ditado, “ 五百年前是一家 ” (wǔbǎiniánqián shì yījiā, 'duas
pessoas com o mesmo apelido eram uma família quinhentos anos atrás'). Ao mesmo tempo,
os 名字 (míngzì, 'nomes próprios') também podem refletir o conceito de clã dos chineses, e
a sua manifestação concreta é o nome comum da geração. Por exemplo, o livro intitulado
清 稗 类 钞 (Qīng Bài Lèi Chāo, 'Compilação da Dinastia Qing') descreve a árvore
genealógica de descendentes 孔 (kǒng). A partir dessas posições diferentes, é possível
decobrir a hierarquia da família.
Nas áreas rurais da China, a maioria das pessoas tem o mesmo 姓 (xìng, 'nome de
família'), e no mesmo clã, quando as pessoas da aldeia dão nomes à geração mais jovem, o
caráter do meio pode indicar a sua hierarquia nessa família. Tomemos minha família como
exemplo: o caráter do meio da geração do meu avô é 文 (wén), do meu pai é 朝 (cháo), e
da minha geração é 梦 (mèng). É muito comum que pessoas da mesma idade pertençam a
gerações diferentes. Consoante a hierarquia, às vezes, os mais velhos devem chamar às
pessoas mais novas tio ou até mesmo avô. Cada família tem a sua árvore genealógica
própria, narrando a história da família, transmitida de geração em geração e conservada por
uma pessoa especial.
À medida que a sociedade se desenvolve e as populações se movimentam mais, os
membros da mesma família estarão espalhados por todo o mundo. Se encontrarmos uma
pessoa com o mesmo 姓 (xìng, 'nome de família') numa cidade estranha, cuidaremos uns
dos outros, porque viemos da mesma família centenas de anos atrás.
Em Portugal não existe tal princípio rigoroso de nomenclatura que mostre o nível de
hierarquia, há até fenómenos em que o pai e o filho, o avô e o neto têm o mesmo nome.
57
Além disso, na cultura antroponímica chinesa, mesmo para os parentes muito chegados é
incorreto chamar pelos seus nomes diretamente. Porém, na cultura antroponímica
portuguesa esse comportamento não tem nenhuma conotação negativa.
Isso mostra que a China tem a distância mais elevada enquanto que Portugal tem a
distância mais baixa.
3.4. Masculinidade versus feminilidade
Esta medida de ponderação está em conformidade com as características comuns das
culturas masculinas e femininas. Na visão a que as pessoas estão acostumadas, os homens
são duros, fortes e assertivos, enquanto as mulheres são delicadas, amáveis e submissas,
por isso, na sociedade com alta masculinidade, as pessoas são estimuladas pela
concorrência e pelo êxito, o povo segue o lema de “viver para trabalhar e centra-se na
ambição. Numa sociedade com alta feminilidade, os povos prestam mais atenção a manter
um bom relacionamento e assegurar a qualidade de vida quotidiana. O lema é “trabalhar
para viver” e ser vencedor não é tão importante, sendo preferível procurar uma sensação de
bem-estar na vida (Hofstede, 2001: 279).
Em termos da cultura antroponímica, a China faz parte das sociedades com alta
masculinidade, ao passo que Portugal pertence às sociedades com alta feminilidade.
Na sociedade matriarcal da China há muitos carateres com 女 (nǚ, 'feminino') como
radicais.
《说文解字》: 姓,人所生也。古之神圣人,母感天而生子,故称天子。因生以为
姓,从女生。
Shuō Wén Jiě Zì: Xìng, rénsuǒ shēngyě. Gǔzhī shénshèngrén, mǔgǎntiān ér hēngzǐ, gùchēngtiānzǐ. Yīnshēng yǐwéi xìng, cóng nǚshēng .Análise Aos Carateres: apelido é o símbolo de nascimento da pessoa. O santo antigo nasceuporque a sua mãe foi influenciada pelo céu, portanto, ele foi chamado o filho do céu. Essa é aorigem de caráter 姓 (xìng, 'apelido'). E 姓 faz parte do ideograma32, a parte esquerda 女
significa ‘feminino’ e a parte direita 生 (shēng) significa 'nascimento'.
Portanto, pode-se dizer que o 姓 (xìng, 'apelido') começa na sociedade matriarcal e é
o produto essencial dessa sociedade. Depois, o 氏 (shì, 'definições semelhantes ao apelido
32 Na China, existem quatro categorias para métodos de criação de sinogramas, são respetivamente pictograma, ideograma,deictograma e ideofonograma. E o ideograma é um símbolo gráfico utilizado para representar um conceito abstrato.
58
em português') apareceu. Os dois conceitos gradualmente unificaram-se com o
desenvolvimento da sociedade. Essa mudança é um sinal da transição de uma sociedade
matriarcal para uma sociedade patriarcal (Tian, 1998: 334-374).
Depois da Dinastia Tang, a tendência para enfatizar os homens sobre as mulheres
tornou-se cada vez mais desenfreada e muitas mulheres não tinham nome. Esta situação é
particularmente grave na China rural. Muitas mulheres são chamadas 李大妞 (Lǐ Dàniū) -
Lǐ é o seu nome de família, Dàniū só tem o significado de 'feminino'; 张三妹 (Zhāng
Sānmèi) - Zhāng é o seu nome de família, sān significa que é a 'terceira filha' na sua família,
e mèi significa 'irmã'; 丑丫 (chǒu yā, 'menina feia'), entre outros.
Depois de se casarem, adicionam o caráter 氏 (shì) após o 姓 (xìng, 'apelido') do
marido e do pai para formar o seu nome. Por exemplo, 李大妞 (Lǐ Dàniū) se casasse com
um homem de apelido 孙 (sūn), podia ser chamada 孙李氏 (Sūn Lǐshì ) (Wang, 2011:
92).
Tal situação também existe em Portugal. No fim do século XIX, o costume de a mulher
mudar de nome após o casamento começou a espalhar-se nas classes superiores, sob a
influência francesa, e depois da década de 40 tornou-se mais ou menos socialmente
obrigatória. A não aceitação da tradição era vista como prova de concubinato, em especial
até à década de 1970.
Se um casal tem o mesmo nome de família, tal regra não tem efeito prático. E a outra
situação complicada é, por exemplo, quando uma mulher chamada Maria de Gama da Silva
se casa com um homem que se chama João de Gama. O seu nome pode ser legalmente
Maria de Gama da Silva de Gama.
Na atualidade, poucas mulheres adotam, mesmo oficialmente, os nomes de família dos
seus maridos e, entre as que o fazem oficialmente, é muito normal não o utilizarem na vida
informal.
Em Portugal, desde 1977, a mulher possui a escolha de mudar ou não de nome depois
do casamento, e no mesmo ano, o marido também pode adotar o nome de família da mulher.
Conforme investigação do Instituto de Registos e Notariado, 2076 homens escolheram
acrescentar o apelido da mulher em 2007, o que representa cerca de 4% dos homens que se
casaram nesse ano. Quanto às mulheres, 23 721 (49,15%) adotaram o apelido do marido.
59
3.5. Orientação de curto prazo versus longo prazo
Esta dimensão também pode ser chamada de “Dinamismo Confuciano”, e não existe na
primeira versão das dimensões culturais do modelo de Hofstede. Como a definição sugere,
há mais ligações com Confúcio e a China. Ele associa-se a ações e desafios do passado com
o presente e o futuro. Geralmente, a sociedade com uma orientação de curto prazo dá
importância a construir uma realidade perfeita e tem uma grande preocupação em respeitar
as tradições populares. Numa sociedade com uma orientação a longo prazo, os povos
consideram que não existe o facto absoluto, tudo pode ser mudado dependendo da situação,
do tempo, do lugar e da pessoa (Hofstede, 2001: 351).
Se esta dimensão está ligada à nossa cultura antroponímica, que tipo de resultado terá?
Para responder a essa pergunta, deve-se primeiro entender o principal ensinamento de
Confúcio.
O confucionismo compõe-se de lições sobre ética sem conteúdo religioso, ou melhor, de
regulamentos práticos para a vida diária, que foram retirados da história chinesa, tais como
五达道 (wǔ dá dào) e 三达德 (sān dá dé) (Zhu, 2012: 27).
五达道 (wǔ dá dào) significa 'cinco avenidas de vida', ou seja, 'cinco princípios éticos
que todos devem respeitar'.
1. 君臣有义 (jūn chén yǒuyì): 'Cumprir a relação hierárquica entre o monarca e o
ministro';
2. 父子有亲 (fù zǐ yǒuqīn): 'Cumprir a obrigação devida entre pais e filhos';
3. 夫妇有别 (fū fù yǒubié): 'Cumprir as regras de casamento entre marido e mulher';
4. 长幼有序 (zhǎng yòu yǒuxù): 'Cumprir a ordem familiar entre idosos e jovens';
5. 朋友有信 (péng yǒu yǒuxìn): 'Cumprir as promessas entre amigos'.
Esses cinco regulamentos estão em completo acordo com o sistema hierárquico contido
no nome chinês que enfatizamos anteriormente. A submissão e a obediência à hierarquia
estão profundamente impressas na cultura tradicional chinesa e nos corações do povo chinês.
A ordem geral é colocar em primeiro lugar os homens mais velhos, seguidos dos homens
mais jovens e, a seguir, as mulheres mais velhas, depois as mulheres mais jovens. Isso é a
razão radical por que se usa o nome de família do pai como seu apelido, por que aparecem
60
árvores genealógicas e nomes de geração e por que algumas mulheres não têm nomes
próprios.
三达德 (sān dá dé) refere-se às três qualidades notáveis refletidas no cumprimento
das cinco normas éticas acima.
1. 知 (zhī): 'inteligência';
2. 仁 (rén): 'clemência';
3. 勇 (yǒng): 'ousadia'.
Essas excelentes qualidades são as boas expetativas dos pais para o futuro
desenvolvimento dos filhos, também são as bases teóricas para os pais darem às crianças
um nome que seja rico de significado.
61
Capítulo 4
O estado atual da atribuição e receção do
nome em português e chinês
62
4.1. Critérios atuais da seleção do nome em chinês
Há um ditado na China que diz “美名如美女 ” (měimíng rú měinǚ), o que quer
expressar que, 'tal como 'uma mulher com aparência bonita, voz suave e conhecimento
considerável' pode ser considerada uma verdadeira beleza, do ponto de vista da linguagem e
dos carateres, um bom nome também precisa de três características: primeiro, ter um
significado elegante; segundo, ter uma pronúncia melodiosa e terceiro, ter uma configuração
linda.
4.1.1. Semânticos ou relativos ao “poder” do nome
Prestar atenção à semântica é um costume tradicional do povo chinês. Em outras
palavras, em termos de costumes, os chineses habituam-se a nomear de acordo com os
significados dos carateres, isto é, de acordo com os diferentes conceitos estéticos, de os
diferentes desejos e vontades, as diferentes personalidades e afeições (Tian, 1998).
Portanto, pôr ênfase na semântica é o requisito mínimo para um bom nome completo.
Nomes criados após uma análise cuidadosa e uma seleção minuciosa têm principalmente as
seguintes características:
Em primeiro lugar, o sentido central tem de ser compreensível. O “sentido central” é o
núcleo que o nomeador quer expressar, ou seja, o princípio ou a conotação em esboço, mas
isso não quer dizer que a criação possa ser vulgar e pomposa. Os chineses não apenas
consideram o significado literal do nome como também atribuem uma grande importância ao
significado simbólico por detrás do caráter.
Por exemplo, 志坚 (zhì jiān) significa 'vontade de ferro'. Os pais querem que o seu
filho seja uma pessoa de mente forte no futuro; 秀丽 (xiù lì) significa 'beleza sem senão'. Os
pais querem que a sua filha seja uma pessoa muito bonita e afável.
Em segundo lugar, a combinação de 姓 (xìng, 'apelido') e 名 (míng, 'nome próprio')
tem de ser harmoniosa. Com o intuito de superar o problema de um nome vulgar, deve-se
diversificar a semântica do nome, isto é, deixar o nome versátil ou multidimensional. A
estrutura dos carateres que compõem o nome pode ser complicada e os 姓 podem estar
envolvidos nos termos para formar um relacionamento de múltiplas camadas.
63
Por exemplo, o nome 白雪 (Bái Xuě , 'neve branca') é uma combinação ótima de 姓
(xìng, 'apelido') e 名 (míng, 'nome próprio'). Como um 姓 (xìng, 'apelido') 白 (bái,
'branco') apenas pertence a um cor, não significa nada, mas a combinação dele com 雪
(xuě, 'neve') constitui um significado muito elegante, profundo e perfeito, 'branco como a
neve'. Quando as pessoas ouvirem esse nome terão prazer espiritual.
Pelo contrário, se não se considera a combinação, é fácil cometer um erro. Por exemplo,
o nome próprio mais comum entre o povo chinês é 虎 (hǔ, 'tigre'), que simboliza a coragem.
Se combinado com o apelido 马 (mǎ, 'cavalo'), o significado geral torna-se 'descuidado'.
4.1.2. Fonéticos ou estéticos
Em geral, um nome chinês é composto por dois ou três carateres. Cada caráter tem o
seu próprio tom, e quando se combinam determinados carateres chineses, produz-se um
efeito fonético geral. Se se substitui um ou alguns deles, o seu efeito provavelmente mudará
muito. Portanto, sentiremos que os nomes de algumas pessoas soam bem e outros nem por
isso. Às vezes os nomes são escritos, mas com mais frequência são chamados, então, o
ponto mais importante para um nome ser bom ou não é que a sua correspondência sonora
seja razoável. Isso requer que se preste atenção à fonética e à estética do nome.
O efeito de fala produzido pela combinação de 声母 (shēngmǔ, 'consoante inicial de
uma sílaba chinesa') e 韵母 (yùnmǔ, 'vogal simples ou composta de uma sílaba chinesa')
influencia diretamente a qualidade da pronúncia. Os especialistas acreditam que os carateres
com a mesma 声母 que são colocados juntos são um pouco difíceis de ler. Caso as 韵母
sejam as mesmas, o esforço será mais profundo(Regras básicas da ortografia chinesa de
pinyin, 2013). Os trava-línguas são baseados nesse princípio. Nomes como 南乃兰 (Nán
Nǎilán ), 李尼莉 (Lǐ Nílì ), 蔡纯宗 (Cài Chúnzōng), 孙存春 (Sūn Cúnchūn ), 俞玉竽
(Yú Yùyú ), 英莹映 (Yīng Yíngyìng ), etc., são muito parecidos com trava-línguas.
O som alto e poderoso está no último caráter do nome, então o nome fica mais
estentório e bonito. Se o som do caráter é alto ou não, isso depende da 韵母 (yùnmǔ, 'vogal
simples ou composta de uma sílaba chinesa').
Em baixo estão alguns dos carateres mais comuns com 韵母 (yùnmǔ, 'vogal simples
ou composta de uma sílaba chinesa') nasais:
64
(1) 前鼻音 (qián bíyīn , alveolar nasal)An: 安 (ān), 凡 (fán), 丹 (dān), 潭 (tán), 南 (nán), 兰 (lán), 占 (zhàn), 山 (shān),善 (shàn)Ian: 年 (nián), 连 (lián), 莲 (lián), 坚 (jiān), 建 (jiàn), 健 (jiàn), 前 (qián), 先 (xiān),仙 (xiān)Uan: 端 (duān), 观 (guān), 宽 (kuān), 欢 (huān), 焕 (huàn), 川 (chuān), 传 (chuán),拴 (shuān)Üan: 渊 (yuān), 原 (yuán), 源 (yuán), 元 (yuán), 园 (yuán), 娟 (juān), 全 (quán), 泉
(quán)En: 恩 (ēn), 芬 (fēn), 奋 (fèn), 根 (gēn), 珍 (zhēn), 贞 (zhēn), 真 (zhēn), 仁 (rén),森 (sēn)In: 宾 (bīn), 斌 (bīn), 民 (mín), 林 (lín), 金 (jīn), 琴 (qín), 芹 (qín), 新 (xīn), 欣
(xīn), 信 (xìn)Un: 伦 (lún), 纶 (lún), 昆 (kūn), 坤 (kūn), 春 (chūn), 纯 (chún), 存 (cún)Ün: 云 (yún), 芸 (yún), 运 (yùn), 蕴 (yùn), 军 (jūn), 均 (jūn), 群 (qún), 勋 (xūn)
(2) 后鼻音 (hòu bíyīn, velar nasal)Ang: 昂 (áng), 邦 (bāng), 芒 (máng), 方 (fāng), 芳 (fāng), 刚 (gāng), 章 (zhāng), 昌
(chāng)Iang: 良 (liáng), 梁 (liáng), 量 (liáng), 亮 (liàng), 江 (jiāng), 强 (qiáng), 香 (xiāng),湘 (xiāng)Uang: 旺 (wàng), 望 (wàng), 光 (guāng), 匡 (kuāng), 煌 (huáng, 庄 (zhuāng), 双
(shuāng)Eng: 鹏 (péng), 孟 (mèng), 梦 (mèng), 风 (fēng), 逢 (féng), 凤 (fèng), 登 (dēng), 衡
(héng)Ing: 英 (yīng), 平 (píng), 萍 (píng), 明 (míng), 婷 (tíng), 宁 (níng), 玲 (líng), 晶
(jīng), 青 (qīng)Ong: 东 (dōng), 同 (tóng), 龙 (lóng), 红 (hóng), 洪 (hóng), 宏 (hóng), 中 (zhōng), 忠
(zhōng)
(Jin, 2011: 73)
A primeira categoria acima é “alveolar nasal” e a segunda é “velar nasal” , que tem um
som mais alto que a anterior.
Além disso, precisa-se de ter cuidado com os quatro tons em chinês. O mandarim
salienta os 平仄 (píng zè , 'tons nivelados e oblíquos'), pois os nomes chineses têm de
respeitar a regra dos 平仄交错 (píngzè jiāocuò, 'tons nivelados e oblíquos alternados')
(Ding, 2009).
O primeiro tom é o mais agudo e constante, como o som da campainha. O segundo tom
sobe gradualmente, parecendo o tom da voz de quando perguntamos no dia-a-dia (ex:
porquê?). O terceiro tom começa baixo, fica mais baixo ainda e sobe até ao alto, como se
estivesse a entrar numa colina. Por fim, o quarto tom começa mais alto e desce rápido, como
quando se diz um palavrão (ex: fogo!).
65
Figura 5 Os quatro tons em chinês
Aplicam-se estas definições básicas na antroponímia. Por exemplo, os três carateres do
nome 李宇省 (Lǐ Yǔshěng ), são todos carateres de terceiro tom, portanto, não é muito
bonito de se ouvir, mas é mais apropriado se se mudar para 李语清 (Lǐ Yǔqīng ), que tem
os tons mistos.
4.1.3. Configuração dos carateres
Como elemento básico de um nome, a configuração dos carateres não é tão importante
como a semântica e a fonética. No entanto, se não se presta atenção à correspondência das
configurações ao nomear, o nome terá falta de beleza. Especialmente na escrita intuitiva, se
não for devidamente combinada, não se sentirá como um nome perfeito.
Os apelidos chineses diferem no número de traços, sendo os casos menores dois ou
três traços e, em muitos casos, dezenas deles. Portanto, deve-se tomar em conta a
combinação entre carateres de mais traços e menos traços ao nomear, a fim de obter beleza
visual.
A configuração dos carateres pode ser dividida em quatro categorias: carateres fortes,
carateres fracos, carateres cheios e carateres vazios.
Os carateres fortes trazem uma sensação animada, vigorosa e em desenvolvimento,
simbolizando o dinamismo e a vitalidade. Por exemplo: 炎 (yán), 成 (chéng), 威 (wēi),
66
豪 (háo), 容 (róng); Os carateres fracos conferem uma sensação macia, frágil e delicada,
simbolizando a debilidade, a delicadeza e a languidez. Por exemplo: 斗 (dòu), 平 (píng),
年 (nián), 市 (shì), 帛 (bó).
Os carateres cheios dão às pessoas uma sensação de plenitude e abundância, que
simboliza a riqueza e o poder. Por exemplo: 衢 (qú), 露 (lù), 穗 (suì), 风 (fēng), 基
(jī), 泰 (tài). O sentimento dos carateres vazios é livre e misterioso, simbolizando a falta de
habilidades práticas. Por exemplo: 几 (jǐ), 口 (kǒu), 门 (mén), 穴 (xué), 人 (rén), 方
(fāng).
A força e a fraqueza do nome frequentemente afetam a psicologia dos proprietários. A
partir da configuração do nome, é melhor combinar as quatro categorias dos carateres acima.
Ser demasiado forte, demasiado fraco, demasiado cheio e demasiado vazio não é o indicado
(Jin, 2011: 74).
4.2. Critérios atuais da seleção do nome em português
4.2.1. Lista de nomes permitidos em Portugal
A perceção atual dos nomes como modernos ou antiquados, bonitos ou feios é quase
sempre prioridade, mas o único problema é que o moderno e o bonito são sempre relativos.
Os brasileiros têm a mania de inventar nomes, colocar letras a mais e selecionar alguns
somente por estarem na moda. Por isso, é fácil encontrar alguns nomes muito estranhos. No
entanto, isso não costuma acontecer em Portugal, pois todos os cidadãos devem cingir-se à
lista dos nomes permitidos oficialmente (Padez, 2018: 10). Esta lista é grande e tem sido
atualizada ano após ano. Quando os pais forem registar um filho após o nascimento, no
Balcão Nascer Cidadão, devem obedecer à base de dados e escolher um nome que pertence
à lista de nomes permitidos. E o nome próprio não produz nenhuma dúvida relacionado com
o sexo da pessoa.
Pode-se consultar as informações mais completas no seguinte link: Nomes permitidos –
IRN.33
No momento da declaração de nascimento os pais podem escolher por acordo o nome dacriança. Este deve compor-se no máximo de seis vocábulos gramaticais (simples ou compostos)dos quais só dois podem corresponder ao nome próprio.
33 Fonte: Portal de Nascer Cidadão – IRN.
67
Os nomes próprios devem ser portugueses ou adaptados gráfica e foneticamente à LínguaPortuguesa e não devem suscitar dúvidas acerca do sexo. Existe uma lista de vocábulosadmitidos e não admitidos como nomes próprios que resulta de despachos a consultasformuladas.
Em conformidade com o resultado da pesquisa divulgada pelo Instituto dos Registos e
do Notariado de Portugal, na tabela abaixo estão os dez nomes mais comuns em Portugal.
Nomes femininos Nomes masculinos
Maria Santiago
Leonor Francisco
Matilde João
Beatriz Afonso
Carolina Rodrigo
Mariana Martim
Ana Tomás
Sofia Duarte
Francisca Miguel
Inês Gabriel
Tabela 9 Nomes mais populares em Portugal no ano de 201734
Além do mais, verifica-se agora um fenómeno interessante: os nomes estão a perder o
género. Várias celebridades têm colocado nomes de menino às filhas e vice-versa. Assim, as
crianças ficam mais livres de estereótipos.
Em Portugal, os nomes neutros também se chamam “nomes unissexo”, ou seja,
aqueles que servem tanto para nomear pessoas do sexo feminino como do sexo masculino,
assim como Alex, que significa 'protetor do homem' ou 'defensor da humanidade'; Iris, que
significa 'mensageira' ou 'arco-íris'.
A razão por que as pessoas preferem escolher um nome unissexo para os seus filhos
prende-se em parte com a busca da igualdade entre os géneros e em parte com a sonoridade,
ou mesmo com o significado que contemplam.
34 Fonte: Instituto dos Registos e do Notariado de Portugal.
68
Numa entrevista com o Professor Ivo Castro no jornal eletrónico português Observador,
a lei portuguesa diz que o nome tem de ser explícito quanto ao sexo do registando, o que
significa que os nomes que não têm género evidente também não são atribuíveis. Às vezes,
só pelo recurso à gramática não se dá indicação completa sobre o sexo do proprietário do
nome, precisa-se de saber mais informações, porque os portugueses também usam o nome
masculino para chamar a uma mulher em situações informais, assim como a João, o Maria,
baseando-se nos seus entendimentos e compreensões anteriores. Claro que, para distinguir,
um titular será adicionado antes do nome, tal como a excelentíssima, o arquiteto...
Existem, porém, nomes masculinos ou nomes femininos construídos a partir do nome
de outro género, por exemplo, o nome Rito pertence à forma masculina fundado em Rita, o
nome Joana é forma feminina fabricada a partir de João, etc.
4.2.2. Inspiração para o nome perfeito
A inspiração para o nome perfeito pode envolver uma variedade de conhecimentos.
Tradição cultural; herança familiar; confissão religiosa; preferências pessoais; tendências em
voga; nomes curtos, nomes compostos; exotismo e grau de raridade ou vulgaridade do nome;
ordem alfabética, entre outros. Existe uma infinidade de fontes de inspiração (Belo, 1995).
Em primeiro lugar, é necessário dar atenção aos critérios semânticos ou relativos ao
“poder” do nome.
O modelo de excelência é que o nome pode expressar o que se procura na vida. Afinal,
o nome é o símbolo específico dado pelo indivíduo e dá sempre a primeira impressão nas
pessoas, além de conter os desejos e as esperanças auspiciosas dos pais.
Por exemplo, se um casal quer que o seu filho se torne um atleta na idade adulta, pode
escolher um nome que tem relação com a força física e agilidade; se um casal quer que a
sua filha se torne uma professora, pode escolher um nome relacionado com a habilidade
cultural e a sinceridade.
Em segundo lugar, é necessário dar atenção à combinação com o nome de família, e é
melhor ter em conta a correspondência com o grau de raridade ou vulgaridade.
Se alguém tem um nome de família mais comum, tal como Silva (9.44%), Santos
(5.96%), Ferreira (5.25%), pode escolher um nome um pouco menos frequente para fazer
uma combinação agradável.
Agora, os pais da sociedade moderna pertencem à era da informatização, podendo
69
consultar on-line no Google quantos homónimos os filhos terão antes de os nomear. Se a
ocorrência for muito alta, isso prova que o nome é demasiado vulgar, e o melhor será mudar
para outro. Também precisam de verificar se existe redundância, como Maria Mariana,
Fernanda Fernandes. Se realmente não gostam desse tipo de cacofonia que forma a
expressão, com sons desagradáveis ou ambíguos, o melhor é mudar para outros.
Além do mais, precisam de pensar nos possíveis apelidos, pois há muitos casos em que
alguém é chamado pelo apelido em vez do nome próprio (o Teixeira, a Barros).
Por outro lado, os nomes próprios são frequentemente reduzidos a hipocorísticos ou
nomes familiares. Beatriz, por exemplo, habitualmente vira Bia, mesmo que as pessoas
insistam no nome original. Então, é necessário imaginar todos os resultados que com os
apelidos irão formar.
Em terceiro lugar, deve-se prestar atenção à grafia e à estética.
A grafia do nome mostra-se muito importante e por isso merece atenção por parte dos
progenitores, por exemplo, se o nome da criança for muito extenso irá tornar-se mais difícil e
redundará num processo mais demorado para esta conseguir escrever o seu nome completo.
Também se deve ter em conta a primeira letra do nome, pois em Portugal há muitos casos
em que os nomes surgem por ordem alfabética, como no caso dos exames nacionais. Nos
exames nacionais em Portugal os alunos são distribuídos em salas por ordem alfabética, e
aos alunos cujo nome surge no início do abecedário ser-lhes-á atribuído um professor em
primeiro lugar. Nos exames nacionais de 2013 estima-se que cerca de 90% dos professores
fizeram greve, os alunos encontravam-se na sala de aula para realizar o exame, no entanto,
só aqueles cujo nome surgia no início do abecedário tiveram um professor a vigiar a sala,
enquanto os alunos cujo nome aparece no fim tiveram que fazer o exame noutro dia por
causa da falta de professores. A própria distribuição nas salas de aula é habitualmente feita
começando pelos nomes iniciados por a, pelo que as crianças e jovens do início do alfabeto
poderão ter melhor visibilidade e proximidade do quadro e da frente da sala.
Além disso, também as bibliografias estão dispostas por ordem alfabética, aqueles cujo
o nome começa com a letra “A” têm vantagem sobre os outros, pois aparecem em primeiro
lugar, tornando mais fácil e mais curta a procura.
No que diz respeito à estética, têm que atentar na sigla — as letras iniciais de diversas
palavras. Nunca formar acidentalmente uma expressão com significado malquisto. Por
exemplo, o nome Rui Alexandre Tavares Oliveira forma a sigla RATO, o nome Diana Inês
70
Amaral Barroso de Oliveira, DIABO. Atualmente, as pessoas são cada vez mais identificadas
pelas iniciais, especialmente nas empresas, escolas ou agências, portanto, esse pequeno
detalhe não deve ser ignorado.
Em quarto lugar, deve-se decidir se se quer ou não seguir os critérios de respeito pelos
antepassados e pela tradição.
Em Portugal há muitas famílias que têm a tradição de dar determinado nome, e alguns
nomes são herdados de geração para geração. Contudo, o século XXI é uma era com mentes
muito abertas, e os portugueses, que estão na vanguarda das tendências da moda, não
gostam de obediência completa, estando mais dispostos a seguir os seus próprios
pensamentos. Para corresponder à pressão de seguir o comportamento familiar mas
também considerar os seus desejos, a melhor solução é usar o nome tradicional da família
como nome do meio.
Em quinto lugar, deve-se atentar se a fonética corresponde à esperança inicial.
Existem muitas maneiras de verificar a sua escolha, por exemplo, repetir o nome
centenas de vezes antes de tomar a decisão final; deixar as pessoas ao redor ouvir a
pronúncia para avaliarem se há algo errado. De qualquer modo, um exercício ótimo é utilizar
as mais variadas entonações e sentidos, com o objetivo de ver se a sonoridade causa agrado
e satisfação.
Em sexto lugar, deve-se ter em atenção que às vezes o exotismo do nome é favorável,
mas outras vezes não. Os benefícios são conhecidos por serem rápidos e fáceis de lembrar e
impressionar em comparação com os nomes comuns. A desvantagem é que, devido à sua
raridade, em muitos casos é fácil tornar-se objeto de atenções. Investigações indicam que as
crianças com nomes “estranhos” são facilmente alvo de brincadeiras de mau gosto nas
escolas durante a infância. Isso tem um grande impacto no crescimento normal da criança.
Finalmente, há que salientar que a tendência do nome é sempre um círculo. Então não
há necessidade de escolher um nome só porque já ninguém se chama assim, ou seja, gostar
de qualquer nome que parece em desuso. A moda está sempre em mudança: os nomes
populares podem ser impopulares um dia, e os nomes impopulares também podem ser
populares um dia. Joaquim, por exemplo, já foi considerado um nome fora de moda e depois
retornou com tudo. Isso muda e não pode ser um fator determinante.
71
Conclusão
72
A dissertação que neste momento concluo tem como objetivo dar um contributo, ainda
que geral e pouco aprofundado, para o estudo da evolução da cultura antroponímica em
português e chinês.
Uma língua, como um corpo vivo, que não é estático e fechado, apresenta sempre
variação e mudança, a vários níveis. Desde logo variação social, geográfica e cronológica, ou
seja, variação diastrática, diatópica e diacrónica, respetivamente, as quais são três
manifestações concretas dos fenómenos de mudança linguística. A mudança é um processo
inerente à própria língua natural humana, mas não é só o sistema linguístico que evolui,
também evoluem aqueles que o usam. Sendo a antroponímia um dos mais importantes
recursos verbais humanos, também nessa área existe variação e mudança, embora os
nomes fixem frequentemente palavras comuns da língua.
A antroponímia revela-nos aspetos interessantes de civilizações anteriores e das suas
instituições, na medida em que os nomes são frequentemente concebidos sob o influxo
religioso, político, social e histórico, sob as mais variadas circunstâncias, deixando
transparecer o espírito das sociedades de diferentes épocas e lugares. Portanto, podemos
dizer que estudar a antroponímia e a mudança ou desenvolvimento da linguagem é
inseparável.
Nas origens dos apelidos em português e chinês ambos oferecem exemplos que
derivam de ocupações ou profissões, da toponímia, de posições oficiais, etc. O tributo do
imperador chinês e o batismo do papa português também têm efeitos em comum. Entretanto,
na cultura portuguesa há exemplos de apelidos que descrevem as características físicas,
enquanto na cultura chinesa existem apelidos que representam feudos e tribos.
A antroponímia constitui-se como um tópico que tem relação com os estudos
lexicológicos e é um recurso indispensável para reatar o fio do sistema lexical pretérito. Nesse
entendimento, o vocabulário relevante da antroponímia dá dicas e probabilidades que
permitem investigar o modo como o estágio histórico específico evidenciava o seu sistema de
nomeação e os vários ângulos da situação social para a qual o nome pode remeter. A
mudança histórica envolve inevitavelmente a capacidade de compreensão e aceitação de
práticas que concretizem o desejo de transformação, não apenas o aperfeiçoamento e o
desenvolvimento, como também a decadência e a regressão. Em outras palavras, não
importa como é a situação posterior, para que a mudança aconteça, as pessoas precisam de
ser sensibilizadas para ela. Foi nesse contexto que surgiu o segundo capítulo, tendo por
73
objetivo avaliar como se caracteriza o processo de construção, adoção e difusão dos nomes
nos diferentes períodos e as possíveis implicações sociais e culturais expressas através da
classificação e identificação da antroponímia.
A ordem dos nomes completos em português e em chinês é diferente, mas a
composição é o apelido mais o nome próprio. Ao mesmo tempo, pode-se descobrir que a
discriminação de género incorporada na composição do nome, ou seja, a mulher após o
casamento deve seguir o apelido do marido, melhorou com o desenvolvimento do movimento
de libertação das mulheres. Além disso, em chinês, o uso de “geração” como nome é único,
ao passo que o uso do nome do meio em nomes portugueses é exclusivo.
As profundas conotações culturais refletidas na antroponímia estão intimamente
relacionadas com mudanças históricas, e ambientes históricos e culturais específicos
produzem tendências diferentes, o que é fator de semelhança entre os dois. No entanto,
devido às diferenças de fonte cultural, os significados abordados são muitas vezes desiguais.
Quase todos os lugares do mundo exprimem atitudes, comportamentos e valores que
diferem de outros lugares. É por esse motivo que cada sociedade tem uma cultura particular.
Existem muitos estudos sobre as diferenças culturais, e a esse respeito é necessário falar de
Hofstede, o grande psicólogo holandês criador da teoria das cinco dimensões de cultura.
As análises de Hofstede comprovaram que algumas características da cultura inerente a
alguns países e regiões afetam o comportamento diário da sua sociedade e organização, e
que o impacto é persistente ao longo do tempo. As características são padrões culturais,
também chamados dimensões culturais.
Há cinco dimensões de cultura. A primeira delas é o individualismo versus coletivismo.
A segunda, a aversão à incerteza, a terceira, a distância relativamente ao poder, a quarta, a
masculinidade versus feminilidade. Há ainda a orientação de curto prazo versus longo prazo.
As sociedades diferentes podem pontuar alto ou baixo em cada dimensão devido às suas
características ou comportamentos. Com base nas cinco dimensões, podemos analisar a
cultura antroponímica em português e chinês, o que deu a inspiração para o terceiro capítulo
deste trabalho.
Depois de identificarmos as semelhanças e diferenças entre a tradição antroponímica
portuguesa e a chinesa, não só em termos linguísticos, mas também históricos e
socioculturais, ainda nos centrámos nas preferências e tabus das pessoas em relação às
denominações de hoje e na influência das crenças religiosas, ambiente ecológico, costumes
74
especiais, gostos estéticos e formas de pensamento na evolução dos nomes.
Ao simplesmente analisar as semelhanças e diferenças entre a cultura antroponímica
em português e em chinês, espero ter fornecido informações que ajudem a aprofundar a
compreensão das duas línguas e culturas e a promover uma comunicação, integração e
fusão de culturas.
Por fim, retomando o começo desta conclusão, espero que outros investigadores
venham a aprofundar estes tópicos, uma vez que a “cultura antroponímica” merece um
estudo mais amplo e que, no âmbito dos estudos comparativos luso-chineses, não existe
ainda grande apoio bibliográfico a este respeito, o que determinou que o meu trabalho fosse
apenas uma primeira abordagem do assunto.
75
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A relação entre os nomes chineses e a cultura chinesa
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20 princípios para os chineses tomarem nomes
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Nomes neutros: é para o menino e para a menina
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