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MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA Síndrome de Lynch – Diagnóstico e Programas de Vigilância Mariana de Oliveira Sá M 2018

MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA Síndrome de Lynch ... · Introdução – A Síndrome de Lynch é uma doença de transmissão autossómica dominante que se caracteriza por uma elevada

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MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA

Síndrome de Lynch – Diagnóstico e Programas de Vigilância

Mariana de Oliveira Sá

M 2018

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Artigo de Revisão Bibliográfica

Mestrado Integrado em Medicina

Síndrome de Lynch – Diagnóstico e Programas de

Vigilância

Estudante

Mariana de Oliveira Sá

6º ano do Mestrado Integrado em Medicina do ICBAS-CHP

Nº de aluno: 201206646

Correio Eletrónico: [email protected]

Orientador

Maria da Glória Silva Ferreira

Assistente de Oncologia do Centro Hospitalar do Porto

Professor Auxiliar de Medicina II do MIM do ICBAS-CHP

Coorientador

Ricardo Marcos Pinto

Assistente de Gastroenterologia do Centro Hospitalar do Porto

Professor Assistente do MIM do ICBAS-CHP

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar

Universidade do Porto

Rua de Jorge Viterbo Ferreira, nº228, 4050-313 Porto, Portugal

Porto, maio de 2018

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Artigo de Revisão Bibliográfica

Mestrado Integrado em Medicina

Síndrome de Lynch – Diagnóstico e Programas de

Vigilância

Assinatura do estudante:

Assinatura do orientador:

Assinatura do coorientador:

Porto, maio de 2018

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Agradecimentos Manifesto o meu agradecimento à Dr.ª Glória Ferreira, orientadora da tese, por ter aceite

fazer parte deste projeto e por toda a confiança transmitida desde o primeiro momento.

Agradeço ao Dr. Ricardo Pinto, por toda a orientação e disponibilidade demonstradas

durante a elaboração deste trabalho. Por todos os esclarecimentos prestados, críticas

e conselhos.

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ii

Dedicatória

Dedico este trabalho à minha família e aos meus amigos, pelo apoio incondicional ao

longo destes seis anos de curso. Pela presença constante e por me manterem sempre

racional nos momentos mais difíceis.

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Resumo

Introdução – A Síndrome de Lynch é uma doença de transmissão autossómica

dominante que se caracteriza por uma elevada predisposição para cancro colorretal e

diversas neoplasias extra-cólicas, particularmente ao nível do endométrio. Estes

tumores surgem tipicamente em idade precoce e associam-se a um elevado risco de

desenvolvimento de lesões síncronas e metácronas. A identificação dos indivíduos em

risco é essencial uma vez que possibilita a implementação de programas de vigilância

intensiva, medidas profiláticas e aconselhamento genético, permitindo a redução da

morbimortalidade associada.

Objetivos – Pretende-se com esta revisão bibliográfica realizar um levantamento dos

conhecimentos mais recentes acerca da abordagem do doente com Síndrome de Lynch.

Será dada especial importância aos métodos de diagnóstico clínicos e moleculares

existentes, programas de vigilância atualmente em vigor, medidas preventivas,

aconselhamento genético e prognóstico dos doentes afetados.

Desenvolvimento – A presença de mutações germinativas em genes de reparação do

DNA constitui a alteração genética típica da Síndrome de Lynch e tem como

consequência o desenvolvimento de instabilidade de microssatélites. O estudo

molecular no sangue periférico é bastante dispendioso e demorado para ser utilizado

como abordagem diagnóstica de primeira linha, pelo que existem métodos de

“pré-triagem” que permitem identificar indivíduos em risco. Esses métodos variam em

termos de sensibilidade e especificidade e incluem critérios clínicos, modelos preditivos

e análise genética do tecido tumoral com pesquisa de instabilidade de microssatélites e

testes de imuno-histoquímica. Várias abordagens diagnósticas têm sido estudadas de

forma a possibilitar uma maior capacidade de deteção da doença. De igual forma,

tem-se debatido acerca do benefício em implementar diversas medidas preventivas,

como a vigilância endoscópica regular para rastreio de cancro colorretal, ecografia

endovaginal, biópsia endometrial, cirurgia ginecológica profilática, entre outras.

Conclusão – A adoção de uma estratégia universal como método de diagnóstico da

Síndrome de Lynch tem ganho popularidade em relação à seleção inicial por critérios

clínicos e poderá ser implementada a curto prazo. Esta estratégia pressupõe que todos

os indivíduos com cancro colorretal diagnosticado de novo sejam submetidos ao estudo

genético do tecido tumoral para identificação de defeitos em proteínas de reparação do

DNA, com possibilidade de indicação posterior para pesquisa de mutação germinativa.

A vigilância com colonoscopia periódica e a cirurgia ginecológica profilática são as

únicas medidas que comprovadamente se associam a um aumento da sobrevida em

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indivíduos com Síndrome de Lynch. Esta última medida não é obrigatória, devendo ser

discutida de forma individualizada com todas as mulheres que não pretendem mais

engravidar.

Palavras-chave

Síndrome de Lynch; Cancro Colorretal Hereditário Não Polipóide; Teste Genético;

Instabilidade de Microssatélites; Deteção Precoce de Cancro; Aconselhamento

Genético; Defeitos na Reparação do DNA.

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Abstract

Introduction – Lynch Syndrome is an autosomal dominant genetic condition with a high

predisposition to colorectal cancer and various extra-colonic neoplasms, particularly at

the endometrium level. These tumors typically appear at early ages and are associated

with a high risk of developing synchronous and metachronous lesions. Identification of

at-risk individuals is essential as it enables the implementation of intensive surveillance

programs, prophylactic measures and genetic counseling, which allow the reduction of

associated morbidity and mortality.

Objectives – The main goal of this bibliographic review is to present an overview of the

most recent knowledge about the approach of the patient with Lynch Syndrome. Special

emphasis will be placed on existing clinical and molecular diagnostic methods,

surveillance programs currently in place, preventive measures, genetic counseling and

prognosis of affected patients.

Development – Germline mutations in DNA repair genes are the typical genetic

modifications in individuals with Lynch Syndrome and lead to the development of

microsatellite instability. Molecular study in peripheral blood is too expensive and

time-consuming to be used as a first-line approach. Therefore, there are "pre-screening"

methods that are useful to identify individuals at risk. These methods vary in sensitivity

and specificity and include clinical criteria, predictive models and genetic analysis of

tumor tissue with microssatelite instability and immunohistochemistry tests. Several

diagnostic approaches have been studied in order to improve disease detection.

Likewise, there has been debate about the benefit of implementing several preventive

measures, such as regular endoscopic surveillance for colorretal cancer, endovaginal

ultrasound, endometrial biopsy, prophylactic gynecological surgery, among others.

Conclusion – Universal screening has gained popularity over the initial selection by

clinical criteria and may be implemented in the near future as a method to identify

individuals with Lynch Syndrome. According to this strategy, all individuals with newly

diagnosed colorretal cancer are submitted to genetic tests in the tumor tissue to identify

defects in DNA repair proteins, with the possibility of subsequent indication to search for

the germline mutation. Periodic colonoscopy and prophylactic gynecological surgery are

the only measures that are proven to be associated with an increase in survival in

individuals with Lynch Syndrome. This last measure is not mandatory and should be

discussed in an individualized manner with all women who do not intend to become

pregnant anymore.

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Keywords

Colorectal Neoplasms, Hereditary Nonpolyposis; Genetic Testing; Microsatellite

Instability; DNA Mismatch Repair; Early Detection of Cancer; Genetic Counseling

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Lista de abreviaturas

CCH – Cancro Colorretal Hereditário

CCHNP – Cancro Colorretal Hereditário Não Polipóide

CCR - Cancro Colorretal

CE – Cancro do Endométrio

CG – Cancro Gástrico

EPCAM – Epithelial Cell Adhesion Molecule

IHQ – Imuno-histoquímica

IMS – Instabilidade de Microssatélites

MMR – Mismatch Repair

MLH1 – MutL Homolog 1

MSH2 – MutS Homolog 2

MSH6 – MutS Homolog 6

PAF – Polipose Adenomatosa Familiar

PMS2 – Post Meiotic Segregation Increased 2

SL – Síndrome de Lynch

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viii

Índice

Agradecimentos ............................................................................................................. i

Dedicatória ................................................................................................................... ii

Resumo ........................................................................................................................ iii

Palavras-chave ............................................................................................................ iv

Abstract ........................................................................................................................ v

Keywords ..................................................................................................................... vi

Lista de abreviaturas ................................................................................................... vii

Índice .......................................................................................................................... viii

1. Introdução ................................................................................................................. 1

2. Objetivos ................................................................................................................... 3

3. Metodologia .............................................................................................................. 3

4. Base genética ........................................................................................................... 4

5. Manifestações clínicas .............................................................................................. 5

5.1 Cancro colorretal ......................................................................................... 5

5.2 Cancro ginecológico .................................................................................... 5

5.3 Cancro gástrico ........................................................................................... 6

5.4 Outros cancros ............................................................................................ 6

5.5 Variantes da Síndrome de Lynch ................................................................. 7

6. Correlações genótipo-fenótipo ................................................................................. 8

7. Estratégias de diagnóstico ....................................................................................... 9

7.1 Critérios clínicos .......................................................................................... 9

7.2 Modelos preditivos .................................................................................... 10

7.3 Estudo genético do tecido tumoral ............................................................ 11

7.4 Estratégias seletivas vs. Estratégia universal ............................................ 12

8. Programas de vigilância e medidas preventivas ..................................................... 13

8.1 Cancro colorretal ....................................................................................... 13

8.2 Cancro ginecológico .................................................................................. 15

8.3 Outros cancros .......................................................................................... 15

8.4 Quimioprevenção ...................................................................................... 16

8.5 Estilo de vida e fatores ambientais ............................................................ 16

9. Aconselhamento genético ....................................................................................... 16

10. Tratamento ........................................................................................................... 17

11. Conclusão ............................................................................................................. 18

Anexos ....................................................................................................................... 20

Referências bibliográficas ........................................................................................... 23

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1. Introdução

O cancro colorretal hereditário (CCH) é responsável por cerca de 30% de todos os casos

de cancro colorretal (CCR) diagnosticados.(1) Comparativamente aos casos

esporádicos, estes tumores surgem tipicamente em idades precoces e associam-se a

um elevado risco de recorrência e de desenvolvimento de neoplasias múltiplas.(1,2)

A Síndrome de Lynch (SL) constitui a forma mais comum CCH, contribuindo para

aproximadamente 3% de todos os casos de CCR diagnosticados.(3) Adicionalmente,

confere risco acrescido para a ocorrência de diversas neoplasias extra-cólicas, que

podem surgir como manifestação inicial ou após o primeiro diagnóstico de CCR. Os

locais acometidos incluem o endométrio, estômago, ovários, intestino delgado, vias

biliares, vias urinárias, glândulas sebáceas, sistema nervoso central, entre outros.(3-7)

Trata-se de uma doença subdiagnosticada, com aproximadamente 90% de casos não

identificados.(8)

As primeiras descrições de agregação familiar entre CCR, cancro gástrico (CG) e cancro

do endométrio (CE) foram realizadas em 1966, pelo Dr. Henry T. Lynch, tendo sido

atribuída a designação de Cancer Family Syndrome a essa condição.(7)

O termo Lynch Syndrome surgiu em 1984, sendo atualmente atribuído a indivíduos que

apresentam alterações genéticas típicas, nomeadamente mutações germinativas num

dos quatro genes de reparação de DNA (Mismatch repair genes - MMR genes) – MutL

Homolog 1 (MLH1), MutS Homolog 2 (MSH2), MutS Homolog 6 (MSH6) e Post Meiotic

Segregation Increased 2 (PMS2) – ou deleções do gene EPCAM (Epithelial Cell

Adhesion Molecule). A doença apresenta um padrão de transmissão autossómico

dominante, sendo que a expressão fenotípica requer a ocorrência de uma segunda

mutação somática (Two-Hit Hypothesis), com consequente inativação dos dois alelos e

perda de expressão do gene afetado. A penetrância é variável e depende de fatores

genéticos e ambientais.(3, 7-9)

A expressão “Cancro Colorretal Hereditário Não Polipóide” (CCHNC) é utilizada para

identificar indivíduos que cumprem com determinados critérios clínicos,

independentemente da presença ou ausência de alterações genéticas típicas. Esta

condição requer a exclusão de outra doença responsável por CCH – a Polipose

Adenomatosa Familiar (PAF) – a qual conta com a presença de pelo menos 100 pólipos

adenomatosos colorretais.(7,8)

O risco global de CCR para indivíduos com SL varia de 52% a 82%, com idade média

de diagnóstico entre os 44 e os 61 anos. Nas mulheres, o risco de CE varia entre 25%

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e 60%, sendo geralmente diagnosticado entre os 48 e os 62 anos.(10) O risco de

desenvolvimento das restantes neoplasias associadas à SL é bastante menor, mas,

ainda assim, superior quando comparado com a população geral.(3-5)

Tumores com defeitos em proteínas de reparação do DNA demonstram um fenótipo

típico caracterizado pela presença de instabilidade de microssatélites (IMS), o qual se

encontra presente em mais de 90% dos casos de CCR em contexto de SL. No entanto,

a IMS pode também ser detetada em 10 a 15% dos casos de CCR esporádico. Outra

característica típica destes tumores consiste na ausência de expressão de uma ou mais

das referidas proteínas em testes de imuno-histoquímica (IHQ). Assim, o estudo

genético do tecido tumoral com pesquisa de IMS e testes de IHQ constitui um método

importante para identificar indivíduos em risco. (3, 7-9)

Apesar de, ao longo do tempo, se ter verificado uma preocupação crescente em

aprimorar várias estratégias para o diagnóstico da SL, a seleção ótima dos indivíduos

para realização de estudo genético do tecido tumoral e para pesquisa de mutação

germinativa ainda não se encontra bem estabelecida.(3,7,9)

No contexto da SL, a progressão para cancro não é inexorável, dada a penetrância

incompleta da doença e a existência de programas de vigilância e medidas preventivas

que se associam a um aumento da sobrevida. Assim, a identificação precoce das

famílias em risco é de extrema importância.(2,3)

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2. Objetivos

Constituem objetivos desta revisão bibliográfica:

• Obter conhecimento detalhado acerca da etiologia e manifestações clínicas da

Síndrome de Lynch;

• Compreender a importância dos vários métodos de diagnóstico atualmente

disponíveis e as vantagens e desvantagens das estratégias que podem ser

implementadas para a deteção da doença;

• Rever os programas de vigilância e de seguimento atualmente em vigor;

• Avaliar a importância do aconselhamento genético.

3. Metodologia

Para a realização desta revisão bibliográfica foi efetuada uma pesquisa na base de

dados eletrónica PubMed-MEDLINE, com recurso aos termos MeSH do Index Medicus

anteriormente mencionados. No sentido de obter uma bibliografia mais direcionada,

foram associados diversos subtópicos de pesquisa, nomeadamente etiology, genetics,

diagnosis, prevention and control, entre outros. A pesquisa foi restringida aos últimos

oito anos e às línguas inglesa e portuguesa. Foram incluídos artigos publicados entre

2010 e 2018, nomeadamente artigos científicos originais e guidelines de sociedades

científicas europeias e americanas. O recurso a artigos de revisão foi feito pontualmente.

As referências citadas nos artigos selecionados foram também revistas para identificar

fontes de pesquisa adicionais.

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4. Base genética

A SL caracteriza-se pela presença de mutações germinativas em MMR genes, os quais

são responsáveis pela produção de proteínas que identificam e corrigem erros de

replicação que ocorrem durante a divisão celular. Alterações na função dessas proteínas

favorecem a acumulação sucessiva de erros nas células das gerações seguintes,

predispondo ao aparecimento de sequências repetitivas de DNA, denominadas

microssatélites, que conferem instabilidade ao genoma e risco aumentado de

transformação maligna e desenvolvimento de cancro.(3,8,9)

Os principais genes envolvidos são o MLH1, MSH2, MSH6 e o PMS2. As mutações nos

genes MLH1 e MSH2 são as mais frequentes, podendo contribuir para até 90% de todos

os casos. Mutações no gene MSH6, por seu lado, correspondem a cerca de 10% da

totalidade.(3,7,9) As mutações que ocorrem no gene PMS2 são pouco frequentes,

podendo ser encontradas em até 6% dos doentes com SL.(3,9,11)

A deleção do codão terminal do gene EPCAM constitui, de igual forma, uma alteração

genética típica da SL.(3,7) Tal como se verifica para os MMR genes, é necessária a

ocorrência de uma mutação ao nível das células germinativas e de um segundo evento

somático com consequente inativação dos dois alelos.(12) Essa deleção conduz à

metilação do promotor do gene MSH2, localizado a montante, resultando no

silenciamento deste último e perda de função nos tecidos no qual é expresso. Esta

condição pode ser responsável por até 6,3% dos casos de SL.(7,12)

Existem várias alterações genéticas somáticas que podem mimetizar a SL, uma vez que

cursam com defeitos em proteínas de reparação do DNA.(13)

A hipermetilação do promotor do gene MLH1 é responsável pelo aparecimento de IMS

em aproximadamente 12% dos casos de cancro esporádico.(3) Por outro lado, o

silenciamento do gene MLH1 pode também decorrer de mutações somáticas no gene

BRAF – mutação V600E - as quais são encontradas em 15% dos casos de CCR

esporádico. A pesquisa desta mutação em pacientes com ausência de expressão do

gene MLH1 é de extrema importância, uma vez que permite identificar casos de CCR

esporádico associado a IMS.(3,8,9,14) Por outro lado, sabe-se também que mutações

somáticas que afetam os dois alelos dos genes MLH1 e MSH2 podem estar presentes

em indivíduos com CCR e CE, cujos tumores são positivos para IMS, na ausência de

mutações germinativas ou hipermetilação do promotor.(15) A correta identificação destes

casos é importante porque permite reduzir o número de pacientes que são referenciados

para aconselhamento genético e para pesquisa de mutação germinativa.

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De acordo com um estudo muito recente, a hipermetilação constitutiva do promotor do

gene MLH1 pode também constituir um mecanismo responsável pela base genética da

SL, em indivíduos que não expressam a referida proteína no tecido tumoral e que não

apresentam a mutação germinativa nem a mutação BRAF.(16)

5. Manifestações clínicas

5.1 Cancro colorretal

O aparecimento de CCR em idade precoce constitui a principal consequência clínica da

SL. Foi estimado um risco cumulativo, aos 70 anos de idade, de 41% para o gene MLH1

e de 48% para o gene MSH2, enquanto mutações no gene MSH6 se associam a um

risco substancialmente menor.(17) Apesar de estes tumores se localizarem tipicamente

ao nível do cólon direito, eles podem também surgir numa localização mais distal,

especialmente em mulheres.(18) O risco de CCR a curto prazo é altamente dependente

da idade, verificando-se um aumento muito rápido desse risco até à meia idade.(19) A

lesão precursora consiste num pólipo adenomatoso, caracterizado por um elevado grau

de displasia e por uma histologia vilosa.(3) A taxa de progressão para carcinoma é

bastante superior quando comparada ao CCR esporádico, tendo sido estimado um

período de 36 meses(18), o que justifica a necessidade de realizar vigilância endoscópica

em intervalos mais curtos comparativamente à população geral. O CCR do espectro da

SL caracteriza-se tipicamente pela presença de IMS, associando-se a um melhor

prognóstico quando comparado aos casos esporádicos.(20)

5.2 Cancro ginecológico

O CE é o segundo tumor mais frequente na SL, apresentando um risco cumulativo

altamente variável que se encontra na dependência do gene mutado.(3)

Foi estimado que uma mulher com SL que apresente CCR como manifestação inicial e

que não realize histerectomia como medida preventiva apresenta um risco global de

cerca de 25% de desenvolver CE dentro de 10 anos.(21)

O risco de CE encontra-se de igual forma dependente de fatores hormonais, como a

idade da menarca, a paridade e o uso de contraceção hormonal. A relação observada

é a mesma que se verifica para a população geral, sendo que o risco é menor perante

uma menarca tardia, paridade (pelo menos um filho) e utilização de contraceção

hormonal durante pelo menos um ano.(22)

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Mulheres com SL apresentam um risco estimado de desenvolver cancro do ovário de

9%(25), sendo que estes tumores são tipicamente diagnosticados em estadios precoces

e apresentam bom prognóstico.(23,24)

5.3 Cancro gástrico

Indivíduos com SL apresentam risco acrescido de CG, tendo sido estimado um valor de

cerca de 5% aos 70 anos de idade.(25) Esse risco encontra-se particularmente associado

a mutações nos genes MLH1 e MSH2 comparativamente ao gene MSH6.(5,26) Apesar do

tipo mais frequente ser o adenocarcinoma gástrico, até cerca de 20% dos casos de

cancro gástrico relacionado com a SL pode ser do tipo difuso.(26) Para além disso,

sabe-se que o risco global é também dependente da área geográfica, sendo superior

em regiões onde a incidência de Helicobacter pylori é mais elevada, o que sugere uma

grande contribuição de fatores ambientais.(25)

5.4 Outros cancros

A SL confere, de igual forma, risco aumentado para cancro do intestino delgado, vias

biliares, vias urinárias, glândulas sebáceas, cérebro, mama, próstata e pâncreas. (3-5)

O cancro do intestino delgado ocorre tipicamente ao nível do duodeno e do jejuno, sendo

raro para mutações no gene MSH6.(5,25) Em portadores de mutações nos genes MLH1

e MSH2, foi estimado um risco de aproximadamente 5% para o seu desenvolvimento.(25)

O risco estimado de cancro das vias biliares não excede os 2%, surgindo mais

frequentemente em homens e depois dos 50 anos de idade.(17,27)

Relativamente às vias urinárias, os cancros mais frequentes ocorrem ao nível das

células de transição do ureter e pelve renal.(25) Existe também evidência de risco

acrescido para cancro da bexiga, particularmente em portadores de mutações nos

genes MSH2.(5,28)

Embora a prevalência de tumores sebáceos - adenomas, epiteliomas, carcinomas e

queratoacantomas - seja baixa na população geral, a sua associação com a SL

encontra-se bem estabelecida, sendo que mutações nos genes MSH2 e MSH6 parecem

ser as mais comuns.(3,29) Nos casos em que a lesões demonstram hiperplasia não parece

haver relação com defeitos em MMR genes. (29)

O tipo mais frequente de tumor cerebral encontrado em doentes com SL é o

glioblastoma.(3,9)

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Existe controvérsia quanto à inclusão do cancro da mama no conjunto de tumores que

constituem a SL, embora estudos tenham demonstrado risco acrescido para o seu

desenvolvimento.(4-6,30-32) Um estudo recente demonstrou a existência de um risco

particularmente significativo para mutações nos genes MSH6 e PMS2.(30)

O cancro da próstata não se encontra descrito como fazendo parte da SL, havendo, no

entanto, dados que sugerem risco superior à população geral.(4,5,33,34) Um estudo

demonstrou que esse risco é aproximadamente duas vezes superior(33), enquanto outro

estudo aponta para um risco cinco vezes maior(34). No entanto, não há evidência de que

surja em idades mais precoces nem que apresente um fenótipo mais agressivo quando

comparado à população geral.(34)

Atualmente, também se sabe que indivíduos com SL apresentam maior suscetibilidade

para cancro do pâncreas.(4) Um estudo recente que pretendeu determinar a prevalência

de mutações germinativas em indivíduos com adenocarcinoma do pâncreas e história

pessoal de cancro hereditário da mama, ovário ou outro cancro do espectro da SL

demonstrou que uma percentagem considerável desses indivíduos apresentavam as

referidas mutações em genes de suscetibilidade para adenocarcinoma do pâncreas, nos

quais se incluem os genes MLH1, MSH2 e MSH6.(35)

5.5 Variantes da Síndrome de Lynch

5.5.1 Síndrome de Muir-Torre

Esta síndrome requer a apresentação simultânea de tumores sebáceos da pele e de

neoplasias viscerais, sendo que grande parte destes casos se deve à presença de

mutações germinativas em MMR genes com consequente fenótipo de IMS. (3,8,29)

5.5.2 Síndrome de Turcot

Caracteriza-se pela associação de tumores cerebrais e CCR, podendo estar associado

a mutações no gene APC ou em MMR genes. No primeiro caso, os tumores são

tipicamente meduloblastomas, enquanto os casos de SL se associam mais

frequentemente a glioblastomas com fenótipo de IMS. (3,8)

5.5.3 Constitutional Mismatch Repair Deficiency Syndrome

Trata-se de uma doença de elevada penetrância caracterizada pela presença de

mutações germinativas bialélicas em MMR genes, predispondo aparecimento muito

precoce de diversas neoplasias e manchas café com leite, nomeadamente em crianças

e adolescentes. O espectro de neoplasias inclui tumores cerebrais, cancro

hematológico, cancro colorretal, cancro intestinal, entre outros. A nível gastrointestinal,

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estes tumores exibem geralmente um fenótipo distinto comparativamente à SL, devido

à presença de múltiplos pólipos adenomatosos. A existência de história familiar de

consanguinidade deve fazer levantar a suspeita desta condição. (3,36,37)

6. Correlações genótipo-fenótipo

A principal preocupação de um indivíduo portador de mutações em MMR genes é acerca

do seu risco futuro de desenvolver cancro. O estabelecimento de uma correlação entre

o genótipo e o fenótipo poderá permitir a implementação de programas de vigilância

mais específicos, com base no risco individual de desenvolvimento de cancro.

O CCR e os tumores extra-cólicos associados à SL apresentam diferentes taxas de

incidência, que variam de acordo com o género e o gene afetado.(38,39) A incidência

cumulativa de cancro é superior nas mulheres comparativamente aos homens (75% vs.

58%)(40), o que poderá ser explicado pelo risco elevado de cancro ginecológico na

mulher.

O CCR parece estar mais relacionado com mutações no gene MLH1, enquanto os

cancros extra-cólicos se associam tipicamente a alterações no gene MSH2. Para além

disso, indivíduos portadores de mutações no gene MSH2 têm maior probabilidade de

desenvolverem múltiplos tumores, enquanto a maioria das mutações no gene MLH1 se

associa mais frequentemente à existência de um tumor único.(39)

Mutações nos genes MLH1 e MHS2 são mais prevalentes em pacientes com uma

história familiar positiva de cancro e diagnóstico em idades precoces, enquanto

mutações no gene MSH6 se associam a uma penetrância mais baixa, a casos de cancro

isolados e a uma idade de diagnóstico mais avançada. Para além disso, mutações no

gene MSH6 conferem risco superior para CE e risco inferior para CCR.(17,39-42)

Apesar de mutações no gene PMS2 se associarem uma penetrância mais baixa em

comparação com os restantes genes, o cancro surge geralmente em idades mais

precoces, sendo que até 8% dos indivíduos com CCR podem ser diagnosticados antes

dos 30 anos de idade.(43,44)

Em indivíduos com deleção do gene EPCAM, o risco de CCR é semelhante ao que se

verifica perante uma mutação no gene MSH2 ou uma deleção combinada de ambos os

genes. No entanto, o risco de desenvolver cancros extra-cólicos parece estar na

dependência do tamanho da deleção. Um estudo demonstrou um risco cumulativo de

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CE de 12%, aos 70 anos de idade, ocorrendo com mais frequência quando essa deleção

se estende ao gene MSH2.(45)

Estudos evidenciam que a variabilidade em termos de expressão clínica pode ser

influenciada não apenas pelo gene mutado mas também pelo tipo de mutação.(42,46)

Um estudo recente concluiu que mulheres que apresentam truncação no gene MLH1,

ou seja, ausência total de expressão do gene, desenvolvem CE mais tardiamente (seis

anos) comparativamente a mulheres que apresentam outros tipos de mutação no

mesmo gene.(42) No entanto, outro estudo concluiu que mutações no gene PMS2 que

cursam com perda total da expressão do DNA se associam a desenvolvimento de CCR

nove anos mais cedo comparativamente a mutações que cursam com alguma função

residual da proteína produzida.(46) Assim, apesar de contraditórias, estas correlações

poderão trazer implicações no seguimento dos doentes, nomeadamente no que diz

respeito à idade em que devem ser iniciados os programas de vigilância. No entanto,

talvez sejam necessários mais estudos para que possam ser tiradas conclusões mais

definitivas.

7. Estratégias de diagnóstico

O diagnóstico da SL é apenas firmado através da deteção de uma mutação germinativa

num dos quatro MMR genes ou de uma deleção do gene EPCAM. A importância deste

diagnóstico passa pela possibilidade de oferecer vigilância periódica e medidas

preventivas aos indivíduos afetados e em risco.(2,3,25) Ao longo do tempo, várias

estratégias têm vindo a ser debatidas, existindo ainda alguma controvérsia sobre qual

se afigura como mais eficaz.

7.1 Critérios clínicos

No contexto de uma síndrome hereditária, é essencial a colheia de uma história clínica

que procure a existência de história familiar e pessoal de cancro, de lesões

pré-malignas, número de gerações afetadas e idade de diagnóstico.(2)

Os Critérios de Amsterdam I foram criados em 1990 pelo International Collaborative

Group com o objetivo de identificar indivíduos em risco de desenvolverem CCHNP.

Em 1999, estes critérios foram revistos e passaram a incluir os cancros extra-cólicos

associados - Critérios de Amsterdam II – os quais apresentam sensibilidade e

especificidade de 22% e 98%, respetivamente, para o diagnóstico de SL.(3,7)

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Estes critérios pressupõem a existência de pelo menos três casos de cancro na família

verificados histologicamente, sendo que um desses elementos deve ser familiar em

primeiro grau dos restantes dois elementos. Para além disso, é necessária a existência

de pelo menos duas gerações afetadas, pelo menos um caso diagnosticado antes dos

50 anos de idade e ainda a exclusão da PAF (Anexos – Tabela I).(3,7,9) Tal como

mencionado anteriormente, a definição de CCHNP é independente da presença de

mutações germnativas em MMR genes. As limitações que podem advir da sua

aplicabilidade residem no facto de que nem todos os indivíduos com SL cumprem estes

critérios e, por outro lado, famílias que cumprem nem sempre apresentam mutações em

MMR genes. Esta última condição recebe a designação de Cancro Colorretal Familiar

do Tipo X.(3,7)

Os Critérios de Bethesda foram criados em 1997 e revistos em 2004 com o objetivo de

selecionar os indivíduos para realização do estudo genético do tecido tumoral - testes

de IHQ e pesquisa de IMS - apresentando maior sensibilidade (82%) e menor

especificidade (77%) em relação aos critérios anteriores (Anexos – Tabela II).(3,7) Ainda

assim, a sua utilização como método de seleção inicial falha na identificação de alguns

indivíduos em risco de terem SL(7,47), sendo que, se forem aplicados de forma restrita,

até 25% dos portadores de mutações em MMR genes podem não ser identificados.(7)

7.2 Modelos preditivos

As guidelines mais recentes recomendam a utilização de modelos preditivos que

permitem estimar o risco de um determinado indivíduo apresentar mutações em MMR

genes, com posterior orientação para pesquisa de mutação germinativa.(3,48) Esta

estratégia é mais vantajosa em relação à utilização dos critérios clínicos como forma

inicial de identificar indivíduos em risco, sendo particularmente útil quando estamos

perante um caso suspeito de SL e não existe amostra de tecido tumoral para análise.(25)

Esses modelos incluem o MMRpredict model, MMRpro model e o PREMM1,2,6 model e

utilizam diferentes variáveis, que, no seu conjunto, incluem o sexo do probando, história

pessoal e familiar de CCR, de CE e de outros tumores relacionados com a SL, idade de

diagnóstico, localização do tumor (proximal ou distal), presença de tumores múltipos

(síncronos ou metácronos), entre outros.(3)

O PREMM1,2,6 model é o mais sensível e o menos específico dos 3 modelos referidos -

90% e 67% de sensibilidade e especificidade, respetivamente (3) - havendo evidência

que aponta para uma eficácia superior em estimar o risco de mutações em MMR genes

em indivíduos de alto risco com CCR em relação aos restantes.(49) Quando esse risco é

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superior a 5% existe indicação para pesquisa de mutação germinativa, com uma boa

relação custo-benefício associada.(50)

7.3 Estudo genético do tecido tumoral

7.3.1 Instabilidade de Microssatélites (IMS)

A IMS constitui o hallmark dos defeitos em proteínas de reparação do DNA e, portanto,

é uma característica típica dos tumores que constituem a SL. Apresenta uma

sensibilidade de 83% e uma especificidade de 90% para o diagnóstico da doença.(3) A

IMS não é totalmente específica para estes tumores, uma vez que pode também ser

encontrada em 10-15% dos casos de CCR esporádico. Nestes casos, o mecanismo

molecular de base mais comum consiste na hipermetilação do promotor do gene

MLH1.(3,7,8) Para além disso, com o avançar da idade, a probabilidade de um fenótipo

IMS corresponder a um caso de cancro esporádico também aumenta.(8)

Os testes para a pesquisa de IMS utilizam painéis com 5 marcadores de microssatélites

que permitem comparar o número de sequências nucleotídicas repetitivas no tecido

tumoral e no tecido normal do mesmo indivíduo. Os tumores podem ser classificados

em MSI-stable, MSI-high e MSI-low, de acordo com o número de marcadores que

demonstram instabilidade (Anexos – Tabela III).(3,8)

7.3.2 Testes de Imuno-histoquímica (IHQ)

A IHQ utiliza anticorpos monoclonais que permitem identificar quais são as proteínas de

reparação do DNA que estão presentes numa determinada amostra de tecido tumoral,

pelo que a ausência da proteína sugere uma mutação no gene responsável pela sua

produção. Assim, apresenta como principal vantagem o facto de permitir identificar qual

o gene que, com maior probabilidade, deve ser testado aquando da pesquisa da

mutação germinativa.(3,8) Apresenta uma sensibilidade e especificidade de 83% e 99%,

respetivamente.(3)

No entanto, nem todas as mutações cursam com perda de expressão da referida

proteína, uma vez que pode haver alguma função residual.(51) Foi sugerido que a IHQ

apresenta baixa sensibilidade para a deteção de mutações no gene MSH6, pelo que a

utilização isolada deste teste para selecionar indivíduos para pesquisa de mutação

germinativa deve ser feita com cautela.(52)

Nem todos os indivíduos com mutações em MMR genes apresentam IMS ou ausência

de expressão das proteínas correspondentes nos testes de IHQ, especialmente quando

se consideram adenomas em estadio precoce. De uma forma geral, essa relação é tão

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mais linear quanto maior for o tamanho da lesão e quanto mais elevado for o grau de

displasia.(53,54)

7.4 Estratégias seletivas vs. Estratégia universal

A utilização dos critérios clínicos de Bethesda como método inicial para identificar os

indivíduos em risco de terem SL foi, durante muito tempo, o método mas implementado

na prática clínica. No entanto, tendo em conta a falta de sensibilidade destes critérios,

foram desenvolvidas várias outras estratégias que permitem detetar um maior número

de indivíduos com a doença.(3,47)

Um estudo demonstrou que a aplicação de testes genéticos no tecido tumoral em

indivíduos com diagnóstico de CCR com idade inferior a 70 anos permitiu identificar uma

considerável percentagem de casos de SL (4,5%). No entanto, 70% desses indivíduos

não cumpriam o critério da idade estabelecido pelos critérios de Bethesda, ou seja,

apresentavam idade superior a 50 anos.(55) Assim, pode inferir-se que, se nestes

indivíduos tivessem sido utilizados esses critérios como forma de seleção inicial, haveria

casos de SL não identificados.

Vários estudos apontam para as vantagens em adotar uma estratégia universal, isto é,

realizar o estudo genético do tecido tumoral em todos os pacientes com diagnóstico de

CCR, independentemente da idade.(47,56,57) Comparativamente à seleção inicial por

critérios clínicos ou à aplicação de estratégias mais seletivas (idade inferior a 70 anos

ou idade superior a 70 anos com pelo menos um critério de Bethesda presente), esta

estratégia afigura-se como a mais sensível. Por outro lado, associa-se a um maior

número de resultados falsos positivos, o que pode trazer consequências psicológicas e

económicas.(47)

Nos casos em que a manifestação inicial é o CE, as vantagens em realizar o estudo

genético do tecido tumoral em mulheres com idade inferior a 70 anos ou em todas as

mulheres independentemente da idade foram também demonstradas por alguns

estudos.(58,59)

Estudos provam que a estratégia universal apresenta uma boa relação custo-benefício,

devendo incluir realização de etapas intermédias com a análise da mutação BRAF e a

pesquisa da hipermetilação do promotor MLH1 para distinguir os casos de CCR

esporádico (Anexos – Figura 1).(60,61)

De acordo com as atuais guidelines de sociedades europeias e americanas, ainda não

existem recomendações definitivas relativamente à adoção da estratégia universal,

apesar de ela já ser implementada em alguns centros. Assim, o estudo genético do

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tecido tumoral poderá ser feito em todos os casos de CCR diagnosticados de novo; em

indivíduos com idade igual ou inferior a 70 anos; e em indivíduos com idade superior a

70 anos com história familiar positiva. Esse estudo deve ser realizado através de testes

de IHQ e/ou pesquisa de IMS. (3,25)

Atualmente, existe já a possibilidade de utilizar um único teste que permite a análise dos

genes implicados na SL (MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2) bem como outros genes

frequentemente mutados no cancro colorretal (KRAS, BRAF, PIK3CA, APC e TP53) –

Next Generation Sequencing.(62)

8. Programas de vigilância e medidas preventivas

8.1 Cancro colorretal

A colonoscopia é uma medida utilizada para rastreio de CCR na população geral que

permite a deteção e a remoção de lesões precursoras, encontrando-se associada a um

aumento da esperança média de vida e a uma boa relação custo-benefício.(63,64)

Vários estudos reforçam que a implementação de programas de vigilância endoscópica

para o CCR em doentes com SL constitui, de igual forma, uma medida eficaz na redução

da incidência de CCR, e, consequentemente, da morbimortalidade associada.(65,66) A

inclusão de indivíduos em risco nestes programas encontra-se associada a uma

diminuição de 65% na mortalidade por CCR comparativamente à ausência de

vigilância.(3)

O aparecimento de CCR no intervalo entre a realização das colonoscopias depende de

vários fatores, dos quais se destacam a visualização incompleta do cólon durante o

procedimento, preparação inadequada e falha na deteção de todas as lesões

precursoras.(67) A respeito deste último fator, o recurso à cromoscopia parece estar

associado a uma maior capacidade de deteção de pólipos e adenomas

comparativamente ao uso da colonoscopia.(68,69)

Ao longo do tempo, tem-se verificado variações nos intervalos recomendados para a

realização dessa vigilância. Vários estudos têm fornecido evidências de que a transição

adenoma-carcinoma na SL é bastante acelerada, pelo que é vantajoso utilizar um

intervalo mínimo de um a dois anos entre colonoscopias comparativamente ao intervalo

de dois a três anos que foi durante muitos anos recomendado.(70) Outros estudos

sugerem um intervalo mínimo de um ano. (71,72)

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As recomendações presentes nas guidelines europeias e americanas apontam para a

utilização de um intervalo mínimo de um a dois anos. Esta vigilância deve iniciar-se

entre os 20 e os 25 anos de idade e é recomendada para indivíduos com SL e para os

familiares em primeiro grau, que são considerados elementos em risco. Caso se

verifique um diagnóstico de CCR antes dos 25 anos em algum elemento da família, deve

antecipar-se o início da vigilância para dois a cinco anos antes do diagnóstico mais

precoce.(3,25)

Um estudo recente realizado em Portugal aplicou um protocolo de vigilância definido por

um intervalo mínimo de doze a dezoito meses entre colonoscopias em 147 indivíduos

assintomáticos portadores de mutações em MMR genes, com o objetivo de determinar

o risco cumulativo de desenvolver adenoma ou CCR de acordo com a idade e o género.

Durante um período médio de follow-up de 7,7 anos, onze pacientes desenvolveram

CCR. No entanto, três desses casos foram diagnosticados logo na primeira

colonoscopia e, dos restantes, quatro foram avaliados fora do intervalo proposto (aos

60, 48, 24 e 19 meses depois da primeira colonoscopia). O risco cumulativo estimado

de desenvolver CCR aos 60 anos de idade foi de 17,2% para os homens e de 20% para

as mulheres. As características associadas a uma maior deteção de adenomas nas

colonoscopias pareceram estar relacionadas com o sexo masculino e o início da

vigilância depois dos 40 anos de idade.(66) Apesar de este estudo demonstrar, mais uma

vez, a vantagem em implementar vigilância endoscópica periódica para o CCR, poderão

ser apontados alguns viéses. Por um lado, os três primeiros casos detetados

inicialmente deveriam ter sido desde logo considerados como casos sintomáticos, não

sendo incluídos no estudo. Para além disso, os quatro indivíduos avaliados fora do

intervalo proposto poderão sobrestimar o número de casos de CCR diagnosticados,

uma vez que se o protocolo tivesse sido devidamente cumprido,

poder-se-iam ter identificado e removido lesões precursoras, sem a consequente

manifestação de cancro.

Outro estudo recente aponta para a necessidade de uma vigilância endoscópica mais

apertada após o aparecimento do primeiro CCR, sendo que, nestes casos, o intervalo

entre as colonoscopias não deverá exceder os dezoito meses, especialmente para

portadores de mutações no gene MSH2.(73)

Em indivíduos que apresentam uma elevada prevalência de CCR na família ou nos

quais a implementação da vigilância endoscópica é difícil, a hipótese de uma colectomia

profilática deve ser abordada e discutida, embora a adesão a esta medida preventiva

seja rara.(2)

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8.2 Cancro ginecológico

A elevada incidência de cancro ginecológico em mulheres, particularmente ao nível

endométrio, poderia justificar a implementação de programas de vigilância periódicos,

nomeadamente através da ecografia transvaginal e da biópsia endometrial. Apesar de

essas medidas poderem contribuir para um aumento da deteção de casos, atualmente

não existe evidência de que programas de vigilância para rastreio de cancro

ginecológico se associem a um aumento de sobrevida, dado que o cancro geralmente

é diagnosticado em estadios precoces e apresenta uma baixa taxa de mortalidade

associada.(74,75) Assim, poder-se-á privilegiar a educação da mulher para os sinais de

alarme, nomeadamente hemorragias anormais.(3,25)

Por outro lado, a realização de histerectomia com salpingooforectomia bilateral constitui

uma medida preventiva associada a um boa relação custo-benefício e deve ser discutida

com todas as mulheres com diagnóstico de SL.(3,25,76) De acordo com as recomendações

europeias e americanas, esta cirurgia preventiva deve ser preferencialmente realizada

após os 40-45 anos de idade, salvaguardando que a mulher não deseja ter mais

filhos.(3,25)

8.3 Outros cancros

A implementação de vigilância para o CG é pouco consensual mas poderá ser

considerada a partir dos 30-35 anos, através da realização de endoscopia digestiva alta

com biópsia do antro, pesquisa de infeção por Helicobacter pylori e subsequente

tratamento de erradicação, caso o resultado seja positivo. Em indivíduos com fatores de

risco, como história familiar positiva, presença de atrofia gástrica, metaplasia intestinal

extensa ou residentes em áreas onde a incidência de cancro gástrico seja elevada, o

procedimento pode ser repetido a cada 2-3 anos.(3,9,25)

As guidelines americanas não recomendam vigilância para o cancro do intestino

delgado(3), enquanto as europeias sugerem a inspeção do duodeno distal e do íleo

durante a realização de procedimentos endoscópicos.(25)

O exame de urina, realizado anualmente e a partir dos 30-35 anos, é sugerido pelas

guidelines americanas(3), mas não pelas europeias(25), como método de rastreio de

cancro das vias urinárias.

No que diz respeito aos restantes cancros do espectro da SL, não existem

recomendações específicas para o seu rastreio, sendo que os doentes devem ser

aconselhados a participar nos programas de vigilância que já existem para a população

geral.(3,25)

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8.4 Quimioprevenção

Embora tenha sido sugerido que uma dieta rica em amido resistente pudesse ser

utilizada como medida preventiva, não existe evidência de que, a longo prazo, essa

medida tenha algum efeito na redução do risco de CCR em indivíduos com SL.(77) Por

outro lado, foi demonstrado o efeito protetor a longo prazo da utilização diária de aspirina

na diminuição da incidência de CCR.(78) Um estudo demonstrou que esse efeito não

parece aumentar para doses superiores a 75 mg/dia.(79) Esta evidência, no entanto, não

parece ser suficientemente forte para justificar a utilização de aspirina em todos os

indivíduos com SL, não havendo recomendações definitivas a esse nível nas atuais

guidelines americanas e europeias.(3,25) Ainda assim, caso seja utilizada, deve

proceder-se à pesquisa e erradicação de Helicobacter pylori, com o objetivo de reduzir

a incidência de complicações gastrointestinais.(80)

Tal como mencionado anteriormente, foi sugerido que a utilização de contraceção oral

durante pelo menos um ano pode constituir um fator protetor para o desenvolvimento

de CE em mulheres com SL.(22) A utilização de contraceção com base num progestativo

durante 3 meses já provou a diminuir a proliferação endometrial em mulheres com SL.(81)

No entanto, não existem recomendações precisas para a sua inclusão como agente

quimioterápico neste contexto.(3,25)

8.5 Estilo de vida e fatores ambientais

Estudos são consistentes no que diz respeito ao tabaco e ao elevado índice de massa

muscular como fatores que conferem risco aumentado de CCR e adenomas do cólon

em indivíduos com SL.(82-85) Assim, para além de todas as medidas anteriormente

mencionadas, é também importante a gestão destes fatores de risco.

9. Aconselhamento genético

A realização do teste genético para pesquisa de mutação germinativa permite

diagnosticar indivíduos com SL bem como determinar se familiares em primeiro grau

são igualmente portadores. É de extrema importância a existência de um esclarecimento

prévio acerca da natureza e modo de transmissão da doença, do risco de

desenvolvimento de cancro bem como das medidas preventivas que poderão ser

implementadas caso se detete a mutação.(3,25)

O diagnóstico de SL traz implicações no que diz respeito à gestão do planeamento

familiar e a nível reprodutivo, pelo que uma das etapas do aconselhamento genético

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deverá passar pela informação acerca da possibilidade de realização de testes

genéticos pré-natais ou de pré-implantação.(25,86) Muitas mulheres consideram antecipar

a idade da gravidez de forma a poderem realizar a cirurgia ginecológica profilática para

evitar o desenvolvimento de cancro ginecológico.(86)

Fatores como idade precoce da descendência e distanciamento entre pais e filhos

podem contribuir para a existência de falhas de comunicação e de transmissão da

informação acerca da doença e do risco genético associado à descendência, tendo sido

sugerida a importância do envolvimento do profissional de saúde nesse processo.(87)

10. Tratamento

Perante o aparecimento de um tumor localizado ao nível do cólon, cabe ao médico

ponderar as vantagens e as desvantagens de uma colectomia total ou de uma resseção

segmentar, tomando uma decisão individualizada com base na idade, preferência e

comorbilidades do doente.

Vários estudos são consistentes no que diz respeito ao menor risco de desenvolvimento

de tumores metácronos quando se opta por uma abordagem mais extensa.(88,89)

Nesse sentido, as atuais guidelines de sociedades americanas e europeias

recomendam a realização de uma colectomia total com anastomose ileorretal, tendo em

conta que esta abordagem cirúrgica se associa a um menor risco de desenvolvimento

de lesões metácronas e, consequentemente, a uma menor necessidade de intervenção

cirúrgica futura.(3,25) No entanto, o doente deve ser adequadamente informado acerca

do impacto que uma cirurgia tão extensa poderá ter na sua qualidade de vida.(90)

Quando o tumor primário se localiza ao nível do reto, a proctectomia poderá ser uma

abordagem cirúrgica viável, caso os programas de vigilância endoscópica e follow-up

sejam mais restritos, dado o elevado risco de aparecimento de lesões metácronas ao

nível do cólon.(91)

No que diz respeito aos cancros extra-cólicos, não existem recomendações específicas

para o seu tratamento, devendo ser abordados de forma semelhante à população

geral.(3)

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11. Conclusão

A deteção de indivíduos com SL reveste-se de grande importância, uma vez que existe

um risco superior à população geral de desenvolver uma grande variedade de

neoplasias; existe risco de transmissão à descendência; e existe a possibilidade de

implementar protocolos de vigilância e medidas preventivas que modificam a história

natural da doença, reduzindo o risco de aparecimento de cancro. (2,3,25)

Tem-se verificado uma preocupação crescente em aprimorar as estratégias de

diagnóstico com base nos vários métodos atualmente disponíveis. Existe evidência que

aponta para as vantagens em adotar uma estratégia que pressupõe a realização do

estudo genético do tecido tumoral em todos os doentes com CCR diagnosticado de

novo, prevendo-se a sua implementação a curto prazo. No entanto, paralelamente a um

aumento da sensibilidade na deteção de casos, é essencial estar alerta para o aumento

do número de falsos positivos, tornando-se essencial o despiste de casos esporádicos.

Isto permite evitar a referenciação desnecessária para aconselhamento genético e a

inclusão em programas de vigilância intensiva.(3,25)

A vigilância com colonoscopia em intervalos de um a dois anos, a iniciar entre os 20 e

os 25 anos de idade, e a histerectomia com salpingooforectomia bilateral são medidas

custo-efetivas que, hoje em dia, são oferecidas a indivíduos com SL.(3,25) A última

medida requer alguma ponderação principalmente em mulheres em idade reprodutiva,

nomeadamente no que diz respeito à programação do planeamento familiar e às

consequências que podem advir de uma menopausa precoce. Em relação aos agentes

quimioterápicos, serão necessários mais estudos que comprovem a sua eficácia na

melhoria do prognóstico para serem implementados como medida universal.(3,25)

Apesar dos programas de vigilância trazerem vantagens em termos de redução da

morbimortalidade associada, importa refletir acerca do impacto psicológico que poderão

ter nestes doentes.

Fatores como a raridade da síndrome hereditária, variedade de neoplasias a que

predispõe, sexo feminino, história pessoal e familiar de cancro e ausência de apoio e de

suporte familiar podem contribuir para algum desequilíbrio emocional e para alterações

da qualidade de vida. Apesar de indivíduos com SL incluídos em programas de vigilância

não apresentarem, de uma forma geral, níveis de stress muito superiores

comparativamente à população geral, a identificação de casos suscetíveis é essencial

para que possa ser oferecido o suporte psicológico devido.(92)

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Pelo que foi exposto, conclui-se que a SL se trata de uma síndrome hereditária cuja

etiologia genética se encontra bem estabelecida e que confere risco específico para o

desenvolvimento precoce de uma grande variedade de neoplasias em múltiplos órgãos.

A abordagem dos indivíduos afetados e em risco deve ser feita de forma individualizada,

com base nas especificidades de cada família, alertando para as medidas que podem

ser oferecidas e que comprovadamente contribuem para a melhoria do prognóstico.

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Anexos

Tabela I - Critérios de Amsterdam I e II para o diagnóstico de Cancro Colorretal

Hereditário Não Polipóide(3)

Amsterdam I

1. Three or more relatives with histologically verified colorectal cancer, 1 of which is a

first-degree relative of the other two.

2. Two or more generations with colorectal cancer.

3. One or more colorectal cancer cases diagnosed before the age of 50 years.

4. Familial adenomatous polyposis should be excluded.

Amsterdam II

1. Three or more relatives with histologically verified HNPCC-associated cancer

(colorectal cancer, cancer of the endometrium, small bowel, ureter, or renal pelvis), 1

of which is a first-degree relative of the other 2.

2. Cancer involving at least 2 generations.

3. One or more cancer cases diagnosed before the age of 50 years.

4. Familial adenomatous polyposis should be excluded.

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Tabela II - Critérios de Bethesda Revistos(3)

1. CRC diagnosed at younger than 50 years.

2. Presence of synchronous or metachronous CRC or other LS-associated tumors.a

3. CRC with MSI-high pathologic-associated features (Crohn-like lymphocytic

reaction, mucinous/signet cell differentiation, or medullary growth pattern) diagnosed

in an individual younger than 60 years old.

4. Patient with CRC and CRC or LS-associated tumora diagnosed in at least

1 first-degree relative younger than 50 years old.

5. Patient with CRC and CRC or LS-associated tumor a at any age in 2 first-degree or

second-degree relatives.

a LS-associated tumors include tumor of the colorectum, endometrium, stomach, ovary, pancreas, ureter,

renal pelvis, biliary tract, brain, small bowel, sebaceous glands, and kerotoacanthomas.

Tabela III - Classificação dos tumores de acordo com a instabilidade de microssatélites(8)

MSI-high

Se pelo menos 2 dos 5 marcadores utilizados demonstram instabilidade

MSI-low

Se 1 dos 5 marcadores demonstra instabilidade

MSI-stable

Se nenhum marcador demonstra instabilidade

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Figura 1. Estratégia Universal (3)

1 O estudo genético do tecido tumoral com pesquisa de instabilidade de microssatélites pode ser feito em

alternativa aos testes de imuno-histoquímica.

CANCRO COLORRETAL

(amostra de tecido

tumoral)

Pesquisa de instabilidade de

microssatélites1

Testes de imuno-histoquímica

Normal MSI-high

Perda de MLH1

Perda de outros

MMR genes

Análise da mutação BRAF

(e/ou testar para hipermetilação

do promotor MLH1)

Positivo

Negativo

Sem investigação

adicional

Referenciar para

aconselhamento

genético para considerar

pesquisa de mutação

germinativa

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