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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA
METODOLOGIA PARA CARACTERIZAÇÃO DE DEPÓSITOS DE CINZAS EM
CALDEIRAS A CARVÃO PULVERIZADO
LUÍS FERNANDO CLASEN
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PARA A OBTENÇÃO
DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA
FLORIANÓPOLIS, SETEMBRO DE 2007
METODOLOGIA PARA CARACTERIZAÇÃO DE DEPÓSITOS DE CINZAS EM CALDEIRAS A CARVÃO
PULVERIZADO
LUÍS FERNANDO CLASEN
ESTA DISSERTAÇÃO FOI JULGADA ADEQUADA PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE
MESTRE EM ENGENHARIA
ESPECIALIDADE ENGENHARIA MECÂNICA E APROVADA EM SUA FORMA FINAL PELO PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA
_________________________
PROF. EDSON BAZZO, DR.ENG. – ORIENTADOR
_________________________
PROF. EDUARDO ALBERTO FANCELLO, D.SC. – COORDENADOR DO CURSO
BANCA EXAMINADORA
_________________________ _________________________
PROF. ANTONIO CARLOS R. NOGUEIRA, D.SC. PROF. CARLOS AUGUSTO S. DE OLIVEIRA, D.SC.
PRESIDENTE
_________________________ _________________________
PROF. CELSO P. FERNANDES, DR.ENG. PROF. EDUARDO G. REIMBRECHT, DR.ENG.
iii
Bondosamente irônica e ironicamente bondosa é a vida.
iv
A Deus.
Aos meus pais.
Aos amores que vêm e aos que vão.
A gente se vê logo mais, Presença.
v
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi realizado na UFSC com apoio financeiro da Capes nas dependências
do LabCET e LabTermo.
Agradecimento especial à empresa Tractebel Energia S.A. por permitir o acesso à Usina
Termoelétrica Jorge Lacerda em Capivari de Baixo/SC e pelo apoio técnico e financeiro via
programa P&D ANEEL concedidos para realização dos trabalhos experimentais.
Por ser um marco em minha vida, tomo a liberdade de estender os agradecimentos a
todas as pessoas que a memória permite recordar, sem desmerecer os não aqui recordados,
que se fizeram e se fazem importantes na realização deste trabalho e especialmente, na
construção dos pensamentos e sentimentos que traçam o caminho que se abre a cada
momento.
Ao Professor Edson Bazzo, por seu conhecimento transmitido e orientação, pela
confiança depositada no decorrer dos anos de trabalho conjunto, pela paciência e articulação
diante de situações propícias à angústia, pelo encaminhamento na minha formação acadêmica
e profissional e por seu bom humor e amizade, presente na faculdade ou nos encontros do
laboratório, e tudo enquanto elabora um sem fim de tarefas;
Ao Professor Antonio Carlos Ribeiro Nogueira por seu apoio nos inúmeros projetos
acadêmicos e embasamento à minha vida profissional, e especialmente pela sua amizade, e ao
Doutorando Lourival Jorge Mendes Neto por sua coorientação e auxílio, sua paciência diante
da forma divergente como cada um de nós encaminha um projeto, embora ambas dêem certo,
e por sua amizade em conversas com risos em meio às divagações;
Ao técnico Nilson Bardini e o engenheiro Luiz Felippe e a todos os operadores da
Unidade B da Tractebel Energia S.A. pela constante ajuda e amizade desde o ano de 2003;
Ao técnico Edevaldo do LabTermo por seu trabalho e paciência na construção da sonda,
mesmo estando em um período atribulado no laboratório por conta dos experimentos a serem
enviados na missão espacial brasileira;
Aos amigos LabCETianos e agregados: Luis (Tocayo), Leonel (Señor Leonilo), Rafaela
(Rafa), Márcio, Renzo, Luis (Omar), Gisleine (Gi), Kamila, Raquel, Janilson, Alessandro,
José (Matelli), Willian (Ibanez), Leandro (Leandrim), Rafael (Catapan), Ricardo, Gabriel e
Fernando, que mesmo longe dos olhos, permanecem na memória juntamente com a
importância que têm;
vi
Aos good guys do RPG, Eduardo, Lucas (Berti), Rafael (Elemento), Heitor, Mateus e
Marcus, pela amizade ímpar e o desejo que cada um tem de ver o outro de bem com a vida,
implícito em cada atitude;
Aos amigos do Centro e PBDE: Ricardo, Cícero (Cicero), Gilson, Raquel, Sandra,
Elizandro, Pedro, Dona Nina, Seu Salvador, Rodrigo, Antônio, Caco, Rafael (Paquito),
Úrsula, Letícia, Luciana (Lu), Elisa, Eduardo, Laís, Ana (Aninha), Madalena, Heloísa,
Débora, Marina, Guisi, Rafaela, Lucas, Hiram e Silvestre e com certeza mais alguns que peco
por conta da mente, que igualmente deixaram saudades em Floripa, mas muito me ajudaram a
ver um lado mais espiritualizado da vida, e em passos modestos, evoluir;
Para os amigos do novo mundo que descobri: Leandro (Japa), Elizeu, Fabrizio (Bob
Lelli), Michel, Lucy, Juliane (Tica), Jefferson (Bansho), Márcio, Hugo, Maurício (Banha),
Eduardo (Palhano), Luís (Little), Luís (Turco), Eduardo (Cantieri), Eduardo (Cardoso) e José
(Véio Dutra), representando a sensação de bem-vindo à etapa de vida que se desdobra;
Aos amigos sem designação e tempo: Leandro, Fernanda (Fê), Fernanda (Nanda),
Marcos (Jesus), Marcus (Estreito), Tales e Henrique que estão lá e em outro momento
desaparecem por tempos e quando retornam, estão tão familiares quanto sempre foram e mais
aprazíveis com as novas bagagens que trazem, tornando-os seres humanos melhores a cada
instante;
À Laana, mais próxima de mim do que percebo, capaz de sublimar as inúmeras lágrimas
que me presenteei, com a visão mais ampla da vida do que seja possível conceber neste
momento que estamos, e por isto, mais esperta e capaz de auxiliar. Seria bom ao menos
lembrar do seu rosto, mas ao enquanto sua presença invisível me supre o suficiente para me
sentir único nesse mundo. Peço que leve meus agradecimentos a todos que estão juntos, mas
que por vezes desconheço;
Finalmente, à minha família, modesta em quantidade, infinita em amor. Às amadas: Tia
Daisy, mãe de todos, com seu jeito contido, porém repleto de sentimentos, enquanto simula
comigo uma discussão sobre quem é o menos provido de bom senso; Tia Susi, a tranqüilidade
nas pequenas e na maioria das grandes coisas da vida, amor com extremo carinho, difícil
imaginá-la atuando em algo que não fosse o cuidado com outro ser; Tia Lú, a voz mais alta e
o colorido mais vivo, parte menina num corpo de mulher, e talvez por isso, tão cândida e por
vezes difícil de lidar, com seu jeito expressivo ao mostrar o quanto adora os seus; Tia Sandra,
major firme mas de sorriso e atitudes meigas para com os seus, especialmente ao abrigar
aqueles que começam uma nova vida. Meus amados: Vó Laura, onde a explicação para me
amar tanto não reside nesse mundo, sofrendo pelas dores daqueles que bem quer e tão adorada
vii
por ser quem é; Vô Aldo, exemplo de serenidade, de integridade, dos passeios do colégio para
casa e da infinita capacidade de estar em paz, embora envolto no momento pelo esquecimento
que leva um pedacinho dele a cada momento para longe de nós. Meus irmãos que a vida
emprestou: Rodolfo, tão diferente de mim, mais ao mesmo tempo fácil de entendermo-nos por
conta do amor que nos move; Eduardo, a outra face de irmão, semelhante em gostos e
atitudes, mas único na família no seu pensar, alvo de igual sentimento; e João Gustavo,
caçula, ainda sem traços a serem descritos, mas desejado por todos mesmo antes de sua
chegada. Meus três vínculos egoístas, minhas conexões com meu passado quando apenas nos
quatro restarmos. A meu Tio Rubens, com seu bom humor e participação em assuntos que vão
de entretenimento a reparos domésticos na família, e meu Tio Zam, Presença, que se foi antes
de ver com olhos de carne a minha nova vida, de poder passear pela sua cidade natal enquanto
se hospeda em minha casa, deixando saudades e o desejo de que esteja bem;
Meu pai, Emir, ser ímpar na sua forma de agir e amar, que talvez não imagine o quanto
é amado, o quanto faz falta sua presença e o quanto ele está em meu mundo. Com todos os
flashes da nossa vivência até o momento presente, percebo o acaso divino sorrindo por ter-nos
feito pai e filho;
E finalmente, minha mãe, Rita, tão amada, personificação máxima da maternidade,
presente em mais momentos do que a mente pode recordar, representação intensa de amor, a
qual faria a mais extensa das narrativas sobre sentimentos imprimir apenas um sussurro do
todo;
A todos vocês, novamente, muito obrigado.
viii
ÍNDICE
Agradecimentos ..................................................................................................................... v
Índice.................................................................................................................................. viii
Lista de Figuras ..................................................................................................................... x
Lista de Tabelas ................................................................................................................... xii
Simbologia.......................................................................................................................... xiii
Resumo................................................................................................................................ xv
Abstract .............................................................................................................................. xvi
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 2
2.1. Termoelétricas no Brasil......................................................................................... 2
2.2. Deposição de Cinzas em Caldeiras ......................................................................... 5
2.3. Teoria dos Fractais ................................................................................................. 9
2.4. Microscopia Eletrônica e Difratometria de Raios-X.............................................. 13
3. CINZAS E DEPOSIÇÃO............................................................................................. 15
3.1. Mecanismos de Formação das Cinzas ................................................................... 15
3.2. Mecanismos de Deposição de Cinzas.................................................................... 16
3.2.1. Impacto Inercial............................................................................................ 17
3.2.2. Termoforesi .................................................................................................. 18
3.2.3. Condensação................................................................................................. 18
3.2.4. Reações Químicas......................................................................................... 19
3.2.5. Impacto de Vórtices ...................................................................................... 19
3.3. Formação do Depósito de Cinzas.......................................................................... 20
4. FUNDAMENTOS DA DIMENSÃO FRACTAL ......................................................... 22
4.1. Dimensão ............................................................................................................. 22
4.2. Dimensão Topológica........................................................................................... 22
4.3. Dimensão de Hausdorff-Besicovitch..................................................................... 23
4.4. Dimensão Fractal.................................................................................................. 24
5. PROCEDIMENTO DE AQUISIÇÃO DE DADOS PARA CONSTRUÇÃO DA
METODOLOGIA................................................................................................................ 29
5.1. Coleta de Dados ................................................................................................... 34
5.2. Coleta de Amostras............................................................................................... 35
ix
5.3. Preparação para Análise Mineralógica .................................................................. 36
5.4. Preparação para Análise Estrutural ....................................................................... 37
5.5. Análise Mineralógica............................................................................................ 38
5.6. Análise Estrutural ................................................................................................. 38
6. RESULTADOS OU AVALIAÇÕES PARA METODOLOGIA................................... 43
6.1. Resultado da Análise dos Dados Operacionais...................................................... 43
6.2. Resultado da Análise Mineralógica....................................................................... 44
6.3. Resultados da Análise Estrutural........................................................................... 46
6.3.1. Análise da Porosidade................................................................................... 47
6.3.2. Análise da Distribuição de Poros................................................................... 48
6.3.3. Análise da Dimensão Fractal......................................................................... 49
7. CONCLUSÃO ............................................................................................................. 51
8. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 52
x
Lista de Figuras
Figura 1. Relação de capacidade de geração hidroelétrica e termoelétrica no Brasil (ANEEL,
2002). .................................................................................................................................... 3
Figura 2. Esquema de uma planta termoelétrica...................................................................... 4
Figura 3. Participação de fontes energéticas na geração de eletricidade no Brasil (ANEEL,
2008). .................................................................................................................................... 5
Figura 4. Imagem de um tubo de trocador de calor com destaque em um depósito de cinzas .. 6
Figura 5. Pentágono de (a) Dürer e (b) Sierpinsk.................................................................... 9
Figura 6. Primeiras três iterações do floco de neve de Koch ................................................. 10
Figura 7. Brassica oleracea, do grupo Botrytis, uma estrutura natural semelhante ao fractal. 11
Figura 8. Ilustração esquemática das partes do mecanismo de formação das cinzas durante a
combustão. Adaptado de Kær (2001) e Seames (2003)......................................................... 16
Figura 9. Mecanismos de deposição sobre a superfície de um trocador de calor. Adaptado de
Kær (2001). ......................................................................................................................... 17
Figura 10. Vista lateral do trocador de calor com representação do ângulo de deposição em
relação ao escoamento dos gases de combustão com particulados. ....................................... 18
Figura 11. Desenvolvimento do depósito de cinzas. Adaptado de Rushdi et al (2004). ......... 20
Figura 12. Conjunto fractal de Mandelbrot (esquerda), um fractal determinístico e uma rede
neural (direita), um fractal estatístico. .................................................................................. 26
Figura 13. Redimensionamento de escala (a) isotrópico e (b) anisotrópico. .......................... 26
Figura 14. As 3 primeiras iterações da curva de Koch. ......................................................... 27
Figura 15. Organização dos procedimentos de aquisição e caracterização. ........................... 29
Figura 16. Representação esquemática da sonda................................................................... 30
Figura 17. Representação esquemática do tubo de Pitot simplificado.................................... 30
Figura 18. Representação esquemática do sistema de medição de vazão mássica.................. 32
Figura 19. Sonda inserida no local de coleta......................................................................... 33
Figura 20. Localização do ponto de coleta na caldeira da Unidade 6. ................................... 34
Figura 21. Algoritmo de coleta de amostras de depósitos de cinzas para caracterização da
formação do depósito de cinzas............................................................................................ 36
Figura 22. Superfície de uma amostra de depósito embutida e lixada.................................... 37
Figura 23. Exemplo de um difratograma de raios-X. ............................................................ 38
Figura 24. Imagem do depósito de cinzas obtido pelo MEV. ................................................ 39
Figura 25. Imagem da Figura 24 binarizada no programa Imago®. ....................................... 40
Figura 26. Função covariograma da Figura 25...................................................................... 41
xi
Figura 27. Função ( )( ) ( )dispersãolnuCln × ........................................................................... 42
Figura 28. Depósito coletado após 1 hora. ............................................................................ 44
Figura 29. Difratograma de raios-X de uma amostra de 1 hora. ............................................ 45
Figura 30. Características adversas da imagem da Figura 24. ............................................... 46
Figura 31. Comparativo da porosidade das amostras ao longo do seu desenvolvimento........ 47
Figura 32. Comparativo da distribuição de poros das amostras ao longo do seu
desenvolvimento. ................................................................................................................. 48
Figura 33. Dimensão fractal dos depósitos ao longo do seu desenvolvimento. ...................... 49
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Temperaturas aferidas na sonda. ........................................................................... 43
xiii
SIMBOLOGIA
Br(x) bola de raio r centrada no ponto x.
C(u) função covariograma do espaço poroso.
Df dimensão de massa, dimensão fractal.
E designação de um objeto.
L comprimento de uma curva.
M medida de um comprimento, uma superfície ou um volume.
M(r) massa contida em uma bola de raio r.
N número de células necessárias para preencher o objeto.
d dimensão do objeto.
( )dim E dimensão de Hausdorff-Besicovitch.
( )Emα α -medição de recobrimento.
r raio.
u vetor deslocamento com norma u.
x coordenada de um ponto, [m].
SÍMBOLOS GREGOS
α invariante em transformação de escala.
ε comprimento característico de uma escala, podendo compreender uma
linha, um quadrado ou um cubo.
µ unidade genérica de medida.
ÍNDICES SUBSCRITOS
i i-ésima esfera de recobrimento.
SIGLAS E ABREVIATURAS
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
CFD (Inglês) Dinâmica dos Fluidos Computacional
IEA (Inglês) Agência Internacional de Energia
xiv
LCM Laboratório de Caracterização Microestrutural
MEV Microscópio Eletrônico de Varredura
PIB Produto Interno Bruto
PPT Programa Prioritário de Termeletricidade
xv
RESUMO
Centrais termoelétricas se apresentam no cenário brasileiro com o importante papel de
complementar ou garantir disponibilidade de energia elétrica em períodos de estiagem. A
geração termoelétrica representa hoje cerca de 20 % da energia elétrica gerada no Brasil e a
operação ininterrupta dessas unidades deve ser assegurada pela redução das
indisponibilidades, sejam elas programadas ou não. Nas termoelétricas a carvão pulverizado,
a formação de depósitos de cinzas é uma das causas principais a provocar paralisações, por
predispor os tubos das unidades geradoras de vapor a mecanismos que os fragilizam ou
reduzindo o desempenho da unidade. Nesse sentido, diversos trabalhos têm sido realizados
para avaliar a real conseqüência do depósito de cinza, porém pouco ainda se sabe sobre os
estágios iniciais da formação do depósito. Neste trabalho uma metodologia para
caracterização do processo de formação do depósito de cinzas em seus estágios iniciais é
proposta com a expectativa de relacionar subsídios importantes para o desenvolvimento de
trabalhos futuros na área, uma vez que esta é uma abordagem diferenciada. A metodologia
baseia-se na caracterização mineralógica e estrutural através de técnicas conhecidas no meio
acadêmico-científico. A análise mineralógica é feita por difratometria de raios-X no
difratômetro do Laboratório de Caracterização Microestrutural (LCM) do Departamento de
Engenharia Mecânica da UFSC, permitindo conhecer, qualitativamente, as fases existentes em
cada etapa de formação do depósito. Por sua vez, a análise estrutural é realizada a partir das
imagens extraídas da microestrutura do depósito pelo MEV, sendo estas trabalhadas no
programa Imago® para obtenção da porosidade, distribuição de tamanho de poros e
covariograma das amostras. Com o covariograma, é possível obter a dimensão fractal,
caracterizando-se assim a amostra em mais um parâmetro. A dimensão fractal é apresentada
em diferentes áreas, como uma alternativa para mensurar uma geometria complexa ou
comportamentos aleatórios. Os resultados finais indicam uma linha a ser seguida em futuros
trabalhos experimentais sobre análise de depósitos de cinzas.
Palavras-chave: Deposição de cinzas, Difratometria de raios-X, Dimensão fractal.
xvi
ABSTRACT
Thermal power plants take a important part in the Brazilian scenario of availability of
electrical energy in drought periods. The thermal power plant generation represents today
about 20 % of the generate electrical energy in Brazil. The uninterrupted operation of theses
units should be maintained by non-availability reduction, been them programmed or not. On
pulverized coal thermoelectric, the ashes deposit formation is one of main causes for units
stops, by fragilizing the tubular beams or even by affecting the performance of steam
generator units. So, many works were been realized to evaluate the real consequence of ash
deposition, but little is know of initial stages of deposit formation. In this work a methodology
to characterization of formation process of ashes deposit in its initial stage is propose with the
expectative to obtain important data subsidies to development of future works, been this a
differentiated approach. The methodology is based on mineralogical and structural
characterization by technicians knowing on academicals-scientific circle. The mineralogical
analysis is made by X-ray diffraction in diffractometer of Microestrutural Characterization
Laboratory (LCM) from UFSC, allowing to know, qualitatively, the existing phases in each
deposit formation level. The structural analysis is realized with images of microstructure of
deposit extracted by electronic microscope, that are processed in Imago® software to obtain
the porosity, porous distribution and covariogram. With the covariogram of microstructure, it
is possible obtain the fractal dimension, characterizing the sample in another parameter. The
fractal dimension has shown in different areas as an alternative to measure a complex
geometry or a random behavior. The final results indicate a method to follow on future
experimental works about deposition analysis.
Key words: Ashes deposition, X-ray diffraction, Fractal dimension.
1
1. INTRODUÇÃO
O aumento do consumo de energia no Brasil está acoplado a um cenário de crescimento
no setor industrial, refletindo em impulso para a economia, porém descortinando problemas
associados à insuficiência do sistema energético e à falta de ações no passado que previssem a
tendência do consumo. Dentro deste quadro, o governo criou planos de incentivo à geração
termoelétrica no período da crise energética, visando diminuir a carga sobre as hidrelétricas.
Crises energéticas ocorreram ao longo dos anos, indicando a necessidade de
investimentos na construção de plantas de geração e sistemas de distribuição, como também
da plena funcionalidade dos sistemas em operação.
Com este foco aplicado às plantas termoelétricas, evidencia-se que a principal causa de
não-funcionalidade está vinculada à formação de depósitos de cinzas nos trocadores de calor
existentes no interior da caldeira. Estudos sistemáticos sobre vários aspectos dos depósitos de
cinzas são realizados com o intuito de minimizar sua formação ou efeitos
Dentro deste nicho de estudos há o déficit de conhecimento acerca da caracterização das
etapas iniciais de formação do depósito de cinzas, indicando a necessidade do
desenvolvimento de uma metodologia embasada em técnicas difundidas no meio acadêmico-
científico para suprir este déficit.
Sendo definida a necessidade, este trabalho tem o objetivo de desenvolver a
metodologia citada, utilizando análises mineralógicas e estruturais que caracterizem amostras
coletas do interior da caldeira, formadas sobre uma superfície padrão.
2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nesse capítulo, é abordada a revisão bibliográfica sobre termoelétricas no Brasil,
deposição de cinzas, fractais e análises por microscopia eletrônica e raios-X, tópicos motrizes
deste trabalho.
2.1. TERMOELÉTRICAS NO BRASIL
A energia elétrica foi disponibilizada ao público brasileiro no final do século XIX,
apresentando naquele momento, uma capacidade de geração de 25 kW baseada em uma única
usina termoelétrica. Após mais de um século, o Brasil apresenta a capacidade de geração
energética da ordem de mais de 109.000 MW de potência instalada, com a previsão de
aumento da capacidade em 31.670 MW nos próximos anos, entre sistemas em construção e
projetos outorgados (ANEEL, 2008). Com a contínua ascensão industrial, o desenvolvimento
do setor energético em porte e tecnologia fez-se obrigatório ao longo dos anos, porém com
falhas na geração de energia causadas por investimentos tardios e pela inexistência de
planejamento em períodos anteriores à década de 80, acarretando em crises esporádicas ao
longo dos anos.
Atendendo as necessidades de planejamento, em 2000 o governo lança o Programa
Prioritário de Termeletricidade, ou PPT, como resposta ao baixo índice pluviométrico nos
dois anos anteriores e ao aumento do consumo de energia ocorrido após o Plano Real. O
objetivo era reduzir a dependência nas condições hidrológicas e a vulnerabilidade do sistema
que apresentava 90% do total baseado em hidroeletricidade, por meio do incentivo à
construção de termoelétricas, apresentando desta forma um aumento considerável na
participação do quadro gerador. Na Figura 1, tomando por base a energia gerada por
termoelétricas e hidroelétricas em 1975, verifica-se que a partir de 2000 a energia
termoelétrica apresentou um aumento na sua capacidade de geração em comparação à geração
hidroelétrica, indicando os efeitos do PPT. Tal medida contribuiu para que a crise energética
de 2001 não apresentasse danos mais extensos.
3
Figura 1. Relação de capacidade de geração hidroelétrica e termoelétrica no Brasil (ANEEL,
2002).
Porém, a partir de 2003, o PPT começara a ser desativado por desinteresse dos agentes
de mercado, uma vez que os investidores não encontraram vantagens em construir usinas sem
saber o custo do combustível e a existência de clientes para a energia produzida. Apesar das
especulações de futuras crises e um crescimento constante do PIB (iPIB, 2006), indicando um
aumento do consumo de energia, dados atuais demonstram que o país apresenta saldo positivo
na capacidade de geração de energia, embora extremamente dependente de condições
climáticas, devido à base em hidroelétricas, fazendo com que as termoelétricas atuem como
back up do sistema em caso de condições desfavoráveis (Castro e Cavaliere, 2007).
Assim, mesmo com a desmotivação dos investidores, as termoelétricas demonstraram
sua consolidação no papel de apoio ao quadro gerador nacional com uma imagem renovada
perante a população, uma vez que passaram a atender as metas ambientais estabelecidas pela
IEA (ANEEL, 2002).
A necessidade de redução de custos na construção de unidades geradoras diante do
esgotamento das fontes de energia hidroelétrica próximas dos grandes centros contribuiu para
o crescimento do setor termoelétrico brasileiro, juntamente com a implantação de uma intensa
política de redução de custos e de paradas para fins de manutenção. Tal política motivou
diretamente os estudos sobre aspectos da queima dos combustíveis e a otimização de
componentes das unidades geradoras de vapor, particularizando no estado de Santa Catarina,
estudos em usinas termoelétricas a carvão mineral, como a Usina Termoelétrica Jorge
Lacerda, localizada no município de Capivari de Baixo, responsável por 86% do potencial
termoelétrico do estado.
4
As usinas termoelétricas, em síntese, são unidades que convertem a energia de um
combustível em energia elétrica através da queima deste combustível no interior de uma
caldeira. O calor aquece a água que passa através dos tubos que constituem o corpo desta
caldeira, produzindo vapor que será direcionado a uma turbina integrada ao eixo de um
gerador, fazendo com que este entre em rotação, gerando eletricidade. Na Figura 2 pode-se
observar o esquema de uma planta termoelétrica com seus principais componentes.
Figura 2. Esquema de uma planta termoelétrica.
O carvão mineral utilizado nas usinas de Capivari de Baixo é uma complexa e variada
mistura de componentes orgânicos sólidos fossilizados ao longo de milhões de anos, sendo o
combustível fóssil mais abundante do planeta, com reservas estimadas em 1 trilhão de
toneladas (ANEEL, 2002). No Brasil, a geração termoelétrica a partir da queima do carvão
mineral corresponde a 1,33% da geração nacional, como indicado na Figura 3, traduzindo-se
na geração 1.455 MW (ANEEL, 2008).
5
Figura 3. Participação de fontes energéticas na geração de eletricidade no Brasil (ANEEL, 2008).
Analisando a participação do carvão, observa-se que apesar de relativamente pequena
sua contribuição ao quadro gerador, este representa um combustível abundante na região Sul,
com uma produção anual média de 6 milhões de toneladas voltadas para o setor energético
(SIECESC, 2008).
2.2. DEPOSIÇÃO DE CINZAS EM CALDEIRAS
A eficiência das caldeiras termoelétricas está diretamente relacionada com o tipo de
carvão mineral utilizado, seja devido ao seu poder calorífico, seja devido à quantidade de
impurezas existente nele. O carvão extraído no sul é caracterizado pelo alto teor de cinzas, o
qual acelera a formação de depósitos sobre os componentes existentes no interior da fornalha
da caldeira termoelétrica. Estes depósitos, como o da Figura 4, de acordo com
Konstandopoulos (2000), têm conseqüências indesejáveis em pontos como: a redução da
transferência de calor dos gases de combustão para o vapor passante no interior dos tubos
devido à natureza isolante dos depósitos, a queda de pressão do vapor, conseqüência da
redução da temperatura no interior dos tubos, a interferência aerodinâmica devido ao bloqueio
da passagem do escoamento, e o aumento da disposição a efeitos de deterioração devido à
retenção de agentes corrosivos e vapores condensáveis. Todos estes efeitos se traduzem na
queda da eficiência da planta, aumento dos custos de operação e manutenção e redução na
disponibilidade da unidade.
6
Figura 4. Imagem de um tubo de trocador de calor com destaque em um depósito de cinzas
Tais conseqüências motivam pesquisas neste âmbito, visando o entendimento dos
mecanismos de formação e a natureza destes depósitos. Nestas pesquisas, a área de simulação
numérica apresentou fortes contribuições.
Huang et al (1996) desenvolveram um modelo numérico para descrever o processo de
deposição de partículas de cinzas com a composição elementar pré-determinada, considerando
efeitos de termoforesi e impactação inercial, prevendo assim a deposição nos tubos do
superaquecedor com relativa precisão quando comparado com dados experimentais de
temperatura nos depósitos. Por sua vez, Baxter (1998) centrou seu trabalho na construção de
algoritmos que avaliam os efeitos da variação da emissividade e porosidade dos depósitos de
forma a poder aplicar os resultados em variados tipos de combustíveis sólidos.
Simulações prevendo o tamanho e a composição dos depósitos embasadas em um
mecanismo de deposição de partículas e de vapor condensável foram realizadas por
Tomeczek et al (2004), sendo executada posteriormente a validação dos resultados através do
monitoramento do crescimento do depósito nos tubos dos trocadores de calor durante nove
meses, sugerindo que o superaquecedor é a região que apresenta a maior taxa de deposição
dentre os componentes. A verificação dos depósitos nos tubos do superaquecedor indica que
são formados por partículas sólidas que se chocam na superfície previamente coberta com
uma camada adesiva de metais alcalinos condensados. Observou-se que nos primeiros três
meses o depósito apresenta o maior índice de crescimento, atingindo espessuras de até 25
7
mm, sendo que nos seis meses subseqüentes, apenas um crescimento de poucos milímetros foi
verificado, atingindo ao fim de nove meses, a espessura máxima de 30 mm. Na câmara de
combustão, os maiores depósitos são encontrados ao redor dos queimadores devido a grande
quantidade de partículas colidindo nesta região. Em caldeiras de carvão pulverizado há duas
regiões de intensa formação de depósitos, uma região de escória1 na câmara de combustão e
uma região de incrustação2 nos superaquecedores.
Sistemas de predição baseados em dados de microscopia eletrônica de varredura de
cinzas leves e CFD foram desenvolvidos por Lockwood e Lee (1999) para estudar a
propensão de escória do carvão e entender o aspecto fundamental deste mecanismo em
sistemas de combustão de carvão pulverizado. O estudo demonstrou que há uma deposição
preferencial do ferro em comparação aos silicatos e alumínio durante os estágios iniciais de
deposição de cinzas, assim como partículas maiores de cinzas leves tendem a ter maior
aderência às paredes da caldeira que as partículas menores.
Gupta et al (2005) também desenvolveram uma metodologia para deposição de cinzas
auxiliada por simulações computacionais após analisarem os componentes químicos e os
tamanhos das partículas de cinzas de carvão betuminoso retiradas de uma caldeira em escala
laboratorial, estimando assim a taxa de deposição e a capacidade de retenção das partículas,
avaliando a tendência de deposição das cinzas, prevendo assim o comportamento dessa
deposição.
Finalizando a linha de predição por recursos CFD, Konstandopoulos e Kostoglou (2000)
apresentaram uma análise do crescimento de depósitos a partir de simulações discretas das
partículas. Estas análises mostraram o quão dependentes são a taxa de adesão das partículas e
a microestrutura do depósito, da velocidade de impacto e ângulo de incidência.
Na linha de trabalhos sobre depósitos que não utilizam CFD, Baxter et al (1998)
motivados pela constante necessidade de geração de dados que validem estudos na área de
simulação computacional, conduziram testes com queima de biomassa em usinas e
laboratório. As análises obtidas referenciavam a natureza e a ocorrência de depósitos de
cinzas.
Estudos sobre as temperaturas de fusão das cinzas e as transformações das partículas de
cinzas para escória foram realizados por Gupta et al (1998). Estas análises foram realizadas
por meio de microscopia de varredura eletrônica, a qual permitiu identificar as mudanças 1 Escória é definida como os depósitos fundidos ou sinterizados sobre superfícies de trocadores de calor ou refratários no interior da caldeira, predominando a troca de calor por radiação. A natureza, grau e composição destes depósitos variam ao longo da caldeira em função da temperatura de superfície, temperatura da chama, taxas de absorção, direção do escoamento dos gases e composição do combustível (Bryers, 1996). 2 Incrustação é a deposição de cinzas em uma parte onde a troca de calor é convectiva e não radiante, e os gases passantes apresentam em geral temperaturas abaixo do ponto de fusão das cinzas. São de constituição mais frágil que os depósitos formados por escória (Bryers, 1996).
8
químicas e físicas. De posse dos dados da composição química, porosidade, viscosidade e
níveis de retração da amostra, foi construída uma hipótese relacionando a tendência de
deposição com a temperatura de fusão das cinzas.
Lógica semelhante está contida nos trabalhos de Konstandopoulos et al (1995) ao
apresentaram um estudo do crescimento dinâmico de depósitos num cilindro inserido num
escoamento de gases de combustão de carvão pulverizado, analisando a microestrutura do
depósito através da sua distribuição de porosidade.
Estudos sobre as transformações da matéria mineral durante a combustão do carvão
pulverizado com microscopia eletrônica através de amostras coletadas no decorrer da
combustão foram conduzidos por Yamashita (2000), gerando ao fim uma metodologia para
prever a distribuição do tamanho das cinzas leves e a composição química no decorrer da
queima da amostra.
Yan et al (2001) através de modelos de formação expõem a existência de alterações no
desempenho térmico de um trocador de calor devido à coalescência de minerais como quartzo
e K-Al-silicatos, por auxiliarem na deposição das cinzas. Agregando a este trabalho, Wall et
al (1995), concluíram que a absortividade radiativa e a condutividade térmica do depósito são
dependentes dos processos pelos quais estes são formados. Também neste foco,
Konstandopoulos (2000) mostrou que parâmetros como a velocidade de impacto, ângulo de
incidência da partícula sobre o depósito e grau de aderência da partícula estão entre os
parâmetros mais relevantes numa análise de formação de depósitos de cinzas quando não se é
considerada a temperatura.
Em continuidade, Rushdi et al (2004), utilizando uma caldeira de escala laboratorial,
conduziram experimentos de deposição de cinzas provenientes da queima de carvões e suas
misturas, sendo conhecida as características constituintes deles. O estudo indicou diferenças
inesperadas para as misturas ao serem avaliadas suas cinzas pela viscosidade e
comportamento termodinâmico.
Também em uma caldeira em escala laboratorial, Su et al (2003) realizaram estudos
experimentais sobre a propensão da formação de incrustação em tubos de trocadores de calor,
indicando que a composição do carvão influência na formação dos depósitos.
Semelhante ao trabalho proposto nesta dissertação, Fontes (2004) utilizou uma sonda
refrigerada simultaneamente por ar e água em uma caldeira laboratorial para execução da
parte experimental de sua tese, a qual tinha o objetivo de avaliar a taxa de deposição de
cinzas. Também, Naruse et al (2005) inseriram uma sonda refrigerada à água em uma caldeira
onde foram queimados três tipos de carvão com diferentes temperaturas de fusão e
9
composição de cinzas sob a forma pulverizada em condições de altas temperaturas para
estudar o tipo de depósito obtido em cada condição.
2.3. TEORIA DOS FRACTAIS
Fractal é um objeto geométrico não-Euclidiano que pode subdividir-se teoricamente, em
infinitas partes similares à imagem original.
O termo fractal, derivado do latim fractus, que significa fração ou quebrado, foi cunhado
em 1975 por Benoît Mandelbrot, sendo que anteriormente, o termo curvas monstro era
utilizado para definir estruturas fractais.
Anteriormente a Mandelbrot, estruturas fractais eram estudadas primeiramente pela sua
estética, como exposto no trabalho do artista alemão Albrecht Dürer na publicação da sua
obra The Painter's Manual no século XVI (Jones, 1990), que trata os passos da construção da
estrutura fractal conhecida como pentágono de Dürer, semelhante à estrutura do pentágono de
Sierpinsk, vistos na Figura 5.
(a) (b)
Figura 5. Pentágono de (a) Dürer e (b) Sierpinsk.
Definições sobre a natureza dos fractais foram dadas inicialmente pelo filósofo alemão
Gottfried Wilhelm von Leibniz ao inserir noções de auto-similaridade e o princípio da
continuidade.
A partir do final do século XIX, os estudos matemáticos para reconhecer as bases da
estrutura fractal intensificaram-se. Em 1872, o matemático alemão Karl Theodor Wilhelm
Weierstrass encontra o exemplo de uma função com uma propriedade não-intuitiva que era
contínua em todo domínio, mas não-diferenciável em parte alguma da sua extensão (Deering
e West, 1992). Três décadas após, em 1906, o matemático sueco Niels Fabian Helge von
Koch, em aprimoramento à definição abstrata e de construção analítica pouco exemplificativa
10
de Weierstrass (O'Connor e Robertson, 2000), apresenta uma definição com fundamentação
geométrica à uma função similar ao final do seu trabalho Une méthode géométrique
élémentaire pour l'étude de certaines questions de la théorie des courbes plane, a qual é
posteriormente denominada de curva de Koch, sendo que, quando aplicado seu princípio a
triângulos, forma a geometria conhecida como floco de neve de Koch, exemplificada na
Figura 6.
Figura 6. Primeiras três iterações do floco de neve de Koch
A idéia de curvas auto-similares foi usada posteriormente por Paul Pierre Lévy em seu
artigo de 1938, Plane or Space Curves and Surfaces Consisting of Parts Similar to the Whole,
descrevendo pela primeira vez as propriedades de auto-similaridade, bem como expondo uma
construção geométrica, representando a curva atualmente conhecida como curva C de Lévy.
Outros matemáticos, como Henri Poincaré, Felix Klein, Pierre Fatou e Gaston Julia
realizaram estudos sobre o comportamento fractal, culminando com os estudos sobre auto-
similaridade de Benoît Mandelbrot apresentados em artigos no decorrer da década de 60,
entre eles o How Long Is the Coast of Britain? Statistical Self-Similarity and Fractional
Dimension, baseando o título e a abordagem de seu artigo na pesquisa do matemático inglês
Lewis Fry Richardson, que investigou como o comprimento das fronteiras de um país ao
serem mensuradas, muda quando a unidade de medida é trocada, concluindo que a redução da
escala de medição dos limites provoca o aumento do comprimento total.
Na atualidade, exposições gráficas computacionais demonstram a magnitude da natureza
fractal, possibilitando uma análise pormenorizada do comportamento matemático das
equações que o regem.
Assim, Mandelbrot e seus predecessores no estudo de estruturas fractais contribuíram
para a descrição matemática e análise de tais formas, encontradas inclusive na natureza —
exemplo na Figura 7 —, que por sua vez eram laboriosas ou irrealizáveis através da geometria
Euclidiana.
11
Figura 7. Brassica oleracea, do grupo Botrytis, uma estrutura natural semelhante ao fractal.
A compreensão da natureza fractal e sua expansão para elementos existentes no dia-a-
dia impulsionaram a realização de estudos relacionados ao seu crescimento, capacitando a
previsão do comportamento de inúmeros sistemas anteriormente incapazes de serem
quantificados por outra metodologia que apresentasse um comportamento paralelo à
geometria Euclidiana ou que não seguisse padrões exclusivamente estatísticos. A
quantificação e conseqüente previsão do crescimento de elementos fractais ou que apresentem
algum comportamento fractal são aplicadas em diversas áreas.
Estudos embasados na natureza fractal foram usados por Kampichler (1999) para
caracterizar o desenvolvimento da microfauna do solo formada por invertebrados e
nematóides. Sendo seu trabalho uns dos primeiros com esta abordagem na sua área,
restringiu-se à análise de lâminas de amostras bidimensionais do solo, dando um incentivo
para pesquisas subseqüentes ao conseguir quantificar o comportamento dos animais em suas
amostras.
A medicina seguiu caminho semelhante ao utilizar o comparativo de fractais no estudo
comportamental de elementos da fisiologia humana. Estudos relacionados a tumores de mama
(Mavroforakis et al, 2006) utilizaram fractais para criar padrões que analisassem a textura de
massas observadas em mamografias para identificação da existência ou não de tumores e sua
gravidade. Semelhantes estudos foram realizados para diagnóstico do Mal de Alzheimer
através da análise fractal aplicada a eletroencefalogramas (Woyshville e Calabrese, 1994), que
embora apresentassem um comportamento padrão em pacientes diagnosticados com o mal,
ainda se encontram em fase inicial para serem tidos como uma metodologia diagnóstica.
Acharya U. et al (2005) utilizou a mesma técnica para diagnosticar doenças cardíacas através
do tratamento de dados da taxa de variação cardíaca.
12
Trabalhos mais amadurecidos no uso de fractais, ainda na área biológica, desenvolvido
por Pogue e Schnell (2001) caracterizaram o grau de complexidade das fronteiras dos
ecossistemas das Grandes Planícies do Sul da América do Norte, relacionando o avanço das
áreas agrícolas sobre as regiões silvestres, obtendo indicativos do grau de degradação do
ambiente em análise.
O uso do fractal para caracterização de formações geológicas é utilizado de forma mais
ampla e intensiva que em áreas biológicas, sendo utilizado para reconstrução de formações
rochosas e formações de costas (Hauchard et al, 2002).
E, curiosamente, seguindo o caminho inverso aos primórdios de sua concepção, fractais
foram utilizados para classificar obras de arte ao invés de serem as bases para sua criação no
trabalho de Gerl et at (2004), onde a análise objetivou reconhecer os autores de pinturas pela
característica fractal da imagem por eles produzida, apresentando resultados satisfatórios na
análise. Entretanto, este estudo realizou-se como um teste da capacidade quantitativa e
conseqüentemente, qualitativa dos fractais, não havendo a intenção de criar uma metodologia
para tal classificação de obras de artes.
Sendo o uso de análise fractal difundido em inúmeras áreas, é natural encontrar
trabalhos envolvendo fractais na área de caldeiras e deposição de cinzas. Song et al (2004),
realizou estudos com fractais objetivando caracterizar a pirólise de três tipos de carvões
utilizados em termoelétricas chinesas através do método de cálculo de Xie (Xie e Wang,
1999), conseguindo apenas comparativos qualitativos devido à complexidade matemática
deparada.
Helalizadeh et al, 2000, investigou os mecanismos de cristalização de sais misturados no
efeito de incrustação sobre os trocadores de calor durante a transferência de calor convectiva
através da variação sistemática de parâmetros, executando ao fim, a análise fractal oriunda de
fotografias de microscopia eletrônica dos depósitos para quantificação das características,
referenciando a inexistência de trabalhos que avaliassem os depósitos de misturas de sulfato
de cálcio e carbonato de cálcio.
De forma semelhante, Helalizadeh et al (2006) menciona que ao focar estudos na análise
fractal de depósitos de particulados sobre superfícies de trocadores de calor, confronta-se com
a inexistência de informações disponíveis na literatura, associada à complexidade em
expressar matematicamente os efeitos físicos relacionados ao mecanismo de deposição como:
a quantidade de movimento, a transferência de calor e massa, a cinética química, etc.
Por fim, a principal base para estudos de depósitos por ótica fractal reside nos trabalhos
realizados por Mendes et al (2005) ao retratar características de depósitos coletados de
13
trocadores de calor de caldeiras durante a parada destas e na construção de algoritmo para
construção de depósitos através de modelos de deposição (Mendes et al, 2006).
2.4. MICROSCOPIA ELETRÔNICA E DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X
A microscopia eletrônica e a difratometria de raios-X são duas técnicas utilizadas
comumente para microanálises estruturais e elementares de amostras sólidas em diversas
áreas do conhecimento.
De acordo com Maliska (—), a microscopia eletrônica de varredura teve início em 1935
com o trabalho de M. Knoll ao descrever a concepção do microscópio eletrônico, sofrendo
constantes melhoramentos até ser construído para fins comerciais em 1965 pela Cambridge
Scientific Instrument. Seu funcionamento consiste basicamente no bombardeamento da
amostra com um feixe de elétrons, resultando na emissão de vários tipos de radiação que
serão captadas para formar a imagem, sendo também possível uma análise qualitativa por
meio da identificação dos raios-X emitidos pela interação inelástica do feixe eletrônico com a
amostra.
Por sua vez, a difratometria de raios-X, também denominada de DRX, é resultado de um
dos efeitos dos raios-X, assim como as chapas radiográficas. A teoria de difração dos raios-X
em cristais foi formulada por Laue em 1912, que conquistou o prêmio Nobel de Física por seu
trabalho (Bleicher e Sasaki, 2000) abrindo caminho para a utilização da difração de raios-X.
A difração de raios-X é tida como o fenômeno de interação entre o feixe de raios-X e os
elétrons de átomos de uma amostra, liberando fótons. A difração destes fótons apresenta um
ângulo de difração dependente do ângulo de incidência dos raios-X sobre o plano cristalino,
assim como variações na sua intensidade devido ao grau de interferência construtiva das
ondas de fótons originadas dos planos interplanares.
A difração de raios-X obedece à lei de Bragg e, desde que tratada como um
espalhamento coerente, permite caracterizar os compostos químicos de cada amostra através
da correlação entre o ângulo de incidência e os picos de intensidade provocados pela difração
em planos cristalinos de mesma distância interplanar. Esta correlação é melhor exposta em
uma forma gráfica denominada difratograma, podendo assim ser comparada à uma biblioteca
de difratogramas característicos de cada composto para definir qual está presente na amostra.
Por suas extensas capacidades, a microscopia eletrônica e a difratometria de raios-X são
passíveis de uso em análises de produtos cerâmicos, como resíduos da queima de carvão.
Muitos pesquisadores têm por objetivo viabilizar as cinzas de carvão como matéria-prima,
fazendo uso extensivo do MEV e DRX, e obtendo como resultado a caracterização de
14
variados tipos de cinzas. Entre estes pesquisadores, cita-se como àqueles que foram estudados
e agregaram informações sobre a forma a ser trabalhada as amostras e os resultados a serem
obtidos: Risbud et al (1992), Calarge et al (1994), Silva et al (1999), Jung et al (2001),
Fernandes et al (2001), Fonseca et al (1994) e Kniess et al (2002).
Em estudos com outra abordagem, mas que também agregaram informações, Huffman
et al (1990) utilizou o MEV em produtos da combustão de carvão de uma unidade de queima
de carvão laboratorial para investigar as reações de Ca, Fe e alcalinos nas amostras, com o
intuito de relacionar a composição desses elementos com a formação do depósito. Gupta et al
(1998) utilizou o MEV para caracterizar amostras de carvões e suas capacidades na formação
de depósitos de cinzas em caldeiras termoelétricas. Harb et al (1999) faz uso do MEV para
caracterizar as propriedades dos depósitos em função do seu posicionamento, também em
uma unidade de queima de carvão laboratorial.
Outro trabalho similar e de destacada relevância à esta dissertação é o de Mendes et al
(2005) que utiliza o MEV e o DRX para caracterizar elementarmente os depósitos de cinzas e
o carvão que os geraram.
Por fim, complementando a metodologia aplicada na dissertação, foi estudado o trabalho
de Berti et al (2007) que analisou depósitos de cinzas formados sobre trocadores de calor
através das imagens das amostras dos depósitos no programa Imago®, validando-as com
análises experimentais da porosidade das amostras pelos métodos de picnometria e Princípio
de Arquimedes.
15
3. CINZAS E DEPOSIÇÃO
Neste capítulo serão discutidos os mecanismos de formação das cinzas durante a
combustão e os mecanismos de deposição de cinzas sobre a superfície de trocadores de calor,
sendo de interesse o entendimento destes mecanismos para auxílio em análises subseqüentes,
observando que não são o foco de análise do trabalho.
3.1. MECANISMOS DE FORMAÇÃO DAS CINZAS
Em acordo com Lind (1999), os combustíveis sólidos contêm constituintes inorgânicos
que formam as cinzas durante sua combustão. Estes componentes podem se encontrar no
combustível como partículas minerais inclusas — partículas existentes nos interstícios
moleculares do combustível —, partículas minerais exclusas — partículas dispersas no
combustível sem apresentar ligações com a matriz —, sais, e ligações orgânicas com a matriz
hidrocarbônica do combustível.
A formação das cinzas está relacionada com uma seqüência complexa de mecanismos
desencadeados pela combustão do carvão. Gupta et al (1998) e Baxter (2000) indicam que o
tipo de material inorgânico e as condições de combustão são os fatores que irão alterar a
produção de cinzas, criando vapores, fumos e partículas maiores com diversas composições.
Na Figura 8 está ilustrado o processo de formação das cinzas definida por Kær (2001) e
Seames (2003), obtendo-se ao fim uma distribuição bimodal relacionada ao tamanho das
cinzas.
16
Figura 8. Ilustração esquemática das partes do mecanismo de formação das cinzas durante a
combustão. Adaptado de Kær (2001) e Seames (2003).
Esta distribuição bimodal é função de duas classes de mecanismos formadores das
cinzas. A primeira engloba a formação de partículas com diâmetros maiores que 1 µm,
geradas pela fragmentação do carvão e a subseqüente coalescência destes fragmentos
auxiliada pelos vapores. A segunda refere-se à nucleação, condensação e coagulação dos
vapores dos sais alcalinos contidos no carvão, gerando partículas submicrométricas (Kær,
2001 apud Baxter, 1998).
A segunda etapa é iniciada com as partículas de vapor agregando-se para formar uma
nova partícula através de um processo de nucleação. Em seqüência, estas partículas formadas
agrupam-se, passando de um estado já líquido para sólido por um mecanismo semelhante à
coagulação, e por isto assim definido. Parte deste vapor condensa-se e juntado-se às partículas
coaguladas para formar as cinzas submicrométricas.
3.2. MECANISMOS DE DEPOSIÇÃO DE CINZAS
Baxter (2000) define que existem cinco processos que se destacam na formação do
depósito: o impacto inercial, a termoforesi, a condensação, as reações heterogêneas, e a
impactação por vórtices, sendo esta última adicionada apenas quando tratar-se de um
17
escoamento com altas concentrações de fumos. Estes mecanismos podem ser visualizados na
Figura 9.
Figura 9. Mecanismos de deposição sobre a superfície de um trocador de calor. Adaptado de
Kær (2001).
3.2.1. Impacto Inercial
O impacto inercial é o mais comum dos processos pelo qual a maior parte do depósito
de cinza é formada. A eficiência de captura da partícula descreve a propensão destas de se
manterem fixas à superfície do trocador de calor após colidirem, sendo que a taxa de
impactação inercial depende da geometria, propriedades do escoamento dos gases, tamanho,
viscosidade, composição e densidade da partícula. Este processo privilegia as partículas de
diâmetros maiores por possuírem maior inércia e área, possibilitando a sua fixação no
momento em que as linhas de correntes nas quais estão sendo transportadas passam próximas
ao tubo.
Estas partículas apresentam também suas maiores taxas de deposição no centro do
cilindro que compõem o trocador de calor, decaindo a taxa na medida em que se amplia o
ângulo da área de deposição, visto na Figura 10, chegando à zero em ângulos maiores que 50º
(Baxter, 2000).
18
Figura 10. Vista lateral do trocador de calor com representação do ângulo de deposição em
relação ao escoamento dos gases de combustão com particulados.
3.2.2. Termoforesi
Baxter (2000) e Kær (2001), definiram a termoforesi como um processo de transporte
das partículas existentes nos gases para a superfície do trocador de calor, movido pelo
gradiente de temperatura existente entre eles, sendo que em algumas circunstâncias a
deposição por termoforesi é responsável pela fração dominante de partículas
submicrométricas na superfície de um trocador de calor.
Estes depósitos formados por termoforesi são constituídos de grãos mais finos e
distribuídos de forma mais dispersa em volta da superfície de um trocador de calor do que os
depósitos formados por impactação inercial. Com o aumento do depósito na superfície do
trocador, há uma queda no gradiente de temperatura, reduzindo a taxa de deposição por
termoforesi.
3.2.3. Condensação
A condensação é tida por Baxter (2000) e Kær (2001) como o mecanismo pelo qual os
vapores são depositados na superfície que está mais fria que os gases circundantes.
O condensado tem a capacidade de aumentar a área de contato entre os depósitos
granulares e a superfície do trocador de calor, aumentando a dificuldade de remover o
depósito dela, como também podem aumentar a área de contato entre partículas,
influenciando na condutividade térmica, difusividade de massa e outras características do
depósito. Os depósitos que apresentam este mecanismo de formação são fortemente aderidos
19
à superfície do trocador e possuem maior eficiência na captura das partículas existentes nos
gases circundantes.
A quantidade de condensado em um depósito é em sua maioria depende do modo de
ocorrência do material inorgânico no carvão. Carvões de baixa qualidade e outros
combustíveis similares têm a propriedade de produzir grandes quantidades de materiais
condensáveis. Em carvões de melhor qualidade a condensação pouco contribui na formação e
nas propriedades físico-químicas do depósito.
A condensação pode se dar através de três mecanismos:
i. o vapor transpassa a camada limite térmica e se condensa heterogeneamente na
superfície do trocador de calor ou no depósito poroso;
ii. vapores se nucleiam homogeneamente para formar um fumo e subseqüentemente
depositar-se por termoforesi;
iii. vapores condensam heterogeneamente sobre outras partículas existentes na
região delimitada pela camada limite térmica e chegam até a superfície do
trocador de calor por termoforesi.
Depósitos de condensados apresentam partículas menores que 0,5 µm e apresentam uma
deposição mais uniforme na superfície do trocador de calor que os materiais depositados
exclusivamente por termoforesi ou impacto inercial.
3.2.4. Reações Químicas
Reações químicas é o mecanismo de deposição que envolve as reações heterogêneas dos
gases com materiais do depósito, ou menos comumente, com a própria superfície do trocador
de calor e são afetadas principalmente pela temperatura.
Entre as principais reações químicas que afetam a deposição de cinzas, destacam-se a
sulfatação, absorção alcalina, oxidação e sinterização.
3.2.5. Impacto de Vórtices
É um processo semelhante ao impacto inercial, porém apenas atuante sobre partículas
muito pequenas ou demasiadamente leves, consistindo na deposição destas pela ação de
vórtices turbulentos próximos as camadas limites fluidodinâmicas existentes sobre a
superfície do trocador de calor.
20
3.3. FORMAÇÃO DO DEPÓSITO DE CINZAS
Uma vez definido os mecanismos de formação e de deposição de cinzas, se faz lógico
expor a seqüência de formação do depósito sobre a superfície do trocador de calor. Na Figura
11 visualiza-se esta seqüência relacionada com a temperatura da superfície do depósito, Td e
as mudanças físico-químicas de cada camada.
Figura 11. Desenvolvimento do depósito de cinzas. Adaptado de Rushdi et al (2004).
Rushdi et al (2004) determina que a deposição de cinzas sobre o trocador de calor se
inicia com a adesão de partículas em estado seco, semi-derretido ou derretido, dependendo da
composição e tamanho das partículas de cinzas, do fluxo de calor no local e da condensação
dos constituintes voláteis, assim como irregularidades na superfície podem auxiliar na
deposição de pequenas partículas sobre ela.
As partículas dispersas nos gases de combustão apresentam altas temperaturas, e com a
aproximação destas partículas da superfície do depósito o gradiente de temperatura cai, sendo
que podem vir a derreter ao colidirem com a superfície. Neste caso, para as partículas
aderirem à superfície do depósito, elas devem estar em um estado semelhante a uma cola
formada por sais alcalinos (Fe e Ca) que se condensam na superfície do trocador de calor.
Estas partículas semi-derretidas podem aderir à superfície do trocador de calor pela tensão
superficial antes de se resfriarem.
Partículas submicrométricas e produtos da condensação geralmente depositam-se
uniformemente sobre a superfície, uma vez que os depósitos maiores de partículas semi-
21
derretidas e derretidas desenvolvem-se em padrões irregulares dependentes da dinâmica do
escoamento e da distribuição das cinzas na trajetória dos gases.
Com o crescimento do depósito, sua superfície se afasta gradativamente da influência do
gradiente de temperatura do trocador de calor, passando a sofrer um aumento da temperatura.
Este aumento de temperatura afeta a estrutura física da superfície do depósito, a qual muda de
uma superfície particulada para uma parcialmente derretida, gerando assim uma superfície
adesiva, onde outras partículas poderão aderir. Neste estágio, pode ocorrer a sinterização de
parte do depósito, dependendo do estado de derretimento das partículas que chegam. Como o
depósito sinterizado continua a crescer, a temperatura da superfície do depósito aumenta,
aumentando assim o grau de sinterização. Quando a temperatura do depósito torna-se muito
alta, a superfície do depósito começa a derreter e escoar. Por fim, neste estágio, o depósito
pode não mais crescer dado o escoamento líquido da superfície.
22
4. FUNDAMENTOS DA DIMENSÃO FRACTAL
Diferente das duas outras características — porosidade e distribuição de poros —
selecionadas para caracterizar a estrutura de um depósito de cinzas, a dimensão fractal é a
menos conhecida e a que apresenta maior grau de complexidade na sua conceituação. Assim,
são abordadas em seqüência lógica neste capítulo, as definições que levam ao entendimento
da dimensão fractal e sua aplicabilidade na caracterização e desenvolvimento de superfícies.
4.1. DIMENSÃO
Dimensão é o parâmetro ou medida requerida para definir as características de um
objeto. Na matemática, as dimensões descrevem a posição e as características de qualquer
objeto, sendo que as dimensões de um espaço são os números totais de diferentes parâmetros
usados para descrever todos os possíveis objetos considerados nos modelos. Generalizações
desses conceitos são possíveis e diferentes campos de estudo irão definir seus espaços para
suas dimensões relevantes, ou seja, em um modelo de espaços geográficos, a unidade de
medida poderá ser quilômetros ou milhas, enquanto modelos econômicos usariam custo ou
preço.
Um ponto num plano, como uma cidade em um mapa, ou um ponto no espaço, de forma
semelhante à localização de um avião em vôo, são representações básicas de dimensões em
um sistema 2D e 3D, respectivamente. Se a grandeza tempo for adicionada, pode-se indicar
que há 4 dimensões, dependendo do espaço inicial.
A física teórica por vezes, manipula as dimensões ao adicionar ou mudar suas
propriedades para poder descrever conceitos não usuais de modelos espaciais, sendo
geralmente utilizada para estudos em mecânica quântica. Estas dimensões físicas, ou as
dimensões usuais, são parâmetros necessários para definir quando e onde um evento ocorreu,
ocorre, ou ocorrerá.
4.2. DIMENSÃO TOPOLÓGICA
A concepção e percepção do mundo são intuitivamente feitas através da existência de
quatro representações: o ponto, a linha, o plano, e o sólido, sendo estas as bases da geometria
Euclidiana.
23
O ponto é um conceito usado na definição de uma localização exata no espaço, não
apresentando volume, área ou comprimento. Matematicamente, pela dimensão topológica,
qualquer forma tem como seus elementos básicos infinitos pontos.
Por sua vez, a linha pode ser descrita como uma curva infinitamente fina, infinitamente
longa e perfeitamente reta e pode ser representada algebricamente num plano cartesiano por
funções lineares. Pela geometria Euclidiana, há a noção que a conexão mais curta entre dois
pontos é uma reta.
O plano é um objeto fundamentalmente bidimensional, que por definição, contém todas
as retas que passem sistematicamente por dois de três pontos em um espaço qualquer.
E o sólido, por fim, é a concepção básica do universo perceptível, definido por três
coordenadas ortogonais entre si, repassando a noção de profundidade.
Assim, a dimensão topológica é definida como a noção básica de dimensão, onde um
ponto, uma reta, uma superfície e um sólido apresentam as dimensões iguais a 0, 1, 2 e 3,
respectivamente. Estas dimensões podem ser obtidas pelo método exposto por Gouyet (1992)
que consiste no recobrimento do objeto em análise por células elementares, onde um
segmento de reta, um elemento de superfície ou de volume, é tomado como unidade de
medida. A medida M, obtida desta forma será:
dM Nε N= = µ (4.1)
4.3. DIMENSÃO DE HAUSDORFF-BESICOVITCH
A dimensão de Hausdorff-Besicovitch, ou simplesmente, dimensão de Hausdorff, é
criada a partir da definição intuitiva de medida, a qual permite compararem-se os tamanhos de
conjuntos.
Para demonstrar a dimensão de Hausdorff, Fernandes (1994, apud Gouyet, 1992) propõe
a medição de um objeto E através do seu recobrimento por células pertencentes ao espaço no
qual o objeto está imerso, de unidade de medida ( )d Eεµ = , onde ε é o tamanho do lado da
célula e ( )d E é a dimensão do objeto E. Toma-se um quadrado de lado L, sendo recoberto
por células quadradas de lado ε . Pressupondo-se desconhecida a dimensão do quadrado, se
fará ensaios tomando a unidade de medida εαµ = , onde α é o parâmetro desconhecido.
Sendo a medida M igual a Nµ , e fazendo-se ( )2
N L ε= tem:
24
2 2M L εα−= (4.2)
Supondo-se inicialmente 1α = , o valor de M → ∞ quando ε 0→ . Para 3α = , M 0→
quando ε 0→ . E assim, para 2α = , obtém-se a superfície do quadrado. Percebe-se que o uso
deste método é uma generalização para dimensões não inteiras, e que nesta generalização, o
recobrimento do objeto E é feito por esferas iV onde o diâmetro das esferas ( )idiam V é
menor ou igual a ε , indicando que deve ser tomado o limite inferior das unidades
( )idiam Vα
µ = .
A chamada α -medição de recobrimento é definida matematicamente como:
( ) ( ){ }i i iε 0
m E liminf diam V : V E, diam V ε→
= ∪ ⊃ ≤∑αα (4.3)
e a dimensão de Hausdorff:
( ) ( ){ }
( ){ }
dim E inf : m E 0
sup : m E
α
α
= α =
= α = ∞ (4.4)
A ( )dim E é o valor de α onde a medida faz um salto de zero ao infinito, como o
exemplo do quadrado de lado L.
Expressando em uma forma mais intuitiva a equação (4.4), pode-se expressá-la como
um único número ( )dim E tal que:
( ) ( )
( ) ( )
se < dim E , m E ,
se > dim E , m E 0.
α
α
= ∞
= (4.5)
4.4. DIMENSÃO FRACTAL
Segundo Falconer (1990), Mandelbrot em seus trabalhos originais definiu
matematicamente os fractais como sendo um conjunto com a dimensão de Hausdorff
excedendo estritamente a sua dimensão topológica, sendo que esta definição se provou
insatisfatória por excluir um número de conjuntos que claramente eram fractais. Porém, está
25
definição perdura, uma vez que várias outras definições propostas também apresentam
limitações.
Para tanto, Falconer (1990) faz a seguinte consideração subjetiva:
Meu sentimento pessoal é que a definição de um fractal deve ser considerada do mesmo
jeito que um biólogo considera a definição de vida.
Juntamente a esta consideração, Falconer (1990) soma algumas definições para que um
conjunto F qualquer possa ser definido como um fractal:
i. F tem uma estrutura fina;
ii. F é extremamente irregular para ser descrito pela linguagem geométrica
tradicional;
iii. Freqüentemente F tem alguma forma de auto-similaridade, determinística ou
estatística;
iv. Geralmente a dimensão fractal de F, definida de alguma forma, é maior que sua
dimensão topológica;
v. Na maioria dos casos de interesse, F é definido de uma maneira muito simples,
provavelmente recursivamente.
O conceito de fractal pode ter seu entendimento ampliado na medida em que se expõem
características que são intrínsecas a ele. A primeira, a auto-similaridade, repassa a noção de
que fractais apresentam similaridades em suas formas na medida em que é ampliada a escala
de observação. Esta característica é observada com facilidade em fractais construídos por
meios determinísticos, ou seja, predefinidos, por apresentarem-se idênticos em diferentes
escalas, como por exemplo, o conjunto fractal de Mandelbrot. Nos fractais construídos de
forma aleatória, a auto-similaridade se apresenta de forma menos evidente, com medidas
numéricas ou estatísticas que são preservadas em diferentes escalas, como pode ser observado
na disposição de neurônios. Ambos são exemplificados na Figura 12.
26
Figura 12. Conjunto fractal de Mandelbrot (esquerda), um fractal determinístico e uma rede
neural (direita), um fractal estatístico.
Um segundo conceito é exposto por Barabási e Stanley (1995), embasados nos trabalhos
de Mandelbrot: a definição de auto-afinidade. A auto-afinidade apresenta um conceito
semelhante à auto-similaridade no pressuposto de observação de similaridades das formas
com a mudança de escala, apresentando diferença no instante em que a escala é mudada.
Fractais auto-similares sofrem apenas mudanças de escala ditas isotrópicas, ou seja, todas as
dimensões se expandem com a mesma magnitude, enquanto fractais que apresentam auto-
afinidade necessitam de mudanças de escala anisotrópicas para poderem apresentar
similaridade, como indicado na Figura 13.
Figura 13. Redimensionamento de escala (a) isotrópico e (b) anisotrópico.
O efeito da transformação de escala permite a quantificação da desordem da superfície
através de funções denominadas auto-afins, que por sua vez possibilitam a associação delas
com um terceiro conceito.
27
Este terceiro conceito, chamado de dimensão fractal, expõe a natureza única do fractal
juntamente à definição de uma dimensão, constituindo uma característica magna dos fractais e
estudos relacionados. A sua definição é tida por Mandelbrot (1991) como o número que
quantifica o grau de irregularidade e de fragmentação de um conjunto geométrico ou de um
objeto natural que se reduz, no caso de objetos da geometria Euclidiana, às suas dimensões
usuais. Falconer (1990), por sua vez, define-a como um indicativo de como os fractais
refletem suas propriedades de mudança de escala e auto-similaridade, e Barabási e Stanley
(1995), em semelhança a Mandelbrot (1991), a definem como o elemento que caracteriza
quantitativamente a auto-similaridade de um sistema. As definições de todos os autores serão
consideradas no desenvolver do trabalho, uma vez que não discordam entre si, e sim,
complementam-se para a compreensão de um elemento de entendimento pouco intuitivo.
Para a exposição do cálculo básico de uma dimensão fractal, parte-se da evolução da
curva de Koch na Figura 14, demonstrada por Gouyet (1992).
Figura 14. As 3 primeiras iterações da curva de Koch.
Na curva de Koch, a construção é iniciada repartindo-se um comprimento L inicial em
três segmentos de tamanho ℓ e seguidamente, substituir o segmento do meio por dois
segmentos com tamanho ℓ cada. Sucessivamente cada segmento ℓ é repartido em três e todo
processo repete-se infinitamente. A equação (4.6) permite uma percepção em termos
matemáticos da primeira à n-iteração.
nn
nn
n
222
111
ε4 L 3Lε
16ε L 9Lε
4ε L 3Lε
=→=
=→=
=→=
L (4.6)
Suprimindo n entre as duas igualdades, é obtido:
( ) ff D1n
Dn εLL −
= (4.7)
28
Para a curva de Koch, obtém-se a dimensão fractal como:
1,2619ln3
ln4D f ≅=
Vários estudiosos desenvolveram metodologias para cálculo da dimensão fractal, vide a
comparação com a dimensão de Hausdorff realizada por alguns autores para a caracterização
da dimensão. Outros métodos, como: massa raio, intersecção acumulativa, box-counting,
dividers, também denominado compass e Bouligand-Minkowski, são comparados por Backes
e Bruno (2005), expondo suas diferenças em quesitos de precisão e adequação aos diferentes
objetos em análise.
Porém, neste trabalho será usado o cálculo da dimensão fractal através do covariograma
das amostras, embasando-se em Fernandes (1994), tendo-se optado por este método
primeiramente por ser um método já utilizado em trabalhos relativos aos depósitos de cinzas
das caldeiras termoelétricas da Tractebel Energia S.A. e por ser um método que apresenta
resultados confiáveis para estruturas com grandes variações dimensionais como as das
amostras coletadas, ou seja, numa mesma amostra existem regiões com poros grandes e
regiões com poros diminutos.
29
5. PROCEDIMENTO DE AQUISIÇÃO DE DADOS PARA CONSTRUÇÃO DA METODOLOGIA
A metodologia consiste em uma seqüência de procedimentos para aquisição dos dados e
caracterização de amostras dos depósitos de cinzas da unidade geradora de vapor, de acordo
com a organização proposta na Figura 15.
Figura 15. Organização dos procedimentos de aquisição e caracterização.
Uma sonda especialmente projetada e construída com base nos trabalhos de Harb et al
(1999), Fontes (2004) e Naruse et al (2005), no Laboratório de Ciências Térmicas foi
utilizada para coletar amostras de depósitos de cinzas, dados de temperatura e velocidade dos
gases de combustão e temperatura da base do depósito.
A sonda, conforme ilustrada na Figura 16, consiste de dois tubos concêntricos de aço-
inox de 2100 mm, por onde a água é injetada e retirada por uma rede de tubos de alta pressão
conectados à sonda, permitindo seu arrefecimento e subseqüente retirada da água aquecida. A
sonda possui um anel de apoio concêntrico a ela, com 110 mm de diâmetro e 80 mm de
comprimento, responsável pela fixação da sonda no orifício, impedindo que ela oscile com a
passagem dos gases ou que adentre totalmente para o interior da câmara da caldeira.
30
Figura 16. Representação esquemática da sonda.
No espaço entre os dois tubos é disposto um tubo de Pitot simplificado — também
denominado de tubo de impacto, sendo a partir deste ponto referenciado apenas com tubo de
Pitot — exemplificado na Figura 17.
Figura 17. Representação esquemática do tubo de Pitot simplificado.
O tubo de Pitot, construído a partir de um tubo de aço de 9 mm de diâmetro, transpassa
toda extensão do corpo da sonda, apresentando suas extremidades alocadas fora do corpo da
31
sonda. Uma delas fica em contato com o interior da caldeira para captar a pressão de
estagnação do escoamento. A outra extremidade é conectada a um tubo de borracha que se
conecta a um manômetro de coluna de álcool.
Dois fios de termopar tipo K também são transpassados por entre os dois tubos. As duas
extremidades dos termopares são instaladas em locais distintos na extremidade da sonda que é
alocada no interior da caldeira. O primeiro é soldado na parede da sonda para captar a
temperatura de superfície da sonda, enquanto o segundo estende-se 30 mm além da parede da
sonda, ficando sua extremidade exposta aos gases de combustão, captando assim a
temperatura destes gases. Na extremidade oposta da sonda, os termopares estão conectados a
um leitor digital.
Juntamente com a sonda é utilizado um sistema para aferição de valores aproximados da
vazão mássica de cinzas no escoamento, exemplificado na Figura 18. Este sistema utiliza o
tubo de Pitot conectado a tubos de borracha pra captação dos gases de combustão. No centro
deste sistema está um filtro de 120 mm de comprimento e 40 mm de diâmetro com um
elemento filtrante composto de fibras de algodão entrelaçadas, responsável pela captura das
partículas de cinzas existentes nos gases de combustão que o atravessam. Para induzir a
passagem dos gases pelos tubos com velocidade semelhante a existente no local de captação,
uma bomba de vácuo é alocada no final do sistema para gerar um diferencial de pressão. O
diferencial de pressão gera velocidades no interior dos tubos maiores do que no ponto de
captação, tornando necessária a inserção de um manômetro de coluna de álcool no intermédio
das conexões tubulares pra aferir o desequilíbrio entre a pressão no sistema e a do interior da
caldeira e o uso de um conjunto de válvulas para regular a capacidade da bomba de vácuo,
garantindo que a velocidade de passagem dos gases seja semelhante à velocidade no ponto de
captação.
32
Figura 18. Representação esquemática do sistema de medição de vazão mássica.
A superfície do corpo cilíndrico da sonda, com 31 mm de diâmetro, é utilizada como
superfície para formação dos depósitos de cinzas e um cronômetro digital é usado para
controlar o tempo de exposição da sonda no interior da caldeira e o tempo de aquisição do
sistema de medição de vazão mássica.
A coleta de dados com a sonda é realizada na caldeira termoelétrica a carvão
pulverizado da Unidade 6 da Usina Termoelétrica Jorge Lacerda, pertencente à empresa
Tractebel Energia S.A., localizada no município de Capivari de Baixo, no estado de Santa
Catarina. A sonda é inserida num orifício de 120 mm de diâmetro existente na lateral
esquerda da caldeira, considerando-se os queimadores como a região traseira. Na Figura 19
pode-se observar a sonda em operação.
33
Figura 19. Sonda inserida no local de coleta.
Nesta região predomina a troca de calor convectiva, ficando ela separada da parte
inferior da caldeira, a qual predomina a troca de calor radiativa, por um elemento denominado
nariz, que também tem o objetivo de uniformizar o escoamento e proteger os tubos da
radiação direta das chamas. Na Figura 20 é indicado o ponto de inserção a sonda, próximo ao
conjunto de feixes tubulares denominados de superaquecedor final, que elevam a temperatura
do vapor proveniente do tambor da caldeira através do calor dos gases de combustão.
34
Figura 20. Localização do ponto de coleta na caldeira da Unidade 6.
5.1. COLETA DE DADOS
Os procedimentos de coleta de dados foram realizados no decorrer do mês de maio de
2006 através do sistema de monitoramento operacional da caldeira implantando na sala de
comando da unidade B e por aquisição dos dados fornecidos pela sonda.
A sala de comando faz o monitoramento e controle de todos os parâmetros possíveis,
como vazão de combustível, vazão de ar, temperaturas e pressões. No entanto, apenas a
pressão do interior da caldeira foi adquirido com a finalidade de ser usado como dado de
entrada juntamente com a pressão de estagnação captada pela sonda para cálculo da
velocidade de passagem dos gases de combustão na região onde a sonda está inserida.
Os dados adquiridos pela sonda referem-se à temperatura dos gases de combustão na
região da sonda, à temperatura da superfície de formação do depósito, à pressão de
estagnação, já mencionada, e à vazão mássica de cinzas passante pela sonda. Os dados de
temperatura da sonda são obtidos durante o período de formação de depósito em intervalos de
30 minutos. A pressão de estagnação e a pressão no interior da caldeira são aquisitadas apenas
durante os 5 minutos iniciais para construção de uma média, tendo em vista que o
monitoramento destes parâmetros em intervalos de tempo de 1 minuto durante 1 hora em 4
35
ocasiões distintas indicou grandes oscilações devido ao comportamento turbulento na região,
tornando assim a aquisição da pressão durante os 5 primeiros minutos dos testes suficiente
para caracterizar a velocidade dos gases durante a formação do depósito.
Por fim, a aquisição da vazão mássica é realizada em intervalos de 24 horas devido à
limitação na quantidade de filtros, possibilitando apenas uma caracterização generalizada
deste parâmetro em relação à formação do depósito. Está aquisição é realizada durante 15
minutos, sendo o filtro pesado antes, e após este tempo, indicando a massa de cinzas
capturada no filtro. De posse dos valores de massa e tempo é calculado a vazão mássica
aproximada da região próxima à sonda.
5.2. COLETA DE AMOSTRAS
Previamente à aquisição das amostras, é realizado um monitoramento das características
dimensionais do depósito durante 10 dias afim de determinar os intervalos de tempos que
melhor caracterizam o início, crescimento e estagnação da formação do depósito de cinzas.
Verifica-se que para as condições existentes na caldeira 6 da unidade B, um período de 4
horas contempla os 3 estágios designados na formação do depósito de cinzas.
Assim são realizadas 4 aquisições para sua caracterização, como exemplificadas no
algoritmo da Figura 21, visando obter amostras com semelhantes influências — temperatura
dos gases de combustão, temperatura de superfície de deposição, velocidade dos gases,
quantidade de cinzas dispersa nos gases, pressão no interior da caldeira e constituintes
químicos — na sua formação.
36
Figura 21. Algoritmo de coleta de amostras de depósitos de cinzas para caracterização da formação do depósito de cinzas.
Para construção da metodologia, consideram-se suficientes até 3 caracterizações de
formações de depósitos de cinzas: 3 amostras de 1 hora, 3 amostras de 2 horas, e assim por
diante.
5.3. PREPARAÇÃO PARA ANÁLISE MINERALÓGICA
Para analisar as características mineralógicas das amostras coletadas é necessário 50%
das amostras para subseqüente moagem e peneiramento em peneiras de 2500 mesh, obtendo-
se grãos de aproximadamente 2 µm que são levados para análise no DRX.
37
5.4. PREPARAÇÃO PARA ANÁLISE ESTRUTURAL
A análise estrutural é realizada nas amostras restantes, sendo para isto necessária a
preparação delas.
Tendo-se optado por analisar a estrutura das amostras por métodos que utilizam a
imagem bidimensional do depósito, faz-se necessária a construção de superfícies planas nos
depósitos, próprias para captação de imagens através do MEV. Para esta construção as
amostras são depositadas em moldes plásticos cilíndricos com 40 mm de diâmetro e 30 mm
de altura com fundo removível e cobertas com resina epóxi líquida. Em seqüência são levadas
à uma câmara de vácuo onde a descompressão induz a penetração da resina nos poros da
amostras, permitindo posteriormente uma análise adequada da superfície delas. Após
submeter a amostra à 2 horas de descompressão para garantir o preenchimento completo dos
seus poros, esta é levada para uma estufa para cura da resina. Passando-se 24 horas de cura, a
resina solidificada com a amostra no seu interior é retirada do molde plástico e tem uma das
suas faces lixada com lixas de baixa granulometria, para obter-se ao fim uma superfície plana
e sem ranhuras adequada para captação de imagens microscópicas. Na Figura 22 é possível
observar uma amostra embutida com a superfície lixada.
Figura 22. Superfície de uma amostra de depósito embutida e lixada.
38
5.5. ANÁLISE MINERALÓGICA
A análise mineralógica é executada sobre as amostras moídas em um difratômetro
Philips, modelo Xpert, com radiação CuKα (λ=1,5418 Å) e filtro de níquel, instalado no
Laboratório de Caracterização Microestrutural da Engenharia Mecânica da UFSC.
Cada amostra é analisada separadamente no difratômetro, fornecendo a intensidade e
ângulo de incidência traduzidos em um difratograma de raios-X, semelhante ao da Figura 23.
Com isto, é possível conhecer os constituintes e as fases da amostra, uma vez que cada
elemento e fase apresentam uma característica única de intensidade em função do ângulo de
incidência.
Figura 23. Exemplo de um difratograma de raios-X.
Este método não permite, entretanto, realizar uma análise quantitativa dos constituintes
das amostras.
5.6. ANÁLISE ESTRUTURAL
A análise estrutural é realizada através de métodos baseados na análise das imagens
bidimensionais digitalizadas dos depósitos, as quais são adquiridas com o uso do MEV,
modelo Philips-XL30 instalado no Laboratório de Caracterização Microestrutural da
Engenharia Mecânica da UFSC.
As imagens obtidas apresentam um aumento de 100× , valor que possibilita retratar a
estrutura de depósitos com um diâmetro mínimo de poro de 1,36 µm, que por sua vez
39
corresponde à resolução de 1 pixel da imagem. Para caracterização das etapas de formação do
depósito, são usadas no mínimo 10 imagens de cada uma delas. Na Figura 24 apresenta-se a
imagem digitalizada do depósito, sendo ela um arquivo em formato TIF descrito por 256 tons
de cinza que assumem valores numéricos codificados, ficando a cor preta representada por 0 e
a cor branca por 255, e os demais valores, níveis de cinza.
Figura 24. Imagem do depósito de cinzas obtido pelo MEV.
A informação acerca dos tons torná-se importante quando gera-se uma função que
define a matriz sólida e o espaço poroso por meio da transformação dos tons de cinza para
apenas dois valores — binarização. A partir disto a cor preta é assumida como matriz sólida e
a cor branca como poro. Esta função de binarização é aplicada nas imagens das amostras dos
depósitos pelo programa Imago®, possibilitando a visualização das duas fases, como visto na
Figura 25.
40
Figura 25. Imagem da Figura 24 binarizada no programa Imago®.
A partir da imagem binarizada, são aplicados métodos existentes no programa Imago®,
que não cabem ser discorridos aqui, que permitem a obtenção da porosidade, da distribuição
de poros e do covariograma, que por sua vez permite a obtenção da dimensão fractal.
Este covariograma indica a probabilidade de que duas células elementares separadas por
uma distância predefinida pertençam à mesma fase (Fernandes, 1994). Tal função segue a
prerrogativa que os meios representados nas imagens são isotrópicos e homogêneos, sendo
para tanto, considerando esta prerrogativa nas amostras analisadas. Na Figura 26 apresenta-se
a uma função covariograma da imagem da Figura 25, onde é possível apontar o valor de 75
µm na dispersão, como o valor de deslocamento a partir do qual se tem uma aleatoriedade,
falta de correlação no meio, ou transição de um meio homogêneo para heterogêneo na
correlação da imagem (Fernandes, 1994 apud Katz e Thompson, 1985).
41
30
35
40
45
50
55
60
0 50 100 150 200 250 300 350
Dispersão [um]
C [
u]
Figura 26. Função covariograma da Figura 25.
Para obter a dimensão fractal Fernandes (1994) parte do pressuposto que um ponto
pertencente ao espaço poroso será uma origem arbitrária, onde traçam-se bolas de raios u
variáveis, calculando para cada u a freqüência de ocorrências de pontos na borda da bola
pertencentes ao espaço poroso. Supondo-se que estas bolas de raio u tenham uma massa M
contida no seu interior, tem-se:
( ) ( )∫=
u raio de bolada domínio
2rdrCuM (5.1)
Utilizando o seguinte teorema descrito em Gouyet (1992): se existe uma Df real e uma
medida µ finita, positiva tal que para todo ( )( ) xem centradar raio de bola a estando xBEx r∈ ,
( )( )f
r Drln
xBµln → , sendo então ( )EdimD f = , designando-s Df de dimensão de massa, ou
dimensão fractal, como popularizado por Mandelbrot. Com este teorema, obtém-se a relação
entre uma massa M de uma bola de raio r com sua dimensão de forma3:
( )( ) Dr rxBµM ∝= (5.2)
3 A notação ∝ significa “varia como”: ba ∝ significa que a razão a/b tende assintoticamente a uma constante não nula.
42
Aplicando a equação 5.2 na equação 5.1, tem:
( ) ( ) fD
u raio de bolada domínio
2 urdrCuM ∝= ∫ (5.3)
Podendo-se escrever:
( )( ) 2-D2
2fu
du
uMduC ∝= (5.4)
obtendo-se assim:
( ) -αuuC ∝ (5.5)
onde fD2α −=
O valor de α é determinado pela inclinação da parte linear da curva
( )( ) ( )dispersãolnuCln × , mostrada na Figura 27. A faixa linear a ser tomada para cálculo
corresponde no seu limite superior a ( )µm 75ln , neste exemplo.
3,5
3,6
3,7
3,8
3,9
4
0 1 2 3 4 5 6 7
ln (Dispersão [um])
ln (
C [
u])
Figura 27. Função ( )( ) ( )dispersãolnuCln × .
43
6. RESULTADOS OU AVALIAÇÕES PARA METODOLOGIA
6.1. RESULTADO DA ANÁLISE DOS DADOS OPERACIONAIS
Os dados sobre o comportamento das variáveis envolvidas na formação do depósito de
cinzas são os primeiros a serem analisados e comparados com a formação do depósito.
Os dados expostos na Tabela 1 expõem as condições a que os depósitos foram
submetidos para serem formados. Estes depósitos, contrários às expectativas, formaram-se
sobre o corpo do tubo de Pitot e não sobre o corpo da sonda, embora o gradiente de
temperatura existente entre a superfície da sonda e os gases de combustão seja teoricamente
suficiente para promover a formação através de mecanismos como a termoforesi, a baixa
temperatura da superfície da sonda possivelmente impede que as partículas cheguem até ela
no estado derretido. Por sua vez, o tubo de Pitot se expande além da região arrefecida da
sonda, atingindo assim temperaturas na sua superfície superiores às encontradas na superfície
da sonda, propiciando a colisão de partículas em um estado levemente derretido sobre ela.
Tabela 1. Temperaturas aferidas na sonda.
Tmínima [°C]
Tmáxima
[°C]
Temperatura dos gases de combustão
640 713
Temperatura da superfície da sonda
73 94
Os depósitos obtidos, como o da Figura 28, apresentam uma estrutura muito porosa e
frágil, indicando que o mecanismo de formação preponderante é o de impactação inercial,
embora estes depósitos estejam fortemente aderidos à superfície de impacto, indicando a
fixação inicial de partículas derretidas e uma sutil atuação do mecanismo de condensação. O
esperado para o estudo eram depósitos mais compactos, com maior dureza, originados de um
ambiente com temperaturas acima de 1000º C. A relativa baixa temperatura dos gases de
combustão, que ocasionam essa fragilidade, deve-se ao afastamento entre o ponto de coleta e
o centro da caldeira, que apresenta temperaturas médias acima de 1000º C de acordo com
dados obtidos na sala de comando. Os gases afastados da região central perdem energia para
as paredes de tubos de água da caldeira, apresentando desta forma temperaturas menores que
44
os gases na região central, com resultados negativos sobre o potencial de ação de
mecanismos de formação de depósitos baseados na temperatura.
Figura 28. Depósito coletado após 1 hora.
Com a identificação do principal mecanismo de deposição, a impactação inercial, a
análise da velocidade e da vazão mássica tornam-se importantes, porém ,devido ao
comportamento extremamente turbulento dos gases , demonstrou-se impraticável a aquisição
de ambos os parâmetros através dos procedimentos aplicados. A velocidade apresenta valores
alterados por conta da oscilação gerada pela turbulência, e a vazão mássica da mesma forma,
por necessitar de uma equalização precisa entre a pressão no sistema de coleta e o interior da
caldeira para coletar as cinzas.
Sugere-se que em trabalhos futuros para aferir a vazão mássica seja utilizada uma placa
acoplada na extremidade da sonda, para deposição. Porém, a sonda deverá ter uma extensão
suficiente para chegar próxima ao centro da caldeira, para que a deposição possa ocorrer de
forma mais ostensiva através de outros mecanismos além da impactação inercial.
6.2. RESULTADO DA ANÁLISE MINERALÓGICA
A análise mineralógica foi realizada através do difratograma de cada amostra,
construído com os dados fornecidos pela DRX. O comportamento do difratograma de todas as
amostras foram iguais ao da Figura 29.
45
Figura 29. Difratograma de raios-X de uma amostra de 1 hora.
O intuito desta análise é verificar a existência de compostos característicos a cada etapa
de formação e associá-los aos mecanismos de deposição e a capacidade de fixação de cada
composto. No entanto, todas as etapas de formação do depósito apresentaram os mesmos
constituintes, demonstrando que tais compostos são formados anteriormente à deposição na
superfície em regiões mais quentes da caldeira, uma vez que alguns destes compostos — com
silício em geral — são formados apenas em ambientes com temperaturas acima das
encontradas na região próxima à sonda (Baxter, 2000), contribuindo assim para o raciocínio
que indica que a deposição por impacto inercial é o principal mecanismo de deposição de
cinzas no caso presente.
Entretanto, não é descartada a hipótese de aglomeração de certos compostos em cada
etapa de formação do depósito, visto que alguns compostos apresentam um maior tempo de
permanência no estado derretido (Baxter, 2000) ao aproximar-se de uma superfície mais fria,
propiciando sua aderência em maior quantidade. Para tanto, fazem-se necessárias análises
quantitativas, as quais optou-se por não se realizar por intuir-se que a análise qualitativa
demonstraria resultados mais profícuos sobre o depósito, conquanto que houvesse uma maior
participação de outros mecanismos de deposição além da deposição por impacto. Alia-se à
isto o cronograma que não permitiria uma análise com maior demanda de tempo como a
quantitativa. Sugere-se o embasamento em Kniess (2005) para realização de análises
quantitativas em trabalhos futuros.
46
6.3. RESULTADOS DA ANÁLISE ESTRUTURAL
A análise estrutural está dividida em 3 análises — porosidade, distribuição de poros e
dimensão fractal — baseadas nas imagens das amostras captadas pelo MEV e trabalhadas no
Imago® e que por sua vez, apresentaram algumas particularidades indicadas na imagem da
Figura 30.
Figura 30. Características adversas da imagem da Figura 24.
Embora os poros e a matriz sólida seja de fácil percepção após a binarização, há
elementos que mascaram a real natureza da amostra. No apontamento 1 é indicado um círculo
constituído de uma fina camada de resina epóxi que adquiriu a tonalidade branca ao entrar em
contado com água durante o processo de lixamento. Na binarização, este poro é tratado como
matriz sólida. O apontamento 2 indica um elemento semelhante à uma cratera, possivelmente
criado a partir do arrancamento de uma partícula de cinza, uma vez que é descartada a
possibilidade de bolha, pois se assim fosse, deveria estar preenchida por resina. Assim, este
elemento é caracterizado como um poro ao invés de uma matriz sólida. Por fim o
apontamento 3 indica um elemento preto, impossibilitado de ser um poro devido a sua
1
2
3
47
localização sem restrições à penetração da resina. É possível que este elemento seja uma
partícula calcinada, devendo então ser tratado como matriz sólida na binarização, ao contrário
do que acontece.
Tais particularidades por serem inerentes à todas as amostras em semelhante grau,
apesar do esmero no processamento destas, não prejudicam a caracterização estrutural na
forma qualitativa, mas apenas na forma quantitativa. Assim, as análises estruturais estão
postadas em forma qualitativa, sem sofrer a interferência das particularidades encontradas nas
imagens das amostras.
6.3.1. Análise da Porosidade
A análise da porosidade em termos práticos, indica o quanto da amostra é constituída de
poros e por conseguinte, de matriz sólida. No gráfico da Figura 31 é indicada a relação da
porosidade entre cada etapa da formação do depósito de cinzas.da amostra assim como a
evolução do comportamento da porosidade ao longo do tempo de exposição das amostras
analisadas.
Figura 31. Comparativo da porosidade das amostras ao longo do seu desenvolvimento.
A análise do gráfico associada à teoria discorrida ao longo do trabalho, evidência que
um maior tempo de exposição auxilia na redução da porosidade devido ao fato da temperatura
dos gases de combustão terem tempo para provocar inícios de sinterização nas partículas de
48
cinzas, embora os valores de temperatura não sejam suficientes para uma completo processo
de sinterização ou até mesmo a fundição dos particulados.
6.3.2. Análise da Distribuição de Poros
A segunda análise estrutural foca o comparativo entre as distribuições dos poros nas
amostras, como pode ser visto na Figura 32, e assim como o análise da porosidade, esta é
apenas uma avaliação qualitativa.
Figura 32. Comparativo da distribuição de poros das amostras ao longo do seu
desenvolvimento.
O resultado obtido não permite uma análise adequada acerca do comportamento
existente na formação do depósito de cinzas. Em concordância com a porosidade, esperava-se
que a cada hora de formação do depósito, estes se apresentassem com um aumento na
freqüência de poros com menor diâmetro, ou seja, picos de freqüência deslocando-se da
direita para à esquerda no gráfico com o passar das etapas de formação., indicando uma
redução dos poros na amostra diante dos efeitos iniciais de sinterização nas amostras.
A aleatoriedade da distribuição de poros de cada amostra em relação ao comportamento
esperado pode residir, além de nas particularidades encontradas, na quantidade de amostras
analisadas, necessitando de uma revisão na quantidade necessária para uma análise adequada.
Esta aleatoriedade também pode estar associada às condições de formação dos depósitos, as
quais apresentam temperaturas relativamente baixas para promover processos completos —
49
sinterização e fusão — nos depósitos de cinzas, que gerem diferenças consideráveis entre
cada etapa.
6.3.3. Análise da Dimensão Fractal
Finalizando a análise estrutural, as dimensões fractais obtidas das amostras de formação
dos depósitos de cinzas são expostas na Figura 33
Figura 33. Dimensão fractal dos depósitos ao longo do seu desenvolvimento.
Estes valores de dimensão fractal, assim como a porosidade e a distribuição de poros,
apresentam sua forma quantitativa alterada pelas particularidades das imagens, porém optou-
se por utilizá-la como indicativo do comportamento da dimensão fractal, uma vez que a forma
qualitativa pouco indicaria sobre o comportamento do depósito. Sendo a dimensão fractal
traduzida como uma informação global do espaço poroso, a comparação do seu valor com a
dimensão fractal de outras amostras semelhantes permitiria saber o quão bem representada
está a amostra, mas sua análise qualitativa não tem representatividade, uma vez que sua
alteração sem comparação com outro parâmetro é irrelevante.
Assim, estes valores, caso estivessem representando adequadamente a amostra,
deveriam ser obtidos sempre que se utilizasse esta metodologia na análise da formação de
depósitos de cinzas em caldeiras termoelétricas a carvão pulverizado na região especificada
de coleta.
50
Juntamente à dimensão fractal poderia-se correlacionar os valores de porosidade e
distribuição de poros, servindo como um indicativo destas características na formação de
depósitos semelhantes a estes, podendo-se correlacionar um depósito de baixa porosidade
com um valor de dimensão fractal e assim por diante.
51
7. CONCLUSÃO
A metodologia proposta para caracterização da formação de depósitos de cinzas é
exeqüível quando requisitada a análise mineralógica e estrutural qualitativamente,
excetuando-se a dimensão fractal. A estrutura do depósito ao longo da sua formação, de
acordo com as análises de porosidade , tendem com o decorrer do tempo a formar uma
estrutura com menor porosidade devido aos efeitos térmicos do ambiente interno da caldeira
sobre o depósito. A dimensão fractal torna-se um parâmetro para caracterização da amostra
apenas quando as imagens das amostras não apresentam particularidades que afetam sua real
representação.
Tornam-se conhecidos os mecanismos de formação preponderantes, as condições que
proporcionam esta formação e o procedimento para manuseio e preparação de amostras desta
natureza devido às conclusões obtidas em cada análise qualitativa.
Fica nítido diante da verificação da proposta realizada e os resultados obtidos que a
metodologia aplicada para análise estrutural da formação de depósitos de cinzas com natureza
semelhante às obtidas neste trabalho — extremamente frágil e porosa — seria melhor
executada através de métodos que não a análise das imagens, como adsorção de gases e
microtomografia de raios-X, porém, veta-se o uso de métodos como picnometria e Princípio
de Arquimedes devido a capacidade destrutiva destes sobre o tipo de amostra presente.
Para novos trabalhos, sugere-se:
− uso de uma caldeira em escala laboratorial para formação de cinzas e subseqüente
captação, onde seja possível controlar os parâmetros de velocidade dos gases, vazão
mássica de cinzas e temperaturas dos gases pra permitir uma correlação entre todas as
variáveis;
− realização de análise mineralógica e estrutural quantitativa;
− construção de algoritmo computacional que faça uso das variáveis para prever a
formação de depósitos obtidos experimentalmente.
52
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