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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO E RESTAURO
BACHARELADO EM CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS
Monografia
Parâmetros para conservação e higienização do acervo ornitológico taxidermizado: estudo de caso da coleção Carlos Ritter -
Pelotas, RS.
André Luiz de Vasconcelos Medeiros
Pelotas 2013
1
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO E RESTAURO BACHARELADO EM CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS
MÓVEIS
Parâmetros para conservação e higienização do acervo ornitológico taxidermizado: estudo de caso da coleção Carlos Ritter -
Pelotas, RS.
André Luiz de Vasconcelos Medeiros
Trabalho de conclusão apresentado ao Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, sob orientação do Professor Ms. Roberto Heiden.
Pelotas, 2013
2
Banca examinadora: Prof. Dr. José Eduardo Figueiredo Dornelles ________________________________________________ Prof. Ms. Roberto Heiden (orientador) _________________________________________________
3
Acima de tudo, dedico esse trabalho ao meu filho Kelvin, minha inspiração e orgulho, e a Kely Cristina Cardoso. Por todas as vezes que me impulsionaram nos momentos mais difíceis do percurso, por me incentivar a buscar superação e acreditarem em mim.
Essa conquista é de vocês!
Dedico ainda, aos meus pais pelos valores básicos indispensáveis à vida em sociedade. À minha tia Giovani pelo carinho e à minha avó Therezinha que muito me incentivou e continua olhando por mim.
4
Agradecimentos
Agradeço ao Prof. Ms. Roberto Heiden pela orientação, dedicação e atenção
disponibilizada durante toda a produção desse trabalho.
À Prof.ª. Dra. Francisca Ferreira Michelon pelos conselhos e ensinamentos
proporcionados.
Ao Prof. Dr. José Eduardo Figueiredo Dornelles pela coordenação do projeto que
possibilitou as pesquisas no Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter.
Ao Prof. Dr. Cesar Jaeger Drehmer pela colaboração e disponibilidade.
Ao Prof. Dr. Eduardo Bernardi e as alunas Aline Saller e Luana Santos pela
colaboração nas análises, disponibilização dos equipamentos e pelos ensinamentos
fornecidos.
Agradeço ainda, a todos os professores e colegas do Curso de Conservação e
Restauro de Bens Culturais Móveis, principalmente à Andréa Bachettini, Silvana
Bojanoski e Jaime Mujica Sallés por toda paciência e dedicação que prestaram
durante as atividades acadêmicas. Não menos, aos servidores Keli Cristina Scolari,
Jeferson Salaberry e Francine Tavares por tantas vezes que se dispuseram a
ajudar.
5
Estrela natureza. Precisamos demais.
Te ter sempre por perto. Na calma e santa paz.
Nos morros e nos campos. No sol e no sereno.
Zelando por florestas. Cuidando os animais.
Mulher e mãe de todos. O que será de nós.
Se a força do inimigo. Calar a tua voz.
Que sai dos passarinhos. Dos mares e dos rios.
Dos vales preguiçosos. Dos velhos pantanais.
Estrela Natureza
Sá e Guarabyra
6
Resumo
MEDEIROS, André L. V. Parâmetros para conservação e higienização do acervo ornitológico taxidermizado: estudo de caso da coleção Carlos Ritter. 2012. 50 f. Trabalho de conclusão do curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis.
A coleção ornitológica taxidermizada por Carlos Ritter (1851-1926), objeto de estudo
desse trabalho, compõe o acervo do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter,
vinculado ao instituto de biologia da Universidade Federal de Pelotas. Devido aos
poucos estudos publicados sobre a conservação de animais taxidermizados, essa
pesquisa objetiva ampliar o conhecimento sobre o assunto. A primeira etapa desse
trabalho consistiu no reconhecimento e identificação dos materiais e técnicas
empregados na confecção das peças. Considerando-se a antiguidade da coleção, e
nesse caso é importante o conhecimento sobre as diversas mudanças nos
procedimentos e materiais empregados na taxidermia, desde a antiguidade até os
dias de hoje. Em segundo momento, apresenta-se o levantamento dos parâmetros
ambientais (iluminação, temperatura, umidade, agentes biológicos e controle de
poluentes) usados para a conservação de coleções do gênero. A partir do
desenvolvimento da pesquisa, pôde-se observar que os fungos são fatores
determinantes para a degradação de acervos taxidermizados. Portanto, analisou-se
as partículas depositadas sobre as peças, buscando quantificar e identificar algumas
colônias de fungos com probabilidade de germinação. Nesse caso, a ênfase nos
procedimentos de conservação são voltadas para higienização do acervo como
forma de mitigação.
Palavras-chave: Museu de História Natural. Taxidermia. Conservação de acervo.
Higienização. Análise de fungos.
7
Abstract
MEDEIROS, André L. V. Parâmetros para conservação e higienização do acervo ornitológico taxidermizado: estudo de caso da coleção Carlos Ritter. 2012. 50 f. Trabalho de conclusão do curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis.
This study involves the ornithological collection taxidermized by Carlos Ritter (1851-
1926) held at the Carlos Ritter Museum of Natural Sciences and linked to the
Biology Institute of the Federal University of Pelotas, RS, Brazil. Due to the scarcity
of published studies on the conservation of taxidermy animals, this research aims to
extend knowledge on the subject. Firstly, the materials and techniques used in the
preparation of pieces were recognized and identified. Considering the antiquity of the
collection, it is essential to recognize the various changes in the procedures and
materials employed in taxidermy up to the present day. Secondly, there was a survey
of the environmental parameters (lighting, temperature, humidity, biological agents
and control of pollutants) used for the conservation of collections. It was observed
that fungi are determining factors to the degradation of taxidermy collections.
Therefore, the particles deposited on the pieces were analyzed in order to quantify
and identify some fungal colonies with probability of germination. In this case, the
main focus for the use of conservation techniques was on the collection cleaning.
Keywords: Museum of Natural Sciences; Taxidermy; Collection Preservation;
Cleaning; Fungi Analysis.
8
Lista de Figuras
Figura 01: Gabinete de curiosidades (museu) do naturalista Ferrante Imperato.......18 Figura 02: Peça taxidermizada com palha.................................................................20 Figura 03: Resina de poliuretano em molde de gesso...............................................20 Figura 04: Ave preparada para coleção científica......................................................21 Figura 05: Vitrine expositiva do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter...............22 Figura 06: Fotografia de Carlos Ritter........................................................................23 Figura 07: Mosaico feito com seres da classe insecta e um exemplar de escorpião, confeccionado por Carlos Ritter.................................................................................25 Figura 08: Faixa de radiação visível e espectro eletromagnético..............................28 Figura 09: Vitrine com aves da ordem Falconiformes exposta a luz natural..............29 Figura 10: Detalhe do pescoço de um João-grande..................................................30 Figura 11: Mancha de umidade na área de exposição..............................................30 Figura 12: Diagrama de Mollier, gráfico da função entre umidade relativa e temperatura................................................................................................................31 Figura 13: Sujidades (poluentes particulados) impregnadas sobre o dorso de um Biguá taxidermizado por Carlos Ritter........................................................................34 Figura 14: Syncephalastrum. Fungo filamentoso com hifas asseptadas...................39 Figura 15: Transferência do material coletado das aves selecionadas para o meio de cultura.........................................................................................................................41 Figura 16: Placas petri com colônias de fungos desenvolvidas em meio de cultura BDA............................................................................................................................42
9
Lista de Quadros
Quadro 1: Aves taxidermizadas selecionadas para coleta de material (esporos de fungos) a ser analisado..............................................................................................40
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Lista de Tabelas
Tabela 01: Alguns poluentes e os seus efeitos nos bens culturais............................32 Tabela 02: Condições climáticas ideais para proliferação de agentes biológicos.....38 Tabela 03: Resultado das amostras coletadas em 26 nov. 2012..............................43 Tabela 4 – Resultado das amostras coletadas em 17 dez. 2012..............................44 Tabela 5 – Resultado das amostras coletadas em 7 jan. 2013.................................45
11
Sumário
Introdução...................................................................................................................12 CAPÍTULO 1: Contexto histórico–museológico..........................................................17
1.1 O percurso da taxidermia..........................................................................19
1.2 Coleção científica, didática e museológica................................................21
1.3 Carlos Ritter...............................................................................................22 1.4 O Museu....................................................................................................24
1.4.1 Acervo ornitológico.......................................................................25 CAPÍTULO 2: Parâmetros para conservação de acervo taxidermizado....................27 2.1 Iluminação..................................................................................................27 2.2 Temperatura e umidade.............................................................................29 2.3 Poluentes ..................................................................................................31
2.3.1 Materiais particulados..................................................................33 2.3.2 Higienização do acervo ...............................................................34
2.4 Agentes biológicos....................................................................................36
2.4.1 Análise de fungos.........................................................................38 CAPÍTULO 3: Resultados da análise de fungos........................................................42 Conclusão...................................................................................................................46 Referências Bibliográficas..........................................................................................48
12
Introdução
Nascido em 1851 na cidade de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, filho de
imigrantes alemães, Carlos Ritter foi um grande empresário e empreendedor que
contribuiu com o desenvolvimento e brilhantismo da cidade de Pelotas no século
XIX. Naturalista e autodidata, ele utilizou seu tempo disponível para confeccionar um
conjunto de aves taxidermizadas. Após seu falecimento em 1926, sua esposa doou
a coleção à Escola de Agronomia Eliseu Maciel. Atualmente, esse material está sob
a guarda do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter (MCNCR), que é vinculado ao
Instituto de Biologia (IB) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)1. O MCNCR
esta localizado à Rua Barão de Santa Tecla nº 576, na cidade de Pelotas, Rio
Grande do Sul.
Considerando que a coleção de aves taxidermizada por Carlos Ritter tem
aproximadamente cem anos de existência e o museu recebe a visitação diária de
estudantes e da comunidade em geral, torna-se importante à elaboração de um
método seguro na preservação desse acervo. A acessibilidade e a conservação das
condições mínimas de apresentação das peças são fatores importantes que devem
ser levados em consideração.
Esse tipo de acervo é tradicionalmente considerado dispensável ou
substituível, uma vez que novos espécimes (animais) podem ser preparados ou
taxidermizados. Com isso, outro aspecto importante a ser considerado é que as
coleções taxidermizadas de cunho didático, preparadas por Ritter, abrigam espécies
consideradas em perigo de extinção e outras, atualmente exógenas ao Rio Grande
do Sul. Esses exemplares dificilmente poderão ser substituídos em caso de uma
degradação avançada, tornando-se uma perda lamentável aos estudos zoológicos.
Os fatos supracitados justificam a pesquisa e a elaboração desse trabalho.
Ações voltadas para a salvaguarda de animais taxidermizados são aspectos
pouco discutidos na área de Conservação e Restauro. Por esse motivo, espera-se
que as informações fornecidas nesse material venham servir de apoio a futuras
pesquisas ou na implantação de métodos para preservação de acervos em museus
de história natural.
1 Informações obtidas no site http://ib.ufpel.edu.br/museu/carlritter.html - Acesso em: 09 mar.
2012.
13
A ausência de uma política de preservação para coleção de aves do MCNCR
e o fato de ser uma instituição pública com recursos limitados, torna premente um
estudo de métodos efetivos e de baixo custo para conservação do acervo. Flores
(2011, p. 42), lembra que “o diagnóstico é o alicerce para a estruturação do
planejamento”, ou seja, toda metodologia aplicada na preservação de uma coleção
deve ser precedida de um diagnóstico das condições reais do ambiente e dos
materiais que compõem o acervo. Assim, como fonte de empiria, utilizou-se o acervo
ornitológico do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter para buscar respostas a
uma questão exaltada: quais os fatores de maior potencialidade na degradação de
objetos taxidermizados e como mitigar esses problemas?
A documentação gerada ao longo dos anos de existência do museu está
neste momento depositada de forma desorganizada em caixas de papelão. Esse
conjunto de documentos foi consultado como uma fonte para a compreensão do
contexto expográfico, uma vez que as informações contidas estão relacionadas com
a história do acervo e do museu.
Quanto aos métodos de conservação preventiva em museus, encontra-se
uma quantidade considerável de informações. Porém, fontes bibliográficas que
sejam direcionadas as coleções taxidermizadas são muito escassas. Isso estimula o
desenvolvimento de uma investigação sobre as metodologias aplicadas em outras
instituições, com essa mesma tipologia de acervo.
As únicas atividades realizadas no MCNCR em prol da preservação das
coleções é o controle de infestações por meio da aplicação de produtos químicos,
executadas anualmente por uma empresa privada, e uma quantidade substancial de
naftalina em pedra, depositadas nas vitrines2. É importante mencionar que esse é
um produto prejudicial à saúde dos profissionais que atuam na instituição, e pode
causar irritação nos olhos, na pele e no aparelho respiratório, além de cefaleia,
lesões no fígado e nos rins3.
Ademais, pode-se observar uma espessa camada de poeira sobre as
epidermes taxidermizadas, que é proveniente do ambiente externo, aderidas às
partículas de gordura que, sem um sistema de ventilação, exaustão e filtro
2 Atividades insalubres devidamente comunicadas a UFPel.
3 Informações obtidas no site http://www.brasilescola.com/quimica/naftalina-faz-mal.htm -
Acesso em: 26 mai. 2012.
14
adequados, são depositadas sobre o acervo. Os ácidos graxos podem ser
provenientes da área de alimentação ou adentrados com os visitantes do museu.
Um olhar mais crítico pode identificar, entre uma e outra peça, a perda parcial
das plumas, o ressecamento do couro e o aumento do volume das obras,
principalmente nas áreas de costura. Essas condições de degradação podem estar
ligadas à variação de umidade e temperatura, iluminação inapropriada, agentes
poluidores, ou ainda atividades biológicas que não foram totalmente sanadas com a
desinfestação anual.
As técnicas e os produtos empregados na preparação de espécimes
vertebrados sofreram mudanças significativas desde a renascença até os dias
atuais. Essa disparidade dos materiais pode causar dificuldades na elaboração
numa proposta de conservação preventiva. Os animais taxidermizados por Ritter,
por exemplo, foram confeccionados com a utilização da técnica de “empalhamento”,
considerada tradicional.
O trabalho de Larsen (1945), publicado em Genebra, trata-se de um manual
prático para a taxidermia de animais, descrevendo os produtos e técnicas
empregados nessa atividade. Além dele, Auricchio e Salomão org. (2002), expõem
alguns métodos para preparação de animais vertebrados, conceituam os dois tipos
de coleções permitidas por um acervo taxidermizado. São elas as coleções didáticas
e científicas. Essas informações e as observações realizadas no acervo do museu,
principalmente das peças em degradação avançada, auxiliaram no reconhecimento
dos materiais empregados por Carlos Ritter.
O acervo ornitológico de Carlos Ritter constitui uma coleção de cunho
didático, preservando a forma, pele e tamanho dos animais, servindo ainda, como
ferramenta de educação ambiental. Segundo Przybysz e Cunha (2011), essa é uma
atividade que possibilita a interdisciplinaridade de quatro áreas: biologia, química,
ecologia e artes plásticas. Devido à complexidade de identificação e caracterização
da coleção, o primeiro capítulo procura explanar a questão técnica e histórica do
acervo. Assim como, a contextualização do museu.
Portanto, o objetivo geral desse trabalho é a conscientização da necessidade
da implantação de uma política interna voltada para a estabilização e conservação
de acervos taxidermizados em museus de história natural. Fornecendo assim,
15
parâmetros ideais para o controle da temperatura, umidade, iluminação, poluentes e
biodegradação em ambientes expositivos e locais de guarda desse tipo de coleção.
São objetivos específicos decorrentes desse trabalho:
- Conhecer os materiais empregados na confecção das peças, diagnosticando
suas condições atuais de conservação;
- Identificar as degradações provenientes dos fatores ambientais (iluminação,
temperatura, umidade, agentes biológicos de degradação e poluentes);
- Elaborar parâmetros de conservação e mitigação para acervos de objetos
taxidermizados;
- Verificar a presença de fungos nos exemplares taxidermizados e no
ambiente onde estão expostos.
No segundo capítulo são discutidos os parâmetros para conservação de
acervo taxidermizado, enfatizando as questões de sujidades (poluentes) e fungos
(biodeterioração). Devido aos poucos trabalhos publicados na área da conservação
desse tipo de coleções, alguns parâmetros propostos se baseiam nas áreas de
preservação das diversas tipologias de acervo em adaptação para uso em coleções
de espécimes taxidermizados.
Para desenvolver um trabalho com bases sustentáveis na conservação de
acervos, principalmente de objetos taxidermizados, foram utilizados textos que
discutem aspectos ambientais, exposição e salvaguarda em museus. Essas
questões estão bem esclarecidas no material coordenado por Camacho (2007), esse
texto faz parte da coleção Temas de Museologia e foi publicado pelo Instituto dos
Museus e da Conservação e Ministério da Cultura de Lisboa. Complementando o
tema, pode-se citar a dissertação de mestrado escrita por Diniz (2005) para o
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Minas
Gerais. Ela delimita claramente os parâmetros de conservação, focando no controle
da umidade em vitrine com acervo de paleontologia.
Como dito anteriormente, as bibliografias relacionadas com a preservação de
acervos taxidermizados são escassas, tornando necessária a interlocução dos
parâmetros em conservação de objetos sensíveis como papel, por exemplo, com as
obras de história natural. Portanto, a dissertação de Flores (2011) serve como
referência no que diz respeito às diretrizes de conservação e proliferação de
16
microrganismos, ela utiliza o acervo do Departamento de Arquivo Geral da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) como estudo de caso.
Alguns procedimentos adotados no artigo - Musealização do acervo do Museu
de Zoologia da Universidade de São Paulo: salvaguarda e comunicação de cinco
mamíferos taxidermizados da fauna brasileira – publicado em 2011, servem como
orientação no estudo de métodos de mitigação adequados para higienização do
acervo.
A coleta dos dados, referente às condições ambientais internas do museu,
fornece informações pertinentes a elaboração de um diagnóstico. Esse
procedimento é realizado com a utilização de instrumentos específicos apropriados.
Nesse trabalho, foram levantados os parâmetros para conservação de acervos
taxidermizados. Porém, as investigações sobre as condições dos exemplares são
estreitadas apenas no campo das partículas poluidoras e associadas a esse fator, as
atividades microbiológicas potenciais.
Poluentes são impurezas presentes na atmosfera, podem estar no estado
sólido (pó ou poeira), líquido ou gasoso. Essas substâncias podem reagir com o
acervo, deixando-os fragilizados. Os agentes poluidores são de difícil identificação,
no entanto, as partículas sólidas depositadas sobre os objetos, além de prejudicar a
estabilidade física e química dos mesmos, deixam a peça com aspecto sujo, o que
intervêm na leitura estética.
Os agentes biológicos de degradação podem ter sua presença constatada
diante de observações corriqueiras nas dependências do acervo. Peças
pulverulentas e resíduos depositados na superfície das vitrines são indícios de
atividade biológica. Ainda convém falar da proliferação dos seres microbiológicos
que são de difícil reconhecimento, como os fungos que só são mensurados através
da coleta de amostras da superfície dos exemplares e do ambiente em que estão
expostos. Esse material é colocado em meio de cultura apropriado e analisado com
auxilio de microscópio. Os resultados encontrados nessa análise elucidam a
necessidade do controle ambiental interno no museu.
17
Capítulo 1: Contexto histórico-museológico
As considerações discutidas nesse capítulo procuram elucidar o leitor quando
a história e formação dos museus de história natural, estreitando-se até a
apresentação do objeto de estudo desse trabalho, o acervo de aves taxidermizadas
por Carlos Ritter.
Desde os tempos mais remotos as pessoas costumam colecionar ou guardar
objetos que estejam ligados de alguma forma a memória das suas vidas. As
instituições que abrigam essas coleções, os museus, possuem a incumbência de
preservar e interpretar ao público esse patrimônio.
O conceito de museu como conhecemos hoje, originou-se na Grécia antiga, o
mouseion, também conhecido como casa das musas, refere-se aos templos
filosóficos e instituições de pesquisa da época. Atualmente, os museus em sua
maioria estão voltados à recuperação do passado, estando apenas os museus de
história natural e os de artes plásticas preocupados em coletar o presente (SUANO,
1986).
A primeira coleção que recebeu a nomenclatura de museu, segundo Franklin
(1981), foi a do Louvre na França, aberta ao público em 1750. Posteriormente a
esse evento, ainda segundo o autor, todas as coleções, sejam de natureza pública
ou privada, passaram a se chamar de museu.
Quanto aos objetivos de um museu, pode-se dizer que: O papel do museu contribuiu para a consciencialização e identidade nacional desenvolvida inicialmente na Europa e com isto reconhecer que os museus eram as instituições apropriadas para a preservação do patrimônio histórico de uma nação. Este papel continua ainda hoje e é realçado frequentemente nos museus nacionais... (BOYLAN, 2004, p. 3;4).
Os museus de história natural abrigam objetos de diferentes naturezas, desde
coleções etnográficas4 até exemplares da fauna de uma região, preservados a partir
de técnicas distintas. Esse tipo de acervo aproxima-se, em caráter comparativo, com
os gabinetes de curiosidades (fig. 1) muito comuns na Europa do século XVI, época
em que as viagens de exploração dos continentes se tornavam mais intensas. 4 Coleções etnográficas são constituídas por testemunhos materiais de diferentes grupos
sociais... Testemunhos que possuem valor documental, histórico e simbólico por expressarem a realidade material de uma determinada cultura, além de proporcionarem a leitura das transformações ocorridas (BELTRÃO, 2003).
18
A teoria evolucionista de Darwin (1809-1882) influenciou e continua
influenciando os modelos dos museus de história natural, propagados pelo mundo
devido ao crescimento dos estudos científicos. No final do século XIX, alguns desses
mesmos museus, principalmente nos Estados Unidos, foram precursores no trabalho
de extensão cultural ao público, através da colaboração com as escolas. A partir do
século XX, essas tendências foram fortalecidas e uma renovação de ideias tornou
essas instituições mais dinâmicas (FRANKLIN, 1981).
Contudo, esse capítulo procura contextualizar as coleções pertinentes ao
desenvolvimento desse trabalho, de forma a contribuir com a conscientização das
instituições sobre a importância de um plano para conservação dos seus acervos,
através de avaliação das condições de salvaguarda desses exemplares que
possuem uma importante função didática e histórica.
Figura 1 - Gabinete de curiosidades (museu) do naturalista Ferrante Imperato em Nápoles, conforme no frontispício do livro XXVIII de sua obra História Natural de 1599.
Fonte: SUANO, 1986, p. 17
19
1.1 O percurso da taxidermia
A musealização da natureza é impulsionada através da publicação de Lineu
(1707-1778) “Systema Naturae”, apresentando uma proposta taxonômica para os
reinos animal, vegetal e mineral. Servindo ainda hoje como orientação para as ações
museológicas. Os museus de história natural se tratam de uma visão especializada
dos museus e abrigam coleções de botânica, mineralogia, geologia, paleontologia e
zoologia (SILVA, 2006).
Tentativas de preservar total ou parcialmente corpos de animais para os mais
variados fins são realizadas dede as antigas civilizações. Os egípcios já
demonstravam grande afinidade com a preparação e o embalsamento de espécimes
animais considerados divinos, sendo alguns desses exemplares encontrados até os
dias atuais (AURICCHIO; SALOMÃO, 2002).
A taxidermia (do grego: taxis = organizar; dar forma + dermis = pele)5, técnica
usada para dar forma a pele, possui seus primeiros relatos datados no Século XVI.
Segundo Fuller (1992, p. 18), “Montagens de taxidermia, em particular, são técnicas
mistas de criação, com complexas necessidades de conservação”.
Durante a renascença, os europeus, explorando novos portos, se depararam
com uma fauna muito diferenciada daquela conhecida por eles. Assim, coletavam e
procuravam manter preservados espécimes exóticas que seriam ostentadas pela
nobreza e abastados comerciantes nos recém criados, devido ao desejo em
colecionar objetos “raros”, Gabinetes de curiosidades (AURICCHIO; SALOMÃO,
2002).
Juntamente com a formação dessas coleções, desenvolveram-se técnicas de preservação, observação analítica, ilustrações e expedições científicas. Um conjunto de atividades presentes no cotidiano dos museus com coleções naturais ainda nos dias de hoje. (SILVA, 2006, p. 82).
Quanto às técnicas de preparação utilizadas na montagem de peças
taxidermizadas, até meados do Século XVIII, utilizavam-se produtos naturais como
sal, ervas especiais, alúmen6 e o tabaco. Em curto prazo os exemplares
5 Informações obtidas no site
http://www.zoobalneariocamboriu.com.br/detalhamuseus.php?cod=3 – Acesso em: 24 dez. 2012. 6 Sal branco, cristalizado em cubos ou em grandes octaedros regulares, de sabor primeiro
doce e depois adstringente e amargo.
20
confeccionados com esses materiais apresentaram problemas de conservação e
cheiro incômodo. Não obstante, os naturalistas desse período começaram a
experimentar novos métodos de preservar as peles de animais vertebrados,
substituindo produtos brandos por substancias mais fortes como cloreto de mercúrio
dissolvido em água e arsênico (MARTE; PÉQUIGNOT; VON ENDT, 2006).
Percebendo-se a necessidade do uso de materiais que permitam maior
durabilidade aos exemplares taxidermizados, novas técnicas são formuladas e
aperfeiçoadas com o passar do tempo. Assim, além dos produtos preservantes
aplicados sobre a matéria orgânica, a estrutura de sustentação da pele dos animais
também sofre alterações, conforme as tecnologias disponíveis.
Por muito tempo se utilizou a palha (fig. 2) - por isso o termo: “animal
empalhado” - e algodão para o preenchimento de pequenos animais. Para o preparo
dos espécimes de médio e grande porte, um manequim se fazia necessário para
modelar a pele e dar a forma mais natural possível. Essa técnica era feita com
pedaços de madeira, arame e qualquer outro material disponível até meados do
século XIX, quando o alemão Philipp Leopold Martin desenvolveu a técnica do
“dermoplastia”. Esse método consiste em fazer uma escultura de gesso, mas no seu
interior ainda existia a presença de madeira e ferro. Com o avanço da tecnologia,
nos anos da década de 1970, surgiram montagens constituídas de fibra de vidro e
ocas no interior, promovendo maior leveza das peças. Atualmente, o material mais
utilizado como suporte de peles é o poliuretano (fig. 3), produto usado na fabricação
de colchões (PRZYBYSZ; CUNHA, 2011).
Figura 2 - Peça taxidermizada com palha. Figura 3 - Resina de poliuretano em molde d de gesso.
Fonte: SILVA; RIVERO; SALLES, 2012, p. Fonte: PRZYBYSZ; CUNHA, 2011, p. 86. 94.
21
1.2 Coleção científica, didática e museológica
A coleta de animais para fins científicos precisa ser realizada em conjunto
com a coleta de dados específicos do animal, assim como os dados de seu habitat.
Esse tipo de acervo não é exposto ao público em geral, seu acondicionamento é
feito em gavetas e a montagem das peças segue uma composição anatômica (fig 4).
Por outro lado, coleções deficientes de informações e montados com formas
naturais fazem parte das coleções didáticas ou museológicas.
Coleções científicas podem ser formadas por animais de diferentes partes do
mundo ou conter exemplares apenas da fauna regional. Esse tipo de coleção deve
seguir o rigor da metodologia de coleta zoológica, ou seja, devem conter dados
específicos como, por exemplo, as coordenadas da área de coleta. Os espécimes
desses acervos são de utilização para estudos científicos taxonômicos, biológicos e
ecológicos, entre outros. Normalmente, são abrigados nas instituições universitárias
e de pesquisa (AURICCHIO; SALOMÃO, 2002).
Basicamente, as coleções científicas com a finalidade precípua de desenvolvimento de pesquisas científicas não fazem parte do sistema de ações museológicas – são coletadas, conservadas e pesquisadas, mas não são expostas e tampouco são utilizadas em ações educativas. (SILVA; RIVERO; SALLES, 2012, p. 78).
Figura 4 - Ave preparada para coleção científica.
Fonte: AURICCHIO; SALOMÃO, 2002, p. 141.
Ao contrário da coleção de caráter científico, a coleção didática não precisa
ser formada por exemplares acompanhados dos dados específicos de procedência
como data, local e coletor. Esse tipo de coleção é usado em exposições,
demonstrações em salas de aula e serve de apoio para a comparação de indivíduos,
auxiliando na identificação de espécies (AURICCHIO; SALOMÃO, 2002).
22
Segundo Franco (2002, p. 285) “Toda coleção tem importância didática, uma
vez que a sua utilização sempre implica em atualização e geração de
conhecimento”. No entanto, coleções como as que compõem o Museu de Ciências
Naturais Carlos Ritter ainda podem ser contextualizadas como um acervo destinado
principalmente à exposição em cenários museológicos (fig. 5) e ainda fazer parte de
ações educativas.
Figura 5 - Vitrine expositiva do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter.
Fonte: Foto elaborada pelo autor.
1.3 Carlos Ritter
No século XIX o Rio Grande do sul (RS) foi palco da colonização por
estrangeiros, vindos principalmente da Europa. O governo incentivou a ocupação de
terras por imigrantes devido à mão de obra que deixou de ser compulsória e se
tornou escassa. Alguns estrangeiros também vinham para este continente em busca
de novas oportunidades e desenvolvimento.
Um acontecimento pertinente ao historicismo da vida de Carlos Ritter (fig. 6)
foi também uma das primeiras colonizações da região sul. “Em 1824, para o Rio
Grande do Sul foram encaminhados 126 alemães, surgindo a colônia de São
Leopoldo, (...) tornando-se polo irradiador da colonização alemã na província”
(DIÉGUES JUNIOR, 1964 apub ANJOS, 2002, p. 62).
23
Nesse contexto histórico, que segue até o fim do século XIX, nasce um
descendente de alemães cujo suas feitorias terão significativa importância
econômica, histórica e cultural para a cidade de Pelotas. Carlos Ritter, filho de
Heinrich Ritter e Elisabeth Fuchs Ritter, nasceu em 1951, na então cidade de São
Leopoldo, e veio a falecer em 19267.
Figura 6 - Fotografia de Carlos Ritter.
Fonte: http://ib.ufpel.edu.br/museu/carlritter.html - Acesso em 09 mar. 2012
O conhecimento na fabricação de cerveja, herdado de seus pais (primeiros
fabricantes de cerveja do RS), alavancou um dos maiores empreendimentos da
cidade de Pelotas. A cervejaria Carlos Ritter & Irmão começou suas atividades em
1872 à Rua 24 de Outubro (atual Tiradentes). Quando a fábrica mudou para a
esquina das Ruas Marques de Caxias com São Jeronymo (atuais Santos Dummont
e Marechal Floriano, respectivamente) houve um crescimento acentuado em sua
produção e arrecadação. A firma chegou a atingir uma renda aproximada à metade
da renda do município (ANJOS, 2002).
Carlos Ritter era um naturalista que, autodidata, confeccionava e colecionava
animais empalhados, principalmente aves. A cervejaria de Ritter comercializava em
todo estado e na região Norte do País, onde ele obteve acesso e coletou diferentes
espécies de aves.
O Centro Agrícola-Industrial de Pelotas, fundado em 1887, tinha o objetivo de
consolidar o comércio, a agricultura e a indústria da região. Entre as empresas
fundadoras esta a cervejaria Carlos Ritter & Irmão. Além de seus empreendimentos
7 Informações obtidas no site http://ib.ufpel.edu.br/museu/carlritter.html - Acesso em: 09 mar. 2012.
24
lucrativos, incluindo a colonização da Serra dos Tapes8, Carlos Ritter promoveu a
arborização da Avenida 20 de Setembro (atual Duque de Caxias) e também o
“Jardim Ritter”, espaço público para socialização, localizado onde é hoje a
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a praça de
esportes do 9º Batalhão de Infantaria do Exército (ANJOS, 2002).
Estabelecido aquele gracioso jardim nos limites urbanos, podendo-se dizer que em um dos mais importantes bairros da cidade, facilita por tal forma a frequência do público que, nos determinados dias, fica ele repleto de tudo quanto há de mais grado na nossa sociedade (A VENTAROLA, 20 nov. 1887 apub ANJOS, 2002, p. 163).
1.4 O Museu
Em 1926, após o falecimento de Carlos Ritter, sua esposa Augusta Keffer
Ritter doou a coleção de aves taxidermizadas e os mosaicos de insetos (fig. 7),
confeccionados por ele, à Escola de Agronomia e Veterinária Eliseu Maciel. A partir
deste acervo e do material entomológico9 do Ilmo. Sr. Ceslau Maria Biezanko (1895-
1985), polonês, pesquisador e professor da Escola de Biologia e Veterinária Eliseu
Maciel, constituiu-se o acervo do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter.
No ano de 1970 o museu abriu suas portas ao público em geral, mas seu
acervo estava depositado no local onde hoje se encontra a Biblioteca da Faculdade
de Agronomia Elizeu Maciel (FAEM). Após um período de oito anos o MCNCR foi
desativado e só teve sua reinauguração em 15 de setembro de 1988, ocupando um
espaço no centro da cidade (PARANHOS, 1997). O Professor Nelson Luis Garibaldi
foi o chefe do museu neste ano, depois, a partir de 1990 e até julho de 1992, o Prof.
Roberto Krebs Baltar assume a chefia do museu.
A história do museu é fadada por mudanças de instalações constantes.
Segundo Baltar (1990, of. 5, p. 2) o “(...) acervo sofre lamentáveis e irreparáveis
prejuízos toda vez que são necessários deslocamentos por mudança de sede (nos
últimos anos foram feitos quatro mudanças)”. No dia 29 de outubro de 1990 o museu
reabre em seu novo endereço situado à Rua Marechal Deodoro nº 823, onde
permaneceu por vinte anos. Atualmente o MCNCR esta vinculado ao Instituto de 8 Fazem parte da colonização da Serra dos Tapes as colônias: Santa Rita, Visconde da
Graça e Ritter. Todas colonizadas por alemães. 9 Insetos preservados para estudo e pesquisa da área de entomologia (ramo da Zoologia
que estuda os insetos).
25
Biologia da UFPel e, desde o ano 2010, esta localizado à Rua Barão de Santa Tecla
nº 576, sob a chefia do professor Dr. César Jaeger Drehmer.
Figura 7 - Mosaico feito com seres da classe insecta e um exemplar de escorpião,
confeccionado por Carlos Ritter.
Fonte: Foto elaborada pelo autor.
O Acervo do Museu Carlos Ritter é muito visitado por escolas de ensino
fundamental e médio e, possui uma estreita relação didática com alguns cursos de
nível superior da UFPel. Porém, as atividades do museu não se limitam apenas a
exposição de suas peças, alguns eventos foram realizados junto a órgãos públicos e
a comunidade.
1.4.1 Acervo ornitológico10
Uma coleção ornitológica pode ser composta por espécimes preservados na
forma de peles taxidermizadas (montadas), em meio líquido, como esqueletos
completos ou parciais e com partes de asas, cabeças, caudas ou penas. Ainda são
admitidos exemplares de ninhos e ovos.
10
Ornitologia é a área da zoologia que estuda as aves. Um acervo ornitológico, por sua vez, é composto de peças ligadas ao estudo das aves.
26
A formação de acervos ornitológicos referentes às espécies da avifauna do
Brasil foi impulsionada a partir de 1808, com a “Abertura dos Portos” por Dom João
VI de Portugal. O país, que nesse momento era o lar da família real, começou a
receber visitas de naturalistas da Europa, que desejavam conhecer melhor as
riquezas naturais desse continente (ALEIXO; STRAUBE, 2007).
O acervo do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter é composto por um
grande numero de exemplares, diversificado entre as coleções herpetológicas
(répteis), mastozoológicas (mamíferos), paleontológicas (fósseis), osteológicas
(ossos), ictiológica (peixes), entomológicas e, principalmente, ornitológicas. O acervo
fica permanentemente em exposição, sendo que alguns exemplares estão
guardados nas dependências dos cursos de Agronomia e Biologia, outros
acondicionados em caixas no depósito do museu11.
O museu disponibiliza aos visitantes interessados e estudiosos da fauna uma
lista completa de todo o acervo salvaguardado pelo MCNCR. A publicação, Acervo
do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter, encontra-se na sua terceira edição e
foi organizado pelo Professor Dr. José Eduardo Figueiredo Dornelles. Esse material
tem como finalidade a orientação sobre as espécies expostas no museu,
descrevendo, além do nome popular, a ordem, a família e o nome científico dos
mesmos. Também é possível identificar as espécies em perigo de extinção
(DORNELLES, 2012).
As mais de quinhentas aves taxidermizadas por Carlos Ritter possuem
aproximadamente cem anos de existência e as técnicas de preparação desses
exemplares “podem fazer uso de materiais de enchimento (por exemplo, algodão) e
um suporte rígido interno (tais como cavilhas de madeira ou, vulgarmente de
arame)” (FULLER, 1992, p. 18). Essa diversidade de materiais aplicados na
confecção das peças e as condições ambientais inapropriadas em que elas são
expostas contribuem significativamente na velocidade de degradação desse acervo.
Oliveira (2010) elaborou uma metodologia para diagnosticar o estado de
conservação de espécimes taxidermizados e, usando a coleção ornitológica de
Carlos Ritter, verificou que cada peça possui singularidades quanto ao seu estado
de conservação.
11
Informações obtidas no site http://ib.ufpel.edu.br/museu/acerv.html - Acesso em: 07 jan. 2013.
27
Sabe-se que muitas espécies da coleção ornitológica se encontram em perigo
de extinção ou exógenas à região sul do país, sendo esse um dos critérios na
escolha das obras estudadas nesse trabalho.
Capítulo 2: Parâmetros para conservação de acervo taxidermizado
A conservação preventiva em museus busca soluções eficazes e de custo
baixo para interromper ou minimizar a deterioração do seu acervo. No caso dos
animais taxidermizados, principalmente de cunho expográfico, os parâmetros de
conservação e os métodos de mitigação possuem um número de publicações bem
reduzido. Se tratando em grande parte de material orgânico, para elaborar dados
relativos a conservação dessas coleções, foram utilizadas recomendações voltadas
para preservação de objetos com mesmas características.
A instabilidade dos materiais é uma questão muito discutida na área da
conservação de acervos. Um objeto considerado estável pode, repentinamente,
entrar em pleno processo de deterioração. Embora na realidade o artefato já
estivesse se deteriorando, quando é atingido o ponto crítico, a deterioração se
acelera (BRADLEY, 2001).
A conservação dos materiais orgânicos, tais como papel, produtos têxteis,
plumas, couro e ossos, está relacionada com o ambiente, seja por fatores naturais
ou pela ação do homem. As variações de umidade relativa e temperatura são alguns
dos problemas de maior impacto sobre acervos de natureza orgânica. Contudo,
também são alvos de deterioração estrutural através da exposição sobre condições
inapropriadas de iluminação, agentes biológicos de degradação e poluentes.
2.1 Iluminação
Uma das causas mais comuns na degradação de acervos é a iluminação
equivocada. A luz é uma forma de radiação medida por comprimento de ondas. No
centro do espectro eletromagnético, encontra-se a luz visível que compreende
valores entre 400 e 700 nanômetros (unidade do comprimento de onda da radiação -
nm). A direita encontra-se o ultravioleta e a esquerda o infravermelho, conforme
figura abaixo:
28
Figura 8 - Faixa de radiação visível e espectro eletromagnético.
Espectro visível
Fonte: http://www.arq.ufsc.br/labcon/arq5656/Curso_Iluminacao/07_cores/index_conceitos.htm Acesso em: 17 jan. 2013.
A degradação causada pela luz é de caráter irreversível e cumulativo. Por
isso, sempre que possível, deve-se evitar a exposição permanente do acervo a
qualquer nível de iluminação. O processo de deterioração se dá pelas reações
químicas dos materiais, estimuladas pela absorção de energia emitida pela luz
visível ou ultravioleta. A radiação infravermelha emite energia em forma de calor,
também prejudicial à estabilidade das obras (BECK, 2001).
As ações voltadas ao controle da incidência de luz devem ser precedidas de
diagnóstico completo, principalmente se tratando de acervos com caráter orgânico,
como no caso da coleção ornitológica do MCNCR. A determinação das áreas de
maior risco e o tempo em que as peças ficam expostas são de suma importância
para elaboração de um plano de conservação do acervo.
Os valores máximos recomendados para acervos de história natural são de
até 50 lux (lm/m²) de luz visível e 30 µW/lm de luz ultravioleta por um período não
superior a 250 horas anuais. Outro controle muito importante que deve ser feito é
com relação à exposição de objetos a luz natural, esse tipo de iluminação nunca
deve incidir diretamente nas coleções, devido ao alto nível de radiação ultravioleta,
infravermelho e também do espectro visível (CAMACHO, 2007).
29
Quanto ao acervo ornitológico do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter,
pôde-se verificar a incidência de luz natural, em alguns dias do verão, na vitrine da
ordem Falconiformes (fig. 9).
Figura 9 - Vitrine com aves da ordem Falconiformes exposta à luz natural.
Fonte: Foto elaborada pelo autor.
2.2 Temperatura e Umidade
Os ambientes que abrigam peças museológicas devem ter suas variações de
umidade relativa (UR)12 e temperatura monitoradas e controladas. O controle desses
fatores climáticos é de suma importância para a preservação do acervo. Além de
acelerar a degradação dos materiais, a exposição do acervo a valores inapropriados
de umidade e temperatura pode fornecer um ambiente propício a proliferação de
insetos.
Níveis elevados de temperatura podem acelerar as reações químicas de
deterioração, sendo dobrada a cada 10°C de aumento na temperatura. A umidade
relativa do ar, quando elevada, pode fornecer um meio favorável a reações
químicas. Combinada com o calor, a umidade oferece condições convenientes para
a proliferação de fungos e outros organismos vivos (BECK, 2001).
12
A umidade relativa é definida pela relação entre a quantidade de água suspensa num determinado volume de ar e o máximo de vapor da água que esse mesmo volume pode conter.
30
Por se tratar de um acervo taxidermizado, além de favorecer o perigo de
degradação por agentes biológicos, a umidade relativa e temperatura inadequada
provocam mudanças físicas da peça, como aumento do volume e ressecamento da
epiderme. O exemplar de João-grande (Ciconia maguari), exposto no MCNCR,
apresenta alterações no volume e perda de plumas na altura do pescoço (fig. 10).
Quanto à estrutura do Museu Carlos Ritter, pode-se observar a carência de um
sistema efetivo que promova o controle adequado da umidade relativa e
temperatura. Além disso, uma das paredes internas apresenta uma mancha
causada pela infiltração da umidade externa (fig. 11).
Figura 10 - Detalhe do pescoço de um João- Figura 11 - Mancha de umidade na area de grande. exposição.
Fonte: Foto elaborada pelo autor. Fonte: Foto elaborada pelo autor.
A UR e a temperatura, dentro de ambientes museológicos, relacionam-se
estreitamente, intervindo uma sobre a outra de forma inversamente proporcional.
Quando é elevada a temperatura, os valores de UR tendem a diminur e da mesma
maneira ocorre em situação oposta, conforme demonstrado no diagrama de Mollier
(fig. 12). Considerando tal relação, o controle desses fatores deve ser planejado de
forma conjunta, evitando, principalmente, flutuações bruscas da umidade e
temperatura, pois isso estimula a alteração dimensional das peças, provocando
degradações físicas irreversíveis (CAMACHO, 2007).
Segundo Beck (2001, p. 24) “temperaturas acima de 21°C e UR acima de 55-
60% favorecem o desenvolvimento de fungos e insetos”. Além disso, valores muito
elevados de UR podem aumentar a acidez de materiais orgânicos. Por outro lado, a
UR muito baixa, torna o pergaminho ou a epiderme, no caso da taxidermia,
quebradiços.
31
Figura 12 - Diagrama de Mollier, gráfico da função entre umidade relativa e temperatura.
Umidade Relativa (%)
Temperatura (°C)
Fonte: CAMACHO, 2007, p.101
2.3 Poluentes
Os poluentes são compostos que reagem quimicamente com os bens
culturais, provocando alterações na sua estrutura e, consequentemente, acelerando
sua deterioração. As impurezas presentes no ambiente das instituições
museológicas, podem se apresentar no estado sólido, líquido ou gasoso e devem
ser levadas em consideração na elaboração de um diagnóstico e na proposta de
controle das mesmas.
As partículas e aerossóis constituem uma classe ampla de poluentes prejudiciais aos bens culturais. Poeira, fuligem, resíduos de fumaça de tabaco, aerossóis alcalinos do assentamento do concreto e fibras têxteis, tudo isso é encontrado nas manchas das obras da arte.” (BAER; BANKS, 2001, p. 295).
Esses elementos poluidores adentram nas áreas de exposição e guarda dos
museus através de fontes externas e internas. Como fontes externas, podem-se citar
as atividades industriais e o tráfego de veículos automotores próximo da instituição.
Internamente, a origem dos poluentes pode ser por meio das atividades de limpeza,
materiais empregados na construção dos ambientes de guarda, materiais
constituintes de um bem cultural e pelos próprios visitantes (CAMACHO, 2007).
Umidade absoluta (g/m³)
32
Existem ainda, no caso de museus com peças taxidermizadas, o perigo de
degradação do acervo e o risco a saúde humana por poluentes endógenos, devido
ao tratamento que espécimes de animais empalhados recebem na sua preparação.
Esses materiais são tóxicos em muitos casos, como por exemplo, o trióxido de
arsênico, usado como método para controle de pragas (FULLER, 1992).
A presença de arsênico em coleções ornitológicas pode ser diagnosticada
através de métodos simples de observação, conforme Marte; Péquignot e Von Endt
(2006, p. 143-144) descrevem:
Primeiro é necessário inspecionar visualmente os espécimes para a presença de características brancas do pó de arsênico. Estes depósitos de matérias pulverulentas ou cristalinos são normalmente encontrados na base dos pelos e penas, ao redor dos olhos ou na base das orelhas, ao redor da boca ou contas e nas almofadas de pé.
Existem pelo menos nove categorias de poluentes, sendo os contaminantes
gasosos, como o dióxido de enxofre, os óxidos de nitrogênio, os peróxidos e o
ozônio, os elementos de maior impacto na degradação de acervos com elementos
orgânicos ou, nesse caso, as epidermes de animais taxidermizados. As reações
provocadas por esses poluentes sobre os bens culturais são descritas na tabela
abaixo (tab. 1).
Tabela 1 - Alguns poluentes e os seus efeitos nos bens culturais.
Poluentes Efeitos nos materiais
Compostos gasosos oxidáveis de enxofre
Acidificação de materiais celulósicos; corrosão do cobre; desvanecimento de alguns pigmentos e enfraquecimento do couro.
Compostos de óxido de azoto (nitrogênio)
Corrosão de prata com elevado conteúdo de cobre; deterioração do couro, do papel e desvanecimento de alguns pigmentos.
Peróxidos
Descoloração de fotografias, desvanecimento de alguns pigmentos; oxidação de objetos orgânicos.
Ozônio
Desvanecimento de pigmentos e corantes; oxidação de objetos orgânicos com ligações duplas conjugadas, como borrachas.
Fonte: Modificada de TÉTREAULT, 2003 apub CAMACHO, 2007, p. 108
A contenção desses poluentes e o controle da qualidade do ar são atividades
difíceis e complexas, dependem de vários fatores inter-relacionados. O
recomendado em qualquer dos casos é que sejam reduzidas ao máximo as
33
impurezas do ar. Para isso, utiliza-se de equipamentos como os filtros químicos e os
lavadores de gás, também, pode-se tomar algumas medidas alternativas como
fornecer uma boa troca de ar nos espaços de exposição e reserva técnica (BECK,
2001).
2.3.1 Materiais particulados
Outra categoria de poluentes que alavanca a deterioração de bens culturais
são as partículas sólidas suspensas no ar que se depositam sobre as coleções
expostas. Entende-se como material particulado, a mistura física e química das
substancias encontradas em suspensão no ambiente, nas formas sólidas ou
líquidas, como gotículas e aerossóis.
As partículas poluidoras aéreas podem ser ocasionadas através de vários
fatores, como o atrito entre objetos móveis e o chão, por exemplo, com o varrer do
piso ou mesmo com a movimentação do mobiliário. O ato de aspirar facilita a
reentrada de partículas no ar, sendo necessário um equipamento específico para
evitar esse acontecimento. Umidificadores e “sprays” geram gotículas que podem se
depositar sobre o acervo. Além disso, fumar, cozinhar e até mesmo a realização de
limpeza sem critérios, nas áreas de exposição, resultam em condensação de
aerossóis na superfície das peças (CARMO, 1999).
O acúmulo de partículas sólidas sobre um acervo deixa as peças com
aspecto sujo, intervindo na sua leitura estética e dificultando assim, a comparação
ou determinação de espécimes taxidermizados. Contudo, esse tipo de poluente é de
fácil detecção, podendo ser diagnosticado com vistorias periódicas, sem a
necessidade do uso de instrumentos tecnológicos específicos.
As partículas sólidas depositadas sobre o acervo taxidermizado podem
causar abrasão na superfície das peças, retenção da umidade, o que favorece o
surgimento de reações químicas indesejáveis e, ainda, permite que se comporte
esporos de diferentes espécies de fungos. A fuligem também ocasiona a
descoloração de materiais porosos, como no caso das epidermes dos animais
taxidermizados (CAMACHO, 2007).
Um controle efetivo dos materiais particulados em instituições museológicas
deve prever as origens desse tipo de poluente. Sendo a maior parte das partículas
34
suspensas no ar provenientes do meio externo, geralmente com características
ácidas, o método mais eficaz de preservar um acervo é a instalação de filtros
moleculares utilizados em conjunto com filtros de partículas de alta eficiência. A
higienização mecânica do acervo é outro fator indispensável para a conservação dos
artefatos do museu (MANVR, 2011).
A presença de material particulado, assim como poluentes de qualquer
tipologia, não colocam em risco apenas as obras expostas ou armazenadas nos
ambientes dos museus de história natural. Esses elementos poluidores podem
causar problemas de saúde aos funcionários do museu e para as pessoas que o
visitam (CARMO, 1999).
2.3.2 Higienização do acervo
A coleção ornitológica do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter é
constituída por peças taxidermizadas há mais de um século. Essas aves são
expostas pelo museu em caráter permanente, algumas delas acondicionadas em
vitrines de madeira com vidro, recebidas por doação juntamente com o acervo. Não
obstante, muitos espécimes se encontram em contato direto com o ambiente do
museu, que por sua vez não possui um sistema de controle ambiental, tornando
essas obras vulneráveis ao acumulo de poluentes particulados. No dorso do Biguá
(Phalacrocorax brasilianus), exposto sobre uma das vitrines do museu, pode-se
observar uma cobertura esbranquiçada de sujidades (fig. 13).
Figura 13 – Sujidades (poluentes particulados) impregnadas sobre o dorso de um Biguá
taxidermizado por Carlos Ritter, exposto em ambiente aberto sobre uma vitrine do MCNCR.
Fonte: Foto elaborada pelo autor.
35
A higienização periódica dos artefatos é uma atividade que permite uma boa
leitura das obras e previne uma série de degradações por motivos diversos, como
acidificação do material, abrasão e proliferação de fungos. Uma monitorização
ocular do acervo pode identificar a necessidade ou não de uma ação de limpeza
direta sobre as peças. Se esse for o caso, essa higienização dos exemplares deve
ser cuidadosa e realizada por pessoas capacitadas e com formação especifica na
área da conservação.
Em um espécime pré-selecionado foi realizada uma limpeza com pincel de
cerdas macias, removendo a sujidade mais superficial, porém, isso não mudou a
aparência da peça. Ao tentar aplicar uma técnica mais incisiva, observou-se que as
penas e as plumas se desprendiam com facilidade da pele do animal, devido a
fragilidade em que se encontrava. Assim, optou-se por não arriscar a integridade do
acervo, descrevendo apenas os métodos teóricos encontrados.
Todo procedimento exercido diretamente sobre um acervo, principalmente de
natureza orgânica como é o da coleção de aves taxidermizadas por Carlos Ritter, é
de caráter irreversível. Portanto, a limpeza das peças deve ser ponderada e, caso
necessário, deve seguir alguns critérios (MANVR, 2011):
• A limpeza do pó deve ser cuidadosa, evitando fricções abusivas,
principalmente nas áreas mais vulneráveis dos exemplares;
• Pode-se utilizar pincéis ou trinchas com cerdas macias;
• Um sistema de aspiração adequado deve ser usado para evitar que as
partículas removidas tornem a se depositar sobre as peças.
Para higienização de animais taxidermizados, além da remoção de partículas
sólidas com o uso de pincéis, pode-se precisar eliminar gorduras e outras
impurezas. Para isso, aconselha-se a aplicação da espuma de detergente neutro
(SILVA; RIVERO; SALLES, 2011). Esse procedimento não deve ser aplicado se a
peça apresentar fragilidade quanto à fixação de seus pêlos ou plumas, no caso das
aves.
Todo processo de higienização deve partir dos materiais e métodos menos
abrasivos e, gradativamente, caso o processo não seja satisfatório, deve-se fazer
uso de produtos mais fortes. Na limpeza de aves taxidermizadas, deve-se começar
com a remoção das partículas sólidas com o uso de um pincel macio e, se as
36
manchas de sujidades persistirem, pode-se aplicar um swab13 umedecido em água
destilada. Em último caso, se a poeira impregnada persistir sobre a superfície, pode-
se aplicar álcool etílico até a concentração de 70%.
A aplicação de solventes, como procedimento de limpeza das coleções
ornitológicas, deve ser utilizada apenas como último recurso, pois essas aves
taxidermizadas podem conter óleos naturais que se forem removidos deixam as
peças mais fragilizadas. Alguns pigmentos usados para manter a aparência da vida
das aves podem sofrer alterações ou serem totalmente removidos e, embora menos
afetadas, algumas penas podem perder sua coloração original se entrarem em
contato com solventes (SHELTON, 1996).
Na metade do século XX, Morganti (1952) já descrevia um processo de
higienização de aves taxidermizadas usando agua com sabão e aplicando no
sentido das plumas com pincel, sem molhar em demasia. Logo, enxagua-se a área
com água e realizasse a secagem em seguida com pano fino. Por último, polvilha-se
gesso depurado. Em situações de manchas persistentes, pode-se preparar uma
solução com potassa cáustica 100g e sabão Quillay14 100g, diluídos em 1L de água,
aplicada conforme o procedimento anterior15.
2.4 Agentes biológicos
Como terminologia geral, os agentes biológicos são animais, plantas, insetos
e microrganismos (fungos, bactérias, etc.) que podem causar algum dano aos
materiais e aos seres humanos, sendo assim considerados patógenos. Dentro da
área de conservação dos bens culturais em instituições museológicas, esses
organismos são capazes de promover a biodegradação dos acervos, ou seja, a
transformação de matéria orgânica em elementos químicos simples (SOUZA, 2003).
13
Swab é um bastão de madeira ou outro material com uma das extremidades recoberta de algodão. 14
Quillay é o nome popular da Quillaja saponária, árvore saponácea da região central do Chile (informações obtidas no site: http://www.florachilena.cl/Niv_tax/Angiospermas/Ordenes/Fabales/Quillajaceae/Quillay.htm – Acessado em: 22 fev. 2013). 15
A análise da aplicabilidade desses procedimentos na coleção ornitológica do Museu Carlos Ritter não foi possível devido à fragilidade em que se encontram as epidermes das aves, tornando inevitável a perda de plumas durante qualquer ação direta sobre as peças, principalmente envolvendo umidade.
37
O acervo do MCNCR é composto por elementos predominantemente
orgânicos. Esses materiais são os mais suscetíveis ao ataque de agentes biológicos,
devido ao fato de ser essa a sua fonte de nutrição. No entanto, existem outras
formas que os insetos e microrganismos podem prejudicar o acervo, além da
atividade de alimentação, como o deposito de excrementos e insetos mortos em
decomposição.
O controle dos agentes biológicos dentro dos museus deve ser sempre
antecipado por uma avaliação do acervo, buscando indícios que demonstrem a
vulnerabilidade das peças ao ataque desses seres. “Além dos níveis de infestação, é
importante identificar as tipologias biológicas, que muitas vezes podem atuar de
maneira integrada ou mista” (FRONER; SOUZA, 2008, p. 4), considerando que os
espaços, e rotinas da instituição, podem favorecer a invasão de insetos e roedores
como a proliferação de fungos.
Eliminar totalmente a presença de agentes biológicos dentro dos museus é
uma tarefa muito difícil. Contudo, pode-se minimizar bastante a possibilidade de uma
infestação, tendo-se cuidados relativos a quatro aspectos importantes: a
temperatura, a umidade, a limpeza do ambiente e a facilidade de acesso, sendo que
os níveis desses fatores para conforto humano também são satisfatórios aos insetos
e alguns microrganismos (CAMACHO, 2007).
Acervos taxidermizados são de origem orgânica e naturalmente fontes de
nutrientes a muitos agentes biológicos. Com base nisso, os espécimes empalhados
recebem tratamentos preventivos com produtos químicos potencialmente tóxicos
durante a sua produção. A coleção ornitológica de Carlos Ritter não é exceção.
Sabendo da vulnerabilidade dessas obras, o MCNCR contrata anualmente através
do processo de licitação uma equipe para fazer a desinfestação das peças. No
entanto, durante os dias de rotina da instituição, não são promovidos nenhuma outra
forma de ação preventiva ou de mitigação para a possibilidade de biodegradação
dos animais que compõem o acervo..
A proliferação de insetos e microrganismos dentro dos museus de história
natural está diretamente relacionada com os níveis de umidade relativa, temperatura
e rotas de entrada, sem mencionar na fonte de alimentação, que pode ser o próprio
acervo. A tabela 2 demonstra as condições climáticas favoráveis ao
desenvolvimento de agentes biológicos.
38
Tabela 2 – Condições climáticas ideais para proliferação de agentes biológicos.
Agentes biológicos Temperatura Umidade relativa
Insetos Entre 20°C e 30°C. Entre 60% e 80%.
Fungos Entre 20°C e 30°C. Acima de 60%
Bactérias Muito variável Acima de 80% Fonte: BECK, 2001, p. 9; SOUZA 2003, p. 13
Com base na tabela acima, pode-se dizer que de forma geral, mantendo a
temperatura abaixo de 20°C e a umidade relativa entre 50% e 55%, proporcionam-
se boas condições de proteção contra os agentes biológicos. Vale a pena lembrar
que valores de umidade muito baixos podem causar danos ao acervo, como
ressecamento e rachaduras no couro. Também se deve alertar que são milhares de
espécies de insetos e fungos, podendo muitas delas ser resistentes aos níveis de
temperatura e umidade sugeridos.
2.4.1 Análise de fungos
Fungos são organismos que absorvem e utilizam componentes orgânicos
como fonte de energia. Popularmente, são chamados de mofos ou bolores, mas na
realidade são seres geralmente microscópios pertencentes ao Reino Fungi.
Os fungos podem formar dois tipos de colônias: as leveduras e as
filamentosas. As leveduras são unicelulares não filamentosas, possuem
características morfológicas em forma esféricas ou ovais. Sua reprodução ocorre por
brotamento e as colônias formadas por esses fungos são pastosas ou cremosas. Os
fungos filamentosos (fig. 14) produzem colônias com aspecto aveludado,
algodoados ou pulverulentas, possuem organização multicelular e seu corpo é
composto por longos filamentos de células chamados hifas (DEPARTAMENTO DE
MICROBIOLOGIA, s/d).
39
Figura 14 - Syncephalastrum. Fungo filamentoso com hifas asseptadas.
Fonte: Ilustração de Mário Silva apub DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA, s/d
Os esporos são unidades de reprodução lançadas ao meio ambiente pelos
fungos. Depositam-se sobre os objetos e passam a representar um problema ao
acervo quando, em condições ideais, germinam-se dando início a novas colônias de
fungos. Os meios de evitar essa germinação são através do controle de temperatura
e umidade, tarefa difícil de ser realizada em edifícios sem climatização. A
higienização periódica e o acondicionamento das peças elimina a possibilidade de
acumular esporos na superfície das mesmas (CAMACHO, 2007).
São os esporos: pequenas partículas arredondadas, produzidas aos milhões pelas colônias e liberadas no ambiente, onde permanecem em suspensão durante dias, meses e até anos, até que encontrem um suporte favorável ao seu desenvolvimento (SOUZA, 2003, p. 12).
Como visto anteriormente, parte da coleção ornitológica do Museu de
Ciências Naturais Carlos Ritter está exposta fora de vitrines, em contato direto com o
meio ambiente. Por esse motivo existe uma grande possibilidade de proliferação de
fungos nessas peças, devido ao acúmulo de esporos sobre o acervo e devido
também a falta de um sistema de climatização do museu.
Para evidenciar os fatos supracitados, realizou-se uma análise quantitativa e
qualitativa do ambiente em que os espécimes estão expostos e a coleta de material
da superfície de algumas aves taxidermizadas. Dessa forma esses foram os critérios
utilizados na escolha dos artefatos em que se recolheu elementos para exames
laboratoriais:
40
• Espécies em perigo de extinção ou exógenas à região sul, uma vez que a
substituição dessas peças dificilmente seria possível;
• A localidade interna no museu, dentro e fora de vitrines;
• Aparente deterioração da peça, perda de penas ou manchas.
Portanto, o quadro 1 apresenta as espécies selecionadas, o nome popular e
científico de cada uma, bem como os critérios de seleção.
Quadro 1 – Aves taxidermizadas selecionadas para coleta de material (esporos de fungos)
a ser analisado. Nome científico Nome vernáculo Critério de seleção
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818)
Pica-pau-rei
Exposto em vitrine lacrada com parafusos, localizada sob o mezanino do museu. Em perigo de extinção*.
Ciconia maguari (Gmelin, 1789)
João-grande Deterioração aparente, exposto fora de vitrine.
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817)
Cardeal-amarelo Exposto em vitrine, em perigo de extinção*.
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789)
Biguá Apresenta manchas superficiais e deterioração, exposto fora de vitrine.
Pipille Jacutinga (Spix, 1825)
Jacutinga Exposto em vitrine, criticamente em perigo de extinção*.
Spizaetus melanoleucus (Vieillot, 1816)
Gavião-pato Exposto em vitrine, criticamente em perigo de extinção*.
Fonte: Acervo do MCNCR; *MARQUES et al, 2002
As metodologias aplicadas na coleta das amostras dos exemplares
selecionados foram estabelecidas pelo Departamento de Microbiologia e
Parasitologia do Instituto de Biologia (IB) da UFPel, sob supervisão do professor
adjunto Dr. Eduardo Bernardi. Quanto ao material para análise do meio ambiente
foram feitas coletas da parte interna e externa das vitrines em que abrigam as peças
escolhidas.
Os procedimentos adotados consistiram, em um primeiro momento, na
preparação dos meios de cultura, 30 placas petri com BDA (amido de batata,
dextrose e agar-agar) foram usados para depositar o material coletado das aves
com swab umedecido em agua autoclavada (fig. 15). As amostras foram colhidas de
três pontos diferentes de cada exemplar, peitoral, dorso e bico. Para a captura dos
esporos presentes no ambiente, as placas petri ficaram expostas por um período de
dez minutos em locais pré-definidos. Todos esses procedimentos foram repetidos a
41
cada vinte e um dias, em um total de três coletas. Os materiais utilizados foram
limpos e esterilizados em cada etapa do processo.
Os meios de cultura, preparados com as amostras coletadas, foram
armazenados em temperatura e umidade ambiente por uma semana. Após esse
período os esporos germinaram e formaram as colônias de fungos (fig. 16). Essas
colônias foram preparadas por um processo que consiste na coleta desse material
com auxílio de uma fita adesiva que, em seguida, é aderida em uma lâmina não
permanente e observada no microscópio óptico. Essa atividade foi realizada pelo
professor Dr. Eduardo Bernardi, que ao analisar as características morfológicas dos
fungos, pôde identificar o gênero a que pertencem.
Figura 15 – Transferência do material coletado das aves selecionadas para o meio de cultura, atividade realizada próxima à chama do bico de Bunsen16 para evitar contaminação.
Fonte: Foto elaborada pelo autor.
16
Bico de Bunsen é um dispositivo usado em laboratórios para aquecer substâncias, esterilizar pequenos objetos e para muitas outras finalidades.
42
Figura 16 – Placas petri com colônias de fungos desenvolvidas em meio de cultura BDA.
Fonte: Foto elaborada pelo autor.
Capítulo 3: Resultados da análise de fungos
Os fungos identificados nesse estudo estão representados em tabelas com
informações sobre a quantidade de colônias desenvolvidas no meio de cultura e a
identificação do gênero de cada tipo. Segue abaixo os resultados obtidos com as
análises desenvolvidas (tab. 3, 4 e 5):
43
Tabela 3 – Resultado das amostras coletadas em 26 nov. 2012. Espécie Local de coleta Quant. Colônias Tipo
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Bico 2 N;O
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Peito 1 C
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Dorso 0 -
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Bico 30 C;H;I;L;M
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Peito 2 C
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Dorso 3 C
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817) Bico 0 -
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817) Peito 0 -
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817) Dorso > 100 C
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Bico 7 B;P;A
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Peito 0 -
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Dorso 2 C
Pipille Jacutinga (Spix, 1825) Bico 1 I
Pipille Jacutinga (Spix, 1825) Peito 1 L
Pipille Jacutinga (Spix, 1825) Dorso 3 J;K
Spizastur melanoleucus (Vieillot, 1816) Bico 0 -
Spizastur melanoleucus (Vieillot, 1816) Peito 1 C
Spizastur melanoleucus (Vieillot, 1816) Dorso 0 -
Vitrine Local de coleta Quant. Colônias Tipo
Falconiformes (P1) Interno > 50 C
Falconiformes (P1) Externo 3 A;B;C
Passariformes (P2) Interno 2 C;D
Passariformes (P2) Externo 6 E;B
Galliformes (P3) Interno 0 -
Galliformes (P3) Externo 3 A;C
Piciformes (P4) Interno 1 C
Piciformes (P4) Externo 17 E;F
Sob o mezanino (P5) Externo 5 C;G;H
Legenda:
A - Não esporulado I - Fusarium sp.
B - Penicillium sp. J - Aspergillus sp.
C - Cladosporium sp. K - Cladosporium sp.
D - Paecilomyces sp. L - Não esporulado
E - Leveduras M - Drechslera sp.
F - Leveduras N - Trichoderma sp.
G - Cladosporium sp. O - Não esporulado
H - Alternaria sp. P - Alternaria sp.
Fonte: Resultados obtidos através das análises realizadas pelo Prof. Dr. Eduardo Bernardi.
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Tabela 4 – Resultado das amostras coletadas em 17 dez. 2012. Espécie Local de coleta Quant. Colônias Tipo
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Bico 2 J;A
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Peito 0 -
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Dorso 0 -
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Bico 12 A;B;J
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Peito 0 -
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Dorso 0 -
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817) Bico 0 -
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817) Peito 0 -
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817) Dorso 0 -
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Bico 2 A
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Peito 0 -
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Dorso 0 -
Pipille Jacutinga (Spix, 1825) Bico 0 -
Pipille Jacutinga (Spix, 1825) Peito 1 C
Pipille Jacutinga (Spix, 1825) Dorso 0 -
Spizastur melanoleucus (Vieillot, 1816) Bico 0 -
Spizastur melanoleucus (Vieillot, 1816) Peito 0 -
Spizastur melanoleucus (Vieillot, 1816) Dorso 0 -
Vitrine Local de coleta
Falconiformes (P1) Interno 1 C
Falconiformes (P1) Externo 8 A;C;Q
Passariformes (P2) Interno 2 C
Passariformes (P2) Externo 7 A;C
Galliformes (P3) Interno 1 H
Galliformes (P3) Externo 5 A;C
Piciformes (P4) Interno 1 C
Piciformes (P4) Externo 5 A
Sob o Mezanino (P5) Externo 3 A;C
Legenda:
A - Não esporulado H - Alternaria sp.
B - Penicillium sp. J - Aspergillus sp.
C - Cladosporium sp. Q - Curvularia sp.
Fonte: Resultados obtidos através das análises realizadas pelo Prof. Dr. Eduardo Bernardi.
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Tabela 5 – Resultado das amostras coletadas em 7 jan. 2013. Espécie Local de coleta Quant. Colônias Tipo
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Bico 1 D
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Peito 0 -
Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Dorso 1 A
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Bico > 150 I;B
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Peito 0 -
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Dorso 0 -
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817) Bico 0 -
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817) Peito 0 -
Gubernatrix cristata (Vieillot, 1817) Dorso 0 -
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Bico 16 C
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Peito 0 -
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Dorso 6 A
Pipille Jacutinga (Spix, 1825) Bico 1 C
Pipille Jacutinga (Spix, 1825) Peito 1 C
Pipille Jacutinga (Spix, 1825) Dorso 7 C
Spizastur melanoleucus (Vieillot, 1816) Bico 0 -
Spizastur melanoleucus (Vieillot, 1816) Peito 0 -
Spizastur melanoleucus (Vieillot, 1816) Dorso 0 -
Vitrine Local de coleta Quant. Colônias Tipo
Falconiformes (P1) Interno 4 I
Falconiformes (P1) Externo 3 R
Passariformes (P2) Interno 0 -
Passariformes (P2) Externo > 150 C
Galliformes (P3) Interno 0 -
Galliformes (P3) Externo 9 A;C
Piciformes (P4) Interno 2 B;J
Piciformes (P4) Externo 6 S
Sob o mezanino (P5) Externo 8 T
Legenda:
A - Não esporulado J – Aspergillus sp.
B – Penicillium sp.
R – Syncephalastrum
sp.
C – Cladosporium sp. S – Rhizopus sp.
D – Paecilomyces sp. T – Geotrichum sp.
I – Fusarium sp.
Fonte: Resultados obtidos através das análises realizadas pelo Prof. Dr. Eduardo Bernardi.
46
CONCLUSÃO
Como base para elaboração de métodos eficazes na preservação desse tipo
de acervo, esclareceram-se, no segundo capitulo dessa pesquisa, alguns
parâmetros para a conservação e a mitigação de danos em acervos taxidermizados.
Concluindo essa etapa, entendeu-se que os elementos mais importantes para
conservar essas coleções estão estreitamente ligados ao controle ambiental como
um todo, ou seja, não se pode realizar um tratamento sobre um determinado
elemento sem proporcionar condições ideais de armazenamento ou exposição para
o mesmo.
Os aspectos estéticos apresentados por algumas peças do museu,
principalmente das expostas fora de vitrines, estimulou a busca por meios eficazes
de higienização dessas peças. Embora tenham sido encontradas pouca bibliografia
sobre o assunto, alguns processos foram descritos nesse trabalho. No entanto, a
aplicabilidade prática desses métodos não foi possível de ser realizada devido ao
estado de conservação dos exemplares taxidermizados.
O estado de conservação de algumas peças e a carência de mecanismos
para controlar o ambiente interno do museu pareceu sugerir a possibilidade de
degradação por microrganismos. Assim, foram coletadas amostras de partículas
acumuladas na superfície das aves selecionadas e do ambiente de exposição das
mesmas, com a finalidade de analisar a presença de esporos fúngicos,
potencialmente germinadores de colônias. A partir dos resultados obtidos através
das análises desse material, concluiu-se que a coleção ornitológica de Carlos Ritter
apresenta vulnerabilidade quanto ao ataque de fungos, designados pelos seguintes
gêneros: Cladosporium sp. com incidência de 37,7 %; Penicillium sp. com incidência
de 7,8%; Aspergillus sp. e Fusarium sp. com incidência de 5,2% cada; outros
gêneros de fungos, incluindo aqueles não esporulados (sem identificação), incidem
com 44,1% do total de fungos germinados através das coletas realizadas.
Considerando esses dados reapresentados ao término dessa monografia,
pode-se afirmar que o acervo taxidermizado do MCNCR, exposto em caráter
permanente, precisa de atenção quanto aos critérios de climatização, iluminação e
qualidade do ar. Alguns cuidados com a higienização das peças também podem
contribuir para evitar a proliferação desenfreada dos fungos aqui identificados. O
47
acúmulo de partículas poluidoras e de esporos depositadas sobre as peças podem
causar danos irreversíveis ao acervo, uma vez que os mesmos provocam reações
químicas degradantes.
48
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