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Mitos e verdades sobre o Calendário da Paz

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Page 1: Mitos e verdades sobre o Calendário da Paz

Olá a tod@s,

Reencaminho aqui uma série de mensagens que enviei para a comunidade “Palpiteiros do Orkut”, revelando uma série de verdades e mitos construídos em redor do Calendário da Paz, ainda hoje falsamente publicitado como “o” calendário maia.

O tópico original pode ser visto aqui:http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=25492266&tid=2538702205277007193

Boa leitura! :P

Olá a todos! ;)

Sou um novo membro e os interessados podem ler a minha apresentação aqui:http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=25492266&tid=2513115968403340446&na=2&nst=1943

Respondendo ao convite do Igor (obrigado! :)), aproveito para iniciar o debate sobre as diferenças entre o Calendário da Paz e o Calendário Maia Tradicional (digo “iniciar” porque até agora só se falou mais do Calendário da Paz), com quem estiver interessado em discutir.

O Calendário da Paz (também conhecido como Sincronário da Paz, Encantamento do Sonho, Calendário das 13 Luas, etc) é um calendário moderno da Nova Era criado pelo auto-proclamado "Encerrador do Ciclo" (profeta do fim dos tempos) e "Ministro de Arcturus" (enviado galáctico) José Argüelles, também conhecido como Valum Votan ou a reencarnação viva do rei-sacerdote Kinich Janaab Pakal, ou "Pacal Votan". Neste calendário faz-se uso de vários calendários que já eram usados na cultura nativa maia há séculos, entre eles:-> o Tzolkin, calendário sagrado ou ritual de 260 dias, resultantes da combinação de 20 glifos (por exemplo Serpente, Vénus, Faca, etc) com 13 números;-> o Tun-Uc, calendário "lunar" de 364 dias, dividido em 13 períodos de 28 dias cada (este calendário é descrito no Codex Peresianus, ou Códice de Paris); cada um destes 13 períodos era representado por um animal (desde Tzotz, o morcego, até Aac, a tartaruga);-> o Haab, calendário civil de 365 dias, divididos em 18 meses de 20 dias cada mais um período suplementar de 5 dias nefastos, o Uayeb.

O Tzolkin era, como referi, o calendário sagrado ou ritual dos Maias de 260 dias, atribuindo-se a cada dia um de 13 números (de 1 a 13) e um de 20 glifos (desde IMIX="Crocodilo" até AHAU="Senhor"). Assim, o começo do Tzolkin acontecia no dia 1-Imix, depois 2-Ik, 3-Akbal, etc, até ao último dia que era 13-Ahau. A seguir a 13-Ahau começava um novo ciclo do Tzolkin, com o dia 1-Imix, fazendo da contagem do Tzolkin uma contagem contínua, sem interrupções, na qual todos os dias sem excepção correspondiam a um número e a um glifo.

No entanto, no Calendário da Paz, que é apresentado por muitas pessoas como sendo “maia” (incluindo pelo próprio Argüelles – falarei sobre isso mais à frente), a contagem do Tzolkin não é contínua. O que isto quer dizer é que enquanto na contagem nativa (não influenciada pelo calendário gregoriano) todos os dias são contados, incluindo o dia 29 de Fevereiro que assinala os anos bissextos, na contagem artificial e moderna de Argüelles, o Tzolkin é “interrompido” a cada dia 29 de Fevereiro, considerando-se que esse é um dia “vazio” (0.0 Hunab-Ku), sem qualquer significado ou influência.

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E o mesmo acontece com o Haab e o Tun-Uc. No calendário maia nativo o Haab tem 365 dias exactos, sem correcções bissextas, atrasando-se 1 dia a aproximadamente 4 anos em relação ao calendário gregoriano devido ao acréscimo do dia 29 de Fevereiro. Já na contagem argüelliana do Haab existem correcções bissextas, contando-se o dia 29 de Fevereiro como 0.0 Hunab-Ku, de forma que o “Haab” de Argüelles possa sempre iniciar-se no mesmo dia gregoriano: 26 de Julho. Ou seja, por outras palavras, enquanto o Ano Novo no Haab nativo não tem uma correspondência fixa com qualquer data gregoriana, devido a não haverem correcções bissextas, no Haab de Argüelles o Ano Novo calha sempre no mesmo dia gregoriano, que é 26 de Julho, uma vez que o dia 29 de Fevereiro é contado como 0.0 Hunab-Ku.

Por outro lado, o Tun-Uc nativo tinha 364 dias exactos (de forma a manter perfeita a contagem de 13x28 dias), o que exclui qualquer possível relação com o ano solar ou com o ano gregoriano. Este mesmo Tun-Uc era sincronizado com o Tzolkin de forma a criar um ciclo de 1’820 dias (5 Tun-Uc, ou 7 Tzolkin). Portanto o Tun-Uc nativo tinha precisamente 364 dias, sem qualquer dia suplementar, enquanto no Tun-Uc de Argüelles é acrescentado um “dia fora do tempo”, de forma a que se possa atingir os 365 dias. 13x28 + 1 (dia fora do tempo) = 365 dias. Aliás, no Códice de Paris nunca é mencionado qualquer “365º dia” do Tun-Uc, uma vez que qualquer Tun-Uc tinha sempre –sempre, sem excepções-- 364 dias, e não 365 como Argüelles diz. No Calendário da Paz o dia fora do tempo corresponde a 25 de Julho, que é o dia entre o fim de um Tun-Uc e o início de outro.

O que é realmente irónico nesta questão é que os seguidores de Argüelles criticam o calendário gregoriano que, segundo eles, é falso e conduz ao materialismo, mas eles próprios seguem um calendário moderno que está acoplado ao calendário gregoriano. Porquê? Porque a cada dia 29 de Fevereiro a contagem é interrompida, e o Ano Novo calha sempre no dia 26 de Julho, independentemente de haverem anos gregorianos bissextos ou não. Se o Calendário da Paz não estivesse submetido à contagem gregoriana, seria de esperar que por vezes o Ano Novo não calhasse no mesmo dia gregoriano, tal como acontece na genuína contagem nativa Maia. No entanto, no Calendário da Paz o dia gregoriano 29 de Fevereiro é sempre considerado um dia vazio, e o Ano Novo é sempre a 26 de Julho. Isto significa que, gostem ou não, os seguidores de Argüelles estão a ser governados pelo calendário gregoriano através do Calendário da Paz, e não pela contagem nativa e genuína dos Maias que não depende do calendário gregoriano.

Um exemplo prático: se considerarmos os dias de 28 de Fevereiro a 1 de Março do ano de 1996, podemos ver que eles corresponderam às seguintes datas (segundo o Calendário da Paz, criado por Argüelles):

-> 28/Fev/1996:Tzolkin = Kin 51, “Macaco Cristal Azul” = 12 Chuen(Tun-Uc = dia 22 da Lua do Falcão)Haab = 17 Zac

-> 29/Fev/1996:(Dia vazio, 0.0 Hunab-Ku)

-> 1/Mar/1996:Tzolkin = Kin 52, “Humano Cósmico Amarelo” = 13 Eb(Tun-Uc = dia 23 da Lua do Falcão)Haab = 18 Zac

Segundo a contagem nativa (ainda hoje seguida pelos Maias Quichés da Guatemala, e pelos Tzotziles, Lacandons, etc), esses mesmos dias corresponderam às seguintes datas:

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-> 28/Fev/1996:Tzolkin = 12 CauacHaab = 7 Kayab

-> 29/Fev/1996:Tzolkin = 13 AhauHaab = 8 Kayab

-> 1/Mar/1996:Tzolkin = 1 ImixHaab = 9 Kayab

Uma vez que o sistema nativo e o sistema de Argüelles não contam os dias de forma idêntica, a diferença entre eles também não é constante. Como vimos, 1 de Março de 1996 correspondeu ao dia 13-Eb (kin 52) no Calendário da Paz e ao dia 1-Imix (kin 1) no Calendário Maia Nativo, o que representa uma diferença de 51 dias. Já por exemplo o dia 1 de Março de 2007 correspondeu ao dia 11-Manik (kin 167) no Calendário da Paz, e ao dia 1-Etznab (kin 118) no Calendário Nativo, o que representa uma diferença de 49 dias. A diferença de 2 dias (51-49) entre as duas distâncias entre as datas segundo um e outro calendário referem-se aos dois dias bissextos (29/Fev.) entre 1 de Março de 1996 e 1 de Março de 2007, os quais ocorreram nos anos 2000 e 2004. Só no dia 1 de Março do ano 2208 é que a contagem nativa do Tzolkin e a contagem de Argüelles se sincronizarão, no kin 212 (“Humano Auto-Existente Amarelo”, 4-Eb). No entanto esta sincronização só durará 4 anos, uma vez que depois de 28 de Fevereiro de 2212 a diferença começará de novo a aumentar, devido a 2212 ser um ano bissexto.

Finalmente, quanto à questão de Argüelles dizer ou não que o seu calendário é “o calendário maia”, a Ana Maíz disse:

"As alegações de que o CDP seja o calendário maia não está em nenhum documento do Arguiller*, muito pelo contrário, está na interpretação de algumas pessoas."

* - Argüelles (minha nota).

Isto é claramente uma mentira, que indica um de dois factos possíveis:-> a Ana Maíz sabe que está a dizer uma mentira, mas diz que é verdade de forma a que mais “ovelhas” entrem no rebanho do Calendário da Paz, convencidos que o “enviado galáctico” José Argüelles nunca mentiu sobre o calendário;-> ou então a Ana Maíz pensa mesmo que está a dizer a verdade, o que significa que até eu --que não sigo o Calendário da Paz-- conheço melhor os argumentos de Argüelles do que ela própria, que segue o CDP.

Qualquer uma das hipóteses é cómica, e deliciosamente irónica.

Na página 140 do livro “O Fator Maia”, José Argüelles diz:

«No calendário atual, computado em relação ao nascimento de Jesus Cristo, a data é 20 de Junho de 1986 d.C. No calendário MAIA, calculado a partir de 13 de Agosto de 3113 a.C., hoje é 10 BEN, 9 KAYEB (correcção: Kayab)»

Que dia foi 20 de Junho de 1986, segundo o Calendário da Paz?-> No Tzolkin foi o dia 10 BEN (Caminhante do Céu Planetário Vermelho).-> No Haab (explicado nas páginas 223-224 do livro) foi o dia 9 KAYAB.

Portanto o que é que José Argüelles nos disse? Ele disse que o calendário segundo o qual 20 de Junho de 1986 corresponde a 10 Ben / 9 Kayab, que é o calendário que ele usa no livro, é o calendário maia. Ou seja, Argüelles disse que o Calendário da

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Paz É o calendário Maia! E isso, segundo os critérios habituais de “verdade” e “mentira”, parece-me sem dúvida alguma ser uma mentira.

Ainda não acredita em mim, amiga Ana Maíz?Então aqui fica mais um exemplo:

Página 209:

«Concluído em 1 Imix, 12 Zotz, 6 de outubro de 1986, Ano Oriental 7 Muluc.»

Segundo o calendário usado por José Argüelles (que segundo ele seria o calendário maia: afinal até o livro se chama “O Fator MAIA”), que sabemos ser o Calendário da Paz, a que dias correspondeu a data 6 de Outubro de 1986? No Tzolkin, foi 1-Imix (Dragão Magnético Vermelho), e no Haab foi 12-Zotz. E segundo o Calendário da Paz, que dia do Tzolkin correspondeu a 26 de Julho de 1986 (o dia do “portador do ano”)? Foi um dia 7 Muluc, “Lua Ressonante Vermelha”.

Mais um exemplo. Página 224:

«O ano MAIA geralmente começa na data equivalente: 26 de Julho. Esta data, em 1986, correspondeu a 7 Muluc; (...)»

Tendo em conta o que eu disse antes, ainda é preciso fazer comentários? ;)Se quiser eu posso continuar, Ana.

Qualquer comentário, correcção, ou mensagem (seja de que tipo for) será obviamente muito bem vinda! :P

Um abraço a todos,Luís Gonçalves ("Alektryon")