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Revista Brasileira de Cartografia (2013) N0 65/4: 681-694Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento RemotoISSN: 1808-0936
S B
C
MODELAGEM DE BANCO DE DADOS ESPACIAL PARA ESTUDOSGEOLÓGICOS
Modeling of spatial Database for Geological Studies
Rodrigo Ávila Cipullo¹ & Henrique Llacer Roig¹
¹Instituto de Geociências, Universidade de Brasília- UnBCampus Darcy Ribeiro - Brasília - DF, Brasil.
[email protected]; [email protected]
RESUMO
Universidades e outros órgãos produtores de informação geológica vêm sofrendo, a bastante tempo, os efeitos negati-
vos da falta de organização e padronização dos seus dados. O Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (IG/
UnB) possui diversos trabalhos e disciplinas que consomem e produzem uma grande quantidade de informação geoló-
gica. Mesmo com um grande volume de trabalho e informação, o instituto ainda não dispõe de nenhuma ferramenta
avançada de gerência de projetos e de informações geológicas. Dessa forma, as informações encontram-se dispersas,
quase sempre sob responsabilidade de seus autores, o que acarreta uma série de problemas, sobretudo no que diz
respeito à segurança e disponibilidade destes dados. Neste contexto, a proposta deste trabalho é a construção de um
novo modelo conceitual de banco de dados geográfico para o tema Geologia e sua implantação em um sistema gerenciador
de banco de dados livre, o PostgreSQL/PostGIS. Essa proposta segue os preceitos da Estrutura de Dados Geográficos
e Vetoriais (EDGV), homologada em 2008, pela Comissão Nacional de Cartografia (CONCAR), instituída pelo governo
brasileiro com o objetivo de padronizar as estruturas de dados espaciais, facilitando o compartilhamento de dados, a
interoperabilidade e a racionalização de recursos entre os produtores e usuários de dados e informação cartográfica.
Deste modo, este é um passo importante para a construção do modelo de banco de dados conceitual geológico com
vista a sua incorporação ao sistema da infra-estrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE).
Palavras chaves: Informações Geológicas, Banco de Dados Geográficos, Modelo Conceitual de banco de dados,
Estrutura de Dados Geográficos e Vetoriais - EDGV.
ABSTRACT
Universities and other institutions producing geological information have suffered the negative effects of a lack of data
organization and standardization, for quite some time. The Institute of Geosciences at the University of Brasilia (IG/UnB)
has a variety of studies and courses that consume and produce a large quantity of geological information. Even
with this large volume of work and information, the institute still does not have any highly advanced tool for managing
geological projects and information. Consequently, the information is scattered, and almost always under the
responsibility of its authors, which creates a series of problems, above all with respect to the security and availability
of this data. In this context, the proposal of this work is the construction of a new conceptual geographic data base
model for the theme, Geology, its insertion in a management system of a free data base, the PostgresSQL/Post GIA. This
proposal follows the Structures of Geographic and Vectorial Data (SGVD) precepts, approved in 2008, by the National
Commission of Cartography (CONCAR), instituted by the Brazilian government, with the objective of standardizing the
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structures of spatial data, facilitating the sharing of data, interoperability, and the rationalization of resources among
producers and users of cartographic information. In this way, an important step has been made to constructing a
conceptual geological data base, with the aim of incorporating it into the infrastructure system of the National Spatial
Data Bank (NSDB).
Keywords: Geological Information, Geographical Data Base, Conceptual Data Base Model, Structure of Geographic and
Vectoral Data – SGVD
1. INTRODUÇÃO
O crescimento das geotecnologias e suapopularização têm levado ao desenvolvimento desistemas que buscam a distribuição das geoinfor-mações (informações geográficas) de formadescentralizadas e ao mesmo tempo, prover bonssistemas de tomada de decisão. Este fato associadoao aumento exponencial do volume de dadosespaciais não padronizados e desorganizados noBrasil tem gerado um grande problema para aaplicação deste conjunto de avanços tecnológicos.
A Comissão Nacional de CartografiaBrasileira (CONCAR), sensível a esta necessidade,constituiu a Subcomissão de Dados Espaciais a fimde elaborar uma proposta de EspecificaçõesTécnicas para Estruturação de Dados GeoespaciaisDigitais Vetoriais (EDGV, 2009), com a finalidadede padronizar e viabilizar o compartilhamento dedados espaciais, a interoperabilidade e a racio-nalização de recursos entre os produtores e usuáriosde dados e informação cartográfica, a qual deverásubsidiar a Infraestrutura Nacional de DadosEspaciais (INDE, Decreto Nº 6.666 de 27/11/2008).
Até o momento a subcomissão da EDGV,apesar de ter visualizado um quadro mais amplo,tem se preocupado em sistematizar as informaçõesconsideradas básicas como apresentado na figura1, deixando de fora, ou “delegando” para as insti-tuições parceiras, a disponibilização das infor-mações consideradas temáticas como Geologia,Geomorfologia, Solos, etc.
Em especial, no que tange as informações daárea de geociências, mais especificamente ageologia, a organização de uma base de dadosadequada é estratégica para o processo de tomadade decisão, seja no âmbito dos desastres naturais(ex. deslizamentos e enchentes, como os que têmocorrido nos últimos anos), seja na implantação deobras de infraestrutura, como usinas hidroelétricase sistema de transporte (ex. trem bala), ou aindapara a alocação das atividades de mineração, umadas principais fontes de receita para a união (ex.Extração de Ferro e Petróleo), e suas relações como processo de Gestão Territorial.
Deste modo, a gestão adequada destasinformações implica na definição de uma estruturade armazenamento, que possibilite diferentesmaneiras de manipulá-las (ELMASRI &NAVATHE, 2005).
Uma pesquisa realizada, embora não oficial,demonstrou que apesar do elevado uso de Sistemasde Informações Geográficas por várias instituiçõespúblicas e privadas que manipulam informaçõesgeológicas, os dados ainda encontram-se arma-zenados de forma dispersa, sem padronização e semuma estruturação concreta em SGBD’s (SistemasGerenciadores de Banco de dados). Em especialas informações que são geradas pelas universidades,que hoje possuem uma participação importante noprocesso de cartografia geológica, estãodesorganizadas e dispersas sob posse de seusautores.
Fato importante, é que mesmo em iniciativasque buscam a sistematização em SGBD, observa-se uma falta de padronização/normatização dasnomenclaturas e conceitos devido ao alto grau desubjetividade na obtenção/caracterização dos dadosgeológicos. Mesmo o Serviço Geológico do Brasil(Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais –CPRM) que tem um banco de dados geológicoestabelecido e implantado em ambiente Oracle, nãoseguiu , ou adaptou-se ao padrão proposto pelaINDE e não disponibilizada para a comunidadeFig. 1 - Categorias de informação tratadas na EDGV
(NCB – CONCAR, 2009)
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geológica o seu modelo de banco de dados de modoa permitir a sua replicação.
Considerando o exposto, o objetivo dessetrabalho é propor um novo modelo conceitual debanco de dados geográfico para a organização dasinformações geológicas, e sua implementação noSistema Gerenciador de Banco de DadosPostgreSQL com o PostGIS, considerando aspremissas estabelecidas pela INDE e a adequaçãoda Normatização/Padronização internacional paraa incorporação da semântica geológica (SGI,2008), ou seja a definição de vocabulário conceitualpadronizado, uma vez que não existe um modelodisponível para a comunidade geológica brasileira.
2. DADOS GEOGRÁFICOS
Segundo Gatrell (1991) o espaço geográficocorresponde ao meio onde as entidades geográficascoexistem. Uma entidade geográfica (ou dadogeográfico) pode ser definida como qualquerentidade identificável do mundo real, possuindocaracterísticas e relacionamentos espaciais comoutras entidades geográficas. (Goodchild, 1992)
Desmembrando este conceito pode-se dizerque dados geográficos possuem três propriedadesfundamentais: espaciais, não-espaciais e temporais(Laurini & Thompson, 1992, Bonham-Caster, 1994,Burrough, 1998) As propriedades espaciaisdescrevem a posição geográfica do fenômeno ouobjeto, sua geometria e seus relacionamentos (ex.topológicos). As características não-espaciaisdescrevem o fenômeno, ou seja, seus atributos, aopasso que as características temporais informam otempo de “vigência” dos dados geográficos e suasvariações no tempo.
No que tange a representação espacial, ageometria corresponde às propriedades métricas(posição e forma), onde suas primitivas podem serrepresentadas de modo vetorial por pontos, linhase polígonos (Figura 2), tendo como referência umsistema de coordenadas (Borges et al., 2005).Outro ponto importante sobre o dado espacial sãosuas propriedades topológicas (não-métricas).Essas se baseiam nas posições relativas dos objetosno espaço descrevendo os relacionamentosespaciais como, por exemplo, conectividade,orientação (de, para), adjacência e contenção(Laurini & Thompson, 1992).
Para se chegar a uma representação darealidade por qualquer meio cartográfico, sãonecessárias abstrações e o emprego de diversosconceitos cartográficos. Nesse sentido, e com ointuito de apresentar uma abstração adequada parao dado espacial, Câmara (1995) apresentou aadaptação do paradigma dos quatro universos,proposto inicialmente por Gomes & Velho (1995)(Figura 3). Esse paradigma conceitua quatro passosentre o mundo real e sua representaçãocomputacional.
O primeiro universo, o Ontológico, reflete adefinição dos conceitos extraídos da realidade, ouseja, observando o mundo real busca seuentendimento e definição conceitual.
O segundo (o universo Conceitual)apresenta os modelos lógicos que generalizam osconceitos do universo ontológico. Essa etapa implicaem apresentar o mundo real através de diagramasque apresentam os elementos da realidade e seuspossíveis relacionamentos, buscando elos queinterliguem os elementos do mundo real.
O terceiro representa através de um mapea-mento as estruturas geométricas e alfanuméricas. Énessa etapa que começa o processo de modela-mento do banco de dados, definindo-se, a partirdas duas etapas anteriores, cada elemento e suaspropriedades descritivas, bem como seusrelacionamentos.
Já no Universo de Implementação, encon-tramos as linguagens e códigos tanto de banco dedados quanto de programação que serão utilizadaspara tornar concreta toda a arquitetura obtida nospassos anteriores.
Fig. 2 - primitivas geométricas do dos dadosespaciais.
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3. MODELAGEM CONCEITUAL
O processo de modelagem de um banco dedados geográfico é, em parte, semelhante àmodelagem de um banco do tipo Entidade-Relacionamento (Rumbaugh et al. 1991), tendoagregado apenas alguns conceitos importantes deorientação a objetos e representações adequadaspara geo-campos e geo-objetos (Camara, 2005).
Um dos modelos mais conhecidos paramodelagem de bancos de dados convencionais comorientação a objeto é o chamado OMT (ObjectModeling Technique, Rumbaugh et al. 1991). Estepossui a capacidade de representar os aspectossemânticos de uma aplicação, usando a abordagemde orientação a objetos. Dessa forma, foi propostoem 1997, por Karla Borges, o modelo OMT-G(Borges, 1997).
O modelo OMT-G, também conhecido comoGeo-OMT, agrupa de forma unificada as primitivasgeográficas propostas por diversos autores, alémde introduzir novas primitivas que suprem algumasdeficiências, como por exemplo, a representaçãode múltiplas visões das entidades geográficas. Omodelo OMT-G baseia-se em três conceitosprincipais: classes, relacionamentos, e relacio-
namentos espaciais (topologia). Esse modelotrabalha em nível conceitual apresentando tantoclasses georreferenciadas como classes conven-cionais (Figura 4).
Visando uma representação adequada dostipos de objetos espaciais, as classes georrefe-renciadas recebem informação do seu tipo geo-métrico. Essa informação é conhecida no modelocomo subclasses. A representação das principaissubclasses encontra-se na figura 5.
Fig. 3 - Níveis de abstração segundo Câmara et al., 1995.
Fig. 4 - Tipos de classes e suas representações nomodelo OMTG (Borges, 1997).
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4. ENTENDIMENTO DO PROBLEMA EREQUISITOS
Essa etapa faz parte do processo deentendimento e sistematização do chamadoUniverso Ontológico, já descrito anteriormente. Oresultado obtido desta etapa irá culminar em umdiagrama que sintetiza o universo formal, tambémjá discutido.
O banco de dados em desenvolvimento develevar em consideração os tipos de dados espaciaise não espaciais e seus relacionamentos no contextodas informações geológicas. Dessa forma, a etapade levantamento de requisitos passa por, pelomenos, duas etapas: os requisitos do dado geológicoque compõe a informação geológica pura; e osrequisitos de dados espaciais, que traduzirão ainformação geológica em objetos espaciais.
Na análise dos requisitos do dado geológico,buscou-se levantar os principais atributos quecompõe os mapas geológicos e suas primeirasderivações. Optou-se neste trabalho peloestabelecimento de um glossário, paralelamente aolevantamento dos requisitos, tendo em vista a melhorcompreensão do modelo final proposto. Esseglossário segue os requisitos/normatizaçãoestabelecidos pelo Grupo de trabalho deinteroperabilidade (Interoperability WorkingGroup) da Comissão de Gestão e Aplicação dasInformações Geológicas (CMI - Commission forthe Management and Application of GeoscienceInformation) da União Internacional de CiênciasGeológicas (IUGS - International Union ofGeological Sciences.
4.1 Entidades geológicas e seus requisitos
Antes de definirmos os conjuntos de classes,os relacionamentos entre esses e os domínios dobanco de dados deve-se ter clareza sobre as enti-
dades de interesse e as relações espaciais entre elas.O conceito de entidade é usado aqui para designaros fenômenos de interesse observado no ‘mundoreal’, em oposição às feições, que são os objetosde banco de dados que representam a nossa com-preensão desses fenômenos.
Os geólogos estão preocupados emdescrever e “mapear” os materiais geológicos e suasrelações espaciais. No entanto, devido a dificuldadede obter informações do arranjo tridimensional dasentidades, os geológicos baseiam-se suas análises,principalmente, por intermédio de mapas 2D.Segundo LISLE (2004), o Mapa Geológico é aprojeção horizontal da interseção das entidadesgeológicas (corpos e/ou estruturas geológicas - 3D)com a superfície do planeta (relevo), ou outrasuperfície abstrata qualquer como, por exemplo,uma mina ou um futuro corte de estrada, em umadeterminada escala.
Neste contexto, as principais entidades quecompõe um mapa geológico são a unidadegeológica, as estruturas tectônicas, as relações decontatos entre esses elementos e os afloramentos,cujas definição a seguir estão em acordo como ospadrão porposto pela CMI (NADMSC, 2004 eGSI, 2008).
Unidade Geológica: Unidade diferenciáveldo seu vizinho por características variadas, ideal-mente definida por sua composição (mineralógicae/ou química, rocha ou material não consolidado),mas pode ser definida por identidade de superfícieslimitantes, ou propriedades interpretativas comoidade, ambiente de deposição, história de alteração,etc. Estas podem ser unidades formais ou informaise apresentarem um arranjo hierárquico como, porexemplo, membro, formação, grupo e super-grupo(NADMSC, 2004 e GSI, 2008).
Requisito espacial: As unidades geo-lógicas são objetos do tipo polígono. Podemapresentar diversos tipos de fronteiras entre si.As fronteiras dos objetos são conhecidas comocontatos, esses contatos são definidos por linhasque possuem significados geológicos diversos.Os polígonos que representarão as unidadesgeológicas devem ser abstraídos a partir dosobjetos tipo linha “estruturas geológicas”,somente sendo utilizadas para formar ospolígonos as estruturas que tenham atributo decontatos.
Estrutura geológica: Representa umdescontinuidade física na crosta, quer sejam singe-
Fig. 5 - Representação das classes georrefe-renciadas junto às suas subclasses. Fonte: Câmara(2005).
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néticas ou pós-genéticas. Podem ser limites deunidades geológicas ou não.
Requisito espacial: As estruturas sãorepresentadas por linhas. As linhas podem secruzar, tocar e sobrepor. As relações topológicasentre os elementos destas entidades devem serdo tipo arco-nó (linha- ponto) de modo a garantira integridade dos relacionamentos.
Contato - Representa o limite das unidadesgeológicas e normalmente estão relacionados coma gênese da unidade. Incluem contatos deposi-cionais, mudanças de fácies (principalmente emrochas sedimentares e ígneas) e contatos intrusivos.Estes também podem ser tectônicos, quandotruncados por superfícies mais jovens como falhase zonas de cisalhamento. Os contatos de um mesmocorpo podem ser extremamente variados, dessaforma, uma mesma unidade geológica pode possuirum contato intrusivo à nordeste, e um tectônico(falha de empurrão). Em mapeamento em escalade semi-detalhe a maior, é comum determinar o graude precisão do contato, ou seja se este é definido,aproximado ou inferido.
Requisito espacial: são representados porlinhas. Além das relações tipológicas herdadasda entidade Estruturas Geológica (tipo arco-nó)elas devem apresentar relação tipo arco-polígonocom a entidade Unidade Geológica (NADMSC,2004).
Afloramentos: Afloramento pode serentendido como a exposição de uma rocha na super-fície da Terra. Tal exposição pode ser natural ouantrópica. (MALTMAN, 1998).
Requisito espacial: Os afloramentos sãorepresentados por geo-objetos pontuais. Taisobjetos encontram-se sempre contidos espacial-mente em um projeto.
Grupo Litológico: Representa os 3 gruposlitológicos clássicos. Rochas sedimentares, ígnease metamórficas.
Litotipos: “Quando se caracteriza uma fácieslitológica como uma rocha ou uma associação derochas, para distinguir de outras rochas ou asso-ciações litológicas em estudo, considerado qualqueraspecto genético, composicional, químico oumineralógico, morfológico, estrutural ou texturaldistintivo para fins de referência em um estudogeológico” (Glossário Geológico, GeoSciML -https://www.seegrid.csiro.au/)..
Relações geológicas espaciais: De umaforma geral, um mapa geológico representa umadiscretização de dados (geo-objeto), uma vez quemuitas entidades geológicas têm limites transicionaispodendo ter um comportamento semelhante a dadoscontínuo, onde poderiam ser representado por geo-campo. Todos os geo-objetos, quer sejam linhas,polígonos ou pontos apresentam relacionamentoespacial entre si.
Relação Espaço-temporal – Grande partedas entidades geológicas apresentam “reativações”dos processos geológicos ou superposição deprocessos, exigindo deste modo, a inserção de umacomponente temporal ao modelo do banco. Estapropriedade da entidade normalmente é armazenadana forma de idade geocronológica na forma detabela, podendo esta ser relativa ou absoluta.
5. MODELAGEM CONCEITUAL DO BAN-CO DE DADOS GEOLÓGICO
Todo o processo de mapeamento geológicogira ao redor de algumas classes principais,chamadas aqui de superclasses (em parte equivalenteao 1º nível da NADM (NADNSC, 2004). Estasservem como agregadoras das demais e sãoconsideradas classes não instanciáveis. São elas: Afloramento (Estação de visita) Estrutura Geológica Unidade Geológica
A partir das superclasses, foram levantadascada uma das principais classes que seriamnecessárias para representar corretamente a etapado mapeamento, tais classes são apresentadas natabela que se segue (Tabela 1).
Após a definição das principais classes,passamos à identificação das classes espaciais(feições), que deverão possuir alguma represen-tação geográfica. A tabela 2 apresenta de formaresumida as classes espaciais identificadas, suadescrição e o tipo geométrico relacionado.
A partir do mapeamento das superclasses eclasses, chegou-se a um modelo, conhecido comodiagrama de classes (Figura 6), aqui adaptado parapermitir a visualização dos tipos relativos a cadaclasse. Essa adaptação nos permite diferenciarclaramente as classes espaciais das não-espaciais,além de apresentar uma prévia dos relacionamentosespaciais que estarão presentes no banco de dados.
Para criar o modelo conceitual do banco dedados geológico, cada uma das superclasses foi
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trabalhada individualmente, sobretudo na busca dadelimitação de suas feições espaciais e possíveisrelacionamentos com outras classes.
A primeira superclasse analisada, a classeProjeto, é a que agrega espacialmente todas as
outras, funcionando como a classe Pai no banco dedados. Ela contém necessariamente todas as outrasclasses geométricas do banco e representa adelimitação espacial do projeto de mapeamento. Aclasse Projeto representa um geo-objeto do tipopolígono como já apresentado na tabela 2.
O projeto de mapeamento é formado a partirde seus grupos. Os grupos são áreas menores quejuntas, ao final, totalizarão a área do projeto. Dessaforma, todo o trabalho de mapeamento é realizadodentro de um grupo. Na prática, todas as classesdo banco estão amarradas ao grupo, que por suavez é agregado pelo projeto.
Cada grupo de mapeamento contém assuperclasses espaciais: Estrutural, Unidade Geoló-gica e Afloramento. São essas as três principaissuperclasses geográficas do projeto.
A superclasse Unidade Geológica foi definidacomo um geo-objeto do tipo polígono que armazenaas unidades geológicas individualizadas no mapea-mento.
Essas unidades possuem uma peculiaridadeinteressante no tocante aos seus limites. Uma mesmaunidade Geológica pode estar limitada por mais deum tipo diferente de limite, esses limites sãoconhecidos como contatos. Os contatos repre-sentam estruturas, tectônicas ou não, que marcamos limites da unidade geológica. O conceito decontato já nos leva à próxima superclasse, aEstrutural.
A superclasse Estrutural é também um geo-objeto, dessa vez do tipo linha, responsável porarmazenar todas as estruturas tectônicas do projeto.Tais estruturas podem marcar limites, conhecidoscomo contatos, entre unidades geológicas.
Existem relações espaciais interessantes entreos dois geo-objetos já citados. A primeira delas,como já mencionado é a estrutura como contato deuma unidade. Nesse caso, pode-se entender que aestrutura “Limita” (toca) a unidade geológica.Existem outras estruturas que apenas “cruzam” aunidade geológica (Figura 6).
Mais um aspecto topológico interessante aser levado em consideração é que uma mesmaestrutura pode assumir mais de uma situaçãotopológica. É possível que uma estrutura, emdeterminada parte do seu traçado (segmento dearco) esteja cruzando uma unidade e, em outro, jáesteja limitando essa unidade. Isso pode ser vistona estrutura ‘b’ da figura 7 onde cruza a ‘unidade y’na parte superior, toca (contato) ambas as unidades
Tabela 1: Principais classes do modelo.
Tabela 2: Classes espaciais.
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ao centro, e volta a cruzar a ‘unidade x’ na parteinferior do mapa.
No contexto dessa modelagem, propõe-seque o polígono que representa a unidade geológicaseja definido a partir de seus contatos (topologiaarco-poligono). Sendo assim é importante que ageração dos polígonos seja automática e representea área circunscrita pelos seus contatos.
A próxima, e talvez mais importante classe aser analisada, é a superclasse “Afloramento”. Oafloramento é a unidade básica de mapeamento, eé apresentada como um geo-objeto do tipo ponto.É a partir do afloramento que se obtém todas asoutras informações do mapa geológico.
O afloramento possui uma única possibilidadede relação espacial com a unidade geológica, elaestá contida na unidade. Apesar da simplicidade dasrelações topológicas dessa classe, ela possui vitalimportância, pois a partir dela se desdobram umasérie de outras classes não espaciais como aPetrografia, geoquímica convencional, e a geoquími-ca isotópica.
Tendo analisado as características topológicase geométricas das classes, foi possível desenhar ummodelo que represente de forma simples e objetivaos fundamentos da informação geológica. A partirdesse modelo inicial, pretende-se desenvolver
ferramentas e metodologias de coleta e armazena-mento de dados que permitam a evolução da culturatecnológica na área e a expansão do modelo paraoutras áreas das geociências.
O modelo conceitual proposto (Figura 8) foigerado usando o software StarUML (http://staruml.sourceforge.net) e uma extensão específica doprograma para esse tipo de modelamento. Todaconceituação e padronização adotadas no modeloconceitual do banco de dados estão baseados nasegunda versão do documento EspecificaçõesTécnicas para Estruturação de DadosGeoespaciais Vetoriais (2009), produzido pelacomissão Nacional de Cartografia (CONCAR).
Fig. 6 - Modelo de classes com indicação do tipo geométrico.
Fig. 7 - estrutura ‘a’ mostrando uma falha normaltocando as duas unidades e servindo como contatogeológico. Estrutura ‘b’ cruzando as unidades comouma falha transcorrente.
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5. CONCLUSÃO
Diante dos desafios encontrados ao longodesse trabalho, pôde-se observar a existência depoucos trabalhos acadêmicos correlatos e a neces-sidade de mais investimentos no que diz respeito àinfraestrutura computacional da universidade a fimde comportar sistemas que exigem processamentoe armazenamento centralizado como o proposto.
No que diz respeito ao SGBD, observa-seque a ferramenta escolhida para a implantação, oPostgreSQL, é suficientemente madura e estávelpara acolher grandes bancos de dados como oproposto aqui.
Seu componente espacial, PostGis, respondemuito bem às análises espaciais demandadas. OBanco de dados modelado, embora não contempleainda todo o universo das geociências, já representa
Fig. 8 - Modelo conceitual OMTG.
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um grande avanço no armazenamento dasinformações chamadas básicas para a área degeologia, introduzindo uma nova cultura dearmazenamento de dados dentro das instituiçõesgeológicas.
Apesar de avanços na construção de algorit-mos de topologia que eram propostos para garantiralgumas etapas do processo, são necessáriosmaiores estudos e testes com as funções espaciaisoferecidas pelo Postgis, a fim de se superar algumasdificuldades que persistem ao fim desse trabalho. Amaior dificuldade encontrada nesse sentido, dizrespeito ao algoritmo de geração de unidadesgeológicas (polígonos) a partir das estrutras de modoautomáticos. A extensão Postgis deveria ser capazde gerar os polígonos que representam as unidadesgeológicas a partir da seleção das estruturas do tipocontato definindo relações topológicas (arco-poligono) e usando os “centróides” relacionados aospontos de campo (afloramento chave). No entanto,mesmo após vários testes, nenhum dos algoritmosimplementados foi capaz de responder plenamente,chegando, no máximo, a cerca de 40% de sucessoquando comparado com funções semelhantesexistentes em softwares desktop de GIS, como oArcGis 10 (ArcInfo) .
O modelo proposto aqui deverá evoluir aindapara um nível superior que seja capaz de contemplaroutras áreas correlatas das geociências, bem comoprever maior interoperabilidade com outros projetosde bancos de dados existentes no mundo, sobretudocom projetos de interoperabilidade como oGeoSciML (https://www.seegrid.csiro.au/).
6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao laboratório deSensoriamento Remoto e Analise Espacial (LSRAE)do IG/UnB pela disponibilização de uma bolsatécnica para o primeiro autor durante odesenvolvimento do seu mestrado. A ESRI peladisponibilização do Pacote de ferramentas quecompõem a Família ArcGis 10 por intermédio docontrato No 2011 MLK 8733 e a IMAGEM peloapoio e viabilidade da concretização do termo deuso entre o IG e a ESRI e pelo suporte aos softwares
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