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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR CTTMar CURSO DE OCEANOGRAFIA MODELAGEM E ANÁLISE DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES ATRAVÉS DE EMISSÁRIO SUBMARINO REGIÃO DO CAMPECHE, FLORIANÓPOLIS, SC VINICIUS DELFIM Itajaí 2011

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR – CTTMar

CURSO DE OCEANOGRAFIA

MODELAGEM E ANÁLISE DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES ATRAVÉS

DE EMISSÁRIO SUBMARINO – REGIÃO DO CAMPECHE, FLORIANÓPOLIS,

SC

VINICIUS DELFIM

Itajaí

2011

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR – CTTMar

CURSO DE OCEANOGRAFIA

MODELAGEM E ANÁLISE DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES ATRAVÉS

DE EMISSÁRIO SUBMARINO – REGIÃO DO CAMPECHE, FLORIANÓPOLIS,

SC

VINICIUS DELFIM

Monografia apresentada como parte dos

requisitos para obtenção do grau de Bacharel

em Oceanografia da Universidade do Vale do

Itajaí.

Orientador: Prof. Dr. João Luiz B. de Carvalho

Itajaí

2011

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Dedicatória

Dedico aos meus pais e ao meu irmão.

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Agradecimentos

Além de agradecer minha família por ter custeado minha formação. Gostaria

de agradecer por algo muito maior. O amor, a união os valores e os princípios.

Meu pai sempre servindo de exemplo e minha mãe com seu incrível poder de

descobrir quando seu filho precisa de carinho. Meu irmão, por me incentivar a

cursar Oceanografia, se não fosse por ele não estaria me formando e nem

trabalhando junto com ele.

A minha namorada Ana Magda, por compreender os momentos de ausência e

também corrigir meu TCC.

Meus amigos, Ricardo, Carlos Antonio, Roseli, Ana Magda, Lostão, Edôncio,

Chipa, Maia, Renatinha, Dani, Gu, Gabosa, Pachioni, Martin, Priscila, Zé

Pequeno, Bruna, Churisba, Mu, Toninho, Mineiro, Fofo, Alien, Tche Olivia, Du,

Robo, Morjana, João Andrade, Paula, Gordo, Je, Brianinha, Bob, Carol. E alguns

que eu posso ter esquecido.

Aos colegas de Laboratório, que tornaram o ambiente de trabalho em algo

agradável.

A todos os professores e colegas, que de um jeito ou de outro participaram de

minha formação.

E ao meu orientador Professor João Luiz Baptista de Carvalho.

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Resumo

Através da modelagem numérica, objetivou-se analisar a dispersão da pluma

bacteriana de um possível emissário implantado na região do Campeche. A fim de

dimensionar a pluma bacteriana foi utilizado o SisBaHiA® (Sistema Base de

Hidrodinâmica Ambiental), registrado e continuamente melhorado pela Fundação

Coppetec – COPPE/UFRJ, para alcançar tais resultados. No entanto, foi

necessário calcular curvas de decaimento bacteriano (T90), estimar uma descarga

em função da descarga de projeto, confeccionar uma série temporal de

concentração do efluente lançado de acordo com as concentrações de coliformes

fecais nas estações de tratamento da CASAN (Companhia de Águas e

Saneamento do Estado de Santa Catarina). O modelo mostrou-se eficiente em

relação à oscilação do nível do mar, embora tenha subestimado os valores de

corrente. Esta eficiência pode ser analisada através do parâmetro estatístico R²,

que apresentou valores de 0,9771 para a elevação do nível do mar na Praia da

Pinheira e 0,7886 para oscilações do oceano na Ilha João da Cunha, e valores de

0,5458 e 0,1253 para as componentes de correntes U e V respectivamente. Por

fim foi possível analisar a pluma bacteriana do emissário, e confrontar com os

parâmetros da resolução CONAMA 357/2005, que diante dos resultados obtidos,

apresenta características negativas para instalação deste emissário.

Palavras-Chave: Emissário Submarino, SisBaHiA, Modelagem Numérica,

CONAMA 357/2005.

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Lista de Figuras

Figura 1: Comportamento típico de dispersão de efluentes de um emissário

submarino. Fonte: Jirka et al., 2006 apud Bleninger & Jirka, 2005. ....................... 6

Figura 2: Representação esquemática da similaridade de processos ocorridos

em uma chaminé com os de um emissário submarino. Fonte: Gonçalves &

Souza, 1997 ........................................................................................................... 9

Figura 3: Esquema proposto para a modelagem do decaimento bacteriano. O

mesmo é promediado para espessura da pluma, He, a partir da luminosidade que

alcança a profundidade do topo Ze. Fonte: Carvalho, 2006. ................................ 19

Figura 4: Reprodução esquemática da estrutura de massas d’água na

Plataforma Continental Sudeste do Brasil, nas situações de inverno e verão

(modificado de Matsuura, 1986). .......................................................................... 22

Figura 5: Distribuição esquemática das correntes de superfície da PCSB.

Fonte: Mesquita, 1983. ......................................................................................... 23

Figura 6: Localização da área de estudo e difusores do emissário submarino.

............................................................................................................................. 25

Figura 7: Equipamento utilizado para aquisição dos valores de correntes. ..... 27

Figura 8: Histograma de profundidades de Sechii obtidas ao largo Praia da

Joaquina durante a fase de diagnóstico ambiental. O mesmo variou de 2 a 13

metros no período com pico entre 3 e 4 metros. Uma função densidade de

probabilidade tipo Weibull foi ajustada ao histograma para geração de números

randômicos que seguem essa distribuição. ......................................................... 31

Figura 9: Séries de radiação solar na superfície do mar dos meses de janeiro e

julho de 2007, representando o verão e o inverno respectivamente. Valores esses

adotados no cálculo do decaimento bacteriano. .................................................. 32

Figura 10: Histograma das concentrações de Escherichia coli nas estações de

tratamento da CASAN (n=160). Fonte: Estudo de Impacto Ambiental e estudo

oceanográfico para emissários submarinos de esgoto tratado do SES Lagoa da

Conceição (praia da Joaquina). ............................................................................ 33

Figura 11: Série de descarga adotada na simulação numérica ...................... 34

Figura 12: Batimetria da região do Campeche, e conseqüentemente da área

modelada. A cruz preta sobre a Ilha do Campeche e profundidade de 30 metros,

indica a posição dos difusores. ............................................................................ 35

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Figura 13: Diagrama do processo de modelagem em recursos hídricos. A parte

realçada é a rota usual. Fonte: Rosman, 2009. .................................................... 36

Figura 14: Malha de elementos quadráticos finitos adotados no modelo. ....... 37

Figura 15: Local de validação e análise dos dados obtidos através de

amostragem in-situ, e da simulação computacional. ............................................ 41

Figura 16: Série temporal de elevação de nível d’água na Praia da Pinheira,

inicia em 22/03/3077 12:00:00 e termina em 22/04/2007 12:00:00. B) Série

temporal de elevação do nível d’água na Ilha João da Cunha, inicia em

22/03/3077 12:00:00 e termina em 22/04/2007 12:00:00. C) Diagrama de

dispersão entre as séries medidas e simuladas pelo modelo hidrodinâmico para

Praia da Pinheira. D) Diagrama de dispersão entre as séries medidas e simuladas

pelo modelo hidrodinâmico para Ilha João da Cunha. E) Análise espectral das

séries medidas e simuladas para os dados referentes à Praia da Pinheira. F)

Análise espectral das séries medidas e simuladas para os dados referentes à Ilha

de João da Cunha. ............................................................................................... 43

Figura 17: Escoamento residual obtido através da modelagem numérica. ..... 45

Figura 18: Série temporal da componente U na Praia dos Ingleses, inicia em

22/03/3077 12:00:00 e termina em 22/04/2007 12:00:00. B) Série temporal da

componente V na Praia dos Ingleses, inicia em 22/03/3077 12:00:00 e termina em

22/04/2007 12:00:00. C) Diagrama de dispersão entre as séries medidas e

simuladas pelo modelo hidrodinâmico para a componente U. D) Diagrama de

dispersão entre as séries medidas e simuladas pelo modelo hidrodinâmico para a

componente V. E) Análise espectral das séries medidas e simuladas para os

dados referentes à componente U da Praia dos Ingleses. F) Análise espectral das

séries medidas e simuladas para a componente V da Praia dos Ingleses. .......... 46

Figura 19: Dados oceanográficos retirados do modelo hidrodinâmico na região

dos difusores do Campeche. A) Série de elevação do nível de água durante o

período simulado. B) Espectro de elevação do nível da água. C) Diagrama de

dispersão das componentes U e V, indicando a direção predominante da corrente.

D) Série de direção das correntes na região do Campeche. E) Histograma de

ocorrência de direções. F) Série intensidade de correntes retiradas do modelo na

Região do Campeche. .......................................................................................... 48

Figura 20: Intensidade e direção dos ventos inseridos no modelo numérico. . 49

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Figura 21: Rosa dos ventos cumulativas entre dados de Estações

Meteorológicas CIRAM/INMET (a) e satélite QuikSCAT SeaWinds (b) para Ilha

do Arvoredo. Cores representam classes de intensidade de vento (m/s) e barra

de porcentagem representa porcentagem de ocorrência durante o período.. Fonte:

Gomes, 2010 ........................................................................................................ 50

Figura 22: Curvas médias de decaimento bacteriano calculado. .................... 50

Figura 23: Curvas de decaimento bacteriano utilizado no processo de

simulação numérica ............................................................................................. 51

Figura 24: Valores de T90 Horário no decorrer de um dia em situação de verão

e inverno. Podemos observar que os T90 noturno são praticamente iguais no

verão e no inverno. Isto ocorre em função de o fator determinante na variação do

T90 na região é a quantidade de radiação solar que atinge o corpo d´água,

considerando que a variação anual da temperatura dá água é desprezível. Fonte:

Adaptado de Topázio, 2003. ................................................................................ 53

Figura 25: Demonstra a estratificação da coluna de água na região do

Campeche. ........................................................................................................... 54

Figura 26: Cenário em situação típica de verão. A linha vermelha representa a

máxima excursão da pluma com concentração maior ou igual ao limite máximo

instantâneo estabelecido na Resolução CONAMA N° 357/2005 para Coliformes

Fecais em Águas Salinas de Classe 1 (2500 NPM/100ml). ................................. 55

Figura 27: Cenário em situação típica de Verão. Freqüência de excedência

superior a 20% dos limites estabelecidos na Resolução CONAMA N° 357/2005

para Coliformes Fecais. A isolinha externa mostra o enquadramento para Águas

Salinas de Classe 1 (1000 NPM/100ml). A isolinha do meio mostra o limite do

enquadramento para Águas Salinas de Classe 2 (2500 NPM/100ml) e a isolinha

interna mostra o limite do enquadramento para Águas Salinas de Classe 3 (4000

NPM/100ml). Esta macha demonstrada na figura seria o local com condições de

balneabilidade insatisfatória. Obs.: Os detalhes não estão em escala. ................ 56

Figura 28: Cenário em situação típica de Inverno. A linha vermelha representa

a máxima excursão da pluma com concentração maior ou igual ao limite máximo

instantâneo estabelecido na Resolução CONAMA N° 357/2005 para Coliformes

Fecais em Águas Salinas de Classe 1 (2500 NPM/100ml). ................................. 57

Figura 29: Cenário em situação típica de Inverno. Freqüência de excedência

superior a 20% dos limites estabelecidos na Resolução CONAMA N° 357/2005

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para Coliformes Fecais. A isolinha externa mostra o enquadramento para Águas

Salinas de Classe 1 (1000 NPM/100ml). A isolinha do meio mostra o limite do

enquadramento para Águas Salinas de Classe 2 (2500 NPM/100ml) e a isolinha

interna mostra o limite do enquadramento para Águas Salinas de Classe 3 (4000

NPM/100ml). Esta macha demonstrada na figura seria o local com condições de

balneabilidade insatisfatória. Obs.: Os detalhes não estão em escala. ................ 58

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Lista de Tabelas

Tabela 1: Vantagens e desvantagens da implantação de um emissário

submarino............................................................................................................... 3

Tabela 2: Explanação dos componentes da equação 1 e 2. ........................... 12

Tabela 3: Explanação da equação 3. .............................................................. 13

Tabela 4: Comparação de estimativas de . Resumido de Chamberlim &

Mitchell (1978) apud Carvalho 2006. .................................................................... 20

Tabela 5: Padrões de balneabilidade adotados pela Resolução CONAMA

n°274/2000, considerando que tal resolução esta contida na CONAMA

n°357/2005. .......................................................................................................... 24

Tabela 6: Áreas da oceanografia e suas atribuições durante as campanhas

oceanográficas. Fonte: Ludwing, 1979. ................................................................ 26

Tabela 7: Constantes harmônicas para estações maregráficas da Ilha João da

Cunha e da Praia da Pinheira. ............................................................................. 29

Tabela 8: Valores recomendados para rugosidade equivalente do fundo no

módulo 2DH. Fonte: Referência Técnica SisBaHiA, 2009. .................................. 30

Tabela 9: Características apresentadas pela malha de elementos quadráticos

finitos adotados no modelo................................................................................... 38

Tabela 10: Valores máximos, mínimos e médios para intensidade de corrente

na região do Campeche. ...................................................................................... 47

Tabela 11: Demonstração dos valores máximos, mínimos e médio encontrados

para o decaimento bacteriano nas duas estações estudadas. ............................. 52

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Sumário

1. Introdução ................................................................................................. 1

2. Objetivos ................................................................................................... 5

2.1. Objetivo Geral ........................................................................................ 5

2.2. Objetivos específicos .......................................................................... 5

3. Fundamentação Teórica ........................................................................... 6

3.1. Emissário Submarino .......................................................................... 6

3.2. Campo Próximo e Campo Afastado ................................................... 9

3.2.1. Campo Próximo ........................................................................... 9

3.2.2. Campo Afastado ........................................................................ 10

3.3. Modelagem Computacional .............................................................. 10

3.3.1. Modelagem Hidrodinâmica ......................................................... 10

3.3.2. Modelagem de transporte de efluentes (Lagrangeano Advectivo-

Difusivo) 14

3.3.3. Modelagem do Decaimento Bacteriano – T90 ............................ 17

3.4. Circulação Oceânica ......................................................................... 21

3.5. Legislação CONAMA n°357/2005 .................................................... 23

4. Metodologia ............................................................................................. 24

4.1. Área de Estudo ................................................................................. 24

4.2. Campanhas Oceanográficas ............................................................ 25

4.2.1. Correntes ................................................................................... 26

4.2.2. Maré ........................................................................................... 27

4.2.3. Ventos ........................................................................................ 29

4.2.4. Estratificação da coluna de água ............................................... 29

4.3. Rugosidade do Fundo ...................................................................... 30

4.4. Decaimento Bacteriano (T90) ............................................................ 30

4.5. Concentração e Descarga ................................................................ 33

4.6. Batimetria ......................................................................................... 34

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4.7. Modelo Hidrodinâmico ...................................................................... 35

4.8. Condições iniciais de simulação ....................................................... 38

4.9. Validação do Modelo ........................................................................ 39

5. Resultados e Discussão .......................................................................... 40

5.1. Validação e análise do modelo hidrodinâmico .................................. 40

5.2. Elevação do Nível de água ............................................................ 41

5.3. Correntes ....................................................................................... 44

5.4. Escoamento hidrodinâmico do Campeche .................................... 47

5.5. Ventos .............................................................................................. 49

5.6. Decaimento Bacteriano .................................................................... 50

5.7. Estratificação da coluna d’água ........................................................ 53

5.8. Modelo de Transporte Lagrangeano Advectivo/Difusivo .................. 54

6. Conclusão ............................................................................................... 60

7. Considerações Finais .............................................................................. 62

Referências ..................................................................................................... 63

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1. Introdução

Conforme Tessler & Goya (2005), a extensão do litoral brasileiro é de 8000 km,

compreendido pelos mais variados tipos de sistemas costeiros, abrangendo

praias arenosas, falésias ígneas e sedimentares, estuários, dunas e manguezais.

Apesar de situar-se sobre uma estreita faixa ao longo do globo terrestre, a zona

costeira possui relevância no âmbito econômico e social por conter uma grande

porcentagem de metrópoles, bem como sua representatividade de até 70% no

PIB nacional (FREITAS, 2005).

Essa relevância é determinada pela indispensável fonte energética que

representa, originária da produção de petróleo e gás natural, pelo escoamento da

produção através dos portos, pela produção de alimentos por intermédio da pesca

e aquicultura, bem como, pelos altos índices de ocupação devido a sua

inigualável beleza cênica. Entretanto, os atrativos peculiares somados a

constantes incentivos públicos ao turismo regional, geram aumento excessivo da

ocupação durante o verão, comprometendo a estabilidade do sistema pelo

inconciliável volume de resíduos domésticos e industriais.

Diante desta realidade, surge a preocupação com a influência da ocupação e a

exploração dos recursos sobre a qualidade da água. Assim, fez-se necessário o

reconhecimento perante a legislação brasileira (CONAMA n°357/2005), de que

estas atividades, simultâneas, carecem de diferentes graus de qualidade da água,

(CETESB, 2006). Por isso, a mesma resolução dividiu os corpos de águas salinas

em classes, tendo como a mais restritiva a Classe de Água Especial, seguida das

Águas de Tipo I, II e III. As atribuições da classe de Água Especial é conservação

de ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral e; à

preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas. De classe I é,

recreação de contato primário; proteção de comunidades aquáticas; à aquicultura

e à atividade de pesca. Da classe II é, pesca amadora; e à recreação de contato

secundário. Por fim a classe III possui função apenas de navegação e harmonia

paisagística.

Com sua importância supracitada, aliada a preocupação em manter adequada

a qualidade da água, tornou-se indispensável à criação de alternativas para

redução dos impactos ambientais procedentes do excessivo uso da zona costeira.

Em resposta a esta necessidade, uma alternativa viável para se desfazer de

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resíduos domésticos e industriais é a instalação de emissários submarinos

integrados ao sistema de tratamento e disposição de esgotos sanitários. Por meio

deste sistema o material é conduzido e lançado no mar.

Já é sabido que o destino final dos esgotos domésticos quase sempre são os

oceanos, através de emissários ou por contribuições difusas de cursos d’água

(CETESB, 2006). Na primeira opção, além desta contaminação ser pontual e

distante da costa, há possibilidade de minimizá-la através do tratamento de seu

efluente. Diante desta conjuntura CETESB (2002), define a existência de quatro

tipos de manejo de efluentes na estação de tratamento, sendo eles: 1) Preliminar

ou pré-acondicionamento; 2) Primário; 3) Secundário; 4) Terciário.

Considerando o tratamento preliminar ou pré-acondicionamento, o efluente

sofre apenas uma separação de resíduos sólidos através de peneiramento ou

gradeamento. No tratamento primário, além do pré-acondicionamento, há a

passagem por um tanque de decantação, onde se reduz em até 70% os sólidos

no efluente. O tratamento secundário tem como finalidade reduzir a demanda

bioquímica de oxigênio (DBO), uma das alternativas para execução desse

processo é através da aeração dos tanques propiciando intensificação da

oxidação da matéria orgânica. Por fim o tratamento terciário, mais complexo,

compreende a redução de nutrientes, substâncias inorgânicas, metais e orgânicos

persistentes com redução drástica da DBO.

A fim de evitar sub ou superestimação do potencial poluente da pluma,

Carvalho (2003) enfatiza a necessidade de compreensão dos processos

oceanográficos envolvendo correntes marinhas e estratificação da coluna de água

por gradientes de densidade (picnoclina) e temperatura (termoclina) do corpo

receptor. Em paralelo a esta afirmação, o mesmo autor adverte que a implantação

de emissários não beneficia somente os seres humanos, mas também a biota

local. Para que isto ocorra com concordância, deve haver fundamentação

criteriosa quanto ao tipo de tratamento que este efluente será submetido, e a

garantia de que a região de despejo encontra-se distante da linha de costa, onde

há baixa densidade de organismos, servindo como abrigo e fonte de alimentos.

Nesse contexto CETESB (2007), adaptado de Knill (1984), demonstra as

vantagens e desvantagens da implantação de um emissário submarino (Tabela

1).

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Tabela 1: Vantagens e desvantagens da implantação de um emissário submarino.

Vantagens Desvantagens

Eficiência na disposição e

tratamento do esgoto;

Dificuldade na construção do

emissário;

Não causa poluição visual e

problemas de odor (exceto zona

de mistura);

Danos estruturais podem ser

difíceis de reparar;

Custo de capital menor ao

longo da vida útil;

Pode oferecer riscos para a

navegação e pesca;

Custo de manutenção menor; É difícil detectar descargas tóxicas

ilegais;

Requer menor área para

parte terrestre do emissário;

Pode resultar em perda potencial

da qualidade da água (na zona de

mistura);

Requer poucos funcionários

para operação;

Requer estudos de monitoramento

costeiro e inspeção subaquática;

Gasto menor em energia

elétrica;

Pode reunir objeções de

ambientalistas e outros grupos.

O problema da disposição do

lodo é menor;

--------------------------------------------------

Preservação dos rios

costeiros como classe 1.

--------------------------------------------------

Diante do exposto evidencia-se que o emissário que possivelmente venha a

ser instalado na região do Campeche poderá proporcionar uma melhoria na

qualidade de vida e contribuirá com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

da região, além de acrescer a taxa de cobertura do saneamento básico no estado

de Santa Catarina, onde este atributo corresponde à ínfima porcentagem de

11,84% (CORSSATTO et al., 2006).

Deste modo, no presente estudo, foi utilizado um modelo computacional para

determinar a dispersão da pluma, bem como seu potencial poluente de um

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possível emissário localizado na região do Campeche, Florianópolis - SC. O

programa utilizado foi o SisBaHiA® (Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental),

registrado e continuamente melhorado pela Fundação Coppetec – COPPE/UFRJ.

No processo de simulação numérica, a curva de decaimento bacteriano (T90) é um

dos principais agentes na quantificação da eficiência do emissário submarino,

pois trata-se do tempo necessário para reduzir em 90% o número de bactérias

quando comparado com o instante inicial.

A quantificação de coliformes totais na água foi utilizada como variável análoga

para determinação do T90, bem como para comparação com a resolução

CONAMA n°357/2005.

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2. Objetivos

2.1. Objetivo Geral

Avaliar a dispersão da pluma poluente de um emissário submarino

na região sul de Florianópolis através de modelagem computacional

2.2. Objetivos específicos

Determinar o T90 para a pluma de esgotos;

Determinar a trajetória e concentração da pluma de despejo do

emissário para o campo afastado;

Comparar os resultados obtidos do modelo com a resolução

CONAMA n°357/2005.

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3. Fundamentação Teórica

3.1. Emissário Submarino

A necessidade de manutenção, bem como adequação da qualidade da água

perante a legislação brasileira pertinente, exigia a criação de alternativas. Deste

modo, CETESB (2003) adotou o emissário submarino como importante

ferramenta para a resolução deste problema.

O emissário submarino pode ser caracterizado por utilizar o potencial de

tratamento e depuração que o corpo receptor possui para diminuir a carga e

compostos que por ventura possam existir, através de, uma estrutura física

hidráulica, conectando a superfície e o corpo de água receptor, divido em cinco

partes: 1) Estação de condicionamento prévio; 2) Emissário terrestre; 3) Câmara

ou chaminé de equilíbrio; 4) Emissário submarino, responsável por carrear os

efluentes pré-condicionados até os; 5) Difusores, que podem ser orifícios ou um

bocal, responsável por lançar ou dispersar o efluente, favorecendo a formação de

um campo ideal de mistura (1/100), (Figura 1).

Figura 1: Comportamento típico de dispersão de efluentes de um emissário submarino. Fonte: Jirka et al., 2006 apud Bleninger & Jirka, 2005.

Há muitos estudos referentes à dispersão de emissários submarino e como

exemplo pode-se citar, Faisst et al. (1990), Roberts & Wilson (1990), Davison et

al. (1993), Wu et al. (1994), Petrenko et al. (1998), e Carvalho et al. (2002).

Dentre as soluções analíticas, destacam-se dois métodos de simulação de

dispersão de efluentes: a dos campos próximo e afastado. A primeira corresponde

à zona de mistura inicial, onde Gregório (2009) descreveu a existência de três

importantes processos: 1) Mistura provocada pelo empuxo positivo do jato; 2)

Interações com os limites (superfície ou picnoclina e fundo); 3) Mistura na camada

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superficial. Já do campo afastado foi descrito por Carvalho (2003) como sendo o

local onde predomina a turbulência gerada pelas correntes.

A simulação do campo afastado é intrinsecamente ligada ao comportamento

do despejo no campo próximo. Tornando este tipo de previsão específica para

descrever o processo em áreas costeiras e estuários (HILLERBRAND, 2003), aí

surge uma das maiores dificuldades na simulação numérica de despejos de

efluentes: o acoplamento de modelos de campo próximo com o afastado.

Todavia, Zhang (1995), Hillerbrand (2003) e Bleninger & Jirka (2005) apresentam

metodologias para contornar as limitações e tornar possível este acoplamento.

Considerando a proliferação de emissários submarinos ao longo do globo,

serão mencionadas algumas experiências de sua implantação. O maior emissário

teve sua atividade operacional iniciada em 2002 e foi responsável por contribuição

preponderante na recuperação da qualidade das águas superficiais do porto de

Boston, baía de Massachusetts (HUNT et al., 2010).

Outro emissário de destaque é o da cidade de Tilbury, Inglaterra, que tem sua

importância na forma de tratamento, denominada “poço profundo”, onde há

utilização da pressão hidrostática ao fundo de uma coluna de líquido. Através

deste mecanismo aumenta-se significativamente a transferência de oxigênio a

uma solução misturada por circulação rápida. Existente apenas 40 destas plantas

no mundo (Irwin et al., 1989 apud Mandaji, 2008),

No Brasil, o emissário de maior repercussão é o de Ipanema – RJ, justamente

por abranger uma área extremamente nobre e habitada por aproximadamente

quatro milhões de pessoas (CARVALHO, 2003).

Além dos emissários mencionados, segue abaixo o Quadro 1 listando os

principais sistemas de disposição oceânica do Brasil.

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Quadro 1: Principais sistemas de disposição oceânica brasileiros. Fonte: Gonçalves & Souza, 1997

Analogamente, um emissário submarino se aproxima em muito das

características de uma chaminé (Figura 2).

Sendo que o efluente do emissário, bem como a fumaça da chaminé possuem

densidade diferentes do meio receptor. Os agentes dispersantes para um

(emissário submarino) corresponde às correntes marinhas e para outro (chaminé)

é o vento. A dispersão tanto para o emissário submarino quanto na chaminé são

dívidas em dois momentos, sendo eles campo próximo e campo afastado. Onde o

primeiro corresponde à trajetória do efluente e a mistura no momento da

descarga, controlados pela velocidade de injeção do efluente ou fumaça lançada,

pelo empuxo e a geometria do emissário (difusores) ou da chaminé, e o segundo

faz referência ao campo afastado, sendo que os processos atuantes na dispersão

da pluma do emissário ou da chaminé são advectivos/difusivos e sempre que

construído tal artifício, deve considerar que existe uma região para proteger, que

LocalDiâmetro

Interno (m)

Extenssão

Emissário (m)

Profundidade

Decarga (m)

Vazão

Projeto

(m³/s)

Material

Belem - PA 0,80 320 5 0,60 CONC

Fortaleza - CE* 1,50 2300 15 2,50 CONC

Fortaleza - CE 1,50 3372 15 2,80 AÇO

Salvador - BA 1,75 2420 27 5,20 CONC

Vitória - ES* 1,5 4035 29 2,10 CONC

Niterói -RJ* 1,4 3505 20 2,20 CONC

Ipanema - RJ 2,4 4325 26 12,00 CONC

B. da Tijuca - RJ* 1,5 4000 36 3,50 AÇO

Santos - SP 1,75 4000 10 7,00 AÇO

Poá - RS 1,26 733 12 2,70 AÇO

Manaus - AM 1,00 3600 - 2,20 PAD

Ara - ES 1,00 1100 - 2,00 PPL

Boa Vista - RR 0,35 1250 - - PAD

Legenda:

CONC - Concreto

AÇO - Aço revestido em concreto

PAD - Polietileno de Alta Densidade

PPL - Polipropileno

* - Não Implantado

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no caso do emissário submarino é a praia e para a chaminé pode ser a praia ou

uma cidade.

Figura 2: Representação esquemática da similaridade de processos ocorridos em uma chaminé com os de um emissário submarino. Fonte: Gonçalves & Souza, 1997

3.2. Campo Próximo e Campo Afastado

3.2.1. Campo Próximo

Neste tópico será descrito os processos físicos predominantes no campo

próximo. Os três principais processos que serão detalhados posteriormente são:

1) Mistura provocada pelo empuxo positivo do jato; 2) Interações com os limites;

3) Mistura na camada superficial.

3.2.1.1. Mistura provocada pelo empuxo positivo do jato

O efluente lançado em uma região submersa causa alterações na velocidade

do ambiente.

De maneira geral, o efluente lançado possui densidade diferente do meio

receptor, uma vez que o efluente doméstico apresenta a mesma densidade

próxima da água doce, conseqüentemente este efluente irá sofrer empuxo

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positivo quando este entra em contato com a água salgada (maio densidade). A

partir disso, os jatos tendem a perder profundidade até alcançarem o equilíbrio

hidrostático ou a superfície livre, misturando o efluente com o corpo receptor.

Gregório, (2009) menciona em seu trabalho que velocidades diferentes entre

aquela de injeção do efluente e a do meio provocam descontinuidade

(entranhamento) entre ambos fluidos, favorecendo então a formação de muitos

vórtices na parte interna do efluente. A mistura entre o efluente e o meio devido

ao entranhamento causa uma importante diluição inicial do efluente.

3.2.1.2. Interações com os limites

Os limites do oceano são o fundo e a superfície livre. Em alguns casos, em

regiões onde existe estratificação vertical da coluna de água, o limite superior

encontra-se justamente na profundidade da estratificação.

3.2.1.3. Mistura na camada superficial

De acordo com Gregório, (2009) os jatos que alcançam a superfície livre

podem ter o processo de mistura acelerado devido aos vórtices formados em seu

interior. Uma vez que o efluente sofre entrenhamento nessa região e estes

vórtices originam da diminuição abrupta da velocidade do meio causada pelo o

efluente na superfície.

3.2.2. Campo Afastado

O campo afastado é mais simplesmente explicado, uma vez que os processos

atuantes no campo afastado são advecção do efluente, em função da velocidade

do ambiente, uma vez que o efluente encontrou seu equilíbrio, e o único agente

transportador deste efluente é a corrente local e difusão gerada pela turbulência

do corpo receptor.

3.3. Modelagem Computacional

3.3.1. Modelagem Hidrodinâmica

Na dispersão de efluente utilizando emissário submarino, dois processos são

considerados. O primeiro define-se como campo próximo (near-field), ou seja,

processo dependente das condições ambientais existentes (correntes,

estratificação e turbulência do corpo receptor), e o segundo como campo

afastado.

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Para prever a dispersão das plumas no campo afastado, emprega-se o

programa SisBaHiA®. Rosman (2009), na referência técnica do SisBaHiA®,

explica que o modelo hidrodinâmico determina campos de corrente em corpos

d’água rasos com superfície livre, cujos gradientes de densidade não são

relevantes. O programa permite, ainda, trabalhar com correntes estipuladas na

vertical (módulo 2DH) e/ou conhecer o perfil vertical tridimensional de correntes

(módulo 3D), que é influenciado pelas tensões de atrito na superfície e no fundo.

Ainda Rosman (2009) aponta as três equações, resumidas na sequência,

necessárias para determinar as três variáveis na circulação hidrodinâmica em um

escoamento 2DH integrado na vertical, (ζ, U, V). Pode-se comparar a descrição

dos termos neste item com uma descrição semelhante para o escoamento 3D.

Equação de quantidade de movimento 2DH para um escoamento integrado na

vertical, na direção x:

VsenHy

H

x

H

Hxg

y

UV

x

UU

t

U B

x

S

x

xyxx

2)(

1)()(1

00

(1)

Equação de quantidade de movimento 2DH para um escoamento integrado na

vertical, na direção y:

UsenHy

H

x

H

Hyg

y

VV

x

VU

t

V B

y

S

y

yyxy

2)(

1)()(1

00

(2)

Equação da continuidade (do volume) integrada ao longo da vertical:

0

y

VH

x

UH

t

(3)

Utilizando a equação de quantidade de movimento na direção x como

exemplo, o seguinte quadro explica o significado de cada termo na Equação 01 e

Equação 02. Evidentemente, o significado dos termos semelhantes na equação

de quantidade de movimento na direção y é o mesmo.

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Tabela 2: Explanação dos componentes da equação 1 e 2.

t

U

Representa a aceleração local do escoamento,

i.e., em uma dada posição, a taxa de variação

temporal do fluxo de quantidade de movimento 2DH

por unidade de massa. Em escoamentos

permanentes, esse termo é igual a zero.

y

UV

x

UU

Representa a aceleração advectiva do

escoamento, i.e., em um determinado instante,

esses termos representam a taxa de variação

espacial do fluxo de quantidade de movimento 2DH

na direção x por unidade de massa. Em

escoamentos uniformes, esses termos são iguais a

zero.

xg

Representa a pressão hidrostática resultante na

direção x (gradiente de pressão), devido à

declividade da superfície d’água na direção x.

Conforme indicado pelo sinal negativo, o

escoamento tende a ser de lugares onde o nível da

água é mais alto para lugares onde o nível da água

é mais baixo.

y

H

x

H

H

xyxx

o

)()(1

Representa a resultante das tensões dinâmicas

turbulentas 2DH no escoamento. Por exemplo,

esses termos são responsáveis pela geração de

vórtices horizontais em zonas de recirculação.

Vsen2 Representa a força de Coriolis devido ao fato do

referencial estar se movimentando na superfície da

Terra.

S

xoH

1 Representa a tensão do vento na superfície livre

por unidade de massa. Se o vento estiver na

mesma direção do escoamento, esse termo irá

acelerar o escoamento; se estiver oposto, irá

retardar o escoamento.

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B

xoH

1 Representa a tensão de atrito no fundo atuante

no escoamento por unidade de massa. Conforme

indicado pelo sinal negativo, esse termo sempre

tende a desacelerar o escoamento. É sempre

oposto ao escoamento.

Para a equação da continuidade 2DH, tem-se:

Tabela 3: Explanação da equação 3.

y

HV

x

HU

t

h

Evidentemente, possui o mesmo significado da

equação semelhante no módulo 3D. Entretanto,

reescrevendo da forma que está escrita à esquerda,

pode-se observar que a altura da coluna d’água

(ζ+h) varia no tempo como resultado dos fluxos

efetivos através da coluna d’água nas direções x e

y respectivamente, y

HVe

x

HU

.

Como exemplo, considera-se o caso de escoamento permanente e uniforme

na direção x em um canal largo e longo, sem a ação do vento. A partir das

explicações dadas acima, observa-se que a Equação 03 ficaria reduzida a:

B

xoHx

g

10

(4)

Substituindo a definição de tensão de atrito, obtêm-se:

Hx

CUHx

UHx

UU hhh CC

222

(5)

No escoamento permanente e uniforme, em canal largo e longo, a declividade

da superfície livre é aproximadamente a mesma que a do fundo (I), ou seja,

Ix

. Além disso, o raio hidráulico do canal é aproximadamente igual à

profundidade média da seção transversal, ou seja, H≈Rh. Dessa forma, utilizando

também a relação entre os coeficientes de Chézy e Manning o resultado anterior

pode ser escrito como:

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Manning

h

h

Chézy

hhh IRn

RUIRCUH

xCU

6/1

(6)

Essas são as conhecidas equações de Chézy e Manning para escoamento em

condutos livres abertos. Observa-se que essas duas equações são, na verdade,

formas simplificadas das equações de Navier–Stokes, que por sua vez,

representão nada mais nada menos do que a segunda lei de Newton escrita em

um referencial Euleriano.

3.3.2. Modelagem de transporte de efluentes (Lagrangeano Advectivo-Difusivo)

Rosman (2009), na referência técnica do Sisbahia® cita as características do

modelo Lagrangeano Advectivo-Difusivo bem como as suas formulações, que são

descritas na sequência.

Este modelo apresenta grande vantagem por utilizar as correntes simuladas no

modelo hidrodinâmico, sem restrições em relação aos limites impostos pelo

modelo. Deste modo, o modelo pode ser aplicado a problemas de pequena escala

em relação ao domínio modelado, bem como altos gradientes de concentração.

Para sua aplicação, a pluma contaminante é representada por partículas

lançadas na região fonte, com o mesmo intervalo de tempo entre as dispersões.

Para tal, as partículas são lançadas aleatoriamente e, então, são advectadas pela

corrente calculada pelo modelo hidrodinâmico.

Os caminhos que as partículas percorrem se dão através da soma de uma

componente advectiva determinística e outra aleatória, que reproduz o efeito da

difusão turbulenta. A posição da partícula, 1nP , no instante de tempo tn )1( é

calculada a partir de uma expansão de série de Taylor partindo da posição

anterior nP no instante tn .

TAO

nnnnn

dt

Pdt

dt

Pdt

dt

dPtPP ...

!3.

!2 3

33

2

221

(7)

Onde: T.A.O. são termos de alta ordem desprezados. Adotam também que, as

partículas deslocam-se na mesma velocidade das correntes do corpo receptor e

as derivadas temporais da posição são obtidas a partir do campo de velocidades

calculado pelo modelo hidrodinâmico (2DH ou 3D) da seguinte forma:

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15

),,( WVUV

dt

dP (8)

z

VW

y

VV

x

VU

t

V

dt

Vd

dt

Pd

2

2

(9)

Ainda pode-se acrescentar um termo de aceleração na determinação da

posição, o que proporciona um intervalo de tempo bem maior e com uma boa

acurácia. Após determinada a posição da partícula, tem se a opção de introduzir

um desvio aleatório, este causado pelos movimentos em escalas não resolvíveis

que geram velocidades difusivas. A magnitude deste desvio é função das

derivadas espaciais das difusividades turbulenta (equações 10, 11 e 12). Para

compreender este processo segue a equação de transporte Euleriano:

(10)

(11)

(12)

Como visto no esquema acima, as “velocidades difusivas” são de fato função

da variação espacial da difusão turbulenta.

Para determinar a dispersão da pluma, o modelo estabelece uma grade de

distribuição do contaminante. A partir da distribuição de massa da pluma por cada

célula da grade, a concentração de cada célula e dada pela razão entre a massa

de contaminante da determinada célula pelo seu volume. Se a mancha associada

a uma partícula é grande em relação ao tamanho das células, pode-se usar uma

função Gaussiana.

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16

2

2

2

2

2

2 )()()(exp),(

z

i

y

i

x

i

ii

zzyyxxyxf

(13)

Onde: as variâncias relacionam-se com os coeficientes de dispersão através

de:

dt

dD

yx

yx

2

,

,2

1

(14)

A massa equivalente de contaminante em cada partícula lançada pela fonte é

dada por:

P

ee

N

tCQM

0

(15)

Onde: t

NP

é o número de partículas lançadas por unidade de tempo, eQ e eC

são a descarga e a concentração do efluente na fonte, respectivamente. Em um

determinado instante após o lançamento da partícula de massa 0M , a parcela de

massa im na posição ii yx é dada por:

N

n

nn

ii

iii

yxf

yxftMyxm

1

),(

),()(),(

(16)

A massa da partícula irá variar em função do tempo se houver reações

cinéticas de produção e consumo. No caso das bactérias indicadoras, um

decaimento de primeira ordem é usualmente especificado como:

)exp()( 0 vtkMtM (17)

Onde: vt é o tempo de vida da partícula e k é o coeficiente de decaimento

bacteriano.

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3.3.3. Modelagem do Decaimento Bacteriano – T90

Esta variável é relativamente bem conhecida e discutida na literatura. Deste

modo, é relativamente bem conhecido o comportamento das bactérias quando

deixam o organismo de animais de sangue quente e são despejadas em um

ambiente mais hostil (água com alta salinidade), estas começam a sofrer

mortandade. Além destes, vários outros fatores estão associados ao processo de

decaimento bacteriano, podendo citar: fatores físicos (diluição através de

correntes, ventos, correntes de maré e etc.), foto-oxidação (maior

representatividade no processo de decaimento bacteriano), radiação solar,

temperatura da água, adsorção, floculação, coagulação e sedimentação. Tal

desfecho é estabelecido pelos processos físico-químicos, bem como gradiente de

salinidade e pH e fatores biológicos (predação, nível de nutrientes, vírus

bacteriófagos, algas e presença de materiais fecais) (McFETERS; STUART,

1972; BELLAIR et al., 1977; CHAMBERLIN; MITCHELL, 1978; MANCINI, 1978;

FUJIOKA et al., 1981; McCAMBRIDGE; McMEEKIN, 1981; KAPUSCINSKI;

MITCHELL, 1981; EVISON, 1988; EL-SHARKAWI et al., 1989; ALKAN et al.,

1995; CANTERAS et al., 1995; YANG, et al. 2000; JANNASCH, 1968, apud

CARVALHO et al, 2006).

Há possibilidade de ocorrer um aumento destas bactérias na coluna de água

adjacente, através da ressuspensão de sedimentos, potencializando a reprodução

destas em ambiente marinho (THOLMANN; MUELLER, 1987).

Deste modo, Chamberlin & Mitchell (1978) apud Carvalho (2006) descrevem

um modelo de decaimento bacteriano, onde a única variável é a luminosidade, e a

extinção vertical de luz na coluna de água é exponencial, conforme mostra a

equação 18.

(18)

k= Taxa de decaimento bacteriano (hora-1);

kt= Coeficiente de proporcionalidade que mede a sensibilidade de um

organismo especifico (cm2/cal);

Io= Intensidade de luz descendente na superfície da água (cal/(cm2 .hora));

= Coeficiente de atenuação vertical da luz a água do mar (m-1);

Z= Profundidade de Sechhi (m)

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18

Porém, esta fórmula apresentava uma limitação, algo que não representava a

pluma como um todo, nem pluma em ambientes estratificados. Diante disto,

tornou-se necessária a introdução de um novo termo (H – Espessura da pluma),

bem como uma simplificação considerando-se a pluma homogênea, o que é

representado na equação 19.

(19)

Esta fórmula considera o decaimento bacteriano médio ( , tendo unidade

representada por hora-1) dentro da pluma, onde esta está limitada a H metros de

profundidade.

Não é possível representar a estratificação, já que, como a pluma encontra-se

a certa profundidade, a luz que por ventura chegue ao seu topo já sofreu

diminuição ao longo da coluna de água. Deste modo a equação 20 e a Figura 3

demonstram esquematicamente a condição a ser modelada.

(20)

Aplicando as simplificações chega-se a seguinte equação, equação 21

(21)

Onde:

= Profundidade do topo da pluma;

= Espessura da pluma;

= Intensidade da luz no topo da pluma (cal/(cm2.hora));

= Coeficiente de atenuação vertical da luz dentro da pluma (m-1).

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19

Figura 3: Esquema proposto para a modelagem do decaimento bacteriano. O mesmo é promediado para espessura da pluma, He, a partir da luminosidade que alcança a profundidade do topo Ze. Fonte: Carvalho, 2006.

Chamberlin & Mitchell (1978) apud Carvalho (2006), também apresentam

coeficientes de proporcionalidade para diversos organismos. Este parâmetro

expressa a sensibilidade dos organismos a foto-oxidação, a Tabela 4 apresenta

esses valores.

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20

Tabela 4: Comparação de estimativas de . Resumido de Chamberlim & Mitchell (1978) apud Carvalho 2006.

Mancini (1978) apud Carvalho (2006), aprimorou a formulação de Chamberlin

& Mitchell (1978), uma vez que, em sua formulação, acopla a salinidade e a

temperatura, mas desconsidera o termo .

(22)

Onde:

= Porcentagem em relação à salinidade padrão;

= Temperatura (ºC);

= Radiação incidente na superfície (cal/(cm2hora)).

Neste contexto, Carvalho et al.(2006) apresentam uma formulação que une as

duas equações acima discutidas, sendo que a parte respectiva a temperatura e

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21

salinidade, origina-se da equação de Mancini (1978) e Chamberlin & Mitchell

(1978) fornecem o termo respectivo a luminosidade. Segundo os autores, o

decaimento bacteriano é dado por:

HeZe

p

ZetT

ITSHeZepp ee

He

Ikáguadomark

107,1)(%006,08,0)(20

,,,, (23)

Onde:

k = taxa de decaimento bacteriano (hora-1);

Ze= profundidade do topo da pluma (metros);

He = espessura da pluma (metros);

T = Temperatura (°C);

ZeI = Intensidade da luz no topo da pluma (cal/(cm2.hora));

p = coeficiente de atenuação vertical da luz dentro da pluma (m-1);

= coeficiente de atenuação vertical da luz na água do mar (m-1);

tk = coeficiente de proporcionalidade que mede a sensibilidade de um

organismo específico (cm2/cal);

3.4. Circulação Oceânica

Um zoneamento existente na região oceânica em frente ao Brasil, denomina-

se Plataforma Continental Sudeste Brasileira (PCSB), que, segundo Castro Filho

& Miranda (1998), é limitada ao norte pelo Cabo Frio – RJ sobre a latitude de

23°S, a sul pelo Cabo de Santa Marta Grande – SC na latitude de 28°40’S, a leste

pelas isóbatas que variam de 120 a 180 metros de profundidade e a oeste pela

costa do Brasil. As isóbatas deste zoneamento assumem uma forma côncava

com orientação NE-SO (Nordeste-Sudoeste), aquém, Carvalho (2003) adverte

que existem duas intervenções nessa distribuição: uma é a orientação do litoral

do Rio de Janeiro, que assume uma direção de E-O (Leste-Oeste) e outra em

Santa Catarina com orientação N-S (Norte-Sul).

Um trabalho realizado no âmbito de massas d´água sobre a PCSB foi

realizado por Emilson, (1961), onde caracterizaram-se quatro diferentes massas

d’água: Água Tropical (AT), Água Continental (AC) e Água Central do Atlântico

Sul (ACAS).

Para AT a temperatura e salinidade são maiores que 20° e 36,4,

respectivamente. Isto representa uma massa d’água bastante influenciada pelo

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22

aporte continental, portanto sem características definidas. Para ACAS tanto a

temperatura quanto a salinidade são menores que os valores impostos pela AT e

a Água de plataforma não teve características desta massa de água apresentadas

pelo autor. Após Emilson, (1961), Matssura, (1986) apresentou

esquematicamente a distribuição das massas de água sobre a PCSB,

demonstrada na Figura 4.

Figura 4: Reprodução esquemática da estrutura de massas d’água na Plataforma Continental Sudeste do Brasil, nas situações de inverno e verão (modificado de Matsuura, 1986).

Em relação ao esquema antigo, nos estudos mais recentes, como no de

Castro Filho (1987), a AP não é definida como uma massa de água específica e

sim como uma mistura das outras três (AC+AT+ACAS). O mesmo autor ainda

recomenda que a PCSB seja subdivida em PI (Plataforma Interna) e PE

(Plataforma Externa). No entanto, a primeira seria delimitada pela costa brasileira

e as isóbatas de 40 a 50 metros de profundidade, ocorrendo nesta área uma

estratificação de salinidade e temperatura. Este fato ocorre pela infiltração da

ACAS por sobre a PCSB, acarretando em um termoclina sazonal.

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23

No entanto, a circulação ocorrente sobre a PCSB foi descrita por Mesquita

(1983) apud Mesquita (1997) e apresenta um fluxo residual com direção

Sudoeste, visto na Figura 5.

.

Figura 5: Distribuição esquemática das correntes de superfície da PCSB. Fonte: Mesquita, 1983.

Em todo caso, a Corrente do Brasil é representada pela área mais escura na

Figura 5, onde as setas indicam o sentido mais provável, bem como os prováveis

vórtices no sentido horário e anti-horário. Embora as correntes de maré sejam

representadas pelas setas curvilíneas, as tracejada representam áreas com

corrente de maré não predominante, as cheias representam valores significativos

em relação aos movimentos da água ocasionados por vento, densidade ou outros

fatores.

3.5. Legislação CONAMA n°357/2005

A legislação CONAMA n°357/2005 foi a base de comparação para os dados

obtidos neste trabalho. O documento define e classificar os tipos de água, bem

como delimita concentrações permitidas.

Há quatro classes de água nesta resolução, que são: Águas doces (salinidade

igual ou inferior a 0,5%), águas salobras (água com salinidade superior a 0,5% e

inferior a 30%) e águas salinas (salinidade igual ou superior a 30%).

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24

Como não existe uma legislação específica para emissários submarinos no

Brasil, adotaram-se os parâmetros de classificação de água da resolução

CONAMA n°357/2005, e padrões de balneabilidade da CONAMA n°274/2000, que

se insere na resolução mais atual (Tabela 5).

Tabela 5: Padrões de balneabilidade adotados pela Resolução CONAMA n°274/2000, considerando que tal resolução esta contida na CONAMA n°357/2005.

Categoria

Coliformes Fecais (NMP/100ml)

Excelente < 250 em 80% do tempo

Própria Muito Boa < 500 em 80% do tempo

Satisfatória < 1000 em 80% do tempo

Imprópria > 1000 em mais de 20% do

tempo

Para melhor compreensão do leitor, optou-se por apresentar a resolução

CONAMA n°357/2005 por inteiro no.

4. Metodologia

4.1. Área de Estudo

A planície do Campeche, localizada a sudeste da Ilha de Florianópolis, conta

com uma área aproximada de 50 km2. O potencial hídrico da Ilha de Florianópolis

foi descrito por Caruso Jr (1993), que divide a hidrografia local em três bacias: Rio

Ratones, Rio Tavares e Rio Itacorubi. Sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Tavares

está à planície do Campeche.

Villanueva (2003) define os limites da região do Campeche em seu trabalho:

ao norte a restinga da Joaquina, sul com a região da Lagoa do Peri, leste com o

oceano Atlântico e a oeste com o Maciço da Costeira. A linha de costa e o

gradiente de batimetria apresentam orientação Sudoeste-Nordeste, sofrendo

modificação apenas, entre as Ilhas de Florianópolis e Campeche (Figura 6, e

Figura 12).

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25

Figura 6: Localização da área de estudo e difusores do emissário submarino.

Conforme visto na Figura 6, a região de instalação do emissário está

localizada em mar aberto, onde a descarga do efluente será feita com distância

de aproximadamente três quilômetros da linha de costa (Praia do Campeche).

Para determinar as variáveis ambientais de possível interferência na dispersão

da pluma, foi efetuada uma campanha mensal para quantificar correntes, e uma

para determinar a estratificação da coluna de água. A campanha que teve como

objetivo quantificar correntes marinhas ocorreu durante 22/03/2007 a 22/04/2007.

Enquanto a que visava identificar a diferença de densidade ao longo da coluna de

água, foi efetuada em 22/02/2010 a 07/04/2010.

4.2. Campanhas Oceanográficas

Ludwing (1979) em seu trabalho lembra que os emissários submarinos, antes

de sua instalação, devem realizar campanhas oceanográficas, a fim de

dimensionar com precisão a dispersão da pluma poluente.

Além de envolver todos os ramos da oceanografia, estas devem ser realizadas

simultaneamente. As atividades respectivas a cada área serão descritas na

Tabela 6.

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26

Tabela 6: Áreas da oceanografia e suas atribuições durante as campanhas oceanográficas. Fonte: Ludwing, 1979.

Oceanografia Física Ventos; Correntes;

Ondas; Marés; Estratificação da

coluna de água.

Oceanografia Química OD (Oxigênio Dissolvido);

Ortofosfatos; Nitratos; Clorofila-

A; Sólidos em suspensão;

Gorduras; pH; Transparência;

Colimetria (praias).

Oceanografia Geológica Topografia; Identificação

do tipo de fundo, Dinâmica de

sedimento; Perfis praias.

Oceanografia Biológica Decaimento Bacteriano

(T90); Estudo de plânctons e

bentos.

Considerando que este trabalho refere-se à oceanografia física.

4.2.1. Correntes

A fim de quantificar as correntes marítimas foi utilizado um ADCP (“Acoustic

Doppler Current Profiler”), que está representado na Figura 7. Este equipamento

foi fundeado nas coordenadas, -27° 25' 26,59047" e -48° 22' 44,02956", em

latitude e longitude, respectivamente. Estas coordenadas estão localizadas sobre

Datum WGS 84.

O ADCP ficou posicionado durante os dias 22/03/2007 a 22/04/2007 à

profundidade de aproximadamente 20 metros e configurado para a coleta de

células a cada metro de coluna d’água com intervalo de 20 minutos, onde cada

valor armazenado não corresponde a uma medida instantânea, e sim a uma

média de 2 minutos anterior a amostragem.

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27

Figura 7: Equipamento utilizado para aquisição dos valores de correntes.

Os dados foram submetidos a uma análise de consistência, a fim de detectar

valores espúrios, bem como corrigir a declinação magnética para a região no

período amostrado (17,98° Oeste). Em posse dessas informações, as análises

dos dados de corrente foram desenvolvidas em ambiente Matlab, que

compreende análise espectral simples, proposta por Carvalho (2003), e também

análise de consistência da série temporal, a fim de eliminar qualquer valor

espúrio.

Por fim, vale salientar que os dados utilizados neste trabalho correspondem a

uma região que dista em muito da região de interesse, bem como apresenta

características oceanográficas distintas b, ou seja, foram coletados valores de

correntes na Praia dos Ingleses (Norte de Ilha de Florianópolis) e a área de

interesse é a Praia do Campeche (Centro-Sul da Ilha de Florianópolis).

4.2.2. Maré

As séries de maré correspondem a dois pontos de coleta, uma na Enseada da

Praia da Pinheira (Sul do domínio de modelagem) e outra na Ilha João da Cunha

(Norte do domínio de modelagem), posicionadas sobre o DATUM WGS 84 e uma

projeção cartográfica nas posições 27° 53.0’ 4.20” S e 048° 35.0’ 30.12” W 27°

8.0’ 37.32” S e 048° 32.0’ 40.20” W, respectivamente.

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28

Em seguida estas séries foram submetidas a um filtro passa-baixa quadráticas,

confeccionado por Emery & Thomson (1998) e modificado por Carvalho (2002).

Este filtro propicia a eliminação das altas frequências, ou seja, maré astronômica.

Para filtrar a série de dados, utilizou-se um intervalo de amostragem de 20

minutos (o intervalo de tempo que o equipamento foi configurado para coletar

dados) e um período de corte de 40 horas (1,67 dias). Segundo Carvalho (2003),

neste contexto, períodos menores do que 0,3 ciclos.por.dia (3,3 dias) não são

afetados, embora ciclos maiores que 0.8 c.p.d (30 horas) são eliminados. Para

obter a maré astronômica, foram diminuídos, da série bruta, os valores filtrados.

Estes dados, também foram submetidos à análise espectral, com objetivo de

facilitar a compreensão dos fenômenos ali ocorrentes, já que com esta ferramenta

(analise espectral) há demonstração da amplitude do fenômeno em cada classe

de frequência.

Os valores de maré de cada local foram submetidos à análise harmônica de

maré, objetivando a identificação das constantes harmônicas presentes na região.

A análise da maré foi efetuada no próprio SisBaHiA®, que possui um módulo

baseado nas rotinas propostas por M. Foreman do Institute of Ocean Sciences,

British Columbia. Tais rotinas também constituem a base do sistema TOGA

utilizada pela Universidade de Honolulu – Hawaii para o controle de qualidade dos

dados do programa GLOSS (Global Sea Level Observing System), o qual é

gerenciado pelo IOC (Intergovernmental Oceanographic Commission) com o

patrocínio da UNESCO. Acredita-se, atualmente, que esse conjunto de rotinas é o

mais largamente utilizado em todo o mundo para a análise e previsão de dados

de marés (ROSMAN, 2009).

Com objetivo de conhecer as constantes harmônicas nas estações

maregráficas da Praia Pinheira e da Ilha João da Cunha, utilizaram dos dados de

elevação do nível de água referentes aos dias 22/03/2007 a 22/04/2007. Essas

constantes estão sumarizadas na Tabela 7.

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29

Tabela 7: Constantes harmônicas para estações maregráficas da Ilha João da Cunha e da Praia da Pinheira.

4.2.3. Ventos

Com o objetivo de caracterizar o padrão dos ventos ao largo da Ilha de Santa

Catarina, foi obtido, junto a EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e

Extensão Rural de Santa Catarina) dados de velocidade e direção dos ventos

relativos à estação meteorológica instalada na Ilha do Arvoredo (27° 17.0’ 45.0” S

e 048° 21.0’ 22.0” W) a 73 metros de altitude, no mesmo período da campanha

que possui objetivo de quantificar correntes marinhas.

4.2.4. Estratificação da coluna de água

A estratificação da coluna é mensurada a partir de informações dos termistores

distribuídos ao longo da coluna de água. Desta forma foi aplicada uma linha com

8 termômetros equiespaçados em 3 metros e configurados para armazenar

Constante Periodo (s) Amplitude (m) Fase (grau) Constante Periodo (s) Amplitude (m) Fase (grau)

Mm 2380713.365 0.1138 345.68 MSf 1275721.423 0.02 226.719

MSf 1275721.423 0.0122 136.35 2Q1 100822.4008 0.0166 50.217

alpha1 104661.5988 0.005 330.52 Q1 96726.08376 0.0411 67.769

2Q1 100822.4008 0.0032 61.84 O1 92949.6301 0.11 75.195

Q1 96726.08376 0.0229 53.11 M1 89399.69357 0.0093 112.607

O1 92949.6301 0.1034 72.15 K1 86164.09058 0.0512 120.378

M1 89399.69357 0.0058 131.01 J1 83154.51628 0.0031 287.608

K1 86164.09058 0.0703 117.95 OO1 80301.86721 0.0021 25.209

J1 83154.51628 0.0041 213.37 KQ1 77681.65186 0.002 151.938

OO1 80301.86721 0.0027 298.25 N2 45570.05357 0.0425 149.169

KQ1 77681.65186 0.0004 129.61 M2 44714.16431 0.1717 65.837

MNS2 47258.16272 0.0026 50.46 S2 43200.00002 0.162 46.369

mu2 46338.32735 0.0173 57.06 KJ2 42316.2782 0.0047 6.779

N2 45570.05357 0.0347 149.76 MO3 30190.69067 0.0036 280.644

M2 44714.16431 0.1791 61.48 M3 29809.44289 0.0183 133.935

L2 43889.83274 0.0145 338.1 MK3 29437.70382 0.0073 327.712

S2 43200.00002 0.0959 42.95 SK3 28773.74003 0.0079 116.601

KJ2 42316.2782 0.0064 48.73 MN4 22569.02603 0.0205 336.78

MO3 30190.69067 0.007 3.62 M4 22357.08217 0.0282 27.116

M3 29809.44289 0.0179 163.55 MS4 21972.02139 0.0155 98.786

MK3 29437.70382 0.0152 19.63 S4 21600 0.0015 284.013

SK3 28773.74003 0.003 215.11 2MK5 17751.16878 0.0031 211.397

MN4 22569.02603 0.0114 350.01 2SK5 17270.54296 0.0021 24.839

M4 22357.08217 0.0294 24.07 2MN6 14998.622 0.0021 103.24

SN4 22176.694 0.0059 14.41 M6 14904.72144 0.0007 190.772

MS4 21972.02139 0.0094 107.24 2MS6 14732.59513 0.0069 183.803

S4 21600 0.0021 73.95 2SM6 14564.39902 0.0043 229.861

2MK5 17751.16878 0.0059 253.4 3MK7 12706.70687 0.0014 212.766

2SK5 17270.54296 0.0032 289.98 M8 11178.54108 0.0042 24.991

2MN6 14998.622 0.001 236.54 - - - -

M6 14904.72144 0.0041 176.7 - - - -

2MS6 14732.59513 0.0036 148.23 - - - -

2SM6 14564.39902 0.001 88.3 - - - -

3MK7 12706.70687 0.0023 152.25 - - - -

M8 11178.54108 0.0006 355.97 - - - -

Ilha João da Cunha Pinheira

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30

informações a cada 10 minutos. Sua extremidade inferior foi fixada junto ao fundo,

e a superior presa em uma boia a 2 metros de profundidade, para manter o cabo

tencionado. O posicionamento se deu nas coordenadas, 752615,86 m e

6936949,17 m, em longitude e latitude, respectivamente, as quais estão

localizadas sobre a zona 22J no Hemisfério Sul da projeção UTM (Universal

Transverso de Mercator) e Datum WGS 84.

4.3. Rugosidade do Fundo

Para a região estudada foi utilizada rugosidade de 0,0285m, ou seja, a média

aritmética do intervalo 0,0070 < < 0,0500 metros, que corresponde a categoria

“Leito com transporte de sedimentos”, definida a partir da Tabela 8 (Rosman,

2009).

Tabela 8: Valores recomendados para rugosidade equivalente do fundo no módulo 2DH. Fonte: Referência Técnica SisBaHiA, 2009.

4.4. Decaimento Bacteriano (T90)

Para o cálculo do decaimento bacteriano, foi obtido junto a Empresa de

Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S. A. (EPAGRI),

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31

dados relativos à incidência de luz solar na superfície de uma região próxima à

área de interesse.

Os valores de extinção vertical de luz na coluna d’água foram retirados do

Estudo de Impacto Ambiental e estudo oceanográfico para emissários submarinos

de esgoto tratado do SES Lagoa da Conceição (praia da Joaquina). Sendo que

esta variável foi quantificada com discos de Secchi ao largo da Praia da Joaquina,

seguido de um ajuste ao histograma de profundidades de Sechii (Figura 8). A fim

de permitir uma aleatoriedade de números que seguem, esta distribuição ajustou-

se a um modelo de Weibull, para proporcionar valores randômicos de

profundidade de Sechii. Tal procedimento, embora não reproduza a profundidade

de Secchi real, permite incorporar a variabilidade estatística desta variável

aleatória na série temporal do T90.

Figura 8: Histograma de profundidades de Sechii obtidas ao largo Praia da Joaquina durante a fase de diagnóstico ambiental. O mesmo variou de 2 a 13 metros no período com pico entre 3 e 4 metros. Uma função densidade de probabilidade tipo Weibull foi ajustada ao histograma para geração de números randômicos que seguem essa distribuição.

O T90 é função de algumas variáveis, sendo estas: luz solar e temperatura.

(24)

HeZe

p

ZetT

ITSHeZepp ee

He

Ikáguadomark

107,1)(%006,08,0)(20

,,,,

Onde:

k = taxa de decaimento bacteriano (hora-1);

Ze= profundidade do topo da pluma (metros);

He = espessura da pluma (metros);

T = Temperatura (°C);

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Profundidade de Sechii (m)

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Fre

qu

ên

cia

de

Oco

rrê

ncia

Função Weibull ajustada

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32

ZeI = Intensidade da luz no topo da pluma (cal/(cm2.hora));

p = coeficiente de atenuação vertical da luz dentro da pluma (m-1);

= coeficiente de atenuação vertical da luz na água do mar (m-1);

tk = coeficiente de proporcionalidade que mede a sensibilidade de um

organismo específico (cm2/cal);

Para o cálculo do decaimento bacteriano optou-se por assumir a coluna de

água homogênea, permitindo a pluma permanecer sempre à superfície e com

espessura de 14 metros. Foram utilizados valores referentes ao mês de Janeiro

(Verão) e Julho (Inverno) de 2007, e essa aproximação foi adotada por se tratar

do único período onde constava uma série de dados de interesse (Figura 9).

Figura 9: Séries de radiação solar na superfície do mar dos meses de janeiro e julho de 2007, representando o verão e o inverno respectivamente. Valores esses adotados no cálculo do decaimento bacteriano.

Valores de salinidade e temperatura também foram constantes, adotando-se

as características do litoral catarinense, como descrito por Carvalho et al. (1998)

Através destas variáveis foram determinadas duas curvas de decaimento

bacteriano, uma para o inverno e outra para verão.

0.00000

20.00000

40.00000

60.00000

80.00000

100.00000

120.00000

(cal/cm

2.h

ora

)

Janeiro 2007

Radiação Verão

0.00000

20.00000

40.00000

60.00000

80.00000

100.00000

120.00000

(cal/cm

2.h

ora

)

Julho de 2007

Radiação Inverno

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33

4.5. Concentração e Descarga

A fim de mensurar a concentração e a vazão dos efluentes lançados por um

suposto emissário submarino na região do Campeche, foi obtido junto à empresa

interessada (CASAN – Companhia Catarinense de Água e Saneamento), valores

de concentração e Escherichia coli e enterococos existentes em suas estações de

tratamentos.

A partir destes dados, efetuou-se uma análise estatística, visando identificar a

concentração mais realística a ser inserida na simulação numérica, para não

utilizar o valor usual (108 NPM/100 ml) nem a máxima concentração encontrada

nas estações de tratamento, objetivando a simulação mais próxima da realidade.

Deste modo, efetuou-se uma análise estatística desses valores para gerar uma

possível série de valores correspondentes as concentrações encontradas.

Esta análise é composta de uma função densidade de probabilidade Weibull,

ajustada ao logaritmo das concentrações (Figura 10). A partir desse modelo, é

possível criar uma série randômica que segue esta distribuição.

Figura 10: Histograma das concentrações de Escherichia coli nas estações de tratamento da CASAN (n=160). Fonte: Estudo de Impacto Ambiental e estudo oceanográfico para emissários

submarinos de esgoto tratado do SES Lagoa da Conceição (praia da Joaquina).

1.0

E+

00

0

1.0

E+

00

1

1.0

E+

00

2

1.0

E+

00

3

1.0

E+

00

4

1.0

E+

00

5

1.0

E+

00

6

1.0

E+

00

7

1.0

E+

00

8

1.0

E+

00

9

1.0

E+

01

0

1.0

E+

01

1

1.0

E+

01

2

Concentração Scherichia Coli (NPM/100 ml)

0

0.1

0.2

0.3

0.4

Fre

qu

ên

cia

de

oco

rrê

ncia

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34

Em posse dos dados de Escherichia coli, adotou-se uma aproximação para

Coliformes. Considerando as concentrações aceitáveis dos dois organismos na

Resolução CONAMA N°357/2005, foi encontrada uma relação entre eles

(Coliformes 25% superior a Escherichia coli) e aplicou-se esta à série randômica

de concentração, ou seja, em qualquer momento da simulação, a concentração

de Coliformes está 25% acima da Escherichia coli.

O valor de descarga utilizado foi retirado do projeto executivo de construção do

emissário submarino da Praia do Campeche (2.20 m3/s). Esta série de descarga

considera a descarga de projeto como a média e varia em 20% para os horários

de pico e o de menor demanda (Figura 11).

Figura 11: Série de descarga adotada na simulação numérica

4.6. Batimetria

A fim de mensurar a batimetria da área de estudo, foram digitalizadas cartas

náuticas referentes à área de estudo, seguindo da extração de valores destas. As

Cartas Náuticas utilizadas serão da DHN nº 1900, 1902, 1903, 1904 e 1905. Além

destas, o Laboratório de Oceanografia Geológica da UNIVALI, em seu contínuo

levantamento de dados batimétricos da costa de Santa Catarina, cedeu

gentilmente a batimetria da área de estudo (compilação de dados primários e

secundários, não havendo uma época específica do levantamento batimétrico),

que está disposta na Figura 12.

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35

Figura 12: Batimetria da região do Campeche, e conseqüentemente da área modelada. A cruz preta sobre a Ilha do Campeche e profundidade de 30 metros, indica a posição dos difusores.

4.7. Modelo Hidrodinâmico

Para execução do modelo hidrodinâmico SisBaHiA®, Rosman (2009) sugere

um diagrama explicando os processos necessários (Figura 13). Deste modo

tornou-se necessário confeccionar um domínio de modelagem, ou seja, área onde

o modelo atuou, contendo as áreas de interesse e adjacente, para evitar a não

simulação de uma possível interferência local.

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36

Figura 13: Diagrama do processo de modelagem em recursos hídricos. A parte realçada é a rota usual. Fonte: Rosman, 2009.

Dentro do domínio, torna-se necessário a criação de uma malha quadrática de

elementos finitos. Elaborada no programa Argus One® e que subsidia os cálculos

do modelo (Figura 14). Suas características são demonstradas na Tabela 9.

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37

Figura 14: Malha de elementos quadráticos finitos adotados no modelo.

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38

Tabela 9: Características apresentadas pela malha de elementos quadráticos finitos adotados no modelo.

Elementos Totais 1707

Quadrangulares 1707

Triangulares 0

Nós Totais 7150

Interno 6493

Contorno de Terra 582

Contorno Aberto 77

Terra/Aberto 2

Banda Máxima 265

Domínio Discretizado

Área 3222063977.809 m²

Volume 103271791941.539 m³

Profundidade Média 32.051 m

Além da malha, do conhecimento dos dados de entrada do modelo, série

temporal de vento, corrente e nível de água, os dados precisam estar no formato

adequado, com a realização de uma análise prévia, a fim de verificar coerência

nos valores inseridos.

Foram adotados dois cenários para a simulação, o de inverno e o de verão.

Para tais intervalos simulados, a diferenciação será a curva de decaimento

bacteriano.

4.8. Condições iniciais de simulação

Para iniciar o modelo, fez-se necessário a inserção de algumas séries

temporais de algumas variáveis, tais como: variação do nível da água ao longo do

contorno aberto, ventos e correntes. As séries utilizadas serão demonstradas nos

resultados, no tópico que aborda a validação do modelo.

Como condição inicial do modelo, adotou-se velocidades da componente U e V

nulas (zero) e a elevação de superfície livre correspondente ao primeiro valor da

série de nível de água utilizado (-0,12).

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39

4.9. Validação do Modelo

A fim de quantificar a eficiência do modelo hidrodinâmico, adotou-se como

padrão utilizar o coeficiente de determinação R2, equação 23.

(23)

n

i

n

iR

1

2

i

1

2

ii2

dadodado

modelodado

1

Esse parâmetro estatístico foi descrito por Spiegel e Stephens, (1999) apud

ASA, (2008) como sendo uma comparação entre o erro do modelo e uma

variação total dos dados. Os valores obtidos através da comparação das séries

reais com a simuladas, variam de zero a um, adotado como 100% de eficiência o

valor um, diminuindo sua eficiência até 0 (zero)

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40

5. Resultados e Discussão

5.1. Validação e análise do modelo hidrodinâmico

Na Figura 15 encontram-se dispostos os pontos utilizados na medição dos

valores inseridos no contorno aberto e o local de validação do modelo

hidrodinâmico, enquanto que a Figura 16 demonstra de forma sumarizada uma

comparação dos valores de elevação do nível do mar nos extremos do domínio

modelado, com os valores simulados. Uma vez que os valores inseridos no

contorno aberto do modelo são os dados de maré dos extremos do domínio

modelado, os mesmos não servem para validação, enquanto que a Figura 18

apresenta tal validação.

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Figura 15: Local de validação e análise dos dados obtidos através de amostragem in-situ, e da simulação computacional.

5.2. Elevação do Nível de água

Um comparativo entre as séries de nível d’água medido, simulado e nos dois

locais de validação; diagrama de dispersão (confrontando os dados simulados

com os reais) e espectro simples de maré podem ser visualizados na Figura 16.

Apesar de ter sido utilizada uma série de elevação de nível de água no

contorno aberto do modelo, a mesma reproduziu com perfeição esta variação ao

longo do domínio modelado, cuja semelhança entre os dados medidos e os

simulados pode ser verificada na Figura 16 “A” e “B”. Tal ferramenta foi adotada,

em virtude da difícil previsão de maré meteorológica. Concordando com o

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Uiassone, (2004), onde o mesmo adverte que a maré prevista por constantes

harmônicas difere dos registros observados para uma mesma região, isso em

virtude dos efeitos meteorológicos exercerem influência na oscilação do nível do

mar.

Em adição ao acima mencionado, a Figura 16, nos itens C e D, por meio de

regressão linear, entre os valores de nível d’água medidos e simulados para a

Praia da Pinheira (R² = 0,9771 ) e a Ilha João da Cunha (R² = 0,8377 ), reitera-se

que o modelo reproduziu satisfatoriamente a elevação da superfície livre, bem

como a defasagem de maré entre os extremos da malha.

A diferença dos valores de R² para os dois pontos de medição de maré pode

ser explicado por algumas hipóteses. Uma delas é uma é a distância do ponto de

medição de maré para o contorno externo, onde a maior distância localiza-se no

ponto ao norte (Ilha João da Cunha). Outra hipótese é a não interferência de maré

meteorológica no local de instalação do marégrafo, podendo justificar esa

diferença.

Por se tratar de um projeto de engenharia, um dos objetivos do modelo é

representar as forçantes existentes no ambiente, tornando livre a inserção de

séries temporais. Um exemplo é a aplicação de séries de maré nos nós do

contorno aberto. Para melhor visualização e compreensão das forçantes de maré,

executou-se uma análise espectral, tornando possível assim a análise no domínio

da frequência como proposto por Miranda, (1984), e as rotinas empregadas foram

as descritas por Carvalho, (2003). O resultado desta análise é disposto na Figura

16 “E” e “F”.

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Figura 16: Série temporal de elevação de nível d’água na Praia da Pinheira, inicia em 22/03/3077 12:00:00 e termina em 22/04/2007 12:00:00. B) Série temporal de elevação do nível d’água na Ilha João da Cunha, inicia em 22/03/3077 12:00:00 e termina em 22/04/2007 12:00:00. C) Diagrama de dispersão entre as séries medidas e simuladas pelo modelo hidrodinâmico para Praia da Pinheira. D) Diagrama de dispersão entre as séries medidas e simuladas pelo modelo hidrodinâmico para Ilha João da Cunha. E) Análise espectral das séries medidas e simuladas para os dados referentes à Praia da Pinheira. F) Análise espectral das séries medidas e simuladas para os dados referentes à Ilha de João da Cunha.

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A análise dos dados de maré no domínio da freqüência demonstra que na

região estudada, a maior energia de alta freqüência refere-se justamente ao ciclo

de maré semi-diurna, seguida da maré diurna, e, em períodos menores do que

um ciclo por dia observa-se forçantes de bastante intensidade, correspondentes

diretamente à ocorrência de maré meteorológica.

Trucollo, (1998), menciona que na Baia da Babitonga, ao norte do estado de

Santa Catarina, a maré astronômica representa 77% de toda variação do nível do

mar, restando 22% para maré meteorológica (e 1% remete ao que o autor

denomina tendência). As análises espectrais, nas freqüências respectivas a

marés de origem meteorológica, sugerem que quando comparadas as duas

estações maregráficas, ocorre uma atenuação da amplitude no sentido Praia da

Pinheira – Ilha João da Cunha (sul – norte). Forte indicador de que a região do

estudo é fortemente influenciada pelas variações meteorológicas, evidenciando

assim a dificuldade de validação do modelo hidrodinâmico em relação ao nível do

mar.

5.3. Correntes

A corrente residual que representa o padrão de correntes originadas sem

interferência de fatores externos, como: ventos, correntes de maré e agentes

meteorológicos apresentada pelo modelo, Figura 17, demonstra que correntes

para norte predominam ao longo do domínio modelado. Cabe lembrar que, os

vetores dessa figura demonstram uma baixa velocidade do escoamento

hidrodinâmico, justamente por não apresentar os valores verdadeiros de

correntes, e sim uma corrente residual.

Assim é possível determinar que a corrente longitudinal à costa prevaleça

sobre a perpendicular, caracterizando uma forte deriva litorânea. O mesmo

padrão de correntes ao longo da costa foi encontrado por Menezes, et al, (2006)

ao norte do estado, em Barra Velha – SC e Silva, (2009) no Rio da Madre,

Palhoça – SC a sul do domínio modelado.

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Figura 17: Escoamento residual obtido através da modelagem numérica.

A validação do modelo, em respeito ao escoamento hidrodinâmico, mostrou-se

moderadamente eficiente para componente U e insatisfatória para a componente

V. Esta diferença é demonstrada na Figura 18 “A” e “B”.

A Figura 18 “C” e “D” ratifica a desigualdade das eficiências de validação nas

duas componentes, uma vez que o R² apresenta valores de 0,5458 e 0,1253

respectivamente para as componentes U e V, que corresponde a 54,58% e

12,53% de correlação entre os valores medidos e simulados nas respectivas

componentes U e V.

Mesmo que as energias de correntes descritas pelo modelo hidrodinâmico não

sejam condizentes com as intensidades reais, o escoamento hidrodinâmico

apresentou correlação com a maré. Conforme a Figura 18 “E” e “F”, pode-se notar

que as maiores intensidade de correntes encontram-se sobre a frequência de dois

ciclos por dia, demonstrando que as correntes de maré são bastante significativas

neste ambiente.

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Figura 18: Série temporal da componente U na Praia dos Ingleses, inicia em 22/03/3077 12:00:00 e termina em 22/04/2007 12:00:00. B) Série temporal da componente V na Praia dos Ingleses, inicia em 22/03/3077 12:00:00 e termina em 22/04/2007 12:00:00. C) Diagrama de dispersão entre as séries medidas e simuladas pelo modelo hidrodinâmico para a componente U. D) Diagrama de dispersão entre as séries medidas e simuladas pelo modelo hidrodinâmico para a componente V. E) Análise espectral das séries medidas e simuladas para os dados referentes à componente U da Praia dos Ingleses. F) Análise espectral das séries medidas e simuladas para a componente V da Praia dos Ingleses.

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A partir do modelo hidrodinâmico, foi possível analisar o escoamento

hidrodinâmico da região do Campeche, desta forma, extraiu-se valores de

correntes e maré sobre a posição dos difusores, sendo estes abordados a seguir.

5.4. Escoamento hidrodinâmico do Campeche

Os dados da Região do Campeche demonstram uma corrente predominante

para norte, em concordância com o escoamento hidrodinâmico residual. O

diagrama do padrão de correntes está disposta na Figura 19 “D” e “E”,

apresentando uma distribuição modal para norte entre as direções de 0 a 40° com

uma intensidade máxima de 0,1761 m/s, mínima de 0 m/s (estofa de maré) e uma

média de 0,0461 m/s conforme a Figura 19 “F” e Tabela 10. Outro indício da

predominância da corrente longitudinal à costa pode ser observado no diagrama

de dispersão das componentes U e V (Figura 22 “C”).

Tabela 10: Valores máximos, mínimos e médios para intensidade de corrente na região do Campeche.

Intensidade de Corrente – Campeche

Máxima 0,1761 m/s

Mínima 0,0000 m/s

Média 0,0461 m/s

Embora a maré na região do Campeche apresente as mesmas características

das marés dos extremos do domínio modelado, ela demonstra que o modelo

propagou de forma concreta a onda de maré, já que as amplitudes observadas na

região do Campeche representam valores intermediários em relação às estações

maregráficas, como explícito na Figura 19 “A” e “B”.

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Figura 19: Dados oceanográficos retirados do modelo hidrodinâmico na região dos difusores do Campeche. A) Série de elevação do nível de água durante o período simulado. B) Espectro de elevação do nível da água. C) Diagrama de dispersão das componentes U e V, indicando a direção predominante da corrente. D) Série de direção das correntes na região do Campeche. E) Histograma de ocorrência de direções. F) Série intensidade de correntes retiradas do modelo na Região do Campeche.

N

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5.5. Ventos

Segundo Gomes (2010), a latitude da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis) é

divisora dos principais sistemas atmosféricos atuantes na região. Sendo possível

diferenciar os diferentes padrões de ventos ocorrentes no estado, um para região

Norte e outro para a região Sul, que também se diferenciam sazonalmente: um

correspondente as estações quentes (Primavera e Verão) e outro as estações

Frias (Outono e Inverno).

Sob um olhar mais pontual, na Ilha de Santa Catarina os padrões de vento

encontrados são bem diferentes do resto do estado, isso porque esta região é a

que limita o anticiclone tropical do Atlântico e ventos originados por passagens de

frentes frias (Ventos de sul) (Gomes, 2010).

Com isso, é possível verificar que a série de ventos utilizada (representada na

Figura 20), corresponde com o padrão encontrado por Gomes, (2010), uma vez

que, durante estações quentes (série utilizada) os ventos predominantes

encontram-se variando de Nordeste a Sudeste, representando justamente essa

mudança de direção entre o Norte e o Sul do estado (Figura 21).

Figura 20: Intensidade e direção dos ventos inseridos no modelo numérico.

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Figura 21: Rosa dos ventos cumulativas entre dados de Estações Meteorológicas CIRAM/INMET (a) e satélite QuikSCAT SeaWinds (b) para Ilha do Arvoredo. Cores representam classes de intensidade de vento (m/s) e barra de porcentagem representa porcentagem de ocorrência durante o período.. Fonte: Gomes, 2010

Embora a série de ventos utilizada apresente uma maior ocorrência no

primeiro quadrante (entre Norte e Leste), os ventos de sul são mais intensos,

demonstrando que esta região sofre forte influencia de frentes frias, o que justifica

a necessidade de inclusão da maré meteorológica no modelo.

5.6. Decaimento Bacteriano

A curva média de decaimento bacteriano está esquematizada na Figura 22,

enquanto que a série de decaimento bacteriano empregada no modelo de

transporte Lagrangeano está disposta na Figura 23.

Figura 22: Curvas médias de decaimento bacteriano calculado.

As curvas de decaimento bacteriano forma obtidas através da formulação

proposta por Carvalho et al., (2006). Onde as estações consideradas foram Verão

e Inverno, cujo meses que representaram estas estações no processo de

simulação numérica foram os meses de Janeiro e Julho de 2007 respectivamente.

0

10

20

30

40

50

0 5 10 15 20 25

T90 (

hora

s)

Horas do Dia

T90 Médio Verão Inverno

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Justamente por ser o ano de coleta dos dados de correntes. Com isso a EPAGRI

cedeu uma serie temporal de radiação sobre a superfície do oceano para os

respectivos meses, através da aproximação estatística da profundidade de Sechhi

e valores constantes de temperatura da água (inverno=18°C e verão=24°C),

espessura da pluma e coluna não estratificada, foi possível obter curvas

temporais para decaimento bacteriano, este demonstrado na Figura 23.

Figura 23: Curvas de decaimento bacteriano utilizado no processo de simulação numérica

A curva de decaimento bacteriano referente à estação de verão possui um

valor mínimo de 0,34 horas, máximo de 30,08 horas e uma média 15,80 horas,

enquanto, o valor mínimo de decaimento para o inverno encontra-se em 0,56

horas, máximo de 45,14 horas e a média de 28,62 horas, conforme demonstrado

na Tabela 11.

0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

35.00

40.00

45.00

50.00

T90 (

ho

ras)

Janeiro 2007

Série T90 Verão

0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

35.00

40.00

45.00

50.00

T90 (

ho

ras)

Julho de 2007

Série T90 Inverno

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Tabela 11: Demonstração dos valores máximos, mínimos e médio encontrados para o decaimento bacteriano nas duas estações estudadas.

Verão (Horas) Inverno (Horas)

Mínino 0,34 0,55

Máximo 30,07 45,14

Média 15,80 28,62

A obtenção da feição das curvas se deu por intermédio de registros de

extinção vertical de luz na coluna de água. Estes valores de extinção vertical de

luz apresentaram uma distribuição entre 2 e 13 metros, com moda na

profundidade de três metros e meio, conforme a Figura 8.

Conforme explanado na metodologia, a salinidade e a temperatura adotadas

seguem o padrão encontrado por Carvalho et al., (1998), onde a salinidade

adotada é igual a média da salinidade dos oceanos (35), pois a área de estudo

não apresenta nenhuma aporte significativo de água doce. A temperatura adotada

no modelo de decaimento bacteriano também foi constante (em 18°C para o

inverno e 24°C para o verão). Considerou também que a pluma se manteve com

dimensões constantes (14 metros de espessura).

A curva de T90 adotada apresenta as mesmas características das curvas

encontradas na literatura. Como demonstrado à Topázio (2003), na costa

oceânica de Salvador, Figura 24.

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Figura 24: Valores de T90 Horário no decorrer de um dia em situação de verão e inverno. Podemos observar que os T90 noturno são praticamente iguais no verão e no inverno. Isto ocorre em função de o fator determinante na variação do T90 na região é a quantidade de radiação solar que atinge o corpo d´água, considerando que a variação anual da temperatura dá água é desprezível. Fonte: Adaptado de Topázio, 2003.

Deve-se atentar que a curva apresentada por Topázio (2003), durante o

período noturno e nas diferentes estações apresenta praticamente os mesmos

valores (Figura 24), enquanto que a curva empregada no presente estudo

apresenta, para o período noturno valores diferentes ao longo das estações

(Figura 22). Outro aspecto relevante, é que o ciclo global de decaimento

bacteriano, apresentado para a região do Campeche, Santa Catarina (Figura 22)

é superior ao ciclo encontrado na região estudada por Topázio (2003) (Figura 24).

O fato das curvas de ciclo de decaimento bacteriano possuírem dimensões

diferentes está associado às características oceanográficas locais, uma vez que

na costa nordeste do Brasil, a temperatura da água é praticamente constante ao

longo do ano, enquanto que na costa Sul, segundo a GAPLAN (1987), o litoral

catarinense apresenta clima característico subtropical, e grandes variações de

temperatura ao longo do ano são registradas, tornando as temperatura na coluna

d’água fortemente influenciáveis pelas estações do ano.

5.7. Estratificação da coluna d’água

Com os valores de temperatura ao longo da coluna de água datados de

22/02/2010 a 22/04/2010 é possível analisar a estratificação da coluna de água

espaço-temporalmente, conforme Erro! Fonte de referência não encontrada..

0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

0 6 12 18 24

T9

0 (

ho

ras

)

Horas do Dia

T90 -VERÃO

T90-INVERNO

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54

Figura 25: Demonstra a estratificação da coluna de água na região do Campeche.

5.8. Modelo de Transporte Lagrangeano Advectivo/Difusivo

A simulação matemática da pluma de bactérias considerou situações típicas

de inverno e de verão, ponderando que, tanto o escoamento hidrodinâmico

quanto os valores de descarga foram iguais para as duas estações do ano

simuladas (inverno e verão), sendo que a única diferença entre os modelos foi à

curva de decaimento bacteriano.

Os resultados da distribuição espacial da pluma de Coliformes Fecais serão

demonstrados referenciando-os a legislação CONAMA 357/2005, que segundo o

Art. 1° dispõe sobre classificação e diretrizes ambientais para enquadramento dos

corpos de água superficiais, bem como estabelece as condições e padrões de

lançamentos de efluentes.

Os mapas com a máxima excursão espacial da pluma bacteriana, qual possui

a concentração igual ou acima do limite instantâneo permitido pela legislação

pertinente (CONAMA 357/2005), são representados pelas Figura 26 Figura 28

para inverno e verão respectivamente. Enquanto que os mapas com gradiente de

cor demonstram a concentração que excede em 20% do tempo com

concentrações de coliformes fecais termotolerantes acima ou igual permitido pela

legislação citada, Figura 27 para situação de verão e Figura 29 para situação de

inverno.

.

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Figura 26: Cenário em situação típica de verão. A linha vermelha representa a máxima excursão da pluma com concentração maior ou igual ao limite máximo instantâneo estabelecido na Resolução

CONAMA N° 357/2005 para Coliformes Fecais em Águas Salinas de Classe 1 (2500 NPM/100ml).

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Figura 27: Cenário em situação típica de Verão. Freqüência de excedência superior a 20% dos limites estabelecidos na Resolução CONAMA N° 357/2005 para Coliformes Fecais. A isolinha externa mostra o enquadramento para Águas Salinas de Classe 1 (1000 NPM/100ml). A isolinha do meio mostra o limite do enquadramento para Águas Salinas de Classe 2 (2500 NPM/100ml) e a isolinha interna mostra o limite do enquadramento para Águas Salinas de Classe 3 (4000 NPM/100ml). Esta macha demonstrada na figura seria o local com condições de balneabilidade insatisfatória. Obs.: Os detalhes não estão em escala.

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Figura 28: Cenário em situação típica de Inverno. A linha vermelha representa a máxima excursão da pluma com concentração maior ou igual ao limite máximo instantâneo estabelecido na Resolução

CONAMA N° 357/2005 para Coliformes Fecais em Águas Salinas de Classe 1 (2500 NPM/100ml).

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Figura 29: Cenário em situação típica de Inverno. Freqüência de excedência superior a 20% dos limites estabelecidos na Resolução CONAMA N° 357/2005 para Coliformes Fecais. A isolinha externa mostra o enquadramento para Águas Salinas de Classe 1 (1000 NPM/100ml). A isolinha do meio mostra o limite do enquadramento para Águas Salinas de Classe 2 (2500 NPM/100ml) e a isolinha interna mostra o limite do enquadramento para Águas Salinas de Classe 3 (4000 NPM/100ml). Esta macha demonstrada na figura seria o local com condições de balneabilidade insatisfatória. Obs.: Os detalhes não estão em escala.

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A simulação procedeu-se durante 2592000 segundos em lançamento contínuo

de partículas, onde existiam valores de T90 para cada período de uma hora do dia

(3600 segundos), caracterizando um mês de modelagem numérica. A partir

destes, nota-se que as máximas excursões da pluma de coliformes fecais com

concentrações acima ou igual ao limite máximo instantâneo permitido pela

legislação pertinente, foi maior no cenário de inverno do que no de verão. Esse

fato está claramente associado às diferentes curvas de decaimento bacteriano.

Uma vez que a formulação adotada para calcular esse parâmetro (como descrita

por Carvalho et al., (2006)) tanto a incidência de radiação solar na superfície do

mar quanto a temperatura da água do oceano são levadas em consideração.

Quando analisado estas máximas excursões, associadas às isolinhas de

porcentagem com excedência superior a 20% acima do limite permitido pela

Resolução CONAMA N° 357/2005, nota-se que a máxima excursão,

possivelmente pode estar associada às bactérias que foram lançadas ao final da

tarde (pôr do sol), prolongando-se durante toda noite, período do dia em que

aumenta drasticamente a sobrevida das bactérias. Pois os mapas de isolinhas

demonstram a concentração considerada imprópria pela legislação durante um

período de 80% do tempo simulado, onde estes apresentam distribuição espacial

reduzida em relação à máxima excursão.

As plumas bacterianas possuem sua maior excursão durante a noite, tocando

ou atingindo proximidade com a costa, desta forma é possível identificar um risco

eminente de contaminação da população, pois se trata de uma região com forte

apelo turístico. Embora exista esse risco de contaminação, ele é minimizado, pois

a estação onde a pluma alcançou maiores distâncias trata-se do inverno, o que

diminui a ocupação da região (consequentemente a disposição de esgoto

doméstico).

É importante frisar que na área de estudo, há atuação de estratificação de

densidade na coluna d’água, porém os resultados foram gerados sem considerar

este fator, em virtude da limitação deste tipo de modelo (modelo barotrópico).

Aliado a uma subestimação da energia de correntes, esta simulação pode não

representar o verdadeiro padrão de distribuição espacial da pluma bacteriana.

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6. Conclusão

Para o cálculo do decaimento bacteriano foram utilizados valores constantes

de espessura da pluma bacteriana, salinidade e temperatura da água. No entanto,

este cálculo se mostrou eficiente, pois variou conforme os padrões mencionados

na literatura, ou seja, aumentando a sobrevida bacteriana nos períodos noturnos

e mais frios, e diminuindo ao longo do dia com o aumento gradativo de

luminosidade e/ou temperatura.

Os dados cedidos pela EPAGRI mostraram-se altamente confiáveis, já que

tanto os dados de radiação solar, inseridos no cálculo de decaimento bacteriano,

quanto a série de vento utilizada, foram satisfatórios, seguindo os mesmos

moldes da literatura.

A modelagem numérica mostrou-se bastante eficiente em representar a

elevação da superfície livre, o que pode estar associado à robustez dos dados

utilizados na condição de contorno, ou seja, a maré nos extremos do domínio

modelado, permitindo calcular com precisão a defasagem da maré e transpor

esses valores para cada nó do contorno aberto, no entanto é pouco eficiente para

energia total das correntes. Essa falha pode estar associada à ausência de

valores reais de rugosidade do fundo e batimetria desatualizada uma vez que

estes parâmetros são importantes artifícios no processo de calibração do

escoamento hidrodinâmico, ou à baixa densidade de pontos de série temporal de

correntes, considerando que este modelo necessitou assimilar os dados de

corrente obtidos junto a Praia dos Ingleses, para aumentar a proximidade do

escoamento hidrodinâmico simulado com o real. Contudo, se houvesse uma

maior abrangência de dados referentes a correntes marinhas, seria possível

melhorar a validação dos dados de corrente.

Por fim, conclui-se que diante dos resultados apresentados, o emissário

submarino na Região do Campeche apresenta alguns pontos negativos para sua

implantação, isso baseando-se na legislação pertinente (CONAMA N°357/2005),

uma vez que a pluma de limite instantâneo permitido pela legislação alcançou à

costa em determinados momentos. Mas vale ressaltar que para o correto

dimensionamento do emissário submarino seria necessário proceder com o

cálculo do modelo de campo próximo, uma vez que este processo é um

importante agente na depuração dos coliformes fecais lançados no ambiente

hídrico. Podendo assim, com o devido cálculo este emissário tornar-se viável para

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esta região. Tornando-se-se necessário uma análise detalhada dos padrões

hidrodinâmicos, ou simular novas alternativas de construção do emissário.

O modelo utilizado apresentou limitações como a não inserção da

estratificação da coluna de água, além de subestimar o escoamento

hidrodinâmico, o que pode acarretar em uma distribuição espacial subestimada da

pluma bacteriana, já que esta é fortemente influenciada pelos processos de

advecção e difusão, tornando assim necessária uma análise meticulosa destes

resultados.

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7. Considerações Finais

Quanto à validação do escoamento hidrodinâmico, o mesmo mostrou-se

insatisfatório, pois o R² apresentado para os diagramas de dispersão das

componentes não apresentaram boa correspondência. Tornando o modelo

limitado em reproduzir a energia do ambiente, bem como a dispersão da pluma

poluente.

A fim de aprimorar os resultados de simulações futuras, sugere-se:

Utilizar um modelo 3D para melhor representar o escoamento

hidrodinâmico ao longo do domínio modelado, bem como inserir a

presença de estratificações da coluna de água;

Acoplar um modelo de ondas ao modelo de transporte. Já que este

fenômeno possui significativa energia, o que favorece o transporte da

pluma contaminante;

Coletas simultâneas de dados meteo-oceanográficos, em vários pontos ao

longo do domínio modelado, visando melhorar a calibração do modelo, que

por sua vez melhorará a validação do mesmo;

Acoplar ou utilizar os dados de um modelo de campo próximo ao modelo

hidrodinâmico tri-dimensional, a fim de permitir uma melhor acurácia dos

resultados de dispersão da pluma bacteriana.

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