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Modelo de avaliação PNAIC: relações entre universidade e
escola na formação continuada
Priscila B. da Silveira1
1Programa de Pós Graduação Em Educação – Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS) – Porto Alegre – RS – Brazil
Abstract. This paper describes the assessment model proposed by Pacto pela
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) about continuing training. The study
has the purpose to understand the legal program requirements and compose
relations about practices of teachers involved in the network formation. The
assessment program proposed has the prospect to ensure the teaching
qualification and learning process. The evaluation perceptions has showed
consistency within the network formation.
Resumo. O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o modelo de
avaliação proposto pelo programa Pacto pela Alfabetização na Idade Certa
(PNAIC) com base em uma cadeia multiplicadora de formação continuada. O
trabalho buscou compreender as determinações legais do Programa e compor
relações entre práticas dos sujeitos envolvidos na cadeia de formação a partir
de entrevistas semiestruturadas. A avaliação proposta pelo programa tem a
perspectiva formativa e tem como objetivo garantir a qualificação do
processo de ensino e aprendizagem. As percepções sobre avaliação
demonstraram consonância dentro da cadeia de formação.
1. Introdução
Com a mudança de organização do Ensino Fundamental e o ingresso das crianças de
seis anos, houve a necessidade de reflexão sobre o que se espera da escolarização
inicial. Com isso, o aumento dos programas de formação continuada promovidos pelo
Ministério da Educação (MEC) permitiu uma maior aproximação entre os profissionais
da Educação Básica e os docentes que atuam em universidade.
O presente artigo se produz a partir dos estudos sobre avaliação no ciclo de
alfabetização em relação às implicações da formação continuada de professores
promovida pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). O trabalho
busca entender como práticas de avaliação da aprendizagem de professoras do final do
ciclo de alfabetização dialogam com a avaliação proposta pelo PNAIC através de uma
cadeia multiplicadora de formação continuada
Este modelo que será apresentado não se trata da avaliação do ensino superior,
mas de responsabilidade das universidades enquanto formadoras de profissionais da
escola básica. É preciso considerar que o PNAIC é um programa recente, a formação
continuada iniciou em 2013. Este estudo ainda está em andamento, portanto suas
considerações são provisórias.
Buscou-se problematizar as concepções de avaliação das professoras
universitárias e das professoras da rede para entender como estão se construindo os
modelos de avaliação nos primeiros anos da implementação do PNAIC. Os ciclos de
alfabetização e a progressão continuada são mudanças que trazem implicações diretas
para as práticas avaliativas e para o trabalho docente, pois implicam um repensar da
função da avaliação da aprendizagem.
O artigo tenta compreender as concepções de avaliação a partir da
implementação do PNAIC sob a perspectiva dos sujeitos envolvidos na formação
continuada do programa. O trabalho se propõe a dialogar com as ações e determinações
legais do programa, e as práticas das professoras1 de uma cadeia multiplicadora de
formação continuada em relação à avaliação do ciclo de alfabetização.
2. Percurso metodológico
A pesquisa caracteriza-se como qualitativa. A abordagem metodológica deste estudo
configura-se como exploratório/ descritivo. O estudo exploratório busca familiarizar o
pesquisador com um fenômeno cuja compreensão não está dada de imediato. Gerhardt
e Silveira (2009) explicam que as pesquisas descritivas podem ter a finalidade de
descrever as características do fenômeno.
Dessa forma, procedeu-se a exploração e a descrição do Programa a partir da
análise documental dos cadernos de formação do PNAIC. Em sequência, foram
realizadas entrevistas semiestruturadas com professoras envolvidas no Programa de
formação continuada.
A seguir apresenta-se um Diagrama de Venn com a representação do marco
conceitual da pesquisa. A Figura 1 demonstra os principais temas que foram articulados
no estudo para responder as questões da investigação.
1 Durante o texto o uso de “professoras” no feminino porque no estudo todas as participantes eram
mulheres
Figura 1 - Diagrama de Venn com desenho do estudo. Fonte: autora.
A análise documental do estudo tratou de estudar os documentos do PNAIC,
especificamente cadernos de formação propostos pelo programa, com o objetivo de
gerar dados sobre como se concretizou a proposta na prática escolar cotidiana e como
está sendo construído o conceito de avaliação no contexto do ciclo. Os eixos de análise
dos materiais do Programa foram: avaliação, ciclo de alfabetização e formação de
professores. O objetivo desta análise foi compreender como está sendo proposta a
avaliação do ciclo de alfabetização a partir da formação continuada.
O seguimento da pesquisa foi realizar entrevistas semiestruturadas com
professoras envolvidas na formação continuada do Programa para identificar como
estão se constituindo práticas avaliativas ao final do ciclo. Os sujeitos desta pesquisa
foram professoras que constituíam uma cadeia multiplicadora na formação continuada
(formadora, orientadora de estudo e alfabetizadoras). O acesso a essa rede de docentes
foi possível através de uma entrevista com uma fonte privilegiada, coordenadora do
programa em uma das universidades parceiras do PNAIC, a universidade Federal de
Santa Maria (UFSM). A Coordenadora indicou que a escolha da cadeia de formação
deveria seguir o critério de serem trabalhos considerados de sucesso na proposta do
ciclo de alfabetização.
Segue abaixo um desenho da sequência das entrevistas com a cadeia de formação
continuada:
Figura 2 - Cadeia multiplicadora de formação. Fonte: autora.
Para manter em sigilo a identidade das participantes, elas foram citadas neste
artigo como: Formadora, Orientadora, Alfabetizadora A e Alfabetizadora B. Na Figura 2
é possível observar que a cidade na qual as professoras da rede trabalhavam foi
intitulado município L. As entrevistas foram estruturadas a partir de questões sobre os
temas: avaliação, ciclo de alfabetização e formação continuada. Os encontros com as
docentes duraram aproximadamente uma hora.
O material coletado nas entrevistas foi transcrito e analisado a partir de três eixos
analíticos: Contribuições sobre avaliação na relação escola e universidade; Avaliação
na formação continuada; e Práticas avaliativas de uma cadeia de formação continuada
do PNAIC.
3. O programa PNAIC e sua proposta de avaliação
O PNAIC é um compromisso entre Governo Federal e os estados e municípios, com o
objetivo de alfabetizar todas as crianças até os oito anos de idade. O programa foi
organizado a partir de quatro eixos de atuação: 1 - Formação continuada presencial para
os professores alfabetizadores e seus orientadores de estudo; 2 - Materiais didáticos,
obras literárias, obras de apoio pedagógico, jogos e tecnologias educacionais; 3-
Avaliações sistemáticas; 4 - Gestão, mobilização e controle social.
A formação continuada é organizada por universidades públicas parceiras do
PNAIC. No Rio Grande do Sul temos duas universidades que são sede das formações: a
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal de Pelotas
(UFPel). Neste estudo a UFSM foi o recorte realizado para atingir o objetivo de
entrevistar a rede de professoras.
A universidade forma os orientadores de estudo, professores da rede; a partir
disso, cada orientador tem sob sua responsabilidade aproximadamente 30 professores
alfabetizadores. Os orientadores são responsáveis por: ministrar o curso de formação;
acompanhar a prática pedagógica de seus professores; avaliar frequência; manter
registros de atividades; apresentar relatórios à universidade.
De acordo com o caderno de formação de professores do programa a
organização dos cursos é a seguinte:
[...] carga horária de 120 horas por ano, cuja metodologia propõe
estudos e atividades práticas. Os encontros com os professores
alfabetizadores serão conduzidos por Orientadores de Estudo. Os
Orientadores de Estudo são professores das redes, que farão um curso
específico, com 200 horas de duração por ano, ministrado por
universidades públicas. É recomendável que os Orientadores de
Estudo sejam selecionados entre a equipe de tutores formados pelo
Pró-Letramento no município ou estado. No Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa serão desenvolvidas ações que
contribuam para o debate acerca dos direitos de aprendizagem das
crianças do ciclo de alfabetização; para os processos de avaliação e
acompanhamento da aprendizagem das crianças; para o planejamento
e avaliação das situações didáticas; para o conhecimento e uso dos
materiais distribuídos pelo Ministério da Educação, voltados para a
melhoria da qualidade do ensino no ciclo de alfabetização. (BRASIL,
2012c, p. 24)
O PNAIC teve como referência outros programas de formação continuada que
ocorreram antes de sua implementação, o Programa de Formação Continuada para
Professores de Séries Iniciais do Ensino Fundamental (Pró-Letramento), de acordo com
os estudos de Gatti, Barretto, André (2011) foi constituído em 2005, organizado para
orientar o trabalho de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental com o
objetivo de assegurar uma melhoria na qualidade da aprendizagem da leitura/escrita e
matemática. Também houve o Programa de Formação de Professores Alfabetizadores
(Profa), que foi implementado a partir de 2001, com o objetivo de constituir um modelo
para formação continuada de alfabetizadores, buscando como referência as situações e
problemas encontrados na prática docente.
Os cadernos de formação defendem a necessidade de se garantir uma formação
continuada para docentes que já atuam nas escolas e redes municipais e estaduais.
Nesse sentido, o Programa busca garantir o direito à formação continuada a todos os
professores alfabetizadores, tendo como referência a realidade da sala de aula.
(BRASIL, 2012a).
[...] é necessário definir as políticas de formação com base nos
resultados das avaliações realizadas e garantir que na formação
continuada o cotidiano da sala de aula, ou seja, a prática docente, seja
objeto central de atenção. A teorização da prática deve constituir o
eixo nuclear das ações formativas (BRASIL, p.13, 2012a).
Para contemplar o acompanhamento da formação continuada, os orientadores
devem voltar para universidade e discutir com os formadores sobre o andamento das
formações com os alfabetizadores e redefinir os próximos encontros. Nesse sentido, a
proposta visa tratar as necessidades docentes a partir de situações-problemas da sala de
aula.
A avaliação é um dos eixos estruturantes do PNAIC e está apresentada a partir
de três aspectos principais: 1- Avaliações processuais, discutidas no curso de formação
para serem desenvolvidas continuamente pelo docente junto aos alunos; 2 - Os
professores devem utilizar um sistema informatizado para inserir os resultados da
Provinha Brasil sobre cada aluno, no início e no final do 2º ano, com o objetivo de
acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem das crianças e repensar estratégias
visando alfabetizar todos os alunos até o final do ciclo. 3 - Avaliação Nacional da
Alfabetização (ANA), é uma avaliação para o 3º ano do ciclo, foi organizada e
coordenada pelo Inep, com o objetivo produzir indicadores do processo de alfabetização
nas escolas públicas brasileiras.
A formação continuada do Programa está subsidiada à concepção de avaliação
progressista. De acordo com o documento:
Ao se adotar uma concepção mais progressista, pode-se considerar a
avaliação como uma ação que inclui os vários sujeitos, ou seja, como
uma ação intencional que se dá de modo multidirecional. Dessa forma,
o que se busca é um sistema integrado de co-avaliação, no qual
docentes, discentes e equipes de profissionais da escola e de outros
sistemas avaliam e são avaliados. (BRASIL, 2012b, p.07).
A proposta de avaliação do PNAIC é formativa, pois visa colaborar no
desenvolvimento da criança considerando a aprendizagem como um direito do aluno. O
Programa busca romper com a lógica punitiva e excludente da avaliação escolar. Como
pode ser observado a seguir:
[...] a avaliação precisa ser feita para garantir as aprendizagens e não
para punir os que não aprenderam — como outrora acontecia nas
escolas de todo o mundo. O foco é em uma avaliação formativa,
voltada para a redefinição permanente das prioridades e planejamento
contínuo do fazer pedagógico. As avaliações diagnósticas utilizadas
para conhecer as crianças e detectar quais saberes elas já dominam são
pontos de partida para planejar estratégias para aproximá-las da escola
(BRASIL, 2012a, p. 22).
Nesse sentido, a organização do ciclo de alfabetização como um bloco
sequencial pelo qual não haverá retenção do aluno dentro desses três anos exige uma
avaliação de acompanhamento do processo de aprendizagem. Segundo o Programa, o
planejamento pedagógico é considerado uma ferramenta vital para o processo de
avaliação “[...] avaliação possibilita ao docente uma compreensão do processo de
construção das aprendizagens pelos estudantes e de reflexão sobre as estratégias de
ensino”. (BRASIL, 2012b, p.08).
A perspectiva da avaliação formativa visa qualificar o processo de
aprendizagem do aluno. A prática avaliativa deve continuamente acompanhar o aluno e
repensar estratégias para intervir de modo a garantir que o educando aprenda. A
proposta do PNAIC está em consonância com as ideias de Luckesi (2011, p. 101): “A
avaliação da aprendizagem existe propriamente para garantir a qualidade da
aprendizagem do aluno. Ela tem a função de possibilitar uma qualificação da
aprendizagem do educando”.
A partir da proposta de avaliação formativa, a relação professor e aluno pode ser
mais horizontal. As práticas avaliativas são instrumentos para reflexão sobre os
objetivos atingidos e sobre as próximas ações que visam garantir a aprendizagem dos
alunos. Nesse sentido, a organização do ciclo de aprendizagem propõe uma
continuidade do processo de aprendizagem.
O objetivo do Programa é garantir as aprendizagens dos alunos para superar a
exclusão e evasão escolar. As concepções do PNAIC estão vinculadas com as posições
teóricas de Perrenoud (2004) que define ciclo de aprendizagem do ponto de vista da
educação como direito, e não excludente. Como pode ser observado nas palavras do
autor:
A condição de tal desenvolvimento profissional é, evidentemente,
perceber o interesse e a pertinência de uma organização da
escolaridade com ciclos plurianuais, sabendo que não se trata de um
fim em si mesmo, mas de um meio de tornar a escola mais justa e
eficaz. (PERRENOUD, 2004, p.18).
4. Conhecendo uma realidade: a cadeia multiplicadora de formação
Conforme foi demonstrado na metodologia, foram realizadas cinco entrevistas: uma
com a coordenadora do programa na UFSM, como fonte privilegiada, e também houve
acesso a uma cadeia multiplicadora de formação continuada do PNAIC, composta por
quatro entrevistas: uma formadora (universitária), uma orientadora de estudo
(professora da rede) e duas alfabetizadoras.
A seguir apresentam-se as docentes entrevistadas:
Coordenadora: professora há 17 anos na UFSM do Programa de Pós Graduação em
Educação, Mestrado e Doutorado. Coordena o PNAIC há 3 anos, desde o início do
programa, dezembro de 2012.
Formadora: É formada em Pedagogia, tem Especialização em Educação Infantil,
Mestrado em Educação, Doutorado em Educação pesquisando o Ensino Superior e
Escola Básica e Pós- Doutorado em resiliência docente, ainda em andamento. Participa
da formação do PNAIC desde o início.
Orientadora: Sua formação inicial é magistério, a graduação em Ciências Físicas e
Biológicas, Especialização em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica. Com 15 anos
de profissão, trabalha na rede estadual e na rede municipal de ensino. Também trabalha
com o PNAIC desde o início da formação continuada.
Alfabetizadora A: Formada em pedagogia nos Anos Iniciais e EJA, fez Especialização
em Educação Interdisciplinar. Trabalha há 6 anos como professora. Participou dos três
anos de formação do PNAIC. Atualmente trabalha com uma turma de 3º ano.
Alfabetizadora 2: Formada em Pedagogia, cursa Especialização em Psicopedagogia,
também é professora de informática, além de ser professora da rede municipal.
Participou da formação do PNAIC no ano de 2015.
As contribuições sobre avaliação na relação escola e universidade evidenciaram
as perspectivas docentes em consonância com a proposta do Programa que visa
qualificar o processo de aprendizagem dos alunos. Destaca-se o protagonismo docente
como possibilidade de qualificação das estratégias e das experiências em sala de aula.
As professoras indicaram construir a prática avaliativa através da reflexão e do
compartilhamento de experiências.
A formadora aponta o acompanhamento das orientadoras através de feedbacks
que elas apresentam em seus relatórios:
Os relatórios que são enviados, esses relatórios eles são o que? Um
exercício reflexivo sobre tua própria prática como orientadora, então
precisa se articulado essa ideia de que não depende do outro....
depende do outro, mas depende também de mim porque para o outro
eu também sou o outro, então esse deslocamento, essa transposição
de papéis precisa ser assumida e na educação há uma tendência
muito grande de que sempre o de fora pode vir pra dentro e dizer o
que deve ser feito.... por que? Porque nós que abrimos espaço pra
isso né... alguém só toma teu espaço se tu não ocupaste este espaço,
porque ninguém ocupa o mesmo espaço [...]. (FORMADORA).
O município L, representado pela orientadora de estudos, organiza a formação
continuada vinculada com a hora-atividade das professoras do ciclo de alfabetização.
Com isso, é garantido esse horário da formação para as docentes, na hora atividade a
turma de cada alfabetizadora fica sob responsabilidade de um oficineiro.
A orientadora destaca que além da garantia da hora-atividade, o município L
também organizou um currículo unificado:
[...] então está sendo garantido aí dois direitos do profissional
que primeiro é o direito à formação continuada, segundo que é
da hora atividade né então as duas propostas estão nesse
mesmo momento. E a gente faz esses encontros, quando não
conseguimos fazê-lo presencial, no grupo de encontro, os
professores do ciclo planejam juntos. Juntos por quê? Porque o
currículo da rede municipal [...] foi construído para o ciclo de
alfabetização, então não existe um currículo para o 1º ano, outro
para o 2º e outro para o 3º, é um currículo unificado então com a
ideia justamente de iniciar a proposta.... o desenvolvimento dos
direitos de aprendizagem das crianças, aprofundar no 2º ano e
consolidar. Então se a gente pensa o direito que a criança lá do ciclo
de alfabetização à leitura, ele não é próprio da criança do 1º ano ou
do 2º ou do 3º, ela é de todas as crianças do ciclo, então é um mesmo
direito que tem que ser introduzido, aprofundado e consolidado.
Então é dessa forma que se construiu o currículo do ciclo de
alfabetização, um currículo unificado. (ORIENTADORA).
Eu acho que foi a qualificação da minha prática [...] Mas quando
você precisa de alguma forma ensinar alguém, e esse alguém precisa
aprender, isso se torna diferente, enquanto só eu aprendia tudo bem,
eu posso dar conta. Daí quando essa demanda aumentou, o PNAIC
me ajudou de alguma forma. Se o meu planejamento estava de forma
adequada com aquela proposta que é apresentada pelos direitos da
aprendizagem e que forma, se a forma como estava realizando essa
metodologia também tava adequada, acho que foi isso a grande
melhoria qualificar minha prática. (ALFABETIZADORA B).
Em relação à avaliação também foi destacado a oportunidade de refletir sobre
práticas avaliativas em um espaço de formação continuada como direito do profissional.
Nesse sentido, a cadeia de formação investigado demonstrou buscar estratégias para
integrar os docentes com o objetivo de pensar coletivamente sobre as ações da
avaliação da aprendizagem.
A orientadora apontou três pontos relevantes da organização da formação
continuada no município investigado: (1) conquista da confiança desses profissionais
(2) pertencimento de grupo (3) formação como um direito do profissional. Sendo assim
faz parte da formação a orientadora ir até as escolas das alfabetizadoras para
acompanhar o trabalho que está sendo realizado no ciclo:
Existe a necessidade desse acompanhamento, não é algo imposto, é
algo necessário. Então acho que essa é outra diferença a abertura
que foi dada para esta avaliação. Além disso, os professores tem um
momento de relato, da mesma forma como nós nas nossas formações
temos esse momento, na formação na rede municipal das
experiências, do que está sendo produzido, das dificuldades, dos
desafios, então a gente também avalia a fala dos profissionais, então
além de visualizar, de perceber em sala de aula a gente também
escuta muito, porque acho que é momento de troca, momento de
compartilhar. (ORIENTADORA).
O trabalho na formação continuada parte de pensar junto com os professores
sobre como estão construindo suas práticas avaliativas:
[...] não adianta tu dizer “é assim que se faz!” ou “É dessa forma
que se faz”, é refletir sobre isso... como a gente está fazendo? Está
dando resultado? por que eu estou avaliando o aluno? pra que serve
a avaliação? Então vamos refletir sobre isso! E é a partir dessa
reflexão que as práticas foram se modificando. Então quando o
profissional percebe ou tem a necessidade de fazer de forma
diferenciado é que as coisas realmente acontecem.
(ORIENTADORA).
Todas as professoras apontaram a avaliação formativa como destaca no trabalho
no PNAIC. Entre as entrevistadas, apenas a formadora não especificou os critérios
avaliativos, pois esta professora destacou como a avaliação não deve acontecer.
Em relação à avaliação, a coordenadora aponta seis aspectos principais
propostos pelo PNAIC: (1) as capacidades que deveriam ser avaliadas no primeiro ano,
no segundo e terceiro ano; (2) trabalho de continuidade; (3) diária; (4) diagnostico; (5)
a criança pela criança, não a criança comparada ao todo; (6) avaliar cada criança, o
crescimento daquela criança.
A professora também destacou outros aspectos a observar enfatizando a
necessidade da avaliação diária:
Não adianta reprovar uma criança e continuar com a mesma
metodologia de trabalho. [...] Isso é uma coisa que me indigna
porque só ter o prazer de reprovar... “Ai eu fiz o meu trabalho! Eu
reprovei”, não, quando reprova uma criança... a reprovada também é
o professor alfabetizador, é o secretário municipal, é o prefeito, é a
câmara dos vereadores, é a comunidade como um todo, é a família
que reprova junto com aquela criança... A gente tem batido muito:
avaliação semanal, diária de acompanhamento
.(COORDENADORA).
De acordo com a orientadora a avaliação deve ser diagnóstica, formativa e
contínua:
(1)diagnóstica, a partir desse diagnóstico ela ter uma visão
(2)formativa porque não basta apenas eu diagnosticar; (3)contínua,
constante durante todo processo, então não cabe mais a avaliação
entendida apenas como o retorno do que o professor ensinou; 4)cada
aluno tem um desenvolvimento,uma caminhada. uma vivencia e que a
gente não pode olhar de uma mesma forma [...].(ORIENTADORA).
[...] nós temos que entender a avaliação como forma de entender
onde aquela criança está naquele momento, e ela serve até para que
cada professor possa reorganizar a sua prática o seu planejamento,
porque o planejamento deve estar adequado ao processo à fase que a
criança está. (ORIENTADORA).
As alfabetizadoras também apontaram a avaliação formativa como parte de um
trabalho no qual as práticas avaliativas visam acompanhar a aprendizagem através da
observação constante:
Eu acho que ainda é uma avaliação mais ampla que ela é mais fácil
de você entender o que acontece com cada um, então não é só a nota
que interessa, não é só a prova que interessa, é o desempenho em sala
de aula, é o que o aluno me responde em sala de aula... às vezes ele
fica tão nervoso na hora de uma prova que ele não vai me dizer
exatamente o que ele sabe, então eu acho que o ciclo de avaliação no
ciclo é muito bom, eu acho muito bom! (ALFABETIZADORA A).
É o primeiro processo ali de avaliação é essa como eu te falei a
diagnóstica no inicio do ano né a partir dela que a avaliação tem a
importância que a partir dela eu vou tomar como ponto de partida do
meu trabalho, eu vou planejar a partir do resultado que eu tive com
essa avaliação né e sempre eu vou adequar também a minha
demanda dos meus alunos a partir da avaliação, por isso que ela é
tão importante, por isso eu tenho que realizar ela no inicio do ano, eu
não posso começar e fazer um planejamento sobre meu aluno ideal,
eu preciso fazer um planejamento a partir de um aluno real, eu vou só
conhecer meu aluno real a partir do ato de avaliar.
(ALFABETIZADORA B).
Na entrevista com a formadora foram destacados aspectos de como não deve ser
a avaliação, mas pouco a formadora descreveu qual é sua a postura avaliativa no
programa:
[...] tu não pode simplesmente profetiza e trabalha o ano inteiro pra
realiza essa profecia no final do ano, então esse resultado no final do
ano ele só vai ser positivo porque, embora os processos de avanços
sejam diferenciados, todo mundo pode crescer, todo mundo pode ser
avaliado neste ritmo de crescimento que é seu.... a dificuldade é do
professor em perceber essas diferenças. (FORMADORA).
As professoras da cadeia de formação destacaram a dificuldade da compressão
entre o final do ciclo de alfabetização com o 4º ano do ensino fundamental. As
professoras mencionam a necessidade de uma articulação com 4º ano. Como pode ser
observado nos excertos a seguir:
[...] quando chega do 2º ano pro 3º esse tem sido um problema muito
sério pra nós universidades porque as pessoas ainda acham que tem
que reter os alunos e não fazer esse trabalho com o 4º ano, mas
algumas experiências a gente tem valorosas assim... a gente tem
municípios que pegaram a formação do Pacto que é pro 1º, pro 2º e
3º ano, elas pegaram professores do 4º, do 5º e do 6º ano e botaram
em formação continuada, mesmo não sendo obrigatória.... eles
botaram esse profissionais a trabalhar, a receber formação
continuada em serviço. Isso pra mim foi um ganho.
(COORDENADORA).
[...] todos aderiram, inclusive alguns professores do 4º ano, que não
entram no ciclo de alfabetização, já procuraram para participar dos
momentos de formação em virtude do que vem sendo trabalhado e
que percebem esse trabalho dentro da escola. (ORIENTADORA)
Nós do ciclo, aqui do 1º ao 3º, a gente tem essa forma de avaliar aí
chega lá pra minha colega do 4º ano ela não vai entender da mesma
forma que eu entendi, ela não vai saber por que aquele aluno que
ainda não tá lendo fluentemente foi aprovado, foi né, então eu acho
que essa formação deveria continuar pros outros professores até pra
eles entenderem o porque do ciclo, de todo o avanço dos alunos.
(ALFABETIZADORA A).
[...] aí também o 4º e 5º ano tem algumas propostas que utilizam já
vai ser uma diferença na proposta por isso desse ciclo vou iniciar vou
concluir, não reter, possibilitar que o aluno consiga realizar todo esse
processo. (ALFABETIZADORA B).
Através dos excertos das entrevistas, é possível observar um esforço de toda a
cadeia de formação em compreender as necessidades da implementação do ciclo e as
dificuldades de articular a avaliação do final do ciclo com o 4º ano. É preciso
considerar que o 3º ano é o primeiro momento em que os alunos poderão ser retidos
dentro do ciclo, por isso o empenho em articular o acompanhamento do ano seguinte ao
ciclo se torna essencial para o monitoramento das aprendizagens dos alunos.
Apesar da proposta dos materiais do PNAIC que indicam a acompanhamento
dos processos de ensino e aprendizagem a partir de um trabalho conjunto, as
professoras demonstram que ainda não foi possível integrar esse processo de
acompanhamento como equipe de professores e escola. Além disso, a organização de
co-avaliação na qual os professores também são avaliados, ainda não foi evidenciado.
5. Considerações provisórias
O presente trabalho objetivou analisar a proposta do PNAIC e as perspectivas da cadeia
multiplicadora de formação sobre avaliação. Destaca-se que o PNAIC por se tratar de
um Programa de nível nacional não é uma realidade representativa, pois vai se aplicar
sobre uma base muito heterogênea de experiências de ensino e condições de
escolarização. Nesse sentido, as considerações deste artigo também não são
representativas.
Nas entrevistas, a avaliação formativa foi apresentada como uma continuidade
da proposta dos documentos do PNAIC, pois foi destacado o objetivo de avaliar para
garantir a qualificação do processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, as
professoras têm uma perspectiva da avaliação em consonância com o Programa em sua
proposta avaliativa que não se separa do planejamento.
As professoras indicaram a necessidade de articulação entre os professores no
acompanhamento da avaliação dos alunos, por exemplo, na passagem entre o final do
ciclo e o 4º ano. Esta questão também estava em consonância entre as professoras da
cadeia multiplicadora. Com isso, é possível indicar que as professoras da universidade
estão dialogando com os problemas encontrados pelas alfabetizadoras na escola. Porém
parece que a ideia do exercício de um sistema integrado de co-avaliação proposto no
programa ainda não foi construída na prática docente.
Outro destaque foi o empenho do município L e da orientadora da rede em
organizar o currículo unificado e garantir a hora atividade. Esse é um ponto relevante da
formação continuada, pois permite o direito do profissional em continuar a formação
docente ao longo de sua carreira. Nas falas das entrevistas assim como nos cadernos do
PNAIC foi possível perceber a proposta de formação permanente. Este parece ser um
ponto relevante na implementação do Programa, pois a integração com as redes é
imprescindível para que o PNAIC pode ser concretizado.
Neste artigo foi levantado um olhar sobre a relação entre a proposta e a prática
avaliativa em uma cadeia de formação do PNAIC, porém as considerações demonstram
a complexa relação da avaliação para promover a qualidade das aprendizagens.
Referências
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de 2010 – Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9
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