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6 | P&C 66 | Janeiro > Junho 2019
Em Análise
Modelo de avaliação das condições de utilização de edifícios com valor patrimonial face à humidade
O Património é constituído por todos os bens que de alguma forma contribuíram para a história e para o desenvolvimento de uma cultura, de um país ou de uma sociedade. Ao longo de mais de 800 anos foram construídos em Portugal um número muito relevante de edificações com valor patrimonial que devem ser preservadas pelo seu valor cultural e científico. A sua conservação e reabilitação devem ser abordadas permanentemente por quem tutela o Património, sendo, por isso, desejável dispor de ferramentas para auxiliar os gestores na tomada de decisão, baseadas no conhecimento do grau de degradação do bem patrimonial.
m 1985 foi aprovado o Decreto-Lei n.º 13/85 que define o Património Nacional Português como o conjunto de bens materiais e imateriais que estão sujeitos a uma determi-nada exposição e vulnerabilidade e que, pelo seu valor próprio, são considerados como de interesse para a identidade cultural portugue-sa. O mesmo decreto define também os direi-tos e os deveres dos cidadãos portugueses e do Estado perante o Património Cultural.
O Património não só é um elemento crucial na preservação cultural, como também é um recurso turístico não replicável que constitui um dos principais motivos para os visitantes escolherem o seu destino. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, o turismo em Portugal tem crescido atingindo em 2017 cerca de 24 milhões de hóspedes, o que representa um aumento de mais de 10% em relação ao ano anterior. O aumento da pre-sença de turistas em Portugal tem um impac-to na economia muito positivo e na atividade cultural que tem de traduzir-se no Orçamento de Estado. Refira-se que aquando da divul-gação do último Orçamento de Estado para a cultura se definia como objetivos a consoli-dação e valorização do património material e imaterial português.
É necessário refletir sobre o que tem sido feito e que estratégias estão a ser tomadas sobre conservação e reabilitação do Património Imóvel Português. É crucial compreender que
E
Manuel Luís Aranha | Mestre em Engenharia Civil, FEUPVasco Peixoto de Freitas | Presidente do GECoRPA, Professor Catedrático da FEUP e Consultor
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1 | Quantificação do Património Cultural Português.
2 | Distribuição geográfica do Património Cultural Português.
Tutela do património
Conhecer quem tutela e quem gere o Património Nacional é outro aspeto relevante na caracteri-zação do Património Edificado, bem como iden-tificar necessários investimentos.
Foi efetuado o levantamento dos dados dis-poníveis sobre quem tutela/gere o património, tendo-se concluído que a informação disponível é escassa. A figura 3 mostra que cerca de 44% dos imóveis classificados como Património Cultural não têm a entidade responsável defi-nida. Apesar disso, podemos observar que a maior parte dos imóveis classificados são geri-dos por entidades públicas, apesar do número de entidades privadas não ser muito inferior.
Procuramos quantificar nos parágrafos seguintes os dados disponíveis sobre Museus, Património Religioso, Palácios e Património Industrial, dada
Tipificação do património
O Instituto Nacional de Estatística (INE) apresen-ta anualmente os dados relativos ao Património Edificado em Portugal, com a colaboração da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), onde destaca a categoria, a tipologia, a enti-dade responsável pela tutela e a distribuição geográfica do Património português.
O relatório mais recente, publicado em finais de 2018, apresenta os valores do ano de 2017, onde foram classificados 4 521 bens imóveis como Património Nacional.
Tal como se pode observar na figura 1, dos 4 521 bens imóveis classificados como Património Cultural Português a maior parte está classificado como fazendo parte de “Arquitetura Civil” e “Arquitetura Religiosa”, representando cerca de 80%.
1
2500
2000
1500
1000
500
0Sítios
ArqueológicosArquitetura
CivilArquitetura
MilitarArquitetura
MistaArquitetura
Religiosa
TIPOLOGIA DO PATRIMÓNIO
566
29048
2207
1410
2
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO PATRIMÓNIO
1500
1000
500
0Norte Centro Área
Metropolitanade Lisboa
Alentejo Algarve
654 726
1127
173
Região Autónoma dos Açores
298
Região Autónoma da Madeira
171
1372
o património é uma herança que recebemos e que reflete a nossa identidade cultural. Portugal, por ter uma extensa lista de bens considerados como patrimoniais, necessita que a tipificação deste tipo de imóveis seja feita e constantemente atualizada, bem como seja efetuada uma completa caracterização do seu estado de degradação.
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Em Análise
a sua relevância nos investimentos futuros que vão ser necessários garantir.
Relativamente aos Museus, tal como mostra a figura 4, mais de metade dos museus em Portugal são geridos por administrações locais, seguido da administração central e regional.
Não tivemos acesso aos dados referentes à gestão do Património Religioso classificado, que corresponde a 654 igrejas. No entanto, tivemos acesso a distribuição da responsabili-dade da gestão das 4 477 igrejas existentes em Portugal o que tornou claro que a Igreja Católica assegura cerca de 90% do total (figura 5).
Os palácios classificados pela DGPC são geridos por múltiplas entidades, sendo um número muito significativo geridos por priva-dos (figura 6).
Por fim, relativamente ao Património Industrial, apenas estão classificados 13 imóveis pela DGPC, sendo que 7 são tutelados por empre-sas públicas, 4 por privados, tal como apresen-ta a figura 7.
Em suma, a caracterização mais pormenoriza-da do Património Edificado Português necessi-ta de informação complementar. É importante desenvolver uma base de dados sobre o grau de degradação e identificação atualizada dos responsáveis pela gestão de forma a ser possível definir estratégias de investimento ou políticas de incentivos.
Modelo de avaliação das condições de utilização de edifícios com valor patrimonial face à humidade
A reabilitação e conservação dos edifícios com valor patrimonial é um tema da maior relevân-cia que exige uma abordagem quantificada.
3 | Entidades responsáveis pelo Património Cultural Português.
4 | Tutela dos Museus em Portugal.
5 | Tutela das igrejas em Portugal.
Pública
Privada
Mista
Não Confirmada
19771474
973
97
ENTIDADE PROPRIETÁRIA
3
TUTELA DOS MUSEUS EM PORTUGAL EM 2017
4
Administração central ou regional
Administração local
Empresa pública
Empresa municipal
Empresa privada
Fundação privada
Fundação pública
Instituição religiosa
Outras227
6554
113
37
1014
9
5
4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0Igreja
CatólicaPúblico:
EstadoSanta Casa
Pessoa Coletiva
e/ou Singular
Sem informação
TUTELA DAS IGREJAS EM PORTUGAL
3962
29 11162 29122
Público: Municipal
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Para além da falta de informação comple-ta demonstrada anteriormente, muitas das entidades responsáveis pela tutela/gestão e consequentemente pelos investimentos neste tipo de imóveis podem não ter formação ou experiência na área de diagnóstico, pelo que na análise preliminar das condições de utiliza-ção pode não ser a mais adequada.
No âmbito do desenvolvimento de uma disser-tação do Mestrado Integrado em Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto foi proposto um modelo informatizado, de forma a criar uma ferramenta que auxilie os gestores dos imóveis com valor patrimonial na avaliação das condições no que
6 | Tutela dos palácios em Portugal.
7 | Tutela do Património Industrial.
se refere ao seu comportamento face à humi-dade. O modelo não pretende dar soluções nem ser uma análise técnica, apenas visa sensibilizar os gestores, através de um índice global, a procurar uma análise técnica aprofun-dada se o modelo mostrar que o imóvel não se encontra em bom estado.
O modelo criado tem como principal finalidade o cálculo de um índice de humidade global – Ihum, dependente da intensidade das manifes-tações de patologias associadas à humidade. Informatizou-se o modelo com os seguintes objetivos:- Quantificar o índice Ihum de forma sistemá-tico minimizando os erros;
7
6
5
4
3
2
1
0Pública:
MunicipalPública: Estatal
Privada:Pessoa Singular
Sem informação
TUTELA DO PATRIMÓNIO INDUSTRIAL
5
4
22
6
TUTELA DOS PALÁCIOS EM PORTUGAL
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
39
Público: E
statal
Público: M
unicipal
Privado: Pesso
a Singular
Privado: Pesso
a Coletiva
Privado: Esta
do Estrangeiro
Privado: Cooperativ
a
Privado: Igreja Católic
a
PrivadoPrivado: A
ssociação
Privado: Mise
ricórdiaPrivado: F
undaçãoSem In
formação
34
47
11
1 1 25
1 27
2
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- Proporcionar que a utilização do modelo seja amigável e motivadora;- Criar uma base de dados com as informa-ções inseridas;- Permitir mudanças simples sem ter de repe-tir a introdução de toda a informação exigida pelo modelo completo;
O modelo é constituído por quatro campos a saber: caracterização do imóvel, responsá-veis pela gestão; avaliação por observação visual e resultados.
1. Caracterização do ImóvelA primeira parte serve para caracterizar o imóvel em estudo de forma a permitir a sua localização (figura 8).
Pretende-se receber informações relativa-mente à localização, à eventual classificação pela DGPC, ao tipo de utilização, à data de construção, ao ano da última intervenção com relevância e ainda dados sobre a geometria interior, nomeadamente o número de compar-timentos (figura 9).
2. Tutela do imóvelComo mencionado anteriormente, existe uma falta de informação completa no que se refe-re à tutela/gestão do Património Nacional. Visando colmatar essa lacuna é solicitada, na parte dois do modelo, indicação sobre os dados da entidade responsável (fig. 10).
MÉTODO DE AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DE EDIFÍCIOS COM VALOR PATRIMONIAL
8 | Caracterização do Imóvel.
8
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3. Avaliação por Observação VisualA terceira parte pretende recolher informação sobre as condições de utilização no que se refere à humidade. Pede-se que se avalie por observação visual, o pavimento, o teto e as paredes do imóvel, por compartimento, qua-lificando o grau de degradação encontrado preenchendo os campos definidos nas figuras 11, 12, 13 e 14. No final é solicitado ao gestor que faça upload da planta do imóvel (figura 15), numerando as paredes.
9 | Tutela do imóvel.
10 | Avaliação da área e das condições de utilização.
4. Resultados intermédios e classificação final
A última parte do modelo é de preenchimento automático e corresponde à quantificação dos resultados intermédios e do índice de desem-penho hígrico global. O modelo foi progra-mado para calcular e exibir todos os índices intermédios (tetos, pavimentos e paredes) e o índice final Ihum. Para além disso, foi criada uma escala de modo definir graficamente as
TUTELA DO IMÓVEL
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AVALIAÇÃO DA ÁREA E DAS CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO
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AVALIAÇÃO DO PAVIMENTO
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AVALIAÇÃO DO TETO
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AVALIAÇÃO DAS PAREDES
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condições de utilização do imóvel, no âmbito dos parâmetros em avaliação, que pode variar de “Muito Bom” a “Péssimo”, como pode ser observado na figura 16.
Conclusão
Com a metodologia criada pretende-se ofere-cer ao gestor de um edifício com valor patri-monial uma ferramenta simples para estimar as condições de utilização sobre problemas associados à humidade. Para além disso, compila-se informação gerando-se uma base de dados em permanente atualização sobre o estado de degradação do Património Imóvel Cultural Português.
É necessário propor uma estratégia de con-servação e reabilitação do Património fun-damentada, pelo que a tomada de decisões exige informação centralizada. Por outro lado, é crucial criar ferramentas para ajudar os ges-tores numa tarefa de autoavaliação preliminar, mesmo sem ter necessidade de recorrer, numa fase preliminar, a especialistas externos.
O grande desafio da Conservação e Reabilitação do Património necessita de mui-tos contributos e este pode ser encarado com um deles, embora seja necessário ainda traba-lho complementar
11 | Avaliação do pavimento.
12 | Avaliação do teto.
13 | Avaliação das paredes.
14 | Upload da planta do imóvel.
15 | Índices intermédios e classificação final.
UPLOAD DA PLANTA DO IMÓVEL.
14
ÍNDICES INTERMÉDIOS E CLASSIFICAÇÃO FINAL
15