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II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades
Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013
Em defesa dos trabalhadores! Sempre? A participação do sindicato dos metalúrgicos na doação de terreno contaminado por rejeitos da CSN para construção de condomínio
em Volta Redonda
SEIXAS, MARCUS WAGNER DE. (1); SILVA, DOUGLAS DE MELLO DA. (2); FARIA, FERNANDA PAIVA PEREIRA DE. (3); PAULA, LETICIA ARRUDA MENDES
DE. (4)
1. Universidade Federal Fluminense. PPGSD
Rua Desembargador Ellis Hermydio Figueira, 783 Aterrado - Volta Redonda- RJ- CEP 27213-415
2. Universidade Federal Fluminense. Departamento de Direito Rua Desembargador Ellis Hermydio Figueira, 783
Aterrado - Volta Redonda- RJ- CEP 27213-415 [email protected]
3. Universidade Federal Fluminense. Departamento de Direito
Rua Desembargador Ellis Hermydio Figueira, 783 Aterrado - Volta Redonda- RJ- CEP 27213-415
4. Universidade Federal Fluminense. Departamento de Direito
Rua Desembargador Ellis Hermydio Figueira, 783 Aterrado - Volta Redonda- RJ- CEP 27213-415
RESUMO
A crise de representatividade não se restringe somente aos políticos eleitos, mas perpassa qualquer
instituição que se pretenda colocar como instrumento de intermediação. O Sindicato dos Metalúrgicos
do Sul Fluminense é um marco no sindicalismo brasileiro, tendo em vista seu histórico de lutas que
culminaram com a ocupação da CSN em 1988. Ocorre que este sindicato ora filiado a CUT, ora a Força
Sindical, ora a nenhum, passou de combativo a negocial e até mesmo de conivente com ações
prejudiciais não só aos seus sindicalizados, como a toda uma população em se comprovando a
contaminação do Rio Paraíba do Sul por conta do aceite da doação de um terreno utilizado para
depósito de resíduos comprovadamente tóxicos, e onde hoje encontra-se erguido todo um bairro. Os
dirigentes da época, apesar de saberem do problema, intermediaram a venda dos imóveis. Hoje esses
dirigentes não são mais vistos na cidade e seus paradeiros são incertos. Alguns anos depois, houve a
instauração de uma ação civil pública promovida pelo Ministério Público Estadual com representação
na cidade, mas a mesma não prosperou por mais de 12 anos, e o conflito sócio ambiental ainda
persiste. A metodologia empregada tem consistido na coleta de depoimentos e entrevistas.
Palavras-chave: Sindicalismo. Peleguismo. Sub representatividade.
INTRODUÇÃO
O condomínio “Vitória”, hoje considerado um bairro denominado de “Volta Grande IV”
localizado no município de Volta Redonda, região do médio Paraíba do estado do Rio de
Janeiro, surgiu após a doação de terreno pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para os
metalúrgicos da própria companhia, por meio de seu sindicato, construírem casas populares.
Ocorre que esse terreno, anteriormente, serviu de depósito de material sólido
comprovadamente tóxico, e jamais poderia ser utilizado para construção de residências. O
fato é que hoje vivem na área mais crítica em termos de contaminação do solo e do lençol
freático, cerca de 3000 pessoas. Na época da doação do terreno, houve a intermediação do
próprio sindicato dos metalúrgicos, e segundo denúncias, os dirigentes do mesmo, apesar de
saberem do problema, negociaram com uma imobiliária as transações de venda dos imóveis.
Hoje esses dirigentes não são mais vistos na cidade e seus paradeiros são incertos.
Alguns anos depois, houve a instauração de uma ação civil pública promovida pelo
Ministério Público Estadual com representação na cidade, após 15 mulheres grávidas terem
interrompido suas gestações por má formação genética dos fetos. Foram promovidas perícias
que comprovaram contaminação do solo e da água na localidade. Essa ação civil perdurou
por vários anos, sem conseguir apontar os verdadeiros culpados pelas práticas criminosas,
até que recentemente, com a inclusão do INEA (antiga FEEMA) no rol dos possíveis culpados,
o mesmo resolveu aplicar uma multa de R$ 35 milhões contra a CSN. A mesma defende-se,
alegando que na época da doação do terreno teve respaldo da Secretaria Estadual de
Ambiente (gestão do então governador Leonel Brizola), da prefeitura de Volta Redonda, e
demais órgãos públicos envolvidos. O conflito hoje apresenta diversas nuances, pois alguns
moradores do próprio condomínio não querem sair de suas residências, mas a questão do
que fazer com as cerca de 700 famílias que precisariam ser remanejadas, ainda persiste. Por
outro lado, chama atenção a participação do sindicato dos metalúrgicos, pois apesar do já
conhecido desvio de finalidade nas negociações de muitos sindicatos de trabalhadores com a
classe patronal, merecendo inclusive a definição do conceito de “pelego”, o caso em particular
aparenta ser mais grave, pois não se trata de maior ou menor acordo financeiro, mas além de
seus dirigentes possivelmente terem lucrado com as transações imobiliárias, atuaram
flagrantemente contra os interesses daqueles que deveriam representar e defender, no bem
mais precioso que é o direito à vida.
A par da localização estratégica do município de Volta Redonda (critério fundamental
para escolha da localidade para sediar a Companhia Siderúrgica Nacional na década de
1940), o município é hoje um dos 83 de todo país com mais de 200.000 habitantes, o que
segundo o TSE (dados de 2012) o habilita a ter 2° turno nos pleitos eleitorais, como
efetivamente veio a ocorrer em 28 de outubro passado. Excetuando capitais e municípios de
regiões metropolitanas, Volta Redonda é uma das poucas cidades de interior do Brasil nessa
condição. Outro dado interessante diz respeito ao fator econômico, pois o orçamento previsto
para 2013 é de 1 bilhão de reais, o que coloca o município em questão mais uma vez numa
seleta lista de cidades bilionárias.
Outras características relevantes que reforçam a opção de nosso objeto de estudo
referem-se à mudança paulatina, mas constante, do perfil de uma cidade eminentemente
industrial, para uma maior diversificação com o aumento do setor de serviços, mas
certamente sua história recente sendo palco de lutas históricas do sindicalismo brasileiro são
dados significativos desse estudo. Já em 1973 a cidade foi declarada pelo governo federal
“área de segurança nacional”, situação que perdurou até 1985 e que impossibilitou a
população de eleger o prefeito do município, sendo este indicado pelo presidente da
República. Na década de 1980, várias greves na CSN (que contava com mais de 30.000
empregados diretos e indiretos na própria empresa e em outras coligadas, somente em Volta
Redonda) agitaram o meio político e social do município, que culminaram, durante a Greve de
1988, com a morte de três operários no interior de sua usina por militares do Exército, o que foi
acompanhado de grande mobilização popular.
Uma dúvida que motivou o presente estudo foi a de como setores dessa localidade
passaram de protagonistas de alguns dos movimentos políticos mais importantes da história
recente do país1, combatendo as violações aos direitos humanos especialmente na relação
capital-trabalho, e em relativamente pouco tempo (cerca de 10 anos depois), algumas dessas
mesmas instituições passaram a ser completamente inertes e até mesmo coniventes com
algumas violações. Um desses atores foi a igreja católica (SOARES, 2009, pp.1-10), através
da atuação das Comunidades Eclesiais de Base, personificadas por D. Waldyr Calheiros, e o
outro foi o Sindicato dos Metalúrgicos, comandado na época pelo seu Presidente licenciado, o
então Deputado Federal pelo PDT, Juarez Antunes. A mudança de perfil majoritariamente
católico dos habitantes locais, para evangélicos é um dado que mereceria um estudo
específico. A mudança de postura de um sindicato combativo para um mais negocial já foi
objeto de alguns estudos, como os desenvolvidos por Sérgio Martins Pereira, intitulado “CUT
e Força Sindical em Volta Redonda: modelos de sindicalismo ou histórias de vida?”.
Logicamente, todo processo de privatização da CSN, iniciado na gestão Collor de Mello e
efetivada na gestão Itamar Franco também merecem um aprofundamento. Na seção de
resultados apontamos alguns dados já coletados sobre essas questões.
O fato é que hoje a convivência da população, do poder público local e outros atores da
sociedade, com a CSN, não é dialógica, e em especial no quesito ambiental impera o silêncio.
1 As greves de ocupação promovidas pelo Sindicato de Metalúrgicos de Volta Redonda, no final dos anos de 1980,
chegaram a ser consideradas muito radicais até mesmo pelo movimento operário do ABC paulista, que via com certo despudor as atuações daquelas lideranças.
A indústria responde a processos iniciados por Ações Civis Públicas do Ministério Público2,
tanto estadual quanto federal, como o ora sob análise.
Ressalte-se que as instituições existem, como a Secretaria municipal de Meio
Ambiente, Casa da Agenda 21 local, representações de órgãos federais e estaduais na
região, e em tese a questão citada estaria até sendo monitorada por um Comitê3, mas em
realidade o controle social exercido pela população é falho, tanto que o problema se arrasta
desde final dos anos de 1990 quando foram detectados os primeiros sinais de vazamento da
contaminação. Chama especial atenção que o até então contestador Sindicato dos
Metalúrgicos, hoje não se manifesta sobre o assunto.
HISTÓRICO DO SINDICATO
Os sindicatos no Brasil oscilam entre instituições tuteladas pelo estado, haja vista a
própria legislação trabalhista implantada na era Vargas, ou entidades autônomas dotadas de
poder de reivindicação. O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense não foge muito a
essa regra geral. Dos anos 60 a início dos anos de 1980 foi marcado por grande ativismo, mas
como aliado da Companhia Siderúrgica, consequentemente, do estado. As lutas operárias
ocorreram nesse período, delimitado pela ditadura militar, mas sem grandes greves ou
paralisações e sim com cassações e/ou perseguições de lideranças, como Othon Fernandes.
A intensificação do movimento sindical teve início por volta de 1976, com a perda do mandato
do Waldemar Lustosa, então presidente do sindicato em sua última fase mais alinhada à
Companhia. A oposição sindical ganha estímulo com a fundação da CUT no início dos anos
1980, despontando como grande liderança o petista Juarez Antunes que realizou a primeira
greve em 1984. Como já descrito, esse metalúrgico depois se elegeu deputado federal pelo
PDT e logo depois prefeito de Volta Redonda, permanecendo no cargo por 51 dias, quando
então veio a morrer em acidente de carro até hoje mal explicado.
O PT na cidade surge em 1983 tendo como presidente outra grande liderança sindical,
Wagner Barcelos, oriunda de família ligada a Igreja Católica e moradores do bairro do Retiro e
essas lideranças acabam divergindo ao longo dos anos de 1980. Essas divergências políticas
acabam se refletindo na direção do sindicato, e com o afastamento de Juarez Antunes por
ocasião de sua eleição para deputado, há uma grande disputa interna pelo controle. Talvez
impulsionados por essa trajetória exitosa, as greves de ocupação persistem nos anos
seguintes, incluindo a de 1988, mas também depois, como a de 1991, por exemplo, que durou
60 dias.
Marcelo Felício vence Wagner Barcelos na disputa pela direção do sindicato em 1988,
2 Vide http://condominio225vg4.blogspot.com.br/ (acessado em 09/02/13).
3 Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul - CEIVAP (Decreto nº
87.561/82), tendo sido revitalizada, posteriormente, com a aprovação da Lei nº 9433/97, da Política Nacional de Recursos Hídricos.
dando seqüência ao modelo personalista, populista e carismático de Juarez Antunes no trato
com os operários, ficando por cerca de 2 anos a frente. Na eleição seguinte Wagner vence a
eleição, permanecendo até 1992 quando se intensifica o discurso de privatização da CSN.
Nesse período surge uma oposição denominada pelos operários de “formigueiro” com um
discurso alinhado novamente à CSN e defendendo a privatização, tendo como liderança
Luizinho, oriundo também do humilde bairro Retiro e pertencente ao mesmo grupo de Juarez
e Wagner, ou seja, ligado ao PT e a Igreja Católica. Entretanto seu discurso era de que os
trabalhadores iriam ganhar com a privatização, pois passariam a ser acionistas e a empresa
iria crescer. Nesse período, em 1992, surge a Força Sindical e Luizinho recebe seu apoio,
vencendo a eleição do sindicato e dando início as negociações com Roberto Procópio Lima
Neto, então presidente da CSN, permanecendo por cerca de 8 anos.
Sucedeu Luizinho o sindicalista Perrut, a princípio apoiado por aquele, permanecendo
como presidente por cerca de 10 anos. Nesse meio tempo Luizinho se desentende de Perrut e
tenta voltar a presidência até por medidas judiciais.
METODOLOGIA
Em primeiro lugar buscamos compreender melhor o problema de contaminação do
terreno doado pela CSN ao Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, já que grande
parte da população do próprio município desconhecia o caso, passando a ter conhecimento
somente após a Justiça aplicar multa de R$ 35 milhões contra a CSN, fato este que repercutiu
na grande mídia. O estudo, ainda em andamento, buscou documentos e reportagens sobre o
caso e aplicou o método da observação participativa para entender a realidade local, incluindo
uma visita registrada pelas fotos abaixo expostas na seção “resultados e discussão”, além da
coleta de informações por meio de algumas conversas informais.
Nosso próximo passo será aplicar a etnometodologia com os moradores do bairro
Volta Grande IV, dirigentes do sindicato e outras lideranças, por meio de entrevistas
documentadas que gerem conteúdo para a TV Universitária local no intuito de ouvir os
diversos pontos de vista sobre a mesma temática. Entendemos que somente levar
informações à população, hoje cada vez mais disponível por diversos meios, não seja o
suficiente para promover o exercício da cidadania de forma mais consciente. É preciso ouvir
diretamente os próprios interessados, tendo em vista a descrença nas representações
políticas como mediadoras do conflito.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tivemos acesso às principais peças da Ação Civil Pública (ACP) promovida pelo
Ministério Público (MP) estadual e aos procedimentos integrais da ACP promovida pelo MP
Federal, além de reportagens sobre o caso concreto sob análise. Verificou-se o que indica ser
uma disputa política entre os dois MP’s, tanto que houve a necessidade de instauração de
processo judicial para que fosse definida a competência do MPF em desfavor do MPE, com
decisão de maio de 2013.
A divergência alegada resume-se à contaminação ou não do Rio Paraíba do Sul, rio
este que corta três estados da federação, chamando a competência para a esfera federal e
não só para o âmbito estadual como pretendia o MPE.
Constatou-se também que apesar da determinação da Lei Federal 12.305/2010,
especialmente em seu art. 18 que determina a elaboração de um Plano de Gestão Integrada
no município, sob pena do mesmo deixar de receber transferências da União, até o momento
desconhecemos qualquer iniciativa do poder público local nesse sentido.
Também verificamos a existência do que a recente literatura chama de “coronelismo
eletrônico” na concessão das outorgas de rádios e TVs que transmitem no município, com a
proliferação de rádios de conteúdo evangélico sendo ao menos uma controlada pelo deputado
estadual Edson Albertassi, e a implantação da TV Rio Sul (afiliada a TV Globo) no município
de Resende (e não no mais populoso e significativo da região que é Volta Redonda) por
divergências políticas da família Saad (donos da emissora Band que implantou uma afiliada
em Barra Mansa) com a família Marinho. A manutenção desses oligopólios e privilégios
trazem conseqüências para Volta Redonda, pois para se ter uma idéia, no horário destinado à
propaganda eleitoral não há espaço para os políticos de Volta Redonda, pois a TV Rio Sul
transmite o horário eleitoral de Resende e a Band os de Barra Mansa.
O fato é que todos esses acontecimentos referentes à área contaminada não são
divulgadas pela mídia local, e muitos dos moradores do município desconhecem o problema.
Por outro lado, os próprios movimentos sociais não estão articulados o suficiente para
mobilizar a população. Em 2012 organizamos um evento na UFF de Volta Redonda para ouvir
as propostas de Plano de governo dos candidatos a prefeito. O depoimento gravado da então
candidata a prefeita de Volta Redonda no pleito de 2012 pelo PSOL, a ex-vereadora pelo PT
no final da década de 1980 e início de 1990, professora e sindicalista do SEPE-VR4 ,
conhecida como Dodora, é emblemático e esclarecedor, dando conta de que segundo ela, em
linhas gerais:
“O processo de cooptação dos sindicatos e movimentos sociais que o
governo do Lula empreendeu tiveram como ensaio (ou projeto piloto) o que
foi levado a cabo em Volta Redonda alguns anos antes e que culminaram
com o completo desmanche das forças oposicionistas e contestadoras.”
Explicou ela que após a privatização da CSN e a redução drástica do número de
empregados da Companhia (de 30.000 na época anterior para cerca de 6.000 atuais)
4 Sindicato Estadual de Profissionais da Educação, seccional Volta Redonda, hoje dividido entre representantes do
PSOL e do PSTU.
ocasionou um desemprego generalizado na cidade. Alguns foram incorporados na prefeitura
(com baixos salários) e para as lideranças das associações de bairro (até então muito ativas)
foram oferecidos cargos comissionados (com salários mais elevados), sendo que somente um
cargo para cada associação, gerando uma verdadeira guerra fraticida interna e desviando
completamente o foco de lutas.
No movimento sindical, incluindo o Sindicato dos Metalúrgicos também não foi
diferente, havendo a cooptação de algumas lideranças por parte da CSN e alternância de
filiação ora na CUT, ora na Força Sindical, ora em nenhuma delas como exposto acima.
Contornando a intermediação dessas organizações, fizemos uma primeira visita ao
bairro contaminado, registrando algumas fotos (abaixo) da localidade:
Foto 1: Placa de aviso de contaminação colocada pela CSN por determinação do TAC, ao lado de um parque com brinquedos para crianças
Foto 2 e 3: Muro construído logo após as denúncias (de amianto atrás) e muro construído recentemente
(com arame enfarpado). Quadra de esportes logo a frente da área mais contaminada, sinalizada com placas de PERIGO, flagradas através de furo no muro.
CONCLUSÕES
Pesquisas informais dão conta de que houve conluio do Sindicato com a própria CSN
por ocasião da doação do terreno. Posteriormente houve omissão dos órgãos públicos e da
mídia local para com a divulgação dos fatos, e mais recentemente alguns moradores
externaram a falta de interesse em sair do bairro, sem que houvesse pressão popular para
resolução do caso. Da leitura da Ação Civil Pública do Ministério Público Federal conclui-se
que os dejetos foram ali depositados por meio de uma autorização provisória (para durar
somente quatro anos) e que deveria haver um monitoramento ambiental constante.
Nesse sentido, na verdade não são as cerca de 750 famílias que devem ser
remanejadas, mas sim todo esse aterro tóxico. Na visita realmente constatamos a
proximidade do local com o Rio Paraíba do Sul, o que põe em risco não somente os
moradores daquela localidade, mas todos que consomem suas águas. Estranhamente esse
conflito ambiental permaneceu silente por todos esses anos, tanto que não consta do “Mapa
de conflitos envolvendo injustiça ambiental e Saúde no Brasil”, apesar de que desde o ano de
1985 o então prefeito Marino Clinger promoveu uma reforma administrativa nas Secretarias
Municipais. Nesse momento foi criada a Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Meio
Ambiente primeiro órgão ambiental do Município em questão, substituindo o Departamento de
Serviços Públicos. Dez anos depois, em 1995, numa nova reforma administrativa, houve a
separação dos órgãos ambiental e o de serviços públicos. Foi criada a Coordenadoria de
Defesa do Meio Ambiente, efetivamente o órgão ambiental do Município, um dos pioneiros, no
Estado do Rio, independente de outras secretarias. No sítio da secretaria5 citada podemos
verificar uma referência ao Conselho Municipal de Meio Ambiente de Volta Redonda
(COMDEMA/VR), abaixo transcrito:
O COMDEMA/VR criado pela Lei Municipal 4.438/10 integra a estrutura do Sistema Municipal de Meio Ambiente - SISMAM, com a finalidade de:
I - assessorar, estudar e propor ao Município, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais;
II - deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;
III - praticar outros atos e atividades compatíveis com sua finalidade.
Também como já citado funcionam núcleos de defesa do meio ambiente nas
representações locais do Ministério Público, seja estadual e/ou federal; assim como há a
participação no Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul
(CEIVAP), um núcleo de meio ambiente na diocese, entre outros órgãos estaduais e
federais.
Entretanto, tudo indica ser necessário levar à população, através de uma alternativa no
5 http://www.portalvr.com/meioambiente/mod/comdema/, acessado em 09 de fevereiro de 2013.
campo da comunicação, maiores informações sobre a real situação para que possam
defender seus próprios interesses; além de estimular maior controle social que “force” a
municipalidade a adotar os procedimentos previstos na Lei Federal n° 12.305 de 2010.
A hipótese é a de que a efetiva democratização do direito ao livre pensamento e
expressão por meio da consolidação de redes e proliferação de acesso às NTC’s, não sirvam
somente à dominação e vigilância, mas na verdade sejam uma alternativa viável para a
efetivação de uma sociedade mais igualitária, enquanto ideal republicano, ou seja, a
radicalização da democracia em todas suas instâncias. A crise de representação política não
será resolvida com reformas dos sistemas eleitorais, p.ex, mas sim com a utilização das
ferramentas tecnológicas que empoderem o indivíduo no processo de tomada de decisões.
Como afirmado acima, existe um oligopólio da mídia e somente cerca de 8000
assinantes de TV por assinatura (e outros cerca de 8000 clandestinos) no município de Volta
Redonda e dois jornais circulam na cidade. Um semanal e outro denominado “Diário do Vale”
(apelidado pela oposição política local de Diário “Oficial” da CSN). Algumas rádios sendo a
maioria com programação voltada ao público evangélico. Há uma experiência de conexão
livre de internet, mas restrita à praça em frente da prefeitura e de baixa qualidade de tráfego.
Em agosto de 2010 a TV RIO SUL iniciou a transmissão do sinal digital, em caráter
experimental, nas cidades de Resende e Volta Redonda. Recentemente a cidade de Barra
Mansa foi contemplada com o sinal digital, assim como nas outras cidades, ainda em fase
experimental. É esperado que as “smart” TVs possam transformar-se em verdadeiros pontos
de conexão com a internet, quando o sinal digital estiver plenamente disponibilizado. Um
sistema está sendo desenvolvido (denominado de Ginga) para propiciar que as TVs não
sejam mais somente veículos de informação passiva, mas que possa haver interação,
transformando os “tele espectadores” em protagonistas na definição da grade que querem
assistir e se comunicando com outras pessoas, numa grande rede social.
Em resumo, a população necessita atualmente de novos canais de participação, haja
vista que os tradicionais, como os partidos políticos e sindicatos não estão mais conseguindo
dialogar com seus representados. Esse distanciamento gera uma crise de representação,
reforçada pela desconfiança generalizada nessas lideranças, vistas pela percepção geral
como usurpadoras do poder em benefício próprio e não da coletividade. Infelizmente
exemplos não faltam nesse sentido, a reforçar esse senso comum. Logicamente há exceções,
mas justamente essas exceções confirmam a regra, pois não é razoável confiar num sistema
que depende da boa vontade do representante da vez. Da mesma forma que o sistema
político precisa ser repensado, dando mais oportunidade para participação mais direta, o
sindicalismo também precisa passar por profundas reformas. Como nos partidos de “aluguel”,
ou seja, legendas criadas coma única finalidade de arrecadar o fundo partidário e negociar o
tempo de TV e rádio nos períodos eleitorais, também é sabido que efeito similar acontece nos
movimentos sindicais, onde surgem “sub” representações de classes e categorias com o
único intento de receber o imposto sindical obrigatório. Inegável a contribuição do
sindicalismo, não só no Brasil, mas no mundo. Ocorre que no mundo dos séculos XIX e XX, e
estamos no século XXI, com a proliferação das novas tecnologias de comunicação e
informação. As recentes mobilizações por meio das redes sociais acenderam a luz amarela
nos partidos políticos e nos sindicatos, ao ponto de suas bandeiras serem rechaçadas nessas
manifestações. Portanto, até mesmo o tradicional Sindicato dos Metalúrgicos do Sul
Fluminense precisa encontrar um novo discurso e uma nova prática, dentro desse novo
cenário, não só internamente na CSN, como na sociedade como um todo.
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