Modo Individuo

  • Upload
    marge

  • View
    7

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Com esse modo de viver que individualiza, a experincia subjetiva na modernidade instaura condies de constituio de um modo padro de experimentar as relaes no mundo, o modo-indivduo. toda uma tecnologia que toma o corpo desse indivduo para cuid-lo, criando uma estrutura de vigilncia contnua e annima, regulando as aes de cada um. Surge tambm uma nova maneira de gerir os homens, aumentando sua utilidade e enquadramento em um sistema invisvel de ordenao subjetiva. Os espaos pblicos passam a ter uma nova configurao, a distino entre os mbitos pblico e privado, quando aquele passou a ser objeto do Estado e a vida privada foi revalorizada, tendo se tornado em espao para a realizao das relaes ntimas e pessoais e, igualmente, avaliada como sinnimo de felicidade. Pblico e privado configuravam-se como esferas espaciais e morais que, embora complementares, exigiam comportamentos diferentes, fazendo com que as populaes dos grandes centros urbanos europeus tivessem que aprender que, no espao pblico, os modos de funcionamento deveriam respeitar determinados padres de civilidade definidos, enquanto no espao privado, o que prevalecia era a expresso do que se considerava ser a transparncia das relaes pessoais e familiares. Porm, com as mudanas urbanas, a relao entre esses dois mbitos sofre uma transformao. Essa relao que at ento apntava-se contornada e definida foi quebrada por uma nova forma social. Nasce assim, a sociedade intimista, regulada pela eroso entre o pblico e o privado: o pblico passando a ser regulado pelos valores ntimos e familiares do espao privado, se tornando desqualificado, por no atender aos desejos e valores da privacidade de transparncia e de naturalidade de comportamentos. A sociedade incide, assim, no vigiar permanente das expresses de cada um, desestimulando comportamentos em pblico que pudessem revelar o que se passava na interioridade da pessoa. Tarde analisou a noo de delito como algo necessariamente influenciado pelo meio social, no qual o eu individual teria necessidade de misturar-se ao exterior para ver a si mesmo. Para ele a multido se origina graas s semelhanas de origem social, onde as pessoas se agrupam conforme a exigncia da situao e a partir de um centro (lder, chefe). Distinguiu tambm multido e corporao. Na primeira prevalece um lder organizador; so mais tradicionais e os bons chefes, mesmo aps a morte so usados como exemplo. J na multido, h um grau menor de inteligncia e moralidade; s h obedincia a lderes vivos, podendo ser irrompidas a qualquer momento. Tarde se diferenciou das idias sobre multido de Le Bon, considerando o sculo XIX como o sculo do pblico e no das multides como afirmava Le Bon. Entre 1831 e 1848 vrios movimentos operrios ocorreram na Europa, como a Comuna de Paris. Desse modo, o sculo XIX esteve marcado especialmente por movimentos de massa, mantendo-se dominante o modo de subjetivao individual. Portanto, as massas sero tomadas como um conjunto de indivduos que, quando reunidos, apresentam certas caractersticas peculiares. Le Bon,, define multido como o agrupamento de um grande nmero de pessoas interatuantes que exercem influncia mtua, composta por elementos heterogneos que se ligam e, por esta reunio, formam um outro corpo, tal como as clulas se organizam e geram um corpo vivo com caractersticas diferentes de cada uma delas. Para ele, o indivduo imerso na multido perde seu autocontrole, atuando de modo irracional, impulsivo e bestial. Forma-se uma mente coletiva que se apossa de cada um, produzindo a incapacidade para raciocinar. Enfatiza tambm a natureza feminina das massas, onde impera as emoes no elaboradas, extremas, sbitas, intensas e instveis. Freud iniciou suas anlises sobre as massas a partir das propostas de Le Bon. Em 1921 escreveu o livro Psicologia de las massas, onde analisa as idias de Le Bon. Inicia seu texto afirmando que a psicologia individual tradicional , ao mesmo tempo e, desde sempre, uma psicologia social, pelo fato de que, se a primeira busca investigar os caminhos pelos quais os homens tentam alcanar a satisfao de suas pulses, somente em circunstncias muito especiais que eles abrem mo de conviver com seus semelhantes. Essa psicologia social, denominada de psicologia coletiva, deveria explicar o motivo de os homens se comportarem de forma totalmente diferente quando esto no meio de uma multido. Freud argumenta que se os indivduos em na massa se encontram difundidos em uma unidade, deve haver alguma coisa que os une, e essa coisa seria precisamente aquilo que caracteriza as massas. Ele traz o conceito de libido para a compreenso da psicologia coletiva, sendo uma energia que possibilita a relao de tudo o que suscetvel de ser compreendido sob o conceito de amor. As relaes libidinais se efetuam por meio da identificao. E a partir desse conceito que Freud explica o funcionamento das multides como aquilo que liga seus componentes entre si e faz com que elas sejam, exatamente, multides: cada indivduo projeta sobre os outros e sobre o lder a idealizao do que cada ego individual estruturou para si prprio. At aqui, os autores citados que estudaram sobre as massas, a tomaram no sentido usual que lhe atribudo, seu sentido molar (representao que define grandes conjuntos), que difere da viso de Deleuze e Guattari. Para esses autores, tanto a sociedade quanto o indivduo so atravessados, ao mesmo tempo, por duas ordens de organizao do socius: uma molar e outra molecular. Ou seja, tudo , ao mesmo tempo, macro e micropoltica. Essa leitura permite indicar que o que se temia era o processo de desterritorializao provocado pelas massas, j que em seu plano molecular elas so fluxos que se deslocam sem cessar, desmanchando formas institudas e levando constituio de outros modos de subjetivao.