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33333 Escola Profissional de Espinho Curso Profissional de Comunicação/ Marketing, Relações Públicas e Publicidade Ano lectivo 2010/2011 Disciplina: História da Cultura e das Artes

MÓDULO 4

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Escola Profissional de Espinho

Curso Profissional de Comunicação/ Marketing, Relações Públicas e Publicidade

Ano lectivo 2010/2011

Disciplina: História da Cultura e das Artes

Módulo 4 - Tema: A Cultura da Catedral

Formador: Tiago CanhotaObjectivos

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

- Perspectivar a cidade, as suas artérias, praças e edifícios, enquanto

representação da mundividência das gentes dos burgos.

- Avaliar a importância da catedral nas cidades europeias desta

época.

- Avaliar a importância dos letrados na reabilitação da cultura

vernácula.

- Confrontar as permanências da peste e a festividade da cultura

cortesã.

- Analisar o papel do mestre pedreiro e do cronista.

- Analisar o papel das artes visuais na celebração do mundo terreno

enquanto metáfora da Criação.

- Identificar e analisar casos práticos.

Bibliografia

SOBRENOME, nome; Título do Livro - Editora, Ano e Edição

Webgrafiawww.google.com

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

Índice de Conteúdos

1. A EUROPA DAS CIDADES – DO RENASCIMENTO DO SÉCULO XII A

MEADOS DE QUATROCENTOS (O TEMPO E O ESPAÇO) …………………..5

2. A EUROPA DAS CATEDRAIS……………………………………………………8

3. A CIDADE: ESPAÇO, POPULAÇÃO E SUBSISTÊNCIA……………………..9

4. A CULTURA CORTESÃ………………………………………………………….10

5. O LETRADO DANTE ALIGHIERI (1265 - 1321) ……………………………..11

6. A PESTE NEGRA (1348)………………………………………………………..13

7. A ARTE GÓTICA - ARQUITECTURA………………………………………….14

8. O GÓTICO EM PORTUGAL……………………………………………………..17

9. A ESCULTURA……………………………………………………………………21

10. PINTURA………………………………………………………………………...23

11. AINDA SOB O SIGNO DE ALÁ: DOS REINOS TAIFAS AO REINO DE

GRANADA…………………………………………………………………………....27

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Corpo do módulo

1– A Europa das cidades (século XII - meados do século XV).

2 – A Europa das catedrais.

3 – A cidade: espaço, população e subsistência.

4 – A cultura cortesã.

5 – A Arte Gótica:

5.1. A Arquitectura Gótica

4.2. A Escultura Gótica

4.3. A Pintura Gótica

4.4. A Europa sob o signo de Alá: dos Reinos Taifas ao Reino de Granada.

6 – Biografias e Acontecimentos.

7 – Casos Práticos.

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AS CIDADES E DEUS

12. A Europa das cidades – do renascimento do século XII a meados de

Quatrocentos (O tempo e o espaço)

Devido a uma série de condicionalismos, a Europa Ocidental viveu, entre

o século XII e o século XV, tempos ora de renovação, ora de recessão.

O século XII, caracteriza-se pela manutenção do feudalismo, conviveu

também com uma fase expansionista – o renascimento do século XII.

O século XIII foi o culminar desse movimento: uma conjuntura

económica dinâmica impôs-se e reflectiu-se na sociedade, no poder político,

nas instituições e na intelectualidade.

O século XIV viveu a recessão da trilogia guerras, pestes e fomes.

O século XV trouxe à Europa a recuperação económica e social que se

designou como Renascimento.

No século XII a Europa assistiu a um crescimento económico

impulsionado por:

1. Melhoria das condições climatéricas;

2. Progressos agrícolas;

Estes factores originaram:

1. Produção excedentária;

2. Crescimento demográfico;

3. Melhoria das condições de vida;

Assim:

As indústrias (têxteis e tinturarias na Flandres, Inglaterra e Itália) e o

comércio expandiram-se. Deste modo:

1. Reapareceram as feiras e impulsionou-se o crescimento das cidades.

2. Estabeleceram-se e reforçaram-se as relações internacionais com África

e Ásia;

Estes factores contribuíram para o aparecimento de uma economia de

mercado e capitalista que contribuíram para a circulação da moeda e de

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produtos o que levou ao despertar de uma elite aristocrática.

É neste contexto que aparecem os primeiros cambistas e bancos

privados que se distribuíram em filiais pelas principais cidades Europeias

(Paris, Hamburgo, Amesterdão, Milão…), o aparecimento das letras de câmbio

(cheques) que facilitavam os pagamentos e evitavam o transporte de dinheiro.

Nascem as grandes famílias ligadas à banca como os Mèdicis (Florença)

ou os Coeur (França).

A expansão económica alterou a estrutura social e económica fazendo

ascender a burguesia (habitante da cidade = burgo constituído por

comerciantes, letrados, burocratas…); Com o seu crescente poder, agruparam-

se em mesteres (artesãos) e guildas ou hansas (comerciantes).Ambas tinham

estatutos próprios e eram apoiadas pelos Reis, que em troca recebiam o apoio

para poderem centralizar em si o poder.

Para além dos burgueses também a sociedades se revoltaram contra os

poderes instituídos (aristocracia) o que foi aproveitado pelos monarcas e pela

Igreja para acentuarem os seus papéisde guardiães da sociedade.As

sociedades de então podiam estar agrupadas em monarquias hereditárias

(Portugal e Espanha), Estados Teocráticos (Estados Pontifícios), principados,

ou repúblicas (Itália) ou Cidades-Estado (Alemanha).

Mas por detrás deste desenvolvimento escondiam-se acontecimentos

terríveis:

1. Mudanças climáticas + aumento do consumo impulsionado pelo

crescimento da população = aumento de preços e fomes.

2. Recessão económica;

A estes factores, acrescesse a Guerra dos 100 anos (1337 – 1453)

entre a França e Inglaterra e rapidamente contagiou o continente.

Mas o pior factor neste cenário foi a Peste Negra que dizimou cerca de

metade da população Europeia.Transmitida pela pulga dos ratos negros, era

originária de Crimeia; foi transportada pelos navios de comércio e rapidamente

se espalhou pela Europa;

Estes dois factores contribuíram para o enfraquecimento da moeda e

para o aumento dos impostos o que levou a uma onda de revoltas burguesas.

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Burguesia – “Burguês” designava o habitante originário de uma cidade medieval livre, ou burgo. Nascida no quadro da nova cultura urbana desenvolvida após o séc. XII, a burguesia constituía uma classe de comerciantes e banqueiros, dotados de grande poder económico e politico.

Universidade – Conjunto de faculdades onde se professa o ensino superior – foram criadas no séc. XII. A Universidade dividia-se nas seguintes faculdades: teologia, direito, medicina e artes (artes liberais: letras e ciências.

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Estes acontecimentos do século XIV atingiram igualmente a Igreja que

se dividiu em dois Papados: Avinhão e Roma, que ficou conhecido como

Cisma do Ocidente (1378-17). Esta situação de degradação foi reforçada

pelas heresias, superstições, as práticas colectivas de penitência que

coabitavam com a luxúria e a valorização dos bens terrenos; Daí a publicação

dos Ars Moriendis, que alertava o cristão para a brevidade da vida;

Esta crise atingiu todos os sectores da vida social mas foi também agora

que as cidades se apresentaram como lugares para o Renascimento Cultural

do século XV.

As cidades que mais floresceram eram aquelas que possuíam,

comércio, industria, relíquias de santos, portos ou Universidades.As cidades

portuárias (Génova, Florença, Lisboa, La Rochelle ou Barcelona) eram aqueles

que detinham o comércio mais florescente. Nesta altura também as

embarcações sofreram modificações importantes como, o leme cadaste que as

tornavam mais manobráveis.

Para além das rotas marítimas, havia também uma rede de estradas que

ligavam principalmente as cidades do Norte da Europa à Itália. Nestas rotas

apareceram as feiras.

A cidade europeia era

igualmente caracterizada pela

Universidade onde estudava o

Trivium (Gramática, Retórica e

Dialéctica) e pelo Quadrivium

(Música, Aritmética, Geometria e

Astrologia). Nestas universidades o

ensino era marcado pela

Escolástica.

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2. A Europa das catedrais

Com o crescente comércio, as cidades não pararam de crescer; Na

cidade, a catedral tornou-se o símbolo do poder do bispo e da

burguesia.Ambos tinham interesse em desenvolver a cidade que se reflecte o

seu poder na grandiosidade e beleza da sua catedral.

Bispo: controlava espiritualmente, política e juridicamente.

Burguesia: participação monetária na sua construção e manutenção

demonstrando o seu poder financeiro.

A catedral ocupa um papel fundamental na estrutura social, política,

jurídica e cultural:social - é no seu adro que se realizam, as feiras e o

teatro;Político - espaço de troca de ideias entre burgueses, letrados e

aristocratas;

Jurídica - é onde está situado o pelourinho;Cultural - era onde funcionavam as

mais importantes escolas;

Para esta importância muito contribuíram alguns bispos; o mais

importante foi o Abade Suger que criou o estilo Gótico com o projecto para a

abadia de São Dinis, Paris.O edifício agora concebido devia ser a visão do

Reino de Deus na Terra.Para esse efeito o edifício vai ganhar uma maior

verticalidade realçando a iluminação do interior através da introdução de vitrais

multicoloridos.

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Fig. 1 (em cima) Vitrais da cabeceira

Fig. 2 (direita) Fachada de Notre-Dame

3. A cidade: espaço, população e subsistência

Como resultado do dinamismo demográfico, religiosos… as cidades

começam gradualmente a ressurgir a partir do século XII; o mundo rural

Românico deu lugar agora lugar a um aumento do mundo urbano.As plantas

seguiam dois tipos:

• Cidade organizada pelo cardus e decumanos (herança Romana)

• Cidade radiocêntrica: série de círculos concêntricos.

Apesar deste crescimento as cidades continuavam rodeadas por

muralhas.Dentro da muralha situavam-se:

• Cidadela;

• Catedral, igrejas, conventos e hospitais;

• Casas nobres e burguesas;

• Praça principal;

• Ruas;

• Oficinas e lojas;

No entanto apesar de ser densamente habitada não dispunha de esgotos ou

água canalizada.As cidades terão como espaços importantes:

• A catedral e o espaço envolvente – bispo.

• Praça com a torre – burguesia.

Estes dois pólos vão dinamizar as cidades e atrair cada vez mais população.

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Fig. 3 Cidade de Siena com a catedral e a torre da câmara.

4. A cultura cortesã

Durante a Idade Média os reis e nobres tinham a guerra como única

profissão. Os seus divertimentos consistiam na caça, justas e torneios que

contribuíam para a preparação e manutenção da boa forma física.Estes

torneios implicavam a realização de grandes banquetes.

Com o ressurgir económico e cultural do século XII desenvolveu-se um

novo tipo de cultura baseada no ideal cavaleiresco; valorizava-se a lealdade, o

amor, a paz e a elegância.

Na Literatura apareceram as novelas de cavalaria. Em Portugal as mais

famosas foram as cantigas de Amigo, de Escárnio e Maldizer.

À Literatura juntou-se a Música, quer de tradição oral quer de tradição

polifónica. A música fazia parte do quotidiano das populações e possuía

funções profanas e religiosas.Juntamente com a música as danças faziam

parte da cultura europeia.

Fig. 4 Torneio de Justas Fig. 5 Músicos medievais (jograis)

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Outra instituição cultura, foi o Teatro Religioso que se praticava nos adros das

igrejas realizado por companhias ambulantes e confrades e exerceu um papel

quer pedagógico quer doutrinal.

5. O letrado Dante Alighieri (1265 - 1321)

Dante Alighieri foi um poeta italiano da Idade Média, considerado "o

poeta supremo" (il Sommo Poeta), no seu país. Nasceu em Florença, em 1265,

no seio de uma importante família. Viveu rodeado de amigos cultos - poetas,

músicos, pintores (Giotto) e filósofos - que influenciaram a sua formação.

Apaixonado por Beatriz Portinari, seu amor eterno, dedicou-lhe quase toda a

sua poesia e influenciou muitos poetas e escritores que desenvolveram o tema

do "Amor" nos seus escritos, tema que até então não tinha sido muito utilizado.

Cinco anos após a morte de Beatriz, em 1295, Dante começa a intervir

activamente na vida política e militar da cidade. Em 1300 foi eleito um dos seis

Principais da Cidade e mais tarde, por motivos políticos, condenado ao

desterro. Foi aqui que começou a fase mais triste e dolorosa da sua vida, pela

privação da sua liberdade: "Andei caminhando por quase toda a parte onde

chega esta língua, como peregrino, quase mendigo, mostrando, contra a minha

vontade, a chaga da fortuna (sorte),que muitas vezes costuma ser injustamente

imputada ao que a leva. Eu fui deveras uma nau sem vela e sem leme, levada

a vários portos e embocaduras e praias pelo vento seco que a dolorosapobreza

sopra." (Dante, O Convívio).

Refugiou-se em Verona, depois Pádua, Casentino e Paris, onde estudou

Teologia e Filosofia. Em 1317 instalou-se em Ravena, onde faleceu quatro

anos depois.

De todas as suas obras destacam-se:

- La Vita Nuova, um poema autobiográfico de amor ideal por Beatriz; esta obra

marca o início da "nova escola" que Dante representa na História da Literatura

- o dolce stil nuovo, expresso por palavras e sentimentos delicados e puros,

onde a amada, por quem nutre um amor puro e platónico, envolto em

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misticismo, é um angiolo gentilissima (anjo gentil), intocável;

- Il Convivio (O Banquete), uma enciclopédia doutrinal onde defendeu as ideias

de S. Tomás de Aquino e criticou a sociedade aristocrática e a corrupção da

igreja, no seu tempo;

- De Vulgari Eloquentia (Sobre a Eloquência do Vernáculo), obra onde, num

tratado científico, Dante se tornou um dos fundadores da língua italiana;

De um modo geral, muitas vezes não se compreende como é que uma

obra tão séria se pode chamar "Comédia"; na época de Dante, todos os

trabalhos académicos sérios foram escritos em latim (tradição que persistiu até

finais da época do Iluminismo) e as obras escritas noutra língua eram

consideradas banais, daí o nome. Além disso, a palavra "comédia", no sentido

clássico, refere-se a obras que reflectem a crença num universo imaginário, em

que os eventos não têm forçosamente um final feliz ou divertido, mas um fim

influenciado por várias condicionantes, que levarão a um bem supremo (na

divina Comédia existe um final feliz, pois apesar de um percurso cheio de dor,

o Homem pode ser mais virtuoso em vida e atingir a redenção, como explica o

autor na obra). Como o próprio Dante escreveu numa carta a Cangrande I della

Scala, a progressão da peregrinação do Inferno para o Paraíso é a expressão

mais paradigmática de comédia, pois começa com uma grande confusão moral

por parte do peregrino e termina com a visão e o perdão de Deus. Para além

de ser uma belissima obra, serviu ainda de inspiração a poetas, músicos,

pintores, cineastas e outros artistas nos últimos 700 anos do séc. XIV.

E finalmente, a sua mais grandiosa e conhecida obra, A Divina Comédia, onde

Dante é o guia numa viagem entre o mundo dos mortos, passando-nos uma

interpretação escatológica entre a vida e a morte. Foi escrita entre 1300 e

1318, em italiano, cultivando o dolce stil nuovo e estruturada em introdução e

três partes ou canzone que são os percursos pelo Inferno, Purgatório e

Paraíso, que correspondem a três passos: instrução, edificação e purificação.

Na companhia do poeta romano Vírgilio (Inferno e Purgatório) e depois de

Beatriz (Paraíso), Dante reflecte, nesta obra, o pensamento e as críticas

filosóficas, teológicas, literárias e socioeconómicas da sua época. Apresenta

uma linguagem clara, delicada, exigente e depurada; concepção engenhosa;

rigor e ordenação estrutural; pormenor descritivo e beleza de detalhe; forte

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crítica social, política e religiosa; e o uso da fantasia para descrever imagens

visuais e auditivas, especialmente no Infreno, o qual se vai diluindo para,

finalmente, ser substituído pela contemplação divina, perante a visão do

Paraíso.

6. A Peste Negra (1348)

Peste Negra foi a epidemia que mais profundamente atingiu a Europa no

séc. XIV, transmitida através da pulga do rato preto, originário da Ásia. Vinda

do Oriente, pelo Mar Negro, teve o seu primeiro porto de entrada em Itália,

através dos barcos de comércio. As pessoas infectadas manifestavam

sintomas estranhos tais como manchas negras à volta da picada, gânglios

inflamados no pescoço, nas axilas e nas virilhas, febres altas, calafrios e

enjoos.

A progressão da doença era tão

rápida que, num ou, no máximo, em dois

ou três dias, o doente falecia. As

condições de vida da população na

época também ajudaram a esta

progressão rápida da doença e à sua

mortífera proliferação: as habitações

deste tempo possuíam uma única

divisão, ventilada apenas por uma janela

pequena, o que facilitava a propagação Fig. 6 Enterros de vítimas da PesteNegra

de doenças a todos os membros da família, quando um único era contaminado;

era comum a coabitação entre animais de criação e as pessoas; o aquecimento

da casa era feito por uma fogueira e o fumo saia por um pequeno buraco no

tecto, pois não existiam chaminés (o fumo do ambiente e a humidade

contribuíam também para a propagação de vírus); não existia uma rede de

esgotos, sendo eles feitos a céu aberto; a população tinha sofrido um aumento

demográfico de tal ordem que a fome se tornou um grave problema (a

população sem meios de se alimentar, tornava-se ainda mais frágil e mais

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propensa às doenças). Pensa-se que terá dizimado metade da população

europeia em poucos anos, semeando o medo e o terror e fazendo desaparecer

comunidades e cidades inteiras.

Tal mortalidade provocou grandes desequilíbrios nas cidades, no

Estado, nas fronteiras sociais e implicou a mudança de populações entre

aldeias e regiões, alterando, assim, os circuitos comerciais e criando novos-

ricos. O medo e o desespero face a esta epidemia levaram algumas

populações a procurar “culpados” entre judeus e leprosos que, por isso,

chegaram a ser perseguidos e massacrados. Houve um ressurgimento das

peregrinações aos locais piedosos, os donativos à Igreja e as cerimónias com

procissões e flagelações colectivas. Apesar de todos estes aspectos negativos,

deve-se à Peste Negra a expansão da construção de hospitais, albergarias e

leprosarias, através das doações feitas por uma população profundamente

aterrorizada. Tanto os próprios médicos como os farmacêuticos desconheciam

uma forma de a tratar, de tal maneira que pensavam que se estivessem

totalmente vestidos, com luvas, botas e uma máscara (semelhante à cabeça de

uma ave), estariam imunes, o que não corresponde à verdade.

7. A Arte Gótica - arquitectura

Construída em louvor de Deus e dos Homens arquitectura gótica tem

como monumento máximo a Catedral e que simbolizava em si o esplendor,

prosperidade e riqueza da cidade.Os seus pináculos elevam-se para o alto

encarnando um novo pensamento teológico e intelectual.

Estes intelectuais começam a valorizar a razão do Homem como reflexo

da inteligência divina, única fonte de sabedoria. Por isso Deus era a Luz que

iluminava os crentes; foi precisamente esta mística que as catedrais góticas

pretendiam alcançar.Através da sua verticalidade, da sua dimensão espacial e

dos seus vitrais que inundavam o interior com diferentes tonalidades e

fortaleciam o misticismo.

A catedral erguida nos centros urbanos era motivo de orgulho para as

suas populações, participando na sua construção através de mão –de-obra ou

através de doações. Foi no seu encalço que a cidade medieval se expandiu.

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

Contudo o gótico não representou uma arte inteiramente nova, mas

representou o ponto de chegada de inúmeros aperfeiçoamentos técnicos

estéticos começados ainda com os arquitectos Românicos.Esta Arte apareceu

num primeiro tempo no noroeste de França.

Levada pelas hansas ou guildas esta arte difundiu-se pela Europa

harmonizando as construções europeias do século XIII embora com diferenças

regionais. Esta uniformização transformou o Gótico na 1ª Arte do Ocidente

porque se libertou das influências Bizantinas e Clássicas.

Inovações técnicas

A principal inovação consistiu na utilização do arco ogival que aparece

por volta de 1100 na Borgonha, França. Em oposição à pesada estrutura

Românica surgem estruturas vez mais envidraçadas possibilitadas pela

utilização do arco ogival ou quebrado, da abóbada de cruzaria e dos arcos

botantes. A utilização do arco quebrado possibilitou a utilização da abóbada de

cruzaria o que permitiu uma melhor distribuição das forças.Todo o peso da

abóbada é descarregado nas nervuras e conduzido aos pilares (no interior) e

aos arcobotantes e contrafortes (no exterior).As abóbadas inicialmente de 4

panos chegaram a ser divididas em 16 panos para um melhor equilíbrio das

forças.Mais leves e fáceis de sustentar as abóbadas elevam-se o que obrigou a

reforçar-se o exterior por arcobotantes e contrafortes.Quando as abóbadas se

tornavam altas de mais eram reforçadas por arcobotantes duplos.Toda a

técnica gótica se baseava na sábia utilização da abóbada de cruzaria e de um

sistema de arcos e contrafortes. A arquitectura gótica soube adaptar-se às

diferentes tipologias – religiosa, militar e civil; A planificação da catedral

obedecia a cálculos matemáticos e geométricos de modo a estabelecer as

correctas proporções.Preferiram a utilização da planta em cruz latina dividida

em três ou cinco naves.

Pináculo Abóbada

Fig.7Esquema de uma catedral

Arcobotante

Nervura

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

Contraforte

Nave lateral

Nave central Arco quebrado

Estrutura formal – Interior

Transepto: dividido em três ou cinco naves era quase tão largo como o corpo

principal mas tornaram-se menos salientes.

Cabeceira: tornou-se maior e mais complexa albergando o altar-mor, o coro e

o deambulatório.

Pilares: mais numerosos e colocados mais próximos. Ficaram mais finos e

altos conferindo verticalidade.

Paredes laterais: compostas por arcada, trifório e clerestório.

Janelas: alongadas; ocupavam quase toda a parede. Eram revestidas com

vitrais coloridos. As rosáceas estavam localizadas nas fachadas e tomaram

grandes proporções.

Estrutura formal – exterior

Portais: composto por arquivolta ogivais decoradas com estátuas e com

gablete.

Torres sineiras: por norma encontravam-se na fachada do edifício e

terminavam em telhados cónicos decorados com pináculos e agulhas,

contribuindo para a noção de verticalidade.

Ao invés do interior, o exterior era abundantemente decorado com

estatuária (portal, tímpanos, colunas, gárgulas…).

Tendo começado em França, o gótico alastrou por toda a Europa ao

longo do séc. XIV. O gótico internacional, conjunto das variações regionais do

gótico, dividiu-se em quatro fases: o gótico primitivo, o gótico clássico, o

gótico radiante e o gótico flamejante.

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

O gótico primitivo foi a derivação desenvolvida na Île-de-France

durante a segunda metade do séc. XII. Foi neste período que se introduziu o

sistema estrutural gótico e alguns elementos como a tribuna, o trifório e o

coroamento por janelas altas.

O gótico clássico deu-se durante o fim do séc. XII e a primeira metade

do séc. XIII. Neste período, assiste-se ao amadurecimento do sistema

estrutural gótico, à redução do número de andares para três, à normalização do

uso de abóbadas de cruzaria e arcobotantes.

O gótico radiante já constitui a fase de alastramento à Europa.

Desenvolvido entre meados do séc. XIII até meados do séc. XIV, caracterizou-

se pelo aparecimento de variantes locais e pelo aumento de decoração.

Finalmente, o gótico flamejante aconteceu entre meados do séc. XIV

até aos inícios do séc. XVI.

Divulgado principalmente na França, Espanha e Alemanha caracteriza-

se por uma intensa decoração de motivos ondulantes, curvas e contracurvas. A

decoração sobrepõe-se à estrutura, revestindo todo o edifício.

8. O Gótico em Portugal

O Gótico corresponde ao período final da reconquista, evoluindo com a

afirmação da nacionalidade portuguesa, com a organização administrativa do

Estado, com o desenvolvimento da economia, o povoamento das terras

conquistadas e, sobretudo, a consolidação do poder monárquico e a sua

afirmação no espaço político europeu. O estabelecimento no território da

Ordem de Cister e das Ordens mendicantes dos Franciscanos e dos

Dominicanos, ao longo dos sécs. XIII e XIV, favoreceu a difusão do “novo

estilo” que se prolonga tardiamente até ao séc. XVI, com a consagração da

“arte manuelina” quando na Europa já se consolidara o renascimento.

Os monumentos caracterizavam-se por apresentarem planta em cruz

latina, três naves e com abóbadas de nervuras; o exterior apresentava pouca

decoração com formas e linhas modestas e com contrafortesFoi na arquitectura

religiosa onde melhor se exprimiu; os exemplos mais antigos são o Mosteiro de

Alcobaça (1178-1252) e o claustro da Sé Velha de Coimbra.

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

Fig.8 Mosteiro de Alcobaça

No reinado de D. Dinis após a estabilização das fronteiras com o Tratado

de Alcanices pode-se falar em Gótico Nacional: Igreja de Santa Clara, Vila do

Conde; Igreja-Fortaleza, Leça do Balio; claustro da Sé do Porto e Sé de Viseu.

Nos reinados de D. Afonso IV e de D. Fernando assistiu-se ao reforço

gótico da sé de Lisboa e da Igreja de S. Francisco, Santarém.

No século XV atinge-se o máximo esplendor com a construção do

Mosteiro da Santa Maria da Vitória ou Mosteiro da Batalha mandado construir

por D. João I.

Devido ao seu tamanho e complexidade a sua construção arrastou-se

por mais de um século com a intervenção de vários arquitectos.

O plano inicial foi riscado por Afonso Domingues ao qual foram sendo

acrescentados a Capela do Fundador (D. João I) e as Capelas Imperfeitas (D.

Duarte).

Influenciou várias obras como: Igreja da Colegiada de Guimarães, Sé da

Guarda ou Igreja do convento do Carmo em Lisboa.

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

Como características comuns apresentavam: aperfeiçoamento das

coberturas abobadadas e dos pilares de suporte, aparecimento do arco

contracurvado e utilização de decoração vegetalista e heráldica.

Fig.9 Mosteiro de santa Maria da Vitória ou da Batalha

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

Fig.10 (cima à esquerda)

capelas imperfeitas.

Fig.11 (cima à direita) Portal

Fig.12 (esquerda) Abóbada

estrelada

É nos finais do século XV que a partir de uma nova decoração vai

nascer o Manuelino.Denomina-se por Manuelino o estilo que se desenvolveu

entre os séculos XV e XVI – durante os reinados de D. Manuel e D. João III.

Na verdade o Manuelino não é um Estilo ma suma Arte feita de muitos Estilos –

gótico flamejante, plateresco, mudéjares entre outros – misturados com a

heráldica regia, formas naturalistas, principalmente fauna e flora influenciadas

pelos Descobrimentos.

Uma característica importante foi a utilização de linguagens góticas

(plantas, sistemas de sustentação, volumetrias) e Renascentistas (naves à

mesma altura – igreja - salão)

As obras mais significativas foram executadas pelo francês Diogo de

Boitaca (Igreja de Jesus, Setúbal; Mosteiro dos Jerónimos (1502 - 1544);Sé da

Guarda; Igreja matriz de Olivença e a Igreja matriz de Freixo de Espada à

Cinta) o biscainho João de Castilho e os portugueses Mateus Fernandes

(Trabalhou no Mosteiro da Batalha – portal das capelas Imperfeitas, e abóbada

das capelas radiantes) e Diogo de Arruda (Arquitecto das obras Manuelinas do

Convento de Cristo e a Sé de Elvas (1517 - 1537) e Francisco de Arruda (Igreja

de Vila do Conde (1496-1573); Igreja de Azurara e a Torre de Belém (1515-

1547).

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

Fig. 13 Mosteiro dos Jerónimos

Fig 14 Portal da Igreja de Freixo de fig. 15 Portal da Igreja matriz de Vila do Conde

Espada à Cinta

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Fig. 16 Torre de Belém Fig. 17 Pormenor de Rinoceronte

9. A escultura

No seu conjunto, a escultura gótica pode ser agrupada em quatro

tipologias.

1ª Estátuas-coluna, aplicada nas ombreiras do portal conferindo uma

dimensão vertical ao pórtico, mas que progressivamente se vai autonomizando

em relação ao seu suporte arquitectónico.

2ª Relevo escultórico, sobretudo no tímpano do portal.

3ª Escultura de vulto redonda, em especial estatuária de devoção, resultante

da evolução das estátuas-coluna.

4ª Escultura funerária, ou seja, arcas tumulares e estátuas jacentes.

A partir do século XIII a escultura afirmou-se na Arte Média;Numa

primeira fase as estátuas estavam colocadas em nichos e baldaquinos,

caracterizando-se pela rigidez e pela figura alongada.Como passar do tempo a

escultura gótica adquire uma figuração mais naturalista e realista aparecendo

as figuras com um certo movimento. As figuras adquirem uma perfeição e são

tratadas com uma correcta anatomia e um maior detalhe nos cabelos/barbas

mãos, rosto e nas roupagens oferecendo mais expressividade.

Escultura decorativa

As fachadas e os portais são os principais sítios onde se encontram as

esculturas decorativas; juntamente com os pináculos, rosetas, arcobotantes,

gabletes e os vitrais contribuem para a decoração exterior.

Nos portais, nos tímpanos e nos gabletes por norma representam-se

cenas bíblicas com a temática mais comum a ser composta por, Cristo em

Majestade, Juízo Final, Representação da Virgem ou Vida de santos;

As representações que aparecem nos cachorros, nas gárgulas ou nos

medalhões são muito diversos e ainda com influências Românicas.Esta

estatuária apresentava-se toda colorida, com a pele e o cabelo em tom natural

e as vestes multicoloridas.

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Fig 18 Catedral de Reims fig 19 Portal da catedral de Toro

Escultura tumular

A partir do século XIII os nobres começaram a demonstrar uma

preocupação em preservar a sua memória após a sua morte, mandando

construir para o efeito arcas tumulares.

No inicio a preocupação não era representar o defunto pois as suas

armas e brasões estavam presentes.

Só a partir do século XIII é que começam a aparecer retratos idealizados

onde o defunto é retrato com um leve sorriso.A partir dos século XIV e XV é

representado envolto num lençol, nu ou em estado de decomposição.

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Fig. 20 (esquerda) Túmulo funerário

Fig. 21 (cima) Arca tumular de D. Pedro I

10. Pintura

Tal como a escultura, a pintura gótica revela no seu período final uma

preocupação naturalista e humanista que irá desembocar no Renascimento

principalmente na Itália.

A pintura evolui do Estilo Românico para o Gótico no século XIII; devido

à grande diversidade nos diferentes países a partir do século XIV designa-se

por Estilo Internacional.

Estilo Internacional – características

• Referências bizantinas: utilização de tons dourados e brilhantes.

• Realismo dos rostos e dos panejamentos.

• Nova concepção do fresco onde predominam as paisagens

arquitectónicas.

• Desenvolvimento do retrato e da paisagem;

• Refinamento técnico principalmente na Flandres;

O vitral

• Teve o apogeu entre 1200 e 1260.

• A essência é a luz que surge como elemento primordial e criador de um

espaço de fé.

• Aplicado nas rosáceas e nas janelas.

• Consistia na união de pedaços de vidro colorido através de chumbo.

• Os principais temas retratam o Antigo/Novo Testamento, vida de Cristo e

dos santos.

• Teve particular significado em França onde substituir os frescos.

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

Iluminura

• Sofre influência Românicas e Bizantinas.

• Apesar do crescente realismo a composição interessou-se tardiamente

pela representação espacial.

• Os temas são essencialmente religiosos.

• Entre as representações mais importantes conta-se o Livro de Horas.

• Estes livros tinham uma leitura simbólica associando cada ilustração a

um mês.

Pintura mural e Retábulo

A pintura Gótica apresenta-se igualmente sob a forma de pintura mural

(fresco) e no retábulo.

A pintura em Itália

Ao contrário do Norte Europeu as igrejas permanecem largas e baixas

mantendo paredes sólidas o que incentivou a técnica a fresco.

A maior parte das cidades italianas – Florença, Milão, Roma, Veneza e

Pisa…- adquiriram grande autonomia e poderio económico.

Este desenvolvimento juntou humanismo com espiritualismo

desprendendo-se das influências Românicas e Bizantinas e anunciando o

racionalismo Renascentista. Este período fica conhecido pelo Trecento.

Dos grandes pintores destacam-se:

• Escola de Florença: Cimabue (1240 – 1302) e Giotto (1267 – 1337);

• Escola de Siena: Duccio di Buoninsegna (1255 – 1318/19), Simone

Martini (1284 – 1344) e Ambrogio Lorenzetti.

Características

• Maior realismo dos corpos, rostos e dos panejamentos.

• Figuras menos estilizadas e mais dotadas de atitudes teatralizadas.

• Procura aplicar a pintura em perspectiva.

• Importância da paisagem.

• Interesse pela narrativa pictórica.

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Fig. 22 capela dos Scrovegni, Giotto fig. 23 Adoração dos magos, Giotto

Fig. 24 Simone Martini: Anunciação (1333 Fig 25 O mau Governo (pormenor) Ambrogio Lorenzetti

A pintura da Flandres ou Flamenga

A Arte Flamenga desenvolveu-se durante o século XV, muito ligada à

emergente burguesia mercantilista.Este progresso permitiu um bem – estar e

uma prosperidade económica prestando a Arte muita atenção ao quotidiano.

Os artistas vão privilegiar o retrato físico e psicológico, aplicando um

grande realismo, dando-se importância ao detalhe quer anatómico quer nos

panejamentos assim com dá uma grande importância à paisagem e à

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

arquitectura.

A principal inovação técnica foi a utilização do óleo que permitiu dar

à pintura maior colorido. A pintura está repleta de simbolismos.Os principais

pintores Flamengos foram: Hugo van der Goes, Jan Van Eyck (1390 – 1441),

Rogier van der Weyden (1400 – 1464), Hans Memling (1453 - 1494) e

Hieronimus Bosch (1450/60 – 1516);

Fig. 26tríptico de Portinari (1475)– Hugo Van der Goes

Fig 27 Adoração do Cordeiro Místico - Jan van Eyck

11. Ainda sob o signo de Alá: dos reinos taifas ao Reino de

Granada

O contexto militar

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Módulo 4 – A Cultura da Catedral [2010/2011]

Como já vimos anteriormente o Sul da Europa medieval conviveu com a

Arte Islâmica sendo por esta influenciada.

Se num primeiro momento a expansão islâmica se mostra unitária a

partir do século XI verifica-se uma fragmentação política que levou a uma

diversidade artística.

No Oriente islâmico sucederam-se várias dinastias de origem turca, e

mongol.

No Ocidente Islâmico a queda do califado de Córdova (1030) deu origem

à formação dos reinos taifas (pequenas unidades politicas chefiadas por

príncipes árabes).

Aproveitando a instabilidadepolítica, os cristãos reforçaram a reconquista

avançando sobre estes reinos. De forma a resistirem, estes pequenos reinos

uniram-se sobre as dinastias dos Almorávidas e depois dos Almóadas. Com

aqueda dos Almóadas o domínio islâmico sobreviveu em Granada (dinastia

nasrite) até 1492 quando foram conquistados e expulsos pelos Reis Católicos.

Apesar disto a tradição artística perdurouatravés dos mudéjares.

A Arte dos reinos taifas

Na arquitectura utilizou-se o tijolo o estuque e a argamassa que

substituíram a pedra e o mármore.

Os motivos decorativos eram abundantes e predominaram os motivos

vegetalistas sobre os geométricos e epigráficos.

Os edifícios mais significativos foram os palácios, alcáçovas e os banhos

públicos.

A Arte dos Almorávidas e dos Almóadas

A arte Almorávida divide-se em dois períodos; o primeiro corresponde ao

governo de Yusuf ibn Tasufine (1061 - 1106) e caracteriza-se pela austeridade

decorativa; o segundo corresponde ao governo de Ali ibn Yusuf (1106 - 1143) e

caracteriza-se pela ornamentação hispano – muçulmana.

A Arte Almóada caracteriza-se pela simplicidade decorativa e por uma

maior monumentalidade. O ornamento recorre a formas geométricas

entrelaçadas.

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A Arte nasride, em Granada

A nível construtivo e decorativo esta arte apresenta dois tipos de

arquitectura: uma funcional que utilizou materiais baratos e perecíveis

(argamassa e tijolo) aplicadas às muralhas, alcáçova e banhos públicos; a

outra era rica e luxuosa praticada nos palácios. Aqui aplicava-se mármore

capitéis trabalhados, painéis de azulejos juntamente com estuque decorado

com motivos vegetalistas geométricos e epigráficos.

O monumento mais famoso é o palácio de Alhambra.

Fig. 28 Interior Fig. 29 Pormenor da decoração Fig. 30 Esquema do palácio

A Arte mudéjar

Designa - se por arte mudéjar a arte praticada por artesãos islâmicos em

território cristão e por encomendas cristãs embora mantendo características

técnicas e formais islâmicas. Esta Arte reflecte a vivência entre cristãos e

mouros.

A Arte mudéjar vai predominar preferencialmente sobre a forma de

decoração embora também se encontre em algumas obras mais

especificamente em torres – minaretes.

Os principais focos foram Castela e Leão, Toledo, Aragão e a Andaluzia.

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