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EUGÊNIO PACELLI VIEIRA MOTA
AS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS NO DESENVOLVIMENTO DE UMA MENTALIDADE DE DEFESA
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Prof. Ms. Gustavo Alberto Trompowsky
Heck
Rio de Janeiro 2013
C2013 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________
Assinatura do autor
Biblioteca General Cordeiro de Farias
Mota, Eugênio Pacelli.
As Operações Psicológicas no desenvolvimento de uma mentalidade de defesa. Cel EB Eugênio Pacelli Vieira Mota - Rio de Janeiro : ESG, 2013.
51 fl.
Orientador: Prof. Ms. Gustavo Alberto Trompowsky Heck. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013.
1. Mentalidade de defesa. 2. Operações Psiscológicas. 3.
Instrumentos de influenciação. I.Título.
A todos da minha família que durante o meu período de formação contribuíram com ensinamentos e incentivos.
A minha gratidão, em especial à minha esposa Rejane e aos meus filhos Natállia, Camilla e Pacelli Filho, pela compreensão, como resposta aos momentos de minhas ausências e omissões, em dedicação às atividades da ESG.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 11
2 AS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS NA ATIVIDADE MILITAR.................... 15
2.1 HISTÓRICO.................................................................................................... 15
2.2 DEFINIÇÃO.................................................................................................... 17
2.3 AMPARO LEGAL............................................................................................ 19
2.4 NÍVEIS DE ATUAÇÃO.................................................................................... 23
2.5 INSTRUMENTOS DE INFLUENCIAÇÃO PSICOLÓGICA............................. 26
3 DEFESA NACIONAL..................................................................................... 34
3.1 CONCEITOS E DEFINIÇÃO........................................................................... 34
3.2 A PROBLEMÁTICA ATUAL............................................................................ 37
3.3 PERCEPÇÃO ACERCA DA DEFESA NACIONAL........................................ 38
4 ANÁLISE E INTEGRAÇÃO DOS DADOS..................................................... 40
5 CONCLUSÃO................................................................................................. 45
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 50
APÊNDICE A – MENTALIDADE DE DEFESA.............................................. 52
AGRADECIMENTOS
Aos meus professores de todas as épocas por terem sido responsáveis por
parte considerável da minha formação e do meu aprendizado.
Aos estagiários da melhor Turma do CAEPE, Turma FORÇA, Brasil! pelo
convívio harmonioso de todas as horas. Pelas inequívocas e constantse provas de
amizade, apoio e solidariedade a mim e minha família neste momento delicado que
atravessamos.
Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me
fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil com a
responsabilidade implícita de ter que melhorar.
Ao amigo e orientador Prof Heck, um exemplo de mestre e pessoa humana,
de competência e humildade, que com sensibilidade, amizade e profissionalismo
invulgar soube me conduzir na confecção desse TCC, mostrando-me sempre o valor
de perseverar e tentar superar os obstáculos.
Lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema. A glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar. Sun Tzu
RESUMO
Este trabalho aborda a questão da mentalidade de defesa para o Brasil, tendo por
objetivo geral apresentar as possibilidades de utilização das atividades de
Operações Psicológicas com a capacidade técnica de criar ou ampliar uma
mentalidade de defesa no Brasil. Busca-se mostrar aspectos históricos e
doutrinários dessa Atividade Militar e como suas ferramentas de aplicação podem
auxiliar nesta importante e necessária tarefa de construção de um sentimento mais
profundo da necessidade do sentimento de defesa do país. Também, mostra-se a
questão do atual estágio da mentalidade de defesa entre os brasileiros, citando os
óbices existentes, e a serem superados, e uma atual tendência de percepção do
tema por parte de um grupo de estudantes universitários. A cada dia cresce a cobiça
internacional por matérias primas de energia, agricultura e água potável, aspectos
que, no Brasil, existe uma reserva significativa a ponto de ser absolutamente factível
considera-lo como uma real, ou no mínimo potencial, ameaça. É sentimento comum
entre renomados autores e especialistas de defesa, não somente a importância do
assunto em pauta, mas também que é um dever cívico, por parte dos brasileiros,
estar preparado para fazer do sentimento patriótico de defesa de seu país já uma
primeira e intransponível barreira. A atividade de operações psicológicas, no
contexto das operações militares, é parte integrante da gama de atividades de
operações especias em vários países mundo afora e possuem ações de
planejamento e execução nos diferentes níveis de atuação do espectro das
atividades militares, qual seja o nível tático, operacional e estratégico, sendo
primordialmente executada por especialista de acurada formação. Neste sentido,
diversas iniciativas governamentais já foram levadas a efeito, quer pelo poder
executivo como a implantatação de seminários, criação de cursos, palestras em
foros adequados envolvendo o tema defesa, quer pelo poder legislativo com a
aprovação de importantes documentos que norteiam e regulam uma política e
estratégia nacionais no tocante a defesa, ampliando à participação de todos os
brasileiros na construção de uma mentalidade de defesa ao Brasil.
Palavras chave: Operações psicológicas. Defesa nacional. Instrumentos de
influenciação.
ABSTRACT
The purpose of this monograph is topresent the possibilities of using Psychological
Operations activities with the to create or enlarge a defensive mindset in Brazil. The
study discusses the historical and doctrinal Military Activity and how its application
tools can assist in this important and necessary task of building a stronger sense of
national defense. It also focuses the current mentality of defense by Brazilian college
students, citing the existing obstacles to overcome, and current perceptions. Today,
with increased international greed for raw energy, agriculture and drinking water,
resources that Brazil has a significant reserve, but which could become potential
threat in the future. It is common belief among renowned authors and defense
experts, that it is a important civic duty, for Brazilians to be prepared to do their
patriotic duty to defend the nation by all means necessary. The activity of
psychological operations, in the context of military operations, is part of the range of
activities of special operations for several countries around the world and has both
planning and execution of actions at different levels in the spectrum of military
activities, namely the tactical level, operational and strategic, and are primarily
performed by trained specialists. The main objective of psychological operations is
the creation or modification of desirable behaviors using the influence as a
psychological instrument. The current experience by Brazil for population highlights
global concerns of the nations and also recommends actions to increase the level of
current defense mindset. In this sense, several government initiatives have been
carriedout either by the executive branch such as seminars, informational courses,
lectures on national defense, or by the legislature supported by strategic documents
that guide and regulate Brazilian policy and strategy regarding national defense,
which ultimately emphasizes increasing the participation of all brazilians in building a
national defense mindset.
Keywords: Psychological operations. National defense. Influencing instruments.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 Emprego de Op Psico nas fases de um conflito .............................. 25 FIGURA 2 Operação militar (persuasão).............................................................26 FIGURA 3 Pressão econômica (imposição comportamental) ........................... 27 FIGURA 4 Ação comunitária (integração local) ................................................. 27 FIGURA 5 Ação Cívico-Social (assistência) ...................................................... 28 FIGURA 6 Ação de presença (segurança e intimidação) .................................. 28 FIGURA 7 Ação governamental (influenciação e imposição) ............................ 29 FIGURA 8 Pressão política (imposição) ............................................................ 29 FIGURA 9 Demonstração de força (dissuasão) ................................................ 30 FIGURA 10 Operação de Comunicação Social (influenciação) .......................... 30 FIGURA 11 Acordo internacional (negociação) ................................................... 31 FIGURA 12 Mobilização de massa ...................................................................... 32 FIGURA 13 Operações subliminares (influenciação) .......................................... 32 FIGURA 14 Criação de crenças (educação) ....................................................... 33 FIGURA 15 Índice de credibilidade das instituições ............................................ 35 FIGURA 16 Mapa do Brasil ................................................................................. 38 FIGURA 17 Produto de Op Psico (exemplo) ....................................................... 44
LISTA DE TABELA
Tabela 1 Resumo das observações coletadas na pesquisa ................................. 42
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CDN Conselho de Defesa Nacional
CF Constituição Federal
DMD Doutrina Militar de Defesa
EMCFA Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas
E Mi D Estratégia Militar de Defesa
END Estratégia Nacional de Defesa
ESG Escola Superior de Guerra
GSI/PR Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
HE Hipótese de Emprego
MCN Mensagem ao Congresso Nacional
Pub A Público- Alvo
Op Psico Operações Psicológicas
P M D Política Militar de Defesa
PND Política Nacional de Defesa
UEB Universidade Estadual da Bahia
UFA Universidade Federal do Acre
UFF Universidade Federal Fluminense
UNB Universidade de Brasília
UNIR Universidade Fededal de Rondônia
11
1 INTRODUÇÃO De acordo com o preconiza a Política Nacional de Defesa (PND) a Defesa
Nacional é caracterizada como “o conjunto de medidas e ações do Estado, com
ênfase na expressão militar, para a defesa do território, da soberania e dos
interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou
manifestas”. O estágio de desenvolvimento sócio-econômico alcançado pelo Brasil nos
últimos anos tem elevado a importância do país no cenário mundial. Tal destaque
demanda a preparação de um cidadão mais consciente, mais presente e
participativo nos assuntos afetos às questões nacionais, ao tempo que despertam na
comunidade internacional uma maior atenção e interesses ao Brasil. Soma-se a questão do desenvolvimento o fato do país possuir um
invejável pontecial de fontes de energia, maior reserva de água doce do planeta e
vasto território a ser explorado no cultivo de alimentos, aspectos que sabidamente
representam a grande demanda do próximos 50 (cinquenta) anos. A população brasileira vem construindo um novo perfil comportamental de
participação cidadã, representando uma excepcional oportunidade para que nesta
mudança sejam incorporada uma nova postura em relação aos assuntos de defesa
em geral, agregando mais valor nacionalista ao cidadão brasileiro e obtendo-se uma
maior participação da população civil nos sentimentos e temas vinculados à defesa
nacional. Tal aspecto é claramente mostrado na nova PND que, dentre os Objetivos
Nacionais de Defesa traçados, destaca-se a conscientização da sociedade brasileira
acerca da importância dos assuntos de defesa do País. Neste contexto as Operações Psicológicas, estrategicamente planejadas e
com o desenvolvimento de campanhas em públicos-alvos específicos, representam
uma eficiente ferramenta com possibilidade de uso por parte do Ministério da Defesa
e das respectivas Forças Militares para auxiliarem na conquista de corações e
mentes em prol do desenvolvimento de um maior sentimento de Defesa Nacional.
Este trabalho tem por objetivo geral apresentar as possibilidades de utilização das
Operações Psicológicas como um instrumento de desenvolvimento na criação ou
ampliação de uma mentalidade de defesa no Brasil. Evidencia-se como problema
12
então a questão acerca de quais maneiras e possibilidades que as atividades de
operações psicológicas podem auxiliar neste intuito.
Na intenção de atingimento do objetivo geral e em alinhamento com a
problematização levantada, este trabalho será desenvolvido por meio de uma
pesquisa exploratória.
Essa pesquisa será focada no levantamento de dados que permitam analisar
a realidade psicossocial brasileira em relação aos assuntos de defesa, identificando
oportunidades para a aplicação de campanhas de operações psicológicas no intuito
de incremento do pensamento acerca do tema.
Também, será realizada uma busca bibliográfica sobre os principais autores
ligados com esta temática, identificando pontos favoráveis ao levantamento de
questões correlatas. Serão utilizados os principais instrumentos normativos dos
assuntos de defesa no país, quais sejam: o Livro Branco de Defesa, a Política
Nacional de Defesa e a Estratégia Nacional de Defesa. Ainda serão realizadas
entrevistas com profissionais especializados, bem como a provável aplicação de
questionários em públicos-alvos de interesse à coleta de informações.
A Política Nacional de Defesa apresenta como um de seus propósitos a
conscientização de todos os segmentos da sociedade brasileira da importância da
defesa do País e de que esta conscientização é um dever de todos os brasileiros.
Notadamente, a mentalidade de defesa no país é um aspecto pouco
difundido no seio da população brasileira, pouco discutido e carecendo de especial
atenção na formação e propagação de pensamentos e ideias relacionados à defesa
e segurança. Nota-se ainda pouco envolvimento de todos os segmentos da
sociedade brasileira nesta temática de suma importância ao País.
A falta de apresentação e discussão de temas relacionados a defesa, aliado
a pouca percepção de potenciais ameaças que afetem diretamente os objetivos
nacionais fundamentais sugerem que alguma ação, no sentido de mudança desse
quadro, seja planejada e executada a curto prazo, engajando a todos em um
sentimento maior de nacionalidade e brasilidade.
As Operações Psicológicas, atividade militar que recentemente (cerca de 10
anos) foi totalmente reformulada na doutrina e emprego, representam uma
ferramenta com elevado potencial de produzir efeitos valiosos no campo da criação
e difusão de uma mentalidade de defesa autóctone.
13
Devido a abrangência e possibilidade de emprego nos diversos níveis de
atuação de uma Força Militar (estratégico - operacional - tático) esta Atividade pode
ser estrategicamente planejada e empregada nas Operações Militares para a
obtenção de efeitos psicológicos previamente estabelecidos na busca do incremento
de uma mentalidade de defesa, corroborando a assertiva de que as Operações
Psicológicas, estrategicamente e criteriosamente planejadas, podem ser de grande
valia no desenvolvimento de uma mentalidade de defesa, estimulando um
incremento do sentimento de defesa e brasilidade na população e cooperando com
outros meios de que o poder nacional dispõem para auxiliar na operacionalização
dessa ação.
Pretende-se que este estudo venha a contribuir como uma fonte de consulta
na orientação e facilitação de futuras ações para um desenvolvimento de um
sentimento e mentalidade de defesa em nosso país, comprometendo os diversos
públicos-alvos trabalhos como meio multiplicador de ideias e ações correlatas com a
temática em questão.
A bibliografia acerca da mentalidade de defesa encontra amparo teórico em
diversos pensadores ligados as atividades de política externa, relações
internacionais, professores de ciências humanas e sociais e militares propriamente
dito.
Observando a teoria do Soft Power, de Joseph Nye (2004) depreende-se
que o uso de medidas de influenciação direcionados a públicos específicos,
relacionados a questões de defesa e das ações de força do Estado, reflete
diretamente no entendimento, na aceitação e na legitimidade destas ações.
A Política Nacional de Defesa (2012) oferece subsídios para análise e
reflexão na temática em pauta, notadamente na citação de alguns dos objetivos
nacionais de Defesa e nas orientações finais do instrumento.
A Estratégia Nacional de Defesa (2012) também se mostra como uma fonte
de leitura e informações ao presente trabalho, em especial na orientação oferecida
acerca da relação da sociedade com suas Forças Armadas.
Baseado na percepção que esta população tem de suas Forças Armadas
nos dias atuais, do perfil sociológico do brasileiro e da mentalidade de defesa atual,
a presente pesquisa apresentará o tipo de instrumento de influenciação psicológica
mais eficiente para otimização em alguns desses segmentos populacionais,
prioritariamente, sobre estudantes universitários.
14
Serão trabalhadas apenas as Operações Psicológicas do tipo branca, dentro
da doutrina atual de emprego do Ministério da Defesa, e sobre públicos-alvos
definidos, observando precisamente as orientações constantes nos documentos
legais e normativos da atividade militar trabalhados durante a realização da
pesquisa.
Este trabalho está organizado em 5 (cinco) seções. A primeira, trata da
Introdução, explorando aspectos acerca da importância e pertinência do tema, e
explicitando o objetivo geral, o problema levantado, como também a limitação da
pesquisa.
Na seção 2 (dois), são exploradosconceitos sobre a Atividade de Operações
Psicológicas sob o enfoque militar, apresentando um resumido histórico, a discussão
sobre a atual definição adotada e também aspectos sobre o amparo legal da
Atividade e apresentação dos instrumentos de influenciação psicológicas.
A seção 3 é dedicado à exploração do assunto defesa nacional com a
abordagem dos amparos legais e normativos e com a apresentação de uma visão
de um público-alvo espeíficos sobre o entedimento e da abragência do vocábulo. Na
seção 4, será realizada uma análise e integração dos dados levantados na
blibliografia e na aplicação do questionário. A seção 5 apresenta as considerações
finais do presente trabalho e uma indicação de futuros aproveitamento de ideias e
conhecimento relacionados ao tema explorado.
15
2 AS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS NO CONTEXTO DA ATIVIDADE MILITAR
2.1 Histórico
A origem da atividade de Operações Psicológicas remonta a tempos
passados.
Ao longo da história do homem no planeta Terra, desde relatos bíblicos a
fatos históricos cientificamente comprovados, o emprego das ações de persuasão,
das ações de influenciação,do controle de massas populacionais, etc podem ser
referenciados. Em realidade o grande marco histórico de uso militar, e considerado
pelos diversos exércitos mundo afora, está balizado pelo uso da persuasão como
instrumento empregado nas operações militares.
Esta persuasão1 era trabalhada de diversas formas, quais sejam:
convencimento, dissuasão, receio, medo, influenciação, etc. Assim,diversas são as
passagens que podem ser citadas a título de exemplificação, dentre elas destacam-
se:
- tomada da cidade de Aratta pelo Rei Enmerkar, aproximadamente aos 3.000
anos A.C. quando utilizando da infiltração de agitadores e sabotadores no meio dos
habitantes da próspera cidade, disseminou o boato acerca do poderio do império de
Enmerkar, provocando insegurança, medo e agitação social na população local, até
a sua rendição (entregar-se sem lutar) ao seu poderio. EB C 45-4 (Anexo 1, p. A-1).
- relato bíblico sobre a passagem do Rei Gedeão, em 1245 A.C., quanto
ludibriou o inimigo de suas tropas, equipando cada um dos seus 300 soldados com
uma tocha e uma trombeta e produzindo um efeito visual e sonoro que levou o
adversário à desordem e confusão, vencendo a batalha.
- o episódio conhecido como “Cavalo de Tróia”, onde os gregos adentraram a
Fortaleza da Tróia, escondidos de um grande cavalo de madeira que fora
aprisionado pelos troianos como troféu sobre a vitória contra os gregos, conseguindo
assim iludir a percepção inimiga troiana e alcançou o objetivo de invadir aquela
fortaleza militar. Ainda hoje é considerado o símbolo que identifica esta atividade de
Operações Psicológicas em diversos exércitos.
1é uma estratégia de comunicação que consiste em utilizar recursos lógico-racionais ou simbólicos para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma atitude, ou realizar uma ação.
16
- por volta de 400 a 320 A.C., dá-se o surgimento da estrategista chinês, Sun
Tzu, que produziu o mais antigo documento sobre questões de guerra e estratégica
militar na luta contra exércitos adversários, inclusive apresentando o poder das
ações de cunho psicológico “ lutar e vencer todas as batalhas não é a glória
suprema, a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar ”.
- outro registro relevante no desenvolvimento histórico das operações
psicológicas é atribuído à Igreja Católica que compreendeu e desenvolveu as
potencialidades de poder sobre grandes massas de opinião. Segundo Carr (2001, p.
173): “ a Igreja Católica na Idade Média foi uma instituição para difundir certas
opiniões e extirpar outras contrarias àquelas: como a primeira censura e a primeira
organização de propaganda.”
- na Primeira Guerra Mundial tem-se o registro da utilização das ações de
“combat propaganda” com o uso da atividade de persuasão durante o conflito.
Embora estivesse mais vinculados a órgãos civis dos estados beligerantes, ou
mesmo ligados na estrutura das sessões de Inteligência estatais. Segundo o Manual
de Campanha do Exército Brasileiro C 45-4 (1999, p. A-6) “ foi durante este conflito
que as operações psicológicas transformaram-se de simples instrumento eventual
em um dos principais instrumentos militares.”
Somente ao término do primeiro conflito mundial e por iniciativa do Presidente
dos EUA, Woodrow Wilson, é que o termo “combat propaganda” foi substituído pela
expressão Guerra Psicológica, ganhando exponencial incremento em termo de
doutrina e emprego como atividade de Operações Especiais do Exército dos EUA.
- também, registra-se o largo emprego da atividade de Operações
Psicológicas durante a Segunda Guerra Mundial, notadamente pela máquina de
guerra alemã, por meio do meticuloso trabalho planejado e elaborado por Joseph
Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, que empregou esta Atividade em
diversas oportunidades para subjugar a vontade do inimigo em lutar, o domínio
lógico-racional dos alemães para apoio às ações do Fuhrer (o condutor, o líder ou
chefe) e a modificação de crenças e comportamento dos dominados ao pensamento
alemão.
Já a época da Guerra do Vietnã, o Exército Americano mudou a denominação
para Operações Psicológicas (Goldstein, 1996, p. 25-29), que permanece em uso
até os dias atuais por diversos exércitos.
17
- encontram-se também registro na Guerra da Coréia, Guerra do Vietnã,
Guerra das Malvinas, Guerra da Bósnia, Guerras do Golfo, etc.
Independente da nomenclatura adotada, é fato sabido que há um
considerável volume de conhecimentos e experiências acumuladas ao longo do
tempo sobre o emprego da arte da persuasão os quais servem de recurso
inestimável para a reconhecida importância e utilidade da Atividade de Operações
Psicológicas.
2.2 Definição
O Ministério da Defesa adotou, acompanhando os estudos iniciados pelo
Exército Brasileiro, uma definição para as Operações Psicológicas, estabelecida por
ocasião da elaboração da primeira Diretriz Estratégica de Operações Psicológicas
daquela Força no início de 2004.
Assim, ficou padronizada a seguinte definição:
Operações Psicológicas são procedimentos técnico-especializados,
operacionalizados de forma sistemática para apoiar a conquista de
objetivos políticos e/ou militares e desenvolvidos antes, durante e
após o emprego da Força, visando a motivar públicos-alvo amigos,
neutros e hostis a atingir comportamentos desejáveis.
Analisando as principais ideias que compõem a definição em pauta, verifica-
se que em seu conjunto ela destaca os aspectos técnicos e um alcance ético do seu
emprego.
No tocante a abordagem aos procedimentos técnico-especializados deduz-se
da necessidade de um pleno conhecimento das técnicas envolventes à utilização da
Atividade, com conhecimentos teóricos envoltos nas ciências humanas e sociais.
Caracteriza-se por uma especialização bastante detalhada do profissional que
exerce funções no emprego da mesma, não cabendo nenhum tipo de improvisação
ou amadorismo aos seus usuários.
A forma sistemática de operacionalização da Atividade reflete a ideia de
interdependência com outros sistemas correlados, fazendo parte de um conjunto
maior de outras atividades que somente apresentam a eficiência e eficácia de
emprego se coordenadas entre si. Destaca-se a Atividade de Inteligência e de
18
Comunicação Social como subsistemas mais próximos de planejamento e emprego
para um aproveitamento maior das pontecialidades oferecidas.
A amplitude da Atividade é observada na referência aos objetivos políticos
e/ou militares, denotando a flexibilidade da Atividade ao estar presente nas decisões
dos mais altos níveis de atuação, cabendo a estes níveis o estabelecimento dos
objetivos a serem atingidos nas campanhas de Operações Psicológicasque serão
executadas pelo nível tático de atuação. Também, esta característica mostra o
aspecto integrador da Atividade com outros subsistemas existentes em operações
militares cujos objetivos são definidos no mais alto escalão empregado.
No que se refere à oportunidade de desenvolvimento (operacionalização) das
Operações Psicológicas, elas são executadas antes, durante e após o emprego da
Força, ou seja, apresenta a necessidade de uma duração plena de atuação para: a
eficiência das campanhas planejadas; eficácia dos resultados, ou seja, atingimento
dos objetivos psicológicos elaborados e efetividade na ação para manutenção e
controle das conquistas realizadas.
A motivação a públicos-alvo amigos, neutros e hostis estabelece sobre quem
estas operações são dirigidas ou direcionadas. Considera-se por doutrina militar que
as Operações Psicológicas são realizadas para atingir públicos-alvo e não
especificamente indivíduos isolados, É oportuno destacar que ao estudar um
determinado público-alvo (PA) ou uma determinada sociedade, cabe ao analista de
Op Psico2 observar aspectos com relação à ordem social (cultura do grupo, normas
de condutas, padrões éticos, etc).
A análise de público-alvo no nível estratégico poderá muitas vezes trabalhar
com grandes públicos, diferentemente dos públicos-alvo menores dos níveis tático
ou operacional. Nestes casos, quando o público-alvo se confunde com uma
sociedade inteira, deve-se buscar o perfeito entendimento das regras de
comportamento do grupo e descobrir os aspectos basilares da cultura desse grupo
para uma maior facilidade de operacionalização das campanhas e uma objetividade
de resultados.
O atingimento a comportamentos desejáveis representa o produto real e
prático do trabalho executado da influenciação. Ressalta a importância na
consecução dos objetivos politicos e/ou militares planejados e, ressalta também, a 2Trata-se do profissional especializado em Operções Psicológicas que cuida do estudo sistemático do ambiente social e cultural sobre o qual recairá uma de operações psicológica
19
utilidade do emprego das Operações Psicológicas. A obtenção de comportamentos,
como sugere a definição, é estudada no campo da Psicologia Social, ao tratar da
influência social. É justamente a aplicação da influência social que forma o escopo
das Op Psico.
2.3 Amparo Legal O amparo legal para emprego das Operações Psicológicas no Brasil encontra
respaldo primeiramente e primordialmentena Constituição Federal, por entedimento
e dedução das ações necessárias ao próprio cumprimento do preceito
constitucional. No Brasil o papel das Forças Armadas está bem definido e delimitado
na Constituição Federal de 1988, em seu Art. 142: As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
A magnitude e responsabilidade dessa atribuição demanda a necessidade de
uma Força Armada estruturada e preparada para responder às demandas referentes
à defesa dos interesses nacionais, em conformidade com o arcabouço jurídico
estabelecido pelos poderes constituídos. Segundo Flores (2002, p 14): “em cada
época e em cada país, as concepções e as doutrinas estratégicas devem ser
avaliadas e ajustadas para uso como inspiração daquele preparo”.
Ainda por uma análise do Art. 142 da CF, é possível deduzir que a garantia de
poderes constitucionais, da lei e da ordem pressupõe não somente o emprego da
força militar, mas também a busca de comportamentos desejáveis, de acordo com
os objetivos politicos, o que por si só demonstra a possibilidade do emprego de Op
Psico desde o mais alto nível de planejamento.
Outros documentos legais reforçam o suporte necessário jurídico para
emprego no nível estratégico:
- A Política Nacional de Defesa (PND):
A Política Nacional de Defesa, aprovada pelo Congresso Nacional em 20 de
março de 2013, e de acordo com o contido na mensagem encaminhada pelo
governo (MCN 83/2012), é:
20
o documento condicionante de mais alto nível do planejamento de defesa e tem por finalidade estabelecer objetivos e diretrizes para o preparo e o emprego da capacitação nacional, com o envolvimento dos setores militar e civil, em todas as esferas do poder nacional.
Seu conteúdo está dividido em 7 tópicos: 1. Introdução; 2. O Estado, A
Segurança e a Defesa; 3. O Ambiente Internacional; 4. O Ambiente Regional e o
Entorno Estratégico; O Brasil; 6. Objetivos Nacionais de Defesa e 7. Orientações.
Em diversos momentos é possível observar a preocupação que a PND
atribuiu ao tema defesa, destacando:
Item 1: “ Um dos propósitos da Política Nacional de Defesa é conscientizar
todos os segmentos da sociedade brasileira da importância da defesa do País e de
que esta é um dever de todos os brasileiros.”
Item 2: Preservar a segurança requer medidas de largo espectro, envolvendo, além da defesa externa: a desefa civil, a segurança pública e as políticas econômicas, social, educacional, científico-tecnológica, ambiental, de saúde, industrial. Enfim, várias ações, muitas das quais não implicam qualquer envolvimento das Forças Armadas.
Item 6: “ VIII - conscientizar a sociedade brasileira da importância dos
assuntos de defesa do País;”
Item 7: “ 7.3. O Serviço Militar Obrigatório é a garantia de participação de
cidadãos na Defesa Nacional e contribui para o desenvolvimento da mentalidade de
defesa no seio da sociedade brasileira.”
- A Estratégia Nacional de Defesa (END):
A Estratégia Nacional de Defesa estabelece como fazer o que é determinado
na Política Nacional de Defesa.Traz em seu conteúdovários pontos de reflexão a
respeito da possibilidade de emprego de Operações Psicológicas no nível
estratégico.
A mensagem inicial da END, preparada pelos Ministros da Defesa e da
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, apresenta
diversas ideias onde é possível constatar a preocupação com a mentalidade de
defesa da sociedade brasileira, ao estabelecer que: nova postura no campo da Defesa, a ser consolidada através do envolvimento do povo brasileiro. À sociedade caberá, por intermédio
21
de seus representantes do sistema democrático e por meio da participação direta no debate, aperfeiçoar as propostas apresentadas. colocar as questões de defesa na agenda nacional e de formular um planejamento de longo prazo para a defesa do País é fato inédito no Estado brasileiro. Reafirma o compromisso de todos nós, cidadãos brasileiros, civis e miltares, com os valores maiores da soberania, da integridade do patrimônio e do território e da unidade nacionais.
Efetivamente, para que a sociedade participe de um debate a respeito da
defesa do País, faz-se necessária a existência de uma mentalidade de defesa
voltada para esta desejada discussão. É, pois, neste contexto de fomento dessas
ideias, que pode-se inferir a possibilidade de temas, assuntos, programas e
campanhas explorados pelas Operações Psicológicas.
Outras abordagens acerca da necessidade de criação/estímulo de uma
mentalidade de defesa, na END, são destacadas: - Porém, se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe no mundo, precisará estar preparado para defender-se não somente das agressões, mas também das ameaças [...] Nada substitui o envolvimento do povo brasileiro no debate e na construção da sua própria defesa. - Difícil – e necessário – é para um País que pouco trato teve com guerras convencer-se da necessidade de defender- se para construir-se. [...] Os recursos demandados pela defesa exigem uma transformação de consciências para que se constitua uma estratégia de defesa para o Brasil. - Ver a Nação identificada com a causa da defesa. Toda a estratégia nacional repousa sobre a conscientização do povo brasileiro da importância central dos problemas de defesa.
Também é oportuno ressaltar que a segunda parte da END lista os aspectos
positivos e as vulnerabilidades da atual estrutura de desefa do País, destancando-
secomo aspecto positivo: “Forças Armadas identificadas com a sociedade brasileira,
com altos indices de confiabilidade;”e, como vulnerabilidade: “pouco envolvimento
da sociedade brasileira com os assuntos de defesa e escassez de especialistas civis
nesses temas.”
A confrontação de tais aspectos já comprova e cria a demanda, isto é, uma
oportunidade, para que alguma ação seja feita no sentido de modificação do quadro
de vulnerabilidade, atenuando-a ou quiçá extinguindo-a. Assim, as Operações
Psicológicas podem funcionar como um valioso instrumento de auxílio a esta ação.
22
- A Política Militar de Defesa (PMD):
A Política Militar de Defesa (PMD) (MD51-P-02), aprovada em 21 de
setembro de 2005 pelo Ministro de Defesa, ou seja, antes da elaboração da atual
Estratégia Nacional de Defesa, é o documento de mais alto nível no âmbito do
Ministério da Defesa.
A PMD tem por finalidade orientar os planejamentos estratégicos militares das
Forças Armadas e do Estado-Maior de Defesa. É um documento de nível setorial e
norteia a elaboração da Estratégia Militar de Defesa (EMiD).
A PMD trabalha dentro de um contexto de formulação de cenários,possíveis
de engajamento, das Forças Armadas. É um documento classificado (nível secreto)
e já apresenta as condicionantes de emprego do Poder Militar propriamente dito,
oferecendo oportunidades de exploração e pontos de interesses por parte das Op
Psico, cujo conteúdo deixa de ser apresentado neste trabalho fruto da classifição
sigilosa, excetuando-se: “ a formulação e o preparo da capacidade militar de um país
necessária à sua Defesa pode decorrer de diferentes modelos estruturais em face
de valores, tradições e percepções de seu povo.”
- A Estratégia Militar de Defesa (EMiD):
A Estratégia Militar de Defesa (EMiD) (MD51-M-03), aprovada em 27 de
dezembro de 2006, pelo Ministro da Defesa, portanto setorial, é um documento
decorrente da PMD. Representa o como fazer, a operacionalização das políticas
traçadas ao emprego do recursos (meios humanos, materiais e intelectuais) para a
consecução dos objetivos estratégicos estabelecidos na PMD.
Também recebe a classificação sigilosa (secreto) e contém as Hipóteses de
Emprego (HE)3 das Forças Armadas (FA),incluindo seu preparo e condições de
emprego, para os cenários elaborados dentro da PMD.
Durante a formulação das condições de preparo e emprego (o que inclui a
elaboração e atualização os planos estratégicos e operacionais pertinentes visando
a possibilitar o contínuo aprestamento da nação como um todo) é que se encontra a
3É a antevisão de possível emprego das Forças Armadas em determinada situação ou área de interesse estratégico para a defesa nacional. É formulada considerando-se o alto grau de indeterminação e imprevisibilidade de ameaças ao País.
23
possibilidade de emprego das Operações Psicológicas, a depender dos objetivos
estratégicos traçados os quais podem incluir objetivos de interesse dessa Atividade.
Doutrina Militar de Defesa
Em que pese ser um documento doutrinário, sem o escopo de alcance da
PND e END, a Doutrina Militar de Defesa (DMD) (MD51-M-04), aprovada em 1º de
fevereiro de 2007, pelo Ministro da Defesa, estabelece fundamentos doutrinários
para o emprego das FA em atendimento às demandas da Defesa Nacional.
Daqueles fundamentos doutrinários de emprego são extraídos os tópicos
mais importantes no que tange ao emprego de Op Psico, tanto no nível estratégico
como nos níveis operacional e tático, como exemplo:
- Manobra de crise consiste no processo[...] Nesse planejamento devem ser considerados, entre outros, os seguintes aspectos: [...] procurar o apoio da opinião pública nacional e internacional, influindo permanentemente sobre as mesmas. [...] controlar as informações dirigidas ao público e exercer atividades de operações psicológicas. (BRASIL, 2007, p.29-31) - Princípio de Guerra do Moral: principio que define o estado de ânimo ou atitude mental de um indivíduo, ou de um grupo de indivíduos, que reflete na conduta da tropa. (BRASIL, 2007, p.40)
2.4 Níveis de Atuação
Por ser uma Atividade militar com possibilidade de causar fortes efeitos
(impactar) no contexto geral das operações militares, ou seja, com impactos
relacionados em todos os níveis de atuação gerencial, as decisões e
operacionalizações de planejamentos afetos às Operações psicológicas requer um
especialmente controle de planejamento centralizado, execuções descentralizadas e
um constante acompanhamento de resultados, mensurando a eficiência, a eficácia,
e a efetividade das campanhas planejadas, executadas e/ou em execução.
É oportuno ressaltar que as Operações Psicológicas trabalham com
mudanças de comportamentos, influenciação e transformação de mentalidades,
assim sendo, uma decisão do nível tático, levada a efeito por grupos militares de
pequeno escalão e alta especialização, por exemplo, podem trazer impactos e
abalar extremamente relações de âmbito internacional. Exemplos: ataques de
pequenos grupos de patrulhas a grupos populacionais em uma linha de fronteira;
24
explosão de uma usina hidrelétrica; explosão de uma torre de transmissão de
energia; etc.
Considera-se também a amplitude dos efeitos planejados às campanhas
elaboradas, uma vez que podem (e normalmente o fazem) atingir segmentos civis
da população envolvida ou de interesse em um conflito.
Doutrinariamente, a estrutura de organização das Operações Psicológicas
abrange 4 (quatro) níveis de atuação:
- Nível Político: sob a responsabilidade do Comandante Supremo das Forças
Armadas (Presidente da República). É o nível onde são tomadas as decisões de
mais alto teor. Conta com o assessoramento técnico do Gabinete Institucional da
Presidência da República (GSI/PR) e do Conselho de Defesa Nacional (CDN).
Elabora as diretrizes e traça os objetivos políticos de uma operação militar, inclusive
os objetivos psicológicos estratégicos/políticos a serem alcançados. No interesse do
campo das Operações Psicológicas, neste nível é estabelecido:
- os objetivos políticos de guerra;
- alianças (outros países);
-ações nos campos político, econômico, social e científico-tecnológico, que podem
ser explorados em campanhas de Op Psico;
- as limitações de uso do espaço, dos meios e do direito internacional; e
- os acordos que serão (ou não) respeitados em caso de crise ou conflito, podendo
ser explorados no âmbito das Op Psico.
- Nível Estratégico: sob a responsabilidade do Ministro da Defesa. É o nível
onde são tomadas as decisões estratégicas. Conta com o assessoramento técnico
do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA).
No tocante as atividades de Op Psico, este nível engloba a preparação e
aplicação dos meios militares na consecução de objetivos fixados pela Política de
Defesa Nacional.
Estabelece as ligações necessárias aos perfeito entendimento e a
interpretação daqueles objetivos sob a ótica militar, bem como interage com as
demais Forças Singulares. Elabora as diretrizes e traça os objetivos estratégicos de
uma operação militar, inclusive os objetivos psicológicos estratégicos
militares/políticos a serem alcançados. Segundo o Ten Cel Luciano Batista de Lima
(2009), no trabalho “As Operações Psicológicas Estratégicas: uma estrutura para o
Exército Brasileiro”, é neste nível de atuação que ocorre a manutenção dos objetivos
25
estabelecidospela política; apresenta-se as restrições, alternativase riscos
decorrentes e ajusta-se os fins com os meios materiais e humanos existentes.
- Nível Operacional: sob a responsabilidade do Comando enquadrante da
operação militar ou Comando Combinado, confecciona os Planos de Campanha e
seleciona os meios para a consecução dos objetivos psicológicos, ratificando
prioridades estabelecidas pelos níveis superiores e orientando a realização das
campanhas de operações psicológicas implementadas. Conta com o apoio técnico
de especialistas em Operações Psicológicas.
- Nível Tático: engloba as forças componentes e elabora as diversas ordens
de operações. Representa o nível de execução propriamente dito das campanhas de
Op Psico planejadas. Conta com apoio técnico de elementos especializados em
Operações Psicológicas passados a disposição do comandante tático.
É oportuno ressaltar que as atividades executadas pela estrutura de níveis
citada acima remetem às tarefas essenciais, aos produtos de operações
psicológicas a serem desenvolvidos nos diferentes níveis. Segundo o Department of
Defense (2000, p. 9): “ Em cada fase de um conflito e em tempo de paz, há áreas
comuns entre os diferentes níveis de planejamento”, conforme mostra a Figura 1
seguinte:
Figura 1 - Emprego de Op Psico nas fases de um conflito . Fonte: Department of Defense americano
26
2.5 Instrumentos de Influenciação Psicológicas
Influenciação Psicológica, no contexto das Operações Psicológicas, pode ser
entendido como a capacidade dealgum fato ou ação(ou mesmo pessoa) exercer
algum tipo de impacto sobre um determinado publico-alvoa ponto de causar
modificações nas emoções, sentimentos e/ou comportamentos.
Em tese ela está relacionada com a formação, consolidação ou modificação
de crenças (opiniões, convicções, etc); à catalização de emoções, assim como à
ampliação ou atenuação dessas; e à persuasão para a emissão de comportamentos
desejáveis.
A influenciação psicológica pode ocorrer de várias maneiras e por vários
atores ou meios: igreja, publicidade, campanhas sistematizadas, escola, líderes
comunitários etc.
Em termos gerais, pode-se entender que ela se dá por meio de produtos e
ações. Como exemplo, produtos: vídeos, panfletos, cartazes, auto-falantes etc;
ações: contato pessoal, agitação, demonstração de força, ação de colaboradores
recrutados etc...
Principais instrumentos de influenciação psicológica:
- Operações Militares: são ações propagantísticas de emprego do poder
militar para adestramento dos recursos humanos (com desenvolvimento de
habilidades e valores castrenses) e para influenciação dissuasória de
desenvolvimento de doutrina e capacidade operacional.
Figura 2: Operação Militar (persuasão)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
27
- Pressões Econômicas: representa um meio de coerção, de cunho político-
estratégico, com publicidade e amplitude internacional a fim de forçar a mudança de
atitude ou posicionamento de governos em função de uma causa defendida.
Estrategicamente planejado pelo poder político, pode ser tecnicamente trabalhado
pelas Op Psico para a consecução dos objetivos psicológicos.
Figura 3: Pressão Econômica (imposiçãocomportamental)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
- Ações Comunitárias: são ações de contato direto com populações, dentre
as quais incluem-se os públicos-alvo de interesse das Op Psico, para prestações de
serviços públicos assistenciais (recreação, vacinação, fornecimento de certidões,
exames médicos, etc) e, paralelamente a influenciação planejada, caracterizando -
na maioria das vezes - a “conquista de corações e mentes”.
Figura 4: Ação Comunitária (integração local) Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
28
- Assuntos Civis: são operações desenvolvidas para facilitar e estreitar a
ligação da força militar com o público civil, envolvendo planejamento e trabalhos de
nível estratégico. Normalmente inicia-se no nível político com ligações com o
comando da força militar presente que, na prestações de apoio e execução de
tarefas (nível tático), acaba exercendo algum tipo de influenciação, quer na
população local, quer no âmbito político. Como exemplo, cita-se: realização de
trabalhos de engenharia), construção de escolas, praças públicas, etc.
Figura 5: Ação Cívico-Social (assistência) Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013 - Ação de Presença: representa um meio eficaz de fornecer proteção e
segurança às populações necessitadas, e representa um meio de dissuasão às
ameças reais ou ponteciais, influenciando os públicos-alvos conforme os objetivos
psicológicos estabelecidos.
Figura 6: Ação de presença (segurança e intimidação)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
29
- Ações Governamentais: quando direcionadas para o atendimento dos
objetivos psicológicos estabelecidos previamente, representa a essência da
participação do nível político na prática da atividade de Operações Psicológicas,
auxiliando a modificação dos comportamentos desejados.
Figura 7: Ação Governamental (influenciação e imposição)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
- Pressões Políticas: é um meio de coerção bastante eficaz para a
imposição de atitudes e sentimentos em prol de uma causa pré-estabelecida.
Tecnicamente, no contexto das Op Psico, pode ser trabalhada e direcionada à
consecução de objetivos psicológicos de interesse.
Figura 8: Pressão Política (imposição)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
30
- Demonstrações de Força: é um instrumento coercitivo de intimidação por
meio do emprego do poder militar, influenciando públicos-alvo selecionados na
imposição de vontades e adoção de comportamentos de interesse diantede
potenciais ameaças ou situações que requeiram a prática da dissuasão.
Figura 9: Demonstração de Força (dissuasão)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
- Comunicação Social: é um dos principais instrumentos de aplicação das
Operações Psicológicas, notadamente nas atividades de relações públicas,
informações públicas e divulgação institucional, influenciando por meio do contato
direto ou por meio da propaganda (em suas diversas modalidades e técnicas) os
públicos-alvo selecionados.
Figura 10: Operação de Com Soc (influenciação)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
31
- Acordos Internacionais: pode representar um meio de exercer algum tipo
de influenciação (coerção, compensação, aceitação) sobre determinados públicos-
alvo de interesses do nível político-estratégico, podem ser velados ou ostensivos em
função dos interesses políticos envolvidos, os quais serão trabalhados previamente
pelas Operações Psicológicas.
Figura 11: Acordo Internacional (negociação)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
- Mobilização de massa:instrumento de influenciação psicológica com alto
poder de persusão, embora demande um elevado nível de planejamento e
organização para a obtenção de uma eficácia desejável. Possui um efeito
multiplicador por si só e de reverberação das ideias por meios de comunicação
paralelos. Atualmente tem merecido destaque a utilização das mídias sociais no
trabalho de mobilização de grupos organizados e no trabalho de chamamento da
população em geral à participação de eventos. No Brasil tem-se como exemplos
episódio dos caras pintadas exigindo o impeachment do presidente Collor em 1992 e
nos dias atuais a forte onda de passeatas que aconteceu, orquestradamente, nas
principais cidades brasileiras as quais foram deflagradas por conta de uma retirada
do ajuste de preços nas tafiras dos transportes públicos mas que ao se
desenvolverem, acabaram por abraçar diversos outros temas e questões no campo
político, econômico e psicossocial da vida nacional.
32
Figura 12: Mobilização de massa (poder de pressão)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
- Cinema e outras manifestações culturais: meio cujo objetivo é
conscientizar o público assistente por meio do reforço visual de ideias já levantadas
no seio da sociedade nacional e que contextualizadas no enredo de um filme,
novela, eça teatral, etc, acaba por influenciar pontos de vistas, opiniões sobe a ideia
considerada. Como exemplo cita-se o filme Avatar abordando a questão da
necessidade de preservação do meio ambiente e as consequências de sua
destruição.
Figura 13: Operações subliminares (influenciação)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
33
- Criação ou reforçamento de crenças: deriva da aplicação da Lei da
Primazia, indicada em Brown (1971, p.40), onde é preconizado que efeito da
assimilação de uma crença é mais potente à medida em que mais cedo ele ocorre,
visto que é a partir das crenças assimiladas primordialmente que serão interpretadas
as experiências posteriores. Assim, no emprego de uma propaganda antecipada,
sutil e continuada onde os objetivos dos propagandistas sejam de longo prazo,
pode-se também dizer que as crianças ou os mais jovens assumem, como público
alvo, um grau maior de importância. Isso porque eles, além de serem os adultos do
futuro, naturalmente apresentam um menor nível de resistência à assimilação de
idéias novas habilmente expostas, quer dizer, os mais jovens acumulam menos
experiências que os mais velhos e sofrem menos os efeitos de cristalização de
idéias decorrentes dos mecanismos de reforçamento e imitação que promovem um
sistema cognitivo compatível com as crenças antigas e comuns ao ambiente social.
Figura 14: criação de crenças (educação)
Fonte: www.google.com.br/figuras, acesso em ago 2013
Um importante meio de aplicação dessa técnica de influenciação psicológica é
a transmissão de conhecimentos, que, normalmente dar-se pela ação educacional.
Assim, o papel da educação cognitiva é extremamente importante como meio de
criação/reforçamento de crenças.
34
3 A DEFESA NACIONAL 3.1 Conceitos e Definição
A conceituação da Defesa Nacional vem passando por algumas
interpretações que, a depender do enfoque considerado, varia em pequenas
percepções de autor a autor, ensejando uma discussão acadêmica sobre o assunto.
Atualmente o Ministério da Defesa adota como definição de Defesa Nacional
o seguinte entendimento: “o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase na
expressão militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses
nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas”. A análise das ideias contidas na definição acima suscita discussões que
merecem destaque a começar pelo nível ou amplitude de responsabilidade das
ações, qual seja: o Estado Brasileiro, já antecipando o seu aspecto nacional e
abrangente.
Segue a ênfase que é direcionada a uma das expressões do Poder Nacional,
não excetuando as demais expressões, mas, até de uma maneira indireta,
lembrando a consideração que deve ser buscada.
Outro aspecto da definição que chama a atenção e tem provocado algumas
discussões acadêmicas na abordagem diz respeito a referência tão somente a
“ameaças preponderantemente externas”. Tal expressão tem gerado
questionamentos acerca da não consideração às ameaças internas, as quais
igualmente existem em situações manifestas e potencialmente, podendo vir a
comprometer os objetivos fundamentais considerados pelo Estado brasileiro.
Diversos estudiosos, pensadores e autoridades teêm, ao longo dos anos,
trabalhado com o tema da defesa no sentido de ressaltar sua importância
incondicional à formação moral e intelectual do cidadão, na incorporação de valores
cívicos e no sentimento de nacionalidade necessários ao homem enquanto ser
social.
Ao analisarmos os índices de aceitação e reconhecimento das Forças
Armadas brasileiras constatamos, conforme apresentado na Figura 15, que o
destaque hoje alcançado oferece espaço, ainda que ocupem a 1ª posição, para um
crescimento desse índice, divulgando e consolidando um conhecimento não
35
somente acerca das Forças Armadas (e de suas Forças Militares componentes) mas
também da natureza do trabalho, dos temas de interesse, dos valores etc.
Figura 15: Índice de credibilidade das instituições Fonte: IBOPE (2013)
Em pronunciamentos diversos de autoridades observa-se que a temática da
defesa vem saindo do meio militar e ganhando espaço em diferentes e importantes
foros, respaldando as palavras do Exmo Sr. Ministro de Estado da Defesa, Celso
Amorim, na edição impressa do jornal O Globo aos 23 de julho de 2012:“A Defesa
não pode ficar restrita ao meio militar. Nem mesmo deve a discussão sobre ela ficar
limitada aos círculos governamentais. Deve ser assunto de todos os brasileiros.”
Ainda, do mesmo autor, por ocasião na abertura do IX Congresso Acadêmico
sobre Defesa Nacional ocorrido em Pirassununga (SP) aos 22 de outubro de 2012:
O comando civil do poder militar é uma verdade autoevidente no Brasil de hoje.Por isso, o interesse por assuntos militares não pode de forma alguma ser confundido com militarismo. A Defesa, como política pública, é fortalecida pelo controle civil e pelo engajamento da sociedade. Por outro lado, a força militar é
36
valorizada pelo profissionalismo e a dedicação de nossas Forças Armadas e o mais estrito respeito às normas constitucionais que as regem.
Em uma rápida análise da conjuntura nacional é de fácil constatação que
várias iniciativas tem sido levadas a efeito na divulgação e ampliação de temas
correlatos com a defesa, dentre as quais destacam-se:
- seminário sobre a Defesa do Brasil, ocorrido na Câmara dos Deputados em
novembro de 2012;
- seminário sobre política industrial e tecnológica na área de Defesa, promovido pela
Frente Parlamentar de Defesa Nacional em fevereiro de 2012;
- audiências públicas junto as Comissões de Relações Exteriores de Defesa
Nacional, envolvendo assim o Congresso Nacional na ampliação e discussão de
assuntos correlatos;
- criação de Centros de Estudos Estratégicos em diversos estabelecimentos de
ensino superior, onde a temática da Defesa Nacional é considerada com relevância
nas análises realizadase cenários elaborados (FGV, UFF, FAAP etc);
- criação do Curso Superior de Defesa ora com a 1ª turma em funcionamento a
cargo da Escola Superior de Guerra e com um efetivo de cerca de 210 alunos entre
militares (das Forças singulares e auxiliares) e civis, e com duração de 9 meses;
- criação do curso universitário de Especialista em Defesa, na Universidade Federal
Fluminense;
- aprovação pelo Congresso Nacional,aos 20 de março do corrente ano, do Livro
Branco de Defesa Nacional e as novas versões da Política e da Estratégia Nacionais
de Defesa;
- criação de cursos de extensão em Defesa Nacional, por iniciativa ou com a
participação do Ministério da Defesa. Cursos de curta duração mas que representam
uma excepcional oportunidade de fomentar o tema no ambiente universitário.
Tais iniciativas representam enfim um avanço na divulgação e envolvimento
do tema defesa na sociedade brasileira, o que se bem sistematizado e trabalhado,
notadamente por meio de uma campanha permanente de operações psicológicas,
poderá facilitar bastante a criação de uma mentalidade brasileira, autóctone e
perfeitamente adaptada a cultura e pensamento dos brasileiros.
37
3.2 A problemática atual
Uma análise acerca do desenvolvimento de uma mentalidade de defesa no
seio da população brasileira facilmente conclui pela falta uma “cultura de defesa” em
nossa sociedade.
É um quadro que necessita ser modificado, principalmente diante do destaque
que o país vem alçando no cenário internacional, despertando o interesse e cobiça
de grandes conglomerados econômicos e governos extrangeiros. É necessário ter-
se um sentimento de brasilidade mais aguçado, em postura emocional e psicológica
mais nacionalista acerca do que é brasileiro e uma conscientização maior de nosso
valor e valores.
No trabalho “As relações entre civis e militares com o advento do Ministério da
Defesa e da Política de Defesa Nacional”, o Maj Art Roger H. Herzer (2006), também
aborda questão sobre a falta de mentalidade de defesa eapresenta as seguintes
causas: o preconceito, o desinteresse e o despreparo.
O preconceito devido à errônea interpretação das interferências militares na
evolução histórica e social da vida nacional. O desconhecimento, a radicalização do
pensamento e um trabalho de cunho político-ideológico ensejou que gerações de
brasileiros fossem psicologicamente trabalhadas a não reconhecer, no esforço
militar e político de momentos da história do Brasil, a verdadeira intenção daquela
participação.
Paradoxalmente ao contexto desse trabalho, esta ação última citada não
deixa de ser a própria utilização de ações psicológicas no desmanche da
nacionalidade. Entretanto não deve ser considerada como uma operação psicológica
adversa devido a falta de sistematização, entretanto a passagem do sentimento
rancoroso e a impregnação de ideias erradas gerou um preconceito, uma rejeição e
a ideia limitada de que defesa deveria ser uma preocupação e uma ocupação
apenas dos militares.
O desinteresse apresenta uma casualidade com a própria formação
antropológica e sociológica do povo brasileiro, qual seja: um povo pacífico, cuja
evolução histórica e social nunca chegou a ocorre em meio a grande derramamento
de sangue, a veia diplomática atuando eficazmente sem a necessidade de emprego
do uso da força.
38
É justamente este aspecto de pacifidade que dificulta a percepção ou a
identificação de ameaças externas (e também internas), inibindo a criação de uma
mentalidade de defesa e proteção ao país como um sentimento nato do próprio
povo. Ademais, como uma consequência quase que natural, os assuntos que
efetivamente são de mérito objetivo da defesa nacional não empolgam a sociedade,
não sendo percebidos e nem compreendidos por ela, esta alienação dos assuntos
de relevância nacional dificulta a criação de uma cultura de defesa.
É importante ressaltar o papel que a mídia (em qualquer uma de suas
expressões) e em curto prazo, representa nesta ação de atenuar e até mesmo
reverter as citadas causas da problemática atual em relação ao tema do trabalho em
curso.
Por fim, a questão do despreparo como uma deficiência da cultura do povo e,
notadamente, das elites nacionais, prejudicando o país na construção de uma
cidadania mais consciente e participativa.A este aspecto relaciona-se a educação
como a grande ferramenta capaz de modificação do atual status quoda questão em
discussão, entretanto mostra-se com uma possível eficácia de médio e longo prazo.
3.3 Percepção acerca da Defesa Nacional
Embora haja uma percepção geral acerca do pouco interesse, despreparo e
preconceito do povo brasileiro acerca de temas relacionados com a Defesa Nacional
é de difícil mensuração uma exata quantificação desse aspecto.
A fim de enriquecimento desse trabalho foi realizada uma pesquisa tipo
questionário conforme consta no Apêndice A (Mentalidade de Defesa), com uma
amostragem simbólica, em uma turma de alunos de universidades federais
localizadas em uma faixa central do Brasil, abrangendo os estados do Rio de
Janeiro, Bahia, Rondônia, Acre e do Distrito Federal, conforme assinala da Figura
16. Nesta amostragem foram envolvidos um total de 1.253 alunos de diferentes
cursos de ciências humanas e sociais.
Por ter sido uma aplicação direta, ou seja, o aplicador realizava pessoalmente
e diretamente o questionário nos alunos que se encontravam no ambiente de sala
de aula, o retorno em cada local aplicado era integral, conseguindo um número
representativo de, pelo menos, uma tendência de comportamento.
39
Figura 16: mapa do Brasil Fonte: www.google.com (mapa do Brasil)
Obviamente que pelo tempo disponível e pelo nível da pesquisa esta
representativa mostra-se pequena em relação ao universo existente, razão pela qual
neste trabalho não existe a ideia de apresentação de nenhuma conclusão, nem
mesmo parcial, restingindo-se a elaboração de uma tendência de comportamento
ou, no caso específico, de uma percepção existente sobre os quesitos arguidos.
Ainda, esta pesquisa objetivou a coleta de informações diretamente
relacionadas com outras demandas de interesse do presente trabalho, permitindo
um levantamento mais objetivo do nível de conhecimento e do nível de interesse do
público considerado aos assuntos e temas específicos de defesa os quais serão
apresentados no capítulo seguinte.
40
4 ANÁLISE E INTEGRAÇÃO DOS DADOS
Processando-se os diversos dados e informações obtidos, quer constantes
dos documentos citados no referencial teórico, quer obtidos por meio da pesquisa,
tipo questionário (Apêndice A), realizada nas universidades entre o público-alvo de
interesse foi possível a montagem de um quadro acerca do atual estágio de
desenvolvimento de uma mentalidade de defesa no Brasil, dos pontos a serem
trabalhados e dos índices tabulados entre os universitários - jovens, em geral.
No tocante as impressões e opiniões coletas diretamente dos livros e autores
foi possível ratificar o entendimento geral e unânime da relevância do tema, assim
como da importância em se desenvolver uma efetiva e autóctone mentalidade de
defesa para o Brasil a ser implementado, ao longo do tempo, na cultura nacional tal
qual o é em países com sentimentos nacionais já mais avançados.
Foi possível apresentar e analisar parcialmente os principais documentos
norteadores da atividade de operações psicológicas em seus aspectos técnicos e
nos amparos legais tão necessários à proteção dos que lidam com uma área
sensível do espectro das atividades militares.
Também, por meio da apresentação dos diferentes níveis de atuação das
operações psicológicas, mostrou-se a ampla possibilidade de emprego não somente
no eventual emprego em um conflito mas também no desenvolvimento de uma
campanha qualquer (seja de curta ou longa duração e com objetivos táticos e/ou
estratégicos), ressaltando que em vários momentos há uma intercalação daqueles
níveis e dos meios empregados.
Na apresentação e identificação dos principais meios de influenciação
psicológicas foi possibilidado ratificar a variada gama de possibilidades existentes
para a utilização desse meio de realização e emprego especializado de atividade
militar. Foi apresentado que atividades simples e comuns e de uso rotineiro pelas
forças militares, se eficiente e tecnicamente planejadas por profissionais
capacitados, podem transformarem-se em importantes, valiosos e eficazes meios de
influenciação, auxiliando a consecução de objetivos psicológicos previamente
estabelecidos.
No contexto da análise e integração dos dados ena temática da defesa
nacional é passível de registro a questão da definição adotada oficialmente pelo
Ministério da Defesa a qual não traz referência às ameaças internas, as quais
41
igualmente existem em situações manifestas e/ou potenciais, inclusive tendo sido
apontadato no questionário aplicado ( Apêndice A) alguns tópicos característicos
desse tipo de ameaça, conforme consta na Tabela 1.
Outro aspecto destacado diz respeito a questão da problemática atual sobre a
falta de cultura de defesa no país. É importante considerar que os itens listados -
preconceito, despreparo e desinteresse - são efetivamente aspectos que ainda
exercem influência na população brasileira de jovem, média e madura idade,
podendo a representar uma dificuldade nas tentativas de criação de uma cultura de
defesa e a consequente ampliação de uma mentalidade de defesa, devendo ser
considerada em qualquer tentativa de resolução da problemática levantada.
Por outra ótica de análise, a identificação dos aspectos citados acima permite
balizar com exatidão e objetividade quais os específicos pontos em que se deve
trabalhar, no contexto das operações psicológicas, para reduzir a falta de cultura de
defesa e reveter, favoravelmente, este “status quo” atualmente delineado.
No que refere-se aos aspectos levantados na pesquisa, foi possível verificar
dados que permitem a elaboração de tendências comportamentais e que são
absolutamente passíveis de serem trabalhadas por campanhas de operações
psicológicas permanentes e estratégicas.
Assim, considerando o universo trabalhado, qual seja: estudantes
universitários dos cursos de ciências sociais e humanas na Universidade Federal
Fluminense, Universidade de Brasília, Universidade Federal de Rondônia,
Universidade Federal do Acre e Universidade Estadual de Jequié (BA), perfazendo
um total de 1.253 consultas com respostas válidas, foram tabuladas as seguintes
observações:
-89 % tem conhecimento de alguma organização militar das Forças Armadas
brasileiras (Marinha do Brasil - Exército Brasileiro - Força Aérea do Brasil) atuando
em sua região, demonstrando um alto grau de influência daquelas organizações em
suas comunidades locais ou sob sua área de influência.
-No tocante a associação do termo DEFESA à uma primeira idéia acerca de
uma conceituação e entendimento do que venha a significar é relevante destacar
que 23,44 % liga o termo comuma capacidade de resposta e 63,81 %relaciona-o
com um sentimento de proteção, atendendo, em um total de 87,25 % a uma idéia
aceitável de um real significado ao que se define por defesa.
-Com relação a identificação de ameaças, 61,90 % consegue identificar (em
42
sua região próxima ou mesmo ao longo de todo o Território Nacional) algum tipo de
ameaça à integridade patrimonial, à paz social ou à soberania do Estado brasileiro e
identifica estas ameaças dentro da seguinte probabilidade de ocorrência em um
médio ou longo prazo, conforme apresentado no Tabela 1:
% Tipificação da ameaça
21,65 potencial de água doce existente
19,05 violência urbana fora do controle das forças de segurança
pública
15,27 riquezas minerais existentes no solo ou sub-solo brasileiro
14,79 fontes de energia (alternativas ou tradicionais)
13,02 área em condições de ser usada para a produção de
alimentos
9,19 linha de fronteira pouco povoada
7,03 ação de grupos anti-nacionalistas (brasileiros ou
estrangeiros)
Tabela 1 - resumo das observações coletadas na pesquisa Fonte: dados da pesquisa
Todas estes índices mostram e quantificam, em menor ou maior grau para o
universo considerado da pesquisa, a percepção de algum tipo de vulnerabilidade ou
ameaça aos brasileiros e ao Brasil como um todo, revelando uma oportunidade de
emprego das operações psicológicas no reforço de idéias e na obtenção de ações
comportamentais desejáveis e que, desde já, possam auxiliar sobremaneira no
desenvolvimento de uma mentalidade de defesa.
É, pois, exatamente o objetivo global do trabalho, qual seja: trabalhar mentes
e corações no desenvolvimento de uma necessária mentalidade de defesa. Aquela
percepção supra-citada se ampliada para um universo considerável e a nível
nacional (abrangendo diversos estados da federação e localidades urbanas e
rurais) ter-se-á um quadro bem mais esclarecedor e orientador de um trabalho a ser
desenvolvido com base nos instrumentos de influenciação psicológica no
desenvolvimento da mentalidade de defesa.
Some-se a essa idéia o elevado índice de confiança que a população
brasileira deposita nas Forças Armadas, coletado pela pesquisa aplicada em um
43
percentual de 67,19 % e no índice de aceitação e reconhecimento das Forças
Armadas brasileiras (apresentado na Figura 15, seção 3).
-É oportuno ressaltar que de acordo com o questionário aplicado, e dentro do
universo considerado, o público-alvo considera em sua maioria, com um registro de
66,53 % das assinalações, que a responsabilidade pela Defesa do Brasil é de todos
os brasileiros, validando e ampliando o espaço de atuação de onde, realmente,
deverá surgir esta mentalidade de defesa, fazendo-os (todos os brasileiros) a
participarem e comungarem desse sentimento de defesa e proteção para com o
país. Apenas 4,61 % consideraram que essa atribuição era exclusividade das Forças
Armadas, o que pela pouca expressão do número já desqualifica qualquer análise e
28,84 % consideraram como uma atribuição do Governo Federal.
-Ainda, para facilitar o planejamento de um futuro trabalho neste campo de
desenvolvimento de uma mentalidadede defesa, 60,80% do público-alvo considera
que já existe um pensamento da importância e da necessidade de uma mentalidade
de defesa ao nosso Brasil entre os moradores de sua comunidade local (região). E,
também, 93,20 % considera importante que o Brasil desenvolva (crie ou amplie) um
pensamento, uma mentalidade de uma defesa entre a população brasileira, o que,
mais uma vez valida e sustenta a realização de ações práticas neste campo de
atuação de formulação de pensamentos e idéias da área de defesa.
- Também, fruto da análise dos resultados obtidos na pesquisa, é oportuno e
factível vislumbrar um substancial apoio ao trabalho de conscientização de novas
mentes no tocante ao desenvolvimento de algum pensamento ou de uma
mentalidade de defesa ao nosso Brasil uma vez que 80,80 % do universo consultado
se considera capacidado e interessado em auxiliar nesta tarefa, difundindo,
cooptando e facilitando o trabalho.
- Por fim, da apuração do resultado coletado na pesquisa foi possível
identificar que o canal mais adequado para auxiliar na criação/desenvolvimento de
uma mentalidade de defesa ao nosso Brasil passa, incondicionalmente, pela
educação nas escolas, com 68,99 % das opiniões. Também, como segundo
alternativa possível, apareceu as campanhas esclarecedoras na mídia (TV, radio,
internet, etc), angariando um percentual de 26,74 % indicações do universo
considerado.
É conveniente destacar que ambos os aspectos, seja o ambiente escolar
(variando desde escolas de ensino fundamental até o ensino de pós-graduação),
44
seja o uso de campanhas pela mídia (falada, escrita, televisiva ou informatizada) são
canais de larga e importante utilização pelas operações psicológicas, o que denota a
facilidade de capacitação e preparação dos meios existentes ou em potenciais para
a execução de campanhas de cunho estratégico no mister de desenvolver uma
mentalidade de defesa.
Em outras palavras, a capacitação técnica existe e há, também, uma
demanda, reconhecida e desejada, por um trabalho mais eficiente e objetivo para o
desenvolvimento de uma mentalidade de defesa nos corações e mentes do povo
brasileiro.
À quisa de ilustração e objetivando sintetizar, com um produto de operações
psicológicas, a conscientização esperada e desejada da população brasileira em
relação ao Brasil, apresenta-se o seguinte modelo de produto que materializa a
mensagem psicológica onde exalta o sentimento maior de uma mentalidade de
defesa, oriunda de uma autêntica conscientização e do intrínseco comprometimento
do povo com seu país, conforme Figura 17, abaixo:
Figura 17 - Produto de Operações Psicológicas
Fonte: o autor
45
5 CONCLUSÃO De uma maneira objetiva pode-se inferir que, como resposta à
problematização levantada no presente trabalho acerca da possibilidade de que a
atividades de Operações Psicológicas podem auxiliar no desenvolvimento de uma
mentalidade de defesa.
Há diversas forma de empregar-se este novo e nobre meio de operação
militar neste mister, basicamente sintonizando omais adequado e eficiente meio de
influenciação psicológica com o(s) efeito(s) desejado(s) conforme prévia definição.
Da definição do que venha a ser considerada defesa nacional: “o conjunto de
medidas e ações do Estado, com ênfase na expressão militar, para a defesa do
território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças
preponderantemente externas, potenciais ou manifestas”, é possível já delinear-se
que as medidas e ações da expressão militar compreende todas as nuaces
possíveis de atuação militar, variando desde operações de cunho psicológico até o
emprego da força militar propriamente dita.
O quadro atual da conjuntura internacional recomenda que todos os países,
notadamente aqueles que apresentam algum tipo de riqueza ou atrativo - real ou
potencial - estejam sempre, a todo o momento e nas melhores condições possíveis
prontos para fazer frente as ameças advindas ao seu patrimônio, à sua integridade
territorial e à sua soberania, como valores fundamentais de sua nação.
É o que ocorre, nos dias de hoje, com o Brasil que apresenta-se como uma
potência emergente e com um potencial de vir a atrair a cobiça internacional,
principalmente, devido ao seu pontencial aquífero (a maior reserva de água doce do
planeta, somando-se o aquífero amazônico e guarani em suas porções que correm
por sobre o território brasileiro), a sua reserva florestal e a sua imensa área
agricultável ainda disponível.
A real possibilidade de ameaça impõe que, ao lado da capacitação técnica e
material militar, haja um sentimento forte e acendrado em razões emocionais da
nacionalidade e no patriotismo do povo brasileiro.
Neste contexto há um reconhecimento unânime da importância de se ter no
país uma mentalidade de defesa desenvolvida e que se mostre capaz de
incrementar e assegurar medidas de cunho pessoal e coletivo que o nosso país é
46
nosso e para nós e cuja defesa está em nossas “mãos”, nas mãos dos próprios
brasileiros.
É a mensagem que depreende-se da simples e rápida leitura exemplificada
no produto apresentado ao final da seção 4: Brasil, sua defesa em nossas mãos!
Apenas na tentativa de provocar curiosidades acerca das inúmeras outras
possibilidades de sentimentos que uma mensagem, devidamente trabalhada, pode
provocar em mentes receptoras.
O trabalho das operações psicológicas mostra-se exatamente neste contexto
de conquista dos corações e mentes, podendo ser largamente utilizado para auxiliar
a criação ou manutenção de comportamentos desejados, no caso sentimentos
ligados com a mentalidade de defesa que todos os brasileiros devem ter
internalizados em seus corações, em suas mentes e pelos quais estão dispostos a
manter, expressando-os através de um sentimento patriótico em amor ao Brasil.
No presente trabalho também foi apresentado os principais documentos
normativos da importância que vem sendo dada aos assuntos de defesa, com um
destaque ao Livro Branco de Defesa, a Política Nacional de Defesa e a Estratégica
Nacional de Defesa. O Livro Branco com enfoque mais voltado às ações
diplomáticas e de exteriorização do país, em um perfeito alinhamento com tantos
outros países que já o possuem. A PND e a END com um cunho mais interno de
orientações acerca dos principais objetivos na área de interesse ou influência das
medidas de defesa e dos seus caminhos (estratégias) para realiza-los e mante-los,
respectivamente.
Ressalta-se que, seguindo requisitos da própria limitação do presente
trabalho, apenas foi trabalhado aspectos envolvendo as operações psicológicas do
tipo branca, devido a sensibilidade e a classificação sigilosa que os demais tipos -
cinza e negra - demandam ao seu planejamento e execução nos diferentes níveis
de atuação.
Uma demanda social que acompanha a evolução desta atividade versa sobre
a questão do amparo normativo e jurídico exigido nos dias atuais ao emprego da
força. Assim, no Brasil, estes dispositivos estão caracterizados em uma amostra de
documentos tais como a Constituição Federal e os documentos supra-citados.
A realização das operações psicológicas como atividade de influenciação e
convencimento no campo de batalha vem acompanhando a evolução da
humanidade, com referências constante na Bíblia até os dias de hoje nos conflitos
47
mais modernos e tecnológicos, mostrando assim como uma atividade exitosa e que
seu emprego agrega valor às ações de emprego da força militar.
Outro aspecto relacionado ao emprego da atividade de operações
psicológicas diz respeito aos diferentes níveis de atuação - tático, operacional,
estratégico e politico - tal variação por vezes intercala-se nas ações de planejamento
e execução, dependendo dos objetivos e público-alvo a ser trabalhado.
Um fato a ser considerado no tocante ao emprego das Operações
Psicológicas em prol das ações de defesa nacional, especificadamente, em relação
ao desenvolvimento de uma mentalidade de defesa, refere-se à problemática atual
levantada que cita os aspectos do preconceito, desinteresse e despreparo
observado no seio da populace brasileira em relação a falta de uma cultura de
defesa.
Efetivamente tais aspectos representam óbcies que necessitam ser
suprerados o mais rápido possível para uma efetiva implantação de um novo
paradigma de postura do brasileiro em relação à temática da defesa nacional.
Algumas iniciativas, notadamente capitaneadas pelo Ministério da Defesa, já
estão sendo levadas a efeito e com um resultado favorável, ressaltando que suas
amplitudes e divulgação ainda não atingiram uma representação geográfica e
humana que demonstrassem alguma capacidade de solução dos aspectos da
problemática citada. Por enquanto estão localizadas na regiões centro-oeste, sul e
sudeste e, pontualmente, nas grandes cidades e capitais.
É necessário e imprescindível que ações de caráter geral, e nacional, sejam
implementadas com uma maior rapidez para, ainda em curto prazo e com o
aproveitamento desse momento diferenciado positivamente de desenvolvimento do
país sejam melhor absorvidas pela populacão brasileira.
O questionário aplicado em 1.253 estudantes universitários intencionalmente
afastados das localidades acima citadas, e pertencentes a uma amostragem alheia
às escolas militares ou cursos afins onde algumas disciplinas abordassem algum
conteúdo na área de segurança ou defesa, bem revelaram o quadro de carência e
de possibilidade de atuação das operações psicológicas, estrategicamente
planejadas, para a conquista dos corações e mentes desse importante segmento da
juventude brasileira.
Foram elencadas, dentre outras, algumas ações abaixo exemplificadas e que
poderiam, com relativa facilidade, serem apoiadas pelo Ministério da Defesa:
48
- criação de disciplinas opcionais para serem oferecidas nas grades
curriculares de cursos universitários dentro dos diferentes tipos de ciências (exatas,
humanas e sociais) com carga horária compatível as demais já oferecidas e que
podessem atrair preparar a juventude universitária nos assuntos de defesa
nacioanal;
- criação de um maior número de Centros de Estudos Estratégicos, utilizando-
se a base de algumas universidades federais ou de grandes universidades
particulares para um discussão de temas correlatos com a Defesa Nacional e sob a
supervisão de professores afinados com esta temática e com o apoio de militares
previamente selecionados;
- utilização dos meios de comunicação, objetivamente, o meio rádio e a
televisão existente no Congresso Nacional, como exemplo: TV Câmara e TV Senado
para inclusão de programas, documentários, reportagens, entrevistas, etc para
apresentação sistemática e planejada de assuntos ligados a Defesa Nacional;
- utilização das mídias sociais, por equipes especializadas, para divulgação
de ideiais e pensamentos atuais acerca de temas do interesse da Defesa, atingindo
um público-alvo crescente da populacão brasileira nas mais diferentes faixas de
idades e que a cada dia tem acesso a esta opção tecnológica de comunicação.
A título de aprofundamento do presente trabalho diversas outros estudos e
pesquisas podem ensejar uma complementação de trabalhos específicos que
podem ser postos em execução para desenvolver a mentalidade de defesa entre os
brasileiros, principalmente, sob a iniciativa e responsabilidade do Ministério da
Defesa e relacionando, objetivamente, cada tipo de instrumento de influenciação
psicológica com um efeito psicológico específico e desejado.
Assim, acredita-se também que o objetivo geral, qual seja: de apresentar as
possibilidades de utilização das Operações Psicológicas como um instrumento de
desenvolvimento na criação ou ampliação de uma mentalidade de defesa no Brasil,
foi alcançado.
No campo militar, a atividade de Operações Psicológicas, utilizando-se de
técnicas específicas e de adequados instrumentos de influenciação psicológicas, é a
responsável pela modificação do pensamento e emoções, assim como a criação de
novos tipos de comportamentos desejáveis, podendo ser amplamente empregada
para o desenvolvimento de uma mentalidade de defesa. Ressalta-se, mais uma vez,
49
o aspecto técnico-especializado dessa Atividade, não podendo ser usada por
amadores e sem um minucioso planejamento estratégico.
Enfim, é preciso fortalecer os vínculos que unem as Forças Armadas com a
sociedade de forma agressiva, corajosa. A mobilidade entre os sistemas Nação e
Forças Armadas necessita ser incentivada e aperfeiçoada, onde as Operações
Psicológicas, estrategicamente planejadas e com o desenvolvimento de campanhas
em públicos-alvos específicos, representam uma eficiente ferramenta com
possibilidade de uso por parte do Ministério da Defesa e das respectivas Forças
Militares. Mas ela é apenas o primeiro passo, o foco, a referência de um objetivo
mais amplo: a conquista dos “corações e mentes”, funcionando como centro de
gravidade do cenário estratégico atual: a opinião pública.
-- x --
50
REFERÊNCIAS
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51
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GOLDSTEIN, Frank L.; FINDLEY Jr, Benjamin F. Psichological Operations: principles and case studies. Alabama: Air University, 1996.
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TZU, Sun . A Arte da Guerra. Porto Alegre: Ed.L&PM. 2005. (Coleção L&PM. v. 207.).
APÊNDICE A - MENTALIDADE DE DEFESA
QUESTIONÁRIO ABERTO DESENVOLVIDO COMO SUPORTE AO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO A SER APRESENTADO À ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA
NO CURSO ALTOS ESTUDOS DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA (CAEPE) - 2013 A Escola Superior de Guerra (ESG) é um Instituto de Altos Estudos de Política,
Estratégia e Defesa, integrante da estrutura do Ministério da Defesa, e destina-se a desenvolver e consolidar os conhecimentos necessários ao exercício de funções de direção e assessoramento superior para o planejamento da Defesa Nacional, nela incluídos os aspectos fundamentais da Segurança e do Desenvolvimento.
A ESG funciona como centro de estudos e pesquisas. Seus trabalhos são de natureza exclusivamente acadêmica, sendo um foro democrático e aberto ao livre debate. A fim de estimular o sentido crítico, a criatividade, o hábito da pesquisa, o espírito de análise e o poder de síntese, a Escola exige de seus discentes, como condição para a conclusão de seus cursos, a apresentação de um trabalho monográfico.
Um de nossos Estagiários visualizou a necessidade de confecção e aplicação de um questionário de pesquisa que levantasse, em sua Instituição de Ensino, objetivamente em seu curso, aspectos acerca da temática de Defesa Nacional.
Pedimos sua prestimosa colaboração no sentido de ajudá-lo nesta tarefa, respondendo ao questionário seguinte para as análises e tabulações destinadas ao Curso de Altos Estudos e Política Estratégica do corrente ano. Tema do Trabalho: O DESENVOLVIMENTO DE UMA MENTALIDADE DE DEFESA NO BRASIL Estagiário: EUGÊNIO PACELLI V. MOTA (Coronel de Artilharia, Aluno do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra) Orientador: Prof. Ms. Gustavo Alberto Trompowsky Heck(Mestre em Ciência Econômicas e Professor convidado da Escola Superior de Guerra)
O objetivo é analisar o nível de conhecimento e interesse acerca de assuntos relacionados com a temática da Defesa Nacional bem como a indicação de meios para incrementar os índices levantados.
Os contatos pessoais para elucidação de eventuais dúvidas e outros esclarecimentos poderão ser realizados pelos seguintes meios:
Coronel Pacelli: Telefone: (21) 6969-3031 e-mail: [email protected] ou [email protected]
A
2
Questionário “Mentalidade de Defesa”
1) O Sr(a) tem conhecimento de alguma organização militar das Forças Armadas brasileiras (Marinha do Brasil - Exército Brasileiro - Força Aérea do Brasil) atuando em sua região ?
( ) Sim
( ) Não
2) O Sr(a) associa o termo DEFESA a:
( ) uma sensação de algo a fazer
( ) uma capacidade de resposta
( ) um sentimento de proteção
3) O Sr(a) é capaz de identificar (em sua região próxima ou mesmo ao longo de todo o Território Nacional) alguma ameaça ao Brasil que possa requerer alguma ação de DEFESA por parte das Forças Armadas ?
( ) Sim
( ) Não
4) Enumere os itens abaixo de acordo com a importância queconsidere (número 1, mais importante e número 7 menos importante) como ameaça ao Brasil (no momento presente ou no futuro) em sua região e que poderia exigir uma ação militar de DEFESA?
( ) potencial de água doce existente
( ) linha de fronteira pouco povoada
( ) ação de grupos anti-nacionalistas (brasileiros ou estrangeiros)
( ) riquezas minerais existentes no solo ou sub-solo brasileiro
( ) área em condições de ser usada para a produção de alimentos
( ) fontes de energia (alternativas ou tradicionais)
( ) violência urbana fora do controle das forças de segurança pública
5) O Sr(a) confia na capacidade de Defesa das Forças Armadas brasileiras ?
( ) Sim ( ) Não
6) O Sr(a) considera que a Defesa do Brasil é uma responsabilidade:
3
( ) de todos os brasileiros
( ) do Governo Federal
( ) apenas das Forças Armadas
7) O Sr(a) considera que já existe um pensamento da importância e da necessidade de uma defesa ao nosso Brasil entre os moradores de sua região ?
( ) Sim
( ) Não
8) O Sr(a) considera importante que o Brasil desenvolva (crie ou amplie) um pensamento da importância e da necessidade de uma defesa entre a população brasileira ?
( ) Sim
( ) Não
9) O Sr(a) considera-se capaz de auxiliar de alguma forma na divulgação de um pensamento, de uma mentalidade de defesa ao nosso Brasil ?
( ) Sim
( ) Não
10) Que meio o Sr(a) julga ser mais adequado para auxiliar na criação/desenvolvimento de uma mentalidade de defesa ao nosso Brasil ?
( ) Educação na Escola
( ) Campanhas esclarecedoras na mídia (TV, radio, internet, etc)
( ) Demonstração de Operações Militares.
Agradecemos sua colaboração.
O Sr(a) está ajudando a pensar e construir um Brasil mais FORTE.
Muito Obrigado!!