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MUITO ALÉM DA LOIRA GELADA Bar ‘fechado’, que abre se- manalmente em Contagem, é especializado em cervejas nacionais artesanais e boa opção gastronômica para fãs e não-fãs da bebida mais consumida do Brasil por ANDERSON ROCHA | fotos: Denilton Dias

Muito além da loira gelada - Revista O Tempo Livre

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Bar ‘fechado’, que abre semanalmente em Contagem, é especializado em cervejas nacionais artesanais e boa opção gastronômica para fãs e não-fãs da bebida mais consumida do Brasil Revista O Tempo Livre. Edição 18. 2014.

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MUITO ALÉM DA LOIRA GELADA

Bar ‘fechado’, que abre se-manalmente em Contagem, é especializado em cervejas nacionais artesanais e boa opção gastronômica para fãs e não-fãs da bebida mais consumida do Brasil

por ANDERSON ROCHA | fotos: Denilton Dias

Só abre aos sábados, em perí-odo reduzido, e a portas fe-chadas. A lotação é pequena e não há placa com o nome

do estabelecimento (apenas um 201 bem grande no muro; numeração da rua). Fácil chegar. Lá dentro não tem freguesia: a área gostosa, com pisci-na para as crianças, mesas e sombra fresca, é ocupada por ‘sócios’ - ou, como os donos (uma jornalista e seus pais) preferem dizer, por amigos. Tudo é agradável no Clube da Cer-veja 201, ‘bar-sítio’ em Contagem, especializado em rótulos nacionais e artesanais de cervejas e com comida deliciosamente harmonizada. A ideia é agradar quem não gosta e surpre-ender quem já ama. Vale a visita.

Logo ao chegar ao sítio, no bairro Água Branca, o porteiro abre o por-tão e convida para guardar o carro. Eis um detalhe simpático: o Clube é ‘fechado’ mas só por uma questão de segurança: na prática, todos (que o descobrirem) podem chegar e entrar. Se estiver com mais de cinco amigos, ligue antes: apesar do tamanho ra-zoável do ambiente, a capacidade é de até 50 pessoas. Isso para atender individualmente e oferecer a cerveja artesanal adequada a cada gosto.

“Nossa ideia era criar um negócio em que as pessoas se sentissem privilegia-das de participar: o lugar é escondido,

quase ninguém conhece, mas é essa a intenção. Não pretendo nunca colocar uma placa na porta, por exemplo”, conta a beer sommelier e jornalista Ludmilla Fonttainha, 31, idealizado-ra do espaço. O estabelecimento, que funciona em uma das propriedades da família, nasceu há dois anos como passatempo e segunda paixão da jo-vem, que trabalha como produtora de TV (a primeira é o jornalismo). A moça chamou os pais e propôs a ideia; animados, toparam na hora. Viraram sócios do clube: a mãe, empresária da corretagem, cuida das finanças, o pai, dentista, do atendimento.

“É um prazer! Não temos clientes, mas amigos. É legal que ao ter um bar você vira psicólogo: às vezes as pessoas vêm aqui para conversar. Só de serem ouvidas, sentem uma tran-quilidade grande”, orgulha-se Rosân-gela Fonttainha, 60. O pai, ‘culpado’ por incentivar a curiosidade pelas cervejas diversas à filha (desde sem-pre, ele comprava rótulos exóticos e colocava na geladeira que tem em casa, ‘só de cerveja’), concorda com a esposa. “Para mim, isso aqui é um lazer. Semana passada uma cliente perguntou: poxa, vocês bebem o tem-po todo: isso dá lucro? Eu respondi: dando para a gente beber e sentar nas mesas, conversar com um e com outro, já é bastante lucro!”, afirma José Tancredo de Alvarenga, 62.

Dando para a gente beber e sentar nas mesas, conversar com um e com outro, já é bastante lucro!

Falando em dinheiro, o Clube da Cer-veja não existe para gerar renda, mas também não dá prejuízo: o bar (que só abre aos sábados porque é o úni-co dia livre dos empresários) se sus-tenta e recebe, em dias sem chuva, uma média de 40 pessoas. Se a de-manda subir, a ideia é abrir mais um dia; quem sabe, na sexta à noite. E se subir muito, “pode virar minha pri-meira profissão”, confessa Ludmilla, que se formou há um ano como beer sommelier e está envolvida há pelo menos seis no ramo (ela trabalhou no marketing da comercial Ambev e faz parte da Confece , a Confra-ria Feminina de Cerveja, fundada em 2007, em que se reúne com outras

nove mulheres mensalmente para fa-lar, pesquisar e estudar o líquido).

Amigo dos proprietários, o contador Matheus Damasceno, 31, já visitou o Clube algumas vezes. “Eu adoro cer-veja artesanal, de trigo; aprecio essas coisas: não é beber para ficar bêbado ou por beber: tem um sabor diferen-te”, diz. Dessa vez, trouxe a esposa, a filha e um amigo, cada um curtiu à sua maneira. “Para quem tem fa-mília é bem interessante: há espaço e as crianças se divertem”, afirma a terapeuta ocupacional Roberta Ro-drigues, 30. “Eu estou adorando. A gente gosta de conhecer lugares di-ferentes”, complementa.

Muito mais que loira gelada

A geladeira do bar é baú de desco-bertas. De lá, cada um dos 75 rótulos nacionais tem uma história. A cada semana, a especialista pesquisa e ga-rimpa novos tipos em distribuidoras e na própria Confece e coloca no Clube. A ideia é tornar-se referência em mar-cas brasileiras de boa qualidade. En-tre as bebidas, há a Monasterium, da Falke Bier, cerveja que é maturada du-rante um mês ao som de gravações de canto gregoriano. A bebida, feita em Ribeirão das Neves, na região metro-politana de BH, é baseada em receita de monges belgas, e feita com malte de cevada, malte de trigo e aveia.

Tem também a Ithaca Oak Aged (Cervejaria Colorado), a mais cara

do bar: uma garrafa de 600ml custa 56 reais. A bebida, estilo Russian Im-perial Stout, produzida em Ribeirão Preto (SP) é envelhecida em barril de carvalho. Outro item da cartela é a Stout Açaí, eleita a melhor do país no 2º Concurso Brasileiro da Cerveja, realizado no início do mês. De acor-do com a Amazon Beer, fabricante de Belém (PA), o líquido tem, além do toque de açaí, aroma e sabor de café, toffee (espécie de caramelo), choco-late e malte torrado. “Tem cerveja de bacuri, taperebá, priprioca, todos de frutas da Amazônia. O pessoal está começando a fazer cerveja puxando para o nosso estilo brasileiro. É mui-to legal”, afirma Ludmilla.

Murro negado

Uma das histórias que o bar carre-ga é a de um cliente, fã de cerveja amarga, que chegou ao Clube e pe-diu o rótulo mais forte do local. “Eu perguntei se ele tinha certeza e insis-ti, avisando que era muito forte. Ele quis, eu dei a Invicta. Ele tomou um copo e devolveu. As pessoas não têm muita noção do que pode ser o ‘muito amargo’. É muito amargo, mesmo!”, relembra aos risos.

A tal Invicta, difícil de beber, é uma cerveja de Ribeirão Preto (SP), cria-da para comemorar o aniversário da

cervejaria de mesmo nome. Trata-se de uma poção estilo India Pale Ale (mais amarga), cujo rótulo tem um desenho adequado: um murro de uma mão estampado. O motivo? Me-lhor, impossível. É que ela é uma be-bida de 1000 IBU (International Bit-tering Units - medição de amargor de uma cerveja), número considerado impossível, já que o paladar humano só alcança o nível 120. “Ela é mui-to amarga, mas equilibrada, já que a Invicta tem um doce. Por isso ela é um murro, uma porrada de lúpulo”, explica a especialista.

Atendimento personalizado

É para evitar situações como essas que a beer sommelier oferece um atendimento individual e contextua-lizado à realidade da pessoa. Antes de sugerir um rótulo, ela procura sa-ber qual é a cerveja que a pessoa está acostumada a beber, se é mais amar-ga ou doce, etc. “Eu tento construir

um ‘caminho’ para entender os gos-tos da pessoa, se ela gosta de cerveja ou não, e, assim, não causar traumas nela. Se eu indico uma bebida errada a pessoa não degustará uma próxi-ma. Aí, quem perde é toda a cultura cervejeira. É menos um apreciador”, diz.

Menos é mais

Serviço

Menos é mais “É um caminho sem volta: tomou cerveja artesanal, acabou: nunca mais você vai tomar uma cerveja comercial com o mesmo prazer de antes de conhecer uma cerveja de verdade”, afirma. E recomenda: “beba me-nos e beba melhor. Beba e aprecie duas cervejas artesanais, mas não beba um engradado inteiro. Sinta o aroma”, orienta a beer sommelier.

Carne de sereno e cerveja India Pale Ale

Grelhada na manteiga de garrafa, a al-catra curtida pendurada de um dia para o outro é acompanhada por cebola co-zida em cerveja e chips de batata-doce.

“A harmonização é alcançada pela se-melhança: como a alcatra é adoçicada pela cebola, o doce da cerveja se acen-tua. Além disso, a cerveja lupulada é indicada para tomar com carne com gordura, como a que preparamos, pois ela corta a gordurinha”, explica.

Clube da Cerveja 201

Rua Custódio Maia, 201, bairro Água Branca - Contagem - 32372-160

Contato: (31) 9590-2935 / [email protected]

Facebook: https://www.facebook.com/ClubedaCerveja201