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CAMBIASSU – EDIÇÃO ELETRÔNICA Revista Científica do Departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal do Maranhão - UFMA - ISSN 2176 - 5111
São Luís - MA, Julho/Dezembro de 2011 - Ano XIX - Nº 9
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MUSEU VIRTUAL COMO ESTRATÉGIA DE APROXIMAÇÃO ENTRE OS PÚBLICOS E AS ORGANIZAÇÕES: PROPOSTA DE CRITÉRIOS PARA A REALIZAÇÃO DE UMA ANÁLISE QUALITATIVA DE MUSEU VIRTUAL APLICADA AO CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE.3
Ana Paula Dias AGUIAR 4 Gisela Maria Santos Ferreira SOUSA5
Resumo: O museu virtual como estratégia de aproximação entre as organizações e seus
públicos. Discute-se a cibercultura e seus diferentes meios de transmissão e
compartilhamento de informações e arquivos, possibilitando o desenvolvimento do
conhecimento em conjunto e que esteja disponível a todos os indivíduos. Apresenta-se a
Web 2.0 como facilitadora desse processo por meio da criação de novas estratégias
comunicativas/ interativas entre públicos-organizações. Evidencia-se o museu virtual,
disponibilizado no ciberespaço, como local onde são apresentadas e compartilhadas a
história e as memórias de uma organização e seus membros por meio de arquivos digitais de
texto, imagem e som em formatos diversos como: fotos, vídeos, entrevistas, depoimentos e
exposições. Propõem-se critérios de análise qualitativa que são empiricamente aplicados ao
Centro de Memória BUNGE de modo a comprovar as possibilidades dos mesmos.
Palavras - chave: Museu Virtual. Estratégia. Cibercultura. Web 2.0.
3 Artigo fundamentado em Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado pela autora ao Curso de
Comunicação Social – Habilitação Relações Públicas da UFMA em julho de 2011. 4 Graduada em Comunicação Social – habilitação Relações Públicas pela Universidade Federal do Maranhão
(UFMA). E-mail: [email protected] 5 Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP e Professora do Departamento de Comunicação Social da
UFMA. E-mail: [email protected]
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Abstract: The virtual museum as a strategy of approchement between the organizations and
their audiences. It discusses the cyberculture and its different modes of transmission and
sharing of information and files, enabling the development of knowledge together and that
is available to all individuals. It presents a Web 2.0 as a facilitator of this process through the
creation of new communication strategies/interactive between public organizations. It is
evident the virtual museum available in cyberspace as a place where they are presented and
shared the history and memories of an organization and its members by means of digital
files of text, image and sound in various formats such as photos, videos, interviews,
testimony and exhibits. We propose criterion for qualitative analysis that is empirically
applied to the Memory Center in order to prove the possibilities of them.
Keywords: Virtual Museum. Estrategy. Cyberculture. Web 2.0
1. Introdução
Quando a internet comercial foi lançada em meados dos anos 90, debates e
conferências começaram a ser realizados com o intuito de pesquisar sobre a utilização do
museu no ciberespaço. A instituição museológica tem relevante importância, pois tem como
principal objetivo a preservação de memórias e histórias de um grupo, de um povo, de uma
organização, para que gerações futuras possam aprender, ou seja, a instituição museológica
liga o passado ao futuro.
A digitalização total ou parcial dos acervos museológicos facilita o acesso, pois os
mesmos documentos poderão estar disponíveis de formas variadas. E isso “possibilitou aos
museus interagir de forma globalizada, alterando a noção de tempo e de espaço. Ou seja, o
museu na Internet nunca fecha” (HENRIQUES, 2004, p. 02). Com isso, os museus virtuais
organizacionais poderão alcançar toda a sociedade de uma única vez, mostrando os
objetivos da organização e suas preocupações, como forma de aproximar-se de seus
públicos e fazê-los sentir um reconhecimento, como se aquela organização estivesse
caminhando mais próximo.
Trata-se, aqui, do museu virtual como estratégia de aproximação entre a organização
e seus públicos, tendo como objetivo a proposição de critérios que possibilitem a realização
de uma análise qualitativa de museus virtuais organizacionais. Em levantamentos prévios
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identificou-se a inexistência de metodologia específica com a finalidade de analisar museus
virtuais.
Com o estudo, pôde-se não só avaliar o grau de interação que as organizações têm
com seus públicos, mas também definir de que forma é realizado esse processo interativo;
se o museu analisado ajuda na construção de conhecimento; se ele cumpre com suas
funções social e educativa; como dispõe a identidade da organização que está
representando; qual o grau de participação dos colaboradores; entre outros. Para que seja
possível perceber e compreender melhor a aplicabilidade desses critérios, realizou-se de
modo empírico a análise qualitativa do Centro de Memória Bunge.
Como metodologia adotou-se a perspectiva da Teoria Fundamentada (TF) que,
segundo Fragoso (2011, p. 84), tem como principal característica “a radical inversão do
método tradicional de pesquisa: enquanto na pesquisa científica normalmente tem-se um
problema que é confrontado com o referencial teórico e, a partir desse confrontamento,
elaboram-se hipóteses que serão testadas em campo, na TF teorização e observação
empírica andam juntas.”. Assim, durante o trabalho de pesquisa, realizado entre janeiro e
julho de 2011, foram feitas visitas ao site da Fundação Bunge e do Centro de Memória
Bunge, além de leitura de diversas fontes bibliográficas.
No trajeto empreendido, identificou-se que os museus virtuais poderiam apenas ser
classificados de acordo com o grau de interação que estabelecem com os públicos. Por isso,
surgiu o interesse na proposição e aplicação experimental dos critérios, visto que, de acordo
com a TF, “é o campo e sua observação que vão fornecer as hipóteses e auxiliar a delimitar o
problema e construir a teorização.” (FRAGOSO, 2011, p. 84). Além disso, os museus virtuais
organizacionais estão sendo cada vez mais utilizados para levar a história e possibilitar o
compartilhamento de memórias de seus membros, com a finalidade daquelas aproximarem-
se cada vez mais de seus públicos estratégicos.
2. O ciberespaço, a interação mediada por computador (IMC) e a estratégia digital
O ciberespaço surgiu com a internet para abrigar diferentes canais de transmissão de
informações e compartilhamento de arquivos, possibilitando a comunicação e a interação
entre indivíduos e computadores situados em diferentes lugares. No inicio, era usado apenas
por centros científicos com o objetivo de interligarem-se para fazerem não uma simples
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troca de conteúdo, mais uma construção de conhecimento conjunto, já que cada indivíduo
tinha a liberdade de propor teorias diferentes. Pierre Lévy (2010, p. 84), um dos estudiosos
desse tema, o define “como o espaço aberto pela interconexão mundial de computadores e
das memórias dos computadores” que “encoraja um estilo de relacionamento quase
independente dos lugares geográficos (telecomunicação, telepresença) e da coincidência
dos tempos (comunicação assíncrona)”. (LEVY, 2010, p. 44)
O ciberespaço possui uma cultura própria, a cibercultura, que rege toda e qualquer
forma de manifestação dos indivíduos que o utilizam. Como define Lévy (2010, p.17) é um
“conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de
pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do
ciberespaço.”. Ou seja, consiste na cultura, no modo de existir, no jeito de pensar e de agir
que se adéqua aos indivíduos que vivenciam a chamada sociedade da informação6 e, do
mesmo modo, os indivíduos se adéquam a ela.
E essa cultura desenvolvida no ciberespaço vai conduzir o modo como se dão as
interações mediadas por computador. Segundo Primo (2008) essas interações são tratadas
de acordo com concepção sistêmico-relacional, pois é preciso observar de forma conjunta e
sem individualizar os interagentes7, pois os relacionamentos são construídos de forma
integrada, com a participação de todos que se engajam no processo. A partir disso é possível
distinguir dois tipos de interação mediada por computador: a mútua e a reativa.
A interação mútua estará mais próxima da comunicação interpessoal, de forma que
os relacionamentos precisam ser vistos na sua totalidade, não se restringindo à observação
individual, de cada interagente. Da mesma forma, não é através de um estímulo que os
integrantes vão se relacionar, ou seja, “a comunicação interpessoal não pode ser reduzida ao
simples envio e recebimento de mensagem” (PRIMO, 2008, p. 104). Este seria o ponto
central da interação reativa, onde todo o processo já está pré-definido, já possui “limites
previstos”. A interação mútua não admite limitações, pois de acordo com Fisher (apud
PRIMO, 2008, p.109) “limites funcionam para reduzir o número possível de interpretações
6 Ciberurbe: A cidade na sociedade da informação, p. 296. 2005. André Lemos 7 O uso desse termo é justamente para evitar a vinculação com o modelo unidirecional, e da mesma forma evitar
o uso de “usuários”, “emissor” e “receptor”, que acaba por hierarquizar o processo comunicacional.
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disponíveis para cada participante e, portanto, reduzir a incerteza dos comunicadores sobre
quais cursos de ação são apropriadas naquele contexto.”
Aplicando-se as diferenças citadas no parágrafo anterior entre interação mútua e
interação reativa, podemos depreender que a interação reativa é percebida naquele site do
museu que está programado apenas para que o interagente tenha uma forma pré-definida
de “resposta”. Já a interação mútua seria identificada nos museus cujos sites facultam ao
interagente a forma, o tipo de mídia que ele quer compartilhar e que tipo de comentário
pretende fazer. Além disso, pode estar disponível a possibilidade de outros membros
fazerem comentários e dialogarem sobre aqueles vídeos ou fotos compartilhados.
O desenvolvimento da cibercultura vem tanto das constantes atualizações
tecnológicas, como também, e principalmente, do compartilhamento e da participação ativa
dos indivíduos e nesse ponto surge a cooperação. A partir do momento que os indivíduos
compartilham qualquer conteúdo, eles esperam a mesma atitude de outros indivíduos,
fazendo com que o ciberespaço seja reconhecido como comunitário. Uma organização, por
exemplo, pode se utilizar do dinamismo e da rapidez do ciberespaço para contribuir com a
sociedade de diversas formas, uma delas é o museu virtual organizacional que pode levar
para o meio social não só a história de uma organização, mas também do povo ao qual ela
está ligada.
O ato de cooperar atrelado ao dinamismo proposto pela cultura do ciberespaço faz
com que o modelo linear de transmissão de informações, proposto por Shannon e Weaver
(apud PRIMO, 2008), no caso um para muitos, como no rádio, televisão e jornais, tenha se
tornado insuficiente, pois o ciberespaço proporciona as interações um-um e todos-todos,
onde todos produzem e compartilham conteúdos. Mas, de acordo com Alex Primo (2008), o
fato de o primeiro modelo de transmissão ter se tornado insuficiente não significa que
deixou de ser usado, pelo contrário, serve ainda de base para os estudos dos novos modelos
que estão em foco, em virtude da digitalização da comunicação.
Isso implica dizer que ao participarem ativamente e acompanharem as ações,
principalmente das organizações, esses indivíduos também farão parte, mesmo que
indiretamente, do processo de planejamento organizacional, que hoje já não está só
olhando para dentro do ambiente organizacional, mas também encontra-se atento ao que
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está acontecendo fora da organização, no ambiente virtual. Por isso, as estratégias utilizadas
para atingir seus públicos precisam estar adequadas ao meio digital.
Definir o que é estratégia no âmbito organizacional é uma tarefa complicada, pois, de
acordo com Beth Saad (2003, p.31) é “um processo de percepção empresarial totalmente
vinculado ao ambiente, ao momento e às pessoas.” Mas, com o crescimento do ciberespaço,
as organizações precisam se adequar a ele. Diante desse cenário, em que a informação
adquire grande importância, surge a estratégia digital, que valoriza as mudanças vindas do
meio externo e permite que o público se coloque na posição de sujeito que cobra mais
transparência e ações positivas por parte das organizações, deixando de lado o papel de
sujeito passivo. E o fato de se tornar sujeito ativo está facilitado pela rapidez e imediatismo
com que as informações são transmitidas e atualizadas, quanto mais há inovação, mais
rápidas precisam ser as transformações e adaptações tanto das organizações quanto dos
seus públicos.
3. A memória e a história nas organizações
A memória nas organizações vem sendo alvo de muitas pesquisas, pois ela consegue
estreitar laços existentes entre os públicos e as organizações. Seu conceito ainda é muito
confundido com o de história, colocados algumas vezes como sinônimos, o que é um erro, já
que a memória é um componente histórico.
A memória faz parte da história de cada individuo ou de um grupo, assim como o
passado de cada um, que se define como um objeto, um componente que situa a história, já
que o passado depende do presente para se colocar enquanto tal. Ela seria a lembrança
marcante de algum acontecimento “tal como o passado não é a história, mas o seu objeto,
também a memória não é a história, mas um dos seus objetos e simultaneamente um nível
elementar de elaboração histórica” (LE GOFF, 1990, p. 423).
A história, por sua vez, se constitui a partir da reunião das memórias dos indivíduos e
dos grupos, que se constrói no tempo presente, e que o tempo passado as situa como
lembranças vividas. É possível defini-la em relação a uma realidade que não é nem
construída nem observada como na matemática, nas ciências da natureza e nas ciências da
vida, mas sobre a qual se "indaga", se "testemunha". (idem, 1990, p. 09). Ou seja, ela não se
coloca na idéia de algo exato, já que depende da subjetividade de cada um. Os indivíduos,
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então, se tornam seres inseridos em um contexto histórico a partir do momento em que
testemunham vários momentos importantes, as suas memórias, que por serem lembradas
no tempo presente se tornam passados.
A memória organizacional, de acordo com Nassar (2008) vai reunir todas as
lembranças, boas ou ruins, de toda a trajetória organizacional através dos depoimentos dos
colaboradores, documentos (fotos, prêmios, áudios, vídeos) e dos fatos que estavam se
passando na localidade na qual ela está inserida. Isso se deve ao fato de que “as
organizações, assim como os indivíduos, não existem fora da sociedade e, assim, são
participantes, mesmo na omissão, dos acontecimentos sociais” (idem, 2008, p. 117).
No Brasil, os estudos de memória partiram da iniciativa8 de acadêmicos que estavam
interessados em estudar a respeito da estrutura organizacional assim como a evolução
industrial brasileira. Porém, o ponto que marcou, de fato, o início do resgate histórico foi a
partir da década de 80, quando se iniciou o processo de reestruturação econômica e
democrática no Brasil, fazendo com que muitas empresas e organizações se tornassem
internacionais por meio das fusões e privatizações.
Desde então, o papel da comunicação começou a ser questionado em virtude da
possível perda de identidade, já que muitas fusões, por exemplo, resultaram em mudanças
drásticas, como fez o grupo Telefônica, da Espanha, que ao adquirir as concessões públicas
da Telesp – Telecomunicações de São Paulo e da CTBC – Companhia Telefônica Borda do
Campo, localizada também em São Paulo, mudou, sem nenhum planejamento, as cores de
todos os orelhões de laranja e azul para verde-limão e azul, além de ter prestado serviços de
baixa de qualidade, sendo alvo de milhares de reclamações junto ao Código de Defesa do
Consumidor e outras instituições similares. Nesse sentido, Nassar (2008) afirma que a
memória é de suma importância, principalmente em uma época de mudanças como as que a
sociedade vive hoje.
4. Museu Virtual: o passado cada vez mais presente, organizado e disponível
Definir museu vai muito mais além do que simplesmente ser um espaço para guardar
objetos que há tempos não são utilizados. Muitas são as definições encontradas, mas a Lei
8 Essa iniciativa é resultado de estudos realizados, principalmente nos Estados Unidos, com o objetivo de estudar
a organização da história a partir de documentos das organizações.
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Nº 11.904/20099 que institui o Estatuto de Museus apresenta a característica de preservação
como algo inerente e importante das instituições museológicas, e logo no seu Art. 1º trata
da definição dos mesmos:
Art. 1o Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. (Lei Nº 11.904/2007)
Considerada como característica principal dos museus, a preservação surgiu na pré-
história (POMIAN, 2011), quando as sociedades humanas começaram a ter o costume de
selecionar, conservar e guardar diversos objetos (armas, cerâmicas e utensílios feitos com
pedras e ossos de animais que abatiam e no metal). Essa prática, então, foi herdada e é
perpetuada até hoje, não só pelos museus, como também pelas bibliotecas, pelos arquivos e
por qualquer outra instituição com essa mesma finalidade.
De acordo com Cristina Bruno (1997)10 há três funções consideradas fundamentais
para os museus: a função cientifica, a função educativa e a função social. A primeira consiste
em preservar e analisar para extrair conhecimento de todo o acervo e assim poder aplicar
modelos de comunicação para implantar projetos expositivos e pedagógicos, assim como
sua avaliação. A segunda se refere à canalização dessas atividades para fins educacionais e
ações sócio-culturais de uma comunidade ou da sociedade em geral. A terceira seria a
junção das duas funções já citadas, promovendo a inclusão social através da preservação da
história e memória
É possível perceber, através dessas funções, que o museu possui uma essência
comunicativa, pois se for observado de maneira completa, ele funciona como um suporte de
informação, como um canal de comunicação que liga as lembranças do ontem ao que os
indivíduos estão vivenciando hoje. Ele é “capaz de transformar o objeto testemunho em
9 Lei Nº 11.904/2009 que trata do Estatuto dos Museus encontra-se no site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11904.htm. Acessado em: 17 de maio de 2011. 10 Professora Titular em Museologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.
Licenciada em História pela Universidade Católica de Santos (1975), com três especializações em Museologia
pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Pequenos Museus,1978; Museus de Arte e História,1979 e
Museus de Ciência e Técnica,1980), mestrado em História Social / Pré-História pela Universidade de São Paulo
(1984) e doutorado em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (1995). Fonte: http://ivenemu.blogspot.com.
Acessado em 18 de maio de 2011.
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objeto diálogo, permitindo a comunicação do que é preservado” (BRUNO, 1997, p. 47). Por
isso, ele precisa ser sustentado ao lado de outros meios de comunicação, e o ciberespaço
potencializa essas funções do museu enquanto instituição voltada a contribuir com o
crescimento da sociedade.
Existem, de acordo com Piacente (apud HENRIQUES, 2004 p.05), três categorias de
websites de museus: o folheto eletrônico; o museu no mundo virtual; e os museus
realmente interativos. A primeira se constitui naquela que tem como objetivo fazer apenas a
apresentação do museu físico, como se fosse um folheto de fato, com informações sobre a
história, o horário de funcionamento e até mesmo os colaboradores desse museu. Esse tipo
é bastante usado como instrumento de marketing, apenas para torná-lo mais conhecido e
facilitar o acesso dos interagentes.
A segunda categoria, o museu no mundo virtual, se apresenta de forma mais
detalhada, sendo possível disponibilizar visitas virtuais ao acervo. Nessa categoria percebe-
se a virtualização da instituição museológica, pois a estrutura física foi transformada em bits,
diferenciando-se, portanto, da primeira que apenas trata das informações técnicas. Essa
categoria pode disponibilizar acervos atuais, no caso aqueles que se encontram na estrutura
física, ou expor temporariamente coisas que já não fazem mais parte da mesma.
A terceira categoria, a de museus realmente interativos, engloba os museus que
podem ou não estar relacionados a um museu físico, mas que tem como principal
característica a interatividade, que é usada amplamente para chamar e prender a atenção
dos indivíduos que acessam a essa categoria de museus.
A relação entre o físico e o virtual pode ou não acontecer, tendo em vista que nem
sempre o mesmo conteúdo está presente nos dois, já que as estruturas são diferentes. Por
exemplo, uma visita guiada a uma exposição de história antiga, pode não ser tão atrativa
quanto a uma visita virtual, onde é possível disponibilizar variedades documentais, sem
precisar detalhar profundamente, colocando apenas o que for relevante.
Além da classificação em categorias, os museus virtuais organizacionais precisam ser
analisados de forma mais minuciosa, que leve em consideração suas características virtuais
como, por exemplo, o grau de interação que estabelece entre os públicos e as organizações,
qual o tipo dessa interação (mútua, reativa ou ambas); qual a importância que ele tem para
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os colaboradores da organização; quais os elementos identitários organizacionais carrega
consigo etc.
Dessa forma, aqui serão propostos critérios para a realização de uma análise mais
meticulosa e adequada ao ciberespaço, que o qualifique, de forma positiva ou negativa,
perante os outros museus virtuais organizacionais. O caráter positivo ou negativo será
colocado como sinônimo de ser um museu que contribua com a sociedade, que considere
aspectos relevantes não só para a organização, mas também para a história da comunidade
na qual está inserida. De fato, não se tem a intenção de fechar a proposição de critérios, já
que o ciberespaço está em constante crescimento e sendo estudado de forma cada vez mais
profunda.
Os elementos identitários serão considerados em virtude de as memórias serem
construídas a partir da percepção que cada indivíduo tem da organização, seja sob o olhar
dos colaboradores ou do público externo.
5. Museu virtual da BUNGE: Centro de Memória BUNGE
A Bunge é uma empresa holandesa, com inicio em 1818, fundada por um negociante
alemão, Johannpeter G. Bunge, para comercializar produtos importados das colônias
holandesas e grãos. Alguns anos depois, a sede da empresa muda-se para Roterdã e são
abertas subsidiárias em outros países europeus. Em 1905, a Bunge participa
minoritariamente do capital da S.A. Moinho Santista Indústrias Gerais, empresa de compra e
moagem de trigo de Santos (SP - Brasil). É o início de uma rápida expansão no País,
adquirindo diversas empresas nos ramos de alimentação, agribusiness, químico e têxtil,
entre outros. Em 1955, surge a Fundação Bunge como forma de comemorar os 50 anos de
atuação da empresa no Brasil.11
Algumas de suas marcas de produtos estão à mesa da dona de casa brasileira há
muito tempo. Um bom exemplo é a marca Salada, “um óleo vegetal de algodão, que,
lançado em 1929, revolucionou os hábitos alimentares dos brasileiros, até então
acostumados a consumir banha de porco ou azeite de oliva.” (NASSAR, 2008, p.146/147).
11 Disponível em: http://www.bunge.com.br/empresa/historico.asp
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Outros exemplos de produtos Bunge: as margarinas: Delícia, Primor, Cyclus, entre outras; o
azeite Andorinha; a linha de óleos e azeites Coccinero; entre muitos outros.
Com base em tudo o que foi apresentado anteriormente, será realizada então a
análise qualitativa de um museu virtual a partir de alguns critérios antes mencionados, que
servirão para direcionar outras análises, uma vez que, como já citado, esta é uma proposta
de metodologia de análise para os museus virtuais que começaram a fazer parte das
estratégias comunicativas a partir do momento em que a web 2.0 passou a fazer parte do
cotidiano organizacional.
O Museu da Bunge foi escolhido em virtude da proximidade que a história dessa
empresa tem com a de muitas famílias brasileiras. Seus produtos comercializados há muito
tempo, fazem com que qualquer brasileiro, mesmo sem ter comprado ou usado, consiga
reconhecê-los por algum motivo, seja por causa de um comercial de TV ou por já tê-lo visto
em algum supermercado.
O Centro de Memória Bunge foi instituído no ano de 1994 com a finalidade de
“reunir, tratar e disponibilizar o patrimônio da Bunge Brasil”. O grupo empresarial Bunge
opera no Brasil por meio de duas subsidiárias integrais, a Bunge Alimentos e a Bunge
Fertilizantes. Costa (2006)12 diz que “sua atuação no país confunde-se em parte com a
própria história da alimentação no Brasil”.
A Fundação Bunge foi idealizada para comemorar os 50 anos da empresa no Brasil e
o Centro de Memória Bunge surgiu para preservar a história da mesma atrelando-a a história
do Brasil, portanto não são sinônimos, pois a Fundação abriga o Centro, assim como os
outros projetos, tanto no espaço virtual como na sede em São Paulo.
5.1 Análise do centro de Memória Bunge com base em critérios propostos
O projeto do Centro de Memória Bunge é conduzido pelo Manual de procedimentos
para processamento técnico do acervo Centro de Memória Bunge13 que dita desde seus
objetivos até os formatos que os arquivos devem ter para serem expostos. Para realizar a
12 Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br. Acessado em 19 de maio de 2011 13 O Manual citado está disponível em: http://acervo.fundacaobunge.org.br:8080/textos/Manual_CMBunge.pdf
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análise, os critérios serão listados e comentados, para melhor compreensão, de forma
individual.
5.1.1 Análise da categoria na qual pode ser classificado: folheto eletrônico, museu no
mundo virtual ou museu interativo.
De acordo com o que foi observado, o projeto da Bunge se encaixa na categoria de
museu realmente interativo, pois permite o envio de fotos para complementação de seu
acervo por qualquer indivíduo da sociedade, sendo que esse envio está condicionado a
algumas observações que estão disponíveis na página do acervo, na parte “Doações ao
Acervo” no texto intitulado Condições gerais para fornecimento de material ao Centro de
Memória Bunge.
Insere-se nessa categoria também por não ser uma mera projeção do espaço físico
destinado à preservação da memória, pois nem tudo que está disponível no museu virtual
está da mesma forma no centro de preservação. Exemplos disso são as exposições temáticas
virtuais, que estão apenas no site do museu. Não tem também apenas a função
informacional, de levar os indivíduos a visitarem o espaço físico, uma vez que as pessoas que
não moram em São Paulo não poderão facilmente freqüentá-lo, devido à sua localização.
Apesar de permitir essa participação dos públicos, o Centro passa a ser proprietário
dos arquivos, já que a partir do momento que é realizada a doação, o arquivo já não
pertence mais ao individuo que o enviou.
Outro ponto a ser observado é que nem todos os arquivos estão disponíveis no
Acervo, muitos se encontram na página da Fundação, na parte “Você e Fundação Bunge” 14 e
numa aba localizada na página sob o nome de “Interatividade” 15.
5.1.2 Tipo de interação estabelecida: mútua, reativa ou ambas.
Em relação à interatividade, o museu da Bunge trabalha tanto a interação mútua,
como a reativa. A primeira é vista através do envio de arquivos, sob condições
disponibilizadas no “Termos de Uso” citado no critério anterior, sendo também percebida na
falta de linearidade e de trajetória pré-determinada, pois nas exposições, por exemplo, o
interagente pode fazer o caminho que quiser. No acervo, caso não seja encontrado o que é
14 Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br/interatividade/voce-e-fundacao-bunge/ 15 Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br/interatividade/
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de interesse, há uma página destinada às “Solicitações”16, que de fato são atendidas com a
rapidez exigida pelo ciberespaço. Já a reativa é possível percebê-la quando os indivíduos
estão visitando o acervo, pois as fotos são estáticas e há apenas um texto explicando-as, e
por isso nenhum interagente pode mudar nada, apenas olhar cada foto e sua respectiva
história, bastando apenas clicar nelas para isso acontecer.
Muitos canais de interação estão disponíveis na página da Fundação, na aba
“Interatividade”, como, por exemplo, as redes sociais (Facebook e Twitter), o blog da
Fundação, fóruns, as fotos postadas mais recentemente em Galerias de Fotos, diversos
vídeos institucionais, os podcast17 e o acervo. Essa atitude leva o interagente a entender que
os projetos da Fundação Bunge não têm vida própria, isto é, não podem ter blog próprio ou
página em uma rede social.
5.1.3 Cumprimento das funções de museu: instituição a serviço da sociedade
Quanto às três funções citadas por Cristina Bruno, científica, social e educativa, o
centro de preservação virtual da Bunge atende a todas. A primeira, a função cientifica,
percebe-se através da preservação do acervo, que possibilita a sociedade atual visualizar
épocas passadas através das fotos, como os modos de vestir, os avanços tecnológicos etc. A
segunda e a terceira, no caso a social e a educativa, são vistas ao mesmo tempo, através das
exposições temáticas que trazem informações sobre alguns produtos da Bunge atrelados à
história do desenvolvimento do Brasil, como a exposição Campo Fértil que conta a história
do setor de fertilizantes e sua ligação com o desenvolvimento do agronegócio no Brasil.
Paralelamente, o Centro de Memória Bunge organiza atividades que aproximam seu
acervo da sociedade e que estimulam outras instituições a fazerem o mesmo.
5.1.4 Posicionamento do centro de memória na empresa: âmbito interno e externo
O museu virtual da Bunge ocupa uma posição estratégica, funcionando como um
canal que ajuda na gestão e atua como intermediário na relação da empresa com as
comunidades do entorno e preocupando-se, sobretudo, com a gestão da memória
empresarial. Externamente, ocupa a posição de um dos mais ricos acervos de memória
empresarial do país, reunindo documentos de várias naturezas - cartográficos, iconográficos,
tridimensionais, textuais e outros - com uma história de mais de 100 anos de Brasil e quase
16 http://acervo.fundacaobunge.org.br:8080/index.asp?MenuS=7&MenuP=&Layout=dados 17 Arquivos de áudio, geralmente em mp3, no formato digital.
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200 anos no mundo - e com uma inserção nos âmbitos da indústria, da navegação e do
agronegócio.
5.1.5 Exposição da identidade da empresa
Os elementos identitários estão disponíveis por toda a página inicial18 a marca que
está localizada no canto superior esquerdo, as cores azul e vermelha, o símbolo da empresa
que é em formato de bola com listras vazadas, assim como no acervo, que é composto pelas
fotos e suas informações. As fotografias, por sua vez, trazem toda a trajetória da empresa e
estão dispostas da seguinte forma: caminhões antigos; propagandas antigas, pioneirismo e
inovações; evolução de embalagens, equipamentos têxteis; produção de algodão, produção
de fertilizantes; produção de soja; produção de trigo; transporte ferroviário; transporte
marítimo.
Nesse caso, é possível ver a característica da identidade organizacional
“permanência”, pois conta por meio de suas fotos, sua trajetória e seu desenvolvimento,
que não deixam de estar atrelados ao desenvolvimento da cultura brasileira, assim como da
tecnologia.
O centro de memória Bunge pode ser encontrado no site da fundação Bunge, onde
divide espaço com outros três projetos: o Comunidade Educativa; Conhecer para Sustentar e
o Prêmio Fundação Bunge. Assim como no ambiente virtual, estão localizados da mesma
forma no espaço físico, que fica em São Paulo.
O centro, atualmente, tem 16 anos e foi criado com o objetivo de resgatar, tratar e
disponibilizar o acervo histórico da Bunge no Brasil. Na sua estrutura física, desenvolve
atividades de: atendimento a pesquisas; exposições temáticas, processamento técnico;
jornadas culturais; oficinas de preservação; visitas técnicas; e integração de colaboradores
Bunge. No espaço virtual, a sua atuação é menor, já que disponibiliza apenas as exposições
temáticas virtuais, o acervo fotográfico e de texto e algumas informações sobre as jornadas
culturais e outros eventos que a Bunge participa.
5.1.6. Tipo de acervo usado na preservação da memória no ambiente virtual
Em relação ao acervo, como já foi mencionado, é formado por fotos e informações e
pode ser pesquisado por três caminhos: o guia, o inventário e o catálogo. O primeiro
18 http://www.fundacaobunge.org.br/
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organiza de forma sistemática informações dos fundos e coleções. Por meio do
levantamento de fontes documentais, fornece o histórico das empresas do grupo. O
segundo expande as possibilidades de pesquisa, pois indica detalhes relativos ao conteúdo
dos fundos e coleções. E o terceiro oferece uma busca por tipologias documentais que
informam detalhes de cada um dos documentos do acervo.
5.1.7 Grau de envolvimento dos colaboradores do público externo no projeto
observado
O grau de participação e envolvimento dos públicos no projeto é grande, mas isso
está disponível, de forma muito singela, na página do Centro de Memória. Há mais conteúdo
no site da Fundação. Mesmo quando está relacionado a qualquer assunto que diz respeito
ao Centro. Apenas algumas notícias são postadas, como por exemplo muitas das fotos de
diversas comemorações realizadas pela Fundação Bunge, mas que não são colocadas na
parte destinada ao Centro de Memória, o que transmite ao interagente a idéia de que ainda
não faz parte das memórias da Bunge.
5.1.8 Variedade de idiomas para leitura que estão disponíveis no Centro de Memória
Bunge
A página da Fundação Bunge e, consequentemente, a do Centro de Memória, só
estavam disponíveis em dois idiomas: o português e o espanhol. E isso limitava bastante o
número de acessos. Mas, em junho de 2011 tanto a Fundação como o Centro de Memória
foram adequados a outro idioma, o inglês. Isso fez com que ele se tornasse cada vez mais
acessível, pois milhões de indivíduos em diferentes lugares do mundo poderão estar
conectados a ele.
6. Conclusão
O museu virtual constitui-se em um canal estratégico entre os públicos e as
organizações pela facilidade de acessar fotos, vídeos, entrevistas, exposições que expõem
parte da história e as memórias organizacionais. E isso faz com que o ciberespaço seja um
meio que aproxima os indivíduos em diferentes lugares a um lugar comum, que muitas das
vezes guardam sua história atrelada à de seu país. A reunião desses indivíduos em um só
espaço (virtual) faz reforçar a idéia de uma sociedade que tem cultura e costumes próprios e
que é igualmente complexa, visto que os indivíduos não podem ser observados
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individualmente, pois o desenvolvimento social depende da ação do conjunto, de forma
colaborativa e cooperativa e não apenas de um ou outro indivíduo.
Depois de observar todos os critérios, é possível perceber que o Centro de Memória
da Bunge pode ser considerado um canal de aproximação entre a empresa e os seus
públicos. Ele promove as duas interações estudadas no presente trabalho. Nas exposições
temáticas, por exemplo, é visível o dinamismo proposto pela estratégia digital e que é
exigido pelo ciberespaço, assim como a rapidez nas atualizações, que ocorrem de acordo
com a exigência dos interagentes que acessam, assim como das novidades do próprio
Centro.
Assim, percebe-se o crescimento de outro cenário comunicacional para as
organizações: que se utiliza da informação, da rapidez e da facilidade que o ciberespaço
proporciona como estratégia para aproximar-se de seus públicos. O museu virtual é uma
dessas estratégias que compreende não só o ambiente organizacional e suas estruturas, mas
as pessoas que estão, ou que já estiveram envolvidas na construção da história da
organização. Um museu virtual de fato permite ser construído pelas memórias do seu
público externo, o que o coloca como instituição que está a serviço da sociedade, pois da
mesma forma que ele é alimentado pelas informações e participações do meio social, ele
retribui com educação e mais memórias, de forma que possa ser um canal que traga
reconhecimento à organização pela sociedade.
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