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N1 -SETEMBRO - 1996 UMA PUBLICAQAO DA APROPUC-SP r · urn complexo difuso de entidades, algumas ate ... a variedade de demandas de insatisfa9ao que o regime militar ja nao conseguia

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APROPUC

20ANOS

1

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Ne1 SETEMBRO 1996

APRESENTAQAO

1 O

A APROPUC VISTA FOR OUTROS OLHOS

4

APROPUC E O SINDICATO DOS PROFESSORES

DE SAO PAULO

por Luiz Antonio da Barbagli

APROPUC E AFAPUC LUTARAM JUNTAS POR UMA

UNIVERSIDADE MELHOR

por Anselmo Antonio da Silva

APROPUC: ATUAQAO DEMOCRATICA E

PARTICIPAQAO ATIVA NA CONSTRUQAO DA PUC

por Antonio Carlos Ronca

TODOS OS PRESIDENTES DA APROPUC

1 2 SERGIO VASCONCELLOS DE LUNA

-I 4 LAURINDO LALO LEAL FILHO

1 e ALOIZIO MERCADANTE OLIVA

"I & RUI CEZAR DO ESPIRITO SANTO

20 ZILDA MARCIA GRICOLIIOKOI

ERSON MARTINS DEOLIVEIRA

2-4 MARIA LUl'SA SANTOS RIBEIRO

2e MADALENA GUASCO PEIXOTO

20 ANOS DE LUTA

CBO A ESMAGADORA MAIORIA DECIDIU CRIAR A ASSOCIAQAO

32 OUVINDO QUEM CONSTRUIU A ENTIDADE

3-4 ACORDOS INTERNOS PARA GARANTIR E DEFENDER DIREITOS

36 AS PARALISAQOES CONTRIBUIRAM PARA A PUC FICAR MELHOR

33 A LUTA PELA AUTONOMIA UNIVERSITARIA

40 UM POUCO ALEM DAS REIVINDICAQOES SINDICAIS

42 UMA ENTIDADE COM A CARA DA DEMOCRACIA

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ao e sempre que uma Associagao sindical completa

20 anos. No caso de uma associagao de professores,

a APROPUC e a unica no Brasil a ter tal primazia.

Nestas duas decadas, a historia da entidade confunde-se

com a propria historia da PUC/SP e, mais importante ainda,

nossa associate esta presente na maioria dos movimentos

sociais que fizeram a historia deste pafs.

Juntos, os professores da PUC e a sua entidade representativa,

mudaram o perfil desta universidade, democratizando-a de uma

maneira pioneira, quer seja atraves da conquista de elei96es diretas e

paritarias para reitor, da instala9ao de uma estatuinte, na discussao de

novas formas de gestao e na defesa da autonomia universitaria. Nos

movimentos sociais recentes, a participa9ao da APROPUC se fez

sentir na luta contra a ditadura militar, pela anistia ampla geral e

irrestrita, na campanha pelas diretas, na elabora9ao da Constituinte, no

impeachment de Fernando Collor, entre tantos outros mementos.

Quando a PUC foi atacada pelas for9as militares, a Associa9ao estava

na frente com toda a comunidade para defender a integridade da

universidade, denunciando e protestando contra a repressao.

Esta revista tenta resgatar um pouco de tudo isto, atraves de

depoimentos de nossos professores e da pesquisa do material historico

dispomvel. Mas temos certeza de que, dentro de nossas limita96es de

tempo e espa9o, deixamos de contemplar uma serie de colabora96es

valiosas que nem por isso pareceram-nos desprovidas

de grandiosidade. Cremos que nao faltarao oportunidades para que

tais contribui96es sejam resgatadas, uma vez que nossa pretensao e

que a PUCviva Revista se tome periodica. Ate la, resta-nos

comemorar com muita alegria estes 20 anos de lutas.

Mudando o perfil da

universidade

PUCVIVA REVISTA PAGiNA 4

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APROPUC e AFAPUC

lutaram

juntas par uma

universidade

melhop

T\ / nselmo Antonio da Silva, presidente da V^iFAPUC, relata a revista PUCviva o papel impulsionadordesempenhado pela APROPUC na funda^ao daentidade dos funcionarios. Neste depoimento, ele nos coloca a importancia da luta conjunta que as duas entidades tem desenvolvido no decorrer desses ultimos anos. As conquistas, atraves dos respectivos Acordos Intemos e campanhas salariais, sao lembradas como exemplos de a95es coordenadas pelas duas associa^oes. A APROPUC nao so atuou na luta pela organiza9ao dos docentes como contribuiu para que os funcionarios criassem a sua Associa9ao. Em 1978, um grupo de funcionarios se reuniu para fundar a Associa9ao dos Funcionarios Administrativos da PUC-SP (AFAPUC). Na epoca, a reitora era a professora Nadir Gouvea Kfouri que ajudou os funcionarios cedendo um local onde eles pudessem se instalar e se reunir.

F

uncionarios se

organizam

mais de gremio do que de uma Associa9ao." A AFAPUC foi fundada dois anos depois da APROPUC, em 1978. A organiza9ao dos professores se estendeu para os funcionarios. Segundo Anselmo, a existencia da AFAPUC facilitou a interlocu9ao com a dire9ao da universidade. "Imagina 700 funcionarios indo direto na Reitoria tentar resolver seus problemas. Existindo uma Associa9ao dirigindo e organizando as reivindica96es, passa a acontecer uma discussao conjunta, uma coisa coletiva. Assim, se resolve o problema de um e tambem resolve os problemas de todos. Entao, tambem para a dire9ao da universidade, eraessencial que existisse a Associa9ao".

A

s duas associagoes

lado-a-lado

As condi95es de trabalho, a luta por melhores salaries e o lazer dos funcionarios sao temas levados pela Associa9ao. A ideia central da AFAPUC, na opiniao de seu presidente Anselmo, "e manter um contato permanente com os funcionarios e manter a nossa uniao e a nossa participa9ao na luta pela melhoria das condi96es de trabalho e reajustes salariais". Nesse periodo, a entidade dos funcionarios evoluiu na sua 3930, lembra o presidente da Associa9ao. "Nao e que a gente so promovia esportes, mas congou a enxergar uma linha geral onde deveria ter esportes e tambem a dedica9ao a militancia, uma atua9ao na parte mais polftica dentro da Associa9ao. Quando ela foi fundada tinha uma linha muito

"A AFAPUC so existiu depois da APROPUC, e foram os professores que deram uma for9a para os funcionarios criarem a Associa9ao," afirma Anselmo. "Sempre nos tivemos uma rela9ao muito boa com os professores. Na realidade. a gente nao faz diferencia9ao entre professor e funcionario, achamos que sao trabalhadores que dividem a mesma casa, com fun95es diferentes." Esta identidade entre funcionarios e professores fez com que as duas associa96es se unissem na luta pela melhoria da universidade. Anselmo lembra que "congou a existir um relacionamento legal entre a APROPUC e a AFAPUC em 1984. Na epoca em que Jose Rocha era o presidente da AFAPUC. Foi entao que nos tivemos uma aproxima9ao maiorcom a APROPUC e participamos de varias lutas conjuntas." Esse ano de 1984 foi um ano agitado tambem em fun9ao

R E V I S T A PUCVIVA PAGiNA 6

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do movimento das Diretas, ja. A APROPUC e a AFAPUC estiveram engajadas a fundo na luta pelo direito de todos elegerem o presidente do Brasil. Por outro lado, as lutas intemas da universidade aproximavam cada vez mais as duas entidades representativas dos trabalhadores da PUC.

0 movimento

PUC Viva

A crise pela qual passou a universidade em 1992 uniu novamente os professores, os funcionarios e toda a comunidade em tomo do objetivo de preservar as conquistas alcan^adas, a come^ar pelo grau de autonomia que a PUC havia conquistado. Foi um movimento para mostrar a todos que aquela universidade aguerrida estava bem viva. Na opiniao de Anselmo, o movimento PUC Viva "foi o movimento mais importante que tivemos dentro da universidade. Naquele momento, nos tmhamos uma intervengao da Funda^ao Sao Paulo dentro da PUC. Varias coisas que a gente tinha acertado com a Reitoria nao tinham sido cumpridas pelos secretarios executives que se sucederam. E precisavamos reagir rapidamente porque senao a propria universidade poderia ser desmontada. Foi entao que tivemos a ideia das associa9oes terem seu proprio jomal para divulgar o que acontecia dentro da universidade. Eu acho que foi fundamental ter um jomal aberto para as pessoas colocarem aquilo que realmente acontece na universidade." 0 movimento PUC Viva tambem foi uma rea^ao para preservar as entidades representativas da PUC. "Muitas pessoas se desligaram da Associa^ao naquele momento

porque um dos papeis fundamentals da Secretaria Executiva da Funda^ao Sao Paulo era destmir as associa^oes, o unico foco de resistencia que eles viam."

A luta das associagoes,

ontem e hoje

* Se ha um tempo atras for9as poh'ticas tentavam desestruturar as associa95es hoje falta mais mobiliza9ao da parte dos associados. "Porque as pessoas pensam que as associa96es so existem para fazer greve. Na realidade nao e isso, as associa95es tern papel fundamental inclusive fora do movimento grevista. Eu acho que as pessoas tern que come9ar a entender isso tambem. A gente tenta conscientizar os funcionarios disso, mas e difi'cil para as pessoas compreenderem. Eu nao sei se e a situa9ao que hoje esta colocada ao pais, ou as condi96es da universidade." A APROPUC tern uma influencia direta na Associa9ao dos funcionarios na opiniao de Anselmo. "Hoje eu sinto uma falta muito grande da participa9ao dos professores na propria Associa9ao deles. A gente ve hoje que e difi'cil para eles fazerem uma assembleia, e difi'cil para a APROPUC montar uma chapa. Quando eles ficam dessa maneira, reflete na nossa Associa9ao que come9a a se desestimular tambem. Eu acho que os professores no geral deveriam estar fazendo esse tipo de avalia9ao: por que nao se mobilizam para participar das coisas que acontecem dentro da universidade. Isso faz uma falta muito grande para os funcionarios."

Anselmo Antonio da Silva e presidente da AFAPUC.

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u i ^ yv w TI C> rv i o yv ^ ci i

A APROPUC

e o Sindicato dos

Professores

de Sao Paido

historia recente do Sindicato dos Professores 'de Sao Paulo (SINPRO-SP) esta muito ligada ao surgimento e a atua9ao da APROPUC. Essa talvez seja uma constata^ao aparentemente obvia, levando-se em conta que se trata de duas entidades que tern na sua base o mesmo perfil corporative. Mas no mundo do sindicalismo, como de resto ocorre no mundo da poh'tica em geral, aquilo que e obvio nem sempre e o que acontece. Qua! e, entao, a particularidade da rela^o que essas duas entidades vem mantendo e que tern contribuido para a amplia9ao mutua de sua inse^ao no mundo dos trabalhadores da Educa9ao?

R

eorganizagao da

sociedade civil

A funda9ao da APROPUC, ha duas decadas, foi motivada por uma conjuntura caracterizada pelo revigoramento que se iniciava por toda a sociedade civil brasileira: o ano de 1976 esta entre aqueles que, nos anos 70, marcaram o impulse generalizado que tomou conta do pats na luta pela restaura9ao das liberdades democraticas. Nao e, portanto, uma simples coincidencia que a mesma epoca tenha assistido nao apenas a dissemina9ao de movimentos sociais reivindicatorios expressivos, mas tambem a atua9ao de urn complexo difuso de entidades, algumas ate tradicionais na vida poh'tica brasileira, cujas atividades - vistas as coisas de agora - acabavam por canalizar toda a variedade de demandas de insatisfa9ao que o regime militar ja nao conseguia conter. Associa96es de moradores, comunidades de base, amigos de bairros, advogados, jomalistas, cientistas, sao alguns exemplos de segmentos da sociedade brasileira que, em meados da decada de 70, ocuparam espa90s sempre maiores no cotidiano da vida civil, invariavelmente desenvolvendo a96es marcadas por seu sentido politizado, isto e, de contaponto a 3930 do Estado autoritario, ainda que 0

estreito quadro do bipartidarismo vigente a epoca so viesse a se alterar no final do periodo. Esse movimento nao deixou de atingir a Universidade. Ao contrario, no ambito da comunidade academica proliferaram tanto entidades associativas de pesquisadores como tambem recuperaram energia aquelas que, a exemplo do que ocorreu com a SBPC, ja tinham respeito e representatividade no mundo do magisterio superior. As proprias institui96es universitarias, umas mais, outras menos, acabaram se tomando focos confmados de rebeldia, buscando encerrar 0 longo periodo de silencio que Ihes havia sido imposto depois de 1968. A PUC de Sao Paulo talvez seja 0 exemplo mais expressive dessa tendencia. E isso por dois motivos, pelo menos. Em primeiro lugar, porque se tratava mesmo de uma institui9ao que havia, ao longo de sua existencia, construi'do uma tradi9ao de seriedade e consequencia em suas atividades que a colocava em antagonismo com 0 Estado militar. Em segundo, porque a combatividade de seus professores se encarregava de manter viva essa tradi9ao construi'da. Tambem nao e uma mera coincidencia que a SBPC e a PUC-SP tenham caminhado juntas em meados dos anos 70, especialmente na historica reuniao anual que a entidade nacional dos cientistas realizou no campus^da Universidade em 1977.

E

nraizamento com

as bases

Pois bem, acredito que a funda9ao da APROPUC seja reflexo desse panorama. Os professores da PUC, quando fundaram sua entidade, souberam entender 0 sentido de sua epoca, e deram forma organica para esse entendimento. Evidentemente, nao foi uma iniciativa isolada; 0 surgimento de associa96es de docentes foi uma das marcas do movimento dos professores universitarios no final dos anos 70 e no im'cio dos anos

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FAli

' T

Luiz Antonio; A APROPUC ostlmulou o aparoclmonto do novat lideranpas tindlcalt.

80; fazia parte do ideario do novo sindicalismo brasilei- ro que pregava (e ainda prega) como uma de suas formas de revitaliza9ao a Organiza9ao por Locals de Trabalho (OLT), e isso apenas comprova que nossa categoria participou amplamente do processo de rearticulaijao poh'tica que se seguiu ao fim do regime militar, sintoni- zada com as propostas mais gerais dos trabalhadores. No entanto, mesmo encontrando as razoes de seu surgimento na conjuntura desse periodo, ha um nucleo de particularidades que explica a sobrevivencia da APROPUC, quando muitas das outras que nasceram junto com ela ou desapareceram ou se tomaram inexpressivas. E esta ai o maior vmculo que a entidade dos professores da PUC-SP mantem com o SINPRO. No movimento sindical dos professores de Sao Paulo as mudan^as apontadas acima tardaram quase 10 anos para que se concretizassem. Em que pese toda a rearticula9ao da sociedade civil brasileira, o S1NPRO-SP passou o periodo que se estende de meados dos anos 70 ate a metade dos 80 atrelado a uma concep^ao envelhecida do movimento sindical. A entidade era mesmo dominada por um grupo dirigente que havia estreitado os caminhos de participa^ao dos professores na sua pratica e na formulaijao de suas estrategias e campanhas. Ate mesmo o exercicio elementar da filia9ao ao Sindicato era dificultado, e muitos professores da PUC-SP, pertencendo a APROPUC, se viram barrados nesse seu direito. Essa situa9ao foi responsavel pelo surgimento de varias chapas oposicio- nistas naquele periodo, algumas delas estimuladas pela propria APROPUC, mas o quadro politico do SINPRO-SP nao se definiu ate 1987 quando uma mobiliza9ao da categoria que havia se iniciado com a greve de abril daquele ano acabou, finalmente,

desestabilizando organica e politicamente as bases de apoio da antiga dire9ao do Sindicato. Evidentemente, em analises polfticas nao se deve estabelecer rela95es mecanicas de causa e efeito. Mas a for9a de simplifica9ao, e possivel afirmar que a historia da oposi9ao sindical no SINPRO-SP tern parte de sua explica9ao no nascimento e no desenvolvimento do trabalho da APROPUC. E dela que surge uma parcela da disposi9ao de luta que viria renovar a atua9ao do Sindicato no periodo recente, de tal forma que lideran9as surgidas no ambito do movimento da Universidade acabaram, naturalmente, se incorporando a diretoria do SINPRO-SP, como ocorre com a consequente participa9ao da Profa. Madalena Guasco Peixoto na dire9ao das duas entidades.

A

representatividade da

APROPUC

Mas o inverse tambem e verdadeiro. A APROPUC, como ja foi dito, e uma das poucas associa96es de professores universitarios que se manteve viva e atuante durante todo esse periodo. E certo que isso se explica pelo seu enraizamento entre o corpo docente da PUC-SP e pelo papel que a entidade tern desempenhado em suas lutas; ate mesmo nos projetos que salvaram a Universidade das crises dificeis que viveu nos ultimos anos. Mas a APROPUC tern retirado do movimento sindical parcela da energia polftica que a mantem sintonizada com os desafios mais serios enfrentados pela sociedade em geral e pelos trabalhadores brasileiros em particular. Se tivesse interpretado a tarefa da constru9ao da organiza9ao por local de trabalho de forma estreita e equivocada, isolando-se do movimento geral dos professores, certamente a APROPUC ja teria se transformado numa experiencia malsucedida do passado, como aconteceu com muitas das suas irmas que surgiram nos anos 70. Felizmente, isso nao ocorreu, em parte pela lucidez de seus dirigentes; em parte pelo peso que os professores da PUC-SP tern na determina9ao dos destines de sua entidade representativa. Sao dois polos que se explicam. E o Sindicato dos Professores de Sao Paulo tern retirado dessa experiencia da APROPUC imimeros ensinamentos, fortalecendo-se com isso. 0 mais importante deles e aquele que aponta para a necessidade de que suas lutas levem em conta as particularidades que compoem o universe do trabalho da categoria que representa, respeitando seu carater assimetrico e individualizado, mas coletivo, a um s6 tempo. 0 vigesimo aniversario da APROPUC e, portanto, uma boa oportunidade para que as lideran9as do movimento sindical brasileiro reflitam sobre o future, colhendo nas experiencias concretas os sinais das aventuras que devem ser evitadas. Os professores da PUC-SP, tambem por isso, estao de parabens.

Luiz Antonio Barbagli epresidente do SINPRO-SP

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^ rsr t c> psr i c> ys. k c> s rl c> psr c:

APROPUC: atuagao

democratica e

participagao ativa na

construgao

da histdria da PUC

<4 APROPUC desempejihou importante rpapel na historia de democracia da PUC. Nas decadas de setenta e oitenta, quando o pais e a nossa universidade viveram momentos turbulentos, tanto poh'tica quanto economicamente, a Associa^ao dos Professores da PUC sempre lutou junto com aqueles que defendiam a universidade como urn centro do saber, da pesquisa, urn espaijo criativo e de manifesta^ao livre de expressao. Alem de sua interven^ao no cenario politico, a APROPUC teve uma atuagao propositiva na conslrugao do modelo academico que e a marca da PUC. Foram varios os encontros, seminarios e outras atividades organizados pela entidade com professores e especialistas, que compartilharam com nossos docentes uma visao critica sobre a sociedade, o conhecimento e a educagao, especialmente numa institui^ao de terceiro grau com o perfd da PUC.

D

iscutir o novo modelo

de universidade

Nos ultimos anos, com as mudan^as ocorridas no par's e o fortalecimento institucional da PUC, o papel da APROPUC se reveste de uma nova fei9ao. Importantes desafios Ihe sao colocados. Sua participa^ao nao podera estar restrita a atua^ao sindical, mesmo que esta seja de grande importancia. Sem deixar de lutar a luta necessaria para manter e ampliar o espa^o de atua^ao e melhoria das condi^oes de trabalho dos nossos docentes, a APROPUC certamente descobrira caminhos para contribuir para a discussao do projeto academico da PUC. E preciso que ela esteja junto com a Comunidade discutindo o novo modelo de Universidade que estamos

Ronca: A Reltoria e a APROPUC caminhando na mesma dirafao

contruindo. Sera fundamental nao so para a PUC, como tambem para outras entidades representativas, a apresenta^ao da contribui^ao da APROPUC para questoes como o estabelecimento de novos mecanismos de participa9ao, de avalia9ao institucional e de melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensao.Tenho expectativas positivas quanto a resposta a esses desafios. No momento em que escrevo este artigo, sou tornado por uma sensa9ao curiosa. Aftnal, sou o socio-fundador niimero 19 da APROPUC. Por vezes ocupamos espa90s diferentes. Mas nao estamos em lados opostos. 0 que procuramos garantir e que estejamos numa luta comum na busca de conduzir a PUC a uma posi9ao cada vez mais significativa no contexto das universidades, no cenario da educa9ao brasileira. A Reitoria e APROPUC caminhando na mesma dire9ao.

Antonio Carlos Ronca eo reitorda PUC-SP.

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IC> I>I-C

Associagao da docentes

impulsionou a luta

0 movimento de resistencia e redemocratizagao

do pais passou pela APROPUC

n J ^ funda9ao da Associate 'dos Professores da PUC-SP, a nossa APROPUC, e ao mesmo tempo con- seqiiencia e causa das lutas contra a repressao politica, pelas liberdades democraticas na decada de 70. A his- toria do movimento da organiza^ao dos trabalhadores e dos estudantes passa necessariamente pela existen- cia da APROPUC. Juntamente com outras entidades democraticas de in- fluencia nacional, a associaijao dos docentes da PUC marcou a sua pre- sen^a e contribuiu para dar novos ru- mos a poh'tica do pais. O professor Sergio Vasconcellos de Luna, primeiro presidente da Associ- 3930, deixa bem claro este papel em seu depoimento. Luna nos conta como foi a cria9ao da APROPUC e, na sua visao, como deve ser a interven9ao da entidade nas complexas questoes que envolvem as redoes entre a univer- sidade e seus docentes.

^ ^ Dois fatores

levaram a fundagao

da APROPUC

V encendo o medo

de lutar

O professor Luna entende que a fun- da9ao da APROPUC foi motivada por duas circunstancias. "So uma de- las apareceu e para muitos acabou sendo a determinante. Na epoca da funda9ao da APROPUC, aquela re- pressao violenta tinha afrouxado um pouco. Nao tinha acabado. Tanto e que em 77 tivemos a invasao da PUC. As pessoas estavam come- 9ando a se reorganizar. Esse mo-

-

mento foi crucial para a funda9ao da APROPUC mas, em geral, nao e lembrado. Essa historia de recupe- ra9ao do poder de cntica, de mobiliza9ao, nao e considerada. 0 que e lembrado e o segundo fator, mais pontual. Nos estavamos siste- maticamente tres meses sem receber os salarios. Existe uma lei que profbe que se passe de tres meses de atraso nos salarios. 0 que a universidade fazia? Antes de completar tres me- ses, por exemplo, no final de mar90, ela pagava Janeiro. Antes de comple- tar abril, ela pagava fevereiro." 0 medo foi superado e os professo- res compareciam as reunioes promo- vidas pela recem-fundada APROPUC. Era um movimento forte e politizado. "Apareciam as tendencias politicas e tambem situa95es complicadas como as pessoas que nao se expunham. Era muito comum ser procurado fora das assembleias, corredores, etc. por pro- fessores que tinham uma determina- da posi9ao, mas essa posi9ao nao era levada para a assembleia. Nos tive- mos uma afluencia em assembleias que nunca mais foi reproduzida. Nos tive- mos assembleias abarrotadas."

0 papel do ciclo basico

Luna: A APROPUC nao dava aubatltuir ot canait da univaptidado

"0 ciclo basico elevou, conduziu a APROPUC. Era uma popula9ao de professores muito jovem, altamente politizados. Vinham de movimentos polfticos anteriores e outras com filia96es partidarias reconhecidas. Se, por um lado, e verdade que esses pro-

PUCVIVA REVISTA PAGiNA 12

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a AAPROPUC

comegou a sairfora

desua fungao

sindicaly y

fessores do ensino basico tiveram um papel fundamental e preponderante em todos os grandes movimentos, inclusive a Estatuinte. For outro lado, isso ajudou a criar uma cisao com o resto da universidade em re- late, a APROPUC. Havia uma re- jei9ao alta a APROPUC sob a ale- ga9ao de que era uma institui9ao dos meninos do basico".

P

articipagao nos

Conselhos

O primeiro presidente da APROPUC tern uma posi9ao considerada por ele mesmo como muito peculiar. Trata- se da reht9ao dos orgaos colegiados da PUC com a associa9ao dos docen- tes. "Sempre fui desde aquela epoca, e continuo hoje, defensor da ideia de que APROPUC nunca poderia e nun- ca deveria substituir os canais ade- quados da universidade, porexemplo, tivesse um assento formal nos colegiados. Eles fazem parte da es- trutura, eles estao submetidos ao pro- cesso da propria estrutura. Eu recu- sei categoricamente a participa9ao formal da APROPUC em qualquer orgao colegiado. A minha visao era exatamente oposta. Atraves da enti- dade, cobrava dos professores que eram representantes nos colegiados.

T-

A J

*9

•9 *.

Sergio Luna not lempoi horblcoi da funda;ao da APROPUC

Nao ia cobrar de um membra nato do CEPE ou do Conselho Universitario. Mas ia cobrar dos nossos. represen- tantes (das unidades, nao da APROPUC) que tinham assento por elei9ao naqueles orgaos."

A fungao da APROPUC hoje

Na opiniao do professor, "A APROPUC tern desempenhado um papel extremamente importante na interlocu9ao com a Reitoria no que diz respeito a contratos, condi96es de trabalho, aumento salarial, pa- gamento de salaries devidos e dai por diante. Acho que e uma fun9ao importante e ela vem se conduzin- do muito bem em rela9ao a isso. Por outro lado, acho que de uns anos

para ca, e nao estou falando da ges- tao da Madalena, a APROPUC, talvez por mudan9as do momento politico e mudan9as nas condi95es da universidade, congou a sair fora um pouco de uma fun9ao 'sin- dical', que ele deve ter, e congou a entrar, indevidamente, na ques- tao da estrutura da universidade. A gente tentou fazer sob a forma de preparar, de qualificar, de assesso- rar, de dar condi96es para que os representantes assumissem uma fun9ao dentro da universidade. A APROPUC incorporou isso."

P orque a desmobilizagao

Dedicagao ao LIAP

Sergio Vasconcellos de Luna, 54 anos, um dos fundadores e

primeiro presidente da

APROPUC, e psicdlogo. Luna dirigiu a APROPUC por duas

gestdes, do seu inicio ate 1978. Em 92, depois de dirigir a Pds-Graduagao da PUC, pas-

sou para a area administrati- va, criando o Laboratdrio de

Informatica para Apoio a Pes-

quisa (LIAP). Com o objetivo de melhorar as condigdes de tra-

balho na epoca, o LIAP hoje tambem desenvolve atividades

de apoio ao ensino e adminis- trative, com varies projetos da

instituigao em andamento. 0 professor Luna, por causa de

sua dedicagao integral ao LIAP, esta temporariamente afasta-

do da Pds-Graduagao.

Segundo Sergio Luna, a estabilida- de em relagao a salarios e outras reivindicagoes basicas ajudou a di- minuir a participagao dos profes- sores na vida da Associagao. "A historia da APROPUC nasceu num contexto de extrema mobili- dade no que dizia respeito ao di- reito mais basico de todos, que era o de receber salarios. A casa co- mega a ficar em ordem, ter aumen- tos razoaveis de salario, e quase inevitavel a desmobilizagao e nao acho que isso seja caracteristica so da PUC. Os que participaram en- traram de cabega naquilo, mas eu nao tenho certeza se toda a uni- versidade se mobilizou tanto quanto deveria."

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1^ yV t J ■ TVI I > O I ^ yV ■ ^ C > I ^ FC. yv F^ I I ^ H C >

Protagonista da histdria

recente do siiidicalsino

0papel desempenhado pela APROPUC na reconstrugdo

da democracia foi marcante

Lalo: A Contribuigao da APROPUC lal fundamental para cria^io da Andes

(} ^ segundo presidente da

APROPUC, Laurindo Lalo Leal Fi- Iho, atualmente trabalha na Escola de Comunica96es e Artes, USP. A sua gestao,entre 1978 e 1980, aconteceu em anos marcantes para o movimep- to social no Brasil. E, sem diivida, la estava a associaijao dos professores puquianos com a sua contribui^ao historica para a reconstrugao da de- mocracia no pat's. Grandes greves ope- rarias aconteceram em 78,79 e 80. Os movimentos dos professores e dos estudantes caminhavam firmes na sua reorganiza9ao. Em seu depoi- mento, entre muitas outras parti- cipa9oes, o professor Lalo destaca a contribui9ao fundamental dada pela APROPUC na cria9ao da As- socia9ao Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes).

A caminho M da democracia

Lalo foi convencido a participar da diretoria como presidente. "A segun- da gestao da associa9ao dos docentes da PUC foi contemporanea a gestao da professora Nadir Kfouri. Lalo lem- bra que foi "urn momento de transi- 930 da PUC, de centralizador, eu di- ria ate autoritario, para urn modelo mais democratico. Foi dona Nadir que encabe90u esse processo na Reito- ria. Isso representou uma dificuldade porque e muito mais facil se traba- Ihar como h'der sindical contra urn patrao que assume seu papel de pa- trao do que com uma professora de

• • Era preciso

mostrar que tinhamos

os mesmos

problemas que outras

categorias

* princt'pios democraticos bastante ar- raigados. Poroutro lado, facilita por- que o dialogo foi sempre permanen- te, as portas sempre estiveram aber- tas para o nosso trabalho."

Professor tambem etrabalhador

A APROPUC, desde a sua origem, atuou em varias frentes. Lalo explica, "A entidade sempre teve uma dupla vertente. Uma sindical, de reivindica-

9oes salariais, para colocar o salario e outras reivindica96es em dia. Foi in- teressante porque nao havia uma tra- di9ao do professor universitario de se colocar como trabalhador. 0 profes- sor universitario em geral se colocava mais como urn intelectual. Eles tinham vergonha de fazer reivindica96es sa- lariais. 0 nosso trabalho foi de mobiliza9ao para mostrar que tinha- mos os mesmos problemas das ou- tras categorias de trabalhadores. Ha- via uma efervescencia poh'tica e sin- dical, tinhamos assembleias numero- sas, os professores passaram a se as- sumir como trabalhadores. Isso resul- tou ate na cria9ao, muito incentivada pela APROPUC, da Associa9ao Na- cional dos Docentes do Ensino Supe- rior (Andes) - que hoje e o sindicato dos professores das universidades piiblicas federals e estaduais. A USP faz parte. Na PUC se concentrou o movimento de cria9ao da Andes.

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3

r

Hole o professor Lalo a livre-doceote na Escola da Comunicaca

De outro lado, a vertente voltada para a melhoria da qualidade da universi- dade. Nunca nos despneocupamos dis- so, tinhamos grupos de trabalho que discutiam a qualidade do ensino, a re- 13930 sociedade e universidade, 0 pa- pel da universidade voltada para uma produ9ao dirigida as necessidades sociais.Essas duas vertentes sempre caminharam juntas."

Eleigoes diretas de reitor a presidente

A participa9ao polftica da APROPUC, transcendia os limites da PUC e do movimento universitario, expandindo-se para toda a sociedade. 0 professor nos conta que "foi na gestao de dona Nadir que nos conse- guimos ter representa9ao nos conse- Ihos. Havia um compromisso politi- co dos professores. A PUC acabou sendo um centro de debates de outros setores da sociedade civil. Eu me lem- bro muito da nossa participa9ao na famosa greve dos metalurgicos do ABC. em 1980, onde o exercito amea- 90U intervir, havia um grande numero de professores da PUC e a APROPUC estava presente oficial- mente. Participavamos das reunifies do sindicato dos metalurgicos para darmos nao so 0 apoio politico, mas ate logfstico, quando fosse preciso."

OCicIo Basico: nucleo central

Lalo ve desta forma 0 papel do Ciclo Basico na organiza9ao dos professo- res da PUC. "Foi fundamental. 0 grande sustentaculo da APROPUC foi o Ciclo Bisico, embora ti vessemos na diretoria, e sempre fizemos questao disso, professores do p6s-gradua9ao, da Faculdade de Direito, de Econo- mia, que nao tinham vinculo com 0

0 professor Laurindo Lalo Leal Filho, e livre-docente pela Es- cola de Comunicagoes e Artes - ECA-USP, onde trabalha atual- mente na graduagao e pos-gra- duagao com televisao e mode- los institucionais de radio e televisao, respectivamente.

CicloiBasico. 0 Ciclo Basico foi uma das experiencias mais fruti'feras do ponto de vista do debate academico, da criagao cultural, da discussao do papel da Universidade ja feito no pafs. Ele fez ressurgir a ideia de Universi- dade como unidade de conhecimento e nao um conhecimento fragmentado como e hoje. Com a abertura demo- cratica, aquele papel que ele tinha de consciencia critica, acaba se perden- do, porque o que se discutia no Ciclo Basico, e so nele, so na Universidade e so na PUC, passou a ser discutido amplamente pela sociedade."

0 Ciclo Basico

fez ressurgir a

ideia da Universidade

como unidade de

conhecimento yy

Sobre a participagao dos docentes na vida institucional, Lalo pergunta se a atual situagao economica do pai's leva 0 professor a pensar primeiro na sobrevivencia e se isto traz con- seqiiencias no seu comportamento profissio-nal e militante.

Lalo foi 0 segundo presidente da APROPUC, de novembro de 78 a novembro de 80. Na epo- ca, alem de trabalhar na PUC, era editor de jornalismo inter- nacional na TV Cultura. Partici- pou da ANDES e do Movimento Sindical

"A Universidade mantem com os pro- fessores uma relagao trabalhista como qualquer outra. 0 problema e quando ela e piiblica ou semi-publica como a PUC. Isso dificulta a relagao por- que muitos professores acabam tendo um papel ambi'guo, podem vir a fazer parte da administragao, mas ao mesmo tempo sao funcio- narios. Isso e um fator complicador para a organizagao dos docentes."

A PUC hoje

Com a crise da PUC, muitos profes- sores foram trabalhar em outras uni- versidades mas mantem um relagao afetiva forte com a instituigao e seus antigos colegas. Lalo e um exemplo deste comportamento. "Estou fora da PUC so fisicamente. Mantenho rela- l gfies de amizade. Nao quero cortar esse vinculo. Ela era uma universida- de exemplo do ponto de vista da sua organ izagao intema, da sua democra- cia interna, da participagao, mas ela sofria com as crises constantes. 0 relato que os professores me fazem do cotidiano e muito diferente da epo- ca que eu trabalhava la." Finalizando a sua rapida analise so- bre o pen'odo em que passou pela PUC, Lalo comenta. "Foi uma expe- riencia rica, mas situada historicamen- te. So podia acontecer naquele mo- mento. A sociedade se organizava e a PUC passava a ser um centro de re- sistencia a ditadura e colocava essa potencialidade a servigo da redemocratizagao do pais e da reor- ganizagao dos professores a m'vel na- cional. Pessoas que ocupam hoje car- gos importantes no pais vinham a APROPUC. Nas suas proprias uni- versidades nao tinham espago para discutiros seus problemas."

Rela^ao afetiva com a PUC

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i^c> ■ ^,1 c> rvx e r cz:r>psrte c> i v^ys.

Uma naain ia histopica UlllU (JUgiii

escrita co

IU IIIUIUI lUU

im democracia

A APROPUC foi ponta de langa na batalha pela

democratizagdo da universidade e da sociedade brasileira

uando o professor Aloi'zio Mercadante Oliva veio para a PUC, em 1978, a universidade e o movimento social no pafs viviam urn periodo de intensa mobiliza^ao. As greves operarias arrombavam as portas da ditadura. 0 professor Mercadante ja prestava assessoria ao movimento sindical e sua tese de mestrado era justamente sobre o sindicalismo no ABC, antes da pri- meira greve. "Logo que entrei na uni- versidade, me associei a APROPUC e comecei a participar do movimento docente", conta ele. Em seu depoimento, o professor destaca o papel que desempenha- ram a PUC e a APROPUC na con- du^ao da democratiza9ao da univer- sidade, na luta sindical e no debate academico dentro e fora da PUC.

a 0 Tuca foi um espago fundamental de

rearticulagdo da

sociedade civil e a

APROPUC esteve a frente

desse processo

A luta democratica era a prioridade

O professor Mercadante explica por- que foi fundo na militancia na PUC. "A luta democratica era fundamental para a sociedade e o movimento do- cente come^ava a emergir. A PUC teve um papel de destaque por causa de d. Paulo EvaristoAms. Ele tambem aco-

iifli&fl

*

Iheu varios professores exilados que voltavam ao pars e expulsos das uni- versidades publicas. A PUC acabou reunindo uma geragao progressis- ta, competente, inovadora. Era um projeto educacional e cultural mui- to interessante. Neste contexto, o Tuca foi um espa- 90 fundamental de rearticula9ao da sociedade civil ate 0 seu incendio em 1982 e a APROPUC, em todo esse pe- riodo, esteve a ffente desse processo." Presidente na terceira e quarta ges- toes, ficou no comando da entidade de 1980 a 1984. Ele relata a partici- pa9ao da Associa9ao: "Nos estivemos a frente na luta pela Anistia, na luta pelas liberdades democraticas, contra as prisoes, torturas, a repressao poli- tica. ainda muito forte. Tivemos um papel de destaque na luta pelas dire- tas, vestimos a PUC inteira de ama- relo. Estavamos na frente de todas as articula95es importantes da so- ciedade civil pela democracia. E a APROPUC era a ponta de lan9a nesse processo".

D

emocratizagao da

Universidade

Mercadante; Rela^oes de conllite e parcarla com a Reltorla

"Do ponto de vista trabalhista, na minha gestao, aconteceram inova96es interessantes: nos fizemos 0 primei- ro contrato coletivo de trabalho, ga- rantimos estabilidade de emprego para os professores. Instituimos a primei- ra licen9a-patemidade na historia do Brasil, em 1981, e a primeira 1 icen9a- matemidade e patemidade extensi-

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Mercadante: em recente palestra na SBPC

va a filhos adotivos, que era uma outra concep§ao de maternidade/ patemidade inovadora e adequada a um pai's como o nosso. Outra grande contribui9ao foi a de- mocratiza^ao da universidade e a PUC foi a vanguarda no pat's. Nos ftzemos a primeira elei9ao direta para reitor. Elegemos a professora Nadir Kfouri. Esta foi uma luta da APROPUC. Toda a regulamenta9ao, o voto direto, univer- sal, de todas as instancias de dire9ao da universidade." Segundo Mercadante, a Associa9ao nao via a dire9ao eleita da universida- de como patrao. "Era uma rela9ao de conflito e parceria. Conflito, porque havia a rela9ao trabalhista. N6s tt'nha- mos problemas salariais que nao eram pequenos. Faziamos paralisa95es, exigi'amos negocia96es. Ao mesmo tempo, faziamos parceria porque era

a A dimensao

fundamental da

APROPUC foi a luta

democrdtica dentro da

PUC para mostrar uma

nova universidade

ao pals e a participagdo

ativa na sociedade y y

uma Reitoria eleita pelo voto secreto, direto e universal da comunidade. Uma Reitoria comprometida com a lutademocratica. que acolheu a SBPC quando ela foi proibida na USP. En- tao, nos tmhamos responsabilidades na luta democratica, sabt'amos o pa- pel de resistencia que a universidade desenvolvia. A universidade tinha sido invadida em setembro de 77. A comunidade reagiu. Entao, era uma universidade especial. A Reitoria nao era propriamente o patrao. A rela9ao patronal era com a mantenedora. Mas com a Reitoria havia conflitos traba- Ihistas e uma rela9ao de parceria na luta democratica."

A

APROPUCeo

movimento sindical

"A dimensao fundamental da APROPUC foi a luta democratica dentro da PUC para mostrar uma nova universidade ao pat's e a participa9ao ativa na sociedade. Entao, come9a- mos a articular a participa9ao na luta sindical que come9ava a emergir como novo sujeito historico da luta pela democracia e por reformas profundas da sociedade, como as greves operari- as do ABC. E nos organizamos de- lega9oes da APROPUC para ir a todo o Primeiro de Maio no ABC, arreca-

Desejo de continuar na PUC

0 professor Aloizio Mercadante Oliva, 42 anos, terminou a FEA-

USP em 1975 e fez mestrado na UNICAMP. Em 1978, entrou na

PUC, no departamento de Econo- mia e deu aulas na Ciencias Soci-

ais. Presidiu a APROPUC em duas

gestoes, de 1980a 1984. Nesse periodo fez parte da ANDES e da

organizagao da CUT, como repre- sentantedaAssociagao. Foi asses-

sor da CUT, depois deputado fede-

ral pelo PT, candidate a vice-presi-

dente na chapa do Lula e a vice- prefeito na chapa de Luiza Erundina. VoltouadaraulasnaPUC em 1995

e sua vontade e continuar como do-

cente na universidade.

damos fundos de apoio as greves do ABC. vendemos bonus, nos levanta- mos recursos para eles." Alem disso, a APROPUC partici- pou da discussao e da organizagao de todo o processo de criagao da CUT, mantendo representantes em todas as instancias. Mercadante fala do processo demo- cratico e do Ciclo Basico. "0 proces- so de democratizagao da universidade ftnalizou com a constituinte da PUC formada por delegados eleitos pela co- munidade para discutir um novo proje- to de estruturagao da instituigao. 0 Ciclo Basico era uma unidade vital, uma nova concepgao de universida- de, interdisciplinar, participativa, de vanguarda. Nos nao conseguimos sus- tentar isso e nao foi posst'vel negoci- ar. Na minha visao, o seu ftm foi um erro da universidade. Nesse final de seculo, com a evolugao tecnologica, o desafio da cidadania exige uma visao mais articulada, universalizante. Ter um tempo para se dedicar aquela visao global, sistemica, articulada do mundo, e fun- damental na formagao do estudante universitario. A PUC devia rever o ftm do Basico porque foi um elemen- to dinamizador e transformador da universidade, que veio contra a mare da reforma universitaria"

Compromisso social da universidade

Para Mercadante toda uma geragao foi prejudicada academicamente pelo engajamento profundo dentro da PUC. pela participagao ativa na cons- trugao de uma nova universidade e da luta democratica, enfrentando resis- tencia ate de uma parte do corpo do- cente. E finaliza: "A APROPUC e a PUC foram uma pagina muito bonita da historia da universidade brasileira. Elas deixaram uma mensagem, que a universidade tern que se voltar para os problemas sociais, participar mais da sociedade civil. Essa busca do es- pi'rito critico, da formagao mais uni- versal, de compromisso social, mais sensibilidade com a solidariedade, com a fratemidade, a busca da justiga, da democracia, eu tenho certeza que mar- cou aquela geragao. Eu tenho muitas saudades daquela epoca porque foi um tempo muito bonito da luta de- mocratica e da vida da universidade brasileira."

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I-i. v* i <L" a x 2* m~ do I-C ^ i t «> 5-> i« ■* t o

0 An de um dGlo e o

ndo das grandes graves

A APROPUC esteve prestes a se extinguir em 1985, mas

professores eternamente indignados ndo permitiram

professor Rui Cezar do Espirito Santo foi presidente da APROPUC num periodo de transi- 930 da entidade. Ocupou o cargo de abril ajunhode 1995. Foi um manda- to tampao, mas continuou na direto- ria na gestao seguinte, presidida pela professora Zilda lokoi. 0 professor Espirito Santo destaca em seu depoimento aquele momento em que a Associa9ao passava por uma fase de esvaziamento, fim de um ci- clo e im'cio de outro, de grandes gre- ves por melhores salarios.

D

erepente, presidente

da APROPUC

"Foi um processo muito curioso. Eu defendia, especialmente com os meus alunos da disciplina Direito de Orga- niza9ao das Pessoas, o direito sindi- cal, o direito das associa96es de clas- se. Eu estava dando uma aula sobre isso, quando um aluno levanta e diz assim: 'Rui, voce esta defendendo isso e esta tendo uma assembleia para extinguir a APROPUC.' Af, eu dis- se: 'Bern, coerentemente com a aula que eu estou dando, eu vou para essa assembleia para naodeixarfechar!' E participei dessa assembleia, fiz um discurso a respeito da preserva9ao da entidade e sai de la presidente! A entidade ia ser fechada naquele momento por falta de candidates para dirigi-la. Fui um presidente eleito pela assembleia. Acho que um caso unico na historia da

APROPUC, porque em todas as outras houve elei9oes diretas." A partir daf, segundo o professor Es- pfrito Santo, o movimento foi reavivado e a APROPUC retomou o dialogo com a Reitoria, mantendo a tradi9ao democratica da PUC e a sua representa9ao docente.

A luta pela melhoria dos salarios

0 pais atravessava um longo periodo inflacionario. A PUC sofria dupla- mente com isso. De um lado, os pro- fessores e funcionarios reivindican- do reajustes legftimos, de outro, os alunos protestando contra os aumen- tos das mensalidades. 0 professor lembra: "Foi decisiva a luta da

^ ^Os protestos dos

professores faziam a

Reitoria se movimentar

e buscar os recursosj J

APROPUC, na manuten9ao dos m- veis de salarios. Os protestos dos professores faziam com que a Reito- ria se movimentasse no sentido de buscar recursos." As condi9oes de trabalho sao desta- cadas por Espirito Santo como uma conquista ainda por vir. "Nos preci- samos avatar mais. Ha uma luta per- manente em torno das condi96es de trabalho. A PUC ainda oferece con-

* *

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* Rui Espirito Santo: 0 unico presidente elolto em uma assembleia

P U C V I V A R E V I S T A PAQiNA 18

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a No Ciclo Bdsico

havia o espirito do

eterno aprendiz e isto

se perde se o especialista

isolado se julga

o dono da verdadej J

di95es de trabalho precarias. E so pensar na falta de respeito aos do- centes, que trabalham dando aula com musica, com batucada, com barulho de corredor. Eu sei que e dificil resol- ver esse problema, mas eu acho que a APROPUC tern o dever de ir mais duro contra essa falta de condi9oes de trabalho, de silencio para trabalhar, salas de aula melhores. Porque, espa- 90 ffsico nos temos, mas e precise investir na sua melhoria."

D

emocratizagao da

universidade

As elei9oes diretas para reitor, no entender do professor, e uma conquis- ta defmitiva e a associa9ao dos do- centes, os funcionarios e os estudan- tes tern tido urn comportamento aguerrido que garante a manuten9ao desse e de outros direitos. "A PUC tern sido respeitada pela Funda9ao Sao Paulo em grande parte por isso. Houve um episodic, alguns anos atras, em que a Funda9ao Sao Paulo tentou interferir dentro da uni- versidade e os protestos da APROPUC foram decisivos para que a Funda9ao Sao Paulo nao fosse alem do que os Estatutos Ihe permite." "As pessoas que trabalham aqui sa- bem que existe um perfil interno de universidade que nao se repete la fora. A PUC mantem um perfil de univer- sidade onde os professores dispoem de um espa90 livre que nao se encon- tra em outras. Ela nao e nem piiblica e

y

% c

*

Rul Espirito Santa: Preclsamot repensar at condlgoas de trabalho

nem privada e nao chega, sequer, a ser da Igreja, embora a entidade mantenedora seja a Funda9ao Sao Paulo - que na verdade nao mantem coisa nenhuma, apenas e fundadora da PUC. A PUC tern quase que uma vida independente dessa funda9ao. As nossas lutas tern demonstrado isso."

0

vazio deixado pelo Ciclo Basico

"O Ciclo Basico tinha uma caracte- n'stica que hoje precisava ser retoma- da, que e a interdisciplinaridade. Ele se caracterizava exatamente por isso.

Agao coerente com o oficio

Rui Cezar do Espirito Santo, 62 anos, e professor de Dida-

tica na Faculdade de Educa- gao. E formado em direito com mestrado em Educagao. Foi

presidente da APROPUC no perido de abril a junho de 85,

cumprindo um mandate de transigao e preparatorio para as eleigoes realizadas em ju-

nho daquele ano. 0 professor fez parte de uma diretoria que

reergueu 0 movimento dos professores da PUC.

Havia uma postura de humildade dos professores do Ciclo Basico, porque vinham de areas diferentes e sabiam 0 'quanto eles eram aprendizes dentro de uma universidade. Havia 0 espiri- to do eterno aprendiz. Isto, as vezes, se perde dentro de uma universidade quando 0 especialista isolado se julga o dono da verdade. Professores de areas distintas, formando um nucleo coeso que se reunia permanentemente numa discussao extremamente criativa. A perda dessa discussao e desse es- pago deve servir de motivo para que se retome a abertura de novos espa- 90s interdisciplinares, que se perceba a riqueza da discussao de especialistas de diferentes areas numa agao conjunta." 0 professor Espirito Santo finaliza ressaltando 0 papel da APROPUC na discussao dos ultimos Estatutos, aprovados pelo CONSUN em Janeiro deste ano. Sobre 0 periodo de greve, lembra que aconsciencia adquirida nes- sas lutas pode ser usada "na defesa de outros principios e de outras questoes, como a qualidade de ensino e a melhoria da universidade como um todo."

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I I ^ I > yV rvi yV I-C. I yV Ci I-t ¥ CJ C > 1^ I I O K. C > I

Levar a luta para urn

patamar superior

A Universidade exige uma discussdo sobre o sen futuro

imediato e a APROPUC tem um papel

a desempenhar nesse cendrio

m 1985, o mandato do professor Aloi'zio Mercadante havia terminado e nao se apresentava ne- nhum grupo para compor a diretoria. Havia a proposta de a APROPUC encerrar as suas atividades. Segundo alguns, a universidade havia se demo- cratizado e as pessoas nao estavam mais interessadas na luta sindical. Seu fechamento, segundo a professora Zilda lokoi, era uma conseqiiencia na- tural das tentativas frustradas de se montar uma chapa. Houve um movi- mento tendo a frente professores que eram contra o fim da Associa^ao, en- tre eles, o professor Lucio Flavio Rodrigues de Almeida.

crise de

lidentidade da PUC

A professora Zilda foi contra o fe- chamento da Associa^ao. "Fiquei com a tarefa de montar uma comissao tem- poraria para articular um grupo para fazero trabalho. Conseguimos mon- tar um chapa que foi eleita em 85. Ate 86, eu dirigi a APROPUC. Nos pegamos uma fase muito diffcil em que a PUC tinha problemas de dt- vidas, de caixa na gestao do Luis Eduardo Wanderley." Em 1986, a crise da PUC era de tal propor9ao que foi realizado um ple- biscite para se saber qual era a posi- 930 da comunidade puquiana sobre a possibilidade de tomar a universida- de numa institui9ao publica. Seja mu- nicipal, estadual ou federal. Venceu a proposta de tomar a PUC publica.

((a APROPUC

liderava a discussdo

academic a, fazia

semindrios, sediava

encontros organizados

em defesa

da universidade

brasileira

Relata a professora Zilda: "Estivemos com d. Paulo que nos disse que nao queria uma coisa dessa natureza."

s

em pesquisa

e sem recursos

A Associa9ao colocava que se tratava de uma luta corporativa, de defesa do trabalho e do salario e que a PUC se virasse para conseguir os recursos. Foi o momento em que a PUC corr^ou a se fortalecer como uma universidade de pesquisa, pois passou a have&incenti-

vopara que a maioria dos profes- sores buscassem a titula9ao. "Existia um grupo muito significati- vo de professores que ja estavam fa- zendo suas titula96es e tinha um cer- to interesse que esses professores com titula9ao fizesse projetos para pensar a obten9ao de recursos por parte da PUC. Foi uma experiencia muito rica e a administra9ao da PUC assumiu bem essa parte." A questao sindical se organizava na discussao e na defesa do con- junto da universidade brasileira. "A APROPUC participava e lide- rava a discussao academica, fazia seminaries de maneira intensa, sediava encontros e esteve presen- te nos grandes seminarios organi- zados em defesa da universidade brasileira." Lembra a professora Zilda que "o movimento docente estava muito ati- vo e muito preocupado em discutir a universidade como um todo. A PUC viveu em meados da decada de oiten- ta um processo de evasao muito gran-

uFoi o lugar onde eu mais aprendi" |

A professora Zilda Marica Gricoli lokoi,

50 anos, atualmente, da aulas na disci-

plina de America Latina Contempora- nea na graduagao e na pos-graduagao da Faculdade de Filosofia Ciencias e

Letras da USP. Saiu da PUC e foi para a USP em 1986. Pertence a diregao da

Associagao dos Docentes da USP (ADUSP) e Associagao dos Profes-

sores Universitarios de Historia. Zilda dirigiu a APROPUC entre1985e 1986, num perido de retomada do movi-

menfo reivindicativo dentro da PUC, quando longas greves aconteceram.

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de. As pessoas se capacitavam e saiam da PUC. Ela precisou valori- zar um pouco mais os seus docen- tes e funcionarios para ter um gru- po com mais longevidade."

s

ofrendo os efeitos

da mobilizagao

Ao mesmo tempo em que os profes- sores participavam da discussao aca- demica, encerravam um processo de Constituinte da PUC (a discussao dos novos estatutos da universidade), ain- da tinham que garantir a representa- 930 na Associa9ao. Um dos motives do esvaziamento da APROPUC na epoca foi o engajamento dos docen- tes na vida interna da universidade, sem tempo para a vida sindical. A professora Zilda enfatiza estes dife- rentes papeis desempenhados pelos professores. "Esse grupo que chegou e que vinha com essa dimensao da luta entrou nessa frente e conseguiu pro- duzir ao lado dos que faziam admi- nistra9ao um combate pela valoriza- 930 do salario. Eu entrei em 82 fiquei ate 86 e nos dirigimos seis greves. E greves muito fortes, muito mobiliza- das, com assembleias de 300,200 pes- soas. Quern nao entrava em greve? Uma parte da Medicina de Sorocaba entrava na greve, o Direito e Econo- mia entravam parcialmente da greve. 0 resto todo entrava. Tinha um respal- do grande e nos faziamos mobiliza96es conjuntas, professores e funcionarios e negociavamos salaries publicamente." 0 papel da 3930 sindical e destacado

x

'

A * ) Impedlu que a APROPUC lec

pela professora Zilda na constru9ao da democracia na PUC. "Nao e por- que existe uma universidade democra- tizada que os interesses corporativos deixam de existir. Eles passam a ser medidos por duas coisas fundamen- tais: a avalia9ao de competencia e a busca por sol^oes democraticamen- te discutidas. Isso e util, rico e leva a solu9ao dos problemas."

0

papel da PUC-SP e da associa^ao

De acordo com a professora Zilda, a PUC e a sua associa9ao docente nao podem ficar alheias as discussoes que acontecem na esfera das universida- des publicas e no ambito federal. O sistema universitario nacional pode sofrer mudan9as importantes a curto prazo. Outra questao, e a safda da

A

'/

USP Hole, zh

a A PUC tem papel

fundamental.

Ela tem que serponta de

langa na reversdo desse

sistema de ensino

empresarial y y

APROPUC da Andes. Segundo ela, "No campo das universidades parti- culares, a PUC tem um papel funda- mental, ela e uma universidade que conseguiu dar conta de fazer pesqui- sa, capacita9ao, valoriza9ao do qua- dro de trabalho e ela tem que ser pon- ta de lan9a na reversao dessa coisa

' escabrosa que e esse sistema de ensi- no empresarial, lucrative. A Andes sofre muito com a perda da APROPUC." Finalizando, a professora Zilda res-

i salta que e precise mudar 0 patamar I de 3930. "Hoje, e precise fazer a de- 1 fesa do sistema universitario, enquan- | to um sistema que tem como ponto

fundamental a articula9ao do ensino e da pesquisa. Mais de 70% do ensino superior pertence ao ensino privado. Se voce excluir quatro ou cinco expe- riencias de ensino bom, 0 resto tem ensino superior muito ruim. A gente tem que ter uma decada de valoriza9ao da universidade brasi- leira, do ensino superior que vai nos levar a todos para um patamar mais acima. Nos, aqui da Adusp, temos muito interesse de discutir conjuntamente com a APROPUC os desafios que estao colocados pela frente. No estado de Sao Paulo a crise e muito grande."

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ER-SON TV^I^V RTTI N S I> E C> 1^ I ^ I-C IRA.

Fomos unta trincheira

de resistencia

A Associagdo defendeu os professores, o ensino

e a democracia dos ataques da direita

6 professor Erson Martins de Oliveira, presidente da APROPUC no final do mandate da professora Zilda lokoi, em 1987, da enfase a algu- mas questoes polemicas como o pa- pel da universidade e da Associd- 930 nestas duas ultimas decadas. Em seu depoimento, o professor Erson destaca a importancia da luta politica dentro da Universidade, em especial a PUC. Nao apenas em tor- no das questoes reivindicativas dos professores, mas a luta para que es- tudantes e professores fagam parte do movimento social. Fala tambem so- bre a atua9ao da APROPUC no mo- vimento de redemocratiza9ao da uni- versidade, da sociedade e, de acordo com ele, como foi e como deveria ser o caminho a ser seguido nesse pro- cesso politico.

Combatefirme aditaduramilitar

A APROPUC, diz o professor Erson, se colocou pelas reivindica96es demo- craticas em contraposi9ao ao pen'odo militar. "Fazia-se poh'tica livremen- te, defendia-se a liberdade nos cen- tres academicos. Participavamos de atividades contra os crimes da dita- dura. Por isso, a PUC foi invadida. Porque estavamos reconstruindo o movimento estudantil. Nao foi por- que estavamos defendendo a Anistia. E sim porque estavamos reconstruin- do o movimento de massa. A Associa9ao conseguiu ligar as rei- vindica96es economicas as reivindi-

ca96es democraticas. A luta democra- tica parou af. Quando as reivindica- 96es democraticas nao servem para questionar o sistema economico, o sistema politico da burguesia, ela aca- ba servindo ao proprio capitalismo. Entao, esse foi o limite. Como ela nao se ligou a um movimento social mais amplo, nao chegamos a constituir uma dire9ao entre estudantes e professo- res, sdlida, programatica que ultrapas- sasse o limite do sistema economico de opressao de classe.

Melhoria dos salarios

Por que nasceu a Associa9ao? Erson ve assim a questao: "Os fundadores da APROPUC estavam engajados na ideia da democratiza9ao da universi- dade. Entao, eles pensaram a Asso- cia9ao mais como um instrumento de colabora9aodessademocratiza9ao. Eu

ft

U AAPROPUC

colocou em discussdo a

defesa do ensino publico

e gratuito. A maioria

votou pela estatizagdo

dapucyy

dizia que ela devia funcionar como um sindicato que defendesse os in- teresses dos trabalhadores aqui. A crise financeira da universidade acabou com a primeira perspecti- va. Entao, a Associa9ao teve que funcionar como eu e outros profes- sores tambem defendiam. Ai, foram as grandes assembleias, paralisa95es, ocupa9ao da universida- de, marchas na rua, protesto na fren- te da Curia. A APROPUC cumpriu um papel extraordinario na defe-

k..

Erson comandando uma das varlas assembleias conjuntas da PUC

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-f

Y

\ Epson: APUCe uma unlversidade mercantilista coma qualquer outra

sa dos interesses dos professores. A APROPUC fez a campanha pelo ensino publico e gratuito. Houve um plebiscito e a proposta do ensino publico ganhou. A maioria votou pela estatiza9ao da Universidade Catolica. Esta foi a fase aurea da Associa^ao porque ela colocou em discussao um problema de primei- ra grandeza que e a defesa do ensi- no publico e gratuito."

Democratizagao

interna da PUC

O Ciclo Basico cumpriu um papel democratico dentro da universidade. segundo o professor. "Com o Basico os problemas eram discutidos coleti- vamente, isto contrastava com a bu- rocracia e com os departamentos, che- fes de departamento. 0 fim do Ciclo Basico nao foi por uma questao pe- dagogica. 0 que estava em questao era

0 professor Erson Martins de Oliveira, 47 anos, professor da

PUC ha mais de 20 anos, milita no movimento docente desde

que entrou na universidade. Sua luta e para que o movimento dos professores e dos estudantes fagam parte do movimento so-

cial. 0 professor Erson partici- pou da fundagao da APROPUC

o funcionamento democratico da uni- versidade. Quanto aos problemas de ensino, eram os mesmos de qual- quer outro. Nos discutiamos a qua- lidade do ensino mas esbarravamos no problema da universidade desvinculada das relagoes sociais, desvinculada da produgao social." 0 professor Erson coloca a questao da relagao da Fundagao Sao Paulo com a PUC, expressada nos Estatutos da universidade. "A APROPUC na epo- ca (1982) defendeu a bandeira da pa- ridade das eleigbes. Nesse sentido, ela ajudou a politizar a discussao. E aca-

A PUC eparte

de um sistema de ensino

falido. A escola tem

pouco a ver com a

produgdo social) )

em 76 e do Conselho da entida-

de. Foi presidente em 1987, complementando o mandate da

professora Zilda lokoi. Junta-

mente com outros professores, Erson foi um dos que discorda-

ram do fim da APROPUC e lu-

tou para reorganizar o movi- mento dos professores e forta- lecer a entidade.

bou ficando limitada a essa reivindi- cagao. Tanto e, que foi estabelecida a paridade e ninguem soube o que fazer com ela. Fizeram um estatuto, af che- gou a fundagao e falou: aqui nao vai funcionar assim, nao. Esse e resultado das formalidades de- mocraticas que mais ilude do que pro- priamente modifica a realidade. Por- que hoje tem que se defender a demo- cracia como fator de mudanga da so- ciedade. Essa democracia tem que ser

a democracia operaria."

APUCe a APROPUC

hoje

"A PUC e parte de um sistema de ensino falido. As escolas expres- sam esse sistema, cada uma com suas particularidades. A escola tem pouco ou quase nada a ver com a produgao social. Entao eu vejo a PUC nesse divorcio. Esse e meu primeiro comentario. 0 segundo, € que ela continua uma es- cola particular. Ela se adaptou ao modelo de escola empresarial. Quern pode pagar, paga; quern nao pode pa- gar, fora. Faz uma demagogia com al- gumas bolsas para passar um mel no descontentamento e dar ideia de es- cola democratica, assistencialista. Mas e uma escola mercantilista como qualquer outra. Se nos nao tivessemos a Associagao para fazer uma resistencia era prova- vel que houvesse uma poh'tica de cor- te de professor, de funcionario e re- baixamento dos salarios. Havia um projeto da ala mais da direita da uni- versidade que era assim. Demitir e elevar as mensalidades. A APROPUC foi uma trincheira de resistencia a este projeto. Compara-se a PUC com outras uni- versidades dizendo que ela tem o me- Ihor padrao salarial. Mas parte dos professores tem que trabalhar em dois lugares para completar seu salario ou ter outras fontes de renda que descaracterizam o trabalho de profes- sor. Entao, acha-se que saimos de uma situagao de atraso salarial para uma estabilidade. E o que mais pesa, mas nao creio que seja so isso. As dire- goes e a propria diregao da APROPUC e que me parece que nao se esforgaram por entender que essa fase de conservadorismo ia ocorrer por um reflexo do corporativismo."

Professor e militante politico

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IV^I yV I yv f ys. SANTOS

0 ensino publico e o

gratuito saiu da agenda

Foi um periodo dificil e muito rico em debates em torno

do cardter da instituigdo

orna os anos oitenta e a PUC/SP debatia questoes fundamen- tals num projeto de Universidade como a autonomia, a qualidade do ensino, o carater da inslitui^ao - par- ticular, publica e gratuita ou comuni- taria. A professora Maria Lufsa San- tos Ribeiro, envolvida neste debate e' com posi9oes bastante claras e firmes, acabou sendo indicada para presidir a APROPUC no periodo de 88-90. 0 cenario da universidade era de uma crise financeira profunda e permanen- te. Ja era passado, segundo a profes- sora Maria Luisa, o periodo em que a PUC, de fato, cumpriu um papel de vanguarda nas discussoes das polfti- cas sociais, academicas e culturais. 0 salto qualitativo em sua estrutura aca- demica e administrativa nao aconte- cia. Maria Luisa expoe a seguir a sua visao desse periodo.

u

niversidade

publica e gratuita

"Num determinado momento das multiplas crises pelas quais a PUC passava, ou passa, se criou um movi- mento para a estadualiza^ao da uni- versidade. Foi um movimento de gran- de penetrai^ao. A PUC e dirigida por uma entidade chamada Funda^ao Sao Paulo, ela tern vinculo com a Igreja Catolica. Portanto, em princfpio, essa entidade devia responder pelas solu- 95es das crises. Se ela nao tinha con- di96es, outras entidades podendo, deveriam assumir. A transforma9ao da PUC em escola publica perpassou o movimento dos professores enquan-

i

A gestao de Maple Lulza lol marcada com a recusa da estadualiza;ao

((d o ponto de

vista da educagdo,

a Igreja tem dogmas

que dificilmente

sdo rompidos J )

ria," lembra Maria Luisa, "os pro- fessores que representavam a propos- ta de estadualiza9ao apresentaram uma chapa. Acho que foi a primeira vez na historia da APROPUC que uma diretoria assumiu uma posi9ao bem marcada entre duas ou tres pos- sfveis que existiam no professorado."

to uma tese de defesa do direito a edu- 03930 gratuita e publica." Mas havia uma divisao entre os pro- fessores sobre qual deveria ser o ca- rater da universidade. A professora Maria Luisa destaca. "0 movimento se dividia em uma ala que defendia a chamada funda9ao mista, com a par- ticipa9ao do Estado e da Igreja. Era a continuidade do carater privado da institui9ao. Outra ala defendia o cara- ter publico e a conseqUente estadualiza9ao. A APROPUC abriu espa90 para o debate. 0 movimento foi bonito, houve o plebiscito e ven- ceu a proposta de estadualiza9ao." "No processo de disputa da direto-

A divisao das forgas

internasda PUC

As dificuldades de implementa9ao de uma das propostas correntes e a ri- queza do debate marcaram esses anos, segundo Maria Luisa. "Do ponto de vista da educa9ao, a Igreja tem alguns dogmas que dificilmente seriam rom- pidos pelos seus adeptos mais pro- gressistas. Eu ate brinco parafrasean- do uma referencia ao periodo imperi- al ('nada e mais conservador do que um liberal no poder') que, em termos de educa9ao, nada e mais conserva- dor que a ala progressista da Igreja. Ela dava com muito medo, meio passo, sem coragem de dar um passo, necessa-

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■ no e possivel em beneficio dos princi- pios defendidos por esse grupo. Foi se gerando urn embate entre dois gru- posqueeramaliadosem muitaslutas. A PUC foi tomada por um recuo muito grande. Esse grupo ligado a Teologia da Liberta^ao e muito forte dentro da universidade e quando ele esta realmente apostando em bandei- ras avan^adas, a for^a do movimento intemo e muito maior. Ai a PUC comefou, nao por acaso e com muita freqiiencia, a viver do pas- sado, de um passado de glorias polf- ticas e de coragem. de exemplos de um Brasil democratico. Quanto mais ela lembrava e fazia uso publicamen- te disso, mais ela ia perdendo esse papel do ponto de vista social."

Todo o magisterio dedicado a PUC

0

papel da Fundagao Sao Paulo na PUC

A professora Maria Luisa San-

tos Ribeiro, 50 anos, participou do movimento dos professo-

res da universidade durante todo o tempo. Foi da direloria por varias gestoes. Presidiu a

APROPUC de 1988 a 1990. Mestre e doutora em Filosofia da Educagao, foi professora da

PUC por 25 anos. Aposentada, hoje e secretaria-executiva da

Com a frustragao do movimento pela estadualizagao da PUC, continua a professora, "o movimento se voltou as questoes intemas do ponto de vis- ta pedagogico. A partirdo momento que o movimento pela escola publica se esvazia, a diretoria da APROPUC diri- giu um movimento no sentido de que a Fundagao Sao Paulo tinha a responsa- bilidade de transformar essa estrutura academica em algo melhor. E levamos as lutas, digamos assim, tradicionais, uma das quais permanente que foi a questao do contrato de trabalho." A fungao da Fundagao Sao Paulo foi ficando clara, recorda Maria Luisa. "Houve uma constituinte e, a partir dai, eu comecei a ver que era uma ilu- sao a gente discutir os estatutos da universidade sem discutir os estatu-

^ PUC comegou

a viver de um passado

de glorias. Quanto mais

lembrava, mais perdia

esse papel social y y

-V

i

--

Maria Luiza dlrlglndo hole a Assoclagao Nacional de Pea graduagao e Pesquiaa em Educagao

Associagao Nacional de Pos- Graduagao e Pesquisa em Edu- cagao (APNPed), com sede na

PUC. Quando se aposentou,

tinha a expectativa de conse- guir um contrato de 20 horas

para realizar pesquisas de maior

porte, coisa que nao pode fazer

durante o exercicio do magiste- rio na PUC tendo em vista a sua dedicagao em sala de aula.

essa entidade assuma essa respon- sabilidade e promova as condigoes para que o ensino tenha um signifi- cado para a cultura nacional."

D

emocratizagao das

relagoes

tos da Fundagao Sao Paulo. Quando o Conselho Universitario aprovou os estatutos, a Fundagao apareceu obs- truindo o processo de aprovagao e substituigao dos antigos estatutos pelo novo. A partir daf, nos comega- mos a nos dirigir diretamente a Fun- dagao Sao Paulo, quando a Reitoria nao tomava atitudes de ser a repre- sentante do corpo docente e dos fun- cionarios no trato com a mantenedora. Nos quenamos encarar objetiva- mente a situagao da PUC. Ela e uma escola catolica nao s6 de nome. Estamos trabalhando para uma es- cola particular, vamos exigir que

A professora Maria Lui'sa nao partici- pou do Ciclo Basico e tinha algumas discordancia de sua condugao pedago- gica, mas destaca alguns de seus aspec- tos importantes. "Ele criou uma ffagao de professores que vi via integralmente do magisterio da PUC. Estavam envol- vidos naquilo que faziam e praticavam nao so a docencia mas toda a vida uni- versitaria. Eu live diferengas com esses colegas, mas isso nao impedia de reco- nhecer o sentido universitario na forma como eles concebiam o que estavam cri- ando, que era uma coisa nova. Profes- sor universitario muitas vezes e so um nome.Terespuito universitario, ter uma atitude universitaria e uma coisa rara na historia da educagao brasileira. Esse grupo trouxe para a APROPUC essa forma de atuagao regular." Maria Luisa entende que algumas das razoes para a desmobilizagao do professorado sao as alteragoes sofridas pela carreira do docente, as vezes, causando deformagbes e transformando o professor num carreirista. "E a corrida pelo cargo, pelo titulo, pela quantidade de ar- tigos que ele escreve, de livros que ele publica. Esse lado quantitative passa a ser muito forte na pratica da avaliagao de desempenho. A tentati- va de trazer o padrao empresarial de organizagao para a universidade e para a educagao explica a situagao de hoje e porque uma entidade de classe fica mais dificil de ser levada."

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,

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s o: o i* K ■ c > T c >

A APROPUC e sinonimo

de luta e democracia

Em todos os momentos da vida da PUC, os docentes

contaram com a sua associagdo

professora Madalena Guasco Peixoto, presidente da APROPUC, apresenta urn painel das lu- tas recentes e atuais que a entidade tern levado dentro e fora da institui^ao em de- fesa dos interesses dos professores. Nao so dos professores da PUC, mas dos pro- fissionais das faculdades e universida- des particulares do pais inteiro que corn- poem mais de 70% do ensino superior.

Apraticademocratica

vem das bases

A pratica democratica dos professo- res adquirida no movimento estudan-

til foi levada para a sala de aula. Esta contribuipao foi deixada pelo Ciclo Basico, tanto para a universidade como para a entidade, no entanto, ele nao existe mais, lembra a professora Madalena. "A APROPUC teve uma marca forte dos professores do Basi- co", diz ela. Mas faz a ressalva: "Ele foi importante para todos nos, mas nao foi predominante na historia da entidade porque o Basico foi extinto e a Associa^ao continuou forte, par- ticipando das lutas pela democrati- zagao da universidade e pelos inte- resses dos professores." Madalena resume o flincionamento do

Ciclo Basico: "Havia uma estrutura democratica, as decisoes eram toma- das em equipe, cada equipe tinha sua coordenagao. Depois, aconteciam as- sembleias gerais de todos os profes- sores de todas as equipes. A propos- ta de avalia^ao do Ciclo Basico tam- bem era nova, democratica, porque era feita de forma interdisciplinar. Cinco professores eram responsaveis por uma classe. Havia o incentive a par- ticipafao na vida da universidade. 0 Basico decidindo, praticamente influenciava a decisao de todos. Este foi urn dos motives, no meu modo de ver, para que a luta pelo

-I

v

m

i

Madalena ao lado de Rocha, presidente da AFAPUC, numa das assembldias conjuntas

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Ho Bdsico foi extinto

e a APROPUC continuou

forte, participando das

lutas pela democratizagao

da universidade

e pelos interesses dos

professores 99

seu fim tomasse forfa." 0 outro motivo, segundo Madalena, foi "a existencia da visao de que o aluno tinha que ser formado para o mercado desde o primeiro ano. E o Basico tinha disciplinas gerais, humanistas. Seu objetivo nao era formar profissionais para o merca- do e ja no primeiro ano."

0

movimento

docente hoje

-

Madalena; "Falta aquela discussao mais atual do contrato"

0 movimento dos docentes vive urn momento dificil e contraditorio, na opiniao de Madalena. "Os professo- res em geral nao tern tido urn bom sa- lario, a universidade publica esta sen- do atacada. Isso diminui a atuafao politica dos professores, mas nao podemos entender isso de uma forma mecanica. Se existem dificuldades de organiza^ao intema, tambem os pro- fessores da rede publica nao estao se negando a lutar contra esse tipo de politica. A gente ve o esvaziamento das assembleias e tambem aumentar a organiza^ao nacional. Conseguimos fundar a CONTEE e a Andes tambem e ativa. Ha um aparente esvaziamen- to. E nao e um esvaziamento total porque se preserva a organiza^ao. 0 exemplo da PUC e de assembleias es- vaziadas e a manuten^ao religiosa'

das contribuigoes fmanceiras para a APROPUC, alem da consideragao que a entidade recebe da parte dos professores. Entao, essa situagao e ambigua, contraditoria. Um professor da PUC, para sobreviver, tern que ter mais atividades do que ele tinha. E o clima de pessimismo, de achar que a luta nao esta valendo porque as difi- culdades sao grandes, o risco do de- semprego, acredito que sejam fatores importantes para a desmobilizagao. Nao considero esse esvaziamento uma critica a atuagao das entidades. Existe uma preservagao das entidades, um for- talecimento que nao aparece nas assem- bleias, nao aparece nos atos piiblicos." 0 proximo desafio, lembra Madalena, e conseguir a mobilizagao suficiente para a entidade realizar as proximas eleigoes para a renovagao da Direto-

ii Hd uma

preservaqCio

e um fortelecimento

das entidades. Isto nao

aparece nas

assembleias e nos

atos publicos 99

ria, cujo mandate expirou em 95 e ja foi prorrogado por duas vezes.

0

contrato de trabalho

Dedica^ao integral ao movimento

A professora Madalena Guasco Pei-

xoto, 42 anos, doutoranda no progra-

ma de Filosofia e Histdria da Educagaoo, fez graduagao e mestrado

na PUC-SP e trabalha na universida-

de desde 1979. E presidente da

APROPUC, diretora do Sinpro e da CONTEE e integrante do seu depar-

tamento do Terceiro Grau. Tem tido

participagao ativa nessas tres enti-

dades representativas dos docentes em defesa dos interesses dos pro-

fessores. Aluaimente, na CONTEE,

participa da elaboragao de um proje- to para a Universidade brasileira, debate que vem sendo realizado des-

de 1995 em nivel nacional nas es- colasparticulares.

A Associagao sempre lutou pela ma- nutengao e melhoria do contrato de trabalho docente. "Nos entendemos que se houver um contrato de traba- lho que de conta nao so das ativida- des de ensino nos estaremos defen- dendo a universidade e um ensino de qualidade. Nos conquistamos na luta um contrato por tempo, e nao um con- trato hora/aula que e o contrato que a maioria das universidades e faculda- des particulares ainda possuem. Nos temos um padrao de qualificagao do- cente, o quadro de carreira que da con- seqiiencia a qualificagao. Atualmente, temos feito mais uma discussao da ma- nutengao dessa conquista. Falta aquela discussao mais atual do contrato."

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AAPROPUC

nealuta nacional

A participaQao da APROPUC nas ques- toes gerais dos professores em nivel nacional, lembra Madalena, nao se in- terrompeu. "Temos na Confedera^ao Nacional dos Trabalhadores em Esta- belecimento de Ensino (CONTEE) um Departamento de Terceiro Grau, onde a

APROPUC participa ativamente (ver boxe abaixo). A CONTEE representa a rede particular, os professores e tam- bem os funcionarios administrativos. Alem dos professores do terceiro grau, representa os professores do primeiro e segundo graus. Porque entendemos que existe uma luta especifica dos pro- fessores uni versitarios, a CONTEE, com a participagao da APROPUC, montou

um Departamento de Terceiro Grau e ele tern feito encontros nacionais. Ja realizamos quatro encontros. E a APROPUC tambem participa do Sinpro. Hoje, a APROPUC nao participa das atividades da Andes, por entender que ela nao tern, no seu espa?©, conseguido organizar nacionalmente os professores das universidades particulares."

Um projeto para a Universidade brasileira

em tempo de politica neoliberal

Aptesentamos a seguir, trechos do texto comotitubacima. deautoria daprofes-

sora Madabna Guasco Peixoto, que foi apfesentadono4QEnconk)Naaonaldos MessoresdaRedePartulardoTercei-

roGrau, poyrrMbpebDepartamenbdo Terceiro Grau da CONTEE.

E possivel a elaboragao de um projeto para a Universidade brasileira que pudesse ser apresentado como contraponto as investidas neoliberais neste seta da educagao?

Em nossa histdria recente, ja elabora- mosprojetossintonizadoscom asexi-

gencias de momentos historicos anterio- res. Foram projetos viaveis de implementagao, que utilizados na luta, transformaram bandeiras abstra- tas em projetos concretos para a Uni- versidade brasileira. Nosencontramosnumaetapadeenten-

dimento ainda do que representa este projeto naeducagao, portanto ainda- gagaonaoeabstrata.

0 neoliberalismo se caraderiza em seus fundamentos teoricos pa uma aversao a intervengao estatal e a insubordina- gao incondicional ao macado. Luis Femandes no texto intitulado "Os fundamentos da ofensiva neoliberal" (1995) nos apresenta de forma sintetica tres pilares fundamentais nos quais se assentaesta politica: TAdesestatizagaodefagasprodutivas (revertendoasnacionalizagdesefetuadas nospaisescapitalistas,sobfBtudonop6s-

guerra, e demonstrando o seta socializa- dodasantigaseconomiasdoleste).

2. A desregulagao das atividades eco- ndmicas (eliminando ou reduzindo dras- ticamente o controle de pregos; as bar-

reiras as importagoes, a entrada de capital estrangeiro e a remessa de lucros; as tari- fas de protegao da industria local, a inter- vengao do Estado na operagao de seg- mentos do macado de trabalho, etc..) 3. A particularizagao de direitos e benefici- os (revertendo ou esvaziando padroes universais de protegao social es- tabelecidas em diversos paises no pds- guerra, com o advento do socialismo ou a emagencia dos Estados de berrvestar).

A educagao vem sendo rediscutida e redimensionada no ambito das profundas mudangas do mundo do trabalho. 0 tra- balho ao se tomar mais complexo, dada a exigencia constante do avango tecnolbgico, exige redimensionamento da educagao escdar que objetive responda a necessidade de qualificagao cada vez maia da faga do trabalho. Rapidamente, poderiamos levantar algu- mas caracteristicas impostas a educagao; Os setaes empresariais substituem a equi- dade como fungao e atributo da educagao

pela ideia da qualidade; o abandono da ideia da eqiiidade advem da critica ao IF beralismo classico que via na educagao um fata de igualdade de oportunidades e de formagao da cidadania; a gbbalizagao cobcaoenfoque da qualidade que secon-

trapde a ideia de educagao paraiodos; o processo de redugao de emprego global retira a necessidade de qualificagao de todos, uma vez que exclui do processo produtivo milhoes de trabalhadaes, Nos paises dependentes, comoo Brasil, este processo se da de forma intensa e aberta. Portanto, estes componentes longe de nos mostrar a possibilidade de cons- trugao de uma escola de qualidade e democratica nos apresenta uma profun- da elitizagao da escola publica.

Dois elementos relativamente novos po- dem sa apontados no atual cenario. 0 primeiroe umelementomais goal que serelacioreaDenterrlfTiertodaeducag^

e se liga a universidade. Diz respeito ao carata da universidade. Se publica, esta-

tal, publica e nao estatal, privada. Este debate foi impulsionado pelasescolasca- tblicas durante a Constituinte de 88.

0 numero de propostas apresentadas pelo lobby empresarial a proposta da LDB original, apresentado pelo Forum do Ensino Publico, saocontraqualqua regulamentagao.contraqualquaexigen- dadequafidade.ccabandooomocoritiDle publicoecomademocraciaintema.

Se analisarmos a proposta de LDB (Darcy Ribeiro) aprovada peb senado, vaemos que nem toca na existencia de uma rede particular de ensino, nao a regulamenta e nem sequer Ihe faz al- guma exigencia; desvincula ensino e pesquisa e extensao de uma forma nunca vista antes.

A elabaagao de um projeto progressis- ta gbbal para a universidade brasileira que resgate em outra conjuntura o seu papel social, pressupbe a construgao de um movimento de resistencia ativa ao projeto neolibaal, adenunciaenergF ca e conseqCiente do carata consava- da, autoritarb e privativista da platafa- ma de FHC, a luta pelaregulamentagao da escola privada,eaelabaagao como

ja vem sendo feita de plataformas alta- nativas a plataforma do govemo, de de- fesa da escola publica e gratuita.

(Veja a Integra deste documento na revista do 4s Encontro Nacional dos Professores da Rede Particular do Ter- ceiro Grau, promovido peta CONTEE)

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TVI ^ JEt C >

A esmagadora

maioria decidiu criar

a Associacao

pafs vivia uma politica autoritaria onde a sociedade nao podia se expressar atraves de grupos ou associa^des. Foi justamente nessa epoca que os professores da Pontiffcia Universidade Catolica de Sao Paulo resolveram criar a APROPUC. No dia 25 de setembro de 1976, com l ampla participa^ao dos professores, foi fundada a Associacao.

u nidos na criagao da APROPUC

Uma pesquisa foi encaminhada a todos os professores da universidade. A pesquisa tinha

como objetivo fazer um levantamento da opiniao dos professores sobre a real necessidade de fundar uma associacao. Com esses dados em maos e com a adesao de um grande niimero de professores, a APROPUC foi fundada. 0 primeiro presidente a tomar posse na Associacao foi o professor Sergio Vasconcellos de Luna. "Eu lembro particularmente de tres pessoas que foram muito ativas, o professor Casemiro, responsavel pela fundacao do Ciclo Basico, o Marcos Masetto e eu. Todos os dias nos tres nos encontravamos por alguma razao. Reunimos outras

O primeiro documento

Transcrevesmos abaixo o tex-

lo da circular que serviu como consulta a todos o professores da PUC e levantou a opiniao

dos docentes sobre uma pos- sivel associagao. "Sr. Professor,

Alguns professaes desta universida- de estao sentindo necessidade de se aganizarem numa associagao de pro-

fessores da PUC-SP que discuta e encaminhe sifuagbes-problemas das mais diversas ordens que nos afetam

como professaes,

Para isso vimos consulta-lo: 1) Acha voce que vale a pena fundarmos esta

associagao? 2) Voce gostaria de fazer parte? 3) Que problemas voce indica- riacomoprionlarios9

Sua resposfa podera ser encaminhada

para qualquer destes professores:

Laudb Camargo Fabretti (FEA), Fran- co Montoro (Direito), Silvia Pimentel (Direito), Eliseu Cintra (Rlosofia), Ana

Maria M. Cintra (Portugues), Maria do Carmo Guedes (Psicologia), Antonb J.

Neto (Ciencias Sociais e Servigo6o- cial), Edgar de Assis Carvalho (Antro- pobgia), Celia C. L. Cursino (Matema- tba e Ftsba), Carmem Junqueira (Pos),

Lucrecia D. Ferrara (Pos), Sergb Luna (Pos), Antonb Joaquim Serverino (Edu-

cagao), Marina C. Bartollo (Ciclo Ba-

sico), Marcos T. Masetto (Ciclo Basi- co), Suzana Medeiros (Servigo Soci- al), Jose Rosemberg (CCBM). (Pode dar sua resposta no verso, mes-

moquesejamanuscrito)."

pessoas e criamos uma diretoria provisoria de uma associagao que entao seria criada. Eu entrei em contato com uma pessoa-chave no momento de criagao, o Alberto AbibAndery, o padre Abib. 0 Abib foi uma pessoa muito impor- tante nessa situagao porque ele sempre esteve ligado ao movimento operario, e atraves do movimento operario, ele tinha uma ligagao grande com sindicatos. Tanto que foi atraves do Abib que nos chega- mos a uma pessoa fundamental durante muito tempo na APROPUC, o Mario Carvalho de Jesus, advogado da Frente Nacional do Trabalho. Ele era tambem uma pega-chave, primeiro porque era uma pessoa adoravel, encantadora, fantastica, era uma pessoa 'briguenta', batalhadora, que nao tinha medo, enfrentava as situagoes mas ao mesmo tempo tinha ponderagao de um advogado. Foi uma figura fundamental. Aprendi muito com o Mario, tivemos longas discussoesdecomo conduzir certo as coisas."

A

primeira conquista

dos docentes

Uma da primeiras lutas da APROPUC foi cobrar na Justiga os salaries atrasados devidos pela PUC. Mas nao podia ser uma agao coletiva e sim com procuragao individual. "Tinha que dar procuragao para o Mario, para que ele pudesse resolvero problema. Nos eramos cerca de 500 professores na epoca e

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Socios fundadores da APROPUC

Sergio Vasconcellos Luna

Walmir da Silva Gomes

Aloisio Krohling

Sandra M. C. Alves

Betti Raquel Lerner

Lidia Rosenberg Aratangy

AlcirLenhado

Maria Cecilia de Souza e Silva

Regina Maria G. P. Lopes

Antonio Carlos C. Ronca

Evaldo Sintoni

Dilvo Peruzzo

Dirceu de Mello

Jose Aladino Battaglia

Ana Claudia Mei Alves de

Oliveira Thompson

Maria de Lourdes Ferreira

Dorothea Voegeli

Teresinha Bernardo Schettini

Edson Passetti

Dr. Casemiro dos Reis Filho

Jose J. Queiroz

Dagmar Domingos Del Nero

Lucia Helena Rangel

Silvia Carlos Pimentel

Ceres de Carvalho Medina

Jose Alberto Castelo

Ana Maria Leandro

Maria Rosa Duarte de Oliveira

Samira Chalub Jorge Rosa

Giselda Oliveira Bellini

Raquel Raichelis

Eunice G. Vieira

Roberto Armando R. deAguiar

Francisco Moreno Correa

Vera Lucia Giffoni

Maria Lucia de Almeida Melo

Vera Lucia Valsecetti de Almeida

Wanda Rosa Borges

Erson Martins de Oliveira

Vera Lucia Vieira

Maria Elci Spaccaquerche

Maria Luisa Guedes

Celia Maria C. Gongalves

Maria da Graga Marchina

Alipio Marcio Dias Casali

Gilsonde LimaGardfalo

Cleide Martins Canhadas

Eneas Martins Canhadas

Oswaldo Hajime Yamamoto

Maria Estela Aoki Cerri

Maria Eliza Mazzilli Pereira

Celia Maria Miraldo Idoeta

Sergio Ozella

Carlos Arthur R. do Nascimento

Cleide Rita S. A, Melchert

Fernando Jose de Almeida

Nilza Tescarollo

Marcos Antonio Lorieri

Marcos Tarciso Masetto

Sonia Barbosa Camargo Igliori

Alberto Abib Andery

Tereza Maria de Azevedo P. Serio

Sidnea Tojer

Fdtima Regina Fires de Assis

Adilson Antonio P. de Moraes

Edna Maria Severino Peters

Marli Corrales Henriques

Maria Celina Teixeira Vieira

Ezio Okamura

Odette de Godoy Pinheiro

Josildeth Gomes Consorte

Maria Tereza Aina Sadek

Luiz Alfredo K. Galvao

Paulo Edgar Almeida Rezende

Maria de Lourdes Bara Zanotto

Silvia T. M. Lane

Eliana Hojai Gouveia

Luiz Eduardo W. Wanderley

Maria Stella Pereira

Antonio Jordao Netto

Carolina P. da Rocha Cezar

Sylvia Aranha Ribeiro

Joao Edenio Reis Valle

Carmen S. Junqueira B. Lima

Helena Pignatari Werner

Nicola Centrone

Sandra Berdini da Costa

Herminio A. Malques Porto

Euclides Marchi

Neusa Maria M. de Gusmao

Maria Alice Travaglia Sestini

Jose Rosemberg

eu desencadeei esse processo todo. Mostramos a importancia de se fazer aquilo e conseguimos exatamente 101 propostas. Interessante que na epoca, algumas respostas que as pessoas me davam eram: 'Nao, temos uma Reitoria em que eu confio'. (da dona Nadir, de quern eu gostava demais). Mas nos tinhamos uma situa^o concreta dos professores. Muitas pessoas alegaram que nao seria justo acionar juridicamente a universidade, porque a frente dela estava uma pessoa que todo mundo respeitava. As 101 pessoas entraram na Justi9a. Resultado: sai'mos com o dinheiro no bolso, vivo, nao era

cheque. Cada urn safa com o dinheiro que a universidade Ihe devia, no bolso. No dia seguinte, ninguem foi preso, torturado, entao houve uma avalanche de pessoas que agora queriam entrar na Associa^ao." A primeira reuniao teve imcio com a discussao do problema da sede para a APROPUC. 0 segundo item discutido referia-se a recepgao de calouros. Porque os alunos solicitavam a participagao da APROPUC numa reuniao preparatoriade recepyao aos calouros. 0 terceiro item dizia respeito ao registro da Associate. Era precise arrecadar fundos atraves de uma campanha junto aos

socios-fundadores. Nasegunda reuniao foram decididos os proble- mas que cabiam a Associagao resolver, tais como: convenio medico, apura^ao de responsabilidade quanto a situa^ao financeira da PUC-SP, fontes de financiamentos para a pesquisa, inlegratjao universidade/comunidade, papel do professor na reforma universitaria, equipara^ao salarial, numero de alunos em sala de aula, hora-aula por contrato, e a posterior divisao de trabalho entre os conselheiros. A primeira diretoria foi eleita por voto secreto no dia 27 de dezembro.

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C > I* yv I-t yV ^

/

A

Ouvindo quem

construiu a entidade

Professores opinam sobre vdrios aspectos

da PUC e da Associagdo

PUCviva Revista gostaria de ouvir todos os professores que participaram direta e indiretamente da historia da APROPUC. Mas as limita^oes de tempo e espa^o na revista impediram o nosso objetivo. A seguir, apresentamos uma smtese da t

conversa que tivemos com alguns professores.

Combate

as consciencias

acomodadas

"Hoje, quando comemoramos 20 anos, o desejo maior e de crescermos enquanto associa^ao, no sentido de incorporarmos as nossas discuss5es os problemas de uma polftica academica cada vez mais voltada para a emancipa^ao da nossa sociedade. E necessario que os proprios professores, junto com os outros setores da universidade, se engajem nesta discussao para garantir o avango de nossas lutas e veneer a resistencia de consciencias acomodadas."

Professora Maria Angelica Barges, Deparlamenlo de Economia.

A APROPUC

transcende o

corporativismo

"A APROPUC, da qual sou socio- fundador, esteve sempre a frente em nossa vida universitaria de uma forma que transcende o corporativismo. E uma instancia de polftica intema que faz parte de nossa historia. Uma luta intema de

professores, alunos e funcionarios, autenticos responsaveis pelo lugar de destaque que a PUC ocupa hoje, no contexto universitario brasileiro."

Professor Paulo Edgar de Almeida Rezende. Deparlamenlo de Politico.

Socializapao do

conhecimento e

da cultura

"A APROPUC representa uma trincheira pela democratizagao da sociedade, pela possibilidade de uma qualidade de vida e ensino melhor, por uma socializagao do conhecimento da cultura e por uma sociedade maisjusta."

Professor Nicola Centrone. Faculdade de Psicologia.

Verdadeira

pedagogia

polftica

"Nao ha como desconhecer, na historia recente da PUC, a verdadeira pedagogia polftica que nossa Associagao desempenhou, nao so nas lutas por objetivos internes, mas tambem na participagao de frentes de lutas de interesse de toda a sociedade brasileira. Eu aprendi muito, no sentido de vivencia da cidadania e das mediagoes para a construgao de espagos sociais democraticos."

Professor Antonio Joaquim Severino, ex-PUC, Faculdade de Educaqdo da USP.

Preservar a

identidade de

classe " A APROPUC marcou presenga em momentos que a categoria precisou dela enquanto representagao. Colocou-se a frente de campanhas salariais, na defesa dos direitos dos professores. E nos momentos de conflito buscou manter a consciencia da categoria sobre a necessidade de se preservar a identidade de classe. Esta consciencia e que nos conduziu a termos firmeza e brigarmos por mudangas e pela manutengao das conquistas ja obtidas."

Professora Walkyria Maria Monte Mor, Departamento de Ingles.

Elemento

aglutinador e

organizativo

"A entidade surgiu num momento politico muito importante de luta na sociedade brasileira pela redemocratizagao. A APROPUC teve urn papel fundamental enquanto espago de articulagao dessa luta mais geral com o processo de redemocratizagao da propria universidade. Foi urn elemento aglutinador e organizativo dos segmentos mais avangados da universidade. Nao so dos docentes como tambem dos estudantes e dos funcionarios."

Professora Raquel Raichelis, Faculdade de Serviqo Social.

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Fator de

uniao dos

professores

'Teve um desempenho fantastico, primeiro porque foi a primeira Associai^ao de docentes. E teve excelentes diretores que sempre conseguiram unir a classe dos professores nos movimentos da universidade. Foi uma das grandes inova^oes da PUC e nao me arrependo de ter participado."

Professora Vanda Rosa Borges. Faculdade de Pedagogia.

Voltar as

energias para

outras areas

"E preciso tentar redefinir seus rumos. Se no momento nao se fazem presentes as grandes reivindica96es salariais, e preciso que se voltem as energias para outras reivindicagoes de igual importancia e que foram deixadas de lado. Com isso, fazer com que os interesses dos professores se voltem tambem para outras areas."

Professor Celso A. Pacheco Fiorillo. Faculdade de Direito.

A APROPUC

melhorou a

qualidade de

ensino

"Minha memoria me diz que naquele tempo eu lutava contra uma Reitoria para ter uma PUC melhor. Hoje, talvez possa dizer que luto juntamente com a Reitoria, sem que isso queira dizer que concordo com tudo que fa9am e pensem. Contudo, o dialogo e possfvel. A APROPUC tern responsabilidade muito grande pela melhor qualidade que tern a PUC hoje."

Professora Ana Merces Bahia Bock, Faculdade de Psicologia.

Manutenqao

do clima

democratico

"A APROPUC tern um papel fundamental na manuten9ao desse clima democratico. Sem ela e a Associa9ao dos funcionarios, eu ponhoem duvida

se essa situa9ao democratica existiria hoje na PUC."

Professor Alcides Ribeiro Soares, Departamento de Economia.

Posi9ao sensata

frente a estrutura

academica

"A Associa9ao dos Professores da PUC sempre teve uma posi9ao sensata em rela9ao a estrutura academica. Nao cabe a Associa9ao ocupar o espa90 da estrutura academica. Essa discussao a gente faz dentro da entidade desde que ela foi furtdada."

Professora Lucia Helena Rangel. Departamento de Antropologia.

Conquistas

politicas

importantes

"A APROPUC se diferencia em rela9ao a outras entidades docentes porque ao lado da reivindica9ao economica tern a reivindica9ao poh'tica. Porque se nos nao tivessemos uma APROPUC atuante, reivindicatoria, certamente nos estariamos no mesmo estagio de outras universidades."

Professor Luiz Carlos de Campos, Departamento de Fi'sica da PUC.

A entidade

construiu uma

historia

"A APROPUC foi fundada em oposi9ao a Reitoria num movimento de reivindica9ao salarial. A entidade construiu uma historia. Nos grandes momentos de crise a APROPUC teve a participa9ao de reerguer a universidade como um todo. Todas as discussoes que valeram a pena como contrato de trabalho, salario edemocracia foram colocadas pela APROPUC."

Professora Tereza Maria de Azevedo Serio (Teia), Faculdade de Psicologia.

As decisoes

passam pela

APROPUC

"A entidade dos professores conseguiu moldar a universidade. Se nao fosse essa entidade a universidade talvez fosse diferente. A questao da autonomia,

PUCVIVA REVISTA PAGiNA 33

da paridade, da elei9ao para os orgaos colegiados da universidade e para a dire9ao sempre congou na APROPUC. Se nao tivesse sido a Associaao dos Professores esses anos todos, a universidade continuaria sendo muito do que era."

Professora Maria Amdlia Abib Andery, Faculdade de Psicologia.

Ainda muito o

que contribuir para

universidade

"Hoje, a PUC-SP tern uma condi9ao academica muito melhor do que possui'a ha alguns anos atras. Grande parte disso foi resultado das lutas levadas pela APROPUC. As vezes sozinha, as vezes isolada, as vezes criticada, as vezes em cheque com instancias academicas, as vezes com um trabalho em conjunto. Nesse sentido, a entidade ainda tern muito o que contribuir para a universidade e para a sociedade brasileira."

Professor Lticio Fldvio Rodrigues de Almeida. Departamento de Poh'tica

Integragao com

a instituipao

desdeo comedo

"Esses 20 anos de APROPUC, mas principalmente os anos iniciais de suas atividades, ofereceram a oportunidade de uma grande integra9ao com a PUC de forma ampla e profunda. Esse momento da entidade aproximou as pessoas das varias areas que antes se ligavam apenas pelo aspecto academico. Guardo lembran9as muito gostosas da epoca."

Professor Pedro Paulo Teixeira Manus. Faculdade de Direito.

Parabens,

pelos 20 anos,

APROPUC

"A historia do movimento docente de nossa universidade se construiu e vem se reconstruindo em nossa APROPUC, protagonista do movimento docente brasileiro. Parabens pelos 20 anos!"

Professora Maridngela Belfiore Wanderley. Diretora da Faculdade de Serviqo Social

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cz: O N <_> 1_J I S T s

w -a m Associa^ao 'dos Professores da PUC tem uma

historia incomum no campo das conquistas trabalhistas. Em varias oportunidades, os professores da PUC foram pioneiros na obten^'ao de direitos que so mais tarde seriam incorporados a Constitui^ao ou ao rol das conquistas de outras entidades. Mas tais vitorias nao foram frutos do acaso, refletindo, antes de mais nada, o grau de mobiliza^ao dos professores da PUC em diferentes epocas de sua existencia.

i econhecimento da Entidade

A APROPUC possui uma historia que a credencia como pioneira em inumeras conquistas trabalhistas: em todos os seus acordos intemos celebrados a Associaijao dos Professores tem o reconhecimento legal da Reitoria da PUC/SP em fun^ao de seu carater de legitima representante dos professores, inclusive sobre os aspectos atinentes ao contrato de trabalho. Essa posifao garante que firmemos acordos muitas vezes superiores aqueles firmados entre o restante da categoria e os sindicatos patronais. A propria 00930 de acordo intemo constitui-se num avan9o pois, na maioria das vezes, os acordos tambem sao celebrados entre outras instancias sindicais de carater mais geral (sindicatos, federe96es etc). Nos nossos acordos intemos, os pontos fechados representam, em

Acordos internos

para garantir

e defender direitos

boa parte das ocasioes, urn ponto de partida que pode ser melhorado, tendo em vista as condi96es especificas do universe puquiano.

G

arantia de estabilidade

Entre as conquistas mais expressivas, poderiamos destacar a estabilidade no emprego. Hoje, pelo nosso Acordo Intemo, a PUC so pode demitir urn professor no im'cio do ano letivo, 0 que diferencia-nos da maioria das escolas de ensino superior e principalmente com rela9ao aos profissionais de outros setores de atividade, hoje em dia, constantemente ameagados pelo fantasma do desemprego. Esta situa9ao, por outro lado, da condi96es para que 0 professor possa trabalhar academicamente num clima mais tranquilo em todo 0 seu ano letivo. Em 1982, antes mesmo de que tal direito fosse incorporado a Constitui9ao conseguimos a licen9a-patemidade, garantindo ao

professor-pai 0 direito de ausentar-se 9 dias, quando do nascimento de seu filho. Durante a gestao do professor Luiz Eduardo Wanderley, depois de longa polemica, conseguimos incorporar aos nossos salarios 0 valor referente ao descanso semanal remuneradoequivalente a 1/6 sobre cinco semanas letivas, quando na maioria das escolas ainda se pagava 1/6 sobre quatro semanas e meia. Tambem nossas ferias, diferentemente de outras institui96es de ensino, estao asseguradas na base de 45 dias (trinta dias no final do segundo semestree 15 dias no primeiro semestre). Todas essas conquistas tem servido, ao longo dos anos, como parametros para outras entidades sindicais avan9arem suas lutas por condi96es de trabalho mais dignas para os seus docentes.

A cordo Interno

Porem, dada a precariedade com que, em termos de garantias trabalhistas, vivem os docentes

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A". v

Na mobillzapao da categoria a garantia de melhores condlpoes de trabalho

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brasileiros, varias destas conquistas tem que ser reafirmadas a cada novo acordo intemo. Varias vezes, de acordo com os humores da crise financeira da PUC, somos ameagados com a perda de algumas de nossas mais caras conquistas. Foi o que aconteceu em 1993, quando nosso acordo intemo em vigor foi denunciado pela Reitoria. Porem, depois de exaustivas

negocia§6es, conseguimos manter os princi'pios basicos que mantmhamos no nosso acordo, avan^ando inclusive em algumas clausulas que ainda nao haviam sido contempladas no acordo denunciado. No ultimo Acordo Intemo, em mar^o deste ano, alem das conquistas dacategoria pelo acordo do SINPRO, a APROPUC

conseguiu estabilidade de 1 ano, garantia de contrato de trabalho, licen^a-qualifica^ao, recebimento do salario segundo titulo logo apos o concurso, gratuidade ilimitada para os professores e seus filhos, estabilidade a tres anos da aposentadoria, complementa9ao salarial em caso de doen^a e auxflio-creche ate os 6 anos de idade.

Licenga Paternidade, uma conquista historica

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A seguir, transcrevemos trechos do

artigo publicado no Porandubas de 18 de mab de 1982, onde o entao presidente da APROPUC, Aloizio Mercadante, dixutiaa /importanc/a

da conquista.

Mais uma vez, apenas voces, mulheres feministas, se manifestaram publicamente a respeito de uma

conquista que beneficia diretamente o homem. Me perguntaria porque,

Talvez porque ha algum tempo a luta

contra o machismo e a vontade de repensar a relagao homem/ mulher

tenha sidobasicamente uma preocupagaofeminina.

Diga-se de passagem, nada mais

justo se considerarmos que a repressao sobre a sexualidade, a marginalizagao no mercado de

trabalho, a remuneragao diferenciada para as mesmas

fungdes, o acumub de tarefas domesticasatingem

essencialmente as mulheres.

E nos, homens? A idenlidade de "ser homem" nos estreitos limites que o

machismo nos impde, nao nos

transforma de opressaes em oprimidos?Tem sido dificil amar

nestes tempos, e impossivel crescer afetivamente na camisa defaga do machismo.

(...) Ser macho e pobre, e triste, e

cinza, Quando nossa imagem de

macho se ve ameagada 6 urn pavortaoincn'velqueso

podemos virar "bbisomem" - meb homem, mebbbho.

Entao, somos capazes de bater, espancar e com uma certa

frequencia atd matar "a mulher

que amamos". Na Torre de Babel da inlelectualidade, os instrumentos de poder e dominagao ja se sofistbaram.

Como nao conseguimos admitir o desejo de nossas companheiras pa outro,

matamos afetivamente, e o desprezo da lugarciviolenciafisica.(...)

Mas este artigo e so para comentar a paternidade. De repente, na PUC conseguimos uma pequena

conquista, mais simbdlba que qualquer

outra coisa. A Ibenga paternidade,

a possibilidade de estarmos, por uma semana partbipando

do nascimento de nossos filhos, ou vivenciando o prazer de adotar uma crianga. Agora temos consagrada essa

garantia em acordo trabalhista.

Em compensagao, a grande mabria dos professores vibraram

ou lamentaram o fato de seus companheirosnao trabalharemnaPUC.Se

esta reivindicagao fosse socializada atraves de urn projeto de lei, modificaria ocompromisso dos homens

com a paternidade? Sera que temos dividido as responsabilidades

da gravidez?Temos dividido de fato a educagao das criangas, alem da responsabilidade de mantolas?

Socialmente tenho certeza que

nao.(...) Masescrevi apenas para comentara Ibenga paternidade, que foi

comemorada pelascompanheiras feministaseparadizertambemquee

uma vitoria nossa, de todos que "jamais chegarao a ser o homem novo, mas que

talvez possam ser o ultimo

dos machos". Aloizio Mercadante, presidente da APROPUC

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E E

f rises fmanceiras

marcaram a historia da PUC e provocaram atrasos e arrochos salariais que resultaram em varios movimentos grevistas dos professores. Pica dificil contar a historia da universidade sem lembrar dos movimentos que resultaram em paralisa96es de ate 66 dias. Mas a APROPUC nao realizou greves por motives apenas salariais. Urn exemplo e a greve contra a interven^ao da Funda^ao Sao Paulo na universidade. 0 professor Celso Fiorillo exemplifica: "Dizer

As paralisagoes

contribufram para a

PUC ficar melhor

que o motive das greves foi so a questao salarial e muito simplista. Para a maioria dos professores foi por salaries, Mas as pessoas que sempre se importaram e se importam com a PUC, tambem percebiam que a greve tinha que ser exercida para que uma politica voltada para o proprio desenvolvimento nao deixasse de existir". Para o professor Liicio Flavio Rodrigues de Almeida, todas as greves possibilitavam a discussao sobre a vida da universidade, envolvendo todos os

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GKSI/t

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seus segmentos. "As greves evitaram que grupos que dirigiram a universidade tivessem promovido demissoes na institui^ao. Isso tern que ser resgatado porque, muitas vezes, passavam a imagem de que as greves contribuiam para minar a universidade. Foi exatamente o contrario." A professora Maria Tereza Serio (Teia), ressalta que "em todas greves que obtivemos ganhos salariais, tivemos urn saldo organizativo positivo".

nindo for9as

Nos anos 80 as assemblOlas de protessores lotaram os auditdrios da PUC

paraaluta

A PUCviva Revista nao pretende apresentar urn quadro exaustivo das inumeras greves, mas apenas destacar algumas delas que consideramos que foram marcantes para o movimento dos professores. A primeira greve conjunta de funcionarios e professores aconteceuem 1985. Foram dez dias de paralisagao. A greve foi decidida em assembleia por 350 votos a favor e nenhum contra. A reivindi- ca9ao era de 114%dereajuste, indice do INPC, e a Reitoria, atraves do vice-reitor administrati- vo, Alipio Casali, congou pro- pondo 68,3%. No final chegou-se a urn indice comum de 83,5%. Esse momento foi crucial para a associa9ao dos professores, na opiniao da professora Zilda "esta greve significou o renascimento da APROPUC em bases novas."

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? nn 75 A APROPUC esteve presente em lodas parallsapdes da categoria

Um detalhe curioso: o professor Luiz Eduardo Wanderley, segundo reitor eleito pelo voto direto, tomou posse em plena greve. Em abril de 1986 vigorava o arrocho da "Nova Republica", existia um rebaixamento salarial de 27%. Os professores e funcionarios paralisaram as atividades por 1 dia e continuaram o movimento em assembleia permanente. 0 reitor informou que os bispos que representam as universidades catolicas decidiram-se encontrar, em maio, com o presidente da Republica para cobrar uma posi^ao do govemo sobre os 30% de verbas que o MEC enviaria as catolicas. Na opiniao do reitor caso o govemo se recusasse, varias entidades correriam o risco de entrar em colapso, inclusive a PUC SP. 0 impasse continuou. Jose Rocha Cunha, presidente da Afapuc comentou: "Saimos com a m'tida impressao de que a Reitoria foi cinica. Pois, entendemos que o problema nao e fmanceiro e sim politico. A Reitoria nao quer furar o

pacote do govemo porque ela precisa de suas verbas." E o vice- reitor administrative, Alipio Casali, responde que "nao elevamos o indice acima do oficial porque nao temos recursos."

lem dos salaries

.atrasados

A greve do primeiro semestre de 1989tinhacomo principal reivindica^ao a reposiijao salarial de 62,13%. Estava em vigor o Piano Verao do govemo Samey e o movimento era contra o arrocho salarial. A APROPUC exigia a readmissao de um colega demitido sob alega^ao de falta de aulas. Na pauta de reivindica96es estava a licen^a-matemidade de 120 dias, as 20 horas de pesquisa e o deposito integral do FGTS. Neste mesmo ano, em outubro, a AFAPUC e APROPUC iniciaram a campanha salarial. Assim que tomaram conhecimento do aumento real de salaries concedido as chefias academicas atraves do reajuste das

verbas de representa^ao que foi de 300% alem da inflagao oficial. Depois de oito dias de greve, em 20 de outubro, todos retomaram ao trabalho. Neste mesmo dia foi elaborada uma contra-proposta conjunta pelas duas associa^oes e apresentada a Reitoria em reuniao aberta para negociai^ao. O movimento grevista exigia que nao houvesse puni9ao e que recebessem tambem os dias parados. A Reitoria acatou a proposta de gratifica9ao apenas para o mes de outubro. Ja em 1979, o professor Laurindo Lalo Leal Filho destacava a importancia daquelas campanhas, "A greve representou um saldo positivo em termos de categoria profissional", e continua, "Nossos professores perceberam que tambem fazem parte da universidade e que tern condi96es de conhece-la a fundo, nao medindo esfor90s para isso", e previa naquela epoca que "o professor podera desenvolver daqui para frente um trabalho muito positivo para a PUC".

PUCVIVA REVISTA PAGiNA 37

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1VI C > v I E N T C > 1» U dr I yV

f ▼ ^^ma das paginas mais emocionantes no movimento PUC VIVA foi a luta por uma PUC autonoma, onde toda a comunidade pudesse decidir sens destines. Em 1991, durante a gestao da professora Leila Barbara como reitora da PUC, a Funda^ao Sao Paulo, mantenedora da PUC, resolveu intervir na universidade de uma forma radical. Com o intuito de instaurar urn novo projeto de gestao universitaria, assume como secretario-executivo da Funda^ao o sr. Vicente Benzinelli. Academica- mente Benzinelli pretendia enfrentar a crise financeira implantando um modelo de universidade onde menos cursos (aqueles que apresentassem mais procura e os dotados de excelencia academica) compusessem o rol de op96es da PUC. Para isso, algumas medidas faziam- se necessaria, entre elas, desvincular a area administrativa e financeira dos centres de decisao academica e cominitaria da universidade, fazer com que a Fundafao Sao Paulo tivesse assento permanente no CONSUN e modificar o contrato de trabalho dos profesores fazendo com que aqueles que lecionassem nas chamadas ilhas de excelencia tivessem contratos mais vantajosos, inclusive com dedicate exclusiva e os demais trabalhassem num regime semelhante a hora-aula.

(uplicidade de

poderes

Nao demorou muito tempo para que tal poh'tica criasse uma duplicidade de poderes entre os interesses da comunidade universitaria e o secretario-executivo da Funda9ao Sao Paulo. A Reitoria viu-se de maos atadas, pois as delibera96es da

A luta pela autonomia

universitaria

comunidade eram sistematicamente vetadas pela Funda9ao. Hesitante entre tomar o partido de professores e funcionarios, a postura da professora Leila Barbara obriga as associa9oes a tomarem o caminho da mobiliza9ao: no dia 24 desetembrode 1992, inicia-se a maior greve da historia da PUC. Reunidos em assembleia convocada pela APROPUC, os professores paralisaram as suas atividades por tempo indeterminado. Como reivindica95es basicas estavam a reposi9ao integral do mdice DIEESE, pagamento dos atrasados relatives ao erro de aplica9ao da polftica salarial, poh'tica de reposi9ao mensal de salarios, compromisso de que nao haveriam mais demissoes na universidade e pagamento das dividas que a Funda9ao Sao Paulo tinha com os professores. Mas, por tras de tudo

isto, estava a intransigencia da Funda9ao Sao Paulo, interessada em implantar seu novo modelo e minar a resistencia das associa95es de professores e funcionarios. A greve recebe a adesao dos funcionarios que tambem decidem paralisar as suas atividades no dia 9 de outubro Junto com professores eles tambem reivindicavam indices mais compati'veis para os seus reajustes salariais. Por outro lado as assembleias de professores vinham apresentando presen9a cada vez maior de participantes. Eles haviam recusado algumas propostas que consideravam irrisorias, no dia 8 de outubro, diante da passividade da Reitoria e da intransigencia da Funda9ao, a assembleia convocada pela APROPUC resolveu radicalizaro movimento, aprofundando suas formas de luta.

PERSEU ABRAMO Cri*. coMiradkiu

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Reprodupao do jornal PUCVIVA, que foi o precursor do atual semanarlo rebtUk. qutm . Um « causa T •

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Somente a mobilizagao garante

a autonomia

O ano de 1992 era o ultimo ano de mandato da professora Leila Barbara e, emjunho, haviam sido efetuadas elei96es gerais na PUC onde, entre quatro chapas concorrentes, saiu-se vencedor o professor Joel Martins, que viria a falecer no ano seguinte, ficando em sen lugar o vice-reitor academico Antonio Carlos Ronca, atual reitor da universidade. Diante dos impasses que se apresentavam nas negocia^oes, uma das altemativas foi envolver a Reitoria eleita na discussao do processo. Esta porem alegando o principio de nao interfererencia na gestao da profes- sora Leila, disse a presidente da APROPUC, professora Madalena Peixoto, que acompanharia os fatos porem nao intervindo enquanto Reitoria eleita. A assembleia da APROPUC, no dia 14 de outubro, reivindicava que a nova Reitoria fosse empossada imediatamente, pois a permanencia da equipe da professora Leila representava um serio obstaculo para a solu^ao do impasse.

Fundagao radicaliza

No dia 23 de outubro, a Fundagao Sao Paulo tambem resolve radicalizar e envia uma carta onde institui uma Comissao que deveria realizar um levantamento e estudo do quadro docente da PUC. Na realidade, tal ato constituia-se na instala^ao de uma auditoria academica, estranha a comunidade que deveria julgar os professores com parametros espurios (como qualificavam as associa^oes). No dia 13 de novembro, uma passeata com professores, funcionarios e estudantes sai da PUC e vai ate a Curia Metropolitana, em Higienopolis, onde nao foram recebidos pelo cardeal, mas deixa- ram claro seus protestos contra a intervemjao da Funda9ao. A crise agravava-se quando, em novembro, somente parte do salario era creditado nas contas dos professores. Anuncios classificados eram encontrados nos principais jomais de Sao Paulo denunciando a crise: "Universidade de boa qualidade procura Mantenedora responsavel - S.O.S. PUC", dizia

Floje vivemos um clima de aparente

calma, com a secretaria-executiva da Fundagao Sao Paulo e a vice-reitaia

administrativa sendo acumuladas

peb professor Adhemar de Caroli. As ques- toes mais polemcas no ambito

financeirosaoaparentemente equacbnadas sem mabres Iraumas para a comunidade. Porem, esta

siluapaod provisdria, e ninguem garante que, de um momento para outro, volte a acontecer a duplbidade

de poderes que marcou a gestao Leila

Barbara. Tal perspectiva surge com mais intensidade num

momento em que vislumbra-se a substituipao de dom Paulo, ao

um classificado da Folha de Sao Paulo de 23 de novembro. Simbolicamente a comunidade realizava o enterro do sr. Vicente Benzinelli e da Funda9ao Sao Paulo.

Fim da greve, imcio

do movimento

No dia 23 de novembro, os funcionarios voltaram as atividades, que seriam retomadas pelos professores somente no dia 31 de novembro, apds 66 dias de paralisa9ao (a maior da historia da PUC), depois da assinatura, por parte da nova Reitoria, de um documento que previa que o pagamento de professores e funcionarios seria feito conforme os valores firmados pela Reitoria anterior em acordo com as associa96es. Uma das aspira96es principais do movimento nao aconteceu de imediato, mas depois de algum tempo, o entao secretario-executivo da Funda9ao Sao Paulo, Vicente Benzinelli, desgastado pelos protestos da comunidade, seria substituido, sendo seu cargo ocupado pelo vice-reitor administrative, que agora acumularia as duas fudges. Leda Rodrigues, dffetora da APROPUC, afirmava ao mural TODOD1 A, "Esta foi uma greve que congou com a reivindica9ao de perdas salariais e acabou desembocando em

que tudo indica, por um bispo de tendencia mais conservadora. Para Madalena Peixoto, presidente da

APROPUC," so podemos ter uma verdadeira autonomia universitdria na

medida em que a composigao e a propria contiguragao da Fundagao Sao

Paub se modifiquem, numa gestao onde Reitoria e comunidade possam

de fato gerir a universidade." A exempb do movimento PUC VIVA

somenteacomunidadecfganizada conseguiaL/narealautonomia

universitaria, onde possamos deliberar efettvamentesobreacondugao

academbae comunitaria da PUC-SP', lembraaprotessora.

problemas fundamentals da PUC. Discutimos o papel da Reitoria em sua instancia de representatividade e autonomia da universidade, na medida em que a Funda9ao tenta intervir a todo momento no academico e administrativo, quando seu papel e o de manter financeiramente a PUC". 0 grande saldo do movimento, porem, foi o salto de consciencia obtido pela comunidade. Em novembro, em plena greve, reallzou-se em frente ao TUCA um ato reunindo setores representatives da comunidade. Esse ato convocaria uma manifesta9ao ainda maior, para o dia 7 de dezembro, decidindo tambem o lan9amento de um numero especial de um jomal, em formato tabloide, que divulgaria o nome e os ideais do movimento que agitou a universidade durante todo o segundo semestrede 1992: PUCViva. A manifesta9ao do dia 7 dezembro lotaria o TUCA, nao so com a comunidade puquiana mas com setores representatives da sociedade civil, e lan9aria as bases para que, em agosto de 1993 o movimento tivesse uma continuidade efetiva com um jomal semanal (iniciativa da APROPUC e AFAPUC), o mural PUCviva, que cotidianamente tenta resgatar a determina9ao da comunidade em manter sua independencia e dignidade.

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Um pouco alem

das reivindicagoes

sindicais

ao e so com atividade sindical e politica que se faz a APROPUC. Ela tambem possui uma serie de outros servi90s que estao a disposi^ao de seus associados o ano todo. Eles funcionam, basicamente, atraves da contribuiijao mensal dos professores associados. Na sala P-70 do predio velho a Associaijao mantem dois funcionarios permanentes, alem de contar com computador e servi90s de fax, que sao franqueados as atividades academicas dos professores.Tambem na sede da APROPUC podem ser encontradas revistas de informa9ao e especializadas, que estao adisposi9ao dos interessados. La ainda poderao ser pesquisados documentos historicos, tanto da associa9ao como da propria APROPUC e do movimento sindical em geral.

! epartamento de

imprensa

O setor de imprensa da associa9ao sempre esteve ativo. Nos anos iniciais era publicado, mensalmente, o pmal APROPUC Debate, que procurava discutir os problemas fundamentais dos professores da PUC-SP, sob uma otica critica. A partir de agosto 1993, surge oPUCvivfl, mural de seis paginas, editado em conjunto com a Associa9ao dos Funcionarios Administrativos da PUC (AFAPUC), destinado a discutir os problemas que afetam mais diretamente professores e funcionarios. 0 PUCviva nasceu logo apos a mais longa greve da universidade, que exigia o fim da interven9ao autoritaria da Funda9ao Sao Paulo na PUC. Buscava-se, naquele momento, preservar a autonomia universitaria, amea9ada pelas

investidas do entao secretario executivo da ESP, Vicente Benzinelli.Com um enfoque comunitario, o jomal era inicialmente afixado nos principais pontos de circula9ao dos tres campus. Mas a grande reper- cussao do periodico fez com que sua circula9ao fosse ampliada e uma edi9ao manual, em formato menor, hoje circula pela universidade. Nestes tres anos, o PUCviva vem acompanhando semanalmente tudo aquilo que de mais importante acontece com os nossos professores e funcionarios nas suas lutas por melhores condi96es de trabalho e pesquisa. Hoje, a equipe do PUCviva e composta por cinco profissionais da area de jomalismo e artes graficas que, alem do jomal semanal, tambem prestam servi90s para outras entidades sindicais com as quais

j^PRO

PUC

0 novo logotlpo, parte inlegrante da retormulapao do visual da entldade

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Vuora I'KV

— Alguns exemplares do lornal mural PUC viva, quo ha Ires anos 8 editado pela APROPUC E AFAPUC

a APROPUC mantem rela^oes. Alem disso, nos momentos mais criticos da vida universitaria, a entidade mantem o boletim APROPUC Informa que, contando com a agilidade peculiar de um boletim, consegue atingir rapidamente os professores.

Apoiojundico aos professores

A APROPUC tambem mantem um servi9o de assistencia juridica a seus associados. 0 dr. Flavio Segolin ha mais de 10 anos vem prestando assistencia juridico-trabalhista para os professores associados, sindicalizados ou nao. Essa assesssoria se da tanto na parte consultiva como nas questoes litigiosas (contenciosas). Segundo o dr. Flavio, a maioria das consultas feitas pelos

professores refere-se a problemas com contratos de trabalho, mas o departamento juridico tern encaminhado, ao longo destes anos, varias pendencias judiciaisentrea Funda^ao Sao Paulo e os professores da casa. Alem disso, o departamento juridico asssessora os profesores nos processes coletivos, acordos intemos e litigios coletivos. So para dar um exemplo, o recente acordo entre professores e Fundagao Sao Paulo com referencia ao pagamento atrasado do 1/3 de ferias foi alvo de uma intensa negocia^ao entre os advogados de ambas as paries, resultando no pagamento final de uma parcela razoavel do debito que auniversidade tinha para com varies de seus professores.

Outros servigos da

Associagao

A pedido de professores, aAPROPUC tern facilitado a existencia de alguns services que ela ate entao nao realizava.Com o intuito de ampliar os beneficios para os associados, juntamente com a DRH da PUC APROPUC mantem ainda alguns convenios, como o de seguro de automoveis, onde o professor, associado ou nao podera segurar o seu veiculo com pre^os reduzidos. A extensao de services e promo^oes como esta depende porem de uma alteragao estatutaria ja encaminhada pela atual dire^ao. Mas todos estes services dependem das verbas dacontribuifao mensal dos professores. Dai a importancia da filia^ao a APROPUC, pois so assim podemos manter a entidade viva e combativa.

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Uma entidade com

a cara da

democracia

^^^^^^iderando a participa^ao da APROPUC em todos os eventos relatives a universidade, e impossivel apresentar, no rigor dos detalhes, urn quadro complete destes 20 anos de sua atuagao. Por isso, nos detivemos em alguns acontecimentos que marcaram mais profundamente a comunidade puquiana. No que se refere a atua^ao politica, na luta pela democratiza^ao da universidade e da sociedade, ja foram citados a a^ao contra a repressao da ditadura, a luta pela anistia, a campanha das diretas, a Constituinte, o impeachment do presidente em 92, alem da parlicipa^ao na reorganiza^ao sindical. Mas a

participaQao democratica da Associa^ao se revelou contundente em mementos particularmente dolorosos para a PUC. Na invasao da PUC em setembro de 77, o incendio criminoso do TUCA sete anos depois, em setembro de 84, as varias tentativas de atentados frustrados contra o patrimonio da universidade, a entidade representativa dos docentes da PUC nao vacilou e agiu firme e rapidamente nas respostas que o momento exigiu. Como foi forte na lideranga do movimento pela preservaQao da autonomia e do estagio de democratiza^ao da universidade, em 1992,reagindo contra a intervengao da Funda(;ao Sao Paulo.

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DO

1980

Pionerismo nas

diretas

A professora Nadir Kfouri foi nomeada reitora da PUC em 1976. A sua reeleipao em agosto de 1980 foi marcada pela primeira elei^ao direta e paritaria de urn reitor de universidade. Cumprindo urn compromisso assumido com o CONSUN, d. Paulo, grao-chanceler da Fundafao Sao Paulo, envio uma carta a comunidade puquiana propondo oficialmente o pleito direto. Este foi urn dos momentos mais importantes e mais bonitos da luta pela democracia na PUC. A universidade saia na frente, dando o

A solldariedade da APROPUC presenle no Incendio do TUCA

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I ENCONTRO DOS 4 PROFESSORES

DA POC

■APROPUC

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exemplo e exigindo eleigoes em todos os niveis, de reitor a presidente. Vale lembrarque viviamos em tempos de elei^oes indiretas realizadas em instancias executivas e parlamentares atreladas a ditadura militar. A APROPUC, que exigia mais esse passo na democracia puquiana, decidiu seu apoio ao processo numa assembleia. A partir de entao, os sucessivos reitores foram eleitos por voto direto e paritario de professores, alunos e funcionarios. Se a eleigao de Luiz Eduardo W. Wanderley foi tranqiiila e democratica, vencendo a concorrente Lucrecia D'Alessio Ferrara, a elei^ao de Leila Barbara, em 1988, foi bastante questionada pela Associa^ao. As normas eleitorais daquele ano estabeleciam que deveria haver uma previa eleitoral para a escolha dos candidates a Reitoria. Foram escolhidos tres candidates numa eleigao bastante tumultuada e esvaziada. A APROPUC e as outras entidades representativas da comunidade propuseram a abstengao ao pleito como protesto contra o processo antidemocratico. 0 resultado foi que a professora Leila Barbara concorreu sozinha sendo eleita com poucos votos da comunidade.

1982:

A luta por novos estatutos

Em 1982, no segundo semestre, a PUC viveu intense debate em tomo da formulafao dos novos estatutos da universidade. Foi formada a Comissao Estatuinte composta por 53 integrantes, sendo 26 docentes e 15 estudantes, representando as faculdades, o Ciclo Basico, o Pos e os institutes; e mais 11 funcionarios e um representante da Reitoria. A APROPUC contribuiu mais uma vez lutando para que os principios democraticos fossem preservados no que se refere a participa^ao dos professores e de toda a comunidade. A democracia puquiana trombou com a existencia dos estatutos da Funda^ao Sao Paulo, e nos lembramos novamente que a PUC e uma institui^ao da Igreja.

Nao fosse a intervem^ao da APROPUC, os estatutos seriam discutidos apenas nas esferas oficiais da PUC e nao haveria proposigao de mudangas significativas, sem a participaijao ativa da comunidade. A dire^ao da Associa9ao, os professores militantes do movimento docente da universidade e o Ciclo Basico propuseram que a discussao dos estatutos fossem realizadas com representantes dos funcionarios, alunos e professores eleitos democraticamente em todos os setores. E assim foi feito. A comunidade puquiana se mobilizou em tomo das discussoes dos estatutos elegendo delegados e apresentando 15 projetos diferentes de mudan^as. Depois de alguns meses de debates, a Comissao Estatuinte aprovou uma proposta que foi encaminhada ao CONSLTN. Posteriormente, os novos estatutos foram submetidos a Fundagao Sao Paulo. Esta nao concordou com as principals mudangas realizadas nos estatutos, entre elas, as elei95es diretas para reitor e cargos de dire^ao e a paridade da representaijao nos conselhos superiores. Logo, os novos estatutos nao foram encaminhados para o Ministerio da Educa^ao e Cultura para serem oficializados. 0 resultado desse impasse foi que,

Capa da revlsla dos Anais do I Encontro dos Professores da PUC

de fato, os novos estatutos discutidos em 1982 nao foram colocados em pratica oficialmente, prevalecendo uma confusa fase de acomodaijao de poeira. Afinal, conviviam os estatutos antigos, os novos e a pratica de fato das instancias da universidade, grande parte delas na diregao das mudanpas propostas pela comunidade. 0 papel da APROPUC nesse processo foi o de defender a democracia, incentivando os professores a participarem e exigirem que toda a comunidade se envolvesse. Nenhuma entidade representativa dos segmentos, professores, alunos e funcionarios, participaou formalmente, mas todas tiveram papel fundamental para que prevalecesse os principios democraticos praticados na universidade. Alguns professores acrescentam mais elementos a questao da democracia puquiana. 0 professor Lucio Flavio Rodrigues de Almeida, por exemplo, e bastante contundente em sua avalia^ao sobre aquele momento da PUC. "Mais uma vez a PUC parodiou a politica brasileira. A estatuinte foi uma caricatura da politica brasileira por um lado e por outro lado ela expressou um avanijo da luta pela democratiza^ao que se espraiava pela sociedade brasileira e que tinha na PUC um ponto de referencia.

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Na discussao dos estatutos se falava muito em Constituinte, entao na PUC foi criada uma estatuinte. Esses estatutos foram feitos de uma maneira totalmente informal apesar de toda a solenidade com que os procedimentos foram conduzidos e da seriedade inclusive com que boa parte dos que participaram desse processo trabalharam na expectativa de que a Fundagao Sao Paulo concordasse com o que seria decidido ali. Ora, ja esta claro entao que a soberania nao era da estatuinte. Ou a Constituinte e soberana ou nao e. A luta pelos novos estatutos foi uma luta inovadora mas foi muito marcada por essas indefinigoes e imprecisoes que caracterizam a politica brasileira. A PUC e assim tambem, ela tern esta caracteristica. Agora isso nao pode levar a gente a ignorar as limita^oes destas lutas, ate para que se lute melhor."

1984

Encontro dos

Professores da PUC

No mesmo ano da renovagao da Reitoria, os professores da PUC realizaram urn evento memoravel, organizado pela APROPUC. Foi o primeiro Encontro dos Professores da PUC, realizado nos dias 11,12 e 13 de maio de 1984, onde os docentes discutiram sob todos os aspectos, o Projeto Educacional da PUC. 0 Tuquinha ficou lotado. Na plenaria final do encontro, foi aprovado urn documento com cinco pontos representando o resultado dos tres dias de debates. 0 comparecimento, a representatividade e o apoio recebidos dos principals instituiijoes e entidades educacionais foi bastante significativo. Estavam presentes a Andes, a UNE, o reitor da USP, Dalmo de Abreu Dallari, o DIEESE, entre outras. A Reforma Universitaria foi analisada e criticada em uma das principals palestras do primeiro dia do evento pelo professor Demerval Saviani. Com o teatro lotado e os participantes esgotados depois de muitas boras de debate, no momento de iniciar a sua palestra, o professor

Luiz Eduardo Wanderley (que no segundo semestre foi eleito Reitor) comandou uma sessao de relaxamento e sensibilizagao, fazendo com que os participantes proferissem palavras-de-ordem, para espantar o cansato.

Socio-fundador honorario

Uma das personalidades que participou e deixou a sua contribuigao ao primeiro Encontro dos Professores foi Paulo Freire. Na ocasiao, a APROPUC prestou-lhe uma homenagem entregando ao educador a carteirinha de socio- fundador honorario da entidade representativa dos docentes da PUC. Como resultado final das discussoes realizadas durante o encontro, foi elaborado um documento no qual foram destacados cinco pontos que representaram a sintese das questoes debatidas. Foram estes os itens resumidos: carreira do magisterio, politica de conlralagao,

• salaries e sindicato, estrutura administrativa e politica financeira.

1987

Beco sem saida para o

ensino publico e gratuito

O cenario da PUC nestes anos dificeis era de uma intermitente crise financeira e administrativa. Greves dos professores e funcionarios por salaries, boicotes dos estudantes ao pagamento das altas mensalidades e o ensino sendo prejudicado pela perda de importantes intelectuais e docentes que buscavam outras universidades para desenvolver o seu trabalho. A comunidade exigia uma solupao para a crise. Intensos debates se desenvolveram em tomo da situayao e do carater da universidade e as solugoes para resolver a questao de forma imediata. A proposta do plebiscite surgiu no contexto deste debate. A APROPUC teve papel fundamental na garantia do desenvolvimento democratico do processo. Mais uma vez. 0 plebiscite foi realizado em tomo de duas propostas. Uma defendia a publicizaQao/fundagao mista. Outra defendia a estadualiza^ao da universidade. A votagao foi

realizada nos dias 9,10 e 11 de junho de 1987. A proposta de estadualizaijao venceu com 63% dos votos contra 32% para a proposta da fundagao mista. A estadualiza^ao venceu em todos os segmentos. Somente a Derdic e o campus da Marques de Paranagua votaram em sua maioria pela funda^ao mista. A discussao da estadualiza9ao da PUC-SP nao foi unilateral. Ao mesmo tempo, ela foi discutida na Unesp e aprovada em seu Conselho Universitario. Ate com o govemador a questao foi discutida. Mas a rea^ao da Igreja e da Fundagao Sao Paulo, na pessoa do cardeal e grao-chanceler, d. Paulo Evaristo Ams, foi bastante contundente e definitiva. Reafirmou o carater particular da institui^ao, a conditjao de catolica e pontificia. "Nao admitimos nem mesmo a hipotese de espolia9ao da PUC pelo Estado", foi uma afirmagao do cardeal amplamente divulgada na PUC. Esta declara^ao oficial da Igreja levou o presidente da Comissao de Estadualizaijao, o reitor Luiz Eduardo Wanderley, a abandonar o processo posterior ao plebiscite que era de negociar a estatizagao da PUC. A APROPUC, atraves de sua diretoria respondeu em defesa do ensino publico e gratuito, repudiando a posi9ao da Igreja. A professora Maria Luisa Santos Ribeiro, em um texto ainda inedito (A fase atual da luta pelo ensino publico e gratuito numa escola particular - a PUC/SP, pdgina 12) analisando aquele movimento, comenta esta frase lapidar de d. Paulo e pergunta: "Nao soa falso esse ataque ao Estado, quando vem de uma institui9ao que no Brasil esteve unida constitucionalmente a ele ate o periodo republicano e que depois disso tern feito constantes esfor9os no sentido de que as vantagens dessa uniao continuem existindo atraves de outros mecanismos?" Depois desta fase, frustrante por sinal, a APROPUC passou a exigir da mantenedora respostas mais objetivas para os problemas financeiros da universidade e intensificando a vigilancia pela autonomia universitaria.0 movimento PUCViva foi um desses momentos.

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Alguns momentos marcantes na vida da APROPUC: as assembleias

lotadas, as negociapdes abertas com a Reitoria, o protesto contra os

deputados omissos na votapao das diretas e a inwasao do campus por

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PUCviva Revista 6 uma publicagao da APROPUC Associagao dos Professores da PUC-SP

DIRETORIA

Madalena Guasco Peixoto

Maria da Graqa Gonqalves

Leda Maria Oliveira Rodrigues

Sandra Gagliardi Sanchez

Sueli Giao Pacheco do Amaral

Antonio Rago Filho

Priscilu\ Cornalbas

Walkyria Maria Monte Mor

Alda Luisa Carlini

EQUIPE DA REVISTA

Editor

Aldo Escobar

Projeto Grafico e Paginagao Eletronica

Antonio Delfino e Valdir Mengardo

Reportagem e Pesquisa

Rita feital e Virginia Florenzano

Produgao

Amarildo A.Vieira

Agradecemos o material cedicjp pela

Assessoria de Comunicagao Institucional e Hemeroteca da PUC

Para a confegao desta revista foram utilizados os jomais:

Porandubas, TODODIA, PUCviva, arquivos da APROPUC

e depoimentos de professores e funcionarios da PUC-SP

Foto de capa: Samuel S. Chaves

APROPUC - Associagao dos Professores da PUC-SP -

Rua Monte Alegre, 984, sala P-70 - Telefone: 872-2685 - Sao Paulo

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PRO PUC

ASSOCIAQAO DOS PROFESSORES DA PUC