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7/26/2019 Na Escola de Nazaré: Tornando Sagrada a Minha Família - Frei Bruno Varriano
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Table of Contents
ApresentaçãoIntroduçãoTudo tem início em Nazaré
A cidade de Nazaré na GalileiaAs r uínas do povoado de NazaréA Gruta da AnunciaçãoA casa de São José, casa da Sagrada Família de NazaréA sinagoga de NazaréO monte do preci pícioSantuár io de Santa Maria do Tremor
azaré, escola do Evangelho
O silêncioAnunciação, escola das relaçõesVida or dinária, escola de cotidianidade
Nazaré, escola de humanidadeEscola do trabalho
azaré, pedras amadas e vivasOs franciscanos em NazaréO Beato Charles de Foucauld em NazaréUma família de NazaréViver Nazaré
A Sagrada Família, dom e projeto de SalvaçãoA participação da Família de Nazaré na história da RedençãoO matrimônio de Maria e José de NazaréMaria e José, “dom” um para o outroO dom “esponsal” de Maria e José: a realização do serviço a Cristo e à Sua Igreja
Sagrada Família de Nazaré, inspiração da Igreja domésticaSão José, uma paternidade “desafiadora”Maria, uma maternidade eclesialJesus, Maria e José, ícone do amor Trinitário
Sagrada Família, modelo de todas as vocações
Um discernimento decisivo entre “celibato pelo Reino e Matrimônio”O amor esponsal na vida celibatária pelo Reino dos Céus e na virgindadeVocação ao matrimônio
Verdade e beleza da famíliaO anúncio do Evangelho da famíliaMatrimônio e família na BíbliaAbertura ao dom da vida
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O desafio da educação dos filhosO papel dos avós na educação dos netos
Prospectivas para uma Pastoral Familiar no exemplo da Sagrada FamíliaOrientar os nubentes (noivos) ao caminho do matrimônioPassos do percurso de preparação
Acompanhamento nos primeiros anos de matrimônioMelhorar a comunicação em famíliaPreparação dos presbíteros para a Pastoral Familiar
Misericórdia para com as famílias feridas e frágeisAtenção àqueles que vivem no matrimônio civil ou em convivênciaSeparados, divorciados não recasadosDivorciados recasadosMatrimônios mistos
Repartir de Nazaré...Os mistérios da vida de Jesus em Nazaré
Referências bibliográficas
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À “mamma” Lucia in Varriano (In Memoriam).“Mulher de silêncio, de ternura, de escondidos gestos de caridade, me ensinaste a
amar Jesus, Maria e José na tua simples vida de fé na cotidianidade...”
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E
Apresentação
sta apresentação, que tenho a alegria de escrever para o livro de frei Bruno
Varriano, contribui para consolidar os laços fraternos que unem o nosso prezadoirmão franciscano e a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.Paulista de nascimento, mas vivendo há mais de vinte anos na Terra Santa, frei
Bruno foi o pregador de um Retiro para vinte sacerdotes de nossa Arquidiocese, quevisitaram Israel em outubro de 2014. Foram dias de comunhão fraterna que marcaramaqueles padres e que deixaram em frei Bruno o sentimento de estar “muito ligado àArquidiocese do Rio”, como ele mesmo afirmou.
A proposta deste livro tem dois aspectos interessantes. Primeiramente, a pertinênciado tema, na perspectiva de uma das mais urgentes preocupações da Igreja, que é a
família. Tanto que frei Bruno não se esquece de destacar o Sínodo sobre a Família2014/2015, convocado pelo Papa Francisco.
O livro acrescenta a contribuição do autor à temática, segundo o enfoque por eleescolhido. Este é o segundo aspecto que desejo destacar: a abordagem original de tomar como guia nesta reflexão o exemplo da Sagrada Família de Nazaré. E o autor pôde fazê-lo com a desenvoltura de quem respira os ares palestinos por mais de duas décadas e é,
portanto, capaz de conduzir o leitor em uma caminhada espiritual, dentro da realidadeconcreta daquela terra onde Jesus, Maria e José viveram.
A partir deste contexto, a reflexão irá se ampliar por outros olhares sobre a Família deazaré, segundo perspectivas de cunho bíblico, teológico, do Magistério e espiritual. Evai avançar, também, para uma reflexão sobre as vocações na Igreja, que mutuamente seexplicam e complementam, como o matrimônio, a vocação sacerdotal e consagrada, ocelibato. Ainda contamos com os alicerces que ele propõe para a Pastoral Familiar.
Evidentemente que esta diversidade de abordagens, dentro de uma obra à qual o próprio autor dá a despojada definição de “opúsculo”, não pretende esgotar o tema.Situa-se no âmbito da experiência, sempre iluminada pelo exemplo da Sagrada Família.Daí haure sua força e profundidade. Frei Bruno, com sabedoria, aplica intrinsecamente
no seu texto a máxima do Beato Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi41, que se tornou definitiva para os nossos dias: “O homem contemporâneo escuta commelhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os mestres, é
porque eles são testemunhas.”Que melhor testemunha da instituição familiar, sob todos os aspectos e para todos os
tempos, do que a Sagrada Família? Dela recebemos o exemplo do amor misericordiosoque Deus ofereceu à humanidade, em Seu Filho Jesus Cristo, e que frei Bruno descreve
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como lição de acolhimento às famílias feridas e frágeis. E são tantas em nossa sociedade!A Família de Nazaré também nos ensina a viver segundo o Evangelho.
E, “mesmo que não tenhamos soluções para todas as dificuldades que vivem asfamílias hoje”, como reconhece o autor, a poderosa intercessão dela nos acompanharásempre. Esta é a conclusão que frei Bruno irá desenvolver no último capítulo desta obra,
no qual lembra a Oração da Sagrada Família, composta pelo Papa Francisco.Assim como ao ouvi-la pela primeira vez ele foi tocado, concebendo naquele
momento o projeto deste livro, assim também dirijamo-nos sempre à Sagrada Famíliacom fé e confiança de que nossos anseios e necessidades serão acolhidos.
Estes são os meus votos a todos os leitores deste livro, a fim de que concluam esteitinerário com preciosos frutos, fraternalmente guiados por frei Bruno.
Rio de Janeiro, abril de 2015Orani João Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião doRio de Janeiro
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Introdução
os tempos atuais, especialmente por conta da emotividade e de milhares de
pseudossentimentos, torna-se muito difícil falar de família, de matrimônio, de amor esponsal, sem cair em uma retórica ou somente em uma teoria, ou mesmo ainda no pessimismo. Mesmo assim, o desejo em se edificar uma família permanece vivo, emespecial entre os jovens, motivando a Igreja, perita em humanidade e fiel à sua missão, aanunciar incessantemente e com profunda convicção o “Evangelho da família”, que lhefoi confiado mediante a revelação do Amor de Deus em Jesus Cristo e ininterruptamenteensinado pelos Padres, pelos Mestres da espiritualidade e pelo Magistério.
Foi com este espírito que Papa Francisco convocou o Sínodo de 2014/2015 com estetema tão atual e urgente sobre a realidade da família. Esse e outros eventos que estão
marcando a história da Igreja nos últimos tempos coincidiram com a minha transferência para Nazaré, no ano de 2013, em coincidência com o início do pontificado de PapaFrancisco; e deixando Jerusalém, me encontrei a custodiar o Lugar Santo da Encarnaçãoe da Sagrada Família.
Foi na solenidade da Sagrada Família deste mesmo ano que fiz a comoventeexperiência de presenciar aqui, no Santuário da Sagrada Família, a solene liturgia na qualfoi pronunciada pela primeira vez a oração pela família composta por Papa Francisco, efoi naquele momento que nasceu o projeto deste opúsculo, que tem como objetivo colher
os pontos nodais sobre o matrimônio e a família, tendo sempre como guia e exemplo aSagrada Família de Nazaré, na experiência bíblica, no Magistério da Igreja, na convicção,guias e modelos para a realidade da família hoje.
Porém, mesmo sem diminuir o valor do ideal evangélico, é preciso acompanhar, commisericórdia e paciência, as possíveis etapas de crescimento das pessoas, que seconstroem dia após dia. Esta é a espiritualidade da “Escola do Evangelho de Nazaré”,lugar de compreensão e amor, modelo para todas as vocações, seja religiosa, celibatáriaou presbiteral, seja para a vida familiar. A Sagrada Família de Nazaré é espelho de“conciliação e de amor”, no qual se torna possível para todos viver uma autêntica
comunhão com Deus, a partir da qual flui a comunhão entre as pessoas.Partindo da “Escola de Nazaré”, este livro, se assim quisermos chamá-lo, porque ele
para mim é um instrumento de mediação e diálogo, tem também a meta de apresentar avisão unitária vocacional, partindo da experiência da Família de Nazaré; e como o
primeiro casal criado por Deus (Adão e Eva), feitos à imagem e semelhança Dele, caíramno limite da desobediência, o mistério da Encarnação, no evento do Verbo que se fazCarne e que encontra em Maria e José a própria realidade familiar anunciada pelos
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profetas, é realmente ícone exemplar para a família, para todos os homens e mulhereschamados a reconhecer no “Filho da Virgem de Nazaré” a sua humanidade redimida esalva.
Em concreto, a nossa proposta se articula em quatro partes, no total dez capítulos.Uma das características encontradas em todos os capítulos do livro é uma oração
conclusiva, na qual o irmão e a irmã, companheiros neste itinerário e aprendizado deazaré, são convidados(as) a rezar, a se deixarem conduzir pelo Espírito Santo, e através
do nosso “sim”, como aquele da Virgem Maria e de São José, o mistério da Encarnação pode continuar na nossa vida e o Evangelho pode ser propagado em todos os confins daTerra.
A primeira parte, cujo primeiro capítulo é intitulado Tudo tem início em Nazaré, quer apresentar Nazaré com a sua geografia, a sua história, o seu perfume, o seu clima,convidando o(a) leitor(a) a fazer uma peregrinação espiritual e, a partir desta, a percorrer
um caminho interior, guiado(a) pela escola do “Evangelho de Nazaré”, na sua realidadeconcreta, cotidiana e ordinária da vida.
A segunda parte tem como objetivo apresentar, a nível bíblico, teológico, magisteriale espiritual, a Sagrada Família de Nazaré e mostrar como os seus membros se tornaramexemplo para todas as vocações, seja para o matrimônio, seja para o celibato, na própriarelação com Cristo e no serviço a Ele. Neste fundamento se constrói a Igreja comoexperiência de acolhida e da caridade de Deus em Cristo. Nestes concretos fundamentosse constroem o matrimônio e a família, segundo o modelo da “Sagrada Família” de
azaré, exemplo de recíproca responsabilidade, na ética do amor, do serviço e da
fecundidade da família, presentando a maternidade de Maria como um caminho emodelo para a Igreja. Nesta parte uma atenção especial é dada à figura de São José e àsua participação e cooperação ativa no mistério da Salvação, como modelo para toda
paternidade biológica e espiritual. Na terceira parte, depois da meditação da beleza e da verdade do Evangelho do
matrimônio, iremos refletir e colocar os alicerces para a construção de uma “PastoralFamiliar”. Por esta razão, estes capítulos desejam ser um estímulo para a realização de
percursos que acompanhem a pessoa e o casal, de tal modo que a comunicação dos
conteúdos da fé, fundada em uma experiência de vida, seja oferecida para que toda acomunidade eclesial se torne a base, o terreno (húmus) da própria experiência familiar.Gostaria ainda nesta parte de encorajar a preparação dos presbíteros para a PastoralFamiliar, pois quando fundada na estima recíproca de solicitude entre casais e
presbíteros, podemos afirmar que a pastoral está desenvolvendo a sua tarefa de ser referência para a inteira comunidade.
Na quarta parte, quero propor-lhe, caro(a) irmão(ã), a reflexão evangélica da
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contemplação da humanidade, mesmo se esta é ou foi ferida na sua história. Por isso,estes capítulos refletem a necessidade de usarmos misericórdia para com as famíliasferidas e frágeis. É necessário acolher as pessoas com a sua existência concreta, saber fomentar a sua busca, encorajar o seu desejo de Deus e a sua vontade de se sentir
plenamente parte da Igreja, até mesmo quando esses experimentaram a falência ou
viveram as situações mais diferentes. Essa meditação, que é a medula (centro) damensagem cristã, contém sempre em si mesma a realidade e a dinâmica da misericórdia eda verdade, que convergem em Cristo, que se encarnou aqui, em Nazaré, para encontrar o homem na sua história, na sua realidade.
E a reflexão se conclui com o último capítulo, intitulado Repartir de Nazaré, no qual,iluminados pela Sagrada Família, podemos recuperar o gosto da vida ordinária, asimplicidade das pequenas coisas, redescobrindo os valores da cotidianidade. Por isso,retornando e repartindo de Nazaré, mesmo que não tenhamos soluções para todas as
dificuldades que vivem as famílias hoje, podemos afirmar que na “oração” da SagradaFamília, no silêncio e na vida escondida, na experiência humana e no operar do “FilhoJesus”, aqui, entre as paredes do lugar onde viveu a Sagrada Família, emana a mensagemda Boa Nova do Evangelho, que é a própria vida doada, e apesar de todas asdificuldades, quero repetir as palavras do anjo, pronunciadas à Virgem Maria, aqui, a
poucos metros de onde escrevo: “Para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Que a VirgemMaria de Nazaré e São José, seu fiel esposo, guiem as nossas comunidades noacompanhamento das jovens gerações na descoberta e na acolhida da vocação.
Fr. Bruno Varriano, OFM
Nazaré, 25 de março de 2015Solenidade da Anunciação do Senhor
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F
Tudo tem início em Nazaré
ora de qualquer previsão, intenção ou projeto, esta criatura que quero chamar de
“livro” já passa pelo calor das minhas mãos, aqui, a poucos metros da Gruta daAnunciação, onde o Verbo se fez carne, e da casa de José, onde viveu a Sagrada Família.Este lugar, em que vivo não por mérito, mas por graça, na sua simplicidade e santidadeenquadra-se em um mosaico dos tempos que estamos vivendo e da realidade vivida pelaIgreja.
Desde o início de seu pontificado, o “bispo de Roma”, como se apresentou PapaFrancisco no sagrado da Basílica de São Pedro, demonstrou uma personalidade dehomem de Deus, que viveu, vive e deseja continuar vivendo na simplicidade, em umcotidiano estruturado em cordiais contatos humanos, no qual a afetuosidade paterna
prevalece sobre a autoridade. Um Papa que se entretém com as crianças, que abraça os pequenos, os simples, os doentes. Que com suas mãos ternas, seus gestos, seu olhar misericordioso, nos faz senti-lo tão perto, tão junto. Que supera as barreiras físicas domesmo modo que o Deus da Encarnação, o Emanuel, o Deus conosco. Que, com suahumanidade, alegria, misericórdia e consolação, chama a Igreja e todos os cristãos a seconscientizarem da necessidade de uma nova evangelização, sintetizada por ele em um
pronunciamento feito no dia 5 de maio de 2013 aos fiéis, na Praça de São Pedro: “Todocristão e toda comunidade é missionária na medida em que vive o Evangelho, no
testemunho do Amor de Deus para com todos, especialmente para com aqueles emdificuldade. Sejam missionários da misericórdia de Deus, que sempre nos perdoa, esperae ama.”
Esta ênfase sobre a misericórdia suscitou um impacto relevante também sobre asquestões relacionadas ao matrimônio e à família. Longe de qualquer moralismo, o Papaconfirma e alarga horizontes na vida cristã, independentemente dos limites que podemosexperimentar e dos pecados que tivermos cometido.
A misericórdia de Deus se abre à conversão contínua e ao renascimento permanente.Por isso, em concordância com o Espírito Santo, que em Nazaré concebeu, por Sua obra
e graça, o Filho de Deus no seio da Virgem Maria e que hoje visita, guia e aviva a Igreja,o Papa Francisco convocou o Sínodo de 2014/2015 com temas referentes à família, naqual os valores de uma relação concreta e cotidiana se tornam ícones.
Convocando o Sínodo, ele nos encoraja a sempre olharmos para o próprio futurocom esperança, inserindo nas famílias um estilo de vida que conserva e prospera o amor através de atitudes, como pedir licença, agradecer e pedir perdão, jamais deixando que osol se ponha sobre uma desavença ou incompreensão, sem que se tenha a humildade de
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pedir desculpas um ao outro.Junto a todas essas maravilhas de Deus, que sempre nos surpreendem em meio a
tantas perguntas inquietantes sobre a nossa existência, e às quais a obediência à minhavida religiosa me conduzia, eis que recebo o chamado do meu superior canônico,comunicando a minha transferência para Nazaré, no próprio ano de 2013, justamente no
início do pontificado do Papa Francisco e próximo à convocação do Sínodo com o tema:“Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.
Assim, já são passados quase vinte anos na Terra Santa, dois deles vividos aqui emazaré, nos passos Daquele que é o caminho, a verdade e a vida. Lugar onde Jesus
cresceu na Sua humanidade, no ser Filho, e onde conviveu com Sua família, fazendo-secaminho para todos; caminho por Ele percorrido para chegar a Sua plena maturidade (cf.Ef 4,13).
Na primeira parte deste opúsculo, quero transmitir a você, que caminha comigo nesta
leitura, a perspectiva que me foi dada por viver na espiritualidade de Nazaré. Apresento-lhes sua geografia, sua história, seu clima, e convido você a percorrer os passos de tantosoutros irmãos e irmãs, como o Beato Paulo VI, São João Paulo II, Papa Bento XVI ePapa Francisco, mandando como seu representante Sua Eminência o cardeal LorenzoBaldisseri, em dezembro de 2013, solenidade da Sagrada Família, que, atraídos pelo
perfume vindo do Evangelho, vieram a Nazaré conduzidos pelo Espírito Santo.Todos eles nos rememoram: tudo tem início a partir de Nazaré.
Oração à Sagrada Família
(Composta por Papa Francisco e pronunciada pela primeira vez em Nazaré, em umatransmissão ao vivo, na Praça de São Pedro, em Roma.)
Jesus, Maria e José, em Vós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor, aVós, com confiança, nos dirigimos.
Sagrada Família de Nazaré, tornai também as nossas famílias lugares decomunhão e cenáculos de oração, escolas autênticas do Evangelho e pequenas Igrejas domésticas.
Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais se faça, nas famílias, experiênciade violência, egoísmo e divisão: quem ficou ferido ou escandalizado depressaconheça consolação e cura.
Sagrada Família de Nazaré, que o próximo Sínodo dos Bispos possa despertar,em todos, a consciência do caráter sagrado e inviolável da família, a suabeleza no projeto de Deus.
Jesus, Maria e José, escutai , atendei a nossa súplica.
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cidade de Nazaré na Galileia Nos papiros gregos de Zenon – séc. II a.C.–, o nome Galileia é uma adaptação do
termo hebraico “galil”, que significa distrito. Na Bíblia, ela é citada como “Galileia dasnações” (Mt 4,15), “terra da Galileia” (1Rs 9,11), ou simplesmente “Galileia” (Js 20,7).
Flávio José, grande historiador da revolta judaica do século primeiro, foi o pioneiro afazer a distinção entre a baixa e a alta Galileia, terminologia usada ainda hoje e aceita
pelos geógrafos modernos, que sustentam que as diferenças de altura, clima e vegetaçãoustificam os nomes.
A alta Galileia localiza-se a mais de 1000 m acima do nível do mar, o que faz comque, de fato, possua um clima mais frio; enquanto a baixa Galileia está localizada a poucomais de 600 m.
Para melhor conhecermos o lugar santo da Encarnação e o lugar histórico onde viveua Sagrada Família de Nazaré, a nossa atenção estará voltada para a baixa Galileia. Nelaencontraremos, ao sul, a planície de Esdrelon e o “Lago da Galileia”, onde está situada acidade de Cafarnaum, para onde Jesus se transferiu, quando deixou Nazaré, vindohabitar por três anos na casa de São Pedro. Das colinas que compõem o belíssimocampo de Esdrelon, contemplamos o Monte Tabor (573 m), o Jabel Jahi (515 m) e oesplêndido Monte Carmelo (546 m).
Na época greco-romana, a Galileia fora disputada por duas cidades: Seforis eTiberíades. Seforis está situada a poucos quilômetros de Nazaré, possui muitos recursos,e certamente foi a cidade onde Jesus trabalhou com São José. Provavelmente, também
foi o lugar onde Ele aprendeu o grego e o latim, o que explicaria sua interlocução comPilatos sem a mediação de um tradutor (cf. Mt 27,11-15).
Quando Alexandre, o Grande, conquistou a Palestina, em 332 a.C., a língua grega foiimposta como língua do governo e, consequentemente, do comércio e da cultura. É
provável que, no tempo de Jesus, os judeus providos de uma boa educação tenhamaprendido e usado esta língua, ou, pelo menos, tenham tido um conhecimento básicodela por transitarem entre as cidade helenistas, como Seforis, especialmente aqueles declasses mais altas e que trabalhavam com o comércio ou o governo.
Depois desta breve menção da região da Galileia, podemos finalmente situar a cidadede Nazaré, um pequeno povoado que, quando apareceu pela primeira vez nas páginas doEvangelho, tinha não mais do que 450 habitantes no tempo de Jesus. Um aspecto muitointeressante, caro(a) amigo(a), nesta viagem para conhecer a Sagrada Família de Nazaré,é que os estudos das fontes literárias nos levam a situá-la em uma montanha, como
podemos verificar no Evangelho de São Lucas 4,29, o que nos induz a acreditar que foisempre habitada, desde o primeiro século até os dias de hoje, mesmo que não tenha sido
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mencionada no Antigo Testamento.A raiz da palavra NZR, em que é composto o nome Nazaré, se traduz com a
etimologia “Flor”. Realmente, dessa flor da Galileia surgiu Maria, na sua beleza, e José,da família de Davi, na sua justiça. Mesmo que tenha sido totalmente ignorado no AntigoTestamento, o povoado de Nazaré é de grande importância para quem vive no mundo
ocidental e cristão. A famosa frase de Natanael, discípulo de Jesus, originário de Caná, émuito significativa: “De Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1,46).
Os estudos arqueológicos das escavações comprovam que Nazaré era habitada desde2000 a.C. Estas escavações foram conduzidas pelos arqueólogos franciscanos daCustódia da Terra Santa, frei Benedetto Vlaminck e frei Prospero Viaud, de 1890 a1910, e continuadas por frei Bellarmino Bagatti, de 1955 a 1970.
Foi emocionante quando, ainda jovem estudante, visitei pela primeira vez, no museufranciscano, fragmentos do povoado de Nazaré. De fato, eles são o grande tesouro das
escavações, com suas grutas e ainda com alguns fornos muito bem conservados,compostos de restos de cerâmica e grafites do período judeu-cristão.
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s ruínas do povoado de NazaréAs escavações conduzidas por frei Bellarmino Bagatti trouxeram os restos de um
povoado agrícola da idade do Ferro II (900-600 a.C.), que gradualmente fora seestruturando ao redor de Nazaré.
Nesta época, as casas, escavadas no calcário, eram muito simples, habitadas por pessoas simples, trabalhadores do povo. Por meio destas escavações, podemos confirmar o caráter agrícola deste povoado, demonstrado através da existência de poços e demuitos silos, de até 2 m de profundidade, que eram engenhosamente dispostos um sobreo outro, em várias camadas, e ligados por túneis, facilitando assim o armazenamento demercadorias e a aeração de grãos. Junto com os silos, também foram encontradascisternas, que coletavam água da chuva, e prensas para óleo e uvas, principalmente paraóleo de oliveiras.
A venerada Gruta da Anunciação, evidentemente, pertencia a um destes complexos,e em algum momento também desenvolvera uma área produtiva. As grutas escavadas narocha, inclusive a da Anunciação, foram quartos subterrâneos dos sobrados. A estasalturas me pergunto se o leitor já terá se cansado destas notícias, mas insisto que aespiritualidade que surge deste lugar sagrado, e que se torna uma espiritualidade bíblica, éuma realidade encarnada na história, no tempo e no espaço.
Neste lugar, entre as pessoas simples e trabalhadoras, Deus se encarnou na históriada humanidade com a cooperação de Maria e José. Não é apenas o texto evangélico, oestudo da arqueologia ou a história que nos indaga neste lugar de santidade, mas também
a fé vivida e a memória litúrgica celebrada pelos primeiros cristãos que aqui viveram evisitaram, os quais eram marianos e amavam Maria e São José
São muitos os testemunhos que aqui encontramos, porém, gostaria de presenteá-locom um, que eu amo chamar de “pérola” das escavações: a descoberta de uma colunarepleta de grafites e, em um deles, a exclamação em grego “Ave-Maria” ( Xaire Maria), amais antiga atestação arqueológica com uma invocação à Virgem Maria de Nazaré, quese tornou a oração mariana mais comum entre os cristãos.
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Gruta da Anunciação No lugar onde hoje está situada a Basílica da Anunciação, obra do arquiteto italiano
Giovanni Muzio, consagrada na primavera de 1969 e construída até os anos cinquenta,ficava a modesta Igreja dos Franciscanos de 1730, edificada para venerar a Gruta da
Anunciação, a casa da Virgem Maria, o lugar santo da Encarnação. Ainda hoje é possívelver o que restou da rocha natural, que formava a casa juntamente com as partes emalvenaria, reconstruída em pedras brancas.
A Gruta da Anunciação tornou-se a memória do HIC , expressão do latim quesignifica aqui, o local exato onde ocorreram os fatos evangélicos: aqui a Virgem Mariaouviu as palavras da Anunciação; aqui pronunciou o fiat (Faça-se), o seu sim, quemudou a história da humanidade; aqui o Verbo se fez carne; aqui a pureza e a virgindadeuniram-se com a maternidade, mantendo-se intactas.
O anjo Gabriel veio a Nazaré, na Galileia, onde “não surgiu nenhum profeta” (cf. Jo7,52). Deus escolhe o que não tem aparência, o que é humilde e desprezado peloshomens para a realização do Seu projeto. A lei da encarnação é esta, encontrar o homeme a mulher na sua realidade, na sua condição. Escrevendo estas linhas, fiz uma pequena
pausa e desci até a gruta, onde elevei ao Deus da Encarnação uma oração por você, paraque você sinta Nazaré, visitada, amada, encontrada, e que a sua cotidianidade encontreaqui significado e plenitude.
Não posso concluir o que falamos da Gruta da Anunciação sem apresentar-lhe otesouro da história e também da arqueologia: a Fonte da Virgem Maria, a não mais do
que 800 m da gruta. É o início da anunciação da Boa Nova, feita por São Thiago, umapócrifo do século III que relacionou o episódio da Fonte da Virgem com a Gruta daAnunciação: “Um dia Maria pegou a jarra e saiu para tirar água; e eis que ouviu uma vozdizendo: ‘Ave, Cheia de Graça! O Senhor é convosco, bendita és tu entre as mulheres’.Ela olhou em volta, para a esquerda e para a direita, de onde vinha aquela voz, ecomeçando a tremer, voltou para casa, colocou a jarra no seu lugar, sentou no seu
banquinho e lá tecia. Eis que um anjo do Senhor apareceu na frente dela...”.Quero esclarecer para o leitor que os textos apócrifos, como este de Thiago, podem
ser lidos como conteúdo espiritual, mesmo não estando entre os Evangelhos canônicos.Eu, de modo particular, gosto muito deste texto, visito e, com gosto, levo os peregrinosaté a Fonte da Virgem, onde hoje está construída uma Igreja Ortodoxa dedicada a SãoGabriel. Emociono-me muito ao escutar o barulho da água neste lugar santo. É o mesmoruído daqueles dias em que Maria vinha buscar a água, já que o barulho não muda com otempo.
Contemplar a atitude de Maria, que ao ouvir a voz do anjo começou a tremer e
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voltou para casa, leva-nos a refletir sobre sua realidade humana, no ter medo e no querer fugir. Mas o anjo a segue e realiza o início do projeto da salvação. Podemos chamar decooperação ativa, pessoal, livre e responsável de Maria na obra da salvação, como afirmao Concílio Vaticano II ( Lumen Gentium, 56), o qual diz que ela contribuiu, consentiu ecooperou com a misericórdia Divina e na restauração da graça. Os santos Padres veem
Maria não apenas passivamente nas mãos de Deus, mas como aquela que cooperou paraa salvação dos homens através da sua fé, livre e obediente. Pois, como diz Santo Irineu,“sendo obediente, se tornou a causa de salvação para toda a raça humana” ( Adv. haer .3,22,4).
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casa de São José, casa da Sagradaamília de Nazaré
Atravessando o pátio do convento franciscano, adentramos na Igreja de São José,reconstruída no estilo de basílica em 1911, em cima dos fundamentos da igreja medieval.
Lá é possível fazer uma visita muito interessante à cripta que testemunha o antigo cultocristão celebrado dentro da casa de São José, onde já no século VI havia sido construídauma igreja em cima das ruínas da habitação do século I.
Esta igreja era composta por uma gruta e uma pia batismal judaico-cristã comsímbolos litúrgicos e teológicos. Possuía sete degraus, que é o número emblemático da
perfeição e dos dons do Espírito Santo. Segundo Isaías 11,2, o canal que simboliza o rioJordão e uma pedra enquadrada no mosaico, segundo a alusão de 1Cor 10,3, refere-se à
pedra que é o Cristo. Através da atual iluminação elétrica, é possível ainda ver a cisterna,
os silos, evocando as originais estruturas do povoado de Nazaré, ligados à veneração dacasa de São José já nos primeiros séculos do cristianismo.Gostaria ainda de ressaltar a igreja do século VI que recebeu o nome de Igreja da
utrição, título que nos chama muito a atenção porque confirma, de forma Cristológica,a Igreja nascente, onde São José nutriu o filho de Deus não somente com o alimentofísico, mas como um pai que vai trabalhar e cuida da sua família e de seus filhos,educando-os, como afirma o evangelista Lucas: “E Jesus ia crescendo em sabedoria,tamanho e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52).
O Papa Francisco, na Audiência Geral no dia de São José, no ano de 2014, nos
apresenta José como o pai “putativo” (pai jurídico) de Jesus, como um modelo deeducador:
José, juntamente com Maria, cuidou de Jesus, antes de tudo, porque o nutriram, preocupando-se para
que não faltasse o necessário para o seu desenvolvimento saudável. Não nos esqueçamos de que cuidar
da criança, Jesus, o levou também à fuga para o Egito, onde passaram uma dura experiência de viverem
como refugiados. José era um refugiado, com Maria e Jesus, fugindo da ameaça de Herodes. Mas,
voltando à casa, estabeleceram-se em Nazaré, onde por um longo período viveram com Jesus.
Naqueles anos José ensinou a Jesus suas profissões, e Jesus tornou-se carpinteiro e artesão como seu
pai. Vamos passar para a segunda dimensão da educação e da sabedoria. José foi exemplo de sabedoria
alimentada pela Palavra de Deus. Podemos pensar em como José ensinou o pequeno Jesus a ouvir as
Sagradas Escrituras, especialmente o acompanhando aos sábados na sinagoga de Nazaré. José ia com
Ele até, finalmente, a dimensão da graça. São Lucas referindo-se a Jesus diz: “A graça de Deus estava
sobre ele” (Lc 2,40). Aqui, claramente, o espaço reservado para São José é mais limitado do que as
áreas da idade e da sabedoria. Mas seria um grave erro pensar que um pai e uma mãe não podem fazer
nada para educar seus filhos e fazê-los crescer na graça de Deus, bem como na idade e na sabedoria.
São José é o modelo do educador e de todos os pais. Então, confiamos à sua proteção para com todos
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os pais, sacerdotes que também são pais e todos aqueles que têm um papel educativo na Igreja e na
sociedade (cf. Papa Francisco, Audiência Geral, 19 mar. 2014).
Assim, caro(a) amigo(a), convido você a entrar na graça deste lugar santo da casa deJosé, que é a casa da Sagrada Família, onde Jesus viveu por trinta anos com José e
Maria. É a graça da cotidianidade, da perseverança matrimonial e da fidelidade, da qualSão José é o modelo. Hoje, os frades franciscanos da Custódia da Terra Santa cuidamcom muita dedicação da casa de São José, auxiliados pelas irmãs da ImaculadaConceição de Ivrea, uma congregação de irmãs italianas presente no Santuário daAnunciação e da Sagrada Família desde 1965.
Com a chegada da comunidade católica Canção Nova a Nazaré, iniciando acooperação com a Custódia Franciscana da Terra Santa, a casa da Sagrada Família setornou o cenário, todas as semanas, do programa “Em casa com a Sagrada Família”,transmitido pela TV Canção Nova, internacional e do Brasil, fazendo chegar, assim, a
tantas famílias do mundo a espiritualidade da Sagrada Família de Nazaré.
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sinagoga de NazaréEm árabe, a sinagoga de Nazaré significa “Escola do Messias”. É um edifício
cruzado, uma construção do período das cruzadas, no qual se ambienta o discurso deJesus a Seu povo, conforme está escrito no Evangelho de Lucas 4,16-30. Hoje, ao seu
lado, está construída uma igreja greco-católica do ano de 1882. Esta sala ocuparia,segundo a tradição, a antiga sinagoga de Nazaré, a sinagoga frequentada por Jesus, ondeum dia Ele tomou a palavra, leu e comentou o versículo do profeta Isaías.
Foi então a Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, foi à sinagoga e
levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, encontrou o lugar
onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova
aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para
dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano aceito da parte do Senhor”. Depois, fechou o livro,
entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele. Então,
começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,16-
21).
Além das poucas certezas arqueológicas, e da pouca certeza histórica do lugar, mechama a atenção esta passagem bíblica. O sermão de Jesus focava em dissipar as ilusõesudaicas de que o Reino de Deus era um privilégio exclusivo de Israel, o que fez com que
muitos ouvintes ficassem descontentes, se revoltando contra Jesus e até mesmocolocando a Sua vida em perigo.
O que certamente nos provoca perplexidade é que muitos desses eram da família de
Jesus, sendo Nazaré um povoado de poucos habitantes. Parentes, amigos, pessoas deíntima convivência esperavam os Seus milagres, já que a fama de Jesus tinha seespalhado por toda a região. E o fato de Ele não aceitar a manipulação, a pressão dos
parentes, fez com que se tornasse o maior dos inimigos. Dinâmica bem familiar paraquem vive em cidade pequena. Isso fez com que Jesus pronunciasse as tristes e reais
palavras: “Nenhum profeta é aceito na sua própria pátria” (cf. Lc 4,24).São terríveis os sentimentos que emergem deste episódio! Os habitantes de Nazaré,
parentes e conhecidos, passaram da euforia e curiosidade para a raiva, até chegarem ao
desprezo e ao ódio. Aqui, Jesus, com a Sagrada Família, é ícone da justiça e modelo dedesapego em não buscar os próprios interesses, tornando-se o exemplo para a sociedade.a sinagoga de Nazaré, Jesus foi violentamente rejeitado, destino de todo profeta que
anuncia a Palavra de Deus.A família cristã, discípula de Cristo, deve estar pronta para sofrer todos os impulsos
contra a verdade, e quando se rejeita a verdade, nos deparamos com as mais profundasmisérias do coração e da mente humana. Mas gostaria de terminar este breve parêntese
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da sinagoga de Nazaré com uma imagem positiva. Neste santo lugar, Jesus cresceu noconhecimento da Palavra acompanhado por José, Seu pai, na silenciosa presença deMaria. Com a Sagrada Família de Nazaré, a Verdade foi acolhida, foi acolhido o Amor deJesus, naqueles silenciosos e cotidianos sábados na sinagoga de Nazaré, conforme afirmao evangelista Lucas 4,16.
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O monte do precipícioDepois do que aconteceu na sinagoga, os habitantes de Nazaré, indignados pelas
palavras pronunciadas por Jesus, O arrastaram para fora da cidade, para o topo do monteonde ela estava construída, para jogá-Lo do precipício (cf. Lc 4,28-29). Esta terrível
cena, segundo a tradição, aconteceu no monte Giabal al-Qafze, um monte significativoda planície de Esdrelon, onde foram edificados um oratório e um pequeno monastério,cujos restos são possíveis de serem observados graças às escavações do arqueólogo
franciscano padre Bellarmino Bagatti, OFM1.
Neste lugar do precipício, onde Jesus sofreu essa violência e incompreensões, anossa escola de Nazaré, com nosso mestre Jesus, nos ensina que a grandeza do Amor deDeus, Seu Pai celestial, O leva a abnegar de tudo, confiando-se a Ele, de quem recebe onome toda paternidade no Céu e na terra (Ef 3,14-15).
Segundo o Evangelho de São Lucas, após este lamentoso episódio, Jesus setransferiu para a casa de Pedro, em Cafarnaum, indo santificar outra família com a Suasanta presença e transformando, assim, a casa do apóstolo Pedro em uma segunda“Sagrada Família”, na qual o discípulo do primado O conheceu e se deixou conhecer.
Que nosso coração e nossa existência continuem a ser a morada do conhecimento deJesus e da escola do Evangelho.
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Santuário de Santa Maria do Tremor Entrando em Nazaré, por uma pequena estrada à direita, subimos ao Santuário
Franciscano de Santa Maria do Tremor, ao lado do atual mosteiro das irmãs Clarissas,onde recordamos o tremor da Virgem.
A tradição narra que a Virgem, ao escutar o tumulto das pessoas que arrastavam oseu Filho para jogá-Lo do precipício, saiu aterrorizada de sua casa e correu, seguindo-Oaté a colina, vendo a terrível realidade de violência contra Jesus. Assim, o coração deMaria Santíssima já começava a ser penetrado pela espada profetizada por Simeão, trintaanos antes, no dia da apresentação de Jesus ao templo (cf. Lc 2,35), preparando-a poucoa pouco para os grandes sofrimentos do Calvário.
Este pequeno santuário, pouco visitado pelos peregrinos, tem um grande valor naespiritualidade de Nazaré, pois há uma relação entre Nazaré e o calvário. Em Nazaré, aVirgem Maria se tornou mãe; em Caná da Galileia, Jesus a chamou de “mulher”, esomente aos pés da cruz Ele revelou ser seu Filho, quando, voltando-se para Maria e
para São João, a chamou de mãe, tornando, assim, a sua maternidade universal.Maria, no seu itinerário de fé, fez um caminho por sua maternidade. Neste pequeno
santuário, a Virgem Santíssima se tornou modelo acessível a todas as mães biológicas eespirituais, a todas as mulheres chamadas a fazerem um caminho de fé e crescimento nasua feminilidade e maternidade. Mas, falando em sofrimento e em oferta dos sentimentosmais profundos, na cooperação do mistério da Encarnação, não podemos banalizar afigura do nosso amado São José.
No Evangelho de São Lucas, está claramente escrito o período de permanência deMaria na casa de sua prima Isabel: “Maria ficou três meses com Isabel. Depois, voltou
para sua casa” (Lc 1,56). Podemos assim afirmar que Maria, ao retornar a Nazaré, jáestava no terceiro mês de gestação. E assim, não seria possível esconder a evidentegravidez. Como nossa Mãe, Maria Santíssima, teria explicado a José? Certamente, elanão se importaria com os comentários dos parentes, amigos e conhecidos. Por Jesus, elasuportaria todas as injúrias e maldições deste mundo. Mas e quanto a José? Como elaexplicaria que não havia feito nada de mal, nem sido infiel? Mesmo com a evidência dofato, sabemos que Maria e José, somente depois do período de noivado, naturalmentecom o matrimônio, viriam a viver juntos. José ainda aceitaria o casamento, mesmosabendo da condição de Maria? Maria estava com uma imensa dor em seu coração e nosseus pensamentos, e não queria que José sentisse o mesmo.
Maria, mulher de fé e totalmente cheia da graça e de esperança, voltou para Nazaré,confiando também no amor e na justiça de José. O menino Deus, que ela trazia, a estavatransformando. Entre ela e o Verbo já se instaurava uma união tão sólida e natural que
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nenhuma força deste mundo poderia dividir. O evangelista Mateus não descreve oencontro entre o futuro esposo e Maria, nem o que José teria dito ao vê-la naquelasituação de gravidez. Mas, certamente, José, na sua humildade, não disse nada a ela.Podemos deduzir isso pelas palavras que o evangelista Mateus utiliza ao prosseguir suanarração: “José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente,
pensou em despedi-la secretamente” (Mt 1,19).Gosto muito deste texto, que mostra uma característica preeminente em José: a sua
ustiça. Ele tinha respeito por Maria e realmente a amava. Não queria causar-lheescândalo e dor. Quanto deve ter sofrido o nosso querido São José naqueles dias,
pensando perder sua futura esposa. Certamente não o demonstrou na presença de Maria,mas depois, sozinho, teria sofrido na solidão as mais cruéis amarguras da alma. E
perguntou a Deus o porquê de tudo isso. E Deus lhe respondeu:
Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: “José,
Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do EspíritoSanto. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus
pecados” (Mt 1,20-21).
O nosso pensamento e a nossa oração vão a todos os pais e mães que sofrem por incompreensões e injustiças. Não posso me esquecer de mencionar uma pobre mãe queencontrei na cidade de Corrientes, na Argentina. O seu filho de dezoito anos foi acusadode um homicídio injustamente. Por dois anos, ela acompanhou seu sofrimento,humilhado e maltratado. Todos os dias, quando as portas da prisão eram abertas, lá
estava ela, a primeira da fila. Pude presenciar esta dor. Com um forte estresse, estava perdendo seu marido, que se sentia esquecido por ela. Depois de dois anos de dor, overdadeiro assassino confessou e se entregou, liberando assim o jovem inocente. Estamãe me confiou que foi a intercessão de Maria e José, a Sagrada Família de Nazaré, quesalvou a sua família, porque eles conhecem a dor humana e intercedem por todas asfamílias do mundo, em especial por aquelas que sofrem.
Depois desta peregrinação espiritual pela Nazaré da Sagrada Família, lugar que por trinta anos foi santificado através da presença de Jesus, Maria e José, e onde é possívelcaminhar junto Àquele que viemos encontrar, convido o(a) amigo(a) a uma pausa parauma oração. É a oração que costumo rezar com todos os peregrinos que chegam aqui naTerra Santa. Continue comigo nesta leitura, nas páginas que seguem; nelas aprenderemoso método para conhecer Jesus, na escola do Evangelho, com a Sagrada Família de
azaré.Senhor Jesus, Verbo Encarnado-crucificado-ressuscitado, com a Tua permanência histórica de Nazaré a Jerusalém, santificaste e abençoaste cada
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canto desta Terra e revelaste-nos o amor misericordioso do Pai, anunciando o Evangelho, expulsando os demônios, curando todo tipo de enfermidade,morrendo e ressurgindo para todos e para cada um de nós. Ajuda-nos, ó doce Emanuel, a recuperar ou melhorar a nossa vida cristã e eclesial em todos osaspectos (pessoal, familiar, social). Ajuda-nos a preencher-nos de Ti, luz e
potência divina, do Teu Espírito de verdade e de amor, da vontade salvadora enormativa do Pai celeste. Somente assim seremos vitais e fecundos e seremos sinais e história de salvação. Faz, ó Salvador e bom Mestre, que não nosdeixemos distrair por nada e por ninguém, e que nos baste somente Tu, valor e fonte vivente de todos os bens, como bastavas a Maria, Tua e nossa Mãe, a São José, aos apóstolos e aos discípulos da Igreja nascente. Faz que realizemosuma plena sintonia espiritual com o Mistério e a graça do Lugar Santo da Encarnação e da Sagrada Família, e que a escola de Nazaré nos abra um novo
caminho: o caminho santo do Teu Evangelho e a vida nova que és Tu mesmo,nosso amor e nosso tudo, nosso destino de salvação e de glória.
Amém. Gratidão sem fim!
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G
Nazaré, escola do Evangelho
ostaria de iniciar este capítulo rendendo graças ao Pai da misericórdia, que, em
Jesus Cristo, nos amou com a Sua Encarnação, morte e ressurreição, e continua anos amar na obra salvadora pela santidade dos Seus filhos. A Terra Santa, ou melhor dizendo, “A Terra do Santo”, inspira santidade mesmo com as tantas hesitações e com ostantos contrastes da complexa realidade do passado e ainda dos dias de hoje.
Muitos são os beatos e santos que passaram por aqui. Neste ano, comemoramoscinquenta anos da histórica peregrinação do Beato Paulo VI, em coincidência com sua
beatificação. Em Nazaré, no lugar da Encarnação, e na casa da Sagrada Família, o Papa peregrino proferiu uma significativa homilia, na qual disse que a casa de Nazaré é aescola onde se começa a compreender a vida de Jesus, a escola da Boa Nova para a
vida:
Aqui aprendemos a observar, a escutar, a meditar, a penetrar o significado tão profundo e misterioso da
manifestação do Filho de Deus. Aprendemos também, talvez até sem perceber, a imitá-lo. Aqui
aprendemos o método que nos fará conhecer quem é Jesus. Aqui descobrimos a necessidade de
observar a realidade do seu viver entre nós: os lugares, os tempos, os costumes, a sua língua, os ritos
sagrados, enfim, tudo o que o mestre Jesus usou para revelar-se ao mundo. Tudo aqui tem uma voz,
tudo tem um significado. Aqui nesta escola aprendemos a ter uma disciplina espiritual, no seguimento
de Cristo, no caminho do Evangelho que nos faz seus discípulos. Oh! como seria bom se pudéssemos
voltar a ser criança. Quanto ardentemente gostaríamos de começar tudo de novo ao lado de Maria, para
aprender a verdadeira ciência da vida e da sabedoria divina. Não podemos deixar este lugar sem ter acolhido, mesmo se rapidamente, algumas breves admoestações da casa de Nazaré. Em primeiro lugar
ela nos ensina o silêncio. Como seria belo se renascesse em nós a estima pelo silêncio, que na
atmosfera do Espírito, é admirável e essencial. Somos atordoados constantemente por tantos sons e
vozes na agitada e tumultuada vida do nosso tempo. Oh! silêncio de Nazaré, ensina-nos a perseverar os
bons pensamentos, prontos para entender com mais clareza as mais secretas inspirações divinas.
Ensina-nos o quanto é importante e necessário o trabalho da preparação, do estudo, da meditação, da
oração que somente Deus vê no segredo. Aqui compreendemos a maneira de viver em família. Nazaré
nos lembra o que é a família, o que é a comunhão de amor, a sua beleza austera e simples, que nos faz
ver como é doce e insubstituível a educação em família, e que ensina-nos sua função natural na ordem
social. Oh casa de Nazaré! Aqui antes de tudo desejamos compreender e celebrar a lei do esforço
humano; enobrecer a dignidade do trabalho na maneira que seja entendida por todos. Lembramos,
debaixo deste teto, que o trabalho não pode ser fim em si mesmo, mas recebe a sua liberdade por
excelência, não somente por aquilo que chamamos valor econômico, mas por aquilo que envolve o seu
nobre fim. Aqui enfim queremos saudar todos os operários do mundo e mostrar-lhes o grande modelo,
do divino irmão de todos, Cristo nosso Senhor (Alocução de Paulo VI, Papa, em Nazaré, 5 jan. 1964).
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O silêncioUm dos aspectos de grande importância e necessidade da vida humana é o silêncio,
mas também é um dos mais difíceis de ser praticado. Existem muitos modos de se fazer silêncio, porém nem todos são úteis, necessários e construtivos.
Já no início da minha vida religiosa e sacerdotal, muitas vezes fui convidado, de livree espontânea vontade, a fazer silêncio, mas nem sempre pude alcançar aquela
profundidade que, interiormente, ajuda na ordem dos inumeráveis barulhos, dos conflitose de todos os pensamentos tumultuosos. Porém, para um caminho espiritual e de oração,o silêncio se torna um instrumento indispensável. Muitas são as famílias que pedem umacompanhamento espiritual e solicitam para serem introduzidas nesta dimensão dosilêncio. Muitos sacerdotes organizam os retiros para as famílias, e ali o silêncio se tornaum companheiro.
Na minha experiência, relembro meu primeiro retiro espiritual. Lá, o silênciosuscitava em mim dois sentimentos: o encanto e o medo. Porque é no silêncio que se
percebe o sentido do mistério, o despertar de uma presença sublime que nos coloca emum clima de autêntica escuta, no qual é possível saborear a beleza do escutar em
profundidade. Mas que, também, ao mesmo tempo, traz muito medo e uma sensaçãoque nos abre progressivamente, mas não definitivamente, um espaço de tontura, umtemor que se experimenta ao se ver sozinho, sem aquelas distrações e barulhos que nosimpedem de nos encontrarmos com nós mesmos e com Deus. É como uma tempestademarinha: as águas se tornam turvas, e é necessário muito tempo até que todos os grãos
de areia e de todas as outras sujeiras parem no fundo, para que a água volte a ser clara. Nas próximas páginas, gostaria de compartilhar com você, caro(a) amigo(a), o fruto
da minha experiência em meu caminho pessoal, principalmente depois que passei a viver aqui em Nazaré, bem como a graça que tive em guiar alguns jovens e algumas famíliasna vida espiritual. Desde já peço perdão se o que eu vier a dizer se tornar algo repetitivo,não adaptado ao seu estado emocional ou ao seu momento de vida. Quero apenasenfatizar que tudo o que irei expor é somente uma partilha de minhas experiências.
O primeiro nível no caminho do silêncio é encontrar coragem para entrar no nossointerior, onde habita a nossa verdade e a nostalgia da presença, aquela presença de Deus.Esta dimensão me preocupa muito, pois, na prática, muitos são os jovens que se
preparam para o matrimônio, ou para o caminho do sacerdócio, ou para a vidaconsagrada religiosa, ou para comunidades de vida, sem antes passar por esta dimensãodo silêncio, fazendo muitas das vezes escolhas que levam a tantas insatisfações erupturas.
Nesta dimensão, “solidão e escuta” se tornam categorias fundamentais, entre as quais
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se compreende o silêncio. Mas como é possível falar de solidão em um mundo caótico eassim densamente habitado? Se for necessário calar as múltiplas vozes exteriores einteriores que constantemente nos assolam, como é possível colocar-se em uma atitudede escuta? Ainda falando de solidão, quantas pessoas, hoje, no nosso mundo, sofremcom ela? Em todas as faixas de idade, jovens, homens e mulheres sofrem esta espécie de
perda, de distância intransponível uns dos outros, mesmo quando o número de pessoascom as quais se relacionam cresce significativamente. Penso que muitos de nós, de umaforma ou de outra, já experimentamos essa sensação. Mesmo existindo pessoas ao nossolado, as quais têm uma significante importância em nossa vida, não conseguimos nosliberar da solidão que, realmente, não é construtiva.
O íntimo do homem é algo de que não se pode fugir, que não se pode preencher ousubstituir; pelo contrário, ele produz frustração e insatisfação. No centro da pessoahumana, de fato, existe um espaço onde somente Ele é hóspede, e onde somente Ele, o
nosso Deus, pode habitar. Quando nos advertimos perante esta sensação de angústia esolidão, é possível que se tenha chegado o momento de experimentar a descoberta dasaudade de uma companhia e da presença que encontramos somente Nele, no Senhor Jesus. Como diz o Salmo: “Só em Deus repousa a minha alma; dele vem minhasalvação”(Sl 62,1). Neste lugar desabitado ou preenchido por pessoas superficiais, emque a presença do Senhor está ausente, não encontramos uma paz perseverante. Asolidão, então, amiga e construtiva, se torna um ponto de apoio que abre novoshorizontes, até mesmo inesperados. Eu gosto de chamar esta dimensão de “solidãohabitada”.
A estas alturas me pergunto para quem estou escrevendo. Para consagrados,religiosos, sacerdotes, seminaristas, ou para pais de família, mães, ou ainda jovens emdiscernimento? Esta dimensão é comum para todos. Se não fizermos a experiência da“solidão habitada”, correremos o risco de nos tornar mendigos da presença e de
passatempos; eternos insatisfeitos e infelizes. Este é o início, ou melhor, a passagem deuma solidão, de um silêncio imposto e forçado, para um silêncio escolhido e abraçado naliberdade. Esta passagem corresponde à autêntica interrogação do significado da própriavida.
Nos espaços de solidão e silêncio escolhidos, até mesmo aqueles pequenos e breves, podemos colocar uma atitude de escuta, sem medo, porque sabemos que, além daquele primeiro impacto com nós mesmos, teremos a presença silenciosa e eloquente de umDeus de amor, que habita no mais profundo do nosso íntimo, fazendo da nossa
profundidade um santuário, no qual podemos decifrar, na paz, nosso caminho para asalvação. Ser capaz de estar em silêncio e se colocar na escuta torna-se, assim, umaquestão de vida ou morte, porque cada vez que nos afastamos do significado da vida,
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construímos um muro entre nós e a nossa felicidade, e mesmo que passássemos apenasum pequeno tempo em contato com o barulho e as distrações geradas pelo mundoexterior, ainda assim, na realidade, estaríamos nos afastando, também, dessas mesmas
pessoas e, na superficialidade, deixando de construir as verdadeiras bases para umarelação de amizade e de amor autêntico, restando novamente uma insatisfação.
“Em silêncio, abandona-te ao Senhor, põe tua esperança Nele” (cf. Sl 37,7). Estas palavras podem abrir-lhe o caminho da esperança.
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nunciação, escola das relaçõesSão tão delicadas as citações do Evangelho, que nos deixam imaginar, pensar, ver,
tocar, escutar e encontrar além do que elas dizem. E continuando fiéis a ele, convidovocê, caro(a) irmão(ã), a se deixar levar por todas as imagens que sua mente sugerir em
seu coração, de modo a adentrar na beleza e na simplicidade de Nazaré, percorrendosuas colinas na Galileia, por aquele aglomerado de grutas e casas, até chegar à casa deMaria de Nazaré, uma gruta que reaviva nossa memória e nos faz encontrar a vida deuma jovem com projetos, sonhos e expectativas para o futuro.
Uma família estava prestes a se formar e a se abrir aos horizontes da vida; um jovemhomem estava para se casar com a sua noiva, ambos pensando que era esse o projeto deDeus nas suas vidas. Mas veio o anúncio do anjo, o Espírito de Deus, adentrando navida concreta de Maria e José, quase assumindo e mudando os projetos que eles tinham,até perturbando-os interiormente, porém, com a potência criativa. Sim, seriam um casal,seriam cônjuges, pais, mas não da maneira como eles esperavam e imaginavam queviveriam juntos. Uma novidade viria a mudar a vida deste jovem casal de Nazaré.
Maria se apresenta aos nossos olhos, na sua casa, como mulher das relações: com oseu Deus, com José, com as outras pessoas. Deus, por esta razão, tornou ainda maisviva esta relação, preparada e habituada desde sempre, transformando-a, dando vida e“carne”, tornando-a “divina” através do dom da vida humana por excelência, aquela doFilho de Deus. O sim de Maria encontrou apoio, confirmação e conforto no sim de José,
passando pela continuidade de um projeto e uma história tipicamente humana, na
novidade criadora que a incursão de Deus comporta. Deus se fez carne dentro de Suarelação com Maria e José, de um homem com sua esposa, daquela família com o restodo mundo. A acolhida e o sim de José, de fato, simbolizam a base para as possibilidadesde uma acolhida da parte de todos os homens. Se São José a tivesse recusado edenunciado, tudo terminaria de modo diferente para todos. Se o Evangelho tivesse nostransmitido os diálogos entre este jovem casal, a comunicação cotidiana das novidades,as perplexidades, os esforços para traduzir todas as perturbações que tiveram na vidacotidiana, poderíamos ter um grande manual de psicologia das relações e decomunicação.
Nazaré nos ensina que Deus se faz carne dentro das relações ordinárias na medidaem que Ele é escutado e levado a sério. À medida que é acolhido, Ele dá à vida um gostodivino, nos tratos e nas características de uma existência autenticamente humana. Esta éa salvação para a humanidade, este é o nome de Jesus invocado na vida: “Emanuel”,Deus conosco. Não podemos fechar os olhos para a realidade que estamos vivendo emnossos tempos. O mundo necessita de Nazaré, da Sagrada Família, de Jesus. São muitas
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as dinâmicas de incompreensão e divisão que nos afastam de Deus, seja nas famílias,seja nos ambientes religiosos e eclesiásticos. Mas o prólogo do Evangelho de São João1,1 nos afirma, com simplicidade e franqueza, que o “Verbo (palavra) era Deus”. Issosignifica que Deus fala incessantemente e é comunicação constante, sem interrupção, naqual se doa totalmente, sem parar, e se revela aos homens.
Deus continua a falar através de todas as coisas e acontecimentos: da Escritura, daIgreja, da Eucaristia, dos pobres, da comunidade, da consciência e do coração de cadahomem. Deus usa todas estas linguagens para, continuamente, encontrar o coração dohomem em um apelo, constante a todos, de entrar na dinâmica da Palavra e do amor. APalavra de Deus, o Verbo, é ainda sinônimo de mudança, porque ela não deixa as coisascomo são, tem um poder de modificar, edificar, salvar o homem, e não destrui-lo.Estamos vivendo tempos de crise da palavra, uma era de comunicação na qual todas asmensagens são válidas, independentemente de serem verdadeiras ou não, elas são
pronunciadas. Tempos nos quais não temos capacidade de escutar, de ficar em silêncio ede pronunciar palavras verdadeiras e límpidas.
A raiz de muitas crises familiares, eu chamarei de crise da palavra e da comunicação,é a tecnologia, que tantas vezes leva os membros de uma mesma família a viveramisolados, mesmo estando a poucos metros uns dos outros. Em tais contextos, énecessário o discernimento para entender qual palavra pronunciar e qual escutar; qualcomunicação constrói e qual destrói. Nesta dinâmica, não podemos renunciar a Bíblia, osEvangelhos. Este é o apelo que lhe faço daqui da terra da Bíblia, do lugar do Verbo.
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Vida ordinária, escola de cotidianidadeA vida ordinária é o segredo de uma espiritualidade autêntica, que se realiza e se
concretiza no ordinário de cada dia, de cada momento. Mas a espiritualidade de Nazaréna vida cotidiana de Jesus se deparava com julgamentos e preconceitos. Jesus viera de
azaré e pertencia à categoria daqueles que vinham de uma cidade insignificante.atanael (que a tradição identifica como Bartolomeu) se exprime candidamente com tal
ulgamento e preconceito: “De Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1,46). Osulgamentos prosseguiam e se reforçavam na opinião dos judeus, que, depois de terem
escutado a Sua pregação durante a festa das tendas, se perguntaram: “Este homem nãoteve estudo, donde lhe vem, pois, este conhecimento das Escrituras?” (cf. Jo 7,15).
As pessoas da relação social de Jesus eram consideradas culturalmente ereligiosamente pouco confiáveis, porque possuíam pouca cultura e eram provenientes deum povoado agrícola; e para pesar ainda mais a afirmação de que da Galileia não surgia
profeta, Jesus Nazareno foi julgado como um profeta que não deveria ser seguido, e nemmesmo escutado: “Eles responderam: ‘Tu também és da Galileia? Examina as Escrituras,e verás que da Galileia não surge profeta’” (Jo 7,52-53). Estes breves passos nos ajudama entender a opinião pública que tinham sobre Jesus – a causa das Suas raízes, da Sua
proveniência, que era Nazaré.Pertencer a Nazaré era sinônimo de pertencer a gente normal, ordinária, que não
possuía estudos teológicos. Além do mais, eram pessoas de uma cidade desprezada edesconhecida, sem história. Por esse preconceito, Jesus de Nazaré não tinha nenhum
direito de falar em nome de Deus: “De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres?ão é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são
Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não estão todas conosco? De onde, então, lhevem tudo isso?” (Mt 13,54-56). O que, sem dúvida, escandalizava acima de todas ascoisas era o fato de que este homem desconhecido, que falava como nenhum outroamais havia falado e que efetuava sinais claros aos olhos de todos, tinha uma história
normal, como aquela da maioria das pessoas que todos conheciam. Como este homem,que vivera a maior parte de Sua existência de modo ordinário, como todos, com umahistória de altos e baixos, poderia ser o Messias?
É a tentação do desprezo da vida normal, ordinária. Uma tentação que atravessa osséculos e que ainda tenta os cristãos até os dias de hoje. É a tentação de julgar, pelasaparências, quem vive a sua fé no cotidiano do mundo, no silêncio, na vida leiga domundo e vivendo como todos. Mas atenção! Para entender e acolher o Evangelho énecessário reagir a esta tentação, redescobrindo a beleza de viver no nosso cotidiano,único lugar no qual podemos ser discípulos, ou talvez não, no qual podemos fazer
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experiência de salvação e de ressurreição. Único lugar no qual podemos ser alcançados pela Boa Nova do Evangelho!
Os Evangelhos, descrevendo a vida de Jesus, nos transmitem numerosos fatos prodigiosos, milagres impensáveis, cura de pessoas desesperadas, multiplicação de pães e peixes capazes de saciar a fome de grandes multidões; aquelas mesmas multidões que,
pelo menos inicialmente, eram atraídas pelo jovem galileu com a força da Sua Palavra,que operava através de grandes sinais. Mas entre cada ação, não somente as citadasacima, era manifestada uma dimensão mais profunda e oculta, simples e sublime, queretrata a atenção de Jesus em relação às pequenas coisas da vida cotidiana.
Para nos transmitir a verdade misteriosa e indizível do Reino dos Céus, Jesus usa,como exemplo, uma semente, o grão de mostarda. Quem já a viu pode contemplar a suainfinita pequenez. E a partir desta pequena realidade da vida, ela cresce e seguenaturalmente o seu percurso. O mesmo Jesus se revela atento aos pequenos gestos,
quase imperceptíveis a um olhar distraído: uma mulher que, no meio de uma multidãoque O cercava, O tocou; Ele percebeu e se deixou encontrar, dando-lhe vida e salvação.São realmente muitos os exemplos se escutarmos ainda as palavras que se referem aoque é pequeno, humilde, desprezado. “Quem é o maior no Reino dos Céus?” (Mt 18,1) éa pergunta que cada um leva e que cada um tem, escondido no próprio coração, o desejode responder: “Sou eu!”. Mas a resposta é: “É aquele que se faz servo de todos” (cf. Mc9,35).
Não é por acaso que as crianças nos Evangelhos possuem um importantereconhecimento. Os pequenos se tornam o modelo do Reino. O Reino é para quem se
torna uma criança. Neste mundo, no qual cada vez mais perdemos a pureza de umacriança, a relação com elas se torna, ao meu ver, um concreto instrumento dequestionamento referente a nossa caminhada em direção ao Reino. Um episódio
particular do Evangelho me chama muito a atenção em relação à estupenda sensibilidadedo Filho de Deus: Jesus estava sentado na frente do tesouro do templo, observandoquantas pessoas colocavam as moedas, e Seus olhos se voltavam ao coração das
pessoas, porque “o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração” (cf. 1Sm 16,7).Entre os ricos que colocavam, de modo distraído, o que tinham de supérfluo, chegou
uma pobre viúva que depositou uma soma insignificante e que certamente não iriaagregar muito ao orçamento do templo. Aquela pobre mulher, no entanto, deu mais doque todos os outros. Somente Jesus conseguiu vê-la ao ler o verdadeiro significadodaquele pobre e simples gesto. Esta sensibilidade não é fruto de uma escolha virtuosa,mas de uma natural consequência de uma descoberta: eu não sou o tudo, não sou omaior, sou uma pequena criatura nas mãos de Deus, na fraternidade universal que meliga a todas as outras criaturas. E assim como Jesus viveu aqui em Nazaré e não perdeu
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os tratos e traços de uma verdadeira humanidade, mesmo sendo o Verbo Encarnado,também tudo o que é simples passa a nos pertencer, a nos descrever, nos diz e nos falado Senhor Jesus.
A espiritualidade de Nazaré nos ancora e nos leva às pequenas e simples coisas davida, como garantia de um caminho autêntico, de um itinerário evangélico profundo e
verdadeiro. É sobre esta humanidade do Verbo que trataremos nas páginas seguintes.
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azaré, escola de humanidade Não podemos falar de humanidade sem também falar do homem. Aqui o Verbo se
fez carne, se fez homem. Mas quem é esta criatura tão fascinante, própria por ser única?“No entanto o fizeste só um pouco menor que um deus, de glória e de honra o coroaste”
(Sl 8,6). Criatura esta da qual até mesmo os anjos tiveram ciúmes.A humanidade pela qual somos constituídos é realmente um dom grandioso que Deus
nos deu. O primeiro dom divino que se exprime no nosso semblante, único e diferente detodos os outros, é a nossa personalidade original, com as nossas característicasespecíficas, o nosso corpo e as características do nosso coração, que são somente nossase jamais pertencerão a outra pessoa. A nossa existência, a nossa humanidade, é a
primeira Palavra com que Deus nos fala, é a primeira que diz através de nós mesmos.Mas é triste recordar que nós viemos de uma tradição não tão amiga desta naturezahumana, que comumente é vista como uma espécie de obstáculo no caminho espiritualdas pessoas.
Tudo que tinha o gosto de natural, instintivo, passava, ou ainda passa, pela suspeitade pecado e deveria se defender da acusação de ser enganador em respeito ao caminhoda salvação do homem. Mas qual é o admirável mistério da Encarnação que fez com queDeus assumisse a forma de homem e se aprisionasse em uma humanidade concreta eoriginal como a nossa? Que fez com que Ele mostrasse, nesta natureza, todas as Suascaracterísticas na forma humana, e que se encontram descritas em nosso corpo e emnosso espírito? A partir deste momento não é mais consentido falar da nossa natureza
humana como um limite; ao contrário, somos chamados a ver essa revelação de umsemblante ainda mais misterioso e maior, aquele do Deus-Homem, aquele de JesusCristo.
Sempre me impressionaram, sobretudo aqui no oriente, as imagens da tradiçãoeclesial ortodoxa e os ritos orientais, ícones que, em muitos casos, tratam da “escritura”,da descrição do rosto de Cristo. Parando para contemplar aquela face, percebemos ostraços de uma humanidade específica, a beleza de um homem escrita através de traçosque talvez estejam até mesmo longe dos nossos gostos ocidentais, mas que, por detrás,manifestam, ao mesmo tempo, a revelação do mistério de Deus Encarnado e do homemdivinizado. Em outras palavras, olhando aquele rosto, é possível ver o semblante deDeus e também o nosso. Tudo isso pode parecer uma reflexão abstrata e distante da vidareal e cotidiana, mas na verdade não é assim.
Primariamente, nos revela que a face de Deus é o próprio homem, aquele queencontramos todos os dias ao nosso lado, aquele que faz parte das nossas relaçõesdiárias, o homem que somos. Através das relações de amizade, de amor, de família, de
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trabalho, podemos encontrar o Deus que se faz carne, e se faz história, e que vem nossalvar. Ao mesmo tempo, porém, somos chamados a acrescentar que é a face de Deusque nos diz quem realmente somos, qual estrada devemos percorrer para sermosautenticamente nós mesmos. É famosa a frase de um “certo” Pôncio Pilatos, que, demodo inconsciente, fez, a ele mesmo, uma desconhecida afirmação. Quando mostrou
Jesus no terraço do pretório, de modo que a multidão pudesse ver o Seu rosto e o Seucorpo marcado pelas feridas, ele disse: “Eis o homem!” (Jo 19,5). Esta frase não éapenas a afirmação de que Ele era o homem a ser julgado, libertando-O ou condenando-O, mas era a frase de quem atestava que Nele, naquela face, naquele corpo provado pelavida, se revelava a face e o mistério do homem.
Se verdadeiramente quisermos encontrar Deus, não podemos evitar a nossahumanidade e a pessoa do nosso irmão e da nossa irmã. Se quisermos ser verdadeiroshomens, não podemos perder a nossa relação com Cristo. Por isso, na minha opinião,
entre os homens e as mulheres do Seu tempo, Jesus privilegiou as crianças e os pobres, porque neles a imagem da humanidade e a imagem do mistério eram mais puras, mais próximas do essencial, porque não tinham muitos recursos para se apoiar e não podiamse tornar distantes daquele núcleo central em que a humanidade e a divindade seencontravam. Assim, os ricos estão na condição paradoxal mais pobre e mais insidiosa.
Contemplamos, queridos irmãos e irmãs, Jesus percorrendo as estradas da Galileia,curando, perdoando, dando significado a tantos homens e mulheres, de todas asnacionalidades e condições sociais. Por isso, quem não se reconhece entre os doentes,entre os pobres, não pode encontrar a salvação.
Nomes, semblantes, histórias de homens e mulheres são partes integrantes damensagem do Evangelho, porque o “Verbo se fez carne” (cf. Jo 1,14), e Deus assumeuma humanidade concreta na história de um homem, Jesus de Nazaré. Semblantes,nomes e histórias que permanecem pelos séculos, na experiência viva do encontro dohomem com Deus. Nos dias precedentes à Sua paixão, Jesus mesmo nos dá testemunho:
Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso. Uma mulher aproximou-se dele, com um frasco
de alabastro cheio de perfume caríss imo, e derramou-o na cabeça de Jesus, que estava à mesa. Vendo
isso, os discípulos se irritaram, dizendo: “Para que esse desperdício? Este perfume podia ser vendido
por um bom preço, e o dinheiro, dado aos pobres”. Jesus o percebeu e disse-lhes: “Por que incomodaisesta mulher? Ela praticou uma boa ação para comigo. Os pobres sempre tendes convosco, mas a mim
não tereis sempre. Ela derramou este perfume no meu corpo em vista do meu sepultamento. Em
verdade vos digo: onde for proclamado este Evangelho, no mundo inteiro, será mencionado também,
em sua memória, o que ela fez” (Mt 26,6-13).
As passagens simples e concretas do Evangelho nos atestam a constante atenção queJesus tem com as pessoas que se encontram com Ele, nos dizendo que não existem
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pessoas que tenham uma existência banal. Ele se relaciona com cada uma delas de modoespecial e eficaz. O Evangelho ainda nos ensina que da parte de Jesus nunca existiu umareação de julgamento e prejuízos nos Seus gestos. As Suas palavras sempre destruíramos esquemas e construíram pontes para encontrar a todos, até aquelas pessoas maismarginalizadas e discriminadas, como no episódio do encontro com a mulher pecadora,
descrito no livro de João 8,1-11. Escrevendo estas páginas da humanidade de Jesus, umepisódio me vem à mente como um filme: diante dos meus olhos, Papa Francisco acolhe,derruba barreiras de segurança, distribui sorrisos, atenção e palavra a todos,demonstrando que cada ser humano tem importância e é precioso aos olhos de Deus.
Jesus foi para o Monte das Oliveiras. De madrugada, voltou ao templo, e todo o povo se reuniu ao
redor dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. Os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher
apanhada em adultério. Colocando-a no meio, disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi flagrada
cometendo adultério. Moisés, na Lei, nos mandou apedrejar tais mulheres. E tu, que dizes?” Eles
perguntavam isso para experimentá-lo e ter motivo para acusá-lo. Mas Jesus, inclinando-se, começou aescrever no chão, com o dedo. Como insistissem em perguntar, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre
vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!” Inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão.
Ouvindo isso, foram saindo um por um, a começar pelos mais velhos. Jesus fiou sozinho com a mulher
que estava no meio, em pé. Ele levantou-se e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?”
Ela respondeu: “Ninguém, Senhor!” Jesus, então, lhe disse: “Eu também não te condeno. Vai, e de
agora em diante não peques mais” (Jo 8,1-11).
Os versículos do Evangelho de São João não nos dizem explicitamente, mas nosdeixam intuir a malícia e ao mesmo tempo o ódio dos escribas e fariseus, que não
podiam suportar o peso das transgressões e do pecado. Mas, desde sempre, sabemos queo ódio é um sinal revelador de um distúrbio interior, que neste caso se manifesta naincapacidade de aceitar a possibilidade de um erro e ainda a raiz da fragilidade humana,sobretudo a própria. Ao ódio se sucederam o julgamento e a condenação, que não eramsomente a solução para um fato contingente transcrito no tempo, mas também adeclaração de morte para todas as pessoas que viviam em situações similares.
E assim se forma a mentalidade discriminatória de fechamento e de ódio para com as pessoas que cometeram algum erro. Para muitos, nelas se concentra o mal do mundo, e
se torna possível descarregar em cima delas todas as responsabilidades (algum homemesteve com esta mulher adúltera). Não é mais possível ver nelas um rosto desimplicidade, de acolhida, e acompanhá-las em um caminho de cura. Este representa
provavelmente o mal mais obscuro e pesado para a humanidade de todos os tempos, quenão é capaz de acolher a diversidade e a fragilidade e que se refugia em ambientes ementalidades de separação e condenação, para se protegerem das diferenças e dos errosque colocam à luz quem nós realmente somos, com nossos medos e pecados. A
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separação entre justos e pecadores é antiga como o mundo, mas seria mais corretoafirmar em termos de binômio: ilusão de ser justo e de ser pecador.
Voltando às palavras do Evangelho, surge uma pergunta: quando seria possível mudar de vida? Converter-se? Quando o homem encontra o olhar atento e misericordioso. Aatitude de Jesus se diferencia daquelas dos escribas e fariseus, Ele não julga a mulher,
mas a acolhe por aquilo que ela é, pela sua história, sem insinuar que ela fosse diferente.Aqui também, pela inspiração desta Palavra, podemos meditar o quanto José deve ter
sentido a tentação de julgar e condenar sua noiva ao receber a notícia de que ela estavagrávida, sem que ele a tivesse conhecido. Mas a sua atitude, no fundo, foi de abertura,de diálogo, de aceitação da realidade, e assim ele suspendeu todos os julgamentos naesperança de que a misericórdia de Deus pudesse iluminar o seu imprevisível e difícilmomento. Se ele tivesse denunciado o fato, Maria teria tido o mesmo julgamento ao qualos escribas e fariseus quiseram submeter aquela mulher pecadora.
Jesus viveu neste clima de acolhida e de misericórdia. Nos Evangelhos, as Suasatitudes estão em uma profunda continuidade, entre a Sua vida escondida em Nazaré e aSua vida pública, com o anúncio da Boa Nova do Reino a todos os homens e mulheresdo Seu tempo. É a mesma continuidade entre o cotidiano de Nazaré e os conteúdosessenciais do anúncio Daquele que foi Crucificado e Ressuscitado, aquela continuidadeque ainda deveria refletir na vida dos Seus discípulos e de todos nós.
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scola do trabalhoAs mãos de Jesus, a Sua corporeidade, permanecem como um mistério oculto e
fascinante. Que olhar tinha Jesus? Como Ele era? Era alto ou baixo? De pele clara ouescura? São muitos os versículos do Evangelho nos quais a aparência de Jesus é
colocada em evidência, sobretudo quando Ele se revela.Jesus que abraça, olha, toca, escreve no chão, come, bebe, procura o silêncio. Mas a
nossa atenção agora está voltada ao trabalho de Jesus, àquilo que Ele fazia. Segundo osEvangelhos sinóticos (termo que designa os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas), em
azaré, Jesus é intitulado como o filho do carpinteiro (Mt 13,55). Esta indicação eafirmação nos autorizam a pensar que uma boa parte da vida oculta de Jesus foi em umaoficina de carpintaria, com os trajes de trabalho, ajudando Seu pai, São José, a ganhar avida como todos. Jesus era especializado no Seu trabalho e repetia todos os dias osmesmos gestos, chegando à oficina de Seu pai para trabalhar, na partilha com todos oshomens pela dignidade do trabalho.
Na história da Igreja, nos primeiros séculos, por muito tempo, existiu quase umadissociação entre trabalho e vida espiritual, quando muitos recusavam alguns tipos detrabalho por serem considerados imorais e não compatíveis com a vida cristã,renunciando a tudo aquilo que poderia distanciar do seguimento a Cristo. No decorrer dos séculos, esta atitude de martírio foi lentamente encaminhada como forma inversa daespiritualidade, de como o “mundo” era visto, como algo traiçoeiro a se encontrar.Assim, não o via como um aspecto tão fundamental da vida, uma dimensão na qual o
homem se exprime, se revela, obedece a um chamado e o responde em plenitude.Gosto de pensar que Jesus, no Seu ser carpinteiro, tenha respondido a um chamado
particular de construir, projetar, pensar utensílios, móveis, portas, camas e muitos outrosobjetos necessários para a vida do homem. Neste trabalho, Ele se encontrava com oshomens, com suas necessidades mais cotidianas, aquelas que se encontram na casa detodas as famílias. Mas não somente isso. Hoje estudiosos sustentam que, diariamente,Ele ia a Seforis (cidade grega a 8 km de Nazaré), capital administrativa da Galileianaquele tempo, porque, como Nazaré era um pequeno povoado, não lhe forneciatrabalho suficiente para manter a família.
Jesus, seguindo Seu pai, José, em seus compromissos, pôde conhecer pessoas,ampliar Suas relações, viver as realidades de diferentes trabalhos, sentindo-se parte domundo que vai além dos próprios conhecimentos e capacidades, mas com o qual somosinevitavelmente ligados, como a um imenso círculo universal da existência humana. Notrabalho, Jesus pôde dar o melhor de Si, pôde exprimir a Sua criatividade, a Suainteligência, compreendendo o preço com que cada trabalhador ganha o seu pão. E tudo
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isto no diálogo nunca interrompido com o Pai celeste, que sempre orientou a Suaexistência terrena. Trabalhar a madeira, encontrar pessoas e resolver problemas práticosde suas casas, fazer desenhos, projetar, tudo isso não O distanciou da Sua oração, daSua relação com o Pai, para a nossa salvação.
Então, querido(a) amigo(a) que está percorrendo comigo a escola de Nazaré, fazer
esta composição de lugar e ir com a mente e o coração a estes aspectos da vida de Jesusrealmente nos faz bem, de modo especial para uma reconciliação com a questão dotrabalho nos dias de hoje, em que a falta dele torna ainda mais complexa esta questão,especialmente aos jovens, que tantas vezes demoram mais a escolher uma atividade, umtrabalho.
Concluímos este capítulo, aqui no Santuário da Sagrada Família, que ousarei chamar “Santuário do Trabalho”, com uma oração por todos os trabalhadores do mundo, os paise mães de família e os jovens que se encontram em fase de escolha de trabalho.
Lembramos ainda, debaixo deste teto da Sagrada Família, que o trabalho não pode ser fim em si mesmo, mas recebe a sua liberdade por excelência, por aquilo que envolve oseu nobre fim.
Maria, mulher da escuta, abre nossos ouvidos!
Faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu Filho Jesus no meio das mil palavras deste mundo; faz com que saibamos perceber a realidade em quevivemos em cada pessoa que encontrarmos, especialmente nos pobres enecessitados e em todos os que se encontram em dificuldade.
Maria, mulher da decisão, ilumina a nossa mente e o nosso coração, para que saibamos obedecer à Palavra do teu Filho Jesus, sem hesitações. Concede-nosa coragem da decisão, de não nos deixarmos arrastar por outras orientaçõesem nossa vida.
Maria, mulher da ação, faz com que as nossas mãos e os nossos pés se movam“apressadamente” rumo aos outros, para levar a caridade e o amor do teu Filho Jesus ao mundo, como tu, à luz do Evangelho.
Amém!
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S
Nazaré, pedras amadas e vivas
ão Francisco e os franciscanos sempre mantiveram o amor à Encarnação de Jesus. E
é por isso que, desde o início, amaram a Terra Santa. De fato, não existeEncarnação sem o lugar. Para nós, amar esta Terra significa amar Jesus. E não podemos pensar em Jesus sem amar a Terra Santa. É por este especial carinho dos franciscanos aoEvangelho de Jesus e à Sua Encarnação que a Igreja Católica nos deu a missão decustodiar os lugares da nossa Redenção: custodiar os Lugares Santos em modalidadesconcretas, animar os Lugares Santos com a liturgia para os peregrinos e para as igrejaslocais, acolher os peregrinos que chegam de todas as partes do mundo para rezar e ficar nos lugares, manter as estruturas de tais lugares no seu correto funcionamento.
Junto aos Lugares Santos vivem as comunidades cristãs locais. Estas são constituídas
de paróquias de diversos ritos e tradições católicas (ocidentais e orientais). Nós,franciscanos, cuidamos destas diversas paróquias, que têm o seu coração e a sua sedenos Lugares Santos.
Amar as pedras que guardam a memória de Jesus nos anima também a amar ascomunidades cristãs, que sempre viveram aqui e que amamos chamar de “pedras vivas”.São numerosas as atividades formativas e sociais da Custódia para o suporte da presençacristã na Terra Santa: escolas, construção de casas e ajuda para combater as diversasformas de pobreza. Aos peregrinos cristãos que chegam de diversas partes do mundo são
oferecidas orientação espiritual e casas de acolhimento, junto à garantia e à graça de poder celebrar nos Lugares Santos os mistérios da redenção. É o que afirma o nossoatual custódio da Terra Santa, frei Pierbattista Pizzaballa, italiano da cidade de Bergamo:“Custodiar significa, antes de tudo, amar, cuidar, estar ao alcance do coração, estar
próximo. Custodiar, para nós hoje, significa estar nestes lugares, dar-lhes vida com aliturgia, pregando e animando-os.”
Os principais protagonistas dos Lugares Santos são os frades menores. Nóscumprimos a nossa missão nesta terra, impulsionados por nosso fundador, São Franciscode Assis, que veio visitá-la no ano de 1219. Depois disso, os frades sempre aceitaram os
desafios dos tempos para poder transmitir a graça dos Lugares Santos a toda ahumanidade e para partilhar a sua vida com as “pedras vivas”, com as famílias da TerraSanta. A realidade familiar foi sempre uma das principais preocupações dos frades, queensinam a trabalhar a madrepérola, ou seja, o artesanato, proporcionando-lhes adignidade do trabalho. A tarefa da Custódia Franciscana da Terra Santa é uma grandegraça que a providência nos confiou. Mas existe uma tensão em se interrogar sobre a
pessoa de Jesus. Afinal de contas, estes lugares nos devem fazer chegar a Ele. Nazaré
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nos convida à oração, mas também deve nos interrogar sobre Aquele Jesus que aquirealizou a Sua missão, sobre a Igreja que neste lugar celebra e relembra um momento
particular de Sua vida.Os Lugares Santos, mesmo que se queira apenas admirar sua beleza, não são simples
pedras, mas sim a manifestação, as pegadas da passagem de Deus neste mundo, o eco
das palavras do Senhor, que nos falou por meio dos profetas e dos apóstolos, que se fez“Carne”, homem como nós, habitando em nosso meio. São pedras que ouviram a voz e
beberam o sangue de nosso Salvador. Ora, aquela Palavra de Deus e aquele sanguederramado devem ser recolhidos e conservados para que se tornem parte da vida de cadacristão, das nossas “pedras vivas”, de todos os peregrinos. Captar a voz que brota destas
pedras e compreender sua mensagem é, desde sempre, o trabalho dos filhos de SãoFrancisco na Terra Santa. Assim, os vários Papas encorajam os Frades ao afirmarem quea sua missão é a de fazer com que os Lugares Bíblicos sejam centros de espiritualidade,
que cada santuário conserve e transmita a mensagem evangélica e que alimente, alémdisso, a piedade dos fiéis.
Em 1947, Pio XII disse aos Franciscanos da Terra Santa: “Sabemos que tambémvós, como já fizeram vossos antecessores, trabalhais diligentemente a fim de que, nosLugares Santos confiados a vosso zelo, se faça o melhor possível para satisfazer a
piedade dos fiéis.” No entanto, os Frades não foram apenas os “guardiões” das pedras edos lugares, a fim de preservar seu valor, mas sua missão também foi a de fazer com queaquelas pedras ficassem vivas, de fazer com que elas falassem ao coração e à mente detodos os que se colocavam em peregrinação à Terra Santa, a fim de que eles vissem as
“simples pedras” como “pedras amadas”, através da fé.Os filhos de Francisco de Assis – segundo as palavras de João Paulo II – souberam
interpretar, “de modo genuinamente evangélico, aquele legítimo desejo de custodiar oslugares em que se acham nossas raízes cristãs”. Porém as primeiras “pedras vivas” sãoos próprios frades e todos aqueles que cooperam e cooperarão para que a missão daTerra Santa seja uma realidade viva, eclesial e universal da presença da Igreja. Mas nãosomente eles: são também “pedras vivas” os tantos homens e mulheres que sentem ochamado de viver aqui – frades, freiras, presbíteros, consagrados(as), leigos(as) e até
famílias que, atraídas pela Terra do Santo, se transferiram para cá.
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Os franciscanos em NazaréA mais antiga notícia sobre a existência de um convento franciscano em Nazaré foi a
de frei Bartolomeu de Pisa, que no ano de 1390 escreveu em latim: “Nazaré foi tambémo lugar em que os frades menores, mesmo se apenas por causa da teimosia que tinham,
sempre foram expulsos pelos muçulmanos.” A partir do testemunho escrito por freiBartolomeu, podemos concluir que os frades faziam peregrinações até Nazaré com aesperança de um dia poderem se estabelecer, mas que isso se revelava inútil. Aindalemos no martirológico da Custódia da Terra Santa a paixão de alguns frades martirizados
pelos muçulmanos na cidade de Nazaré, no ano de 1547. Foi somente no ano de 1620que os frades franciscanos conseguiram se estabelecer em definitivo em Nazaré. Foi ofrei Tommaso Obicini da Novara, custódio da Terra Santa naquela época, que aproveitoua ocasião.
Naqueles anos, o Líbano e a alta Galileia (compressa a região de Nazaré) eramgovernados de forma bastante autônoma por Emir Druze Fakhreddin, muito bondosocom os cristãos. Foi ele, inclusive, quem ajudou os frades a recuperarem o Santuário daAnunciação. Neste tempo, os frades puderam se estabelecer em Nazaré comtranquilidade e até realizar trabalhos pastorais e a recuperação da Casa de NossaSenhora, o santo lugar da Anunciação. Mas com a morte do amado benfeitor,assassinado em Constantinopla, no dia 13 de abril de 1635, iniciou-se para os frades um
período de ininterrupta corrente de problemas.Por muitas vezes, os frades tiveram que abandonar Nazaré e se refugiar na cidade de
São João do Acre, cidade vizinha a Nazaré. No século XVII foi escrita uma crônica quedizia: “Esta Santa casa, lugar da Anunciação, do ano 1620 até o ano 1682, foi muitasvezes saqueada, queimada, destruída e abandonada; e ali os nossos pobres fradessofreram a morte, o cárcere, agressões e outras mil moléstias e humilhações.” Emociono-me ao apresentar os meus santos confrades que deram a vida por este Santo Lugar daEncarnação. Foram períodos duros e difíceis. Apesar de tanto trabalho, ainda é possívelassistir a episódios de sangue derramado contra os frades, a exemplo do ano de 1860, nacidade de Damasco. Ali houve uma perseguição dos Drusos contra os cristãos doLíbano, que acabou alargando-se mais tarde em direção à Síria e a Damasco. A
perseguição se formou por causa do decreto assinado em Paris, em 1856, por parte deSultan Abdul-Megil, no qual reconhecia a todos como seus súditos, sem distinção de raçaou religião. A perseguição resultou em cerca de sete mil mortos, entre os quais estava oBeato frei Emanuel Ruiz e seus companheiros mártires.
Outro caso de martírio ocorreu na Turquia, em 1895, quando foi assassinado o freiSalvador Lilli, mártir que mais tarde veio a ser canonizado. Por fim, em 1920, por causa
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da perseguição contra os armênios, três sacerdotes e dois frades foram mortos pelosturcos. Ainda gostaria de citar as palavras da Exortação Apostólica Nobis in Animo, queo Papa Paulo VI emanou em 1974:
Não sem um desígnio providencial, as façanhas históricas do século XII trouxeram à Terra Santa a
Ordem dos Frades Menores. Os filhos de São Francisco, daquele momento em diante, permaneceramna Terra de Jesus para servir à Igreja local e para custodiar, restaurar e proteger os Lugares Santos. A
fidelidade destes frades, ao desejo de seu fundador e à incumbência dada pela Santa Sé, foi muitas
vezes marcada por atos de extraordinária virtude e generosidade.
Durante o século XIX, o Império Otomano tinha movimentos nacionalistas internosque foram animando o mundo árabe. O resultado foi uma liberal reforma guiada por Sultan Abdulmecid I, que concedeu uma maior abertura também para as diferentesexpressões religiosas. Em Nazaré, por exemplo, em 1867, os frades conseguiram abrir onoviciado para a formação de jovens franciscanos, fechado em 1940. Foi um século decrescimento para todos os latinos (católicos), que, em 1848, contavam com seiscentosfiéis e que, até o final do século, crescera duas vezes mais. Até mesmo as obras sociaisda paróquia cresceram. Em 1842, foi aberta a primeira escola para meninas. Em 1837,foi construída uma hospedaria para peregrinos, destruída por um terremoto e umainundação. A atual Casa Nova, construída em frente à Basílica, é do ano de 1896. Alémde ter dado hospedagem a personagens ilustres e famosos, como Napoleão Bonaparte, aCasa Nova também acolheu muitos refugiados palestinos da guerra árabe-israelense, em1948.
Hoje os franciscanos em Nazaré têm uma comunidade paroquial de oito mil fiéis,reunidos em torno do Santuário da Anunciação, que conta com catorze frades e quatroreligiosas da Congregação da Imaculada Conceição de Ivrea. Ele recebe ainda a ajuda dacomunidade católica Shalom e a cooperação preciosa da comunidade Canção Nova,responsável pelas transmissões das celebrações litúrgicas da Basílica. Possui o ColégioTerra Santa e a Escola Franciscana, um grande edifício ligado ao convento, que temcerca de oitocentos estudantes cristãos e muçulmanos, promovendo assim a integraçãoreligiosa. Há, ainda, a casa de repouso para idosos e pessoas com deficiência. Alémdisso, os frades construíram algumas casas de apoio às famílias mais necessitadas.
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O Beato Charles de Foucauld em NazaréO Beato Charles de Foucauld nasceu em Estrasburgo, na França, no dia 15 de
setembro de 1858. Órfão aos seis anos de idade, cresceu na companhia de sua irmãMaria e de seu avô, que o influenciou a seguir a carreira militar. Na adolescência, se
afastou da fé, tornando-se amante dos prazeres e da vida fácil, mas mesmo assimrevelava uma forte e constante força de vontade nos momentos difíceis.
No ano de 1883, Beato Charles partiu para o Marrocos em uma perigosa exploração,na qual o testemunho de fé dos muçulmanos despertou nele muitos questionamentos:“Mas Deus existe?”, “Meu Deus, se Tu existes, faça com que eu Te conheça”.Retornando à França, foi recebido com carinho por sua família, profundamente cristã, e
procurou um sacerdote que o ajudou. Assim, foi guiado por padre Huvelin e reencontrouDeus em outubro de 1886, com 28 anos de idade. A sua afirmação depois da conversãoé muito bela: “Como acreditei que Deus existe, compreendi que não podia fazer outracoisa se não viver para Ele.” Uma peregrinação na Terra Santa o ajudou a entender suavocação: “Seguir Jesus Cristo na vida de Nazaré”. Depois disso, continuou o seudiscernimento, vivendo sete anos na Trapa, primeiro em Nossa Senhora das Neves e emseguida em Akbès, na Síria. Depois de tantas inquietações, ele se transferiu para Nazaré,
passando a viver em oração e adoração ao Santíssimo, em uma grande pobreza, nasdependências do Mosteiro das Irmãs Clarissas, de Nazaré, onde era o jardineiro.
Ele viveu na total simplicidade, e em seus escritos encontramos a seguinte afirmação:“A minha vocação é imitar o mais perfeitamente possível o Senhor Jesus na sua vida
oculta e escondida de Nazaré.” Ordenado sacerdote aos 43 anos na Diocese de Viviers,na França, ele se transferiu definitivamente para o deserto Algerino do Sahara, primeiroem Beni Abbés, vivendo pobre entre os pobres, depois no sul de Tamanrasset, com osTuaregues do Hoggar. Viveu uma vida de oração, meditando continuamente as SagradasEscrituras, no insistente desejo de ser para cada pessoa humana o “irmão universal”, vivaimagem do Amor de Jesus.
O seu sonho desde Nazaré era compartilhar a sua vocação com os outros. Depois deter escrito muitas regras sobre a vida religiosa, pensou esta: “A vida de Nazaré”, que
poderia ser vivida por todos e em todos os lugares. Ele procurava uma vida que oaproximasse o máximo possível da vivida por Jesus – uma vida sóbria, pobre, essencial,no meio de gente simples, uma vida consumada. Foi com essa lucidez e intuição, e comsurpreendente determinação, que o irmão Charles partiu para Nazaré para viver asornadas que Jesus viveu. Escolhera a vida simples e ordinária de Nazaré como estilo,
porque se sentia complacente com o seu estilo de vida, o seu modo de enfrentar todas asrealidades.
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Charles de Foucauld iniciou em Nazaré a sua procura pela vontade de Deusinterrogando a própria vida, a história passada, a geografia, as culturas, as religiões. Eleacreditava que a vontade de Deus poderia ser conhecida não somente com a oração, mastambém escutando a própria existência, penetrando-a, entrando na vida das pessoas,entrelaçando relações, conhecendo situações de pobreza e fragilidade e assumindo a
própria responsabilidade pelo dom recebido: a vida. Charles de Foucauld tinha umaíndole ativa de explorador, de procura, que certamente o ajudou a elaborar e delinear a
própria história, aquela na qual o Verbo se fez carne, e que para o irmão Charles era o“lugar” propício para o conhecimento de Deus e oportunidade de salvação para oshomens.
Em Nazaré, Charles de Foucauld aprendeu a obediência, que consistia em “ocupar-sedas coisas do Pai”, e a escutar a voz da vontade de Deus tendo o olhar em Jesus, que
procurou, sobretudo, a vontade do Pai. Em Nazaré, o irmão Charles aprendeu a ser fiel a
Jesus e ao Pai. Jesus era um nazareno, e por isso um “segregado” de Deus, “umreservado de Deus e para Deus”, este é o senso de “Nazireo” (nazareno) queencontramos no livro do profeta Isaías 42,6 e Isaías 49,6, nos passos que nosapresentam a missão do Servo de Javé.
Deste significado de Isaías deriva Nazaré, que indica a disponibilidade total de Jesusao Pai. Quando Jesus compreendeu isto, decidiu não continuar vivendo em Nazaré e setransferiu para a cidade de Cafarnaum, vivendo no mesmo estilo, na simples casa doapóstolo Pedro: “O Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8,20). Esteepisódio também acontecera com Charles de Foucauld, quando deixou Nazaré para viver
o seu significado em outro lugar, onde o Senhor o chamava. Assim, Nazaré se tornou umestilo de vida, de onde o Pai das misericórdias envia os Seus filhos aos confins domundo, para anunciar a salvação.
Esta é a missão de cada um de nós, queridos amigos de leitura. Nazaré é a sua casa,seu trabalho, a sua família, seus filhos, seus amigos, sua história, sua vida. Ela é Amor deDeus, é Eucaristia, é Palavra, é amor cristão que se exprime. Isso pode ser, claramente,constatado na vida do Beato Charles de Foucauld, que nos últimos tempos baseava-se na
perspectiva do cuidado com o próximo, no desejo de levar a humanidade à conversão, na
necessidade de ir ao encontro dos abandonados, de estar com eles, de desenvolver entreeles a caridade, com um espírito familiar, com aquele cuidado que os pais reservam paraos próprios filhos.
A vida de Nazaré torna-se uma meta, pois ela é o modelo de vida a se imitar. Sendoassim, Beato Charles se comprometeu a viver no serviço a Deus e ao mundo, em umasimples, pequena e grande vida que ele propôs para si mesmo e para os outros e que
propõe a cada um de nós, para contribuir no anúncio do Reino do Pai. Hoje a família
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espiritual de Charles de Foucauld é composta por associações de fiéis, comunidadesreligiosas e institutos seculares de leigos e sacerdotes distribuídos em diferentes partes domundo. Em Nazaré, temos a presença das pequenas irmãs de Jesus e dos “pequenosirmãos de Jesus caritas” que cuidam da antiga foresteria (hospedaria) do mosteiro dasirmãs Clarissas, onde viveu o Beato Charles de Foucauld, lugar santo visitado por muitos
peregrinos todos os dias.
Oração do Abandono, de Charles de Foucauld
Meu Pai,
eu me abandono a Ti,
faz de mim o que quiseres.
O que fizeres de mim,
eu Te agradeço.
Estou pronto para tudo, aceito tudo. Desde que a Tua vontade se faça em mim
e em tudo o que Tu criaste,
nada mais quero, meu Deus.
Nas Tuas mãos entrego a minha vida.
Eu a Te dou, meu Deus,
com todo o amor do meu coração,
porque Te amo
e é para mim uma necessidade de amor dar-me,
entregar-me nas Tuas mãos sem medida,
com uma confiança infinita,
porque Tu és...
Meu Pai!
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Uma família de NazaréChegando a Nazaré no ano 2013, depois de ter deixado Jerusalém com tantas
amizades, fui acolhido por muitas famílias da nossa paróquia latina, uma acolhida quechamarei de Mariana e Josefina. Gestos, visitas, palavras de boas-vindas com tanta
sinceridade e afeto, que me fizeram imediatamente me sentir em casa, acolhido e amado.Dentre estas famílias, conheci a família Karam, uma família que morava no exterior
e que, já há alguns anos, retornara para Nazaré. Uma belíssima família, que chamarei“normal”, mas com um testemunho de fé digno de ser apresentado aqui na nossa escolade Nazaré, na nossa escola do Evangelho. Sempre me impressionou muito o fato de que,quando trazemos testemunhos, muitas vezes, trazemos famílias ou pessoas que fazemcoisas extraordinárias, ou pouco acessíveis para a maioria das pessoas normais. Por issoescolhi apresentar-lhes esta família “normal”, que vive a fé no cotidiano aqui de Nazaré,vivendo e crescendo na experiência cristã, na vida de todos os dias: o pai Habib Karam,51 anos, a mãe Gosayna Karam, 46 anos, e os cinco filhos: Akram Karam (morto aoscinco meses de idade), Christopher Karam, vinte anos, Matthew Karam, dezessete anos,Serene, quinze anos, e Katrina Karam, oito anos.
No dia 15 de outubro de 1993, este casal passou pela dor da perda de um filho, quemorreu prematuramente, o pequeno Akram, que os deixou na tenra idade de cincomeses. Este evento marcou profundamente a vida desta família, que experimentou a dor humana da morte de um filho; no entanto, ainda conservam como dom precioso uma dasúltimas fotografias de Akram, na qual se entrevê a imagem da Virgem Santíssima. A
presença de Akram é constante nesta família – na lembrança, na memória de cada umdeles –, na qual o significado da sua breve existência foi compreendido e acolhido alémdas palavras e do entendimento humano.
Depois de 24 anos de matrimônio, o ícone evangélico que ainda introduz esta famíliaazarena é o Evangelho de Mateus, o qual fala de José.
Ele levantou-se, com o menino e a mãe, e entrou na terra de Israel. Mas quando soube que Arquelau
reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Depois de receber em sonho um
aviso, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu
para se cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado nazareno” (Mt 2,21-23).
Em uma conversa que tive com esta família, Gosayna me contou seu testemunho:
Quando ambos éramos jovens, imigramos para fora do país, fora de Nazaré, mesmo que ambos
tivessem nascido aqui. Meu marido imigrou para os Estados Unidos; e eu, para a Austrália. Depois do
nosso casamento, fomos viver nos Estados Unidos, e ali nasceram os nossos quatro primeiros filhos.
Mas depois de muitos anos longe de Nazaré, foi vontade de Deus retornar à casa, para a nossa cidade,
Nazaré, com os nossos filhos, que naquele tempo ainda eram pequenos. O nosso filho mais velho,
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Christopher, tinha sete anos; Matthew, quatro anos, Serene tinha um ano e meio, e Katrina já nasceu
aqui, veio como um dom do Amor de Deus, como um presente após o nosso retorno. Ainda nos
comove a data do nascimento de Katrina, no ano de 2006, na mesma data do nascimento do nosso filho
Akram, nascido em 7 de maio de 1993 e falecido cinco meses depois. Não acreditamos que tenha sido
uma coincidência; Jesus quis nos dizer algo após a nossa volta aqui para Nazaré. E nós nos sentimos
assim, em paz por estar na Terra Santa. Nós a chamamos de terra da paz, não política, “somos uma
família que vive em paz, em uma terra sem paz”, porque nós somos assim abençoados por estar em
Nazaré. Temos o exemplo perfeito para nós, como família cristã, para seguir na nossa vida cotidiana
como marido e mulher, com nossos filhos, no modo no qual nós educamos os nossos filhos na fé.
A família Karam voltou para Nazaré não por motivos políticos, nem mesmo por motivos econômicos, pois, economicamente, eles eram bem-sucedidos nos EstadosUnidos, mas sim por um motivo espiritual, ou seja, a espiritualidade de Nazaré, aespiritualidade da Sagrada Família. Sobre este propósito, a mãe continuou:
Sim, sim, e quando se segue o exemplo e se ouve a vontade de Deus, se encontra sempre a paz na vida,qualquer que seja a situação, se encontra sempre a paz, e este é o dom que o Senhor Jesus dá a nossa
família, aos nossos filhos. Somos muito abençoados por viver na terra onde Jesus e Maria caminharam;
por viver na mesma c idade. É uma graça especial para a nossa família.
São José, pai da Sagrada Família, pode ser um modelo para todos nós como é paraHabib e como também é para todas as famílias, como no exemplo do caminho daemigração para retornar à própria terra. O exemplo de José pode ser considerado deajuda, pois estava sempre por trás, cuidando, protegendo. Neste momento de nossaconversa, espontaneamente, Habib tomou a palavra:
Quando disseste que retornamos… foi uma decisão que levou muito tempo, uma decisão que tomamos
juntos. Quando disseste que São José está por detrás, me sinto sim com a missão de estar por detrás às
vezes, mas certamente com a responsabilidade de transmitir o dom da fé aos nossos filhos. E tudo vem
do nosso estar aqui; penso que isto tem a ver com o estar aqui. Quando vivíamos fora do país, a nossa
fé não era tão forte, e penso que, quando voltamos para Nazaré, reforçamos a nossa fé. Realmente, é
um privilégio viver aqui, onde viveu a Sagrada Família.
Este exemplo da família Karam se constata todos os domingos com a sua presençana Missa paroquial, aqui em Nazaré, mas não somente nas missas, como também emvários eventos: todas às quintas-feiras, na adoração Eucarística, em frente à casa de
ossa Senhora; nos rosário das terças-feiras, meditando os mistérios de Nazaré; e na procissão das velas, todos os sábados à noite. Uma presença discreta, humilde esilenciosa junto aos peregrinos. A beleza de vê-los unidos na oração me faz contemplar aSanta Família de Nazaré, mas ainda mais me edifico em vê-los sempre na primeira filanas obras sociais e de caridade da Paróquia e da Basílica da Anunciação.
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Dialogando ainda sobre a presença das famílias na vida eclesial, Habib continuou:
É verdade! Aquilo que encontramos, e de que as pessoas muitas vezes não são conscientes, é que a
família é uma pequena igreja; e quando você se torna consciente de que a sua família é uma pequena
igreja, começa a olhá-la de um modo completamente diferente. Porque esperamos que todos, um dia,
estejamos frente a Deus, e Ele nos perguntará o que fizemos na nossa pequena igreja. A primeira missão
para nós é cuidarmos dos nossos filhos, eles, primeiramente, são “filhos de Deus”, porque foi Ele quem
nos deu, e se os tratamos bem, e os fazemos crescer bem, amando-os do melhor modo possível, então
nós estamos somente restituindo o dom que Deus nos deu. Também descobrimos que, apesar de todos
os desafios que enfrentamos em viver em Nazaré, a nossa fé é a fonte e a força para superarmos todos
os obstáculos que podemos encontrar, e isto é muito importante: podemos abrir a Bíblia em qualquer
parte e encontraremos sempre a resposta para os obstáculos e desafios que estamos enfrentando,
sabendo que Maria, José e Jesus encontraram dificuldades também. A vida deles não era simples, e isto
equilibra as nossas expectativas, porque a nossa vida não será fácil, como cristãos, mas nós temos a
fonte justa, temos a força que vem da Sagrada Família.
A este propósito, Gosayna completou:
Penso que são diversos os desafios que as famílias estão enfrentando, não importa em qual parte do
mundo. Há tanta pressão nos dias de hoje para que a família não seja família. A quantidade de marketing
e mídia que influenciam e dividem a família é muito grande. Portanto, o que precisamos é que a Igreja
alce a sua voz e diga às famílias: “Vocês são uma igreja e devem prestar atenção ao que isto significa”.
As pessoas e os casais são chamados a tomar consciência do que significa o Sacramento do
matrimônio e a beleza em vivê-lo. Se entenderem isto, se entenderem que os filhos são realmente um
dom de Deus, que os temos somente por um período de tempo limitado, e ainda se rezarem juntos,
experimentarão a força que vem do Alto, vivendo como uma família e não simplesmente como pessoas
que vivem sob o mesmo teto.
E quando falamos do exemplo da Sagrada Família como escola do trabalho, Habib pediu a palavra:
Eu trabalho todo o dia, mas minha mulher trabalha meio período, dedicando, assim, mais tempo aos
filhos, e com a sua fé passa mais tempo com eles. É neste modo concreto e ordinário que transmitimos
a nossa fé a eles. Isto ajuda a nossa família a viver em harmonia e em uma plenitude de felicidade...
Outra coisa que quero acrescentar é que somos uma família que reza junto, que vai à igreja junto, e isto
nos ajuda a nos manter como família, porque, como se diz: “Família que reza unida permanece unida”.
Isto é o que fazemos.
O segundo filho, Christopher, estudante universitário em Tel Aviv, e que por duasvezes fez experiência missionária no Brasil, me fez o seguinte pedido: “Ajude-me, frei,ensine-me como posso estudar em Tel Aviv e servir a Jesus... eu quero ser um servo doSenhor”. Fiquei edificado em escutar tal frase pronunciada por um jovem de apenasvinte anos, aqui de Nazaré, que deseja ser cristão na vida laica, namorando, estudando,
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trabalhando, seguindo o exemplo da Sagrada Família de Nazaré e da sua própria famíliade Nazaré, o pai Habib e a mãe Gosayna, na vida “Ordinária” e “Cotidiana” de Nazaré.
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Viver Nazaré Na tentativa de concluir este capítulo baseando-se nas reflexões até aqui realizadas,
no recuperar o gosto da vida, da simplicidade das pequenas coisas, no redescobrir o valor do cotidiano, colocar-se à disposição de todos, todos os dias, é realmente uma sabedoria,
é oração, anúncio, o fundamento essencial para sermos abertos ao Evangelho, é o únicoe verdadeiro modo com que podemos encontrar a verdadeira vida. Viajando em minhaimaginação, imagino a cena cotidiana da vida de uma família que procura permanecer unida, apesar de tudo; da vida do homem que com criatividade encontra novos modos
para desenvolver as suas próprias capacidades; as mãos de uma criança que procura ados pais; os olhos necessitados dos que sofrem e pedem ajuda; de famílias que procurama Igreja em busca de acolhimento. Quantas outras imagens cada um de nós poderia aindaacrescentar, na intuição do nosso cotidiano.
Que cada um de nós, que cada família, encontre na escola do Evangelho de Nazaré amodalidade essencial na procura da face de Cristo. E que, até mesmo no meio das
provações, dificuldades e preocupações, aprendamos a colocar em primeiro lugar o Pai.Mas atenção: os Evangelhos são livros abertos – terminam com um ponto, mas não têmum fim. O Verbo continua a se fazer carne na história ordinária dos homens e dasmulheres, no grande Livro da Vida.
Deus, nosso Criador e Pai, Tu quiseste que Teu Filho Jesus, gerado antes doamanhecer do mundo, se tornasse um membro da família humana; reaviva em
nós a veneração pelo dom e mistério da vida; e que os pais possam participar da fecundidade do Teu amor, e os filhos possam crescer em sabedoria, idade e graça, dando louvor ao Teu Santo Nome.
Amém.
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A Sagrada Família, dom e projeto deSalvação
este capítulo, querido(a) amigo(a) e companheiro(a) nesta aventura doconhecimento de Jesus por meio da Sua Sagrada Família, gostaria de compartilhar
a seguinte afirmação, que penso ser de extrema importância para o conhecimento donosso Mestre: “Jesus não é somente o salvador, mas é a própria Salvação”. Portanto, aSua vida familiar, vivida por trinta anos na casa de Nazaré, também é Salvadora.
Igualmente como se afirma de Jesus, pode-se também enfatizar, em senso analógico,a imensa importância da vida santificada e santificante de Maria e José, pela participaçãosingular na obra da Redenção. No desígnio de Deus, a salvação é fruto não somente da
morte de Cristo na cruz, mas também de toda a Sua vida, inclusive a vivida em Nazaré,na convivência cotidiana com Maria e José. Trata-se de uma salvação que, ao mesmotempo, é dom e projeto que requer a colaboração dos homens salvos, e esses primeiroscolaboradores foram Maria e José.
A colaboração à obra de salvação de Cristo é transmitida através da realidade, dosgestos, das situações difíceis e belas da experiência familiar. Existe, então, um dom degraça que emana da Sagrada Família de Nazaré a todas as famílias do mundo, pelo qualtodas elas são chamadas à salvação. É um dom que germina dos valores e daquelasexigências da vida familiar que fizeram parte da experiência cotidiana de Jesus com Mariae José, em Nazaré. Deste modo, molda-se uma “presença” invisível, mas real e eficaz;força da qual a Família de Nazaré não é somente um “protótipo e exemplo”, mastambém uma proteção para todas as famílias.
Entende-se, assim, a urgência, a necessidade, a profundidade e a originalidade de seretornar à Sagrada Família, de imitá-la, rezar com ela pedindo a sua intercessão nos
problemas da vida conjugal e familiar. Penso que seria importante recordar o magistériode São João Paulo II sobre a Família de Nazaré na sua inevitável influência sobre asfamílias cristãs atuais, em um ensinamento de continuidade e renovação. Continuidade
porque o Papa santo fez tesouro dos ensinamentos tradicionais da Igreja, que semprecontemplou a Família de Nazaré como o modelo exemplar e a celeste proteção para asfamílias cristãs fundadas no amor e na responsabilidade para com o mundo e a Igreja. Derenovação porque São João Paulo II se apoiou nos ensinamentos intensos e originais doConcílio Ecumênico Vaticano II e do Beato Paulo VI, enfatizando e intensificando, comforça doutrinal e com estratégia pastoral, a realidade familiar, frequentemente dependentedas contradições do tempo e da sociedade pós-moderna.
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As grandes mudanças sociais que deram novas características históricas à sociedade,a qual chamamos de moderna, e que ainda contribuíram para o seu nascimento,interferiram também na família, envolvendo-a em um processo de transformações,refletindo em sua missão na sociedade. Essas transformações deram início a muitasfragmentações e desorientações. Nessa passagem cultural entre modernidade e pós-
modernidade, podemos constatar transformações de regras das ciências, da literatura e daarte, levando, porém, a uma forte perda do pensamento e influindo, assim, no conceitode família como núcleo da sociedade.
Mas a família, mesmo neste contexto de fenômenos disjuntores, continua a ser olugar de pessoas unidas pelo sacramento do amor, dedicadas a dar prosseguimento, naexperiência pessoal e comunitária, à desafiante tarefa do projeto do Deus Trinitário paraa família humana, especialmente para a família cristã. Projeto de harmonia eresponsabilidade na procura dos cônjuges e filhos em exprimir o “dom sincero do amor”,
no qual o exemplo da Sagrada Família é excessivamente atual. Tudo isso é exprimido por São João Paulo II na exortação Gratissimam Sane, de 2 de fevereiro de 1994, que exaltao matrimônio e a família como componentes essenciais da sociedade na civilização doamor, dom de Deus, ameaçado pela cultura de morte, que faz com que o homem não sereconheça como dom, gerando dinâmicas de ruptura e de divisão.
Emerge, assim, a urgente missão da Igreja em repropor com coragem a verdadeirahistória do amor puro, na verdade e na beleza, como dom de si mesmos, encontrando naSagrada Família de Nazaré o ícone e o modelo de toda a família humana, conformeafirma Papa Francisco ao convocar o Sínodo dos bispos com o tema “Os desafios
pastorais da família no contexto da evangelização”, no qual expressa que, no decorrer dos tempos, Cristo sempre será o redentor, Filho de Maria, e, em virtude da genealogiade Davi, Filho de José, nosso irmão universal, com o Seu Evangelho de caridade, quenão pode ser um obstáculo à unidade, mesmo na legítima diversidade da família humanafundada no amor.
Do exemplo de Cristo, São João Paulo II ainda afirma que existe um conviteuniversal e presente, no qual cada homem e cada mulher de boa vontade tem a sãresponsabilidade de acolher, de transmitir um ensinamento válido para cada família
humana, que coincide com a atual convicção de que a “essência do amor e da família édefinida pela doação”. É o amor que define, para nós, cristãos, a identidade e a obra deDeus na Trindade, conscientes de que a Santa Família de Nazaré define e constitui aidentidade de toda família cristã. Por isso, nas páginas seguintes, meditaremos a presençada Família Santa de Nazaré no mistério da Encarnação Redentora.
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participação da Família de Nazaré na história daedenção
Tudo o que falamos até agora está fundado e reconhecido na Escritura, com precisãono Novo Testamento, onde Deus, pelo dom da Sua graça, chama as criaturas a
colaborarem na atuação salvadora por meio de Cristo. Fazendo referência ao seu próprioministério e de seus companheiros, São Paulo não hesitou em afirmar: “Somoscolaboradores de Deus” (cf. 1Cor 3,9).
O Concílio Vaticano II recorda que a Igreja é chamada pelo Espírito Santo a cooperar para que seja realizado o plano de Deus, o qual constitui Cristo como princípio deSalvação para o mundo inteiro ( Lumen Gentium, 17). Entre todos os membros do Corpomístico de Cristo, Maria de Nazaré é o membro “preeminente”. Sem dúvida, é aquelaque, por sua fé ardente, caridade e obediência, colaborou da forma mais intensa na
atuação do projeto salvador de Deus, e de modo único no que se refere à Encarnação e àobra de Redenção do Verbo, evento que comprometeu também José de Nazaré, defensor do Redentor e esposo da Mãe de Jesus.
Não podemos deixar de fazer referência à natural origem do homem e da mulher, osquais foram orientados a não permanecerem fechados a uma simples relação dereciprocidade: “Frutificai e multiplicai-vos” (cf. Gn 1,28). No matrimônio-sacramentonasce e se constitui a família aberta à redenção, à acolhida e à educação dos filhossegundo o plano de Deus. E isto se realizou em plenitude também no matrimônio deMaria e José, tema que meditaremos em breve. Depois desta importante afirmação, nos
deixemos iluminar pela importante observação de São João Paulo II, na ExortaçãoApostólica Redemptoris Custos, 6: “Na Família de Nazaré, ‘a Encarnação e a Redençãoconstituem uma unidade orgânica e indissolúvel’”.
Maria e José, que até então eram desconhecidos na Galileia, a serviço de DeusTrindade, fizeram da própria vida e de comum vontade o viver juntos em matrimônio, ea transformaram em um “espaço” de acolhimento, na ordem da Redenção na famíliahumana, do eterno Verbo do Pai, no qual o ingresso desejado e determinado pelavontade do Deus Trindade foi concretizado também mediante o convicto “sim” dos dois
membros da Família de Nazaré.Este extraordinário evento de graça e liberdade, de divindade e humanidade, de
promessa e cumprimento, relembra todas as gerações. É comovente escrever estasverdades bíblicas e teológicas, aqui, no lugar histórico desta constituição da famíliahistórica do Verbo humanizado, encontrado na família humana de Nazaré, protótipo detoda a humanidade. Porque Ele, juntamente com Maria e José, investidos do dom dagraça de uma virgindade fecunda, maternidade e paternidade, fizeram com que a família
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humana não fosse mais a mesma: “o grande mistério” do amor Trinitário com a plenitudedos tempos (cf. Gl 4,4) renova a humanidade de forma original e profetizada (cf. Is 7,14;Mq 5,1-3; Mt 1,18-25). Assim, constitui-se a Nova Aliança, pacto não mais realizado nomonte santo, mas na casa de Nazaré, como afirma, com comoção, São João Paulo II, noGratissimam Sane, 20: “Na casa de Nazaré, ‘a família coloca-se assim
verdadeiramente no centro da Nova Aliança’”.O matrimônio de Maria e José exprime o modelo excepcional de uma exemplar
história, que o Amor de Deus já havia iniciado com o primeiro casal: Adão e Eva. Elescom a desobediência rescindiram, por vontade própria, a comunhão com Deus. Eranecessário, então, restaurar aquela harmonia, comunhão e relação que tinha sidointerrompida no Jardim do Éden. O novo casal da história, Maria e José, obedeceu à vozdo Senhor, mas aqui necessito, novamente, enfatizar a enorme cooperação de São José,figura muitas das vezes esquecida, mas que, juntamente com Maria Santíssima,
participou deste mistério-evento, mesmo que sua maternidade não dependesse dele, jáque o que era gerado nela era obra do Espírito Santo: “Ora, a origem de Jesus Cristo foiassim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem aconviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,18).
Mas é justo ainda notar que para José viver, com coerência e com amor, a missão para a qual fora escolhido e chamado, ele teve que fazer a experiência da “kenosis”, ouseja, abrir mão da sua própria vontade, da sua paternidade humana, na adesão total àvontade de Deus, tornando-se, assim, um perfeito “anawi” (pobre de Javé), “pobre”como Maria, unindo-se ainda mais perfeitamente à Maria, Mãe do Filho de Deus. União,
ainda, no vínculo da mesma fé, que se encontrou e se harmonizou com aquela de Maria,tornando-se com ela depositário do mistério oculto por séculos na mente de Deus (cf. E3,9). São José também teve que peregrinar nos caminhos da fé, os mesmos percorridos
por Maria.À luz desta meditação, lembramos que, para toda família, o nascimento de um filho é
sempre motivo de alegria e de responsabilidade para toda a vida. Dom e responsabilidadeque são recordados no percurso do tempo, nas culturas e na fé, com o grande evento do
atal do Senhor Jesus: nascimento que motivou, de modo definitivo, a responsabilidade
da família humana na acolhida teológica e existencial da Trindade, iniciada em Nazaré eno Natal em Belém, onde a Sagrada Família constituiu a identidade e o exemplo paratodas as famílias da Terra.
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O matrimônio de Maria e José de NazaréÉ uma experiência única quando passo pelos quarteirões dos judeus de Jerusalém ou
aqui da Galileia e escuto os cantos nas festas de celebrações dos casamentos hebraicos.Eles recitam e cantam o Salmo 45:
Do meu coração nasce um lindo poema, vou cantar meus versos para o rei. Minha língua é como a
pena de um escritor veloz. Filhas de reis es tão entre as tuas prediletas; a rainha está à tua direita, vestida
com ouro de Ofir. “Ouve, filha, inclina o ouvido, esquece teu povo e a casa do teu pai” (Sl 45,2.10-11).
O casamento simboliza a dedicação do povo de Deus (noiva) e o Rei (o amor domarido). Da mesma maneira que uma noiva deixa os pais para morar com o marido, estaformosa noiva esquece seu povo e entra no palácio do Rei. Nisto, ela mostra a lealdadeao Senhor, deixando para trás as coisas do reino das trevas, habitando com Ele no
palácio real. Então, ela é abençoada para sempre.
O versículo 11 diz que o noivo cobiça ou deseja a beleza da noiva, usando aintimidade do casamento para descrever o Amor do Senhor para Seu povo purificado.Esta imagem nos convida a voltar ao pequeno povoado de Nazaré, onde José e Maria,“piedosos judeus”, modelados pela lei e pela espiritualidade da Aliança, tinham aconsciência de que o seu casamento, como aquele vivido por todos os outros judeus,tornava-se “um meio da revelação da Aliança de Deus com Israel”.
Esta participação, união e testemunho do casal de Nazaré são transmitidos pelomatrimônio, ou seja, mediante aquele sacro vínculo da caridade que uniu José àImaculada Virgem Maria. A este propósito, o grande Santo Agostinho é citado naExortação Apostólica Redemptoris Custos, 7, analisando a natureza deste matrimônio:“Situam-na constantemente na união indivisível dos ânimos, na união dos corações e noconsenso; elementos estes, que, naquele matrimônio, se verificaram de maneiraexemplar.” Este exemplo foi único e singular, porque foi vivido pelos cônjuges de Nazaréno total estado de “virgindade consagrada”, mesmo que, nos Evangelhos, José sejachamado “o esposo de Maria”; e Maria, “esposa de José” (Mt 1,16.18-20; Lc 1,27;2,5).De fato, reconhecemos que José é o verdadeiro esposo de Maria, e assim é o verdadeiro
pai do Filho de Deus. Mesmo que os Evangelhos afirmem que Jesus foi concebido por
obra do Espírito Santo, José é chamado o “pai de Jesus”, e por este motivo poderia dar onome ao menino (Mt 1,21). Este tema irei desenvolver nas próximas páginas.
Os Padres da Igreja e os teólogos, com o passar dos séculos, não deixaram de seocupar da natureza do casamento entre a Virgem Mãe de Deus e São José, descobrindocada vez mais sua importância tanto a nível Cristológico quanto sob os aspectos dasalvação eclesial. Daí a sua celebração litúrgica, que remonta ao século XV, e sua ampladivulgação entre dioceses e ordens religiosas.
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Para a maioria, a data que prevaleceu é 23 de janeiro; a escolha de outras datassomente indica a sua importância, de modo a não coincidir com outras celebrações. Ocasamento de Maria e José estava bem enraizado na economia da Encarnação: areferência ao casamento ocorre, de um lado, em toda a Escritura; a teologia da Igreja eda vida consagrada faz uso abundante da memória litúrgica do casamento de Maria e
José. No entanto, com demasiada frequência, sobretudo no campo teológico e pastoral,nós somos levados a fixar a nossa atenção mais ao tema da virgindade e maternidade deMaria do que ao aspecto do casamento, nos esquecendo de que, quando se realizou ogrande evento da Encarnação, o Evangelho já considerava Maria como esposa de José, oqual, sendo o seu verdadeiro esposo, introduziu na sua maternidade virginal o motivo dasua paternidade messiânica, que deveria ser assumida.
O casamento de Maria e José é e será exemplar, mas ao mesmo tempo também éfundamental no que se refere ao despertar da maravilha de sua singularidade. Do ponto
de vista legal e social, em primeiro lugar, o matrimônio entre Maria e José, de qualquer forma, foi um vínculo verdadeiro, mas realmente muito singular; em segundo lugar, a
particular ação da Virgem Maria, em vez de diminuir o valor do vínculo matrimonial,contribuiu para fortalecê-lo.
São Boaventura de Bagnoregio (1274), que nós amamos chamar de o “grande doutor sutil”, um dos frades menores franciscanos, canonizado logo depois do nosso fundador São Francisco de Assis, afirmava: “O amor de Maria foi regenerado pelo Espírito Santo;e José, obediente ao Espírito, reencontrou a fonte do amor, e foi este amor maior queaquele homem justo podia esperar na medida do mesmo coração humano.” O Espírito
Santo encontrou em Maria e José duas pessoas sensíveis e acolhedoras do plano divino,tanto que em Maria se pôde operar o grande dom gratuito da Encarnação do Filho deDeus. Assim, não é pensável que tudo o se refere ao matrimônio com José não tenhasido uma obra particular do “Pneuma do Espírito”, que significa sopro divino.
As palavras do anjo (cf. Mt 1,20) são atuais também para nós, que acreditamos, nostempos de hoje, que existem pessoas que ainda são céticas sobre o tema do matrimônioentre Maria e José, como dom verdadeiro e virginal. Isso demonstra uma deplorável“escassez de mente”, que em última análise ofende tanto a vontade de Deus Trindade
quanto a verdade e fecundidade teologal, ferindo, também, o histórico de salvação de ummatrimônio celebrado e vivido com total e recíproca doação de si mesmos na ordem documprimento do mistério da Encarnação Redentora do Filho de Deus, que veio entre oSeu povo para ser acolhido também através do evento matrimonial dos Seus pais.
Enquanto “as carências da mente” nos induzem facilmente a crer, com uma suspeitaimpossível, que no matrimônio de José e Maria o amor verdadeiro poderia ser compreendido, olhando por um aspecto demasiadamente devoto, desencarnado, em vez
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de pensar em um modelo de amor “vertical”, que separa Maria de José para outrasrelações mais espirituais, Ōrigénēs, o grande padre da Igreja nascente do primeiro século,na obra Contra Celsum 1,66, observa:
Era necessário que Jesus Encarnado vivesse de modo humano entre os homens, e se deixasse guiar por
aqueles que o acompanharam no seu crescimento humano (a nutritiis) não porque não se pudesse fazer de outro modo, mas sim porque deveria seguir a via ordinária (via et ordine).
A vida cotidiana de Nazaré é a garantia de um amor realmente incorporado nahistória, no tempo, no espaço e na vida.
José e Maria, esposos da Nova Aliança, inauguram por meio de Jesus, Filho eSenhor, em virtude da indivisível união das vontades, das mentes e das almas, umatotalizante realidade pessoal, que tem como base o amor recíproco, vivido integralmentena experiência do dom de si mesmos, e uma relação simples, fundamentada na liberdade,
beleza e virgindade fecunda do “Amor Ágape”, amor incondicional, baseado emcomportamentos e escolhas, sem esperar nada em troca.
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aria e José, “dom” um para o outroInicio este tema, que me permito chamar de comovente, recordando as pregações e o
comportamento de Jesus de Nazaré, que manifestava a verdade fundamental daresponsabilidade do homem para com a mulher, perante a sua dignidade e vocação à
maternidade. Certamente, Jesus experimentou esta realidade na Sua casa de Nazaré,onde Seu pai José e Sua mãe Maria viviam o dom do casamento na reciprocidade totaldeles mesmos. A este propósito afirma São João Paulo II na Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, 20:
No ensinamento de Cristo, a maternidade anda ligada à virgindade, mas é também distinta dela. A esse
respeito, permanece fundamental a frase dita por Jesus aos discípulos e inserida no colóquio sobre a
indissolubilidade do matrimônio.
De fato, um amor similar, em que a pessoa se torna dom um para o outro.
Maria e José, no “sim” que deram a Deus, viveram em um concreto amor recíproco.Se Maria realizou, até a perfeição, o “dom de si” a Deus, foi possível também a graça doconsenso e do dom que José fez de si mesmo. Eles, na liberdade e consciência, sesentiam unidos. O vínculo da caridade era tão perfeito a ponto de consentir a união dosdois aspectos do dom de si mesmos – a virgindade e o matrimônio –, segundo asexigências da divina presença em que este dom era finalizado. Reciprocamente confiadosum ao outro como pessoas, feitos à imagem e semelhança de Deus.
Em tal confiança estava a medida do amor conjugal, que se tornou, para ambos, umdom sincero, e assim se sentiam responsáveis por este dom. Esta medida era destinada atodos os dois, homem e mulher, desde o princípio. Este novo início que, por excelência,fora constituído da Encarnação do Filho de Deus, na qual temos uma nova criação dahumanidade, que em Jesus é a irradiação da glória do Pai e a comunicação da Suasubstância (Hb 1,3), conquista a sua mais íntima união com Deus. São Paulo, na cartaaos Efésios 5,32 aponta a unidade dos dois em relação a Cristo, à Sua Igreja, afirmandoo grande mistério que encontrará no matrimônio de Maria e José a sua referência ideal esimbólica, como o mesmo São Tomás de Aquino:
Este matrimônio é um símbolo da Igreja universal, que mesmo sendo virgem, é contudo esposa de
Cristo, seu único esposo. O amor da santíssima Família de Nazaré, Maria e José, foi a razão pela qual
eles foram constituídos custódios do amor divino, da suprema caridade, a única capaz de trazer ao
mundo o verdadeiro Deus, que eles nutriram e vestiram.
E por motivo deste amor, o mesmo Deus quis ser considerado verdadeiro Filho destematrimônio. Assim, nesta união conjugal entre José e Maria temos o sinal original esempre atual de uma amorosa doação criadora, dimensão indispensável como exemplo
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para a perseverança dos esposos e da família.Existe uma forte ligação entre o mistério da criação que jorra amor, que é o princípio
beatificante da existência do homem e da mulher, em relação à corporeidade e àcomunhão como pessoas. Nas primícias da redenção, encontramos José e Maria, osesposos de Nazaré, enriquecidos de todos os dons celestes necessários para a singular
missão de pais do Filho de Deus Encarnado e capazes de viver a comunhão conjugal (cf.Lc 2,41).
Na dimensão originária e exemplar da criação, estes foram e continuam sendo para ahumanidade o sacramento renovado do amor original, que é o puro e desinteressado domde si mesmos, na plena consciência de serem queridos pelo Criador, cada um por si, euntos por Cristo, em que eles mesmos encontram o próprio dom. Em Maria e José se
realizou totalmente o que para o primeiro casal do Éden (Adão e Eva) ficou somentecomo ideal. José foi um executor obediente do comando divino: “José, Filho de Davi,
não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do EspíritoSanto” (Mt 1,20b). José certamente acolheu sua esposa por aquilo que ela era e, por consequência, não a “conheceu”, pelo pleno respeito do projeto de Deus sobre ela, queera diferente daquele de Eva. José e Maria viveram integralmente a experiência do ser “dom”, doando-se no amor sincero, vivendo de modo singular, na plenitude da mesmaliberdade do dom, que está na base do significado conjugal do corpo, ou seja, nacapacidade de exprimir o amor.
Penso que deveríamos propor, sem cessar, “a Família de Nazaré” como exemplo deatualidade, porque viveram no cotidiano o amor e a obediência à vontade divina, e pelo
fato de terem vivido constantemente um para o outro, conseguiram realizar completamente aquilo em que os primeiros cônjuges da humanidade tinham falhado,
permanecendo somente como ideal; ideal falido pelas recíprocas acusações e divisão. Aexperiência do dom recíproco, de fato, caracterizou, de modo original, o vínculomatrimonial de José e Maria de Nazaré.
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O dom “esponsal” de Maria e José: a realização do serviçoa Cristo e à Sua Igreja
Toda a Igreja apostólica e pós-apostólica sempre atribuiu a São José o título deesposo de Maria, professando que entre a Virgem Maria e seu esposo existia um vínculo
conjugal que foi estreito e cordial; vínculo interpretado à luz do “amor ágape”. Ocomportamento virtuoso de José para com Maria acentua principalmente o granderespeito e amor para com o “Verbo de Deus”, encarnado no ventre de sua esposa. No
passado, por motivo de uma apologética defesa da virgindade de Maria, a figura de Josésuscitou invenções, que contribuíram para deformar ou banalizar a sua figura. Somosconvidados a voltar aos Evangelhos, no evento da Salvação, e à mensagem de alegria donascimento do Salvador, que escolhe a cooperação humana e cotidiana de Maria e deJosé. Mas ao mesmo tempo necessitamos admitir que estes equívocos favoreceram um
reduzido conhecimento da doutrina no que se refere à real natureza do matrimônio. Oamor conjugal que existe entre José e Maria é a máxima manifestação do amor verdadeiro e puro do querer-se bem.
Quando não existe o amor profundo, mas a busca da satisfação do próprio eu, oamor ágape, a amizade é substituída pela concupiscência. Admiro muito e proponho adistinção de São Tomás de Aquino, na suma teológica, entre a amizade e aconcupiscência:
Não um amor qualquer, mas somente aquele acompanhado pela benevolência tem a natureza da
amizade, quando amamos e desejamos o bem. Se ao contrário, queremos o bem do outro para nósmesmos, não temos o amor da amizade, mas da concupiscência. Por isso o afeto e o amor um para
com o outro deve ser como uma coisa só. Isso é querer bem como a si mesmo.
Como é belo conceber a ideia de que São José não somente esteve ao lado de Maria,mas também estava totalmente comprometido com todo o mistério que a envolvia,tornando possível, assim, a visita de Deus à humanidade através da Encarnação. Joséestava com Maria, mas estava também participando da revelação de Deus em Cristo,sustentando sua esposa na fé da divina Anunciação, e ainda podemos dizer que foi o
primeiro que se colocou na peregrinação de fé com ela.São José, desde suas origens, é apresentado pelos evangelistas como aquele que
assumiu uma função importante no plano da Salvação juntamente com Maria. Omatrimônio dos dois jovens de Nazaré reforçou o chamado para preparar o caminho paraCristo, Filho único do Pai. E eles foram totalmente abertos à união conjugal, na qualDeus os chamou à paternidade e à maternidade, totalmente nova para o gênero humano.A resposta de José e a de Maria foram imediatas e correspondentes ao chamado divino:
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os dois, além de tudo, se sustentaram reciprocamente no fazer-se dom a serviço do Filhode Deus.
Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa (Mt 1,24).
Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo retirou-se
de junto dela (Lc 1,38).
É neste ponto que começo a imaginar o que você, caro leitor, estará intuindo comestes capítulos, nos quais gostaria de apresentar-lhes a Sagrada Família de Nazaré noserviço único ao Salvador e à Salvação; vida que interessa muito aos casais cristãos, que
podem se perguntar como testemunhar o matrimônio no amor, na estima, na ternura e narecíproca corporeidade da união conjugal. Como esposos, José e Maria são modelos.José creu, aceitou e acolheu Maria. Em concordância com a lei dos homens, tornou-se“pai” de um menino que se chama “Jesus”, o Messias, o herdeiro universal.
Em conclusão a esta meditação, vamos ao centro da nossa reflexão, que é “Jesus”.As notícias que os Evangelhos nos passam do tempo em que Jesus passou com os Seus
pais em Nazaré não são muitas, mas permitem entender que Ele teve uma vida comum,como todos os concidadãos judeus do Seu tempo.
Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor, eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na
Galileia. O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele.
Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a eles. Sua mãe guardava todas estas
coisas no coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens
(Lc 2,39-40.51-52).
A comunhão de vida e de obediência à vontade do Pai, vivida intensamente por Jesusna casa de Nazaré, levou José e Maria a avançar sempre mais na peregrinação da fé e nacorrelativa esperança. A extraordinária relação entre Maria e o seu Filho tambémenvolvia José. Todos os membros da Sagrada Família viveram a beleza e o compromissodo dom sincero de si, mesmo que gradualmente e de forma diferente, levando-os àreciprocidade e ao acolhimento à vontade salvadora do Pai celeste.
Ó Deus, nosso Pai, que na Santa Família de Nazaré nos deste um verdadeiromodelo de vida, faz com que as nossas famílias floresçam nas mesmas virtudese no mesmo amor, para que, reunidos espiritualmente aqui na Tua santa casade Nazaré, possamos experimentar a alegria sem fim.
Faz com que as nossas famílias vivam na Tua amizade e na Tua paz, tendocomo modelo a Sagrada Família de Nazaré e, assim, vivendo a beleza dareciprocidade no serviço à vontade Salvadora do Pai.
Amém!
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Sagrada Família de Nazaré, inspiração da Igreja doméstica
a Sagrada Família de Nazaré, o casal José e Maria experimentou a alegria docompromisso da própria paternidade e maternidade para com o Filho de Deus. Na
vida humana, quando os casais se tornam pais, eles se tornam, com todo o respeito, maisunidos, mais casal, mais responsáveis. A graça de colocar um filho no mundo é fruto darecíproca doação das próprias vidas, na qual a vida doada vem reencontrada, de umcerto modo, no filho, que passa a fazer parte dos dois com a sua existência, os seusdireitos, as suas necessidades, o seu futuro, a sua pessoa como um “tu”, no “nós”conjugal e familiar.
Realmente, meditar o mistério da vida humana nos transporta a um clima de oração ede ação de graça. Ao se transmitir a vida a um novo “ser humano”, se insere na órbita do“nós dos casais” uma pessoa que eles chamarão com um nome novo: “nosso filho”. O
processo de concepção e do desenvolvimento no ventre materno, do parto até aonascimento, serve para criar um espaço adaptado para que uma nova criatura possa semanifestar como “dom”.
Maria e José, obedecendo à voz do mensageiro celeste, deram o nome “Jesus” ao próprio filho, “nome que está acima de todos os nomes” (Fl 2,9), e a Ele se dedicaramtotalmente, com a consciência de que dar o nome significava fazer um serviço a Deus,que os chamou à vida e à missão de Salvação do Seu primogênito, descobrindocotidianamente a identidade e a missão do Filho de Deus, o único que sabia em
profundidade quem era Jesus.A Família de Nazaré foi o espaço ideal para o Filho de Deus, o Filho da Virgem e de
José, no qual o Filho da humanidade redimida foi acolhido, cuidado, servido e amadocomo o grande dom de Deus. O amor doado e retribuído entre pais e filhos se realizounos membros da Sagrada Família como em cada ser humano amado e capaz de amar,capaz de modificar e consolidar a própria identidade, favorecendo a capacidade de
instaurar relações íntimas, autênticas, consequência de um amor maduro, capaz de seabrir como dom, em especial, na dimensão de projeto para o homem.
Eu amo intitular Nazaré como o lugar especial do projeto. Aqui, o Amor de Deus seconcretiza no Seu projeto em Jesus e na dimensão fundamental da família cristã,concebida fundamentalmente como lugar e espaço na acolhida do Mistério. Maria e José,acolhendo Jesus Cristo como parte essencial da própria experiência teologal-esponsal efamiliar, são o exemplo atual da fecundidade espiritual da família como lugar de acolhida
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do evento de Deus conosco. Até este momento, nós meditamos o dom da SagradaFamília como projeto de Deus na obra Salvadora em Cristo e o serviço e a cooperaçãohumana de José e Maria. Nas próximas páginas, quero voltar a atenção para algumascaracterísticas da Sagrada Família como exemplo para a “família Igreja doméstica”, o seu
papel como base para construir aquela que nós podemos definir como uma família
segundo o Evangelho.Partindo dos Evangelhos, de fato, reconhecemos que a Sagrada Família de Nazaré
foi uma “família de amor e de oração”, profundamente apaixonada pelo Pai celeste,vivendo plenamente na Sua vontade, no cumprimento dos Seus mandamentos e na Sua
providência (Mt 1,24; Lc 1,38; 2,49). Observando a vontade do Pai, os mandamentosforam o único guia no caminho de José e Maria; tanto que se transformam até emalimento cotidiano para Jesus: “Jesus lhes disse: ‘O meu alimento é fazer a vontadedaquele que me enviou e levar a termo sua obra’” (Jo 4,34).
Na casa de Nazaré, Deus ocupa o primeiro lugar porque é o princípio, o coração e ameta de tudo. E foi aqui, nesta simples casa, a poucos metros de onde estou escrevendoestas páginas, o Santo Lugar, onde se manifestou o grande amor para com as “coisas doPai” (Lc 2,49), onde Jesus, Maria e José manifestaram, na cotidianidade da vida, a plenacomunhão entre eles, até elevá-la a uma incessante oração de louvor e de adoração aDeus.
Sabemos ainda, através dos Evangelhos, que esta profunda comunhão com Deus nãoos poupou das grandes provações. A Família de Jesus foi realmente uma “família
provada” e não privilegiada por causa da peculiar missão a eles confiada. A Sagrada
Família, por causa da missão de Jesus, sinal de contradição (cf. Lc 2,34), conheceu a pobreza, a dor (Lc 2,7; 4,28; Jo 19,25). Eles tiveram que abraçar a cruz a cada dia (Lc9,23) e caminhar nas vias do Senhor, nas quais aprenderam no âmbito da sua famíliaterrena aquilo que testemunharam com a própria vida. Jesus não se limitou somente aoanúncio, Ele sempre colocava em prática o que anunciava. De fato, Jesus não somente
proclamava, mas, antes de tudo, vivia.A Família de Nazaré teve a delicada e apaixonante missão de educar Jesus na Sua
humanidade como verdadeiro homem, executando a árdua tarefa de “família educadora”.
Como atesta o Evangelho, “Jesus crescia em todas as dimensões: intelectual, física eespiritual” (cf. Lc 2,52). Cresceu rezando, trabalhando, estudando na escola da família,aprendendo a fidelidade nas pequenas coisas (cf. Lc 16,10) e preparando-se para amissão do anúncio do Evangelho até a doação total da própria vida (cf. Ef 5,1-2), namissão de ir ao encontro dos pobres, dos simples, dos humildes, dos pecadores e dosustos, daqueles que estavam perto e daqueles distantes, para curar os corações feridos,
realidade que aprendeu com Sua Família de Nazaré, que ousamos chamar de “família
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aberta” por vocação. Da Sua família terrena, Jesus se abre ao anúncio real dafraternidade universal (cf. Mt 12,50; 23,8), concretizado com o nascimento da Igreja nodom supremo de Si, relevando assim ao homem a consciência de ser família de DeusPai.
Por trinta anos Jesus viveu em Nazaré santificando aquela família que seria a
primeira imagem da nova humanidade que Ele, o Senhor Jesus, regeneraria e fundaria: aIgreja nova. O relacionamento entre eles não foi baseado unicamente nos laços desangue, mas sim nos laços do Espírito. Desta família podem participar todos os homens,
porque é fundada no acolhimento do desígnio de Deus. Comovo-me em transcrever estas linhas, quando na minha mente e no meu coração ressoam as pequenas homiliasdiárias de Papa Francisco, nas quais ele convida a Igreja e todas as famílias, chamadasde “Igrejas domésticas”, a escutarem e acolherem a Verdade inovadora do Evangelho.
José e Maria, acolhendo a pessoa de Cristo, acolheram também a Salvação de Deus,
tornando-se “família de salvação” por meio de Jesus Cristo. A Família de Jesus, Maria eJosé, aberta ao diálogo com Deus e ao diálogo com todas as famílias que procuram Deusem Cristo. Eu ouso ainda definir a Sagrada Família como o “Evangelho concretizado”,no qual todos podem encontrar a própria vocação vivendo e exprimindo os próprios donsrecebidos por Deus, para alcançar, cada um, a própria missão no caminho da santidade,da fidelidade, da defesa da vida, na educação dos filhos, na escuta da Palavra, na oraçãoe no testemunho da caridade (cf. 1Cor 7,7). Desta fonte da espiritualidade de Nazaré,sem muitas pretensões, nos capítulos que seguem, gostaria de meditar com você, caro(a)irmão(ã), a escola da Família Sagrada de Nazaré: exemplo de vida conjugal, paternidade,
maternidade, de “consagração no celibato e virgindade pelo Reino”, enfim, da vidasantificada pelo “Santo dos Santos”, Jesus de Nazaré.
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São José, uma paternidade “desafiadora”Começo com a notícia do Evangelho de São Lucas 2,39, que nos fala que Maria e
José retornaram à Galileia, em Nazaré, uma pequena cidade sem fama, mas que acolheua presença histórica do Filho do Eterno Pai. É neste contexto que se inicia o evento
terreno do Filho do Altíssimo: nascer e viver em uma nação, a mais insignificante daqueletempo, o pequeno e submisso Israel, o povo eleito de Deus, submisso ao impérioromano.
Mas o tema que quero partilhar é a paternidade de São José, cujos conhecimento econsciência desta grande missão foram compreendidos por ele em um caminho
progressivo: a Anunciação onírica (Mt 1,18-25); o direito de impor o nome ao menino(Mt 1,21) e de ser constituído pai da Família (Mt 2,13); o reconhecimento de Jesuscomo “Filho do carpinteiro” (Mt 13,55) e “Filho de José” (Lc 3,23). Mas a tradiçãosempre atribuiu a São José uma paternidade putativa (jurídica), conforme afirma SãoPaulo em sua carta aos Efésios, na qual revela que “do Pai recebe o nome toda
paternidade no céu e na terra” (cf. Ef 3,15). Deste princípio paulino podemos facilmenteassumir que a paternidade sobre Jesus foi confiada a São José diretamente por Deus.
Nesta paternidade está ligada e finalizada a verdade messiânica da Encarnação doFilho de Deus, que emotivamente envolve todos os membros da Sagrada Família, assimcomo revelou Maria ao se dirigir a Jesus no templo: “Olha, teu pai e eu estávamos,angustiados, à tua procura” (Lc 2,48).
A paternidade de José vem explicada no Evangelho de São Mateus através da
genealogia e da sucessiva narração da Anunciação, que, além de inserir o Filho de Deusna família humana e vê-Lo descendente de Davi e de Abraão, tem, sobretudo, o objetivode testemunhar que tudo isso não aconteceu por meio da geração física da parte de José(cf. Mt 1,25). A intenção do evangelista Mateus é muito clara: José não gerou Cristo, queé obra do Espírito Santo. E continuando nos Evangelhos, José é pai de Jesus (cf. Lc2,27), e enquanto pai, teve o direito de dar o nome ao menino (cf. Mt 1,21) e guiá-Lo,enquanto chefe da Sagrada Família (cf. Mt 2,13). A este ponto poderíamos nos perguntar
por que este título de “pai” se José não gerou Jesus. Mateus trata a questão seguindoduas vias: a jurídica e legal; e a pessoal e afetiva. E esta meditação nos ajuda a conhecer melhor esta figura tão esquecida, que é São José, mas de grande importância para anossa história da Salvação.
A paternidade jurídica é aquela baseada nas exigências da lei hebraica, que dá a Joséo direito da paternidade enquanto esposo de Maria. Verificamos isso no Evangelho deSão Mateus que, frequentemente, coloca em evidência que ele é o pai legal de Jesus
porque, antes da Sua concepção virginal, José já estava ligado à Maria no vínculo do
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matrimônio; e também, depois do evento da concepção por obra do Espírito Santo, esta paternidade não foi abandonada, pois o anjo o aconselhou a não temer receber Mariacomo esposa: “Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjodo Senhor, que lhe disse: ‘José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tuaesposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo’” (Mt 1,20).
Quanto à paternidade afetiva, sempre me edifica a belíssima afirmação de SantoAgostinho: “Da piedade e da caridade de José, nasceu da Virgem Maria o Filho de Deus”(Santo Agostinho, sermão 51). Diante da vontade divina, expressada através das palavrasdo anjo, José aceitou e acolheu Maria como sua esposa e o fruto da sua maternidadevirginal. Diante da lei e dos homens, ele é o pai do menino Jesus. Nos acontecimentoshistóricos do projeto de Salvação, a paternidade sobre o Filho eterno e humano vematribuída diretamente por Deus.
Por esse caminho de São José, que eu chamarei de “caminho de fé”, passou também
a superação do temor em assumir uma paternidade incomum, que vinha diretamente deDeus. José participa do Amor do Pai e, como consequência, oferece totalmente o seuamor ao serviço do Verbo Encarnado: foi o próprio Pai que o chamou de “filho de Davi”.Exercitar com superabundância tal paternidade o completou do Amor do Pai. O amor
paterno de São José atuou no amor filial de Jesus e vice-versa. O amor filial de Jesus só poderia influenciar no amor paterno de José.
Esta relação está fundada no amor conjugal da Sagrada Família, na tarefa de “pairesponsável” pelo Filho de Deus. E assim José foi chamado a exercitar também o papelde pai jurídico, como já mencionamos, não somente com a imposição do nome, mas
também nutrindo, vestindo, educando na lei, no trabalho, enfim, em todos os deveresque compete a um pai. No que compete à educação, enquanto na experiência humana,ele acompanhou o Filho de Deus na formação educativa, e da sua paternidade educadorasurge o caminho que nos mostra que os principais educadores dos filhos são os pais, eeles são chamados a esta missão fundamental.
A passagem evangélica que ainda nos guia ressaltando Maria, José e o Menino Deusé o encontro de Jesus no templo (cf. Lc 2,41-51), nos papéis distintos de pai e mãe.Lucas descreve o encontro no templo, evidenciando a identidade do adolescente Jesus na
resposta: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar naquilo que é de meuPai?” (Lc 2,49). Aqui o divino e o humano são autorrevelados. Jesus não discute a
paternidade de José, porque retorna com os Seus pais para Nazaré, dando assimcredibilidade, com a Sua atitude, ao fato de que Ele era filho de José e reconhecendolegalmente a paternidade humana: “Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e eraobediente a eles” (Lc 2,51).
Assim como nos apresenta a Sagrada Escritura, a paternidade putativa de José em
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relação a Jesus nem sempre foi aceita ou interpretada de modo correto. Há, ainda,dificuldade em entender os termos “filho de José”, como nos vem descrito no Evangelhode Lucas: “Não é este o filho de José?”(Lc 4,22). Ainda hoje, muitos escritoressubstituem o apelativo “putativo”, porque ele é interpretado como aquilo que é aparente,não verdadeiro, até mesmo interpretado como falso, para que, assim, a ilustríssima e
concreta figura de São José não venha a ser esquecida. Assim, outras terminologias – como paternidade adotiva, nutrícia, legal, matrimonial, paternidade vigária do Pai Celeste
– são utilizadas. Esta última, talvez teologicamente, de certo modo, é a mais exata. José“representa” o Pai celeste, de modo que esta é a base da paternidade Josefina,
paternidade espiritual e virginal; e se torna a referência para toda a paternidade humana, porque São José soube, como nenhum outro, de modo livre, responsável e consciente,fazer da sua paternidade um verdadeiro serviço a Deus, e em Deus, toda a humanidadenecessitada da Família Trinitária e de seu Filho (cf. Is 9,5). É a partir desta verdadeira
paternidade que todos os pais podem ter consciência de que toda autoridade paterna pertence a Deus.
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aria, uma maternidade eclesial Neste momento da nossa caminhada espiritual, nessa leitura, meditaremos sobre a
maternidade de Maria: Maria como mulher e mãe. São João Paulo II, na Redemptorisater, diz que a maternidade de Maria começa em Nazaré. E ela é provedora, porque
acolhe o Verbo que se faz carne aqui e O faz crescer. Acolhe-O no seu ventre, depoisnutre-O com o seu corpo e faz a experiência da maternidade, aquela maternidade
profunda, a experiência de uma mãe com seu filho.Mas os Santos Padres da Igreja, de modo especial Santo Irineu, dizem que a
maternidade de Maria é um percurso. Que não é uma cooperação passiva à vontade deDeus. Disse Santo Irineu que Maria coopera, ativamente, no projeto da salvação, o fazcrescer e se torna modelo de fé, de crença, de mãe.
Por isso, a maternidade de Maria é um caminho: passando por Nazaré, Caná daGalileia, até o Calvário, para se tornar a Mãe de toda a humanidade, a maternidadeuniversal. Este tema tão belo nos faz saborear uma maternidade que é para cada um denós: somos todos filhos de Maria, estamos todos nos seus braços, estamos todos sob asua proteção, porque Maria é a Mãe da Igreja, é a nossa Mãe, a Mãe de cada um de nós.
Digamos que, em Nazaré, a Santíssima Virgem Maria adquire uma dimensão damaternidade física, da maternidade biológica. Uma maternidade encarregada das coisascomuns de uma mãe. Sabe-se que as mulheres em Israel são responsáveis pela fé dosfilhos, então, a Santíssima Virgem Maria teve que formar o pequeno Jesus na fé dos paise também no afeto, em todos os sentidos. Esta maternidade física, biológica, foi
desenvolvida. Papa São João Paulo II a chama de “a mãe provedora, a mãe que nutre,que doa afeto”.
Mas recordamos também que, no mesmo Evangelho de Lucas, Jesus falava àsmultidões, e uma mulher foi muito tocada pelo modo com que Ele falava. Então, estamulher se levantou e disse: “‘Feliz o ventre que te trouxe e os seios que teamamentaram’. Ele respondeu: ‘Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deuse a põem em prática’” (Lc 11,27-28).
Portanto, ali começamos a ver que o Senhor quer nos apresentar a Mãe não somentenesta dimensão física, biológica, mas, sobretudo, nos diz que a Mãe foi uma mulher defé. Porque, como disse Santo Agostinho, Maria O concebeu primeiro com a mente edepois com o ventre. Isso significa que ela concebeu primeiro com a fé e, depois, aconsequência desta fé foi o ser mãe.
Partimos agora para Caná da Galileia, onde todos nós sabemos, mais ou menos, a passagem da Bíblia que nos relata o episódio das bodas de Caná, quando faltou o vinho ea Mãe interveio. Interveio porque tinha fé, porque tinha fé no Filho, sabia que o Filho
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podia fazer qualquer coisa pelos esposos, pela festa. Mas, de um modo fora do comum,o Filho lhe diz: “O que tem entre mim e ti, mulher?” (cf. Jo 2,1-12). Jesus a chama demulher! Devemos ter em mente que, no Evangelho de João, o Filho Jesus nunca serefere à Maria como mãe, como mamãe... Ele a chama sempre de mulher.
Portanto, o Senhor prepara a Santíssima Virgem Maria para fazer um percurso: ela
não é somente mãe, ela começa a ser a mulher. Por que mulher? Por que o Filho achama assim? De fato, o evangelista João nunca chama Maria pelo nome, sempre achama de mãe de Jesus ou a Mãe.
Em vez disso, Jesus a chama de mulher. Logo, o Filho começa a nos levar e a levar Maria nesta dimensão, como mulher. Portanto, de qualquer maneira, a SantíssimaVirgem Maria tinha que compreender que deveria renunciar a uma maternidade
particular. Porque não é somente a maternidade com um filho. Ela deveria renunciar, dequalquer modo, a esta maternidade somente a dois: Jesus-Maria, Filho-Mãe, e deveria
começar a se abrir a uma outra maternidade. Por isso, o Filho a chama de mulher.Rapidamente, chegamos ao Calvário. Ali, verdadeiramente, compreendemos por que
o Senhor a chamou de mulher. Sabemos que a primeira mulher foi chamada de Eva eque ela surgiu do primeiro Adão. Agora, o novo Adão vem da nova Eva, que é aSantíssima Virgem Maria. O livro de Gênesis explica o que quer dizer Eva: a mãe dosviventes. Então, a primeira mulher é mãe dos viventes. Logo, Maria, como dizia osSantos Padres, é a nova Eva.
O Evangelho de São João relata o momento em que Jesus, ao ser crucificado, sedirige a Sua Mãe como uma mulher.
Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria
Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, eis o
teu filho!” Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no
que era seu (Jo 19,25-27).
Maria, neste momento, poderia se questionar: “Como podes me dizer: eis o teu filho?Tu és o meu único filho!” Assim, nasce a mulher. Podemos dizer: nasce uma novadescendência.
No trecho acima, o evangelista não menciona o nome de João como sendo odiscípulo amado. Isso quer dizer que o próprio evangelista nos pede para nosidentificarmos também com este discípulo. Como discípulo e também como humanidade,
porque João é um homem, mas, nesse momento, representa toda a humanidade. Por isso, a Mãe se torna Mãe da humanidade.
No livro de Mateus ainda está escrito: “‘Quem é minha mãe, e quem são meusirmãos?’ E, estendendo a mão para os discípulos, acrescentou: ‘Eis minha mãe e meus
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irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meuirmão, minha irmã e minha mãe’”(Mt 12,48-50). Isso também nos surpreende um
pouco. Como ser mãe de Jesus? Como podemos ser “Mãe” de Jesus? A única mãe deJesus é Maria! Mas Ele mesmo diz: “Você deve ser minha mãe de qualquer maneira”. Ecomo isso acontece? Escutando e colocando em prática a Palavra de Deus. E assim o fez
a Santíssima Virgem Maria. Dizia o Beato Paulo VI: “Se queremos ser cristãos, devemosser marianos”. Porque a Igreja é mariana, a Igreja é materna, a Igreja escuta a Palavra deDeus, a medita, a concebe e depois dá à luz esta Palavra.
Nós, tantas vezes, escutamos a Palavra de Deus, especialmente na liturgia a cadadomingo... Mas esta Palavra deve ser acolhida com o mesmo espírito de Maria, ou seja,devemos receber a Palavra, concebê-la, guardá-la e depois fazê-la carne e sangue navida... Como mãe, como trabalhador, como empregado, como estudante, no lugar ondeestivermos, devemos colocá-la em prática, vivendo e encarnando o Evangelho.
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esus, Maria e José, ícone do amor TrinitárioA Sagrada Família foi aberta ao diálogo com Deus, ao diálogo com todas as famílias
que procuram Deus e, em Cristo, à Família Trinitária. Por isso, verdadeiramente e nãode forma retórica, se pode afirmar que a Família de Nazaré foi o lugar privilegiado do
diálogo humano, do diálogo de fé, do diálogo de Salvação. No mistério inefável da Família Trinitária, ágape do “amor” indescritível de
comunhão, medula da motivação essencial da racionalidade, estão a fecundidade e asantidade do matrimônio celebrado em Cristo.
Em tal mistério essencial do cristianismo, de fato está presente a mais radicaldiferença na reciprocidade que se pode experimentar ou simplesmente intuir: a máximadiferença no interno da mais absoluta identidade. Tal mistério e tal dinamismo do DeusTrinitário são comunicados à família humana por meio de Cristo, “no sacramento doamor”. Esta experiência é vivida em plenitude nas relações, nos próprios afetos, na
própria responsabilidade do casal de Nazaré, e que é própria na virtude de tais singularesrelações com as pessoas divinas, possuindo ainda uma atualidade exemplar para asfamílias cristãs do nosso tempo.
Não é por acaso que a redescoberta da dimensão trinitária da fé cristã é um aspectoque deriva da forte afirmação de comunhão da Igreja de Cristo. Por isso, quandofalamos da Família de Nazaré, nós a chamamos “Sagrada Família”. Isso ocorre tambémna celebração litúrgica, porque é um louvor à Família terrena de Jesus, memória desejada
pelos fiéis e da proposta da Sagrada Família como modelo exemplar.
De fato, cada membro da Família de Nazaré ensina, através da experiência, o amor eo serviço recíproco, o caminho e a passagem da centralidade do “eu” ao outro, aosoutros. É neste processo de profunda vocação e transformação que se constrói umacomunidade de amor, senso e meta de toda realidade humana, cristã e eclesial. NaSagrada Família de Nazaré, a família cristã se configura na própria vocação como apelo,como chamado para se tornar comunidade de pessoas, na plenitude do homem novo queé Jesus de Nazaré, que ama o dom sincero de si; em uma profunda amizade e afeto, noresponderem juntos à vontade de Deus, na cotidiana familiaridade com o Unigênito doPai: Jesus Cristo.
Nele e somente Nele a família, sacramento do amor, descobre a fecundidade e ocompromisso da vocação. A Igreja é experiência do Amor de Cristo na história e na vidade cada homem e de cada mulher. Este amor total e transformador tem possibilidadesenormes e sempre novas da manifestação própria no ser juntos como família “santuárioda vida”, como afirma São João Paulo II na Gratissimam Sane.
Neste fundamento se constrói a Igreja como experiência de acolhida e da caridade de
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Deus em Cristo. Nestes concretos fundamentos se constroem o matrimônio e a família, amodelo da “Sagrada Família” de Nazaré, exemplo de recíproca responsabilidade na éticado amor, do serviço e da fecundidade da família. Em consequência disso, temos aextrema cura pastoral da Igreja pelo tema da família, enquanto plenamente somosconscientes de que na “família” se experimenta a identidade da Igreja de Cristo,
verdadeiro ícone do “Amor Trinitário”.
Oração à Santíssima Trindade
Onipotente, eterno, justo e misericordioso Deus,
dai a nós, pobres,
fazer, por Vós mesmo,
o que sabemos que Vós quereis,
e sempre querer o que Vos agrada,
para que,
interiormente purificados,
interiormente iluminados
e acesos no fogo do Santo Espírito,
possamos seguir os vestígios
do Vosso dileto Filho,
nosso Senhor Jesus Cristo,
e chegar só por Vossa graça a Vós, Altíssimo,
que na Trindade perfeita
e na Unidade simples
viveis e reinais e sois glorificado Deus onipotente
por todos os séculos dos séculos. Amém.
(São Francisco de Assis, Carta a toda a Ordem)
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Sagrada Família, modelode todas as vocações
É significativo notar como a experiência vocacional, no período que caracterizou areligiosidade do povo cristão nos últimos séculos, se refere essencialmente ao estado devida consagrada religiosa e ao sacerdócio ministerial. “Ter vocação” se identificava, emgeral, no modo comum de falar, no fato de uma pessoa entrar em um instituto religiosoou no seminário para a formação sacerdotal. O cristão normal, pode-se assim dizer, eraconsiderado simplesmente como alguém que não tinha recebido uma vocação ou umchamado. Mas foi o Concílio Vaticano II que chamou a atenção da Igreja para oimportante tema “vocacional”, afirmando uma dimensão muito mais ampla com a
“vocação universal à santidade”. É evidente para todos aqueles que creem em Cristo quetodos os estados de vida são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição dacaridade, de modo que a santidade promova na sociedade terrena um teor de vida maishumano, como o exemplo da Sagrada Família de Nazaré.
Mas constatamos com tristeza que a utilização do termo “vocação”, no âmbitosecularizado e até mesmo descristianizado, geralmente é usado para explicar a atitude deuma pessoa que exercita uma determinada profissão ou uma atividade e a sua dedicaçãoa ela. Quando se encontra alguém particularmente dedicado ao seu trabalho, dizemos:“Esse trabalho é para ele uma vocação”. De fato, dar este significado é ir ao contrário do
significado genuíno da palavra “vocação”, no seu senso bíblico e eclesial, de eleição da parte de Deus em vista de uma missão.
Como já mencionamos, a palavra vocação é para todo batizado ( Lumen Gentium,40), mas ao lado desta abertura inclusiva é notável ainda o referimento a toda existênciacristã, mediante a tantas expressões sucessivas, como: “chamado à vida”, “chamado aconfigurar-se a Cristo”, “chamado à Igreja”, “chamado à santidade” e “chamado à glóriados Céus”. Deste modo, voltando às origens da Igreja e à sua terra, quero dizer a TerraSanta, onde a casa de Nazaré na simplicidade é o perfume que emana para a Igreja e
onde constatamos que os membros da Sagrada Família eram leigos, não podemosesquecer a índole secular da Santa Família, na qual encontramos dois cônjuges, nainspiração de santidade e entrega total pelo Reino dos Céus.
Mas a Família de Nazaré inspira ainda o tema universal das vocações à santidade,sem abolir as diferenças entre sacerdócio comum e ministerial e entre matrimônio evirgindade pelo Reino. Isso é próprio da constituição dogmática Lumen Gentium, queteve uma tarefa notável no momento decisivo da dissolução dos nós da identidade da
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Igreja frente ao mundo, na nova compreensão dos estados de vida e da vocação cristã nomundo e no apresentar da Igreja como “sacramento”, como sinal e instrumento da íntimaunião com Deus e da unidade com o gênero humano ( Lumen Gentium, 1), dando formaa uma renovada visão cristã dos diferentes estados de vida, nos quais emerge claramentea dimensão missionária de toda vida da Igreja, que vê na concreta humanidade de Cristo
a revelação de Deus e da vocação do homem.Assim, queridos irmãos e irmãs, partimos de uma constatação linguística da palavra
“vocação” no seu uso comum ao seu desenvolvimento na modernidade, e dascontradições até a visão eclesial de comunhão do Concílio Vaticano II, e afirmamos eacreditamos que, em primeiro lugar, a vida como vocação é o tema fundamental destecapítulo. Por isso, é decisivo, falando de “vocação”, sermos capazes de interceptar aexperiência fundamental de cada homem, realidade que na sua forma concreta foiquerida por Deus em vista da adoção ao Filho de Deus em Cristo.
E igualmente emerge a exigência de acolher a vida como vocação, saindo da divisãoentre vocação e humano, enquanto o humano vem expressado a partir do desígnio deDeus revelado em Cristo na Santa Casa de Nazaré. Em tal senso a missão da Igreja nomundo impõe seguir a linha de uma vida como vocação até à escolha das diferentesvocações, identificadas pelas situações fundamentais em que o cristão é chamado a viver.Por isso, o objetivo das páginas que seguem é propor uma reflexão sobre os estados devida matrimonial, consagrados no celibato, na vida religiosa e naquela presbiterial,colhendo na Vida de Jesus Cristo a origem da unidade e das diferenças dos estados devida, de modo que a Igreja possa viver a missão confiada por Cristo de levar todos a Ele.
Neste senso prosseguimos o nosso caminho, procurando fundamentar o conceito devida como vocação no modo de acolher o fundamento da sua singular, pessoal euniversal identidade e sucessivamente demonstrar as suas diferenças. Certamente quenão é o objetivo deste opúsculo aprofundar a teologia dos estados de vida, mas pelomenos transmitir a concepção das diferenças da única realidade da vida como vocação,expressada no modo paradigmático, em que o matrimônio e o celibato pelo Reino têmrelação um com o outro, com a esperança de um diálogo no qual reine a vida com Cristoe a unidade com Ele. Na Sagrada Família e no estado singular de Maria e José, na vida
cotidiana e ordinária, é de considerar este senso realmente unitário. Através do “sim” deMaria em Nazaré, o Filho de Deus se faz carne, nasce, cresce e vive a Sua missão. Este“sim” não expira e não cessa de ser pronunciado ainda nas almas consagradas ediscípulas de Cristo.
Em Maria, virgindade e fecundidade não estão em contraposição, mas são ligação para a sua maternidade. E para concluir podemos dizer que com o ingresso do Filho deDeus e a exaltação de todos os estados de vida, com a intercessão de Maria Santíssima,
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vamos refletir nas próximas páginas a distinção essencial para um “são discernimento”entre vida matrimonial e celibatários pelo Reino e para esclarecer que não existe umaterceira saída à opção, ou, expressão muito comum nos dias de hoje, uma terceiraestrada.
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Um discernimento decisivo entre “celibato pelo Reino eatrimônio”Certamente, se estamos nesta reflexão fazendo-nos guiar pela escola do Evangelho,
quando falamos em “vocação” temos que citar os passos evangélicos do chamado ao
seguimento de Cristo, no qual se pede a mudança de vida e a conversão, mas que não seinterpreta junto ou contrário ao chamado para viver a fé na condição cristã geral, que é ochamado para a maioria dos fiéis seguidores de Cristo.
A realidade a ser entendida é a relação fundamental da visão dos modos de vida, quenós interpretamos como fundamentos na história da Igreja, de modos diferentes, e comuma qualificação da vida segundo os conselhos evangélicos. Aquilo que queremosexpressar neste subcapítulo pode ser introduzido da seguinte forma: é evidente que umavida em obediência e pobreza, como aquela expressada por quem vive no celibato, se
antepõe por si ao modo de viver de todos os batizados e de todos os homens e mulheresque se sentem livres. Assim, o celibato, a vida religiosa e a vida presbiterial parecem umaantítese à vida matrimonial. Na realidade, o contraste é somente aparente, já que ocelibato e o matrimônio, entendidos no núcleo teológico e bíblico, são duas formas doúnico amor esponsal, aquele expresso pela reciprocidade indissolúvel entre Cristo Esposoe a Igreja Esposa, Virgem e Mãe.
A virgindade cristã, de fato, aparece originariamente conexa na diferença entre“homem e mulher”, e se constroem assim as “núpcias do Cordeiro” (cf. Ap 19,6-9).Deste modo, podemos afirmar que o celibato pelo Reino, a virgindade cristã, nos mostra
o significado profundo e último da vida esponsal. Aqui se coloca a base da reciprocidadeentre a virgindade pelo Reino e o matrimônio. De fato, podemos compreender comocertamente o celibato e o matrimônio se fundem diretamente na cruz, no mistérioeucarístico e Pascal que toca o coração e o íntimo de cada homem e cada mulher; e dafecundidade que, somente a partir de Cristo, do Seu amor, é realmente possível e nos fazcompreender e viver a doação e a reciprocidade.
No mistério da “fecundidade corporal”, Cristo infunde novamente do Alto o mistérioda fecundidade espiritual da fé, do amor e da esperança e, como consequência, o espírito
de pobreza, castidade e obediência; por isso o matrimônio se torna o sublime sacramentodentro da Igreja cristã. Tudo isso se concretiza somente com a participação no sacrifíciode Cristo. Deste modo, se a relação entre o homem e a mulher, nas diferenças que oscaracterizam, na dedicação e fecundidade, vincula o seu significado ao sacrifício deCristo, então o matrimônio cristão pode ser compreendido se nós não o consideramos somente como um instinto natural, como uma determinada forma de amor natural, mas sim como instituto elevado ao sublime nível da graça.
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Esta é a reflexão que queremos propor-lhe, caro irmão e cara irmã: a realidade domatrimônio cristão é a relação entre Cristo e Sua Igreja, que se coloca definitivamente nomistério Pascal. Mas é justo explicar que a impostação que mantemos até agora não
pretende em algum modo descrever uma teologia do matrimônio ou uma reflexão doaspecto esponsal da vida de celibato e virgindade pelo Reino. O que queremos aprender,
essencialmente, é como o matrimônio e o celibato pelo Reino estão relacionados entre sie como são, de um certo modo, interdependentes a partir da vida de Cristo, que na casade Nazaré viveu a experiência humana do amor, e na Sagrada Família, o exemplo doamor esponsal e virginal.
Partindo destas afirmações, podemos recuperar definitivamente a essencial e mútuarelação entre as formas vocacionais na Igreja; a complementaridade entre virgindade ematrimônio, tornando a modalidade histórica em que afirmamos o nosso tornarmos“filhos da ressureição”, conforme afirmava o grande teólogo Von Balthasar. Somente a
complementaridade destas formas de vida afirmam na história a verdade cristã do amor.As duas formas, portanto, se entrelaçam e, juntas, manifestam o significado pleno doamor humano transfigurado por Cristo crucificado e ressuscitado.
Depois de tantas importantes afirmações, é imprescindível deixar claro, mesmo querapidamente, a uma dimensão decisiva, tudo o que meditamos até agora: “o mistério da
paternidade e da maternidade”, a que tanto os esposos quanto os consagrados pelocelibato, virgindade e presbitérios são chamados, mesmo que em modalidades diferentes.Todas essas vocações são expressões concretas e têm o propósito último de gerar nocorpo e no espírito.
A escolha do celibato e da virgindade, incluindo a do presbítero, nos diz o significadoda verdadeira paternidade e maternidade. É a expressão da gratuidade e da comunicaçãodo significado da existência ao filho ou à filha espiritual. A paternidade e a maternidade setornam essencialmente formas de expressão da paternidade e maternidade de Deus. Na
procriação, de fato, elas não encontram o seu centro, na comunicação biológica daexistência, mas no testemunho de Cristo, no qual toda paternidade recebe o nome (cf. E3,15). E, assim, na afirmação gratuita do outro, na mais sublime acolhida um do outro,se torna o vibrante significado do amor trinitário.
Chegando ao momento de concluir este pensamento que com alegria compartilheicom você, consideramos o quanto é necessário, nos tempos de hoje, formar os jovens afazerem escolhas definitivas. Normalmente tal decisão é a escolha do matrimônio, na luzdo mistério Pascal de Cristo, ao qual a maioria dos batizados é chamada; ou a decisão aocelibato, à virgindade, na qual não menos implica a vida esponsal. O sim da promessamatrimonial e o sim do voto religioso, do celibato, correspondem àquele que Deus esperade cada homem e de cada mulher.
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No estado de celibato pelo Reino, o cristão dá a Deus a sua alma e o seu corpo, eDeus distribui o fruto do sacrifício aos seus irmãos e irmãs por meio daqueles que seofereceram a uma missão no interno da Igreja. No estado matrimonial, o cristão doa,com o seu “sim” sacramental, o seu corpo e a sua alma ao cônjuge, mas em Deus, pelafé, na esperança e na fidelidade Dele, tanto o matrimônio quanto o celibato pelo Reino
dos Céus exprimem o dom da graça e a presença operante do Espírito Santo. Mas surgeliberalmente uma pergunta: como entender, como saber para qual vocação souchamado(a)? Para respondê-la necessito lembrar que se trata de tipos de coração; peço
permissão para usar uma analogia um tanto simples. Um carro, que tem espaço paraquatro ou cinco pessoas, seguindo viagem em uma autoestrada. Assim é o amor de uma
pessoa vocacionada ao casamento, um sentimento exclusivo, que se sente completa comquantos estão ali, viajando na intimidade daquele carro. Já o sentimento de um celibatário
pelo Reino dos Céus, de um presbítero católico romano, é como um ônibus, tem sempre
lugar para mais uma pessoa subir e, durante a viajem, uns descem, outros sobem, masestá sempre cheio. E é feliz de ser Ônibus, não se sente usado, mas se realiza no servir.E o mais importante é que no final dessa autoestrada nós encontraremos a Cristo.
Todos os carros e todos os ônibus chegam à meta. Uma pessoa que tem coração decarro nunca vai conseguir ter um coração de ônibus, pois vai querer sempre ser exclusivo, e quem tem coração de ônibus nunca vai conseguir se prender e ser exclusivo,vai querer ter sempre um lugar para um outro, mesmo se em pé, para quem necessita doseu amor, da sua paternidade e maternidade. Nas páginas que se seguem, vamos ter testemunhos vivos desse amor esponsal ao qual todos somos chamados e o qual
podemos viver seguindo o exemplo sublime da Família de Nazaré.
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O amor esponsal na vida celibatária pelo Reino dos Céus ena virgindade
Certamente, a estas alturas da nossa reflexão, é necessário aprofundar, mesmo que brevemente, a forma virginal da vida esponsal e da fecundidade, não entendida como
uma alternativa ao matrimônio, mas com significado próprio e autêntico. A vida cristãnão consiste em duas estradas separadas. A virgindade celibatária exprime radicalmente omodo em que se realiza o mistério da redenção e representa a vida esponsal na cruz,indicando o significado da relação entre o homem e a mulher. A este propósito é justoacenar o quanto São João Paulo II nos enriqueceu com a sublime catequese sobre ocorpo e o amor humano, falando de virgindade e celibato pelo Reino e reconhecendoneles a plena realização esponsal. Com muita audácia, ele afirmou que a pessoa que seconsagra inteiramente a Deus o faz com a sua própria masculinidade e feminilidade, na
própria condição de homem e mulher. O celibato e a virgindade, então, em tal prospectiva, são cheios de alteridade, indicam e exprimem a gratuidade apaixonada doamor pelos outros, longe de qualquer retribuição, de uma concepção de amor comofusão ou de uma procura e experiência de fantasmas, que alguns chamam de espiritual,
banalizando a profundidade da palavra espiritual.Tivemos a graça, durante o programa “Em casa com a Sagrada Família”, transmitido
todas as semanas diretamente aqui da casa de Nazaré, de receber a visita de umaconvidada muito especial: irmã Margherita De Cesare. Uma religiosa italiana que viveaqui na Basílica da Anunciação há quarenta anos. Vive aqui na casa da Santa Família...
estes quarenta anos, ela trabalhou com as crianças e depois tomou conta, de formamuito materna, dos religiosos, dos sacerdotes, dos freis que vivem aqui, fazendo aquelesserviços mais simples, mesmo sendo uma irmã com formação acadêmica. Ela vive issocom uma maternidade única, que tem no seu coração, no seu ser. Irmã Margherita nosrelatou esta sua experiência também com os peregrinos.
Perguntamos à irmã Margherita se a maternidade é uma vocação, e ela respondeu:
Certamente! É um chamado particular que não é devido aos nossos méritos, mas ao Amor de Deus. Me
sinto... Aqui nesta casa de Nazaré... Me sinto, verdadeiramente, envolvida neste Amor de Deus e neste
mistério da Encarnação. De modo particular, porque como irmã da Caridade da Imaculada Conceição,entro no mistério, e assim vivo esta minha esponsalidade em relação contínua, no cotidiano com o
Senhor. Sou agradecida ao Senhor pela minha vocação, e, neste relacionamento de esponsalidade, me
sinto realizada na minha feminilidade... E como virgem, na fecundidade... E, portanto, eis a
maternidade. Nestes anos, nestes longos anos também de serviço aqui nesta casa, me sinto, realmente,
afetuosamente, uma mãe.
De fato, a maternidade espiritual tem um valor irrenunciável para as religiosas. Por
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isso, perguntamos à irmã Margherita sobre a sua dedicação aos jovens, porque elatrabalhou com as crianças quando chegou aqui em Nazaré, na escola materna. Depoiscuidou dos freis, dos sacerdotes, e agora está também a serviço dos peregrinos.
Outra pergunta feita à irmã foi sobre a maneira como ela vive esta realidade na suaconsagração.
Eu a vivo mesmo. Até hoje, pelo menos, procurei vivê-la com o próprio espírito de Nazaré, próprio da
família de Nazaré... Ou seja, cotidianamente e com simplicidade... Me aproximei primeiro das crianças e
ali aprendi com elas tantas coisas, de modo particular a simplicidade, a espontaneidade, e aproveitei,
verdadeiramente, com afeto, com elas e no relacionamento com os pais. Depois passei para o serviço
do convento, portanto, ao serviço dos padres, e aqui me senti ainda mais mãe no sentido de como
Maria vivia! Viveu, na casa de Nazaré, esta vida doméstica e pensava sempre que... Os discípulos
sempre saíam... Os apóstolos saíam juntamente com Jesus, em Cafarnaum, ou aqui, ou ali... E Maria
ficava em casa... O seu Evangelho era fixo, fazendo o seu trabalho doméstico... Não sei, com alguma
panela, com a agulha... Ela fazia estes serviços assim como eu faço. E assim me encontrei... Realmente,
neste sentido, na maternidade... Eu me sinto mãe também neste sentido: quando os padres, como osapóstolos, saíam e, portanto, estavam em contato direto com o povo, fazendo o apostolado... Maria
ficava em casa, portanto, com as preocupações: quem sabe o que estão fazendo? O que está
acontecendo? Quem sabe? Nisso também me encontrei, isto é, me preocupo com os problemas.
Encontramos diversos problemas ao longo da história, em todas as épocas. Hoje, por exemplo, me
preocupo com os jovens, com seus problemas, com as famílias e todos os seus problemas... Estamos
no tempo do Sínodo... Todas estas coisas me absorvem, não é somente o trabalho, digamos, material...
Mas também me preocupo com o lado espiritual... E assim, com esta dedicação, me sinto realizada.
Irmã Margherita cresceu sem a figura materna, pois ficou órfã quando tinha oitoanos. Pedimos a ela para nos contar como esta falta se tornou um dom para a Igreja,
para a congregação, para o mundo, para nós que estamos aqui.
Sim, sentia este vazio, então pensei que... Gradativamente, quando fosse crescendo, pensava em
preenchê-lo me doando para os outros. Assim, me dizia: aquilo que faltou para mim, quero doá-lo.
Procurei me aproximar sempre das menininhas e das crianças, sempre com este espírito. Por quê?
Porque ver as crianças sofrerem, para mim, é algo que, de fato, é um sofrimento... Sofro junto...
Quando vejo que as crianças são como... objetos de alguém… Se tornam objetos materiais... Para mim,
isto é um sofrimento. No tempo que vivi, era diferente... Mas já sentia este sofrimento, pela falta, pelo
vazio que sentia, e assim comecei a pensar: O que fazer? Como preencher isso? E depois, pouco a
pouco, veio a vocação.
No final de nossa entrevisa, irmã Margherita De Cesare deixou uma mensagem paratodas as mães e para todas as religiosas.
A todas as mães, àquelas que estão no sofrimento pelos seus filhos, eu digo: você precisa ter esperança,
e esta nasce da nossa oração. Esta consolação virá da nossa oração. A todas as religiosas, quero dizer,
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como disse Papa Francisco: não deixe que nada roube a alegria. O encontro de Maria com Isabel é um
canto de alegria. A alegria não é um barulho, uma euforia. A alegria é algo que vem do interior, que está
dentro e que se exprime na paz, na serenidade. É isso! É isso que desejo a todas as religiosas:
procuremos ser sempre na alegria, porque é o único testemunho que podemos dar.
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Vocação ao matrimônioÉ a vocação comum entre os cristãos, convocados pelo batismo a viver a própria
vida, fundamentalmente imergidos na condição da maioria do povo de Deus, que sãochamados ao sacramento do matrimônio; sendo tal sacramento que une o homem e a
mulher em Cristo. E somos convidados a uma nova inteligência na relação homem-mulher. De fato, tal relação foi vista na história como antropologia dramática, mas aquiqueremos meditá-la no mistério de Cristo e da Sua Igreja. Deus criou o homem por amor, o criou à Sua imagem; quer rever no homem a dinâmica do dom e o Seu amor recíproco à semelhança da Trindade. Nesta ótica, o homem se realiza somente quandoama. A vocação, então, de todos os homens, de todos os batizados, é amar: amados por Deus, somos todos chamados a corresponder ao Seu amor, de ser como Ele, narealização do amor ao próximo. O amor é a característica do cristão, é aquilo que odistingue; assim como Jesus disse: “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos:se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).
Aqui gostaria de acentuar que o Amor de Deus pela humanidade tem a característicanupcial, Deus não ama abstratamente, não se limita somente à criação ou a uma paternaassistência, mas se doa ao homem e para o homem, e morre na cruz por ele, como umesposo que se dá totalmente à sua esposa. Este amor nupcial de Deus pela humanidade éo amor que Deus deseja que exista entre os homens como resposta ao Seu amor. Por este motivo, Ele pensou para cada um de nós um modo concreto de viver esta respostade amor, por uma estrada pessoal, única e não repetível. São Paulo de fato diz: “Aliás,
gostaria que todos fossem como eu. Mas cada um recebe de Deus um dom particular,um este, outro aquele” (1Cor 7,7). É claro que o contexto que ele fala se refere aomatrimônio e ao celibato. Para Deus, o matrimônio e o celibato são dons, específicoschamados e meios para chegarem a Ele; e assim todos chamados à santidade. E podemosafirmar que a vida matrimonial é uma vida ordinária e privilegiada da santidade.
Quando Deus criou a relação entre o homem e a mulher, pensou como realidade positiva e em origem não ferida. No casal, um é parte do outro, e juntos se unem comDeus; os cônjuges então são “sacramento”, manifestação visível do amor divino ehumano de Deus pela humanidade, e isto se realiza no dom recíproco dos esposos. Sevocês me permitem uma analogia um pouco rústica, eu direi que a família é o mapa, massomente “Deus” é o tesouro. Enquanto dom e sacramento, sabemos que é amanifestação do Amor de Deus e não se pode ser realizado sem Ele.
Que lindo, eu me emociono, como consagrado religioso e presbítero, ao refletir quemediante o sacramento do matrimônio, que se torna o instrumento de santificação, osesposos se tornam “uma só carne” e recebem as graças necessárias. Assim, os casados
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são chamados a testemunhar, na vida conjugal de todos os dias, a fé no Deus amor, coma reciprocidade, a partilha, a alegria, o sacrifício e a relação profunda com Deus e com aSua Igreja.
O matrimônio tem assim uma dignidade vocacional própria, um carisma próprio. Osesposos na Igreja exercem um carisma específico, que nasce do sacramento, se nutre e
se manifesta na própria relação de amor. Neles o sacramento leva à realização da graçado batismo, dando-lhes a plenitude de ser homem e mulher, de modo que realizem nomais profundo de si o serem homens e mulheres casais para a missão da Igreja.
Lembro-me de que escutava a palavra “carisma” somente para os religiosos e, assim,ao dom dado aos fundadores. Mas aqui entendemos que a vocação ao matrimônio é ocarisma que consiste na comunhão matrimonial, em uma vida comunitária intensa, comoé a vida de uma família. Os casais, amando-se em Cristo, recebem uma unidade natural,e é esta a originalidade do carisma, que por obra do Espírito Santo detém a missão de
custodiar, revelar e comunicar o Amor de Deus. Assim, a família como matriz do Amor de Deus exercita o carisma de ser imagem de Deus e prepara-se para o Paraíso, para oencontro nupcial eterno com Deus. A dignidade do sacramento do matrimônio nos leva àunião com Deus, porque quando homem e mulher se amam, amam no mais profundo docoração do outro, onde Deus vive. Quando você ama seu namorado, sua namorada, seuesposo, sua esposa, você está amando a Deus no mais profundo do ser daquela outra
pessoa, por isso a dignidade desta vocação, na qual amando, saindo do egoísmo, saindode si mesmo, você começa a se abrir ao amor profundo da outra pessoa, reconhecendoos seus defeitos, aceitando e vivendo a realidade.
Gostaria de partilhar com você, caro(a) irmão(ã), um testemunho de dois jovens,André Luiz da Rosa e Eliziane Alves, que participaram do nosso programa “Em casacom a Sagrada Família” e nos ajudaram a entender como é necessário um caminho dediscernimento para abraçar a vocação matrimonial como vocação e carisma. Sobre aquestão do caminho percorrido no namoro na comunidade Canção Nova, Eliziane nosrelatou:
No início, quando eu e o André começamos a conversar, nós primeiro trilhamos um caminho de
amizade entre nós. Ele morava na Itália, e eu morava no Brasil, na missão de São Paulo. E iniciamos
esta amizade, porque acredito que o namoro começa sempre na amizade, no conhecimento profundoum do outro, e em janeiro vamos completar dois anos de namoro. Mas, a princípio, os gostos, as
conversas e as brincadeiras eram normais de um relacionamento de afetividade. Com o tempo, a
amizade foi crescendo e o sentimento foi brotando, até se tornar um namoro.
Ao falar do dom do discernimento no matrimônio, André disse:
Eu acho que é importantíssimo começar ressaltando que relacionamento dentro de uma comunidade,
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dentro da Igreja, é algo importante e sério. Hoje, nós temos um casal que nos acompanha, eles são
casados há mais de dez anos, e conversamos com eles sobre vários assuntos. As brigas, dificuldades,
são coisas normais, e eles nos ajudam a resolver estas questões. Voltando ao tema do discernimento,
em 2005, quando entrei na Canção Nova, eu queria ser padre, até que tive uma conversa com padre
Jonas, e nesta conversa eu descobri que minha vocação não era o sacerdócio, mas ainda fiquei com a
dúvida: seria o celibato? A vida na comunidade me ajudou muito. Como nós temos a vida comunitária,
então vejo como um padre, como um celibatário e como uma família vivem sua vocação, então isso me
ajudou a chegar a esta conclusão. Mas para mim o ponto central foi que Deus me chamava a ter uma
vida comunitária mais profunda; não é que os religiosos e os padre não tenham vida comunitária, mas
eles têm uma vida comunitária dentro de um certo horário, e cada um entra no seu quarto e, assim,
ficam sozinhos com Deus. No casamento é diferente, o casal trabalha, tem vida durante o dia, quando
chega em casa eles têm a vida comunitária, e quando vão dormir se deitam na mesma cama, não tem
como fugir, vai ser um constante confronto um com o outro, uma constante doação de si para outro.
Eu me sinto muito chamado a isso, e acho que é a pedagogia de Deus para me levar para o Céu. Deus
precisa que me santifique, saindo de mim para ir ao encontro do outro.
Quando perguntei ao jovem André Luiz quando ele achava que um jovem estaria pronto para abraçar o sacramento do matrimônio, ele me respondeu:
Eu acho que o casal está pronto para casar quando um ama o outro com os seus defeitos; eu acho que
este é o ponto. Quando eu, olhando para ela, a amo com os seus defeitos e limitações. Então, quando
um olha para o outro e consegue amá-lo, apesar dos defeitos, esta é a hora de casar.
E fazendo a mesma pergunta para Eliziane, ela disse:
Eu acredito que o primeiro passo é não ter medo, muitas vezes você está com alguém e não está
preparado, você sabe no fundo que não é aquela pessoa. Mas não tenha medo, entregue tudo para Deus
na oração. Eu acho que a oração é necessária e também é um discernimento neste grande passo da
nossa vida, passo para o resto da vida, para a eternidade. Então é muito importante você se olhar, ser
verdadeiro consigo mesmo e com a pessoa que está com você.
Agradecendo o testemunho dos nossos amigos André Luiz e Eliziane Alves, éinevitável colocar-nos de frente à concreta realidade de uma escolha definitiva. É ainda
possível, mesmo na cultura relativista em que vivemos, falar de escolha “para sempre”no sacramento do matrimônio.
Acredito que a preparação dos jovens para este passo não seja baseada simplesmenteem um cálculo ao redor das próprias capacidades, mas implica em algo que vai além dasforças pessoais dos cônjuges, implica na própria Graça, uma presença operante doEspírito Santo, própria do sacramento e do carisma que os possibilitam ao seguimento deCristo, no qual os cônjuges cristãos se prometem reciprocamente na fidelidade, porqueDeus é fiel e doa aos esposos a força da Sua fidelidade.
Esta dedicação para a vida até a morte é algo indissolúvel, eterno voto que é
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amenamente do amor. E esta indissolubilidade é a expressão da nova aliança na relaçãoesponsal entre Cristo e a Sua Igreja. Na fé é possível assumir os bens do matrimôniocomo compromissos que melhor se cumprem mediante a ajuda da graça do sacramento.Deus consagra o amor dos esposos e confirma a sua indissolubilidade, oferecendo-lhes aajuda para viver a fidelidade, a integração recíproca e a abertura à vida. Por conseguinte,
o olhar da Igreja dirige-se aos esposos como ao coração da família inteira, que tambémfixa o próprio olhar em Jesus.
Salve, ó Senhora Santa, Rainha Santíssima,
Mãe de Deus, ó Maria, que sois Virgem feita Igreja,
eleita pelo Santíssimo Pai Celestial,
que vos consagrou por Seu Santíssimo e
dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito.
Em vós residiu e reside toda plenitude da graça e todo o bem.Salve, ó palácio do Senhor!
Salve, ó tabernáculo do Senhor!
Salve, ó morada do Senhor!
Salve, ó manto do Senhor!
Salve, ó serva do Senhor!
Salve, ó mãe do Senhor!
E salve vós todas, ó santas virtudes derramadas,
pela graça e iluminação do Espírito Santo,
nos corações dos fiéis, transformando-os de infiéis
em fiéis servos de Deus!
Amém!
(São Francisco de Assis)
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Verdade e beleza da família
este capítulo, quero compartilhar com você, amigo(a) companheiro(a) de
peregrinação – permito-me chamá-lo(a) assim porque o que estamos fazendountos é realmente uma peregrinação espiritual com a Sagrada Família de Nazaré –, aíntima alegria e profunda consolação de contemplar a Igreja de Cristo que engrandece eencoraja as famílias pelo testemunho que oferecem.
Com efeito, graças a elas, torna-se credível a beleza do matrimônio indissolúvel e fiel para sempre. A Sagrada Família de Nazaré é o seu modelo admirável, em cuja escola nóscompreendemos o motivo pelo qual devemos ter uma disciplina espiritual, se quisermosseguir a doutrina do Evangelho e tornar-nos discípulos de Cristo (Paulo VI, Discurso em
azaré, 5 de janeiro de 1964).
O Evangelho da família nutre também as sementes que ainda estão amadurecendo ecuida das árvores que secaram, mas que não podem ser descuidadas. A Igreja, enquantomestra segura e mãe amorosa, apesar de reconhecer que para os batizados não há outrovínculo nupcial a não ser o sacramental, e que cada ruptura do mesmo é contrária àvontade de Deus, está consciente da fragilidade de muitos dos seus filhos, que encontramdificuldades no caminho da fé.
Portanto, sem diminuir o valor do ideal evangélico, é preciso acompanhar, com misericórdia e
paciência, as possíveis etapas de crescimento das pessoas, que se vão construindo dia após dia. Um
pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a vidaexternamente correta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades. A todos deve
chegar a consolação e o estímulo do amor salvador de Deus, que opera misteriosamente em cada
pessoa, para além dos seus defeitos e das suas quedas ( Evangelii Gaudium, 44).
As famílias ancoradas na Sagrada Família de Nazaré nos rememoram que, mesmocom os desafios e feridas, o chamado divino ao matrimônio não está em contradição como humano. Um franciscano, comentando a vida de Jesus, afirmou: “Humano assim, nãotenho nenhuma dúvida, é Deus”. Realmente estamos assistindo a uma cena dos temposde hoje em que o descartável e as escolhas feitas somente por um período breveinfluenciam na constituição familiar. Mas não nos deixemos cair no pessimismo.
Quando encontro jovens que me dizem: “‘Os homens de uma vez’, as ‘mulheres deum tempo’ eram diferentes”, eu respondo-lhes: “Se queres casar com os ‘homens deuma vez’ ou ‘as mulheres de um tempo’, terás que buscá-los no cemitério, porque oshomens e as mulheres de hoje é que estão disponíveis”. Mas, ao mesmo tempo, éimportante lutar pelo bem da família, pelos valores, e para que a pureza do amor não
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seja somente de sentimentos e de escolhas passageiras ou sem responsabilidade, mas quetenha a coragem do “para sempre”. Digo isto porque o amor é uma globalidade e não
pode ser resumido a uma só dimensão, aquela dos sentimentos passageiros e instáveis.O mesmo apóstolo São Paulo, quando escreve o famoso hino ao amor (cf. 1Cor 13),
encontra dificuldade em defini-lo, mas oferece uma pluralidade de termos, positivos ou
negativos, para descrever as suas características.Os sentimentos, então, são extremamente importantes, porém não são “o tudo” do
amor. Eles são um start e uma dimensão transversal e permanente na relação conjugal,mas não são o fundamento. Os sentimentos servem, juntamente com a atração sexual,
para incitar o homem e a mulher a saírem de si mesmos e irem ao encontro do outro emuma dinâmica na qual não se reconhecem apenas como doadores, mas necessitados unsdos outros. Este encontro com o outro é absolutamente decisivo para todas as pessoas,que passam para um horizonte mais amplo, ao bem na relação de casal. Este bem que
tende a perpetuar na sua natureza íntima, a restar para sempre.Quem vive a experiência da celebração do matrimônio como esposo-esposa sabe
perfeitamente que aquele “sim” pronunciado não é ad tempus (de modo temporário) ,mas exprime o risco-certeza de uma liberdade que toca o abismo da profundidade da
pessoa humana e permite antecipar ou desafiar o próprio futuro. Que no decorrer da própria história conjugal isso não venha a ser desrespeitado e não se chegue à dissoluçãoda união conjugal. Temos que ter a coragem de dizer que nós, como pastores e comoIgreja, somos responsáveis por muitas destas dificuldades. Devemos acompanhar osovens casais nas diferentes etapas do crescimento da vida conjugal. Por isso a
convocação do Sínodo, a reflexão profunda de todos os aspectos de uma tão complexarealidade é realmente de grande importância e urgência.
É claro que estamos vivendo tempos difíceis e de constantes mutações no modo deviver a relação conjugal e de família, e tudo nos leva a um esforço de compreensãocultural. O aumento das convivências, o aumento de matrimônios civis e de segundomatrimônio, antes mesmo de serem interpretados como sinal de mal-estar, podem ser interpretados como um desejo de estabilidade. Ou seja: dentro de cada homem e de cadamulher, a nível humano e psicológico, existe uma tensão intrínseca em relação à decisão
do “para sempre”. Ninguém psicologicamente sadio se casaria civilmente ou ainda por uma segunda vez se não fosse convicto da bondade do “para sempre”. Assim, podemosacreditar no homem e na mulher de hoje e continuar acreditando também na educação ena formação dos casais; na preparação ao sacramento do matrimônio e noacompanhamento dos jovens casais, bem como ainda na assistência aos casais frágeis eem crise com instrumentos pastorais e de prevenção.
Queremos afirmar que Jesus é a nossa “lente” para ver a verdadeira realidade, e
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assim a família não se destrua pelas pesadas maneiras de relativismos. Para a família dehoje, o exemplo ainda é a Família de Nazaré, na qual a autoridade vem de Deus, e por isso é acolhida e respeitada. Segundo os Atos dos Apóstolos, necessitamos de obedecer aDeus mais que aos homens. A família, em “ primis” (primeiro lugar), e a relação conjugalhomem e mulher são realidades queridas por Deus. O matrimônio é o mais profundo
senso da intimidade do homem com Deus, na vocação e capacidade de aliança, deacolher a revelação. Assim, mais que indissolúvel em termos jurídicos, temos que afirmar que a união conjugal é um “dom indispensável”, que é a razão da indissolubilidade.Assim, acolhamos quanto nos foi ofertado no Concílio Vaticano II, em que, falando dafamília, foi citada a frase de São João Crisóstomo: “Família, ‘Igreja doméstica’”, etambém a de São João Paulo II: “Família, ‘Santuário da Vida’”.
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O anúncio do Evangelho da famíliaO diálogo sinodal abordou algumas instâncias pastorais mais urgentes, que devem ser
concretizadas em cada uma das Igrejas locais, que simbolizam todas as dioceses, prelazias, todas as porções de Igreja na comunhão cum Petro et sub Petro (com Pedro e
subordinado a Pedro). O anúncio do Evangelho da família constitui uma urgência para anova evangelização. A Igreja é chamada a colocá-lo em prática com ternura de mãe eclareza de mestra em fidelidade à kenosi (aproximação) misericordiosa de Cristo. Averdade encarna-se na fragilidade humana, não para condená-la, mas para salvá-la (cf. Jo3,16-17).
Partindo desta perspectiva da eclesiologia de comunhão, terminologia tão amada doConcílio Vaticano II, nos colocamos em uma prospectiva de que evangelizar éresponsabilidade de todo o povo de Deus, cada qual segundo o ministério e o carismaque lhe são próprios. E tudo isso nos leva ao centro do tema da nossa reflexão: sem otestemunho jubiloso dos cônjuges e das famílias, Igrejas domésticas, o anúncio, emboraseja correto, corre o risco de ser incompreendido ou de se afogar no mar de palavras quecaracteriza a nossa sociedade (cf. Novo Millennio Ineunte, 50).
Penso que já estão claras para todos a complexidade e a necessidade desta reflexão,mas para fazê-la será decisivo pôr em evidência o primado da graça e, por conseguinte,as possibilidades que o Espírito oferece no sacramento. Trata-se de levar a experimentar que o Evangelho da família é alegria que “torna repletos o coração e a vida inteira”,
porque em Cristo somos “libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do
isolamento” ( Evangelii Gaudium, 1). À luz da parábola do semeador (cf. Mt 13,3-9), anossa tarefa consiste em cooperar na sementeira, o resto é obra de Deus. Tudo quanto jáfalamos até agora deve ser compreendido e preparado para que não esqueçamos que aIgreja que prega sobre a família, os seus valores, a sua beleza, nos tempos de hoje, serásempre sinal de contradição na atual sociedade na qual reina o relativismo.
É por isso que se pede à Igreja inteira uma conversão missionária: é necessário queela não se limite a um anúncio meramente teórico, desvinculado dos problemas reais das
pessoas. Nunca podemos esquecer que a crise da fé comportou uma crise do matrimônioe da família; como consequência, a transmissão da própria fé dos pais aos filhos foimuitas vezes interrompida. Diante de uma fé forte, não há incidência de uma imposiçãode determinadas perspectivas culturais que debilitam a família e o matrimônio.
A conversão refere-se também à linguagem, para que ela seja efetivamentesignificativa. O anúncio deve levar a experimentar que o Evangelho da família é respostaàs expectativas mais profundas da pessoa humana: à sua dignidade e à sua plenarealização na reciprocidade, na comunhão e na fecundidade. Não se trata unicamente de
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apresentar uma normativa, mas de propor valores, respondendo à necessidade dosmesmos, que hoje se constata inclusive nos países mais secularizados.
A Palavra de Deus é fonte de vida e espiritualidade para a família. Toda PastoralFamiliar deverá se deixar modelar interiormente e formar os membros da Igrejadoméstica mediante a leitura com espírito de oração e eclesial da Sagrada Escritura. A
Palavra de Deus não é apenas uma Boa Nova para a vida particular das pessoas, mastambém um critério de juízo e uma luz para o discernimento dos vários desafios que oscônjuges e as famílias devem enfrentar. Meditaremos sobre este tema nas próximas
páginas, mas já faço uma oração pessoal por você, para que esta Palavra Salvadoraencontre espaço e terreno fecundo no seu coração.
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atrimônio e família na BíbliaCertamente poderíamos dedicar todo um livro ao tema da família na Sagrada
Escritura, mas podemos evocar tudo em poucas palavras: “Projeto de Deus”. É nessecontexto que convido você a reler comigo os textos da Escritura para entrever o projeto
de Deus, mesmo que esses, tantas vezes, se exprimam na fragilidade e nas fraquezasregistradas no percurso histórico.
A Bíblia nos ensina que o ideal da família deve ser sempre uma meta a ser alcançada,ou seja, a fecundidade, a fidelidade do matrimônio, porém, a Igreja deve se inclinar emfrente das feridas da família humana dos nossos dias e encontrar meios para conjugar afidelidade aos ensinamentos dos ideais e, ao mesmo tempo, a fidelidade à misericórdia,
porque não eram somente famílias ideais aquelas com quem Deus escreveu a história daSalvação, como assim chamamos hoje, e não eram sempre ideais aquelas famíliasrecordadas no Novo Testamento; encontramos “luz e obscuridade” e, ao interno destecaminho assim humano, a Igreja é chamada a derramar a “luz da sua doutrina e o óleoda misericórdia”.
Iniciamos então este caminho, com um percurso que os Padres da Igreja chamavamde “passeio na Escritura”, para crescermos aqui na Escola do Evangelho de Nazaré,tendo como luz e guia a Palavra da Salvação, que se fez Carne aqui neste lugar Santo. Acriação do ser humano é narrada no primeiro livro da Bíblia, o livro de Gênesis: “Deuscriou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele oscriou. E Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos’” (Gn 1,27-
28a). Daqui decorre certamente uma antropologia profunda e elevada, que poderíamosexplicar deste modo, sem pretensão de simplificar: o ser humano foi criado à imagem deDeus, e esta imagem é constituída do casal homem e mulher como unidade, apesar dasdiferentes identidades. O comando de gerar indica que o fim primário da união entre ohomem e a mulher é a transmissão da vida, uma finalidade sublime que é objeto de
bênção.O livro de Gênesis tem uma outra narração da criação do casal homem e mulher que
apresenta a mesma realidade:
E o Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhecorresponda”. Depois, da costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao
homem. E o homem exclamou: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela
será chamada ‘humana’ porque do homem foi tirada”. Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se
unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne (Gn 2,18.22-24).
O autor sacro usa imagens que não indicam uma realidade de natureza histórica,dizem os especialistas dos estudos bíblicos, mas indicam a criação dos dois sexos como
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um remédio contra a solidão do homem, e que a mulher que dele vem tem a sua mesmadignidade. Se na primeira narração colocava em relevo o fator de procriação, aqui seevidencia aquele de unidade. Nota-se, por fim, que em nenhuma das duas narraçõesencontramos ataduras de subordinação: Adão e Eva aparecem em um plano de paridade.O jogo de palavras em hebraico, ‘ish = homem e ‘ishah = mulher, enfatizam a unidade
do ser humano na distinção dos sexos. Tal distinção corresponde à vontade de Deus e éordenada para a procriação do gênero humano. O sexo não é uma realidade absoluta,mas integrada.
O fato de Deus ter criado o homem à Sua própria imagem, enquanto homem emulher, inclui em si a força atrativa do amor. É o equilíbrio destes dois elementos – unidade e procriação – que devem marcar para sempre o matrimônio como Deus oconcebeu no Seu desígnio originário. É maravilhoso que este projeto nunca tenha se
perdido no horizonte do povo da antiga aliança e pode-se alcançar pelo menos uma parte
da humanidade. Porém, o pecado original quebrou a genuinidade do primeiro casal.Depois do pecado, a mesma sexualidade sofreu uma distorção com a qual a narração
bíblica assim se exprime: “Multiplicarei os sofrimentos de tua gravidez. Entre dores darásà luz os filhos. Teus desejos te arrastarão para teu marido, e ele te dominará” (Gn 3,16).Ousarei dizer que a causa desta desordem comprometeu todas as relações que abrangemtodos os desvios que interessam ao matrimônio e à família.
Certamente não podemos ignorar a realidade pluralista do judaísmo, realidadeconcreta do mundo bíblico. As opiniões são diferentes, e na literatura rabínicaencontramos uma forte dependência da Sagrada Escritura, na qual o matrimônio é um
ato jurídico constituído por uma lista de deveres e pouco espaço para os sentimentos. Odivórcio é condenado por Malaquias, mas será aceito nos ambientes farisaicos.Finalmente, o matrimônio se tornará um símbolo do pacto do Sinai e a união conjugal deDeus com Israel, na qual a Tohah é o símbolo deste pacto matrimonial.
Sinteticamente se poderia afirmar que a tradição judaica antiga continua adesenvolver os ensinamentos encontrados na vasta literatura do Antigo Testamento, e o
problema do divórcio, da sua legitimidade, não era argumento de discussão até a tradiçãoevangélica (cf. Mt 19,3-9; Mc 10,1-12). Passando ao Novo Testamento, podemos dizer
que registramos também aqui uma certa continuidade nos valores fundamentais domatrimônio e da família, presentes no Antigo Testamento,
E aqui voltamos sempre à Sagrada Família de Nazaré, na qual a vinda do Filho deDeus ao mundo tem como contexto uma família concreta, José e Maria, dos quais Jesusera Filho. Encontramos neles o exemplo concreto dos valores do matrimônio e dafamília, no qual temos a graça de tocar o patrimônio da fé. O evento único da história, aEncarnação do Filho de Deus, acontece na simplicidade e cotidianidade da vida em
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família que a história e a arqueologia, hoje, nos ajudam a conhecer melhor, como jámeditamos nos primeiros capítulos deste livro. Conforme nos dizia o Beato Papa PauloVI no ano de 1964: “Aqui em Nazaré descobrimos a necessidade de observar o ambienteda sua demora entre nós, os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, os usosreligiosos, toda a humanidade de Jesus ao se revelar ao mundo.”
E aproveitando esta reflexão bíblica e teológica da beleza da família, na qual o Filhode Deus quis ter uma família e, então, se submeteu à Família de Nazaré, gostaria delembrar o que nos diz a psicologia moderna, que afirma a importância e a grandeinfluência que a atmosfera familiar pode ter no desenvolvimento da vida de uma pessoa.A experiência familiar vivida por Jesus foi realmente positiva e é apresentada por doistestemunhos evangélicos. Mateus fala partindo do papel de São José, e Lucas narra
partindo de Maria. Juntos delineiam, segundo o pensamento da Igreja, a família modelo.Mateus ressalta a figura de São José ao narrar a Anunciação do Anjo a ele e seu
papel de chefe de família. José é definido como o esposo de Maria (Mt 1,19), e Mariacomo a sua esposa (Mt 1,24), e assim a Mãe de Jesus, o Emanuel, Deus conosco (Mt1,18; 2,11). Mateus delineia a figura moral de José chamando-o “justo” (Mt 1,19), umaterminologia que reassume toda a espiritualidade bíblica (cf. Mt 5,20). Lucas, quanto àfigura de São José, nos apresenta informações similares às de Mateus, mas dá relevânciaà figura e à missão de Maria nos quadros da vida familiar. Maria é descrita como “esposae virgem” (Lc 1,27.34) de José, mulher cheia de graça, unida ao Senhor (Lc 1,28). Dócilà mensagem divina, concebe pelo Espírito Santo, potência de Deus (Lc 1,35), Jesus, o“Filho do Altíssimo” e herdeiro do trono de Davi (Lc 1,32). Ela e José são os pais de
Jesus (Lc 2,27), e este filho constitui o significado de suas vidas (cf. Lc 2,44-45), o queos fez se preocuparem com a Sua autonomia. Neste ambiente familiar, o Filho de Deustranscorreu a maior parte da Sua vida terrena. A tradição evangélica nos atesta que afamília de Jesus era uma família que se rendia à vontade de Deus (cf. Lc 2,21-22) e viviarelações sociais.
No ministério público de Jesus, Ele sempre se mostrou muito interessado pela vidaconcreta das famílias, conforme podemos confirmar pelos Evangelhos da Bíblia: amigode Lázaro e de suas irmãs, Marta e Maria (cf. Jo 11,5); a cura da sogra de Pedro (cf. Mc
1,19-31); o conhecimento da realidade de uma família, relatado na parábola do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32); o tratamento afetuoso com as crianças e o exemplo delas paraquem quer entrar no Reino de Deus (cf. Mc 10,13-16). São muitos os episódios de curase atenção de Jesus pelo ambiente familiar.
Neste ponto gostaria de concluir este subcapítulo com uma pequena chamada dotema matrimônio e a família no pensamento de São Paulo e da tradição Paulina. Comrelação à experiência de Paulo, pode-se notar a característica doméstica e familiar das
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comunidades cristãs. Sabemos que o apóstolo Paulo teve que afrontar as práticas domatrimônio e da família. Os escritos da tradição paulina nos oferecem elementos parauma verdadeira e própria Pastoral Familiar. Paulo mostra a grande estima e exalta avirgindade escolhida como expressão da liberdade interior e maior disponibilidade pelaobra missionária, mas ao mesmo tempo não diminui a importância e o valor da vida
conjugal. É interessante o quanto Paulo passa pela tradição, que ele conhece muito bemcomo bom judeu de origem farisaica e também por aquela helenista grega, que era ocontexto social do seu tempo, e, como consequência, emite a novidade cristã destinada afrutificar nas gerações futuras de todos os tempos.
Como exemplo, podemos citar a carta aos Efésios, na qual narra os deveres dafamília cristã e, em particular, os dos cônjuges.
Sede submissos uns aos outros, no temor de Cristo. As mulheres o sejam aos maridos, como ao
Senhor. Pois o marido é a cabeça da mulher, como Cristo também é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do
qual ele é o Salvador. Por outro lado, como a Igreja se submete a Cristo, que as mulheres também sesubmetam, em tudo, a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também amou a
Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra aquela que ele purifica pelo banho da água.
Pois ele quis apresentá-la a si mesmo toda bela, sem mancha nem ruga ou qualquer reparo, mas santa e
sem defeito. É assim que os maridos devem amar suas esposas, como amam seu próprio corpo. Aquele
que ama sua esposa está amando a si mesmo. Ninguém jamais odiou sua própria carne. Pelo contrário,
alimenta-a e a cerca de cuidado, como Cristo faz com a Igreja; e nós somos membros do seu corpo!
“Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne”.
Este mistério é grande – eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja. Em suma, cada um de vós
também ame a sua esposa como a si mesmo; e que a esposa tenha respeito pelo marido (Ef 5,21-33).
Em específico à exortação sobre o matrimônio, é no horizonte do amor recíprocoque também jorra a reciprocidade deste amor. Não se trata de uma dependênciaescravista, mas de um dinamismo do amor humano e da graça divina. Além disso, é arelação Cristo-Igreja, ou seja, a relação voluntária a modular a relação dos cônjuges. Arealidade do matrimônio, enfim, não é somente de natureza humana, mas é umarealidade que toca o projeto de Deus e imerge no mistério, na experiência de Cristo e daIgreja. Assim, a grande e sublime vocação e o projeto de Deus não são somente um
pacto entre os esposos, mas uma realidade eclesial.Gostaria de concluir com um rápido aceno sobre a realidade familiar presente no livro
de Atos dos Apóstolos, o qual oferece elementos significativos da época apostólica.ecessitamos dizer que o livro dos Atos não é um conjunto de temas sobre as famílias,
mas sim algumas informações claras que demonstram que elas tiveram papéisimportantes na difusão do cristianismo. Neste livro, são explicitamente citadas a casa deJudas, onde São Paulo foi hospedado quando Ananias foi visitá-lo (cf. At 9,10-11.17); e
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a casa de Simão, o curtidor de pele em Jaffa (Jope), onde Pedro foi hóspede (cf. At9,43; 10,6.32). Fala-se, também, da família e da casa de Cornélio, centurião em Cesárea(cf. At 11,13). Trata-se, porém, de edifícios e casas, mas também de famílias, nas quaisforam acolhidos para a predicação apostólica e contribuíram na difusão do cristianismo ena formação das comunidades cristãs.
O livro de Atos dos Apóstolos ainda se refere a casas privadas, habituais lugares dereunião dos cristãos (cf. At 2,46; 8,3; 20,7-12). Depois desta reflexão bíblica,continuaremos meditando a beleza da família e do matrimônio no livro humano daexistência, da vida dos irmãos e irmãs chamados a tão sublime vocação.
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bertura ao dom da vidaMeditando a beleza do dom da vida, gostaria ainda de continuar com uma imagem
bíblica do livro do Gênesis: “O homem se uniu a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu àluz Caim, dizendo: ‘Ganhei um homem com a ajuda do Senhor’. Tornou a dar à luz e
teve Abel, irmão de Caim. Abel tornou-se pastor de ovelhas e Caim pôs-se a cultivar osolo” (Gn 4,1-2). Referir-se ao Senhor é uma garantia no desenvolver da história bíblica.É uma exclamação pelo novo homem, assim como no Novo Testamento o nascimentode um filho constitui um símbolo Pascal, conforme narra o evangelista São João: “Amulher, quando vai dar à luz, fica angustiada, porque chegou a sua hora. Mas depois quea criança nasceu, já não se lembra mais das dores, na alegria de um ser humano ter vindoao mundo” (Jo 16,21).
A alegria da espera e do acolhimento de um(a) novo(a) filho(a) enche de alegria oambiente familiar e transforma-se em um processo de crescimento também para o casal.
ão podemos, porém, fechar os olhos à triste realidade das feridas ínferas dahumanidade, como daqueles que querem um filho a todo o custo, interpretando que ter um filho é um direito a ser reivindicado, fazendo até o uso de recursos e meiosmoralmente ilícitos, ou ainda daqueles que interrompem a gravidez com o abominávelato do aborto. Por isso, com toda sinceridade, temos que afirmar que o filho concebido eo seu nascimento são um convite a fazer festa, apesar da responsabilidade e sacrifício.Isso na capacidade de responder em primeiro lugar a Deus e à coerência humana dasescolhas.
A este propósito trago a reflexão de nosso Papa Francisco durante a audiência geraldo dia 11 de fevereiro de 2015. Depois de ter refletido sobre as figuras da mãe e do pai,o “Papa da ternura” refletiu sobre a família, falando do filho, ou melhor, dos filhos.Isaías tem uma bela imagem ao escrever: “Lança um olhar em volta e observa: todosestes foram reunidos para virem a ti, teus filhos vêm de longe, tuas filhas carregadas aocolo. Então verás, e teu rosto se iluminará, teu coração vai palpitar e dilatará” (Is 60,4-5a). É uma imagem esplêndida, uma imagem da felicidade que se realiza na reunificaçãoentre pais e filhos, que caminham juntos rumo a um futuro de liberdade e de paz, depoisde um longo tempo de privações e de separação, quando o povo hebreu se encontravadistante da pátria.
De fato, há uma estreita ligação entre a esperança de um povo e a harmonia entre asgerações. Devemos pensar bem nisto. A alegria dos filhos faz palpitar o coração dos paise reabre o futuro. Os filhos são a alegria da família e da sociedade. Não são um problemade biologia reprodutiva, nem um dos tantos modos de se realizar. Tampouco são uma
posse dos pais… Não. Os filhos são um dom, são um presente, entende? Os filhos são
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um dom. Cada um é único e não repetível, e ao mesmo tempo inconfundivelmente ligadoàs suas raízes. Ser filho e filha, segundo o desígnio de Deus, significa levar em si amemória e a esperança de um amor que se realizou justamente iluminando a vida de umoutro ser humano, original e novo. E para os pais cada filho é si mesmo, é diferente, édiverso.
Um filho é amado porque é filho: não porque é bonito, ou porque é assim ou assim;não, porque é filho! Não porque pensa como eu ou encarna os meus desejos. Um filho éum filho: uma vida gerada por nós, mas destinada a ele, ao seu bem, ao bem da família,da sociedade, de toda a humanidade. Daqui vem também a profundidade da experiênciahumana de ser filho e filha, que nos permite descobrir a dimensão mais gratuita do amor,que nunca para de nos surpreender. É a beleza de ser amado primeiro: os filhos sãoamados antes de chegarem. São amados antes de terem feito qualquer coisa paramerecê-lo, antes de saberem falar ou pensar, até mesmo antes de virem ao mundo! Ser
filho é a condição fundamental para conhecer o Amor de Deus, que é a fonte últimadeste autêntico milagre. Na alma de cada filho, porquanto vulnerável, Deus coloca o selodeste amor, que está na base da sua dignidade pessoal, uma dignidade que nada eninguém poderá destruir.
O quarto mandamento pede aos filhos – e todos o somos! – para honrar o pai e amãe (cf. Ex 20,12). Este mandamento vem logo depois daqueles que dizem respeito ao
próprio Deus. De fato, contém algo de sagrado, algo de divino, algo que está na raiz detodo outro tipo de respeito entre os homens. E na formulação bíblica deste quartomandamento, acrescenta-se: “Para que vivas longos anos na terra que o Senhor teu Deus
te dará”. A ligação virtuosa entre as gerações é garantia de futuro e garantia de umahistória realmente humana. Uma sociedade de filhos que não honram os pais é umasociedade sem honra; quando não se honra os pais, perde-se a própria honra! É umasociedade destinada a se encher de jovens áridos e ávidos.
Concluo lembrando ainda as palavras do Beato Paulo VI na Encíclica HumanaeVitae: “Ter mais filhos não pode tornar-se automaticamente uma escolha irresponsável.
ão ter filhos é uma escolha egoísta.” A vida rejuvenesce e conquista energiasmultiplicando-se: se enriquece, não se empobrece! Os filhos aprendem a cuidar da
própria família, amadurecem na partilha dos seus sacrifícios, crescem na apreciação dosseus dons. A agradável experiência da fraternidade anima o respeito e o cuidado dos pais,aos quais é justo o nosso reconhecimento.
Ó Jesus, Filho eterno, feito filho no tempo, ajuda-nos a encontrar o caminhode uma nova irradiação desta experiência humana tão simples e tão grandeque é ser filho.
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Multiplica em todas as gerações a consciência deste mistério que enriquece avida de todos e que vem do próprio Deus.
Ajuda-nos a redescobri-lo, desafiando os preconceitos e vivendo-o na fé e em perfeita alegria.
Amém!
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O desafio da educação dos filhosAfrontar o tema da educação no contexto familiar é como tocar o coração de todas
as formas que já afirmamos até aqui. Diz um provérbio chinês: “Se fazes projetos por um ano, plante o grão; se fazes projetos para um maior número de anos, plante uma
árvore; se fazes projeto para uma vida, eduque as pessoas.” Realmente, a educação é omaior tesouro e a mais importante das heranças que os pais podem dar aos filhos, já nosdiziam nossos avós e pais na fé. Mas certamente é um dos principais desafios diante dosquais se encontram as famílias de hoje e, sem dúvida, se tornou ainda mais exigente ecomplexo por causa da realidade cultural contemporânea e da grande influência dosmeios de comunicação, mundo do social work , Internet. É preciso ter, na devidaconsideração, as exigências e as expectativas de famílias capazes de ser, na vidacotidiana, lugares de crescimento, de transmissão concreta e essencial das virtudes queforjam a existência. Isto indica que os pais podem escolher livremente o tipo de educaçãoque desejam oferecer aos filhos, em conformidade com as convicções que lhes são
próprias.Compartilho ainda a estreita relação entre educar e gerar, na qual a relação educativa
entre pais e filhos é uma relação que se instaura no interno da família, já no nascimento,deixando marcas indeléveis. A contribuição do pai e da mãe, na complementaridade entreeles, tem um influxo decisivo na vida dos filhos. Espera-se dos pais assegurar aos filhos acura, o afeto, a orientação de senso e orientação no mundo de hoje, escutando mais doque falando, agindo com coerência mais do que comandando. Criando um clima de
confiança que se torna como uma bússola na regulação interna dos filhos.Sempre foi enfatizada a necessidade da dimensão materna, mas constatamos que ela
se encontra sempre mais fraca e às margens da figura paterna. Nossos filhos necessitammuito da presença da figura paterna e enérgica que possa lhes garantir umdesenvolvimento sadio e seguro. Mas, na realidade, a responsabilidade educativa é dosdois, em uma unidade que já meditamos nos capítulos precedentes. Assim, é a própriadiferença e reciprocidade entre pai e mãe que cria o espaço fecundo para o plenocrescimento dos filhos.
Na tarefa educativa familiar, gostaria de propor a expressão “cura responsável”, a paternidade e maternidade responsável, terminologia que usamos e propomos também para a maternidade e paternidade espiritual, aos reitores dos seminários e responsáveisdas comunidades religiosas e de consagrados. Cura responsável que se conjuga com “a
proximidade e a confiança” típicas da figura materna e com “o senso de justiça e deigualdade”, típico do aspecto paterno da relação. Aqui peço perdão se insisto em dizer que esta orientação na relação educativa familiar forma um espécie de “bússola interior”,
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que forma critérios de referências para os filhos nas diversas situações da vida. Por isso,a educação familiar é escola de humanidade, na qual a tarefa dos pais seria aquela detirar as potencialidades dos filhos. A palavra latina que exprime esta realidade é “e-ducere”, que é o contrário de pretender que os filhos sejam cópias e semelhanças dos
próprios pais, ou seja, “ se-ducere”. Tal relação, porém, deve ser harmonizada entre
autoridade e liberdade, e talvez aqui já mencionamos o desafio real da educação, ou seja,evitar o excesso de autoritarismo e de liberalismo, ou ainda pais sem a consciência daresponsabilidade a eles confiada. Este desafio encontra equilíbrio quando a vida familiar écompartilhada nos seus momentos cotidianos.
Assim como nos ensina a Sagrada Família de Nazaré, a autoridade dos pais, comoaquela de José e Maria, se torna real e coerente, fazendo o crescimento dos filhos,através do próprio estilo de vida, caracterizado pelos valores humanos e cristãos, porqueé próprio das famílias que os filhos aprendam as relações gratuitas e não instrumentais. É
próprio do ambiente familiar que aprendamos o direito inalienável da pessoa humana noexercício da sua liberdade. Meditando assim a relação familiar como modelo educativo,
podemos dizer que a família permanece sempre como a primeira e indispensávelcomunidade educadora, na qual a educação é um dever de todos os pais, porque estáconexa com a transmissão da vida, e é insubstituível, porque não pode ser delegada, nemmesmo substituída. Como escuto os casais com filhos adolescentes e jovens, vejo quemuitos deles vivem um senso de solidão, sentimento de inadequação e até mesmo deimpotência. Mas estes desafios são superados com o amor e atenção às famílias emdificuldades, amando-as em todas as partes, suportando-as e ajudando-as a serem
protagonistas ativas da educação dos filhos e, assim, da inteira comunidade.Aqui a tarefa educativa dos pais recebe também a força da graça sacramental, que
faz dos casais, através do sacramento do matrimônio, sinal do Amor de Deus que cura eeduca os Seus filhos. Nesta preciosa missão das famílias, a Igreja desempenha um
precioso papel de apoio a elas, começando pela iniciação cristã, através de comunidadesacolhedoras. Hoje, mais do que ontem, tanto nas situações complexas como nas normais,as comunidades eclesiais devem encontrar modos de apoio às famílias no seucompromisso educacional. De modo concreto, no acompanhamento das crianças, dos
adolescentes e dos jovens em seu crescimento, para que sejam capazes de seintroduzirem no pleno sentido da vida e de despertarem ações responsáveis, vividas à luzdo Evangelho. E aqui voltamos ao exemplo da Sagrada Família de Nazaré, na qual aternura, a misericórdia e a sensibilidade, materna e paterna, são uma escola dehumanidade e de vida.
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O papel dos avós na educação dos netos Não podemos falar da beleza do dom da vida e da possibilidade da educação dos
filhos sem exaltar a preciosa missão dos avós na cooperação ativa e benéfica na relaçãocom os pequenos. Os anciãos nos trazem a história, nos trazem a doutrina, nos trazem a
fé e a dão em herança. São aqueles que, como o bom vinho envelhecido, têm esta forçadentro de si para nos dar uma herança nobre.
Em todos os países pelos quais passei em missão, seja nos meus países de origem,como a Itália e o Brasil, seja nos outros países da América, como EUA, seja em Israel ena Palestina, me comove ver, na grande maioria das vezes, a ternura dos avós na relaçãocom os próprios netos. Essa ternura fala de Deus, mesmo se muitas das vezes os
próprios avós e as famílias ficam extasiados somente nos sentimentos, sem a consciênciada beleza da mensagem que trazem. É necessário refletir sobre a experiência concretados avós e sobre a tarefa que eles exercem na educação dos netos, mesmo que nemsempre seja fácil, como é a tarefa educacional, que tem seus desafios; e para os avós nãoseria diferente.
Na verdade, os avós já sentem o cansaço, o sofrimento de tantas situações, como asseparações dos filhos, dificuldades econômicas, a mudança de mentalidade e o sentir-sefora dos projetos, ou mesmo abandonados. Necessitamos de redescobrir o valor dosanciãos nas famílias para escutá-los, acolhendo-os nos momentos e situações de solidão,redescobrindo o valor que eles possuem e a possibilidade de poder usufruir dessa fontede segurança, de tradições e de ternura.
Às vezes, há gerações de jovens que, por complexas razões históricas e culturais,vivem de forma mais intensa a necessidade de se tornarem autônomos dos próprios pais,a necessidade quase de “se libertarem” das gerações anteriores, perdendo, assim, oequilíbrio fecundo entre as gerações. O resultado é um grave empobrecimento para o
povo, e a liberdade que prevalece na sociedade é uma liberdade falsa, que se transformaquase sempre em autoritarismo. E, assim, São Paulo recomenda a Timóteo – que éPastor e, consequentemente, pai da comunidade – que tenha respeito pelos idosos e
pelos familiares e exorta-o a fazê-lo com atitude filial: “O idoso como se fosse teu pai”,“as mulheres idosas como se fossem mães” (cf. 1Tm 5,1). O chefe da comunidade nãoestá dispensado desta vontade de Deus; pelo contrário, a caridade de Cristo impele-o afazê-lo com um amor maior. Como fez a Virgem Maria, que, apesar de ter se tornado aMãe do Messias, se sentiu impelida pelo Amor de Deus, que nela se fazia carne, a ir semdemora servir a sua prima Isabel, que era idosa.
E, deste modo, voltamos a este “ícone” cheio de alegria e de esperança, cheio de fé,cheio de caridade. Podemos pensar que a Virgem Maria, quando se encontrava na casa
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Ajuda-os a viverem serenamente e a sentirem-se acolhidos por todos os anos devida que Tu lhes concederás.
Maria, Mãe de todos os viventes, protege sempre os avós, acompanha-os na peregrinação terrena e faz com que um dia todas as famílias se reúnam na pátria celeste, onde tu esperas toda a humanidade para o grande abraço davida sem fim. Amém!
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Prospectivas para uma Pastoral Familiar no exemplo da Sagrada
Famíliaepois da meditação da beleza e da verdade do Evangelho no matrimônio realizadano capítulo anterior, neste capítulo iremos refletir e colocar os alicerces para a
construção de uma “Pastoral Familiar”. Mas já se faz necessário esclarecer o que nósentendemos por família, terminologia usada para indicar o sacramento do matrimônio,mesmo que muitas das vezes não venha bem compreendido, mas que indica sempre aação Sagrada do desígnio de Deus para a humanidade e é uma vocação. Por essa razão,
existe a necessidade de uma preparação adequada ao longo de um itinerário de fé,através de um discernimento maduro, já que não deve ser considerado unicamente umatradição cultural, nem sequer uma exigência social ou jurídica. Assim, é preciso realizar
percursos que acompanhem a pessoa e o casal, de tal modo que a comunicação dosconteúdos da fé fundada em uma experiência de vida seja oferecida, para que toda acomunidade eclesial se torne a base, o terreno (húmus) da própria experiência familiar.
Neste contexto, a Igreja sente a necessidade de dizer uma palavra de verdade e deesperança. É preciso, porém, partir da convicção de que o homem provém de Deus e,
por conseguinte, é capaz de voltar a propor as grandes interrogações sobre o significado
mais profundo da humanidade. Os grandes valores do matrimônio e da família cristãcorrespondem à investigação que atravessa a existência humana, inclusive numa épocacaracterizada pelo individualismo. Para que a Pastoral Familiar não se torne somente umdiscurso ideológico, é necessário acolher as pessoas com as suas próprias existênciasconcretas, saber fomentá-las a buscar, encorajando-as, o desejo de Deus e a vontade dese sentir plenamente parte da Igreja, até mesmo quando experimentarem a falência ouviverem as mais diferentes e frágeis situações.
A mensagem cristã contém sempre em si mesma a realidade e a dinâmica da
misericórdia e da verdade, que convergem em Cristo. Por isso a necessidade de umaPastoral Familiar com a prioridade de “dar e reconhecer” ao sacramento do matrimônio asua tarefa e a missão que o Senhor confiou à Igreja na história da humanidade; e que nãoresuma a pastoral em um “fazer alguma coisa para...”. Não podemos também falar deuma Pastoral Familiar que não tenha como fundamento a “Verdade” e a consciência deque o “Sacramento nos dá uma graça particular”, que exprime a ação do mistério deDeus. E aqui parece que estamos fazendo uma aula de Teologia, mas não é assim. O
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povo de Deus, até aqueles mais simples e humildes dentro da Igreja, depois de umacatequese ou uma homilia feita sem a dimensão da graça, nos indaga se temos fé, ou emnome de quem pronunciamos certas verdades absolutas. Em outras palavras, temos queafirmar a verdade que todo homem tem sede de Deus e possui o desejo dotranscendente. E daqui emerge a convicção de formar uma “Pastoral Familiar” voltada
para as necessidades e para o desenvolvimento concreto do povo de Deus, que nos levaa contemplar a família como sinal de Sua bênção. Eis aqui a necessidade de acreditar queesta relação deve ser curada, deve crescer no amor e basear-se no “livre consenso”, coma própria vontade.
Assim sendo, não podemos pensar em uma Pastoral Familiar na qual os casais, osesposos, não sejam os protagonistas; risco muito comum em algumas realidades nasquais a pastoral chamada familiar é o salão de palestras de sacerdotes, religiosos econsagrados celibatários, sem a mínima participação ativa das famílias. Surgem, então, a
evocação e a necessidade de uma renovada prática pastoral, à luz do Evangelho dafamília, superando as óticas individualistas que ainda a caracterizam. Por isso, temos queinsistir para uma renovação da formação dos presbíteros, dos diáconos, dos catequistas edos outros agentes no campo da pastoral, mediante uma maior participação das própriasfamílias. Há ainda a necessidade de uma evangelização que denuncie com franqueza oscondicionamentos culturais, sociais, políticos e econômicos, como o espaço excessivoreservado à lógica do mercado, que impedem uma autêntica vida familiar, determinandodiscriminações das várias formas de pobreza, de exclusão e de violência.
Por isso, é preciso desenvolver um diálogo e uma cooperação com as estruturas
sociais, encorajando e apoiando os leigos que, como cristãos, se comprometem nosâmbitos cultural e sociopolítico. O exemplo é sempre o da Sagrada Família de Nazaré, naqual Jesus, “Filho de Deus”, viveu por trinta anos da Sua vida de modo simples, comotodos os cidadãos do Seu tempo, comendo, estudando, trabalhando, rezando e serelacionando com as pessoas da sociedade, entrando no meio da realidade humana.
Partindo deste princípio de cotidianidade e vida ordinária, queremos adicionar oconvite que Nosso Senhor Jesus Cristo nos faz: “Eis que estou à porta e bato; se alguémouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com
ele e ele comigo” (Ap 3,20). Deus não nos pede gestos impossíveis ou além das forçashumanas, nos pede simplesmente para abrirmos a porta da nossa vida para que Ele possacompartilhar conosco um aspecto simples, como aquele de um jantar, de uma ceia. Aquitocamos a identidade da família, da vida matrimonial e dos princípios da pastoral, pois élugar de amor e de comunhão. E não é uma simples coisa, aqui colocamos na
profundidade do “Espírito” a totalidade da própria vida, do próprio dinamismo de amor,da vida concreta.
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Esta cotidianidade, gostaria de repetir, é a base e a meta de toda a “PastoralFamiliar”. Não seria esta a grande riqueza a se valorizar? A planta boa, porém frágil, parase cultivar? Não seria essa a fragilidade das relações afetivas dos casais, uma dasdificuldades mais comuns dos nossos tempos? Seria valorizar as famílias e os casais não
pelo serviço que eles prestam à paróquia, mas por aquilo que manifestam. A Pastoral
Familiar deveria, assim, mover a sua ação a partir desta prospectiva: “Escutar as famíliase valorizá-las por aquilo que exprimem”, e não ceder à tentação de sempre pedir-lhesserviços para a organização paroquial no que nos convém; certamente, o serviço seria aconsequência de um caminho de fé percorrido na comunhão familiar. Aqui o grandedesafio é o de “escutar, compartilhar e dialogar”, acolhendo com respeito a realidade decada família, criando percursos de crescimento na fé, para que seja sensível às diferentessituações, procurando e tendo a coragem de usar linguagens diferentes. Nestes percursos,a complexidade da vida vale para todos, mas neles podemos compreender que o amor é,
em todo caso, a realidade fundamental e essencial.Para falarmos concretamente e com experiência deste tema da necessidade de uma
“Pastoral Familiar”, proponho as palavras de dois pastores, dois presbíteros daArquidiocese do Rio de Janeiro. Foram hóspedes no nosso programa “Em casa com aSagrada Família”. Eis a escolha do Evangelho aqui de Nazaré chegando até nós. Comalegria lhe apresento: padre Wagner Toledo Moreira, vigário episcopal da região urbanada Arquidiocese do Rio e pároco da Paróquia Santa Rita, e padre Antônio Augusto daSilva Bezerra, pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, do bairro Maria da Graça,da Arquidiocese do Rio. Eles estavam aqui na Terra Santa, no mês de outubro de 2014,
para os exercícios espirituais com outros vinte irmãos sacerdotes, como Dom AssisLopes, titular de Zarai e bispo auxiliar emérito da Arquidiocese do Rio,
Tive a graça de acompanhar estes irmãos durante o retiro e fiquei edificado com suafé e seu amor pastoral. Na entrevista durante o programa solicitei ao Pe. Wagner Toledoque nos contasse sobre a beleza e os desafios da família, e ele assim me relatou:
Temos que partir com a consciência de que a paróquia é uma família. E vemos, então, a grande
necessidade de trabalhar a família, as realidades familiares no seu conjunto… E a necessidade que se
apresenta de transmitir os valores, os rudimentos da nossa fé, como um grande dom para que a família
nunca se canse de amar. Amando a Deus, servindo a Deus, ela terá, com toda a certeza, condições dese consolidar e de viver plenamente a sua vocação, de ser um sacramento do Amor de Deus na Igreja e
na sociedade.
Quando perguntei sobre a realidade da Pastoral Familiar da Arquidiocese do Rio deJaneiro, rapidamente, ele me respondeu:
Nós estamos buscando, sobretudo agora, com o grande desafio das famílias na realidade de hoje, dar
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uma maior formação para a juventude. A formação pré-matrimonial tornou-se a grande prioridade de
investimento, para que, observando os valores que a família possui, o jovem possa ter o pleno
discernimento do que ele vai abraçar, do que ele, verdadeiramente, deseja para toda sua vida. O Papa
Francisco, quando esteve em Copacabana, na Jornada Mundial da Juventude, nos convidou a não
termos medo de amar. Então, esta generosidade de amar de verdade, certamente, vai passar por aquele
aspecto tão lindo que o apóstolo Paulo apresentou. O modelo de amor não é mais um coração
vermelho, mas o modelo do amor é a Cruz de Nosso Senhor que mostra um amor que não conhece
medida. Então, nossa necessidade atual na formação, na catequese, na iniciação cristã, é apresentar esta
disposição, esta generosidade dos nossos jovens, para que tenham esta condição de amar, nesta medida.
Um amor que não conhece medida.
Ao Pe. Antônio Augusto, que seguiu com atenção os passos da terceira assembleiasinodal, que teve a participação de S. Eminência cardeal Dom Orani João Tempesta, eu
perguntei quais foram as colocações de Dom Orani durante a terceira assembleiaextraordinária do sínodo. E com entusiasmo e convicção, ele me respondeu:
Eu creio que a afirmação que se destaca é quando o nosso cardeal arcebispo menciona a importância de
preparar os jovens para uma vida sacramental. Não simplesmente vamos estabelecer uma configuração
social, um grupo que se reúne para viver juntos. Mas que vai viver, existencialmente, um sacramento.
Acho que esta afirmação dele sobre a questão da formação, que inclusive foi veiculada pelos meios de
comunicação social da nossa Arquidiocese, é crucial para que possamos trabalhar na nossa vida
pastoral nas igrejas… Para que possamos estabelecer uma nova família como a Sagrada Família. Uma
nova família não porque existe um novo modelo, mas porque se renova a partir de Deus. Como existe
um novo Homem, existe uma nova Família santificada. A família é um plano de Deus, é um sonho de
Deus. Então, é por isso que é necessário ter sempre este referencial dos nossos valores evangélicos, e
não dá para fugir disso… Nós precisamos centrar no Evangelho, fazer esse reencontro com a SagradaFamília que demarca este plano de Deus. Muitas vezes, nós podemos esquecer, diante dos desafios da
sociedade, esta configuração santificada da família. Eu acho que o Sínodo das Famílias está tentando
ajustar uma linguagem, para poder aproximar as pessoas desta santificação familiar. Está tentando fazer
com que as pessoas vejam a importância e a gravidade disso. Penso que, quando se fala de formação, e
neste caso para a preparação do matrimônio, se fala da gravidade do sacramento. Nós recebemos o
sacramento com preparação… Nós recebemos a Eucaristia com uma preparação… Antes de tudo,
precisamos confessar e estar bem dispostos espiritualmente… Nós recebemos o sacramento do
Crisma, e todos os outros sacramentos, com alguma preparação… E isso deve ser mais discutido…
Como preparar as pessoas para perceberem a gravidade deste compromisso de assumir uma família?
Que é uma vocação, não é simplesmente uma oportunidade de estabelecer uma felicidade autônoma,
sem Deus… Mas, uma felicidade instituída e abençoada por Deus, porque assim foi pensada por Ele.
Ao Pe. Wagner Toledo perguntei sobre a experiência de estar na casa da SagradaFamília, e, comovido, ele me respondeu:
A nossa alegria é poder levar para o nosso vicariato, que atende milhares e milhares de pessoas de todo
o Estado do Rio de Janeiro, a cotidianidade da Sagrada Família, que, certamente, vai ecoar com aquele
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grande pedido do Santo Padre de sermos um hospital de campanha. Na família a gente ataca o que é de
imediato para poder sanar as suas dificuldades, acolhendo e tratando de uma maneira mais direta...
Então, vou levar esta experiência da cotidianidade como o meio mais seguro de vivermos a nossa
vocação familiar.
Fiz a mesma pergunta ao Pe. Antônio Augusto. Ele, que está no início do seuministério, exprimiu a graça de poder enviar esta mensagem para as famílias, aqui, naescola do Evangelho.
Penso que, de maneira muito especial, é perceber a santidade à qual somos chamados… A santidade de
uma maneira mais corriqueira e simples. Ver a Sagrada Família na simplicidade de Nazaré, como
estamos contemplando aqui, me ajuda a perceber que a santidade não se faz de grandes caminhos, de
grandes feitos, mas daquilo que é mais comum na vida dos homens… Jesus foi virtuoso e santo na
simplicidade de Nazaré. Nossa Senhora foi santíssima aqui, neste lugar simples, singelo… São José fez
este mesmo caminho… Então, vemos que na simplicidade e nas pequenas ocasiões podemos viver a
santidade. Penso que este é um desafio para as famílias. Dentro de casa existe uma igreja, existe aoportunidade da santificação; então, aquilo que nós celebramos na Igreja, aquilo que nós cremos, nós
precisamos configurar dentro da nossa família, que é muito importante para que possamos ter a
plenitude desta maturidade familiar.
Depois do testemunho destes dois pastores, podemos ainda precisar que é necessárioolhar para as realidades familiares e ter a sensibilidade de perguntar em qual nível deamor, sobretudo aquele “familiar”, uma família se encontra; e ter assim a clarezaexistencial de que estamos todos na mesma barca – famílias, padres, bispos, religiosos econsagrados –, na mesma humanidade, aquela que Deus ama; e que Ele não ama mais
aqueles que já estão mais à frente no caminho, ou que apenas iniciaram, ou que estão passando por dificuldades.
Depois desta introdução, procurarei brevemente tratar algumas fases da PastoralFamiliar, aquelas mais comuns e urgentes.
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Orientar os nubentes (noivos) ao caminhodo matrimônio
A complexa realidade social e os desafios que as famílias de hoje estão sendochamadas a enfrentar exigem um maior compromisso da parte de toda a comunidade
cristã, principalmente em relação à preparação dos noivos para o matrimônio. Mas temosque partir da realidade de que a preparação ao matrimônio é uma escolha vocacional e,assim, deve ser inserida em um caminho gradual e contínuo, no qual a comunidade cristãé chamada a oferecer percursos de acompanhamento nos diferentes momentos dodesenvolvimento afetivo, relacional e espiritual da pessoa e do casal.
O tempo do namoro e do noivado ainda não são plenamente valorizados nacomunidade cristã, e realmente é uma lástima esta realidade, porque é um momento
precioso no qual os jovens são mais sensíveis às inquietações que desafiam suas
liberdades. Por isso, a urgência em ajudá-los a motivar as escolhas e as decisões parauma aliança de confiança um no outro, de modo que os ajudem a refletir, em uma faseinicial, “por que querem se casar” e “por que casar na Igreja”. No casal que está noinício da construção de uma relação autêntica na liberdade e no respeito recíproco é quenasce a consciência de que o amor envolve responsabilidade. A consciência de que amar é desejar o verdadeiro bem do outro, tornando-se capaz de se doar mutuamente e gerar,na estabilidade da vida familiar, o conceito de que os filhos são um dom.
Nos caminhos de acompanhamento, além da relação de casal, é determinante que aexperiência na comunidade faça crescer na consciência que a consistência do “nós” se
realiza no pertencer a um contexto eclesial e social. Nas páginas que seguem gostaria de propor um percurso para a preparação dos jovens ao sacramento do matrimônio. A pedagogia em propor um itinerário aos jovens namorados requer atenção e diálogo, pois,caso se torne uma obrigação, ela será artificial e dará poucos frutos. Porém, devem ser aacolhida e o clima do amor e do testemunho, seja dos casais acompanhadores seja dos
presbíteros, a grande arte no acompanhamento dos jovens namorados.Em breve poderemos dizer que o primeiro instrumento a ser usado somos nós
mesmos, com a nossa alegria e o nosso testemunho. É bem claro que o percurso de
preparação se torna também uma ocasião de aprofundamento e verificação para osovens namorados e noivos, para checarem o caminho que fazem como casal,
aprendendo métodos de comunicação, partilhando as experiências, de modo que setornem protagonistas do próprio caminho. E também é útil recordar que para muitos seráuma oportunidade de iniciação da redescoberta de um caminho de fé.
Desde já esclareço que é somente uma sugestão, mas o importante é que a preocupação de se construir um percurso seja uma das metas, nas nossas dioceses e
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paróquias, e que seja um dos frutos da reflexão sinodal. Este percurso nasce de um período em que guiei jovens no discernimento vocacional, tanto ao matrimônio quanto para a vida sacerdotal e vida consagrada.
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assos do percurso de preparaçãoOs objetivos de acompanhar o caminho de formação dos jovens namorados e noivos
podem ser articulados em três grandes âmbitos: identidade, reciprocidade e projeto. Essastrês dimensões devem ser consideradas em unidade, seja na vida pessoal, seja na vida de
casal e de comunidade. – Identidade: este aspecto favorece a integração de todas as potencialidades da
pessoa, fazendo emergir a corporeidade e a sexualidade nas suas dimensões constitutivasdo ser homem e mulher; oportunidade de rever a comunicação e a relação como pessoase como casal, revendo a linguagem do amor, da comunhão e da fecundidade. Conquistar identidade ainda é aprender a assumir o tempo como um projeto de vida pessoal e decasal, partindo da própria história para chegar à história partilhada. É importante ajudar os jovens a redescobrirem a beleza da espera para o início de uma vida sexual, norespeito recíproco, criando consciência na construção de uma harmonia entreinteligência, afetividade e vontade.
– Reciprocidade: a reciprocidade é fruto do equilíbrio dinâmico entre autonomia edependência. É necessário criar ocasiões para crescer na estima pessoal e recíproca, paraaprenderem a ser verdadeiros consigo mesmos e assim ver o outro como um recurso eum bem. A capacidade de diálogo e de confronto é uma dimensão necessária paradescobrir que a relação é a fonte para a vida pessoal e de casal, elementos indispensáveis
para viverem juntos e para o bem comum. A educação é o nível de estrutura ligado àrelação entre as gerações, em primeiro lugar no interno da família e, como consequência,
nas relações sociais. Muitas das dificuldades experimentadas pelas famílias, hoje, nocampo educativo, existem porque as gerações vivem mundos separados e estranhos unsaos outros. O diálogo requer uma significativa presença recíproca e a disponibilidade notempo. O pleno amadurecer requer um contato com as figuras significativas, sejam elasos pais ou figuras vigárias, sejam aquelas que no decorrer do processo se tornamsignificativas. A causa da relação se instaura na experiência pessoal dos jovens, com
parentes, amigos maduros, professores, sacerdotes, religiosos. – Projeto: este objetivo faz crescer a consciência da necessidade de um projeto de
vida para si mesmo e para o casal que está nascendo. Muitas das vezes os jovens percebem que precisam se amar, mas falta um projeto que dê um horizonte aberto àesperança e ao amor. Corre-se o risco de viver somente os fragmentos do presente, semdar plenitude à relação. É belo e libertador crescer na consciência de que a própriaexistência é um dom recebido para ser doado na própria vocação esponsal, vivida nohorizonte da fé, no caminho de Cristo Esposo, que se oferece à Sua Igreja.
Assim, o itinerário de preparação dos jovens ao matrimônio deve fazer parte do
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coração da Pastoral Familiar e também daquela juventude, bem como das pastorais paroquiais e das associações. Na impostação dos percursos de acompanhamento, éimportante o trabalho em “equipe” e a atenção de todas as dimensões da pessoa, usandomodalidades diversificadas e uma linguagem adequada para poder comunicar a fonte doamor e o fascínio da fé. A vocação de cada um é um dom e uma riqueza para todos e
um testemunho para a Igreja. Por isso, é importante um clima de acolhida e de “escuta”,valorizando aquilo com que cada um pode contribuir. A equipe dos casaisacompanhadores e presbíteros é chamada a curar, de modo especial, a comunhão e aunidade, suscitando a sede e o conhecimento da Palavra de Deus. A peculiaridade dessescaminhos requer dos acompanhadores uma “formação específica”, uma profundasensibilidade para com as dificuldades do mundo dos jovens de hoje e a disponibilidadeem colaborar com outras realidades educativas.
No percurso de acompanhamento dos noivos para o matrimônio, quando a “data do
casamento” já foi decidida, não podemos ter a pretensão de transmitir de modo exaustivotodos os temas sobre o matrimônio cristão e a vida da família. É importante, porém, dar uma panorâmica suficiente dos aspectos essenciais da relação como casais, domatrimônio cristão e das escolhas da vida que caracterizam uma família cristã.
ecessitamos de suscitar curiosidade e o gosto em aprofundar tais temáticas. Por estarazão, essa desafiante missão é chamada de acompanhamento de “arte”, levando osnoivos a sentir a própria união de amor, à luz de uma vocação divina. Mas aqui temosque ser objetivos, a preparação deve durar pelo menos um ano, e o tempo pode incidir na vida dos casais para toda a vida.
A equipe de acompanhadores deve ser formada por casais com experiência de vida, presbíteros e, se necessário ou em algumas ocasiões, especialistas. Deve-se construir umclima positivo e de acolhida para com todos, atentos às diferentes realidades de que
provêm os jovens noivos; que tenham atenção aos diferentes caminhos de fé que trazemcom eles. Como método a ser usado na condução dos encontros, a experiência evidenciaa oportunidade de criar momentos de confrontos entre o casal e entre os casais
participantes, de modo que os jovens vejam o envolvimento a partir da própriaexperiência concreta e das próprias situações da vida. É aconselhável o trabalho em
pequenos grupos, coordenados pelos casais da equipe.Trata-se de construir um clima no qual os jovens noivos se sintam protagonistas do
próprio caminho de formação em um contexto de relações interpessoais significativas.Para se verificar este clima são necessárias algumas condições. A primeira, como jáfalamos, é a acolhida com familiaridade e amor, aceitando-os como eles são, sem julgá-los, e acompanhá-los em um pedaço de caminho no estilo de Emaús (cf. Lc 24,13-35),escutando-os, compartilhando o caminho, participando das emoções e das dificuldades
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que trazem, e ajudando-os a se descobrirem, tendo como guia a Palavra de Deus, a profundidade e a beleza do mistério que estão vivendo.
O ambiente no qual se fazem os encontros deve ser acolhedor e familiar. Umaatenção deve ser dada também ao número de jovens, para que seja compatível com onúmero de casais acompanhadores, de modo que os jovens acompanhados tenham a
possibilidade de participar ativamente. É justo lembrar que, durante todo o processo, osovens noivos precisam ter encontros pessoais com o pároco, que, como pastor e pai, os
ajudará no discernimento e no percurso de preparação e deve fazer sempre parteintegrante da equipe dos casais acompanhadores.
Depois de propor este simples itinerário de preparação dos jovens ao matrimônio, passo ao segundo desafio da Pastoral Familiar: o acompanhamento dos jovens casais nos primeiros anos de casamento.
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companhamento nos primeiros anosde matrimônio
Os primeiros anos de matrimônio constituem um período vital e delicado enecessitam de um autêntico acompanhamento, durante o qual os casais possam crescer
na consciência dos desafios e do significado da própria união. Para que a família se tornesempre mais uma verdadeira comunidade de amor, é necessário que todos os seusmembros sejam ajudados e formados e que assumam com responsabilidade os novos
problemas, o serviço recíproco e a participação ativa na vida familiar. Isto vale,sobretudo, para as jovens famílias, as quais, encontrando-se em um contexto de novosvalores e de novas responsabilidades, estão mais expostas, especialmente nos primeirosanos de matrimônio, a eventuais dificuldades, como a adaptação à vida comum e onascimento dos filhos.
Daqui deriva a exigência de um acompanhamento pastoral que continue tambémdepois da celebração do sacramento (cf. Familiaris Consortio, parte III). Este percursoimplica diferentes desafios: a construção e a consolidação da identidade individual, daunião afetiva do casal, e a responsabilidade de se tornarem pais. Certamente, propor umacompanhamento nesta fase é importante. Esta é a missão educadora da Igreja, e não
podemos ficar na superficialidade do desafio. Esta abertura nos permite associar adefinição de “jovens casais” não somente aos aspectos da inexperiência, da fragilidade,das incertezas que aparecem, mas também à novidade, ao entusiasmo e à vivacidade queestas famílias oferecem à Igreja e à sociedade.
Aqui devemos ser práticos, querido(a) irmão(ã) de peregrinação, nesta reflexão e noconhecimento da Sagrada Família de Nazaré. É necessário, em primeiro lugar, distinguir as situações nas quais as jovens famílias, de qualquer modo, procuram a comunidadecristã para pedir o batismo dos próprios filhos, ou outros sacramentos, ou simplesmenteuma ajuda. Nesse caso, passando por cima das várias motivações que os levam a pedir os sacramentos, ou se apresentarem à Igreja, trata-se de uma oportunidade de encontro,na qual a comunidade cristã – e em particular os animadores e operadores, os presbíterose os casais acompanhadores – é chamada a escutar não somente o pedido, mas as
singulares pessoais, o casal com a própria história e as experiência que trazem.A primeira tarefa da equipe da Pastoral Familiar é acolher com palavras, gestos e nas
articulações já propostas no subcapítulo anterior. Um segundo objetivo seria delinear, namedida do possível, um sustento do casal na cotidianidade da vida familiar e um percursode crescimento espiritual que os ilumine e os ajude a viver abertos ao dom da vida. Aquio exemplo é a santidade da vida cotidiana e ordinária da Sagrada Família de Nazaré. Defato, a família é o grande mistério de Deus. Como “igreja doméstica”, ela é esposa de
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Cristo, a Igreja universal, e nela todas a Igrejas particulares se revelam como esposa deCristo.
Esse itinerário, então, do amor esponsal e familiar, vai se sustentando, e nele seinvestem as melhores energias. Torna-se fundamental criar, onde é possível, sinergias efecundas alianças educativas com as diferentes realidades pastorais, como, por exemplo,
a criação de ocasiões de diálogo com os próprios casais, oferecendo métodos para queeles possam se comunicar melhor e crescer nas relações de amizade. É importante
propor encontros com a presença de casais experientes ou pessoas qualificadas que osajudem a aprender a rezar e a meditar a Palavra de Deus e que os escutem nosmomentos de dificuldades.
Uma feliz iniciativa são os “retiros para famílias”. Todas essas são oportunidades emodalidades para a Igreja, comunidade cristã, exprimir o desejo de se fazer próxima dasfragilidades e das complexidades da vida conjugal, oferecendo sustento e acolhida,
estimulando reflexões sobre o valor do sacramento do matrimônio e da família, deixando-se também questionar pelas novidades que nascem do encontro com os casais. Por isso,esperançosamente, é de grande importância a presença, na pastoral, de casais comexperiência. A paróquia é considerada o lugar no qual casais maduros podem ser postos àdisposição dos casais mais jovens, com a eventual participação de associações,movimentos eclesiais e novas comunidades. É necessário encorajar os esposos a umaatitude fundamental de acolhimento do grande dom dos filhos e no crescimento de umasexualidade como oferta e louvor a Deus, conforme escreve São Paulo aos cristãos deRoma: “Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos
em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto” (Rm 12,1).A relação de casais, além do sentimento e do diálogo espiritual, envolve toda a sua
pessoa também na sua dimensão corporal e sexual. A dimensão da sexualidade é entãoinserida em um amplo contexto da comunicação entre duas pessoas responsáveis de simesmas e dos valores sociais e morais das próprias ações. A relação sexual cresce junto àlinguagem da corporeidade e se empobrece quando os casais se tornam avaros, blocados,funcionais. Hoje, onde prevalece uma banalização da sexualidade, é mais que necessárioajudar os casais jovens a compreenderem a beleza de uma relação esponsal vivida na
unidade de suas várias dimensões.É preciso salientar também a importância da espiritualidade familiar, da oração e da
participação na Eucaristia dominical, animando os casais a se reunirem regularmente para promover o crescimento da vida espiritual e a solidariedade nas exigências concretas davida. Liturgias, práticas devocionais e Eucaristias celebradas para as famílias,
principalmente no aniversário do matrimônio, podem ser também oportunidades vitais para favorecer a evangelização através da família. Nas páginas que seguem iremos
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refletir a importância da comunicação em família e como é necessário o uso dosinstrumentos humanos e espirituais da comunicação na gestão dos conflitos na vidaconjugal.
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elhorar a comunicação em famíliaFaz parte de uma sã espiritualidade conjugal e familiar o compromisso de não deixar
que as dificuldades e fatigas ou outros fatores externos, como a televisão, a mídia, a social work , a Internet, tirem o espaço que é reservado ao diálogo dos casais, da família.
A influência destes fatores pode conduzir a família a uma comunicação árida. O tema dodiálogo, hoje, está fortemente presente nos temas do acompanhamento dos noivos e doscasais. Como, por exemplo, no tema que aborda o período do apaixonar-se. Neste
período, os namorados enfatizam muito o diálogo, dando importância, muitas das vezes,a assuntos de coisas da vida e do próprio modo de ser, evitando os argumentos que nãoencontram sintonia e que podem provocar conflitos. Porém, a família que nasce dosacramento não está isenta do risco de um empobrecimento do diálogo, das fatigas e dasincompreensões.
É muito importante esclarecer que sou formado em Psicologia Clínica e emPsicoterapia, e por isso devo ser sincero em dizer que é a fé que mantém vivo e
profundo aquele olhar que entrevê na pessoa amada as riquezas humanas e espirituaisescondidas pelas fraquezas e pelas fragilidades. É fundamental, porém, encontraremtempo, pararem, sentarem-se de frente um para o outro para um sereno diálogo que podetanto favorecer e que, se acompanhado da oração mediante a invocação do EspíritoSanto e da leitura da Sagrada Escritura, pode levar ao máximo da comunicação, domesmo modo como fez a Sagrada Família de Nazaré. As diferenças pessoais, bem comoas diferenças de serem homem e mulher, nas diversas maneiras de se gerir as emoções e
sentimentos, e a própria história devem se transformar não em ocasiões de distância, masem privilegiadas ocasiões de diálogo e de descobertas dos próprios recursos ecapacidades.
Existem três aspectos da qualidade de conhecimento na comunicação da vida doscasais e das famílias que não podem ser ignorados: a compreensão empática, a revelaçãodas defesas e a revelação das recíprocas expectativas. Esses são, de fato, os antídotosmais seguros contra o mecanismo das decepções.Compreender empaticamente
É justo explicar o que entendemos por “empatia”. Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria outra pessoa, caso estivesse vivenciando a mesmasituação que ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurandoexperimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo. Existe certamaravilha do amor que se traduz em perceber antecipadamente a necessidade da pessoaamada e em sentir o desejo ou o pensamento no momento em que ele nasce, mesmoantes que a própria pessoa o perceba. Esta experiência muito privilegiada do amor é
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determinada pela sua natureza que é heliocêntrica, na qual a visão das coisas éestimulada mais pelo sentir do outro que por ele próprio. Este nível de comunicação,mesmo que em alguns casos, é a base de pertença de afinidades eletivas e intensas e ésempre o resultado de um exercício contínuo.
A compreensão empática é um modo de gostar, de ser vigilante pela preciosidade que
é o outro, no qual prevalece a ternura. De um ponto de vista psicológico, é a exatacontradição entre a projeção (descarregar no outro as próprias experiências pessoaisvividas) e a identificação (viver o que outro vive como se fosse próprio). Nem no
primeiro e nem no segundo caso a alteridade é anulada. O contrário da empatia é umaatitude radical de independência (eu te conheço e te entendo). A empatia então seria estacapacidade de perceber o mundo emotivo do outro e respeitá-lo. É um dos níveis maisaltos da relação porque é vivido na reciprocidade, em uma contínua comunicação
procurada e autêntica.
Revelar as próprias defesasCada pessoa elabora defesas emotivas por meio das quais diminuem as tensões
produzidas, seja da esfera inconsciente, seja do subconsciente, ou ainda dos conflitos provenientes da rede de relações. As defesas são caracterizadas pelos blocos e pelasinterrupções improvisadas da comunicação: encontros evitados, cessação do diálogo,
processos de racionalização no enfrentar determinados argumentos.A mesma palavra “defesa” invoca a presença de um adversário: a situação, as
emoções, a pessoa não agradável. As defesas, além de se constituírem automaticamente,ainda intervêm espontaneamente todas as vezes que a pessoa vive situações de alarme ou
dificuldades. Qualquer relacionamento, até o mais favorável, pode dar, mesmo queminimamente, uma incidência de atitude de defesa. A diferença que intercorre, nessecaso, entre a relação de amor dos casais, faz com que, gradualmente, eles sintam a forçada defesa e a necessidade de revelar ao outro o motivo que a provocou. Mesmo nessasdificuldades, a pessoa amada não se torna nunca o adversário, mas continua a ser o“símile” a si. Daí surge a necessidade da integração e da comunicação que supera otemor de serem descobertos. Revelar-se e deixar-se conhecer significa selar uma aliançaindestrutível. No fundo, é como confiar realmente ao outro a parte mais vulnerável de si
mesmo, mas também é uma condição que consente em manifestar as recíprocasexpectativas.
Revelação das recíprocas expectativas Não existe expressão de maior liberdade e confiança do que declarar o que uma
pessoa espera da outra. A atitude não é a de pretensão ou de reivindicação, mas de“abandono”, que leva a olhar o outro como a parte melhor de si mesmo. É uma profundalibertação quando podemos manifestar à pessoa amada as nossas próprias necessidades,
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exprimindo ao mesmo tempo a mesma certeza de que a outra saberá acolher e dar umaresposta. É nessa declaração que o outro ocupa o primeiro lugar no coração e quesentimos sua presença construtiva.
Gostaria, mesmo se brevemente, de refletir sobre o atual contexto sociocultural, quevai delineando o fenômeno das relações virtuais: o envolvimento de crianças, jovens e
adultos nas relações multimídia. O verbo “digitar” indica uma nova forma de relação, quenão é transmitida através do encontro; é um conhecimento indireto e que não requer discernimento. Facebook , Whatsapp, entre outras redes sociais, correm o risco desubstituir as relações concretas e diárias das pessoas, dos casais, e se transformam emagências de matrimônio, ou correio do coração, criando ilusões, sobretudo nas horasnoturnas, quando o silêncio e o contexto se tornam conveniência.
Há ainda as ilusões dos falsos profissionais. Certamente, sabemos que as pessoassofrem com a solidão e têm dificuldade na comunicação e nas relações, e estas formas de
redes sociais iludem porque superficialmente trazem prazer e gratificação. Aqui estamosfalando de família, e alguém poderia me perguntar por que mencionar este argumentonesta sede de reflexão, mas hoje a atração pela Internet é uma realidade, tornando-se umdesafio para a moral familiar, e deve ser objeto de preocupação da Pastoral Familiar. Éum fenômeno difundido entre homens e mulheres que vivem vidas paralelas, nas quais amente, o coração e a vida sexual estão em outra realidade, perdendo-se, assim, arealidade e vivendo com superficialidade as relações verdadeiras, que permanecem notempo. Que a educação e a consciência das redes sociais, dos meios de comunicaçãomodernos, sejam apresentadas às famílias como meios de crescimento e potencial de
evangelização e sejam preocupação da Pastoral Familiar e da formação dos casais nosacompanhamentos e na formação permanente das famílias.
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reparação dos presbíteros para a Pastoral Familiar A atenção às famílias deve ser o objeto ativo de comunhão da inteira comunidade
cristã. O ministério esponsal que elas operam, unido ao ministério de comunhão dos presbíteros, pode constituir uma fonte de fecundidade educativa para a vida da Igreja
paroquial e diocesana. A Pastoral Familiar, quando se funda na estima recíproca desolicitude entre casais e presbíteros, está desenvolvendo a sua tarefa de ser referência
para a inteira comunidade. E aqui não se trata de que tal solicitude seja somente da partedos presbíteros, na cura das famílias, mas de receberem também luz para a própriaidentidade sacerdotal e novos impulsos para uma incisiva laboriosidade pastoral.
De fato, é particularmente preciosa uma família que, de modo eficaz, vive a belezada Pastoral Familiar e paroquial, tornando-se a causa dessa notável união cheia deevangelização. Assim, depois de um caminho de formação adequado, os casais,untamente com os presbíteros, poderão aprofundar sempre mais o mistério do
sacramento, conscientes de que uma família é o lugar privilegiado da educação humana ecristã, por isso, é a melhor aliada do ministério sacerdotal, e assim um dom precioso paraa edificação da comunidade.
E voltamos para a nossa escola do Evangelho, aqui em Nazaré. Trago a você aexperiência de um jovem sacerdote da Diocese de Uruaçu, Centro-Oeste, no coração doBrasil, padre Rogério Alves Gomes, prefeito dos estudos do seminário São José deUruaçu, chanceler da Cúria Diocesana de Uruaçu e responsável pelas equipes de NossaSenhora, equipe de famílias da Diocese. Pe. Rogério esteve aqui no nosso programa “Em
casa com a Sagrada Família”, acompanhado pelos seminaristas Paulo Nogueira MartinsJúnior, Rener Olegário Lopes e Fábio Pereira Borges, todos da Diocese de Uruaçu. Eu
pude visitar o trabalho dos padres formadores do seminário São José de Uruaçu e pudeconstatar que “a família”, a Pastoral Familiar, bem como aquela da formação dos
presbíteros, é a grande preocupação da diocese. Aqui relato parte da entrevista realizadacom eles.
Já de início, perguntei a Pe. Rogério o porquê da Diocese de Uruaçu ter comoreferência para a Pastoral Familiar o seminário diocesano, e ele me respondeu:
Veja, frei Bruno, sempre foi a nossa preocupação aproximar as famílias daqueles que um dia serãosacerdotes, porque os sacerdotes serão por primazia os cuidadores das famílias. Então, quando nós
oferecemos o seminário para as reuniões das famílias, para a Pastoral Familiar, todas as primeiras
sextas-feiras do mês, em que temos adoração com equipes de Nossa Senhora, outras reuniões de
planejamento da Pastoral Familiar, e sendo dentro seminário, os seminaristas têm a oportunidade de
perceber a importância das famílias na Igreja, porque é a família o berço de todas as vocações, as
vocações para o sacerdócio, vocações para o matrimônio; e todas as vocações para o bem da
comunidade eclesial e para a sociedade. Por isso, ter com referência o seminário serve para unir a
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vocação sacerdotal e a vocação familiar, para que com a fecundidade destas duas vocações a Igreja
caminhe sendo sinal e testemunho na sociedade. O sacerdote e a família trazem grandes alegrias e
riquezas para nosso mundo, para nossa Igreja e para cada um de nós. Algo muito marcante no nosso
seminário são as equipes de Nossa Senhora. Todos nós, que somos formadores e que trabalhamos no
seminário, acompanhamos uma equipe, porque assim incentivamos nos seminaristas o cuidado pelas
famílias; e estando com as famílias, nós alimentamos nelas o amor pelos sacerdotes. E funciona, pois
elas nos querem bem e, principalmente, rezam por nós. Assim, nos completamos.
Continuando a entrevista, perguntei ao seminarista Paulo Júnior se a proximidadecom as famílias, em algum momento, o fez questionar sua vocação para o presbiterado,no qual abraça o celibato. E ele assim me respondeu:
Frei Bruno, na verdade, questionar não, mas fortaleceu minha vocação. Estar perto destas famílias me
enriqueceu com uma nova dimensão da vocação, a vocação familiar, e essa vivida junto de Cristo;
famílias da Igreja e na igreja; o encontro frequente com as famílias me ajuda a buscar a santidade e a
responder a Deus a minha vocação ao ministério ordenado.
Ao decorrer de sua história, o seminarista Paulo Júnior passara pela provação da nãoaceitação de seu pai pela sua escolha vocacional de entrar para o seminário, e foi em umdos encontros das famílias que o seu pai aceitou e acolheu sua decisão. Sobre esteepisódio de sua vida, Paulo Júnior me relatou:
No início, não foi fácil; para minha mãe foi uma grande alegria, mas meu pai não aceitou muito bem, ele
tem aquele jeito muito tradicional, acha que filho tem que se casar e dar netos, dar sequência ao sangue
da família. No entanto, graças à oração e à presença dos sacerdotes dentro da minha casa, até mesmo a
presença do próprio Pe. Rogério, ele resolveu conhecer um pouco do meu cotidiano, da minha vida noseminário. E foi em uma das festas das famílias que ele pôde presenciar a beleza da vida no seminário; a
presença das famílias, junto aos seminaristas, mostrou-lhe que não era o que ele pensava, ele viu que
juntos buscamos a santidade e disse que até se sentia em casa no seminário.
Pe. Rogério, além de se dedicar à formação dos seminaristas, juntamente com aequipe de formadores do seminário com o qual coopera, se dedica a ajudar osseminaristas no trabalho de evangelização das famílias na periferia de Uruaçu. Pergunteia ele como acolhe o mandado de Papa Francisco referente à evangelização das periferias,e vejam que iluminada resposta:
Veja, frei Bruno, quando Jesus nos diz na Sagrada Escritura que nós O encontramos nos pequenos,
naqueles que a sociedade quase não considera ou até menospreza, o Evangelho se torna realidade
quando nós vamos até estas pessoas, à casa delas, no cotidiano delas. O que Jesus fala toca a realidade
na Sua época e também a nossa realidade de hoje, e não podemos deixar passar despercebido. Quando
eu vou até à periferia, e levo os seminaristas, eu vivo a experiência do Evangelho e a realização da
minha vocação presbiterial. Eu pedi a Jesus na minha oração que eu pudesse levar esta mensagem de
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uma forma que eles pudessem compreender. E cada vez que me apresento, que escuto uma criança,
que encontro as pessoas com problemas, famílias separadas, mulheres abandonadas pelos maridos,
famílias com filhos no uso de drogas, tudo isso toca o meu coração de pai, de presbítero, e estando lá,
no meio deles, vejo que estou encontrando Cristo neles e na história que eles me trazem, e ao mesmo
tempo procuro ajudar naquilo que posso. Cristo, então, vai se revelando, e entendo que este é o
caminho.
Para concluir, perguntei ao seminarista Rener Olegário como é esta experiência deconvivência e de formação para a vida sacerdotal, tendo a presença e o apoio dasfamílias. Ele me respondeu completando aquilo que Pe. Rogério e o seminarista PauloJúnior já haviam afirmado:
A presença das famílias fortalece o “sim” do presbitério, e se cria uma espiritualidade, realmente um
vínculo de filhos e pais. Muitas vezes os nossos pais não estão sempre presentes, mas essas famílias se
fazem presente, com o coração materno e paterno; e com o exemplo que nos dão, nos preparamos para
ser também pais espirituais, além de filhos.
E chegando ao fim deste capítulo, podemos concluir dizendo que a Igrejadesempenha um precioso papel de apoio às famílias, começando pela iniciação cristã,através de comunidades acolhedoras. Pede-se-lhes, tanto nas situações complexas comonas normais, que a Igreja ajude as famílias nas suas diferentes realidades,acompanhando-as no seu crescimento, ao longo de caminhos personalizados, que sejamcapazes de introduzi-las no pleno sentido da vida e de lhes suscitar escolhas eresponsabilidades, vividas à luz do Evangelho.
Ó Deus, de quem procede toda a paternidade no Céu e na terra. Tu, Pai, que és Amor e Vida, faz com que nesta terra, por Teu Fi lho, Jesus Cristo, “nascido demulher”, e pelo Espírito Santo, fonte de caridade divina, cada família humana se torne um verdadeiro santuário de vida e de amor para as gerações que serenovam sem cessar.
Que Tua graça oriente os pensamentos e as ações dos esposos para o grandebem de suas famílias e de todas as famílias do mundo.
Que as jovens gerações encontrem na família um apoio inquebrantável que astorne sempre mais humanas e as faça crescer na verdade e no amor.
Que o amor, fortalecido pela graça do sacramento do matrimônio, seja mais forte do que todas as fraquezas e do que todas as crises conhecidas pelasnossas famílias.
Enfim, pedimos-Te, por intercessão da Sagrada Família de Nazaré, que, emtodas as nações da Terra, a Igreja possa cumprir com fruto a sua missão na família e pela família. Tu, que és a Vida, a Verdade e o Amor, na unidade do
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Filho e do Espírito Santo. Amém.(São João Paulo II)
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Misericórdia para com as famílias feridas e frágeis
epois de termos meditado com atenção sobre a necessidade de uma PastoralFamiliar, que tenha como base as grandes interrogações sobre o significado do ser
homem e mulher, maravilhas da criação e da grande vocação a que são chamados, dosvalores do matrimônio e da família cristã, neste capítulo quero propor-lhe, caro(a)irmão(ã), a reflexão evangélica da contemplação da humanidade, mesmo se esta está outiver sido ferida na sua história.
É necessário acolher as pessoas com a sua existência concreta, saber fomentar a sua busca, encorajar o seu desejo de Deus e a sua vontade de se sentir plenamente parte da
Igreja, até mesmo no momento em que experimentam a falência ou vivem as maisdiversas situações. É importante fazermos essa meditação, que é a medula (centro) damensagem cristã, que contém sempre em si mesma a realidade e a dinâmica damisericórdia e da verdade, que convergem em Cristo, que se Encarnou aqui em Nazaré
para encontrar o homem, na sua história, na sua realidade. E em toda a Sua vida terrena,com o Seu olhar misericordioso, Jesus ensinou o Seu amor, a misericórdia pelos maisfrágeis, os últimos. Sobre este propósito, podemos citar a parábola da misericórdia doEvangelho de Lucas, capítulo 15: “A ovelha perdida. A moeda perdida. O filho pródigo”.Seguindo o Mestre Jesus, a Igreja deve acompanhar com atenção e cuidado os seusfilhos mais frágeis, marcados pelo amor ferido e confuso, restituindo-lhes a confiança e aesperança como a luz do farol de um porto ou de uma tocha, levada ao povo parailuminar os que perderam a rota ou se encontram no meio da tempestade. Conscientes deque a maior misericórdia é dizer a verdade com amor, e quando isso é feito com
proximidade, se chega à compaixão.Gostaria assim de introduzir este capítulo com o ícone bíblico da samaritana no poço
de Jacó, na região de Sicar, na Samaria, narrado no Evangelho de São João, capítulo 4.Um encontro desejado por Jesus, no qual aquela mulher tomou consciência da sua
própria identidade sem se sentir julgada e nem mesmo condenada. Nesta passagem, podemos fazer a seguinte reflexão: um Deus misericordioso não se procura, nem mesmose cria... Mas é Ele que nos ama por primeiro, como afirma o mesmo evangelista SãoJoão: “Porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19). E Ele no Seu amor nos procura, nos
perdoa e nos ajuda a conduzir um percurso de humanização na direção do nossoautoconhecimento e até das nossas resistências a Ele, à Sua Verdade.
A samaritana vai ao poço porque tem sede, mas é Jesus que a guia na identificação
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da sua necessidade. É Ele que pede à mulher: “Dá-me de beber” (Jo 4,7). E desse pedidonasce um diálogo que conduz aquela mulher a tomar consciência da sua verdadeiranecessidade: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha devir aqui tirar água” (Jo 4,15). Jesus, porém, não satisfaz imediatamente a suanecessidade, mas a conduz a falar de si, da sua história: “‘Vai chamar teu marido e volta
aqui’. ‘Eu não tenho marido’, respondeu a mulher. Ao que Jesus retrucou: ‘Disseste bemque não tens marido. De fato, tiveste cinco maridos, e o que tens agora não é teumarido’” (Jo 4,16-18). Jesus a leva a tomar consciência da sua identidade. Aquilo querealmente marca o coração daquela mulher é o sentir-se conhecida intimamente por Jesus, e isso, de fato, é o que ela anuncia às pessoas da sua cidade: “Vinde ver umhomem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?” (Jo 4,29). A samaritananão tinha conduzido uma vida exemplar, e no diálogo de Jesus não temos nem mesmouma palavra de julgamento moral, nem mesmo de condenação. As palavras de Jesus
ajudam aquela mulher a refletir sobre sua vida e a dar nome às suas necessidades mais profundas. Este é o poder da Palavra; este é o poder da oração, do amor pastoral daIgreja. Ele nos ajuda a clarear o mais íntimo do nosso ser, das nossas resistências e dosnossos ídolos.
Partindo assim desta pedagogia, que ousarei chamar “divina”, porque emana o perfume humano do próprio Cristo, nasce o princípio de que cada família deve ser ouvida com respeito e amor, encontrando na comunidade cristã a acolhida, a ternura. São
particularmente válidas para tais situações as palavras do Papa Francisco:
A Igreja deverá iniciar os seus membros – sacerdotes, religiosos e leigos – nesta arte doacompanhamento, para que todos aprendam a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do
outro (cf. Ex 3, 5). Devemos dar ao nosso caminhar o ritmo salutar da proximidade, com um olhar
respeitoso e cheio de compaixão, mas que ao mesmo tempo cure, liberte e anime a amadurecer na vida
cristã ( Evangelii Gaudium, 169).
Já na reflexão sinodal de 2014 voltou a ressoar claramente a necessidade de opções pastorais corajosas, na qual confirma de modo vigoroso a fidelidade ao Evangelho dafamília, ao mesmo tempo reconhecendo que a separação e o divórcio constituem sempreferidas que provocam sofrimentos profundos nos cônjuges que os experimentam e nosfilhos. Parte daqui a urgência de novos caminhos pastorais, que comecem a partir daefetiva realidade das fragilidades familiares, conscientes de que, com frequência, elas sãomais “padecidas” com sofrimento do que escolhidas com plena liberdade. Trata-se desituações diferentes, tanto por fatores pessoais como culturais e socioeconômicos. Énecessário um olhar diferenciado, como sugeria São João Paulo II (cf. FamiliarisConsortio, 84). Mas também é necessário termos consciência de que este caminho é o
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caminho da Igreja, como já escreveu o nosso amado Papa emérito Bento XVI, antes doseu pontificado, quando ainda respondia pela Congregação da Doutrina da Fé, em umacarta aos bispos:
Será necessário que os pastores e que toda a comunidade dos fiéis sofram e amem juntos com estas
pessoas, e que possam assim, no peso e na carga que levam, reconhecer aquela que levava Jesus. O peso que eles levam não é dócil, nem a carga é leve, pouca, ou insignificante, mas se torna leve porque
o Senhor, e junto com toda a Igreja, o compartilha.
Nesta mesma linha pastoral, Papa Bento XVI se exprimiu na convenção deSalsamaggiore, na Itália, que teve como tema: “Luz e esperança para as famílias feridas –
pessoas separadas e divorciadas na realidade da comunidade cristã”, e foi a primeiraconvenção nacional italiana da Pastoral Familiar que tocou explicitamente o tema doacompanhamento das pessoas e das famílias que vivem a separação, com distintassituações. Mas aqui temos que reconhecer que o maior mal dos nossos tempos, e atédentro dos ambientes eclesiais, é a indiferença; aquela que nos distancia dos atuais
problemas reais. Nas páginas que seguem iremos refletir algumas situações concretas que atingem a
realidade da família hoje. Quero já esclarecer que não é a minha intenção dar respostasàs tantas problemáticas, mas sim indicar o quanto a Igreja nos ensina, para formar dentrode nós uma atitude evangélica que modela o nosso comportamento, de modo a podermosagir como discípulos de Jesus, repetindo os Seus gestos. Dos dados evangélicos, sabemosque Jesus uma vez somente “escreveu”, e escreveu no chão, quando os fariseus
trouxeram a mulher adúltera, nas proximidades do monte das oliveiras, e “não sabemos oque escreveu”, mas conhecemos bem Suas palavras dirigidas aos presentes: “Quemdentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7).
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tenção àqueles que vivem no matrimônio civil ou emconvivência
São muitos os casais que se apresentam às nossas paróquias para pedirem omatrimônio cristão e um caminho de preparação quando já têm uma “vida conjugal”. É
uma situação que requer uma reflexão ulterior para assumir um critério pastoral unitário eapropriado. Se de um lado temos que acompanhar por todo o tempo o casal que jáconvive e que pede o matrimônio cristão, do outro lado não podemos ceder a um geralsignificado de impotência em frente à propagação do fenômeno que envolve sempre mais
pessoas e pelas quais a comunidade cristã tem a urgência de desenvolver uma correta eatenta ação pastoral.
Assistimos de fato a uma espécie de “paralisia da vontade”, como se os grandesdesejos ficassem paralisados sem conseguir construir um verdadeiro “projeto de vida”.
Dificilmente as pessoas iniciam uma convivência tendo um projeto; a decisão édeterminada pelas circunstâncias, assumidas pelo medo das dificuldades. Em outroscasos, não é uma verdadeira escolha, mas sim um hábito que se constrói depois de umafrequência nas relações. Em algumas situações, esta paralisia é derivada do sentimento devergonha de viver na casa dos próprios pais, na afronta de já serem adultos sem acapacidade de tomar uma decisão. Por um lado, querem conviver com a pessoa amada,
por outro há o medo de se ligar a ela de modo definitivo.Em todos estes casos, é importante recordar ainda as palavras do Papa emérito
Bento XVI:
A indissolubilidade, antes de ser uma condição, é um dom que deve ser desejado, pedido e vivido, para
além de qualquer mutável situação humana. E não penseis, segundo uma mentalidade difundida, que a
convivência seja uma garantia para o futuro. Acelerar as etapas acaba por comprometer o amor, que, ao
contrário, precisa de respeitar os tempos e a gradualidade nas expressões: tem necessidade de dar
espaço a Cristo, que é capaz de tornar um amor humano fiel, feliz e indissolúvel.
Aqui está expressa a missão da Igreja como educadora, que acompanha, escuta eacolhe os seus filhos. Quando estes casais procuram a Igreja, ou mesmo quando uma das
partes pede ajuda, temos a oportunidade de iniciar um caminho de fé com eles. São
muitas as dioceses que já têm como realidade a Pastoral Familiar com esta atenção às pessoas que não são casadas na Igreja; e é comovente quando os pastores e as equipesda pastoral não esperam que estes casais procurem a Igreja, mas vão ao encontro deles.
A coragem de ir para as periferias é o apelo do Papa Francisco:
Deixai-vos encontrar por Cristo. O encontro com Ele vos impelirá ao encontro com os outros e vos
levará em direção aos mais necessitados, aos mais pobres. Ides às periferias que aguardam a luz do
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Evangelho. Habitem as fronteiras. Isto vos exigirá vigilância para descobrir as novidades do Espírito;
lucidez para reconhecer a complexidade das novas fronteiras; discernimento para identificar os limites e
a maneira adequada de proceder; e imersão na realidade, “tocando a carne sofredora de Cristo no
povo”... Sejamos realistas, mas sem perder a alegria, a audácia e a dedicação plena de esperança! Não
deixemos que nos roubem a força missionária (cf. Evangelii Gaudium, 20).
Com estas palavras, peço permissão, caro(a) amigo(a), para fazer uma colocação quenão pretende ser pessimista, mas penso que seja necessária. Na minha pequenaexperiência, pude constatar que nós como comunidades cristãs usamos 90% das nossasforças para assistir aqueles 10% que já frequentam e vivem a fé cristã e os ensinamentosda Igreja.
Voltando ao nosso tema dos casais que convivem sem o sacramento do matrimônio,uma outra realidade a que assistimos é a multiplicação de pedidos para o sacramento do
batismo para os próprios filhos, por parte desses casais, e aqui somos chamados a
acolher com atenção, aproveitando esta oportunidade, uma preparação eacompanhamento de encontro com estes casais. Estes pedidos podem transformar-se emocasiões para essas famílias serem acompanhadas gradualmente no caminho de fé e davida sacramental, ajudando-as a fazerem a experiência de Igreja doméstica que se formaa partir do sacramento do matrimônio. É importante que o batismo dos filhos não sejarealizado na mesma celebração do casamento, e que este não seja uma condição para omesmo batismo. Aqui está o desafio, que em pedagogia vem intitulado de “riscoeducativo”, mas pela experiência já sabemos que um caminho de fé e conversão não
passa pela obrigação ou pelo medo. Aqui é a arte do acompanhamento e da preparação
das equipes de acompanhadores, na qual o primeiro instrumento que usamos na missão eno ministério de ajuda às famílias somos nós mesmos.
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Separados, divorciados não recasadosUm discernimento particular é indispensável para acompanhar pastoralmente os
separados, os divorciados, os abandonados. Deve ser acolhido e valorizado o sofrimentodaqueles que padeceram injustamente a separação, o divórcio ou o abandono, ou então,
por causa dos maus tratos do cônjuge, foram obrigados a interromper a vida conjugal. O perdão pela injustiça sofrida não é fácil, mas trata-se de um caminho que com a “graça”se torna possível. Daqui deriva a necessidade de uma pastoral da reconciliação e damediação, também através de centros de escuta especializados que devem ser criadosnas dioceses. De igual modo, é preciso ressaltar que é sempre indispensável assumir, demaneira leal e construtiva, as consequências da separação ou do divórcio sofridas pelosfilhos, vítimas inocentes da situação. Eles não podem ser um “objeto” a ser discutido, edevem ser procuradas as melhores formas para que possam superar o trauma daseparação familiar e crescer da maneira mais tranquila possível.
De qualquer modo, a Igreja deverá pôr sempre em evidência a injustiça que muitasvezes deriva das situações de divórcio. Este é um grande desafio para os pastores e paratoda a comunidade cristã; quando o caminho de reconciliação é possível, ele se tornauma meta, mesmo que não seja fácil. Isto tratando-se de separados ou divorciados nãorecasados. A pastoral da caridade e a misericórdia tendem à recuperação das pessoas edos relacionamentos. A experiência demonstra que, mediante uma ajuda adequada e coma obra de reconciliação da graça, uma grande porcentagem de crises matrimoniais podeser superada de maneira satisfatória. Saber perdoar e sentir-se perdoado constituem uma
experiência fundamental na vida familiar. O perdão entre os esposos permiteexperimentar um amor que é para sempre, que nunca passa (cf. 1Cor 13,8). No entanto,às vezes, quem recebeu o perdão de Deus tem dificuldade de encontrar a força paraoferecer um perdão autêntico que regenere a pessoa.
Uma atenção especial deve ser tomada no acompanhamento das pessoas divorciadas,mas não recasadas, que muitas vezes são testemunhas da fidelidade matrimonial, ouainda quando um dos cônjuges abandonados vem com a responsabilidade dos própriosfilhos, o que ocorre, em particular, com as mulheres, que assumem sozinhas aresponsabilidade do lar e a educação dos filhos. Nessa realidade, basta visitarmos asnossas comunidades, e encontraremos muitas destas pessoas que encontram na Igreja,nos movimentos e associações, o refúgio e a força para levar a própria cruz comdignidade e coragem.
Estas pessoas devem ser incentivadas a encontrar na Eucaristia o alimento que assustente na sua condição. A comunidade local e os pastores devem acompanhar estas
pessoas com solicitude, sobretudo quando a situação de pobreza for grave. Mas até aqui
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podemos dizer que estamos em frente a fragilidades, nas quais a mediação da Igreja e dainteira comunidade cristã encontra respostas e, direi ainda mais, “intervenções educativasde prevenção”. Mas existem aquelas situações, como as dos divorciados recasados, nasquais os próprios pastores e a inteira comunidade se deparam com dificuldades paraencontrar soluções. Este é realmente um grande desafio, mas também aqui nos deixemos
ser guiados pelo Mestre Jesus de Nazaré e pela mãe Igreja, que ama os seus filhos.Mesmo que os filhos sejam infiéis, Ele (Deus) continua fiel, porque não pode renegar a simesmo (cf. 2Tm 2,13).
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ivorciados recasadosAs situações dos divorciados recasados também exigem um discernimento atento e
um acompanhamento de grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude que osfaçam se sentir discriminados, promovendo, assim, a sua participação na vida da
comunidade. Cuidar deles não é, para a comunidade cristã, uma debilidade da sua fé e doseu testemunho em relação à indissolubilidade matrimonial, mas, ao contrário,
precisamente neste cuidado ela exprime a sua caridade. Mas certamente o divórcio é umafratura, um “vulnus” (ferida), no que se refere ao respeito à promessa de união feita
perante Deus. Um sentimento de rompimento que habita em cada uma dessas pessoas eque se torna ainda mais insuportável quando encontram a incompreensão e, em algunscasos, até a condenação. É triste quando isto acontece nos âmbitos paroquiais, entre fiéisou até em homilias, que, em vez de fazerem explodir o anúncio da Salvação e damisericórdia de Jesus, se transformam em expressões moralistas incapazes de suscitar esperança ou de provocar em quem escuta o desejo de um novo caminho.
Como já mencionei, estas são ocasiões para provar o nosso sentimento empático(envolvimento emotivo) com o sofrimento que estes irmãos e irmãs levam consigo. Edaqui surge o questionamento de que se o pecado que cometeram com o divórcio e umasegunda união seja assim tão grave que eles devam ser separados da comunidade cristãaté o fim da vida. Eles devem ser considerados uma classe a parte, restando somente aaceitação de estarem às margens da comunidade eclesial? Certamente estesquestionamentos não são fáceis de serem respondidos, e, como já tinha esclarecido na
introdução do capítulo, esta não é a solução para estas situações tão complexas. Masuma coisa podemos afirmar: estes nossos irmãos e irmãs, graças ao Batismo, são “filhose filhas de Deus”; podem se aproximar da Palavra de Deus e podem desejar a união comDeus.
Alguém teria a coragem ou o direito de negar-lhes isso? Certamente não podemos percorrer as várias fases nas quais a Igreja, na história, se pronunciou sobre estassituações complexas. Encontramos notícias históricas de grandes pecados cometidos quenão podiam ser absolvidos, como apostasia e homicídio, e entre eles também o adultério.A posição da Igreja no cânone 8 do Concílio de Niceia (325 d.C.) declara que estes três
pecados podiam ser absolvidos depois de um caminho penitencial; e depois do percurso penitencial, podiam ser readmitidos à comunhão sacramental.
Do ano de 1200 em diante, foi interpretado pela Igreja, no Ocidente, que estas pessoas não seriam consideradas como adúlteras, como fala o Evangelho, mas simviúvas recasadas (cf. G. Cerete, Divorzio, nuove nozze e penitenza nella Chiesarimitiva, pp. 283-299). Hoje, temos como base o que foi estabelecido pela Familiaris
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Consortio do ano de 1981, que sublinha a impossibilidade, da parte dos divorciadosrecasados, de colocarem-se em comunhão, confirmando o pronunciamento daCongregação da Doutrina da Fé do ano de 1973, que reitera a indissolubilidade domatrimônio, podendo participar da Eucaristia somente os divorciados recasados quevivem como “irmãos e irmãs” na mesma casa.
E aqui respeitamos as indicações da Igreja de que os divorciados recasados nãorecebem a comunhão Eucarística. Porém, de alguns anos para cá, em algumas dioceses,é presente o pão abençoado no final das missas e das celebrações para aqueles que, por muitas situações, não podem participar da comunhão Eucarística. Estas práticas devemser analisadas com cuidado, porque podem ser interpretadas como uma simulação dosacramento. Mas é realidade que muitos destes irmãos e irmãs divorciados-recasados,
participando em tudo na vida das comunidades eclesiais, e em algumas realidades, participam com entusiasmo nas “lectio divina”, impulsionando reflexões em torno da
Palavra de Deus.Esta é a espiritualidade de Nazaré a nos iluminar, em que Jesus, na Encarnação, veio
falar sobre a humanidade ao homem; e foi exemplo daquilo que o homem é segundoaquela imagem querida por Deus. Mesmo que não tenhamos a pretensão de indicar soluções, queremos afirmar que todos os filhos de Deus, mesmo com suas incoerências edificuldades, podem acolher esta mensagem de libertação e de Salvação que Jesus trazconstantemente ao homem (humanidade). Então, Deus tem para o homem o projeto deSalvação não somente naquele tempo escatológico, mas que parte da vida cotidiana aquinesta terra. Uma vida que no coração de Deus é a felicidade e o amor.
Tudo o que Deus colocou na terra foi por amor ao homem, e isso é narrado etestemunhado com a nossa vida. Esta é a mensagem que a Igreja deve irromper,anunciado-a acima de todas as coisas. É a mensagem que o Papa Francisco exprimiu,direta e claramente, na qual chama toda a comunidade cristã à misericórdia e fala dorisco de perder o perfume do Evangelho, lembrando ainda que a proposta evangélicadeve ser mais simples, profunda e irradiante.
Ainda, se possível, temos que analisar, chamando a atenção das pessoas para isso, asmuitas realidades constatadas em situações de “nulidade” do matrimônio. Aqui a
necessidade de tornar mais acessíveis e céleres, se possível totalmente gratuitos, os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade. Entre as propostas, a Igrejahoje nos indica: a superação da necessidade da dupla sentença; a possibilidade dedeterminar um percurso administrativo sob a responsabilidade do bispo diocesano; ainiciação de um processo sumário nos casos de nulidade notória.
É necessário ainda reiterar que, em todos estes casos, é preciso averiguar a verdadesobre a validade do vínculo. Em conformidade com outras propostas, também seria
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preciso considerar a possibilidade de dar relevância ao papel da fé dos noivos em ordemà validade do sacramento do matrimônio, conscientes de que, entre os batizados, todosos matrimônios válidos constituem um sacramento. A propósito das causas matrimoniais,a simplificação do procedimento se intenta além da preparação de suficientes agentes,clérigos e leigos com dedicação prioritária, mas requer que se realce a responsabilidade
do bispo diocesano, que na sua diocese poderia encarregar consultores devidamente preparados, para aconselhar gratuitamente as partes interessadas sobre a validade do próprio matrimônio.
E depois dessa densa reflexão, continuamos ainda na proximidade das famíliasfrágeis, com o tema dos matrimônios mistos, realidade não somente presente nos nossos
países aqui do Oriente Médio, mas também na Europa e nos países da América Latina,onde o fenômeno da imigração dos povos é uma realidade a ser considerada.
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atrimônios mistosComo já citei, nos últimos anos houve um aumento do número dos matrimônios em
que um dos esposos é católico e o outro, mesmo que batizado, não é, ou até mesmo nãoé batizado. Tais situações requerem uma peculiar atenção pastoral, seja na preparação ao
matrimônio, seja no acompanhamento das famílias depois da celebração do casamento.De fato, muitas das vezes, a realidade nos leva a encontrar a presença de diferenças naconcepção do matrimônio, da vida conjugal, da educação dos filhos, da relação aointerno da família, que requerem um esclarecimento e um diálogo construtivo.
Para um correto acompanhamento, é necessário a distinção entre os matrimônioscelebrados entre dois batizados e aqueles celebrados entre um católico e um não
batizado. O matrimônio entre um católico e um batizado tem sua raiz no comum batismoe no dinamismo da graça, que dão aos esposos a base e a motivação para exprimir naunidade a esfera dos valores morais e espirituais. Isso, contudo, não pode levar aoesquecimento das diferenças existentes.
No período do namoro é fácil que estas diferenças sejam minimizadas, quando ocasal pensa que o amor e a harmonia da relação podem completá-las ou resolvê-las.Torna-se, então, essencial, da parte daqueles que acompanham os casais, ajudá-los acompreender a importância das eventuais dificuldades, procurando soluçõescompartilhadas, em uma prospectiva de diálogo, ressaltando sempre a aproximação dacomunidade cristã.
A Igreja é clara em dizer: “Na preparação própria para este tipo de matrimônio, deve
ser feito um esforço razoável para proporcionar um bom conhecimento da doutrinacatólica sobre as qualidades e exigências do matrimônio, como também para se certificar de que no futuro não se verifiquem as pressões e os obstáculos, de que até agora se temtratado” ( Familiaris Consortio, 78), que possam impedir a livre manifestação da própriafé, nas diferenças religiosas. Como parte da preparação, é oportuno convidar os noivos ainstaurarem encontros com o pároco, de modo que as formalidades canônicas não sejam
percebidas somente como burocracias a serem cumpridas, mas como uma ajuda ulterior para aprofundarem pessoalmente e como casal o amadurecimento sempre maior dadecisão que estão tomando.
Uma atenção maior é necessária quando um dos noivos não é batizado. Nestescasos, há um impedimento à celebração do matrimônio (cf. Can. 1086); este pode ser celebrado validamente somente com a dispensa do Ordinário. De fato, são muitas asdiferenças da visão do matrimônio e da vida familiar, e com isso há uma maior dificuldade em cultivar e testemunhar a própria fé e educar os filhos nos princípioscristãos. Por isso, no caminho de preparação de tais casamentos, é importante ajudá-los
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a entender as diferenças existentes, confrontando-se sobre os elementos essenciais econcordando naquilo que uma válida celebração do matrimônio requer.
É evidente que em tal acompanhamento pedem-se uma consciência basilar da religiãocristã e um seguimento da inspiração dos princípios conciliares do diálogo inter-religioso eda dignidade da pessoa humana. De fato, é necessário que a parte católica declare que
está distante de todos os perigos que a levam a abandonar a fé (mudar de religião) eafirme a sua promessa de fazer todo o esforço para educar os filhos na fé cristã (cf. Can.1125-1126).
É necessário acrescentar, porém, que, antes mesmo do Código do Direito Canônico,o matrimônio misto encontrava a sua afirmação na Sagrada Escritura, quando a Igrejadas origens não era frequentada somente pelos cristãos, mas também por cristãoscasados com gentis. Acontecia que muitos deixavam a esposa ou esposo que eraconvertido ao cristianismo, e outros continuavam unidos. São Paulo, interpretando o
Espírito do Evangelho e promovendo uma coexistência pacífica de todos os componentesda sociedade, assim se dirige aos cristãos que perguntavam como deveriam se comportar com os cônjuges pagãos.
Aos demais sou eu que digo, não o Senhor: se um irmão tem uma mulher não-cristã, mas que concorda
em morar com ele, não a deve despedir; e se uma mulher tem um marido não-cristão, mas que
concorda em morar com ela, não o deve despedir. Pois o marido não-cristão fica santificado por uma
mulher cristã, e a mulher não-cristã fica santificada por seu marido cristão. Caso contrário, vossos
filhos seriam impuros; no entanto, agora, são santos (1Cor 7,12-14).
Ainda a Igreja das origens nos oferece um exemplo de como se pode viver o pluralismo das expressões da fé, com o apelo de viver a própria fé não contra os outros,mas na constante procura da comunhão, através da unificação interior, a recomposiçãofraterna dos conflitos e a acolhida do dom oferecido pela diversidade do outro. Omomento que a realidade dos matrimônios mistos é também uma realidade da Igreja éuma oportunidade e um desafio para a Pastoral Familiar, para os pastores, na ótica dacomunidade eclesial, na qual se poderia favorecer percursos e momentos de encontrosentre batizados e não batizados com uma focalização de temas que podem ser ocasião dediálogo entre os cônjuges e entre as diferenças, tornando um verdadeiro exemplo para asociedade.
Continuando o tema das famílias feridas, gostaria ainda, mesmo se brevemente, deapresentar a realidade de algumas famílias que vivem a experiência de ter no seu interior
pessoas com orientação homossexual. A este propósito, a Igreja ensina: Não existeundamento algum para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as
uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimônio e a família. Não obstante,
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os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos comrespeito e delicadeza. “Deve evitar-se, para com eles, qualquer atitude de injustadiscriminação” (Congregação para a Doutrina da Fé, Considerações sobre os projetos dereconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 4).
Ainda é importante considerar o que nos diz o Catecismo da Igreja católica:
Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de
discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem
cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua
condição (CIC, 2358).
Terminando este rápido panorama daquelas que são as mais significativas realidadesde acompanhamento pastoral das famílias frágeis e feridas, podemos dizer que o comumdenominador de tudo é fazer com que quem conhece a dor da separação, da
discriminação, do preconceito e do abandono possa reconhecer na sua cruz, na cruz da própria família, “o triunfo do Amor de Deus sobre todo o mal” (Bento XVI).
Pai, dai a todas as famílias a presença de casais fortes e com sabedoria, que sejam fonte de uma família espontânea e unida.
Pai, dai a todos os esposos uma casa onde viver na paz em família.
Pai, dai a todos os filhos a graça da confiança e da esperança, e aos jovens acoragem do compromisso estável e fiel.
Pai, dai a todos as famílias a força para ganhar o pão com o trabalho das
próprias mãos, de poder comprazer-se na serenidade do Espírito e de manter viva a luz da fé mesmo no tempo da obscuridade.
Pai, dai a todos nós a alegria em ver florescer na Igreja cristãos acreditáveis,uma sociedade mais justa e humana, um mundo que ame a Verdade, a justiça ea misericórdia.
Amém!
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Repartir de Nazaré...
a tentativa de conclusão dessas reflexões, depois de termos acolhido a presença do
Senhor Jesus e da Sagrada Família, que nos acompanharam em todos os instantesda leitura deste livro, que foi e é uma peregrinação, queremos ainda indicar-lhe, caro(a)irmão(ã), que “A Escola de Nazaré” pode se tornar na sua vida uma prospectiva, ummétodo para compreender e acolher Deus na vida cotidiana e na experiência familiar.
Já no primeiro capítulo, quando iniciamos a partir de Nazaré, guiados pela “Escola doEvangelho”, fomos conduzidos pelos lugares Santos da Sua presença e por meio da SuaPalavra feita Carne aqui, o Seu Santo Espírito nos conduziu à Terra da liberdade e da
promessa, e mediante ela fomos introduzidos no mistério da vida do homem e da mulher,na beleza da existência humana e a sua sublime vocação à vida, ao sacramento do amor.
a espiritualidade de Nazaré, iluminados pela Sagrada Família, pudemos recuperar ogosto pela vida ordinária, pela simplicidade das pequenas coisas, redescobrindo osvalores da cotidianidade, na consciência de que aqui e nas estradas da “Galileia da vida”encontramos no “Ressuscitado” o olhar misericordioso do Pai.
E mesmo se a nossa realidade é a humanidade “frágil”, aqui o mistério de Nazaré nosfaz estrada segura, na qual o “Verbo se fez Carne” (do grego sarcrees), fragilidade.Sentimo-nos encontrados e desejamos este “encontro” para todos os irmãos e irmãs, emespecial àqueles marcados pelas feridas da existência e da história. E temos uma meta
sublime, aquela da educação da consciência, da responsabilidade das escolhas feitas, nasquais o alvo é caminhar na liberdade de “Filhos de Deus”, mesmo que esse caminhar venha a nos pedir sacrifícios para um bem maior e para a fidelidade ao amor. Somostodos chamados. A Encarnação, então, muda e transfigura a comunidade familiar, asrelações familiares: paternidade, maternidade, o ser filho(a), irmandade.
Espero que, depois desta reflexão, a palavra “todos” não nos cause ainda escândalo,“somos todos chamados a escolher a vida” e assim amar o Deus da vida. Por isso,retornando e repartindo de Nazaré, quero ainda afirmar que não temos soluções paratodas as dificuldades que vivem as famílias hoje; mas aqui em Nazaré temos o exemplo
da “oração” da Sagrada Família, que no silêncio e na vida escondida era presente naexperiência humana e no operar do “Filho Jesus”, e seguindo este exemplo, queremosanunciar a todas as famílias o poder da oração em família.
O programa “Em casa com a Sagrada Família”, transmitido diretamente aqui deazaré todas as semanas, da casa onde Jesus viveu na intimidade e aconchego da família
humana, na companhia de Maria e José, foi o lugar privilegiado no qual vivemos a“Escola de Nazaré”, qual espiritualidade transmitida neste livro; e focalizando a oração
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em família, proponho as palavras do caro amigo e apresentador Ricardo Sá, que foihóspede no nosso programa, juntamente com sua esposa, Eliana Sá, tambémapresentadora. Assim damos voz a uma família que, com as palavras e o exemplo, nosfala do poder da oração.
Acima de tudo, Nazaré, esta casa, é um convite à oração, e nossas famílias passam por desafiosimensos. É preciso que nestes momentos nós creiamos na força da oração. Quando rezamos, nós
falamos com Deus, que tudo pode nas nossas famílias hoje. A minha família, minha esposa Eliana, o
Du, nosso filho, nossos pais, nossos sobrinhos, nossos irmãos vivem desafios que precisam e que
podem ser alcançados em primeiro lugar por Deus através da força da oração. É preciso retomar a
oração de todos os dias (a cotidianidade), buscando esta experiência que Deus quer nos dar, que é
abençoar nossas famílias com toda sorte de bênçãos, de graças, mas para isso é necessário que em
casa tenha alguém que reze...
E acrescentou Eliana Sá:
Ao chegar na Basílica da Anunciação, entrando no lugar do início, do “Sim” da Virgem a uma missão
tão grandiosa e a um desafio tão grandioso, tivemos a oportunidade, logo ao lado da Basílica, de rezar
na casa da Sagrada Família, aqui onde estamos realizando o programa. Então, hoje, quando entrei aqui e
tive a oportunidade de ver uma Santa Missa com tantas crianças árabes, numa língua totalmente
diferente da nossa no Brasil, eu me alegrei em contemplá-las alegres e de ver o padre animando e
pregando para elas, fazendo homilia. Meu coração, frei Bruno, se encheu de “esperança”. Hoje, o
cenário do mundo é tão cruel e tão difícil que a imagem da família – pai, mãe, filhos – está sendo
destruída. Meu coração se enche de esperança ao dizer não a este cenário. A partir de Jesus, Maria e
José, a Sagrada Família, é possível que nossas famílias sejam restauradas no Amor de Deus. De que
modo? Pela oração...
Realmente, seria muita pretensão pensar em uma conclusão, mas aqui de Nazaré, atodas as famílias, religiosas, religiosos, presbíteros e ministros ordenados, consagrados,envio-lhes uma mensagem da Boa Nova do Evangelho, que é a própria vida doada, eapesar de todas as dificuldades, quero repetir as palavras do anjo pronunciadas à VirgemMaria, aqui, a poucos metros de onde escrevo: “Para Deus nada é impossível” (Lc 1,37).
Que a virgem Maria de Nazaré e São José, seu fiel esposo, guiem as nossascomunidades no acompanhamento das jovens gerações na descoberta e na acolhida da
vocação. Nas páginas que seguem quero ainda convidá-los a rezar com a nossacomunidade de Nazaré, na nossa cotidianidade, na qual rezamos por todas as famílias domundo.
O texto que se segue está ainda em fase de aprovação pela Congregação do CultoDivino, e por isso não pode ser usado publicamente nas diversas comunidades, salvo soba aprovação do próprio ordinário, mas pode ser meditado como leitura espiritual pessoalou em família. Todas as terças-feiras, contemplamos os mistérios da vida de Jesus em
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azaré, com a procissão da casa de Maria, lugar da Anunciação, até a casa da SagradaFamília, chamada casa de São José.
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Os mistérios da vida de Jesus em Nazaré
I. Sinal da Cruz
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
II. Saudação
Caros irmãos e irmãs, sejam bem-vindos. Ofereceremos esta nossa oração demeditação da vida de Jesus, Maria e José em Nazaré pelas famílias do mundo inteiro,
para que sejam verdadeiras igrejas domésticas, e igualmente por nossas intenções particulares.
II I. Canto de Invocação ao Espíri to
IV. Saudação à Virgem
Maria, Mãe do “sim”, tu escutaste Jesus e conheces o timbre de Sua voz e o batimento de Seu coração. Estrela da manhã, fala-nos Dele e conta-nos o teu caminho para segui-lo na via da fé. (Bento XVI)
V. Os Mistérios da vida de Jesus em Nazaré
PRIMEIRO MISTÉRIO: ANUNCIAÇÃO DO ANJO GABRIELÀ VIRGEM MARIA
Lei tura do Evangelho de Lucas 1, 26-31
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia,chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, dacasa de Davi, e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia degraça, o Senhor é contigo”. Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no quesignificaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: “Não temas, Maria, pois encontraste
graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome deJesus”.
Pai-nosso, ave-maria, Glória ao Pai.SEGUNDO MISTÉRIO: O ANÚNCIO A SÃO JOSÉ, ESPOSO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA
Lei tura do Evangelho de Mateus 1, 20-23
Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe
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disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foiconcebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome deJesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados”. Tudo isto aconteceu para que secumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luzum filho, que se chamará Emanuel, que significa: Deus conosco”.
Pai-nosso, dez ave-marias, Glória ao Pai.TERCEIRO MISTÉRIO: A SAGRADA FAMÍLIA, JESUS, MARIA E JOSÉ, VIVE EM NAZARÉ
Lei tura do Evangelho de Mateus 2, 19-23
Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, edisse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porquemorreram os que atentavam contra a vida do menino”. José levantou-se, tomou omenino e sua mãe e foi para a terra de Israel, e veio habitar na cidade de Nazaré para
que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: “Será chamado Nazareno”.Pai-nosso, ave-maria, Glória ao Pai.QUARTO MISTÉRIO: JESUS CRESCIA SUBMISSO A SEUS PAIS
Lei tura do Evangelho de Lucas 2, 42-52
Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa.Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, semque os seus pais o percebessem. Três dias depois o acharam no templo, sentado no meiodos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos os que o ouviam estavam
maravilhados da sabedoria de suas respostas. Quando eles o viram, ficaram admirados. Esua mãe disse-lhe: “Meu filho, que nos fizeste? Eis que teu pai e eu andávamos à tua
procura, cheios de aflição”. Respondeu-lhes ele: “Por que me procuráveis? Não sabíeisque devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” Eles, porém, não compreenderam o queele lhes dissera. Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãeguardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em estatura, em sabedoria egraça, diante de Deus e dos homens.
Pai-nosso, ave-maria, Glória ao Pai.QUINTO MISTÉRIO: JESUS ANUNCIA O R EINO DE DEUS A NAZARÉ
Lei tura do Evangelho de Lucas 4, 16-30
Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado,segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías.Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor estásobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para
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sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos arestauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça doSenhor”. A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga. Levantaram-se elançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estavaconstruída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo. Ele, porém, passou por entre
eles e retirou-se.Pai-nosso, ave-maria, Glória ao Pai.
VI. Canto “Salve, Rainha”
Oremos:
Ó Deus, nosso Pai, que na Sagrada Família de Nazaré nos deu um verdadeiromodelo de vida, faz que nas nossas famílias floresçam as mesmas virtudes e omesmo amor, para que reunidos na Tua casa possamos possuir a alegria sem
fim. Amém.VII. Bênção final com o ícone da Sagrada Família:
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Por intercessão da Sagrada Família de Nazaré, abençoe-vos Deus todo poderoso, Pai, Fi lho, Espírito Santo.
Amém.
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A presente bibliografia é dividida em: fontes, magistérios (pontifício e episcopal) e
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1. Ícone da Sagrada Família venerado no Santuário daSagrada Família em Nazaré
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2. Panorâmica da cidade de Nazaré
3. Fr. Bellarmino Bagatti, OFM, franciscano fundador do Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém,
arqueólogo que escavou o povoado de Nazaré em 1955, antes do início da construção da atual Basílica da
Anunciação
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4. Mons. Guido Marini, prefeito de cerimônia do Santo Padre, com Ir. Maria Pasquarelli e frades de Nazaré emclima de fraternidade e família
na Basílica da Anunciação – Nazaré – 2014
5. Base da coluna da casa de Nossa Senhora que tem a incisão do
início do cristianismo: “Ave Maria”, em grego
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6. Gruta da Anunciação – Casa de Nossa Senhora, lugar santo da Encarnação
7. Fonte de Maria, na igreja ortodoxa de São Gabriel
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10. Vitral do Santuário da Sagrada Família, com o matrimônio de
São José e Nossa Senhora
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11. Irmã Margherita De Cesare (das irmãs de Caridade da Imaculada
Conceição de Ivrea), no programa “Em casa com a Sagrada Família”,
gravado na cripta do Santuário da Sagrada Família, em Nazaré
12. André Luiz da Rosa e Eliziane Alves, da comunidade Canção Nova, no
programa “Em casa com a Sagrada Família”. Com os cantores Fr. Luca Panza, OFM, e Ana Paula Giffoni, da
comunidade Shalom
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13. Padres da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Brasil, durante
o retiro espiritual na Terra Santa, em outubro de 2014
14. Pe. Wagner Toledo Moreira e Pe. Antonio Augusto da Silva Bezerra
(da Arquidiocese do Rio de Janeiro) no programa
“Em casa com a Sagrada Família”
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15. Pe. Rogério Alves Gomes e o seminarista Paulo Nogueira Martins Júnior (da Diocese de Uruaçu, Brasil) no
programa “Em casa com a Sagrada Família”
16. Equipes de Nossa Senhora, Uruaçu (GO), Brasil, no programa
“Em casa com a Sagrada Família”
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17. Cardeal Dom Lorenzo Baldisseri, secretário geral do Sínodo dos
Bispos, no programa “Em casa com a Sagrada Família”
18. Fr. Sinisa Srebrenovic, OFM, franciscano da Custódia da Terra Santa, com Fr. Sesar Melanius Jordan, OFM, na
estreia do programa
“Em casa com a Sagrada Família”
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19. Fr. Pierbattista Pizzaballa, OFM, custódio da Terra Santa, no programa “Em casa com a Sagrada Família”
20. Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e moderador da Assembleia Geral do
Sínodo sobre a Família 2014/2015,
no programa “Em casa com a Sagrada Família”
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21. Quadro antigo da Sagrada Família, venerado dentro
do Santuário da Sagrada Família em Nazaré
22. Vista noturna da Basílica da Anunciação, Nazaré
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23. Pastoral da Família, com os seminaristas e educadores do seminário
São José da Diocese de Uruaçu – Goiás, na ocasião da acolhida da relíquia da casa de São José – 2014
24. Ingresso solene do cardeal Lorenzo Baldisseri na Basílica da Anunciação – Nazaré, em ocasião do simpósio da
Igreja da Terra Santa em preparação à assembleia ordinária do Sínodo da Família de 2015
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25. Inscrição em latim que se encontra na cripta da casa da Sagrada Família: “Hic erat subditus illis” (Aqui era-
lhes submisso)
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As orações neste livro são poderosas em Deus, capazes de derrubar as barreiras que nos
afastam Dele. Elas nos ajudarão muito naqueles dias difíceis em que nem sequer
sabemos por onde começar a rezar. Contudo, você verá que pouco a pouco o Espírito
Santo vai conduzir você a personalizar sempre mais cada uma delas. A oração é simples,
mas é poderosa para mudar qualquer vida. Coisas muito boas nascerão desse momentodiário com o Senhor. Tudo pode acontecer quando Deus é envolvido na causa, e você
mesmo constatará isso. O Espírito Santo quer lhe mostrar que existe uma maneira muito
mais cheia de amor e mais realizadora de se viver. Trata-se de um mergulho no amor de
Deus que nos cura e salva. Quanto mais você se entregar, mais experimentará a graça de
Deus purificar, libertar e curar seu coração. Você receberá fortalecimento e proteção.
Mas, o melhor de tudo é que Deus lhe dará uma efusão do Espírito Santo tão grande que
mudará toda a sua vida. Você sentirá crescer a cada dia em seu interior uma paz e uma
força que nunca havia imaginado ser possível.
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Devocionário a Nossa Senhora de Fátima Nova, Comunidade Canção
9788576776239
104 páginas
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Dirigido a católicos, em geral, esse "poderoso livrinho” tem a missão de mostrar quão
bela é a devoção à Nossa Senhora de Fátima e quais as bênçãos que são recolhidas por
aqueles que abraçam a vida de oração diária e a renúncia à toda influência do maligno. O
devocionário conta também um pouco da história dos três pastorinhos que tiveram a
graça de receber as visitas de Nossa Senhora, em Fátima: Lúcia, Francisco e Jacinta.Impulsionados pela Virgem, os três mostraram ao mundo o quanto podemos fazer para
desagravar seu coração, e oferecer a ela as flores da conversão do mundo. Três
pastorinhos - Lúcia, Francisco e Jacinta - receberam a graça da visitação de Nossa
Senhora, que lhes deu a missão de divulgar a devoção que consolaria seu Imaculado
Coração. Vestida de branco e mais brilhante que o sol, ela realizou milagres e ordenou:
"Orai, orai muito. Rezem o terço todos os dias, para alcançar a paz para o mundo e o fim
da guerra.” Através deste devocionário, com suas reflexões e novenas, e abraçando uma
vida de oração diária, tenha a certeza de que você também receberá - pelas mãos deossa Senhora de Fátima - os frutos da verdadeira conversão e a paz para você e sua
família.
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BatismoAquino, Prof. Felipe
9788576776512
96 páginas
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Professor Felipe Aquino comenta ricamente cada assunto pertinente para aqueles que
desejam seguir os preceitos católicos. São livros curtos, com textos escritos em
linguagem formal, mas acessível a todo o tipo de público. Todo católico que estiver
disposto a conhecer melhor os dogmas, os preceitos e as recomendações da Santa Igreja
para seus fiéis têm na coleção Sacramentos a oportunidade ideal de aprofundamentodoutrinário. Títulos: Batismo / Penitência / Eucaristia / Crisma / Matrimônio / Ordem /
Unção dos Enfermos.
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PenitênciaAquino, Prof. Felipe
9788576776475
112 páginas
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Professor Felipe Aquino comenta ricamente cada assunto pertinente para aqueles que
desejam seguir os preceitos católicos. São livros curtos, com textos escritos em
linguagem formal, mas acessível a todo o tipo de público. Todo católico que estiver
disposto a conhecer melhor os dogmas, os preceitos e as recomendações da Santa Igreja
para seus fiéis têm na coleção Sacramentos a oportunidade ideal de aprofundamentodoutrinário. Títulos: Batismo / Penitência / Eucaristia / Crisma / Matrimônio / Ordem /
Unção dos Enfermos.
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Index
Apresentação 6Introdução 9
Tudo tem início em Nazaré 13A cidade de Nazaré na Galileia 16
As ruínas do povoado de Nazaré 18
A Gruta da Anunciação 19
A casa de São José, casa da Sagrada Família de Nazaré 21
A sinagoga de Nazaré 23
O monte do precipício 25
Santuário de Santa Maria do Tremor 26
Nazaré, escola do Evangelho 29O silêncio 31
Anunciação, escola das relações 34
Vida ordinária, escola de cotidianidade 36
Nazaré, escola de humanidade 39
Escola do trabalho 43
Nazaré, pedras amadas e vivas 45Os franciscanos em Nazaré 48
O Beato Charles de Foucauld em Nazaré 50
Uma família de Nazaré 53
Viver Nazaré 57
A Sagrada Família, dom e projeto de Salvação 58A participação da Família de Nazaré na história da Redenção 61
O matrimônio de Maria e José de Nazaré 63
Maria e José, “dom” um para o outro 66
O dom “esponsal” de Maria e José: a realização do serviço a Cristo e à SuaIgreja 68
Sagrada Família de Nazaré, inspiração da Igreja doméstica 71São José, uma paternidade “desafiadora” 75
Maria, uma maternidade eclesial 78
Jesus, Maria e José, ícone do amor Trinitário 81
Sagrada Família, modelo de todas as vocações 83
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Um discernimento decisivo entre “celibato pelo Reino e Matrimônio” 87
O amor esponsal na vida celibatária pelo Reino dos Céus e na virgindade 90
Vocação ao matrimônio 93
Verdade e beleza da família 97
O anúncio do Evangelho da família 101Matrimônio e família na Bíblia 103
Abertura ao dom da vida 108
O desafio da educação dos filhos 111
O papel dos avós na educação dos netos 113
Prospectivas para uma Pastoral Familiar no exemplo da SagradaFamília
116
Orientar os nubentes (noivos) ao caminho do matrimônio 122
Passos do percurso de preparação 124Acompanhamento nos primeiros anos de matrimônio 127