Upload
vomien
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 3 / 130
O Pastor,
Convicções Estremecidas
Arivalter Bahyão
Primeira Edição
Salvador - Bahia
2013
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 4 / 130
Esta é uma obra de ficção. Portanto, mesmo tendo baseamento em
fatos reais, todo o seu conteúdo, a exemplo de nomes de
personagens, situações e fatos nela citados, deve ser considerado
como fruto da imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, estórias ou fatos reais que
eventualmente tenham sido testemunhados e, até, documentados,
deve ser considerada mera coincidência.
Arivalter Bahyão.
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 5 / 130
SUMÁRIO
Pág 06 – INTRODUÇÃO
Pág 08 – GABRIEL
Pag.14 – MEXICA
Pag.16 – BABI
Pág.19 – O Pastor, Com vicções Estremecidas
Pág 28 – Zoínho Reencontra Gabriel
Pág 39 – Gabriel se Converte Protestante
Pág 48 – O Reencontro de Gabriel com Mexica
Pág 51 – A Morte e a “Ressurreição” de Mexica
Pág 62 – O Reencontro de Mexica (Celino) com sua Esposa
(Melissa)
Pág 85 - O Encontro de Celino (Mexica) com sua Esposa e Filhos
Pág 113 - EPÍLOGO
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 6 / 130
INTRODUÇÃO
O Pastor é o resultado de um levantamento que o autor fez na vida
dos seus dois principais personagens. Um deles, um dos narradores
da estória e o outro é aquele que se tornou pastor de uma religião
protestante, fundador de sua própria Igreja, hoje com sedes em
Salvador e em várias cidades do interior baiano. Tem, até, programa
regular em emissoras de televisão. Esses programas, transmitidos
direto de sua sede central, promete e, segundo testemunhos
divulgados, faz curas e realiza milagres diversos. Através desses
programas, também, o pastor pede contribuição financeira de seus
fiéis e de eventuais patrocinadores que pretendam ser “salvos” e
enviados para o Reino de Deus.
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 7 / 130
PERSONAGENS MAIS DESTACADOS
O propósito deste bloco é descrever de forma clara, mas bastante
sucinta, o histórico dos personagens que ganharam um destaque
maior neste trabalho.
Espera-se, com o conteúdo deste bloco, oferecer ao caro leitor,
maiores recursos para o entendimento da história como um todo.
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 8 / 130
GABRIEL
Ângelo Gabriel de Andrade, este foi o nome que já estava destinado
ao sexto filho do “Seo” Augusto e D. Maria das Dores, mesmo
antes dele nascer.
Quando eu conheci o Gabriel na pensão de D. Sassá, ele já era
adulto, 1,80m, moreno forte, cabelos longos e lisos, barba cheia e
sotaque carregado, de interiorano, mais precisamente da Cidade de
Monte Santo, interior da Bahia. Foi a mãe dele, D. Maria das Dores
quem me contou sobre sua infância, desde o nascimento.
Muita gente fala, nos dias atuais, dos sérios riscos que corre a
mulher que engravida com mais de 35 anos. Como também, causa
muito espanto saber que uma garota de 11 ou 12 anos de idade, deu
à luz. Ocorre que naquela época, ainda era normal uma filha ser
prometida, geralmente pelo pai, a jovens advogados, engenheiros,
médicos, filhos de fazendeiros ilustres da região, e casada a partir
dessa faixa etária. E, em seguida, iniciar sua vida de procriadora.
Comum, também, era uma mulher engravidar perto dos 40. Foi o
caso de D. Maria das Dores que, no dia 24 de Junho de 1945 deu à
luz àquele que seria o caçula da família, Ângelo Gabriel de
Andrade.
Com 56cm de comprimento e algo em torno de 3,5kg, o parto do
Gabriel, como confirmará mais adiante D. “Das Dores”, foi um dos
mais estranhos, não só que já tivera conhecimento, como também,
dos que tivera.
Segundo ela, D. “Das Dores”, não sentira dor nenhuma durante o
parto. Pelo tempo de gravidez, pelo tamanho e pelo peso do feto já
pressionando a barriga para baixo, sabia, por experiências
anteriores, que a qualquer momento poderia ocorrer. Tanto é que já
deixara D. Ricarda a “aparadeira”, de sobreaviso. Logo, quando a
placenta se partiu, mandou “Seo” Augusto chamá-la para exercer
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 9 / 130
suas funções. Só que, quando ela chegou, tudo já havia acontecido.
O “moleque” Gabriel já havia saído suavemente, sem causar
qualquer dor ou dano à sua mamãe; esperava, apenas, que lhe fosse
cortado o cordão umbilical e que lhe fossem dados os tratamentos
que normalmente se dá a um recém-nascido.
A população de Monte Santo, interior da Bahia, festejava o São
João, com suas fogueiras, comidas típicas e, claro, muita sanfona
tocando o forró.
A família de “Seo” Augusto tinha um motivo a mais para festejar.
Todas as honras foram dadas ao novo membro da família, que
agora completava oito pessoas. D. Maria das Dores, “Seo” Augusto
e os filhos:
A mais velha, Maria da Conceição; Maria das Graças, Davi,
Messias, Maria Angélica, e, agora, Ângelo Gabriel. Observe-se a
preocupação do casal, que parecia hereditária, em atribuir aos seus
filhos nomes bíblicos, demonstrando, assim, sua fervorosa
religiosidade voltada para a Igreja Católica.
A infância de Gabriel fora semelhante à de qualquer criança da
localidade. Salvo algumas ocorrências que serão lembradas pelos
pais e irmãos, no decurso desta estória. Não fora o tipo de aluno
que se possa dizer que ficava o tempo todo estudando. Mas,
freqüentava assiduamente a escola, fazia, logo que chegava em
casa, seus deveres e saía junto aos amigos em direção aos quintais
para caçar passarinhos com o badogue e apanhar frutas, nos
pomares vizinhos.
Algo curioso, inexplicável e, até inacreditável, acontecera numa das
suas “aventuras” nos quintais dos amigos, que costumava
freqüentar para apanhar frutas. Estava ele sentado num galho de
mangueira se espichando para alcançar uma manga verde a fim de
“arrancar” e atirar para baixo em direção aos companheiros.
Brincavam de guerra, trocando tiros de manga verde. De repente, ao
tentar se esquivar de uma “rajada” que vinha de baixo em sua
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 10 / 130
direção, o galho quebrou e ele caiu, de uma altura aproximada de 4
metros, procurando apoio com um dos braços. Espatifou-se no
chão; assustado, chorando desesperadamente, o braço torto que nem
um anzol! Os amigos também entraram em desespero e saíram
gritando por socorro.
Estavam na casa de Pedrinho, filho de “Seo” Liotério. Foi D. Marta,
mãe de Pedrinho, que apareceu atônita...
- Mas o que foi, meu Deus do céu?! –Perguntou com as mãos
na cabeça
- Foi Gabriel que caiu da mangueira. Olhe o braço dele como
ficou... – Respondeu Pedrinho, em prantos apontando com o dedo
em direção ao braço torto do amigo.
- Não se preocupem. Vamos dar um jeito nisso. Vamos levar
você para o posto médico pra “encanar” seu braço. Tudo vai ficar
bem. Tranqüilizou D. Marta.
Nisso foi chegando o pai de Pedrinho, que após as breves
explicações da “patroa” colocou o assustado Gabriel nos braços e
foram em procissão para o Posto Médico.
Depois de ficarem por quase duas horas aguardando atendimento,
uma enfermeira convidou “Seo” Liotério a entrar com Gabriel nos
braços. A essas alturas, o garoto já parecia mais tranqüilo. Não
demonstrava estar sentindo nada.
- E então, o que é que temos aí? – Perguntou o “doutor” que
se aproximara.
- Este garoto, doutor, caiu da mangueira e quebrou o braço. –
Respondeu “Seo” Liotério, colocando o menino na maca.
O médico deu umas instruções à enfermeira no sentido de preparar
as ataduras com gesso e dispôs a examinar o braço de Gabriel.
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 11 / 130
Tal não foi a surpresa do médico ao constatar que o braço do garoto
estava normal.
- Ué, o braço do moleque está normal! Não vejo problema
nenhum! – Exclamou estupefato.
- Mas, doutor, eu vi... Todos nós vimos o braço dele torto. –
Retrucou o também surpreso “Seo” Liotério, saindo até à recepção
onde os amigos de Gabriel aguardavam preocupados.
- Meninos, entrem aqui. Venham ver só uma coisa! –
Convidou os garotos a entrar.
Ao chegarem à sala do médico já encontraram Gabriel sentado na
maca, feliz, como se nada tivesse acontecido.
- Olhe pra isso, Pedrinho. Não estava todo torto quando nós
o trouxemos? – Perguntou “Seo” Liotério, sem querer acreditar no
que estava vendo.
- É verdade, doutor. Tava torto mesmo. – Responderam em
uníssono, olhando, admirados, o braço “recuperado” do amigo.
- Bom. Como não houve fratura exposta, e como o garoto,
até a hora do atendimento, foi mantido com o braço praticamente
estabilizado, deve ter acontecido uma calcificação espontânea,
muito normal nessa idade. De qualquer maneira, o braço do garoto
não tem nada. – Retornou o médico, apalpando e exercitando o
braço de Gabriel em busca de alguma fratura ou anormalidade.
– Eu tenho um montão de gente para atender. Portanto, vão
embora e me deixem trabalhar.
Por não ter entendido direito as palavras do “doutor”, até hoje
ninguém sabe explicar, com segurança, o que aconteceu. Gabriel
preferiu ocultar o fato de seus pais. Não só para não os deixar
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 12 / 130
preocupados, como também para não ter que dar explicações que
nem ele mesmo as tinha.
Para completar o estado de estupefação geral, quando os garotos
retornaram à casa de “Seo” Liotério, constataram que o galho da
mangueira que tinha quebrado na queda de Gabriel, estava intacto.
Como se nada tivesse acontecido.
Como ninguém encontrou nem, certamente, encontraria jamais,
explicação para os “fenômenos” dos quais foram protagonistas, D.
Marta e “Seo” Liotério aconselharam os garotos a esquecer o
assunto e a não contá-lo pra mais ninguém a fim de evitar ter que
dar explicações para algo que nem eles mesmos sabiam como
acontecera.
Gabriel aprendera o Catecismo, fizera a Primeira Comunhão e,
até, tivera oportunidade de, durante quase um ano, ajudar ao Padre
Florisvaldo na realização de seus Sacramentos.
No ginásio, escola particular, tornara-se líder estudantil
promovendo agitados movimentos reivindicatórios, muitas vezes
deixando a escola sem aula por meses, e, claro, sem receber as
mensalidades dos pais dos alunos, para obrigar a diretoria a atender
às exigências do diretório acadêmico.
Aos 17 anos concluíra o curso do ginásio passando a liderança
estudantil para o José Roberto Figueiredo, mediante eleição
específica. A partir e então, viajaria para a capital, aonde daria
continuidade aos estudos e procuraria trabalho. Seu sonho era um
emprego público.
Já no último ano do ginásio, Gabriel começara a questionar os
ensinamentos religiosos que tivera da família e no tempo em que
estivera como “coroinha”, comparando com o que vinha
aprendendo nas aulas de História Geral, Religião, com suas
reflexões a respeito das diferenças entre as classes sociais que já
naquela época eram evidentes e assustadoras. Por inúmeras vezes,
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 13 / 130
acompanhara sua mãe, nas noites de terças-feiras, a levar uma
panela enorme de sopa e pães para distribuir entre os mais carentes,
nos abrigos públicos e nas ruas onde muitos mendigos disputavam
um lugar protegido das chuvas para dormir. E pensava... Onde
estão, a igreja, a prefeitura, o governo... O que é que fazem com
tanto dinheiro que arrecadam como dízimos e impostos! Será que
essas autoridades não veem tudo isso? E não se sensibilizam?
Certamente não teem nenhum parente entre esses miseráveis. E
Deus? Como é que Ele permite tanta injustiça, tanto descaso para
com as Suas criaturas? Pois, pelo que eu sei, Êle é onipresente,
onipotente e onisciente.
Suas convicções fraquejaram de vez, quando começou a ler sobre o
ateísmo. Átheo, segundo os gregos, eram os indivíduos
desprovidos de crença divina. Um indivíduo sem Deus. Em nossa
língua, ateu. O significado é o mesmo. É o indivíduo que questiona
a existência de Deus como ser Supremo, criador do céu, da terra e
de todas as criaturas nela existentes. As conclusões a que chegara
quando se dirigia num velho ônibus de “carreira” para Salvador,
eram assustadoras. Desde então passara a se perguntar, se valeram a
pena todos os ensinamentos católicos que obtivera até então. Se sua
crença estava, agora, toda distorcida, de nada adiantaria tudo aquilo.
“Na verdade, pra mim, tudo aquilo foi conversa fiada, apenas uma
forma de alienar o indivíduo desde sua mais tenra idade.”
E foi com esse pensamento que Gabriel chegou a Salvador. Iria ler
todos os livros que encontrasse sobre ateísmo, para melhor se
informar a respeito.
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 14 / 130
MEXICA
MEXICA, forma reduzida de Mexicano. Era esse o codinome desse
novo personagem. Nunca soube seu verdadeiro nome. Era assim
chamado porque, nas ocasiões em que desfilava na Escola de
Samba Barroquinha Zero Hora, como parte da bateria, usava um
belo sombrero mexicano.
Ganhava a vida como alfaiate. Trabalhava num ateliê que ficava
bem embaixo da Pensão da D. Sassá. O ateliê era dos pais do
Edilton, também integrante da bateria. Edilton, pele clara, cabelos
curtos e cacheados morava, junto com seus pais, no fundo do ateliê.
Cheio de gírias, nas horas em que não estava ajudando a mãe nas
costuras ou no colégio São Bento, ali próximo, estava na sede da
Escola de Samba, como dizia, “na roda da malandragem”.
Mexica devia ter, àquela ocasião, por volta dos 29 anos. Tinha a
pele morena, com cabelos pretos, lisos e curtos, aproximadamente
1,70m de altura, trabalhador... Era, o que se costumava chamar,
gente boa! Gostava de uns “pileques” aos finais de semana. Mas
nunca se excedia, a ponto de causar constrangimentos. Quando
percebia que atingiu o ponto de controle, dizia, “Pessoal, já tô cheio
de
razão. Tô indo...” e, discretamente, tomava o rumo do seu
quartinho, na subida da Visconde de Itaparica, onde morava
sozinho. Poucos sabiam sobre sua origem ou sobre seus pais,
irmãos etc.
Mexica fazia questão de permanecer solteiro. Dizia que gostava de
liberdade e do “descompromisso” geral. Era esse o termo que
costuma empregar para justificar o fato de até aquela idade ainda
estar solteiro. Também, não se ligava muito em religião. Alguns
que o conheciam há mais tempo e, até, com mais intimidade,
diziam que o Mexica tinha envolvimento com candomblé. A
verdade é que o nosso personagem estava sempre alegre e
receptivo, para quem precisasse dos seus serviços.
O Pastor Arivalter Bahyão
O Pastor Pág.: 15 / 130
Essa era a vida de Mexica! Lembro-me que, por volta de 8 anos
desde que deixara de morar na Pensão da d. Sassá, em passagem
pela Barroquinha, perguntando pelos amigos da época em que por
lá estivera, soube, dentre outras coisas, que o Mexica, finalmente,
havia contraído matrimônio. Conhecera uma bela, turista paulista
que com ele se encantara durante uma exibição da “Barroquinha
Zero Hora”
E isso era tudo o que sabíamos sobre o componente da bateria da
Escola de Samba Barroquinha Zero, que, nas suas exibições,
costumava usar um amplo sombrero mexicano.
.
.