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Narratividade e intertextualidade nas capas da revista Unesp Ciência: um estudo semiótico BRUNO SAMPAIO GARRIDO Doutorando – Linguística e Língua Portuguesa (FCLAr/Unesp) [email protected]

Narratividade e intertextualidade unesp ciência

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Narratividade e intertextualidade nas

capas da revista Unesp Ciência: um estudo

semióticoBRUNO SAMPAIO GARRIDO

Doutorando – Linguística e Língua Portuguesa (FCLAr/Unesp)[email protected]

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Introdução• Objetivo: investigar as relações entre os elementos textuais e

não textuais presentes em uma capa da revista Unesp Ciência, e como elas atuam na construção do sentido global das mensagens produzidas.

• Corpus: capas das edições 5 (fev. 2010) e 28 (mar. 2012) da revista Unesp Ciência .

• Metodologia: análise semiótica, valendo-se do percurso gerativo de sentido elaborado por Greimas (vide GREIMAS, 1979; GREIMAS; COURTÉS, 2008) e estudo das relações semissimbólicas entre expressão e conteúdo (FLOCH, 1985; PIETROFORTE, 2004; 2011).

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Análise do corpusNível discursivo•Figuratividade: chuva de notas de 100 reais e óleo escorrendo pelas mãos - relação metafórica com o desperdício (riqueza correndo pelas mãos, dinheiro caindo para o chão, sem direção).•Relação metonímica: riquezas nacionais – petróleo e notas de 100 reais; mãos – povo brasileiro.•Petróleo na mão é vendaval: paródia do verso Dinheiro na mão é vendaval, da música Pecado Capital.•Jeito brasileiro: traço cultural em que se driblam as leis e convenções sociais para se obter vantagens pessoais.•“Jeitinho”: na música, na novela e na política, não traz riqueza e nem felicidade, mas discórdia e problemas.

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Análise do corpusNível narrativo•Objeto-valor: o desenvolvimento das cidades beneficiadas com os royalties.•Sujeito: não determinado, figurativizado pelas mãos unidas – exploradores de petróleo e seus beneficiários.•Antissujeito: classe política local.•Destinador – administração pública; Destinatário – cidades e população (normal), políticos (na prática); Antidestinador – “jeitinho brasileiro”.•Modalidades: dever-fazer (obrigação legal do poder público), poder-fazer (recursos dos royalties), não-querer fazer (investimento em áreas não prioritárias, desvio de verbas, corrupção).•Sanção: negativa para a cidade, que não é beneficiada pelos recursos dos royalties do petróleo, positiva para a classe política e eventuais corruptos.

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Análise do corpusNível axiológico ou fundamental•Oposições: Riqueza X Pobreza, Responsabilidade X Irresponsabilidade/Desperdício, Jeito Ético X Jeito Brasileiro.•Classe política local: é abordada disforicamente, entendida como exemplo de má gestão dos recursos públicos.•Constatação generalizada, aplicável aos políticos brasileiros no geral (“Jeito brasileiro de usar recursos...”)

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Análise do corpusRelações semissimbólicas entre expressão e conteúdo

•Movimento de queda corrobora a homologação das oposições entre expressão e conteúdo, ressaltando a má gestão de recursos como empecilho ao desenvolvimento das cidades beneficiadas pelos royalties do petróleo.

PCRiqueza X Pobreza

Responsabilidade X Irresponsabilidade

PE Alto X Baixo

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Análise do corpusNível discursivo•Migrante: figurativização do migrante nordestino que parte de sua terra natal em busca de emprego e melhores condições de vida nas metrópoles.•Semblante alegre: A migração deixou de ser sinônimo de sofrimento, de dor, mas assume novos valores, já que a própria vida do nordestino se modificou ao longo dos anos.•Morte e vida Severina: retrata o êxodo rural nordestino, a seca, a fome, a pobreza e a dor – a luta desesperada pela sobrevivência. •Nova vida Severina: vida difícil, mas compensadora, alegre, próspera, em que há a possibilidade da volta.•Migrante moderno: figurativização do novo perfil dos nordestinos, que agora tem a chance de voltar à terra natal e viver com qualidade, ainda que precise trabalhar por um tempo nas grandes cidades.

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Análise do corpusNível narrativo•Sujeito e destinatário: Migrante•Objeto-valor: prosperidade•Destinador: a necessidade de sobrevivência•Modalidades: não-querer fazer (resistência a sair da terra natal), dever-fazer (sobrevivência). •Performance: o retirante parte para a cidade grande, via intimidação e tentação, mesmo sem querer largar suas raízes e entes queridos,. •Sanção: positiva, pois o migrante consegue emprego e, com isso, é capaz de juntar dinheiro para sobreviver e, um dia, voltar à terra natal. Logo, ele entra em conjunção com seu objeto-valor.•Mudança do objeto-valor: retorno à terra natal. Nesse caso, o migrante é modalizado por um querer-fazer (saudade das origens) e um poder-fazer (recursos financeiros).

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Análise do corpusNível axiológico ou fundamental•Oposições: Alegria/Prazer X Tristeza/Sofrimento; Riqueza X Pobreza; Identidade X Alteridade•Migrante: retratado euforicamente, pois tem conseguido conciliar as variáveis emprego, renda e vida na terra natal.•Se o migrante tradicional precisava romper traumaticamente sua ligação com o local de origem e assumir valores da cidade grande (não-identidade), o novo migrante segue um percurso mais tranquilo, em que identidade e alteridade mantêm certo equilíbrio.

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Análise do corpusRelações semissimbólicas entre expressão e conteúdo

•Tonalidade marrom (terra): associação entre a cor da terra (lado de fora do ônibus) e a cor da pele e das roupas do migrante – sertão, calor, trabalho duro.•A recorrência dessa cor compõe uma relação de integração entre o homem e sua terra, como se fossem uma única entidade.

PC Identidade X Alteridade

PE Escuro X Claro

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Considerações finais• Pudemos verificar o quanto os recursos expressivos utilizados pelas

mídias informativas não exercem meramente um papel estético, mas visam a chamar a atenção dos potenciais leitores e estabelecer desde já uma espécie de contrato, regulado por modalidades veridictórias baseadas na expectativa de o leitor encontrar determinados conteúdos que satisfaçam suas necessidades de consumo de informação, enquanto o produto midiático se oferece como o objeto capaz de saná-las.

• A temática retratada pela capa é figurativizada e articulada de maneira a facilitar um reconhecimento imediato por parte do leitor do assunto e motivá-lo a continuar a leitura, valendo-se de elementos mais concernentes com o repertório cognitivo-cultural médio do público-alvo.

• O conjunto complexo de valores, relações lógicas e figuras pertinentes à temática abordada na capa de Unesp Ciência tornou-se, desse modo, um objeto atraente e palatável, mais suscetível a ser consumida.

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ReferênciasBERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. Bauru: EDUSC, 2003. BUENO, W. C. Jornalismo científico: revisitando o conceito. In: VICTOR, C.; CALDAS, G.; BORTOLIERO, S. (Orgs.). Jornalismo científico e desenvolvimento sustentável. São Paulo: All Print, 2009. p. 157-178. ______. Jornalismo científico: resgate de uma trajetória. Comunicação & Sociedade, São Bernardo do Campo, n. 30, p. 209-220, 1998. FLOCH, J. M. Petites mythologies de l'œil et de l'esprit: pour une sémiotique plastique. Paris: Hàdes; Amsterdam: Benjamins, 1985. GREIMAS, A. J. As aquisições e os projetos. In: COURTÉS, J. Introdução à semiótica narrativa e discursiva. Coimbra: Almedina, 1979. (Prefácio). ______. Semiótica e ciências sociais. São Paulo: Cultrix, 1981. ______.; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. São Paulo: Contexto: 2008. HJELMSLEV, L. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1975. LARA, G. M. P.; MATTE, A. C. F. Ensaios de semiótica: aprendendo com o texto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. LEIBRUDER, A. P. O discurso de divulgação científica. In: BRANDÃO, H. H. N. Gêneros do Discurso na Escola. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 229-269. ORLANDI, E. P. Divulgação científica e efeito leitor: uma política social urbana. In: GUIMARÃES, E. (Org.). Produção e circulação de conhecimento: Estado, mídia, sociedade. Campinas: Pontes/NJC-Unicamp, 2001. p. 21-30. PIETROFORTE, A. V. Semiótica visual: os percursos do olhar. São Paulo: Contexto, 2004. ______. Análise do texto visual: a construção da imagem. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011. PROPP, V. I. Morfologia do conto maravilhoso. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1984. SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006. ZAMBONI, L. M. S. Heterogeneidade e subjetividade no discurso da divulgação científica. 1997. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

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