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UNIVERSIDADE DOS AÇORES DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM GESTÃO / MBA PROPENSÃO EMPREENDEDORA DOS ESTUDANTES DE ENSINO SUPERIOR NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Nélia Cavaco Branco Ponta Delgada, Outubro de 2012

Nélia Cavaco Branco - Repositório da Universidade … Prof. Doutor Gualter Couto Co-Orientador: Prof. Doutor Pedro Pimentel Ponta Delgada, Outubro de 2012 ii Resumo O principal propósito

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  • UNIVERSIDADE DOS AORES

    DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTO

    DISSERTAO DE MESTRADO EM GESTO / MBA

    PROPENSO EMPREENDEDORA DOS

    ESTUDANTES DE ENSINO SUPERIOR NA REGIO

    AUTNOMA DOS AORES

    Nlia Cavaco Branco

    Ponta Delgada, Outubro de 2012

  • UNIVERSIDADE DOS AORES

    DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTO

    DISSERTAO DE MESTRADO EM GESTO / MBA

    PROPENSO EMPREENDEDORA DOS

    ESTUDANTES DE ENSINO SUPERIOR NA REGIO

    AUTNOMA DOS AORES

    Nlia Cavaco Branco

    Orientador: Prof. Doutor Gualter Couto

    Co-Orientador: Prof. Doutor Pedro Pimentel

    Ponta Delgada, Outubro de 2012

  • ii

    Resumo

    O principal propsito do trabalho de investigao foi o de aferir o nvel da propenso

    empreendedora dos estudantes de ensino superior da Regio Autnoma dos Aores, bem

    como a perceo e a familiaridade que os mesmos tm com a temtica do

    empreendedorismo. Um aspeto fundamental, tambm, contemplado neste trabalho foi a

    aferio dos fatores que exercem influncia sobre o facto dos estudantes se tornarem ou

    no empreendedores.

    De um modo geral, os resultados obtidos neste estudo permitem concluir que os

    estudantes de ensino superior da Regio Autnoma dos Aores apresentam um baixo

    nvel de propenso empreendedora, bem como de familiaridade com o

    empreendedorismo. Tal concluso vem ao encontro do baixo nvel de empreendedorismo

    j verificado em estudos, anteriormente, realizados para aferir a realidade da atividade

    empreendedora nesta regio. No que toca aos fatores que influenciam a propenso

    empreendedora dos estudantes o estudo mostra que os fatores gnero, idade, estatuto de

    estudante e existncia de familiares empresrios so aqueles que exercem uma relao

    positiva sobre a escolha dos estudantes se tornarem empreendedores.

    Palavras-chave: Empreendedorismo, Empreendedor, Propenso Empreendedora.

  • iii

    Abstract

    The main purpose of the research work was to measure the level of entrepreneurial

    propensity of students to higher education in the Autonomous Region of the Azores, as

    well as the perception and familiarity that they have with the subject of entrepreneurship.

    A fundamental aspect also included in this work was the measurement of the factors that

    influence that students become entrepreneurs or not.

    In general, the results of this study show that students of higher education in the

    Autonomous Region of the Azores have a low level of entrepreneurial propensity, as well

    as familiarity with entrepreneurship. This conclusion is in line with the low level of

    entrepreneurship already observed in studies previously undertaken to verify the reality of

    entrepreneurial activity in this region. As regards the factors influencing entrepreneurial

    propensity of students the present study shows that the factors gender, age, student status

    and existence of family businesses are those that exert a positive relationship on the

    choice of students to become entrepreneurs

    Keywords: Entrepreneurship, Entrepreneur, Propensity for Entrepreneurship.

  • iv

    Agradecimentos

    A concretizao deste trabalho de dissertao o culminar de um percurso de trs

    anos de trabalho, dedicao e de aprendizagem. Tanto no decorrer da parte letiva, como

    na parte do desenvolvimento da dissertao, tive a oportunidade de contar com o

    estimvel apoio e colaborao de pessoas que deram o seu melhor contributo para o bom

    resultado final deste projeto. Por isso aqui aproveito para tecer alguns agradecimentos a

    todos aqueles que tiveram um papel relevante nesta minha caminhada.

    Comeo por agradecer ao Professor Doutor Gualter Couto e ao Professor Doutor

    Pedro Pimentel que me orientaram na realizao deste trabalho.

    Um agradecimento especial ao Fbio Sousa, que com a sua sabedoria e empenho me

    ajudou com o tratamento estatstico dos dados recolhidos deste trabalho.

    Agradeo minha famlia pelo apoio e compreenso que me disponibilizou durante

    este rduo desfio, em especial aos meus pais, que sempre me ensinaram a no desistir dos

    desafios que se nos colocam no decorrer da nossa vida, por mais difceis que eles possam

    parecer.

    s minhas colegas e amigas Ins Cardoso, Maria Vitria Soares, Cristiana Camilo e

    Catarina Machado, agradeo pelo companheirismo e amizade que me demonstraram.

    Ao meu grande amigo e colega, Joo Crispim, com quem tive o enorme gosto de

    trabalhar, durante os ltimos 4 anos, agradeo pela pacincia, compreenso e pela

    amizade que me demonstrou, o que muitas vezes me ajudou a superar em alturas de

    maior desnimo com que me deparei.

  • v

    ndice

    Resumoii

    Abstract..iii

    Agradecimentos..iv

    1. Introduo....1

    2. Reviso da Literatura ..5

    2.1. Definio do Conceito de Empreendedorismo e de Empreendedor5

    2.1.1. A Evoluo do Termo Empreendedorismo..6

    2.1.2. Definies de Empreendedor.11

    2.2. Importncia do Empreendedorismo Para o Desempenho Econmico...15

    2.2.1. A Relao Entre o Empreendedorismo e o Crescimento Econmico....16

    2.3. Propenso ao Empreendedorismo..22

    2.3.1. Caractersticas Psicolgicas Associadas aos Empreendedores..24

    2.3.2. A Influncia do Contexto...25

    2.3.2.1. Caractersticas Sociodemogrficas.27

    2.3.2.2. Caractersticas Ambientais.28

    2.3.2.3. Caractersticas de Formao...29

    2.3.2.3.1. Ensino e Formao Para o Empreendedorismo..31

    2.4. Propenso ao Empreendedorismo dos Estudantes Universitrios.41

    2.5. Condies de Desenvolvimento do Empreendedorismo - Perspetiva Nacional e

    Regional59

    3. Metodologia ..66

    3.1. Metodologia e Recolha de Dados..66

  • vi

    3.2. Caracterizao da Amostra71

    4. Anlise dos Resultados..76

    4.1. Perceo dos Estudantes Acerca do Empreendedorismo e do Empreendedor..76

    4.2. Familiaridade dos estudantes com o empreendedorismo...85

    4.3. Fatores influenciadores da deciso dos estudantes se tornarem empreendedores ou

    trabalhadores por conta de outrem.91

    4.4. Como Pode a Universidade Fomentar o Interesse dos Estudantes Pelo

    Empreendedorismo..103

    4.5. Determinantes da Propenso Empreendedora dos Estudantes....107

    4.5.1. Anlise Geral ao Modelo.111

    4.5.2. Anlise de Significncia das Variveis117

    4.5.3. Anlise dos Resultados da Regresso..118

    5. Concluses Finais.124

    6. Referncia Bibliogrficas.129

    7. Anexos..140

  • vii

    ndice de Tabelas

    Tabela 1. Determinantes da Propenso ao Empreendedorismo dos Estudantes Finalistas

    da Universidade do Porto...54

    Tabela 2. Determinantes da Propenso/ Intenso Empreendedora dos Estudantes de

    Ensino Superior Portugueses.55

    Tabela 3. Informao Sobre a Significncia Estatstica do Modelo....111

    Tabela 4. Informao Sobre os Pseudo R-Quadrado...112

    Tabela 5. Tabela de Valores de Classificao..114

    Tabela 6. Percentagem Marginal das Categorias da Varivel Dependente.116

    Tabela 7. Testes ao Rcio de Verosimilhana.117

    Tabela 8. Tabela Cruzada entre as Idades e os Anos de Frequncia...121

  • viii

    ndice de Figuras

    Figura 1. Evoluo da Definio do Termo Empreendedorismo/Empreendedor7

    Figura 2. Trs Tipos de Empreendedores..13

    Figura 3. Atividade Empreendedora em Estado Inicial e Nveis do PIB per capita.18

    Figura 4. Variveis Intermdias e Ligaes que Explicam a Influncia do

    Empreendedorismo no Crescimento Econmico...19

    Figura 5. Contributo do Desenvolvimento Tecnolgico e do Aumento da Riqueza Para o

    Desenvolvimento do Empreendedorismo..20

    Figura 6. Total da Taxa de Atividade Empreendedora em Estado Inicial (TEA) 2011, por

    Fases de Desenvolvimento Econmico, com Intervalos de 95% de Confiana21

    Figura 7. Relao Entre o Empreendedor, o seu Comportamento e o Meio Envolvente

    para a Obteno de Resultados..26

    Figura 8. Determinantes da Propenso Para o Empreendedorismo...30

    Figura 9. Modelo Conceptual Depurado dos Fatores que Influenciam a Propenso

    Criao de Empresas..32

    Figura 10. Empreendedorismo Como um Processo de Aprendizagem.34

    Figura 11. Diferenas Entre o Ensino Tradicional e o Ensino Moderno..36

    Figura 12. Relao Treino e Envolvimento dos Empreendedores39

  • ix

    Figura 13. Condies, Vantagens e Insuficincias dos Recm-licenciados/ps-graduados

    no Lanamento de Iniciativas de Empreendedorismo Tecnolgico..47

    Figura 14. Resultados do Estudo Inteno de Criao de Empresas..48

    Figura 15. Gnero dos Empreendedores49

    Figura 16. Habilitaes Literrias dos Empreendedores...50

    Figura 17. Habilitaes Literrias dos Empreendedores, por Escalo Etrio....51

    Figura 18. Situao Profissional Anterior dos Empreendedores...52

    Figura 19. Anlise das Condies Estruturais para o Desenvolvimento do

    Empreendedorismo, a Nvel Nacional e Regional.....62

    Figura 20. Descrio das Variveis Dependentes e Independentes..69

    Figura 21. Distribuio dos Inquiridos por Idade (%)...72

    Figura 22. Distribuio dos Inquiridos por Gnero (%)72

    Figura 23. Distribuio dos Inquiridos por Instituio de Ensino Superior (%)...73

    Figura 24. Distribuio dos Inquiridos por Grau de Estudos (%)74

    Figura 25. Distribuio dos Inquiridos por rea Cientfica (%)...74

    Figura 26. Nvel de Concordncia dos Estudantes com Aspectos que Caracterizam o

    Empreendedorismo (%).77

  • x

    Figura 27. Nvel de Concordncia dos Estudantes com Aspectos que Caracterizam o

    Empreendedor (%).78

    Figura 28. Empresrios/ Gestores Reconhecidos como Empreendedores de Sucesso na

    Regio Autnoma dos Aores, (%)...82

    Figura 29. Autoavaliao dos Estudantes s suas Competncias Empreendedoras, Nvel

    de Concordncia (%)..83

    Figura 30. Estimativa dos Estudantes para o Volume de Capital Necessrio para Abrir um

    Negcio (%)...85

    Figura 31. Fontes de Familiaridade dos Estudantes com Aspetos Relacionados com o

    Empreendedorismo, Nvel de concordncia (%)...86

    Figura 32. Interesse dos Estudantes pelo Empreendedorismo, Durante o Percurso

    Acadmico, Nvel de Interesse (%)...88

    Figura 33. Propenso Empreendedora dos Estudantes de Ensino Superior na Regio

    Autnoma dos Aores (%).90

    Figura 34. Razes Para os Estudantes Preferirem Ser Trabalhadores por Conta de Outrem

    a Serem Trabalhadores por Conta Prpria, Nvel de Concordncia (%)...92

    Figura 35. Razes Para os Estudantes Preferirem Ser Trabalhadores por Conta de Outrem

    a Serem Trabalhadores por Conta Prpria, Nvel de Concordncia (%)...95

    Figura 36. Factores que Suscitam Receio aos Estudantes na Abertura de uma Empresa,

    Nivel de Receio (%)...99

  • xi

    Figura 37. Factores Considerados pelos Estudantes como Dificuldades na Abertura de

    uma Empresa, Nvel de Concordncia (%)..100

    Figura 38. Aspetos Considerados pelos Estudantes como fatores de sucesso de uma

    Empresa, Nvel de Concordncia (%)..102

    Figura 39. Aes que a Serem Desenvolvidas pela Universidade para Promover o

    Empempreendedorismo Junto dos Estudantes, Nvel de Concordncia (%)...105

    Figura 40. Fatores que Podero Influenciar a Propenso ao Empreendedorismo dos

    Estudantes do Ensino Superior110

  • xii

    ndice de Anexos

    Anexo 1. Taxa de Atividade Empreendedora Early-Stage (TEA)..141

    Anexo 2. Resultados do Modelo Logit Multinominal.142

    Anexo 3. Inqurito Propenso Empreendedora dos Estudantes de Ensino Superior da

    Regio Autnoma dos Aores.143

  • 1

    1. Introduo

    A temtica do empreendedorismo tem sido, nos ltimos tempos, alvo de um variado

    nmero de estudos acadmicos. Tal facto vem acompanhar a crescente importncia que

    o fenmeno do empreendedorismo tem assumido, como fator potenciador de

    desenvolvimento econmico e social dos pases e regies. De acordo com esta

    perspetiva, o papel dos empreendedores na sociedade atual tem vindo, tambm, a ser

    muito valorizado, sendo os mesmos entendidos como agentes de mudana e de

    desenvolvimento dos contextos sociais onde se encontram inseridos.

    Estudos efetuados, como o caso do Global Entrepreneurship Monitor, tm

    demonstrado que associado ao empreendedorismo esto algumas vantagens para as

    sociedades, como a criao de novas empresas, a criao de novos postos de trabalho, a

    promoo da competitividade e o desenvolvimento de negcios inovadores.

    No atual cenrio de crise econmica que se vive, de forma generalizada, nos pases

    Europeus e, em particular em Portugal, o futuro do desenvolvimento da economia passa,

    em grande parte, pelo aumento da atividade empreendedora, o que permitir construir

    uma economia mais competitiva e, simultaneamente fazer decrescer as altas taxas de

    desemprego que se tem verificado mais recentemente.

    Contudo, no se pode exigir populao de uma sociedade que se torne,

    automaticamente, altamente empreendedora, sem criar condies para promover o

    espirito empreendedor e sem polticas e programas que apoiem um crescimento

    sustentvel da atividade empreendedora.

    Tem-se assistido, a nvel internacional, nacional e mesmo regional, a uma crescente

    preocupao pela criao de programas e atividades que promovam o espirito e a

  • 2

    propenso empreendedora dos estudantes de ensino superior, de modo a que, no final do

    seu percurso acadmico, estes sejam capazes de criar as suas empresas, permitindo que

    os mesmos criem os seus prprios postos de trabalho e empresas produtoras de bens e

    servios inovadores e com forte valor acrescentado para a sociedade.

    Em Portugal, assiste-se cada vez mais a esta preocupao por parte das entidades de

    ensino superior, em implementar aes e programas que promovam junto dos

    estudantes o espirito empreendedor e mecanismos para dotar os estudantes de

    capacidades e competncias empreendedoras. Para aferir os resultados destas iniciativas

    e medir a sua adequabilidade, tm sido desenvolvidos alguns estudos, nomeadamente,

    (Camilo (2005); Rosrio (2007); Teixeira (2009), que tm como principal intuito

    verificar o nvel de propenso empreendedora dos estudantes de ensino superior a nvel

    nacional.

    Apesar de se ter vindo a desenvolver alguns estudos para abordar a temtica da

    propenso empreendedora dos estudantes de ensino superior em Portugal, desconhece-

    se a existncia de algum estudo efetuado que avalie a realidade da propenso

    empreendedora dos estudantes de ensino superior da Regio Autnoma dos Aores.

    Assim sendo, o presente trabalho de investigao pretende colmatar esta lacuna e

    analisar esta realidade, de modo a aferir qual o comportamento dos estudantes de ensino

    superior aorianos face ao empreendedorismo.

    O principal propsito do presente trabalho de investigao o de aferir o nvel da

    propenso empreendedora dos estudantes de ensino superior da Regio Autnoma dos

    Aores. Pretende-se, tambm, aferir qual a percepo dos estudantes acerca do

    emprendedorismo e do papel do empreendedor, perceber o grau de familiaridade dos

    estudantes com o fenmeno do empreendedorismo e quais factores influenciadores da

  • 3

    deciso dos estudantes a tornarem-se empreendedores, bem como entender como pode a

    universidade fomentar o interesse dos estudantes pelo empreendedorismo. Por ltimo,

    este trabalho visa apurar qual o empreendedor regional de referncia para os estudantes

    que so alvo desta investigao.

    A partir dos resultados deste trabalho pretende-se identificar quais os factores que

    funcionam como obstculos ou como potenciadores do desenvolvimento da prtica

    empreendedora, junto dos estudantes de ensino superior, nos Aores. De acordo com

    esta anlise ser possvel delinear um conjunto de indicadores que possam servir de

    directrizes para as entidades de ensino superior da regio, bem como para as entidades

    governamentais, no sentido destas poderem construir aces e polticas equilibradas de

    promoo e de apoio actividade empreendedora, junto do pblico aqui considerado.

    Para a elaborao deste trabalho de investigao, procedeu-se realizao de um

    questionrio, que foi aplicado junto de alunos de licenciatura e mestrado dos vrios

    plos da Universidade dos Aores e da Escolas Superiores de Enfermagem de Ponta

    Delgada e Angra do Herosmo, durante o primeiro semestre do ano lectivo 2010/2011,

    de forma a obter a informao necessria ao desenvolvimento do estudo.

    Para cumprir os propsitos desejados construiu-se o presente trabalho que se

    encontra composto por cinco pontos fundamentais que, para alm da presente

    introduo, se apresentam de seguida:

    2. Reviso da literatura contempla a exposio do estado da arte das

    temticas do empreendedorismo e do empreendedor, da importncia do

    fenmeno do empreendedorismo para o desenvolvimento e desempenho

    econmico das regies, da temtica da propenso ao empreendedorismo e os

    fatores que o determinam de um modo geral e, em particular, junto de

  • 4

    estudantes universitrios. Efetua-se, ainda, uma breve anlise s condies

    de desenvolvimento do empreendedorismo em Portugal e, com especial

    enfoque na Regio Autnoma dos Aores.

    3. Metodologia - contm a explicao da metodologia e o modelo utilizado

    para apurar os resultados do estudo.

    4. Anlise dos resultados abarca uma anlise detalhada aos principais

    resultados obtidos atravs da anlise estatstica das informaes recolhidas

    no estudo, bem aos resultados obtidos pela aplicao do modelo adoptado na

    investigao, para apurar a propenso empreendedora dos estudantes e os

    factores que mais a influenciam.

    5. Consideraes finais - contempla as principais concluses retiradas do

    estudo desenvolvido e refere, tambm, algumas limitaes do mesmo, bem

    como algumas sugestes para futuros trabalhos de investigao.

  • 5

    2. Reviso da Literatura

    O presente captulo tem como principal propsito efectuar um enquadramento

    terico acerca da problemtica do empreendedorismo. Para tal, aqui efectuada uma

    abordagem evoluo da definio do conceito de empreendedorismo e, por inerncia,

    tambm da definio de empreendedor.

    Para alm de se efectuar uma relao da perspectiva de vrios autores, em relao a

    esta temtica, demonstra-se igualmente relevante perceber as perspectivas de alguns

    estudiosos acerca da importncia do empreendedorismo para a promoo da inovao e

    para o desempenho econmico das regies.

    Considerando o estado da arte do estudo da propenso ao empreendedorismo

    pretende-se extrapolar, a partir dos trabalhos de diversos autores, quais os factores que

    mais contribuem para influenciar a disposio de um indivduo para se tornar

    empreendedor e, consequentemente, impulsionar a actividade empreendedora.

    Tendo em conta que o presente estudo se debrua sobre a da temtica da propenso

    emprendedora, junto de estudantes do ensino superior, torna-se imprescindvel aqui

    delinear um enquadramento acerca do panorama da propenso ao empreendedorismo,

    por parte dos estudantes de ensino superior a nvel nacional e internacional. Deste

    modo, poder aferir-se quais os factores que mais contribuem para a propenso

    empreendedora dos estudantes de ensino superior.

    2.1. Definio do Conceito de Empreendedorismo e de Empreendedor

    Ao abordar o fenmeno do empreendedorismo, possvel verificar que existe um

    variado conjunto de publicaes e trabalhos de investigao acerca desta temtica. No

  • 6

    entanto, no obstante desta diversidade o investigador tambm se depara com a rdua

    tarefa de destrinar e perceber a divergncia de vises que existem acerca do

    empreendedorismo e, consequentemente, do conceito de empreendedor. Segundo a

    perspectiva de alguns autores, esta situao faz com que a maior dificuldade do estudo

    do empreendedorismo seja a de delinear as suas prprias fronteiras (Favareto, 2005 e

    Rosrio, 2007).

    Neste ponto apresenta-se uma breve anlise da evoluo do termo

    empreendedorismo, de modo a perceber o sentido das definies e conotaes que lhes

    so actualmente atribudas.

    2.1.1. A Evoluo do Termo Empreendedorismo

    Ao traar uma perspectiva histrica do conceito de empreendedorismo podemos

    constatar que vrias so as abordagens que lhe esto associadas. De acordo com

    Sarkar (2007), Cantillon, em 1730, ter sido o primeiro responsvel pelo surgimento do

    conceito de empreendedorismo, de acordo com a conotao que o conceito representa

    actualmente.

    No obstante a este importante contributo para a construo do conceito de

    empreendedorismo, muitos outros contributos foram sendo desenvolvidos, ao longo de

    vrios anos, como possvel verificar na elencagem de definies e contributos

    conforme se apresenta na Figura 1.

    O empreendedorismo foi tambm entendido como sendo um processo gerador de

    riqueza, resultado da assuno de riscos inerentes s obrigaes das carreiras dos

    indivduos, do dispndio de tempo ou do valor acrescentado a alguns produtos ou

    servios que so criados (Ronstad, 1984).

  • 7

    Figura 1. Evoluo da Definio do Termo Empreendedorismo/Empreendedor.

    Autor Definio

    Richard

    Cantillon (1730)

    O empreendedor uma pessoa empregada por conta prpria de qualquer tipo. Empreendedores

    compram a um preo certo no presente e vendem a um preo incerto no futuro. Um empreendedor

    uma pessoa que suporta a incerteza.

    Adam Smith

    (1776)

    Empreendedores so agentes econmicos que transformam a procura em oferta, com ganho de

    margens de lucro.

    Jean Batiste Say

    (1816)

    O empreendedor o agente que une todos os meios de produo e encontra, nos valores do produto,

    o reembolso total do capital empregue, o valor dos ordenados, o juro, as rendas, bem como os outros

    lucros que lhe pertencem.

    Alfred Marshall

    (1879)

    O empreendedor algum que se aventura e assume riscos, que rene capital e o trabalho requerido

    para o negcio e supervisiona os seus mnimos detalhes, caracterizando-se pela convivncia com o

    risco, a inovao e a gesto do negcio.

    Frank Knight

    (1921)

    Os empreendedores tentam prever e agir em mercados em constante mudana. Knight enfatiza a

    responsabilidade do empreendedor para suportar a incerteza da dinmica dos mercados. Aos

    empreendedores exigido que executem tarefas fundamentais de gesto, como a direo e o

    controlo.

    Joseph

    Schumpeter

    (1934)

    O empreendedor o inovador que implementa a mudana nos mercados atravs da criao de novas

    combinaes. Estas novas combinaes podem assumir vrias formas:

    1. A introduo de um novo produto ou incremento na sua qualidade; 2. A introduo de um novo mtodo de produo; 3. A abertura de um novo mercado; 4. A conquista de uma nova fonte de prestao de servios ou produtos; 5. A criao de uma nova organizao industrial. Schumpeter comparou o

    empreendedorismo com o conceito de inovao aplicado a um contexto empresarial.

    Como tal, o empreendedor afasta o mercado do seu equilbrio. A definio de Schumpeter tambm

    enfatizou a combinao de recursos. Este autor no considera os gestores de negcio j estabelecidos

    como empreendedores.

    Penrose

    (1963)

    Actividade empreendedora envolve identificao de oportunidades dentro do sistema econmico.

    O autor faz a distino entre capacidade de gesto e capacidade empreendedora.

    Harvey

    Leibenstein

    (1968)

    O empreendedor preenche as deficincias de mercado introduzindo actividades complementares.

    Empreendedorismo envolve actividades necessrias para criar ou manter uma empresa onde os

    mercados no esto claramente definidos e no qual no se conhece completamente partes pertinentes

    da funo de produo.

    Israel Kirzner

    (1979)

    O empreendedor reconhece e age nas oportunidades de mercado. O Empreendedor

    essencialmente um rbitro. Em contraste com o ponto de vista de Schumpeter, o empreendedor

    orienta o mercado para o equilbrio.

    Rothwell and

    Zegveld

    (1982)

    Empreendedorismo organizacional est relacionado com a criao de um novo negcio dentro das

    grandes corporaes. Um fenmeno que aumenta em importncia junto das grandes concentraes

    industriais e, particularmente, nas indstrias de investigao intensivas.

    Peter Drucker

    (1985)

    Empreendedorismo de criao. Criado de uma nova organizao, substituindo a atitude de

    subsistncia para adoptar uma atitude pr activa e autnoma de obter lucros. Empreender diz respeito

    a todas as actividades dos seres humanos. Os empreendedores inovam. A inovao o instrumento

    especfico do esprito empreendedor. o acto que contempla os recursos com a nova capacidade de

    criar riqueza. A inovao, de facto, cria valor. No existe algo de designado de recurso at que o

    homem encontre um uso para alguma coisa na natureza e, assim, o dote de valor econmico.

    Gartner

    (1988, 1990)

    A criao de organizaes distingue o empreendedorismo de outras disciplinas. Empreendedorismo

    a criao de organizaes. Empreendedorismo termina quando o estdio de criao da organizao

    acaba. A essncia do empreendedorismo reside no empreendedor, na inovao, na inovao

    organizativa, na criao de valor, no lucro, no crescimento, na singularidade e no dono-gestor.

    Stewart

    (1991)

    O empreendedorismo pode ser definido como o processo de criao de riqueza atravs de

    inovao.

    Andersson

    (2000)

    As qualidades do empreendedor so: capacidade de ver novas combinaes; vontade de agir e

    desenvolver estas combinaes; a viso de que interessa mais perspetiva pessoal de que os clculos

    racionais; a capacidade de convencer os outros.

    Diochon

    (2003)

    Empreendedorismo um conceito multifacetado e que evoluiu para incluir: o empregado por conta

    prpria, pequeno negcio, criao de novos empreendimentos a partir do nada, novos

    empreendimentos dentro de organizaes, gesto empreendedora (auto-conhecimento e capacidade

    de liderana), empreendedorismo social (no lucrativo), entre outros.

    Bygrave

    (2004)

    Um empreendedor um indivduo que v numa oportunidade a possibilidade de criar um

    negcio. Esse processo empreendedor envolve actividades e as aces associadas s percepes da

    oportunidade e criao do negcio.

    Beugelsdijk

    (2005) O empreendedor distingue-se da restante populao pela sua caracterstica individualista.

    Fonte: Rosrio (2007)

  • 8

    Timmons, Smollen e Dingee (1985), citados por Chwee-Huat (1987), defendem que

    o indivduo, o meio envolvente e a oportunidade so os elementos fundamentais que

    compem o empreendedorismo.

    De acordo com Bygrave e Hofer (1991) e Bygrave (1993), todas as atividades

    relacionadas com a deteo de oportunidades e criao de empreendimentos capazes de

    concretizar estas oportunidades compem o empreendedorismo. Este processo assume-

    se como dinmico, abarcando variveis antecedentes, que compreende a

    descontinuidade e que tem incio num ato de vontade humana.

    O empreendedorismo depende, ainda, da relao entre a existncia de oportunidades

    entendidas como lucrativas e a presena de indivduos empreendedores. Consiste na

    avaliao de fontes de oportunidades e na relao dos indivduos com o processo da

    descoberta, apreciao e explorao (Venkataraman, 1997).

    De acordo com Virtanen (1997) este fenmeno apresenta-se como um processo

    dinmico, cujo principal objetivo o de criar valor no mercado, pela explorao de

    inovaes econmicas, sendo o empreendedor algum que contribui para o alavancar do

    seu negcio criando valor e explorando processos inovadores.

    Barreto (1998) entende o fenmeno do empreendedorismo como a habilidade de

    criar e construir algo a partir de pouco. Segundo este autor, empreender relaciona-se por

    um lado com a criatividade e por outro, com a deteco e aplicao de competncias de

    forma produtiva.

    Este fenmeno depende tambm da vontade e aptido dos indivduos de forma

    singular ou em conjunto, dentro ou fora das organizaes existentes, detectarem e

  • 9

    explorarem novas oportunidades econmicas, desenvolvendo as suas ideias e

    difundindo-as no mercado (Wennekers e Thurik, 1999).

    Segundo Hirish (2000), o empreendedorismo assume-se como um fenmeno

    econmico que composto por indivduos, empresas e envolvente, dependendo o

    sucesso da conjugao destes trs elementos. O elemento empresa congrega a

    orientao estratgica, a atitude competitiva, o nvel de tecnologia disponvel e o

    recurso a redes de informao. Por seu turno, a envolvente capaz de exercer influncia

    em aspectos como a turbulncia, a complexidade, a adversidade e a liberalidade.

    Ainda de acordo com este autor, o sucesso de um empreendimento pode ser

    avaliado tendo em conta os resultados alcanados pelo crescimento das vendas, nas

    tendncias de emprego e na satisfao gerada. A satisfao pode assumir duas formas, a

    forma de sucesso econmico e a forma de satisfao do prprio empreendedor.

    Mais recentemente, a ideia defendida por vrios economistas a de que o

    empreendedorismo desempenha um papel fulcral na criao de novos empregos, na

    divulgao de novas tecnologias e na competitividade internacional. Servindo, assim, o

    empreendedorismo para estabelecer uma unio entre sistemas tecnolgicos, bem como

    para a explorao de oportunidades existentes no mercado. (Grebel, Pyka e Hanush,

    2003)

    Outros autores afirmam que, actualmente, o empreendedorismo uma forma

    importante de insero do indivduo no ambiente socioeconmico (Carland e Carland,

    1988), bem como um processo de criar algo de novo e de assumir riscos e recompensas

    (Hisrich, Peters e Shepard, 2005).

    Contributo, tambm, relevante o de Andrestsch e Keilbach (2004), que defendem

    que a definio de empreendedorismo implica ter em conta dois critrios, sendo que o

  • 10

    primeiro se traduz no estado do conhecimento e na capacidade dos indivduos

    reconhecerem as oportunidades econmicas existentes, e o segundo traduz-se no

    comportamento econmico e na criao da nova empresa, e na maneira de agregar valor

    econmico ao conhecimento.

    possvel encontrar, ainda, uma definio mais sucinta do conceito de

    empreendedorismo, como sendo qualquer tentativa de criao de um novo negcio ou

    nova iniciativa, tal como emprego prprio, uma nova organizao empresarial ou a

    expanso de um negcio existente, por parte de um indivduo, de uma equipa de

    indivduos, ou de negcios estabelecidos. Esta a definio avanada pelo estudo

    Global Entrepreneurship Monitor (GEM Aores, 2010).

    Aps a exposio de vrias definies do conceito de empreendedorismo possvel

    delinear alguns aspectos fundamentais deste conceito, sendo eles os seguintes:

    1. A deteo e explorao de oportunidades existentes no mercado;

    2. O conceito de risco associado explorao de oportunidades existentes no

    mercado;

    3. A importncia da influncia exercida pelos elementos do contexto envolvente

    tanto ao nvel social como econmico;

    4. O conceito de inovao que lhe est associado e o consequente contributo para

    o desenvolvimento e progresso econmico;

    5. O conhecimento e capacidades dos indivduos como factor chave para o

    desenvolvimento deste processo.

  • 11

    2.1.2. Definies de Empreendedor

    Demonstra-se tambm relevante efectuar a uma breve abordagem ao conceito de

    empreendedor que, apesar de estar implcito nas vrias definies de

    empreendedorismo, anteriormente avanadas, no foi tratado de forma manifesta.

    No entender de autores como Ageev et al (1995) e Shulus (1996), citados por

    Kalantaridis (2004), o empreendedor visto como algum economicamente relevante.

    entendido como um indivduo responsvel pela criao de um nmero relativo de postos

    de trabalho e pela criao de uma elite de negcios. A esta viso, Kalantaridis (2004)

    acrescenta a sua perspectiva do empreendedor, como sendo o agente econmico que

    rene factores de produo, que contratualiza e estabelece relaes com outros

    empreendedores e com outros agentes econmicos, tendo a capacidade de criar uma

    rede de produo e distribuio de bens e produtos.

    O empreendedor tambm entendido como algum que capaz de reconhecer e

    desenvolver uma oportunidade para comear um negcio, onde outros indivduos nunca

    a reconhecero. Para alm disso, algum que consegue avanar e efectivamente

    concretizar o seu negcio. Esta definio de empreendedor avanada por Mariotti e

    Glackin (2010).

    Murray (1938) e Timons (1994) definem o empreendedor com base na sua mente.

    Designam o empreendedor como sendo um indivduo perseverante, com forte sentido

    de responsabilidade, que trabalha para se destacar e alcanar os objectivos, procurando

    aproveitar as oportunidades existentes, para se poder ir aperfeioando. Apresenta-se

    como sendo um optimista que procura tirar ilaes positivas das situaes com que se

    depara, que tenta aprender com os erros e que privilegia a eficcia, acreditando sempre

  • 12

    que as suas aces podem contribuir para o alcance do sucesso do seu empreendimento

    e da sua vida pessoal (Virtanen, 1997).

    De acordo com Luczkiw (1997), o empreendedor um elemento potenciador de

    mudana no meio envolvente, que detm capacidades para criar e desenvolver o que no

    foi ainda criado, colmatando as necessidades da sociedade, atravs da utilizao de

    modelos por si desenvolvidos.

    De acordo com Casson (1990) e Pickle e Abrahamson (1990), citados por Virtanen

    (1997), pode-se afirmar que os indivduos empreendedores gerem negcios assumindo

    riscos, com o intuito de obter lucro. Quanto capacidade de assumir riscos, Knight,

    citado por Casson (1990), distingue aquilo que se entende por risco calculado de

    incerteza referindo, tambm, que os empreendedores so indivduos que no se

    importam de incorrer em riscos calculados, mesmo que sozinhos, porque sabem que os

    lucros que iro obter sero compensatrios dos custos psicolgicos que implica a

    assumpo do risco.

    Na opinio de Praag (1999), os empreendedores so, ainda, quem promove a

    sustentabilidade do desenvolvimento econmico, pela introduo e implementao de

    novas ideias, que incluem a inovao de produtos, processos, mtodos e inovao das

    organizaes.

    Uma questo pertinente acerca do empreendedor colocada por Casson (1990). Este

    autor questiona se um gestor contratado poder ser considerado um empreendedor, uma

    vez que tambm lhe so delegadas algumas tarefas de responsabilidade e decises

    estratgicas para as empresas onde desempenham funes. Tal questo remete-nos para

    a perspectiva de Gartner (1989) que defende a existncia de diferentes tipos de

  • 13

    emprendedorismo, em funo de existncia de diferentes empreendedores que

    apresentam diferentes caractersticas e traos de personalidade.

    Esta perspectiva vem ao encontro da ideia defendida por Wennekers e Thurik

    (1999), que se baseia na dupla do antagonismo do autoemprego versus emprego e

    empreendedorismo versus gesto, para poder distinguir trs tipologias possveis de

    empreendedores. A Figura 2 seguinte, esquematiza o processo de raciocnio destes

    autores.

    Figura 2. Trs Tipos de Empreendedores.

    Auto emprego Emprego

    Empreendedorismo (1) Empreendedor

    Schumpeteriano

    (2) Gestores

    empreendedores

    Gesto (3) Gestor dono de

    negcio Gestor executivo

    Fonte: Wennekers e Thurik, (1999)

    Da lgica de pensamento dos autores mencionados podemos, ento, definir os trs

    tipos de empreendedores, para os quais, de seguida, se formula uma interpretao

    individualizada:

    1. Empreendedor shumpeteriano: so os indivduos que, geralmente se

    encontram em empresas de pequena dimenso e que detm e gerem pequenos

    negcios inovadores, destruindo de forma criativa as estruturas existentes no

    mercado. Tendencialmente, aps terem alcanado os objectivos pretendidos,

    estes indivduos tendem a criar novos negcios ou novas empresas.

    2. Gestores empreendedores: estes indivduos so entendidos como verdadeiros

    empreendedores, uma vez que nas suas tarefas esto implcitas a assuno de

  • 14

    iniciativas comerciais, o risco associado ao tempo dispendido sua reputao e

    ao seu trabalho. Contribuem para transformar negcios empreendedores em

    grandes empresas. Pode-se dizer que este tipo de empreendedor pode ser

    entendido como um potencial empreendedor shumpeteriano, uma vez que no seu

    percurso pessoal, muitas vezes tendem a criar as suas prprias empresas.

    3. Gestores donos de negcios: este tipo de empreendedor caracteriza-se por se

    encontrar na maioria das pequenas empresas, ocupando apenas a funo de ser

    responsvel pelo estabelecimento e por outras pessoas que ocupam cargos

    profissionais na empresa que por ele detida. Apesar de desempenharem

    funes teis nas organizaes como a coordenao da produo e da

    distribuio, no podem ser entendidos como motores de inovao e destruio

    criativa, tal como os empreendedores schumpeterianos.

    Em sntese podemos utilizar a definio avanada por Carland et al. (1984), onde o

    empreendedor entendido como sendo um indivduo que cria e gere um negcio,

    atravs da aplicao de estratgias de gesto que visem o alcance do lucro e do

    crescimento da empresa. Este um indivduo que se caracteriza por um comportamento

    inovador, diferenciando-se do dono de um pequeno negcio que se apresenta como um

    indivduo que gere o seu negcio, tendo os seus objectivos pessoais como propsito

    principal da empresa.

    De acordo com as diversas abordagens expostas possvel traar uma

    caracterizao sumria do conceito de empreendedor. Assim o empreendedor pode ser

    entendido como:

  • 15

    1. Um individuo que com sentido de responsabilidade, que otimista e que

    privilegia a eficcia para alcanar o sucesso, no se importando de, para tal,

    correr riscos calculados;

    2. Algum com capacidade de reconhecer e desenvolver uma oportunidade e de a

    transformar num negcio, criando e desenvolvendo novos produtos e servios

    que ainda no foram explorados por outros indivduos;

    3. Um agente econmico com capacidade de reunir fatores de produo e

    estabelecer relaes com outros agentes econmicos, potenciando o seu negcio

    e promovendo a sustentabilidade do desenvolvimento econmico.

    4. Um elemento potenciador de mudana no seu meio envolvente, uma vez que se

    apresenta como algum economicamente relevante e com capacidade de criao

    de empregos.

    2.2. Importncia do Empreendedorismo Para o Desempenho Econmico

    Ao longo deste captulo, dedicado reviso da literatura alusiva temtica do

    empreendedorismo foi elaborado um enquadramento terico acerca da definio do

    conceito de empreendedorismo e do indivduo empreendedor. No entanto, no basta

    saber definir estes conceitos, mas tambm perceber qual o impacto que os mesmo tm

    no desenvolvimento das sociedades.

    Deste modo, este ponto do presente captulo pretende abordar as perspetivas de

    vrios autores acerca do impacto da actividade empreendedora para o desenvolvimento

    econmico das regies.

  • 16

    2.2.1. A Relao Entre o Empreendedorismo e o Crescimento Econmico

    Os empreendedores so frequentemente entendidos como responsveis pelo

    desenvolvimento econmico dos contextos onde se inserem, quer pela implementao

    de ideias inovadoras, quer pela introduo de produtos e processos inovadores,

    explorao de novos mercados e adopo de inovaes organizacionais. Desta aco

    dos empreendedores emerge a satisfao das necessidades de novos consumidores que,

    por consequncia, leva criao de novas empresas. Por sua vez as novas empresas

    criadas geram crescimento econmico que acarreta uma maior oferta de empregos para

    a populao, estimulando desta forma o mercado de trabalho e o mercado de produtos

    (Van Praag, 1999).

    De acordo com Caree e Thurik (2002), possvel verificar que so vrias as

    consequncias do empreendedorismo face ao fenmeno do desempenho econmico. No

    entanto, os estudos acerca desta temtica cingem-se, na maioria dos casos, a abordar o

    impacto do empreendedorismo ao nvel das organizaes e das regies.

    Na sua grande maioria os estudos existentes acerca desta temtica apresentam um

    cariz terico, sendo escassos aqueles que apresentam resultados do ponto de vista

    emprico. Tal facto leva a que se crie a dificuldade em encontrar formas eficazes de

    medir e quantificar o impacto do empreendedorismo face realidade do

    desenvolvimento econmico (Salgado-Banda, 2005).

    Em relao ligao existente entre o empreendedorismo e o crescimento

    econmico, podemos verificar, a partir de um estudo realizado nos Estados Unidos da

    Amrica, por Reynolds e Maki (1990), que face existncia de elevadas taxas de

    criao de empresas se verifica um consequente aumento do crescimento econmico.

  • 17

    A concluso semelhante chegam autores como Arzeni e Pellegrin (1997) e Tang e

    Koveos (2004), que verificam, nos seus estudos, que existe uma relao estatstica

    relevante entre o fenmeno da criao de novas empresas e o crescimento do Produto

    Interno Bruto (PIB).

    Associado a esta situao apresentam-se os resultados de outros estudos efectuados,

    que revelam que a criao de novas empresas impulsiona entre um quarto e um tero do

    crescimento dos pases industrializados (Carter et al., 2003).

    Viso contrria a de autores como Audretsch e Fritsch (2002) e Van Stel et al

    (2005). luz da viso destes autores verifica-se que no existe uma relao directa e

    clara entre empreendedorismo e crescimento econmico, pois esta relao no

    semelhante em todos os pases e varia de acordo com o rendimento per capita do pas

    em causa.

    No entender de Wennekers et al (2005), a relao entre o empreendedorismo e o

    desenvolvimento econmico desenvolve-se nos contornos seguintes: em pases que se

    apresentam como em vias de desenvolvimento, com nveis de PIB per capita mais

    baixos, os nveis de empreendedorismo assumem-se, manifestamente, como sendo mais

    elevados, com a existncia de actividades empreendedoras mais relacionadas com o

    sector agrcola. Por sua vez pases com PIB per capita mais elevados tendem a

    apresentar nveis de empreendedorismo mais reduzido, verificando uma actividade

    empreendedora mais direccionada para o sector organizacional.

    A viso apresentada por este autor vem ao encontro da situao verificada nos

    pases participantes do estudo Global Entrepreneurship Monitor para o ano de 2011.

    Pois, como possvel verificar na Figura 3, a tendncia verificada por este autor

    comprova-se na realidade atual.

  • 18

    Figura 3. Atividade Empreendedora em Estado Inicial e Nveis do PIB per capita.

    Fonte: Global Entrepreneurship Monitor 2011 Global Report

    Na Figura 3 bastante clara a ideia defendida, anteriormente, por Wennekers e

    Thurik (1999). Estes autores defendem que no existe uma ligao directa entre o

    empreendedorismo e o crescimento econmico, pelo facto de existir um nmero

    considervel de variveis intermdias que permitem explicar o modo como o

    empreendedorismo pode influenciar o desenvolvimento econmico. As variveis que

    podem ser consideradas so as seguintes: a inovao, a competio, os esforos e a

    energia dos empreendedores (Figura 4).

    Tambm Caree e Turik (2002) avanam cinco elementos passveis de influenciar o

    efeito do empreendedorismo no crescimento econmico, sendo eles os seguintes:

    1. A turbulncia referente ao fluxo de sadas e entradas de indstrias numa

    determinada regio;

    U nit ed St at es U S M xico M X Ireland IE

    R ussia R U A rgent ina A R F inland F I

    Sout h A f r ica Z A B raz il B R Lit huanie LT

    Greece GR C hile C L Lat via LV

    N et herlands N L C o lombie C O C roat ia HR

    B elg ium B E M alaysia M Y Slovenia SI

    F rance F R A ust ralia A U B osnia and Heregovina B A

    Spain ES Singapore SG C zech R epub lic C Z

    Hungary HU Thailand T H Slovakia SK

    R omania R O Japan JP Guat emala GT

    Swit zerland SW Korea Sout h KR Panema PA

    U nit ed Kingdom U K C hina C N V enezuela V E

    D enmark D K Turkey T R U ruguay U Y

    Sweden SE Pakist an PK Trinidad and To bago T T

    N orway N O Iran IR Jamaica JM

    Po land PL A lgeria D Z B ang lad esh B D

    Germany D E B arbados B B Taiwan T W

    Peru PE Port ugal PT U nit ed A rab Emirat es A E

  • 19

    2. A variao da dimenso e distribuio das empresas em cada regio e o seu

    respetivo desenvolvimento econmico;

    3. O efeito do nmero de indstrias existentes no mercado;

    4. Os resultados induzidos na economia por um nmero maior ou menor de

    empreendedores existentes;

    5. A relao existente entre a criao do prprio emprego e o progresso

    econmico.

    Figura 4. Variveis Intermdias e Ligaes que Explicam a Influncia do

    Empreendedorismo no Crescimento Econmico.

    Fonte: Wennekers e Turik (1999)

    Na perspetiva de Verheul et al (2001), os fatores de desenvolvimento tecnolgico e

    aumento da riqueza influenciam de forma conjunta os nveis de empreendedorismo de

    uma regio ou pas. Da interaco entre este dois factores verifica-se que, enquanto o

    crescimento da riqueza permite verificar um aumento e diferenciao da procura por

    novos bens e servios, o desenvolvimento tecnolgico garante uma resposta plena a essa

    procura. dos efeitos da oferta e da procura por este novos bens e servios que resulta

    uma aumento do empreendedorismo e consequente aumento da riqueza, constituindo-se,

    Condies

    (pessoais, culturais, institucionais)

    Empreendedorismo

    (multidimensional, diferentes nveis de

    anlise)

    Ligaes intermdias

    (pessoais, culturais, institucionais)

    Crescimento econmico

  • 20

    assim, um estmulo criao de novos negcios que possam preencher os nichos de

    mercado que vo surgindo. Na figura 5 possvel verificar, de forma sistematizada, de

    que forma se desenvolve este processo, que se apresenta de forma cclica, com base na

    criao de riqueza e consequente aumento do nvel de empreendedorismo.

    Figura 5. Contributo do Desenvolvimento Tecnolgico e do Aumento da Riqueza para o

    Desenvolvimento do Empreendedorismo.

    Fonte: Verheul et al (2001).

    No entanto, em estudos referenciados pelo mesmo autor (Kuznetz, 1996; Schultz,

    1990 e Bregger, 1996), verifica-se que aps perodos de desenvolvimento econmico

    segue-se a verificao do decrscimo das taxas de auto-emprego. Tal situao acontece

    porque os perodos de crescimento econmico so acompanhados de um aumento no

    nvel dos salrios e tambm de melhorias nos sistemas de segurana social, deste modo

    poucas pessoas esto dispostas a abdicar dos seus empregos seguros e bem remunerados

    para arriscarem a abrir o seu prprio negcio, para se auto empregarem.

  • 21

    Uma vez mais, esta situao encontra-se espelhada nos dados avanados pelo estudo

    Global Entrepreneurship Monitor para o ano de 2011. Ao observar a Figura 6, onde

    contm informao referente ao total da taxa de actividade empreendedora em estado

    inicial (TEA) 2011, por fases de desenvolvimento econmico, para os vrios pases que

    este estudo contempla, possvel verificar que, tendencialmente, os pases com nveis

    de desenvolvimento mais elevado e os pases com economias orientadas para a

    inovao, so os que apresentam menores taxas de actividade empreendedora em estado

    inicial, o que consequentemente faz com que apresentem menores taxas de auto

    emprego.

    Figura 6. Total da Taxa de Atividade Empreendedora em Estado Inicial (TEA) 2011,

    por Fases de Desenvolvimento Econmico, com Intervalos de Confiana de 95%.

    Fonte: Global Entrepreneurship Monitor 2011 Global Report

    luz de estudos recentes, sugere-se que o desenvolvimento econmico est, ento,

    positivamente relacionado com os nveis de actividade empreendedora numa

    determinada regio. Por sua vez tambm possvel de verificar que o capital

  • 22

    empreendedor, ou seja, a capacidade de criar empresas, assume-se com maior dimenso

    nas regies com um forte desenvolvimento econmico (Audretsch e Keilbach, 2004).

    2.3. Propenso ao Empreendedorismo

    No passado, alguns estudos no campo do empreendedorismo introduziram vrias

    perspectivas acerca da conceptualizao do empreendedorismo e, em particular, do

    empreendedor. Estes estudos demonstram diferentes perspectivas acerca dos factores

    que contribuem para a construo do empreendedor e que influenciam a actividade

    empreendedora. Deste modo, possvel verificar a existncia de diferentes correntes

    explicativas deste fenmeno, sendo elas:

    1. A psicologia, que se recorrem utilizao dos factores motivao e capacidade

    cognitiva dos indivduos;

    2. A sociologia e a antropologia, que explicam o grau de empreendedorismo dos

    indivduos pela relao dos mesmos com o contexto onde esto inseridos; e

    3. A economia que explica esta realidade como o resultado da atividade

    econmica existente (Kalantaridis, 2004).

    No obstante destas perpectivas, se assumirem mais estanques, possvel encontrar

    autores como Evans e Leighton (1989), De Wit e Van Winden (1991) e Van Praag

    (1996), referidos por Verheul et al (2001), que defendem que variveis como as

    caractersticas de personalidade, o nvel educacional, os activos financeiros, o passado

    familiar e a experincia profissional dos indivduos, devero ser consideradas para

    avaliar a propenso ao empreendedorismo.

    Aqui podemos encontrar uma posio que demonstra claramente que o fenmeno da

    propenso ao empreendedorismo no poder ser abordado numa perspectiva isolada,

  • 23

    mas sim dever ser analisado de acordo com as vrias perspectivas existentes, sejam

    elas de ordem psicolgica, sociolgica, antropolgica ou econmica. Importante reter

    que a actividade empreendedora e a propenso empreendedora apresentam-se como um

    fenmeno com influncias multidisciplinares, compostas por factores que esto ligados

    a vrias reas de interveno, sendo todos eles provveis de influenciar o nvel de

    empreendedorismo.

    No entender de Reynolds et al (2001) que desenvolvem um pouco mais a ideia

    defendida pelos autores anteriormente referidos, existem trs grupos de variveis que

    podem influenciar a propenso para o empreendedorismo por parte de um individuo,

    sendo estes os seguintes:

    1. Variveis sociodemogrficas como a idade e o sexo;

    2. Situao que os indivduos vivem no momento presente, as suas percepes,

    capacidades para iniciar um novo negcio, percepo das oportunidades

    existentes no mercado, medo de falhar, ligaes a outros indivduos

    empreendedores e perceo das perspetivas econmicas para a famlia e para a

    economia;

    3. Efeito do nvel educacional, da importncia do rendimento familiar sobre a

    actividade empreendedora e da actividade laboral habitual dos indivduos.

    De acordo os contributos aqui analisados, possvel estruturar os determinantes da

    vocao para se ser empreendedor em duas categorias, sendo estas as caractersticas

    psicolgicas associadas aos empreendedores e o contexto em que o empreendedor se

    encontra inserido. Sendo que, no que diz respeito ao contexto, podemos verificar que a

    este esto associadas caractersticas de carcter scio-demogrfico, ambiental e

  • 24

    formativo, que podero influenciar directa ou indirectamente a propenso ao

    empreendedorismo por parte dos indivduos.

    Assim, demonstra-se pertinente verificar de que modo estas caractersticas

    manifestam a sua influncia no desenvolvimento da actividade empreendedora, e que

    indicadores lhes esto associados.

    2.3.1. Caractersticas Psicolgicas Associadas aos Empreendedores

    O empreendedor o termo que designa a pessoa que inovadora (Schumpeter,

    1934), que pratica a inovao de um modo sistemtico, ou seja, que procura fontes de

    inovao e que atravs delas capaz de criar oportunidades de um modo continuado e

    sistemtico (Drucker, 1985).

    Outros autores como Pinchot (1989) e Filion (1999), segundo (Moreira e Silva,

    2008), referem que associadas figura do empreendedor esto tambm outras

    capacidades, nomeadamente:

    1. Capacidade de criar e de transformar os sonhos em realidade;

    2. Capacidade de desenvolver e concretizar vises a partir de um contexto de

    incerteza e de indefinio;

    3. Capacidade de aprender a partir da aco; e

    4. Capacidade de realizao de objectivos prprios.

    De acordo com tais associaes est a perspectiva de empreendedor apresentada por

    David et al (2001), que define o empreendedor como um ser criativo, capaz de

    transformar os sonhos em realidade, fazendo para isso uso de um conjunto de

    capacidades e competncias prprias que, quando no so detidas genuinamente pelo

    indivduo podem ser aprendidas e desenvolvidas de um modo consistente.

  • 25

    Deste conjunto de habilidades e competncias fazem parte: a criatividade, o

    entusiasmo, a motivao, a liderana, a responsabilidade, a capacidade de correr riscos,

    o comprometimento, a necessidade de estabelecer relaes pessoais, o pensamento

    difuso, a eficincia, o optimismo, a tenacidade, a atitude positiva perante o fracasso, a

    tolerncia ambiguidade e incerteza, a flexibilidade, a autoconfiana, o esprito de

    iniciativa, a viso de longo prazo, a cooperao, a inovao, a independncia e a procura

    constante de oportunidades (Kent, Sexton e Vesper, 1982; Sexton e Upton, 1987; Filion,

    1991; Carson, Cromie, McGowan e Hill, 1995; David et al, 2001; Hisrich et al., 2005 e

    Veciana, 2005).

    Pode-se, assim, verificar que quanto maior for a proximidade entre as caractersticas

    pessoais dos indivduos e as caractersticas entendidas como necessrias para se ser

    empreendedor, isto , quanto maior conciliao existir entre individuo-empreendedor,

    maior ser a propenso para o empreendedorismo e para alcanar o sucesso (Markman e

    Baron, 2003).

    2.3.2. A Influncia do Contexto

    O empreendedorismo no pode ser entendido como um fenmeno simples e

    unidimensional. , pelo contrrio, um fenmeno influenciado pela personalidade do

    indivduo e pelos seus comportamentos, da mesma forma que influenciado pelo

    contexto. a relao entre estes elementos que origina o desempenho das organizaes

    criadas (Trigo, 2002).

    Os empreendedores so influenciados pelo contexto onde se inserem (Kalantaridis,

    2004). Por seu turno, a dimenso contexto abarca um conjunto de variveis como o

    capital, as competncias e o conhecimento adquiridos pelos indivduos, as infra-

  • 26

    estruturas existentes, a dimenso, a natureza e a acessibilidade aos mercados e fontes de

    oferta, o papel das entidades governamentais e as polticas vigentes. Esta a posio

    defendida por Gartner (1985), referenciado por Kalantaridis (2004).

    Na Figura 7 possvel perceber como se processa a dinmica da influncia do

    contexto na atividade empreendedora, de acordo com Trigo (2002).

    Figura 7. Relao entre o Empreendedor, o Seu Comportamento e o Meio Envolvente

    Para a Obteno de Resultados.

    Fonte: Trigo (2002)

    Nos pontos que se seguem ser efetuado um levantamento do conjunto de vrias

    caractersticas existentes no contexto que influenciam de forma direta ou indireta a

    propenso para a atividade empreendedora. A saber caractersticas demogrficas,

    ambientais e de formao.

  • 27

    2.3.2.1.Caractersticas Sociodemogrficas

    De acordo com Verheul et al (2011), a estrutura etria de uma populao pode

    influenciar os nveis de empreendedorismo, uma vez que existem diferentes graus de

    disponibilidade para criar uma empresa de acordo com os diferentes escales etrios

    existentes.

    possvel verificar que o factor idade dos indivduos pode tambm influenciar

    outros factores que so determinantes da propenso empreendedora, como o caso da

    atitude face ao risco, a experincia profissional e, consequentemente, o capital humano.

    Viso contrria a apresentada pelo autor Blau (1987), citado por Cowling e Taylor

    (2001), que afirma que a idade dos indivduos no tem influncia na propenso para o

    empreendedorismo.

    Ainda no conjunto das caractersticas demogrficas, para alm do factor idade,

    podemos verificar que o factor gnero assume tambm importante relevncia. Na

    abordagem dos autores Verheul e Thurik (2011), defendida a ideia de que homens e

    mulheres actuam de forma diferente face ao empreendedorismo. Essencialmente, as

    principais diferenas reflectem-se no modo como procuram financiar os seus negcios,

    facto que decorrente de diferentes estilos de gesto existentes entre os gneros, o tipo

    de negcios escolhido e as experincias vividas como empreendedores. Outro aspecto

    referido por estes autores prende-se com as diferenas entre o gnero e a educao, pois

    verificam que os homens apresentam maior formao nas reas tecnolgicas e as

    mulheres nas reas econmicas, administrativas e comerciais.

    Uma das variveis que tambm mais concorre para a propenso empreendedora a

    famlia. De acordo com De (2001), a influncia desta varivel no processo de

  • 28

    empreendedorismo, levado a cabo por um indivduo, poder ser enaltecida pelos valores

    em vigor na sociedade onde se insere este mesmo indivduo.

    As oportunidades para desenvolver a actividade empreendedora podem tambm

    variar de acordo com os graus de diversidade que apresente uma determinada sociedade.

    Sociedades compostas por diferentes culturas esto mais propensas a que se

    desenvolvam um maior nmero de ideias. o caso das sociedades, maioritariamente,

    compostas por imigrantes e por jovens, que demonstram ter uma maior tendncia para o

    desenvolvimento da actividade empreendedora. Contudo, existem outros factores que

    podem exercer, influncia no capital empreendedor, nomeadamente as polticas

    pblicas, criadas pelo sector pblico para gerarem oportunidade de desenvolvimento de

    actividades empreendedoras (Audretsch e Keilbach, 2004).

    No entender dos Mueller e Thomas (2000), existe uma relao entre os traos

    psicolgicos dos indivduos, o seu comportamento, valores e atitude. Nesta relao

    notria a influncia da cultura nacional, dos valores e das crenas sobre os

    comportamentos e decises dos indivduos, incluindo a deciso de se tornarem

    empreendedores. A cultura entendida por estes autores como o factor que est na base

    dos sistemas de valores das sociedades que, por seu turno, influenciam o

    desenvolvimento dos traos de personalidade e o comportamento dos indivduos.

    Assim, os nveis de empreendedorismo das sociedades podem ser, tambm, o resultado

    das diferenas culturais dos valores e crenas existentes nestas sociedades.

    2.3.2.2.Caractersticas Ambientais

    Importante varivel a que se refere existncia de infra-estruturas institucionais.

    No entanto, no podemos referir a esta varivel de forma isolada, pois esta encontra-se

  • 29

    associada a outros factores como a existncia de estruturas legais, financeiras e polticas

    que, consequentemente, do origem a uma envolvente contextual, que por sua vez

    propicia oportunidades originadas pelos nveis de hostilidade, dinamismo ou

    complexidade existente numa sociedade. Tambm os nveis de desenvolvimento so

    despoletados, quer pelo desenvolvimento econmico de um pas, quer pelo ciclo de

    negcios existente, estando subjacentes a estes factores os recursos e as oportunidades

    de mercado (Noorderhaven et al., 2003).

    Neste nvel, a propenso para o empreendedorismo num pas influenciada por

    vrios factores: a criao de incentivos fiscais por parte do governo, a atribuio de

    subsdios, o sistema de educao e a legislao laboral (Verheul et al., 2001).

    Quando se refere a criao de novas empresas tambm essencial falar-se em

    financiamento, que se demonstra como um aspecto fulcral para a definio da

    propenso e dos nveis de empreendedorismo. O financiamento, de acordo com

    Reynolds et al. (2001), pode assumir-se de vrios tipos consoante o nvel de

    empreendedorismo em que se encontra a empresa a ser alvo de financiamento.

    Ainda na viso deste autor, outro aspecto apontado como relevante para a influncia

    do desenvolvimento do empreendedorismo o nvel de desenvolvimento econmico de

    um pas ou de uma regio. Este um aspecto que, por sua vez, recebe a influncia de

    factores como o ambiente poltico e o ambiente scio cultural.

    2.3.2.3.Caractersticas de Formao

    O nvel educacional dos indivduos um aspecto determinante na propenso para o

    empreendedorismo, pois, segundo Rees e Shah (1986) possvel verificar que

    indivduos com nveis de educao mais elevados tendem a ter um melhor desempenho,

  • 30

    acrescentando o facto de terem mais informaes sobre oportunidades existentes no

    mercado e de estarem melhor preparados para as poderem concretizar.

    De acordo com Verheul et al. (2001), as capacidades empreendedoras dos

    indivduos podem ser desenvolvidas nas universidades, sempre que estas ofeream

    cursos que versem o tema empreendedorismo e incorporem nos seus cursos disciplinas

    que possam focar este assunto.

    De forma sumria, possvel expor na Figura 8 quais os principais fatores que

    exercem influncia no processo de desenvolvimento da actividade empreendedora, de

    acordo com as perspectivas dos vrios autores aqui citados.

    Figura 8. Determinantes da Propenso Para o Empreendedorismo.

  • 31

    2.3.2.3.1. Ensino e Formao Para o Empreendedorismo

    A ideia de que o empreendedor apenas fruto do factor hereditariedade ou de que o

    empreendedorismo uma caracterstica inata de alguns indivduos, comea a ser

    abandonada no meio acadmico, ganhando lugar a corrente que defende que possvel

    aprender a ser empreendedor, atravs do recurso a polticas diferenciadas ao nvel do

    ensino (Rodrigues et al., 2007).

    De acordo com Rasheed (2000), citado por Rodrigues et al., (2007), o

    desenvolvimento do empreendedor demonstra ser importante para sustentar a vantagem

    competitiva numa economia que catalisada pela inovao. Assim, o papel da educao

    e formao de empreendedorismo, na identificao de dotao de potencial

    empreendedor nos jovens, tornou-se evidente para os estudantes, polticos e educadores.

    A preparao educacional para o empreendedorismo contribui, deste modo, para o

    aumento do nmero de empreendedores, atravs do desenvolvimento de uma percepo

    positiva acerca da necessidade e da praticabilidade do empreendedorismo e do

    desenvolvimento de competncias que facilitem o processo empreendedor.

    De acordo com o estudo realizado por Rodrigues et al. (2007), acerca da propenso

    para a criao da prpria empresa, junto de estudantes de ensino superior da

    Universidade da Beira Interior, foi possvel verificar que o fator educao foi

    considerado mais relevante para a propenso criao de empresas. A Figura 9

    apresenta o modelo conceptual depurado, constante nos resultados deste estudo.

  • 32

    Figura 9. Modelo Conceptual Depurado dos Fatores que Influenciam a Propenso

    Criao de Empresas.

    Fonte: Rodrigues et al (2007).

    Na perspetiva de Fayolle e Klandt (2006), o surgimento de programas de ensino e

    de formao em empreendedorismo vem responder ao aumento do interesse dos

    estudantes por uma carreira empreendedora (Brenner et al., 1991; Hart e Harrrison,

    1992; Fleming, 1994 e Kolvereid, 1996) e pelo aumento da preocupao das

    autoridades pblicas acerca da importncia do empreendedorismo como contributo para

    o desenvolvimento econmico (Hytti and Kuopusjrvi, 2004). Deste modo, a temtica

    da educao em empreendendedorismo passa a ser foco de interesse e de investigao,

    principalmente, a partir da dcada de 90 do passado sculo.

    A viso de Gibb (2002;2004), citado por Fayolle e Klandt (2006), acerca desta

    realidade a de que o crescente interesse pela temtica do empreendedorismo e pela

    educao em empreendedorismo est relacionado com as percepes provenientes do

    fenmeno da globalizao, que se caracteriza por um aumento no grau de complexidade

    do ambiente e pelo aumento de grau de incerteza nas sociedades. Assim, governos,

  • 33

    instituies, organizaes, empresas e os indivduos alteram a suas percepes acerca

    do mundo, e sentem necessidade de se preparar face complexidade e incerteza com

    que se deparam no novo mundo globalizado.

    Ainda de acordo com Gibb (2002;2004), existe a necessidade de se alterar o foco

    tradicionalista do ensino em empreendedorismo para um novo foco neste tipo de

    educao, nomeadamente, atravs da introduo de tcnicas que visem abordar

    temticas como a criao de novas empresas, a construo de planos de negcios, o

    crescimento econmico e a inovao, bem como um quadro conceptual que permita

    perceber de que forma os empreendedores vivem e aprendem.

    A principal premissa dos programas de aprendizagem do empreendedorismo a de

    que os indivduos no nascem empreendedores, mas sim vo-se tornando

    empreendedores pela sua experiencia, medida que vo crescendo e aprendendo,

    sofrendo a influncia dos seus professores, familiares, mentores e pelo exemplo de

    outros empreendedores. No entanto, o interesse pessoal pelo empreendedorismo no

    pode ser imposto aos indivduos, mas poder ser algo possvel de encorajar ou

    desencorajar. Deste modo, o empreendedorismo pode ser visto como um processo de

    aprendizagem continuada. Esta a viso apresentada por Teixeira (2009). Esta ideia

    possvel de se verificar na Figura 10 que a autora utiliza para espelhar o

    empreendedorismo como um processo de aprendizagem.

    A abordagem ao empreendedorismo, como algo que pode ser aprendido, remete

    para a temtica do empreendedorismo tecnolgico. Segundo Zahra e Hayton (2004),

    citados por Moreira e Silva (2008), o empreendedorismo tecnolgico consiste na criao

    de novas empresas por empresrios independentes e o desenvolvimento de projectos

    com base em descobertas tecnolgicas em empresas existentes. Este tipo de

  • 34

    empreendedorismo revela-se como gerador de novos empregos, contribuindo para o

    bem-estar das comunidades e gerando riqueza para os proprietrios dos

    empreendimentos (Bhid, 2000).

    Figura 10. Empreendedorismo como um Processo de Aprendizagem.

    Fonte: Adaptado de Wenneckers and Thurik (1999), em Portela (2008).

    De acordo com os autores Robinson e Haynes (1991), no s o empresrio dever

    ser empreendedor, como tambm todos os indivduos envolvidos na organizao. Para

    que tal acontea compete aos estabelecimentos de ensino a preparao dos indivduos

    que devero integrar esta sociedade empreendedora. Assim, o ensino do

    empreendedorismo demonstra-se como um importante contributo para as organizaes.

    A opo pela actividade empreendedora resulta de um processo que est em perfeita

    consonncia com as caractersticas do empreendedor (Carland e Carland, 1988). No

  • 35

    entanto, do desenvolvimento desta cultura empreendedora emana a necessidade de

    formao de discentes autnomos, criativos, capazes de liderar e detentores de uma

    viso alargada da sociedade.

    Tal perspectiva vem ao encontro de uma importante questo colocada por Fayolle e

    Klandt (2006): Como se aprende e se ensina o empreendedorismo? Esta ,

    provavelmente, a questo mais antiga na temtica da educao em empreendedorismo.

    Carland e Carland (1988) sugerem que tal dever ser feito atravs do

    desenvolvimento de programas de ensino e de aprendizagem que contemplem o

    desenvolvimento interpessoal e intrapessoal, em sintonia com a gerao de ideias,

    negociao, desenvolvimento estratgico, desenvolvimento de produtos, tomada de

    decises e resoluo de problemas (Moreira e Silva, 2008).

    Tal viso contrasta com o ensino segundo uma linha tradicional, baseado na

    memorizao, onde o discente moldado enquanto sujeito passivo que recebe e assimila

    conhecimento, cabendo aos docentes apenas expor e demonstrar esse mesmo

    conhecimento (David et al., 2001).

    Na perspetiva dos autores Solomon, Duffy e Tarabishy (2002), a corrente de ensino

    mais actual mais adequada s exigncias da prtica do empreendedorismo, onde o

    conhecimento elaborado e construdo em parceria entre o docente e o discente. Nesta

    perspectiva o docente entendido como um facilitador e indutor do processo de

    aprendizagem, sendo um estimulador e orientador da aprendizagem, cuja iniciativa

    principal compete ao discente, que tem como tarefas desenvolver habilidades

    comportamentais induzidas pela prpria formao existencial e psicolgica.

  • 36

    Referenciado por Moreira e Silva (2008), Bolzan (1998) refere as principais

    diferenas entre o ensino tradicional, enquanto reproduo de conhecimento, e o ensino

    moderno, centrado na produo de conhecimento (Figura 11).

    Figura 11. Diferenas entre o Ensino Tradicional e o Ensino Moderno

    Ensino Tradicional Ensino Moderno

    Transmisso do conhecimento enquanto produto

    acabado e inquestionvel;

    Transmisso do conhecimento a partir de razes histricas,

    sendo este provisrio e relativo;

    Valorizao do imobilismo e a disciplina intelectual

    visa a reproduo de palavras, textos e experincias;

    Valorizao da aco reflexiva e a disciplina vista

    enquanto capacidade de estudar, reflectir e sistematizar

    conhecimentos;

    Privilegia a memria e a repetio do conhecimento

    socialmente acumulado;

    Privilegia a interveno no conhecimento socialmente

    acumulado;

    Uso da sntese na transmisso das informaes; Estmulo da anlise, da capacidade de produzir dados,

    informaes, argumentos e ideias;

    Valoriza a preciso, a segurana e a certeza; Valoriza a aco, a reflexo crtica, a curiosidade, a

    inquietao e a incerteza;

    Premeia o pensamento convergente, a resposta nica e

    verdadeira e o sentimento de certeza;

    Valoriza o pensamento divergente e provoca incerteza e

    inquietao;

    Concebe cada disciplina como um espao prprio de

    domnio de contedo;

    Concebe o conhecimento de modo interdisciplinar e inter-

    relacionado;

    Valoriza a quantidade de informao transmitida; Valoriza a qualidade de informao transmitida;

    Concebe a pesquisa como uma actividade inicial onde

    os aspectos metodolgicos e instrumentais se

    sobrepem capacidade intelectual de trabalhar no

    contexto de incerteza;

    Concebe a pesquisa como uma actividade inerente ao ser

    humano e acessvel a qualquer um;

    Defende a incompatibilidade entre o ensino e a

    pesquisa; Entende a pesquisa enquanto instrumento do ensino;

    Requer um docente erudito, detentor dos contedos da

    matria a expor;

    Requer um docente inteligente e responsvel, capaz de

    estimular a dvida e orientar o estudo para a autonomia;

    O docente a principal fonte de informao; O docente o mediador entre o conhecimento, a cultura

    sistematizada e a condio de aprendizagem do discente.

    Fonte: Adaptado de Bolzan (1998), em Moreira e Silva (2008).

    De acordo com Dolabela (1998), o conhecimento deixa, assim de ser transmitido

    pelo docente, para passar a ser gerado pelos prprios discentes ao longo da construo

    da sua viso, ou seja na autoavaliao do comportamento individual, na construo dos

    mtodos de aprendizagem prprios, bem como no modo proactivo de agir, verificando-

    se uma inverso no fluxo do saber a que autores como Ulijn et al. (2003) denominam de

    dilema ensino/treino.

    Segundo Moreira e Silva (2008), no mbito do empreendedorismo tecnolgico e do

    ensino, existem diferentes linhas de pensamento terico que permitem distinguir cinco

  • 37

    linhas de investigao acerca desta temtica. De seguida se descrevem estas linhas de

    pensamento:

    1. Ao nvel do ensino universitrio - reala o impacto que a formao e o ensino

    tm sobre a economia, pesando os efeitos do empreendedorismo ao nvel da

    abertura da prpria empresa e dos salrios, bem como ao nvel da criao de

    postos de trabalho. Nesta linha de investigao destacam-se os estudos de

    alguns autores como Clark et al. (1984) e Upton, Sexton e Moore (1995). A

    destacar o estudo de Clark et al. (1984), que se debrua sobre os impactos do

    empreendedorismo ao nvel da economia local e nacional, chegando

    concluso que a maioria dos estudantes de empreendedorismo, ao ingressarem

    no curso, pensa no imediato, na abertura da sua prpria empresa, considerando

    que as ferramentas disponibilizadas no decorrer do curso so essenciais sua

    deciso. Neste caso um dos efeitos mais manifestos do ensino do

    empreendedorismo o crescimento do mercado, com consequncias ao nvel do

    aumento dos salrios e de postos de trabalho.

    2. Ao nvel da anlise dos instrumentos e metodologias pedaggicas utilizadas

    para o ensino de empreendedorismo nesta linha de pensamento, estudos

    como Sexton e Upton (1987) recorrem a instrumentos que permitem identificar

    as caractersticas da personalidade dos indivduos possveis de serem

    determinantes do empreendedorismo. Assim, estes autores defendem que as

    caractersticas psicolgicas dos indivduos so fortes determinantes das suas

    intenes empreendedoras.

    3. Ao nvel dos trabalhos sobre o estado da arte da educao em

    empreendedorismo esta linha abrange estudos que abordam as diferenas

    entre as linhas de ensino tradicionais, essencialmente as aplicadas ao ensino da

  • 38

    gesto, e as linhas de ensino requeridas pelo empreendedorismo. Destes estudos

    destacam-se os estudos de autores como Solomon et al. (2002).

    4. Ao nvel de estudos das experincias e prticas de formao em distintos

    nveis de ensino, em diferentes pases nesta linha de pensamento alguns

    autores, como o caso de Robinson e Hayes (1991) dedicaram-se anlise de

    diferentes programas de empreendedorismo praticados nas universidades

    americanas, de modo a identificarem a viabilidade dos resultados prticos dos

    programas em causa. Nestes estudos foram considerados indicadores como:

    nvel de ensino, nmero de alunos a frequentar os programas, pessoal afeto,

    bem como a natureza e o horrio dos cursos. Estes indicadores permitiram

    construir matrizes de correlao uteis na avaliao do sucesso ou insucesso de

    cada programa.

    5. Ao nvel da anlise das atitudes e das intenes empreendedoras dos

    estudantes face ao empreendedorismo e criao de empresas nesta linha

    de estudo saliente-se o estudo realizado por Santos e Lin (2007). Este estudo

    de carcter emprico com o intuito de medir a performance dos empreendedores

    da regio de Andaluzia, atravs da elaborao de um modelo conceptual,

    defende que as atitudes e intenes dos empreendedores so influenciadas por

    factores como o desejo de independncia, a motivao, o ambiente pessoal e o

    ambiente global.

    possvel verificar que as diferentes linhas de estudo, apesar de distintas entre si,

    trazem um contributo vlido, para percebermos quais as variveis e factores que

    condicionam, a partir do ensino, o desenvolvimento do empreendedorismo e as

    intenes empreendedoras dos indivduos. Esta temtica demonstra um ponto

  • 39

    importante para o estudo das condicionantes do desenvolvimento do empreendedorismo

    tecnolgico, aspecto indissocivel do ensino de empreendedorismo.

    O surgimento do emprendedorismo tecnolgico, nas disciplinas do ensino

    universitrio, surge como algo revolucionrio e inovador, na medida em que se

    apresenta como uma disciplina que utiliza metodologias de ensino do

    empreendedorismo em geral, mas envolvendo uma diversidade de meios e modos de

    aprendizagem, participantes e interaces (Moreira e Silva, 2008).

    O ensino desta tipologia de empreendedorismo implica, ento, uma quebra nos

    paradigmas didcticos, com implicaes necessrias nas tcnicas e nos mtodos

    utilizados (Dolabela, 1998). Associado a esta quebra de paradigma surge a metodologia

    assente em estudos de caso, estudos de biografias de empreendedores de sucesso,

    seminrios, simulaes e jogos interativos (David et al., 2001; Ulijn et al.,2003).

    Figura 12. Relao Treino e Envolvimento dos Empreendedores.

    Fonte: (Ulijn et al., 2003)

    A Figura 12 demonstra como podem ser treinados os potenciais empreendedores de

    acordo com os elementos utilizados nesta nova metodologia, podendo-se verificar o

  • 40

    grau de envolvimento dos estudantes na temtica do empreendedorismo, de acordo com

    as tcnicas de ensino utilizadas.

    De acordo com esta lgica de aco, no contexto de aula, voltado para o ensino de

    empreendedorismo de ndole tecnolgico privilegiam-se novos elementos como a

    atitude, o comportamento, a emoo, o sonho e a individualidade, em substituio do

    saber como um fim em si mesmo (Dolabela, 1998). Segundo Solomon et al., (2002),

    verifica-se que so os aspectos psicolgicos, sociais, histricos e econmicos que

    passam a moldar esta nova rea do saber.

    O objecto do ensino do empreendedorismo tecnolgico ento entendido como o

    desenvolvimento de caractersticas pessoais, essenciais ao empreendedor de sucesso,

    embora nem todos os indivduos possam ser inovadores ou empreendedores,

    dependendo tais capacidades de factores como a personalidade, a inteligncia, o clima

    ou a cultura (Sexton e Upton, 1987; Dolabela, 1998; Ulijin et al., 2003)

    Torna-se necessrio estimular as atitudes e intenes empreendedoras dos

    estudantes, dos investigadores e de outros agentes do contexto universitrio, pois, de

    acordo com Veciana (1988) e David et al., (2001), nas sociedades ditas do

    conhecimento as fontes mais promissoras de empresrios so os estudantes

    universitrios, entendidos como agentes centrais e activos do processo de aprendizagem.

    O empreendedorismo, nomeadamente o tecnolgico, tem-se revelado um importante

    plo de atraco de estudantes, que desde cedo demonstram interesse pelas actividades

    empreendedoras e que culminam vrias vezes com a criao da sua prpria empresa e

    de postos de trabalho. Demonstra-se, assim, que os cursos direccionados para a vertente

    do empreendedorismo afectam as atitudes e as intenes dos estudantes, validando-se a

    hiptese de que possvel formar empreendedores e no aceitar cegamente o facto de

  • 41

    que o empreendedor determinado priori, sendo detentor de caractersticas inatas

    (Moreira e Silva, 2008).

    Em Portugal, a educao empreendedora tem vindo a evoluir de forma positiva,

    pois, no ano letivo de 2004/2005 existiam 22 disciplinas de empreendedorismo em 17

    instituies de ensino superior, tendo este nmero aumentado para 21 instituies

    abrangendo 26 disciplinas no ano letivo 2005/2006. No entanto, o desenvolvimento de

    disciplinas de empreendedorismo em Portugal um fenmeno recente, tendo a maioria

    das disciplinas de empreendedorismo (63,2%) sido lecionadas pela primeira vez em

    2002 ou posteriormente. Comparando com os Estados Unidos da Amrica a maioria das

    disciplinas comearam a ser lecionadas em 1982, constituindo 20 anos de experincia

    com a qual Portugal poder sempre aprender (SEDES, 2007).

    2.4. Propenso ao Empreendedorismo dos Estudantes Universitrios

    De acordo com Kurato (2004), citado por Henrique e Cunha (2008), actualmente

    cerca de 5,6 milhes de jovens americanos com idades at aos 34 anos tentam iniciar o

    seu prprio negcio. Desses novos empreendedores, um tero so jovens de at 30 anos

    e mais de 80% dos que esto na faixa dos 18 aos 34 referem que pretendem abrir o seu

    negcio. De acordo com o estudo do estado da arte do ensino do empreendedorismo,

    realizado por Henrique e Cunha, estes nmeros devem-se ao crescente aumento do

    surgimento de disciplinas e de formaes especficas em empreendedorismo que surgem

    nas Universidades americanas.

    Na Unio Europeia existe um consenso de que a prosperidade do futuro depende da

    criao de negcios que estejam profundamente enraizados na economia local. A ttulo

    de exemplo, mostra Henrique e Cunha (2008) citando o autor Matlay (2005) que, no

    Reino Unido os responsveis pela poltica de desenvolvimento esto envoltos numa

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    verdadeira obsesso com o empreendedorismo e a educao e ensino de

    empreendedorismo, por julgarem ser a soluo mais pragmtica para um crescente

    aumento de desafios socioeconmicos e polticos. O autor referenciado reala, ainda,

    que o fascnio por esta temtica semelhante tambm noutros pases em

    desenvolvimento ou que passam por uma transio poltica e econmica. No entanto,

    para ser possvel concretizar o propsito de expandir o empreendedorismo nas naes

    necessrio aumentar o nmero de talentos empreendedores locais para que,

    efetivamente, se venham a desenvolver novos empreendimentos e, acima de tudo,

    necessrio qualific-los para que sejam capazes de criar actividades capazes de gerar

    inovao (Hytti e OGorman, 2004).

    possvel verificar que as instituies de ensino superior tm vindo a implantar,

    com o passar dos anos, o ensino do empreendedorismo nos seus planos curriculares a

    fim de se manterem em consonncia com o conjunto crescente de desafios

    socioeconmicos e polticos procedentes da atualidade. Tais desafios tm levado os

    jovens a recorrerem ao autoemprego lanando-se em empreendimentos independentes e

    procurando gerar organizaes compostas por indivduos com esprito empreendedor.

    Alguns estudos, mostram, ainda, que as experincias passadas e o trabalho em pequenas

    empresas ou em consultorias juniores auxiliam os jovens no processo de aprender a

    empreender. Destaca-se, ainda, o facto de estruturas como incubadoras de empresas

    serem consideradas essenciais para a implementao dos planos de negcios

    desenvolvidos pelos estudantes (Henrique e Cunha, 2008).

    Facto que, tambm, se nota que durante o prprio percurso universitrio, os

    estudantes tendem a apresentar um aumento na vontade de se tornarem empreendedores,

    como possvel verificar no estudo realizado, no Brasil, por Tatto et al. (2008).

  • 43

    A educao empreendedora reconhecida como sendo um factor crucial para os

    jovens perseguirem uma atitude empreendedora. Devido influncia da educao nas

    atitudes e aspiraes dos jovens fundamental compreender como estimul-los a

    tornarem-se potenciais empreendedores durante o seu percurso nas universidades

    (Wang e Wong, 2004).

    De acordo com o estudo realizado por Dorse e Walter (2011), junto de estudantes de

    ensino superior, na Alemanha, possvel verificar que a inteno empreendedora pode

    ser influenciada tanto por factores que se manifestam ao nvel do indivduo, estando

    relacionados com a personalidade dos indivduos, como por factores do contexto da

    regio onde se encontram inseridos os indivduos.

    De acordo com os resultados do estudo efetuado por estes autores possvel

    concluir que, junto dos estudantes abordados pelo estudo, o papel da famlia e dos

    amigos, como fonte de transmisso aquisio de conhecimento, experincia e know-

    how, exerce um impacto significativamente importante para definir a vocao

    empreendedora dos estudantes. Por sua vez, tambm a hiptese de que o contexto

    regional influencia de forma significativa a propenso empreendedora dos estudantes

    aceite, manifestando-se esta situao, principalmente, pela varivel intensidade e taxa

    de crescimento regional do investimento em investigao e desenvolvimento, pois,

    quanto mais elevada esta se apresentar, maior ser a propenso dos estudantes a

    tornarem-se empreendedores.

    Deste modo, as universidades desempenham um importante papel, apresentando-se

    como motores impulsionadores de inovao. De acordo com o estudo efetuado por

    Audretsch et al., (2011), possvel verificar que o desempenho das regies e as

    actividades das universidades so factores que contribuem para o desenvolvimento do

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    empreendedorismo. Sobretudo destaca o papel das universidades que produzem

    conhecimento capaz de suportar atividades de inovao associadas s empresas mais

    jovens e com actividades ligadas alta tecnologia. Este autor verifica que, nas regies

    onde se encontra um maior nmero de universidades, assiste-se tendncia de uma

    maior competitividade nas empresas e uma maior gerao de empresas. Este fenmeno

    decorrente da influncia do trabalho de investigao e do conhecimento gerado nas

    universidades e que , com frequncia, transposto para a actividade empresarial.

    Num estudo elaborado para analisar as percepes do desejo, da viabilidade e da

    inteno de criao de uma empresa, por parte de estudantes de ensino superior na

    regio da Beira Interior, em Portugal, e na regio de Extremadura, em Espanha,

    realizado por Casero, Mogolln e Raposo (2004), possvel verificar no s os factores

    que influenciam a atitude empreendedora dos estudantes, mas tambm qual a percepo

    que estes tm acerca do empreendedor e do processo de criao de empresas.

    Resultado desta investigao so as concluses que de seguida se apresentam:

    1. Revela-se que os estudantes tm uma percepo muito positiva acerca do desejo

    de criar uma empresa prpria, situao que se manifesta nas duas reg