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UNIVERSIDADE DOS AORES
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTO
DISSERTAO DE MESTRADO EM GESTO / MBA
PROPENSO EMPREENDEDORA DOS
ESTUDANTES DE ENSINO SUPERIOR NA REGIO
AUTNOMA DOS AORES
Nlia Cavaco Branco
Ponta Delgada, Outubro de 2012
UNIVERSIDADE DOS AORES
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTO
DISSERTAO DE MESTRADO EM GESTO / MBA
PROPENSO EMPREENDEDORA DOS
ESTUDANTES DE ENSINO SUPERIOR NA REGIO
AUTNOMA DOS AORES
Nlia Cavaco Branco
Orientador: Prof. Doutor Gualter Couto
Co-Orientador: Prof. Doutor Pedro Pimentel
Ponta Delgada, Outubro de 2012
ii
Resumo
O principal propsito do trabalho de investigao foi o de aferir o nvel da propenso
empreendedora dos estudantes de ensino superior da Regio Autnoma dos Aores, bem
como a perceo e a familiaridade que os mesmos tm com a temtica do
empreendedorismo. Um aspeto fundamental, tambm, contemplado neste trabalho foi a
aferio dos fatores que exercem influncia sobre o facto dos estudantes se tornarem ou
no empreendedores.
De um modo geral, os resultados obtidos neste estudo permitem concluir que os
estudantes de ensino superior da Regio Autnoma dos Aores apresentam um baixo
nvel de propenso empreendedora, bem como de familiaridade com o
empreendedorismo. Tal concluso vem ao encontro do baixo nvel de empreendedorismo
j verificado em estudos, anteriormente, realizados para aferir a realidade da atividade
empreendedora nesta regio. No que toca aos fatores que influenciam a propenso
empreendedora dos estudantes o estudo mostra que os fatores gnero, idade, estatuto de
estudante e existncia de familiares empresrios so aqueles que exercem uma relao
positiva sobre a escolha dos estudantes se tornarem empreendedores.
Palavras-chave: Empreendedorismo, Empreendedor, Propenso Empreendedora.
iii
Abstract
The main purpose of the research work was to measure the level of entrepreneurial
propensity of students to higher education in the Autonomous Region of the Azores, as
well as the perception and familiarity that they have with the subject of entrepreneurship.
A fundamental aspect also included in this work was the measurement of the factors that
influence that students become entrepreneurs or not.
In general, the results of this study show that students of higher education in the
Autonomous Region of the Azores have a low level of entrepreneurial propensity, as well
as familiarity with entrepreneurship. This conclusion is in line with the low level of
entrepreneurship already observed in studies previously undertaken to verify the reality of
entrepreneurial activity in this region. As regards the factors influencing entrepreneurial
propensity of students the present study shows that the factors gender, age, student status
and existence of family businesses are those that exert a positive relationship on the
choice of students to become entrepreneurs
Keywords: Entrepreneurship, Entrepreneur, Propensity for Entrepreneurship.
iv
Agradecimentos
A concretizao deste trabalho de dissertao o culminar de um percurso de trs
anos de trabalho, dedicao e de aprendizagem. Tanto no decorrer da parte letiva, como
na parte do desenvolvimento da dissertao, tive a oportunidade de contar com o
estimvel apoio e colaborao de pessoas que deram o seu melhor contributo para o bom
resultado final deste projeto. Por isso aqui aproveito para tecer alguns agradecimentos a
todos aqueles que tiveram um papel relevante nesta minha caminhada.
Comeo por agradecer ao Professor Doutor Gualter Couto e ao Professor Doutor
Pedro Pimentel que me orientaram na realizao deste trabalho.
Um agradecimento especial ao Fbio Sousa, que com a sua sabedoria e empenho me
ajudou com o tratamento estatstico dos dados recolhidos deste trabalho.
Agradeo minha famlia pelo apoio e compreenso que me disponibilizou durante
este rduo desfio, em especial aos meus pais, que sempre me ensinaram a no desistir dos
desafios que se nos colocam no decorrer da nossa vida, por mais difceis que eles possam
parecer.
s minhas colegas e amigas Ins Cardoso, Maria Vitria Soares, Cristiana Camilo e
Catarina Machado, agradeo pelo companheirismo e amizade que me demonstraram.
Ao meu grande amigo e colega, Joo Crispim, com quem tive o enorme gosto de
trabalhar, durante os ltimos 4 anos, agradeo pela pacincia, compreenso e pela
amizade que me demonstrou, o que muitas vezes me ajudou a superar em alturas de
maior desnimo com que me deparei.
v
ndice
Resumoii
Abstract..iii
Agradecimentos..iv
1. Introduo....1
2. Reviso da Literatura ..5
2.1. Definio do Conceito de Empreendedorismo e de Empreendedor5
2.1.1. A Evoluo do Termo Empreendedorismo..6
2.1.2. Definies de Empreendedor.11
2.2. Importncia do Empreendedorismo Para o Desempenho Econmico...15
2.2.1. A Relao Entre o Empreendedorismo e o Crescimento Econmico....16
2.3. Propenso ao Empreendedorismo..22
2.3.1. Caractersticas Psicolgicas Associadas aos Empreendedores..24
2.3.2. A Influncia do Contexto...25
2.3.2.1. Caractersticas Sociodemogrficas.27
2.3.2.2. Caractersticas Ambientais.28
2.3.2.3. Caractersticas de Formao...29
2.3.2.3.1. Ensino e Formao Para o Empreendedorismo..31
2.4. Propenso ao Empreendedorismo dos Estudantes Universitrios.41
2.5. Condies de Desenvolvimento do Empreendedorismo - Perspetiva Nacional e
Regional59
3. Metodologia ..66
3.1. Metodologia e Recolha de Dados..66
vi
3.2. Caracterizao da Amostra71
4. Anlise dos Resultados..76
4.1. Perceo dos Estudantes Acerca do Empreendedorismo e do Empreendedor..76
4.2. Familiaridade dos estudantes com o empreendedorismo...85
4.3. Fatores influenciadores da deciso dos estudantes se tornarem empreendedores ou
trabalhadores por conta de outrem.91
4.4. Como Pode a Universidade Fomentar o Interesse dos Estudantes Pelo
Empreendedorismo..103
4.5. Determinantes da Propenso Empreendedora dos Estudantes....107
4.5.1. Anlise Geral ao Modelo.111
4.5.2. Anlise de Significncia das Variveis117
4.5.3. Anlise dos Resultados da Regresso..118
5. Concluses Finais.124
6. Referncia Bibliogrficas.129
7. Anexos..140
vii
ndice de Tabelas
Tabela 1. Determinantes da Propenso ao Empreendedorismo dos Estudantes Finalistas
da Universidade do Porto...54
Tabela 2. Determinantes da Propenso/ Intenso Empreendedora dos Estudantes de
Ensino Superior Portugueses.55
Tabela 3. Informao Sobre a Significncia Estatstica do Modelo....111
Tabela 4. Informao Sobre os Pseudo R-Quadrado...112
Tabela 5. Tabela de Valores de Classificao..114
Tabela 6. Percentagem Marginal das Categorias da Varivel Dependente.116
Tabela 7. Testes ao Rcio de Verosimilhana.117
Tabela 8. Tabela Cruzada entre as Idades e os Anos de Frequncia...121
viii
ndice de Figuras
Figura 1. Evoluo da Definio do Termo Empreendedorismo/Empreendedor7
Figura 2. Trs Tipos de Empreendedores..13
Figura 3. Atividade Empreendedora em Estado Inicial e Nveis do PIB per capita.18
Figura 4. Variveis Intermdias e Ligaes que Explicam a Influncia do
Empreendedorismo no Crescimento Econmico...19
Figura 5. Contributo do Desenvolvimento Tecnolgico e do Aumento da Riqueza Para o
Desenvolvimento do Empreendedorismo..20
Figura 6. Total da Taxa de Atividade Empreendedora em Estado Inicial (TEA) 2011, por
Fases de Desenvolvimento Econmico, com Intervalos de 95% de Confiana21
Figura 7. Relao Entre o Empreendedor, o seu Comportamento e o Meio Envolvente
para a Obteno de Resultados..26
Figura 8. Determinantes da Propenso Para o Empreendedorismo...30
Figura 9. Modelo Conceptual Depurado dos Fatores que Influenciam a Propenso
Criao de Empresas..32
Figura 10. Empreendedorismo Como um Processo de Aprendizagem.34
Figura 11. Diferenas Entre o Ensino Tradicional e o Ensino Moderno..36
Figura 12. Relao Treino e Envolvimento dos Empreendedores39
ix
Figura 13. Condies, Vantagens e Insuficincias dos Recm-licenciados/ps-graduados
no Lanamento de Iniciativas de Empreendedorismo Tecnolgico..47
Figura 14. Resultados do Estudo Inteno de Criao de Empresas..48
Figura 15. Gnero dos Empreendedores49
Figura 16. Habilitaes Literrias dos Empreendedores...50
Figura 17. Habilitaes Literrias dos Empreendedores, por Escalo Etrio....51
Figura 18. Situao Profissional Anterior dos Empreendedores...52
Figura 19. Anlise das Condies Estruturais para o Desenvolvimento do
Empreendedorismo, a Nvel Nacional e Regional.....62
Figura 20. Descrio das Variveis Dependentes e Independentes..69
Figura 21. Distribuio dos Inquiridos por Idade (%)...72
Figura 22. Distribuio dos Inquiridos por Gnero (%)72
Figura 23. Distribuio dos Inquiridos por Instituio de Ensino Superior (%)...73
Figura 24. Distribuio dos Inquiridos por Grau de Estudos (%)74
Figura 25. Distribuio dos Inquiridos por rea Cientfica (%)...74
Figura 26. Nvel de Concordncia dos Estudantes com Aspectos que Caracterizam o
Empreendedorismo (%).77
x
Figura 27. Nvel de Concordncia dos Estudantes com Aspectos que Caracterizam o
Empreendedor (%).78
Figura 28. Empresrios/ Gestores Reconhecidos como Empreendedores de Sucesso na
Regio Autnoma dos Aores, (%)...82
Figura 29. Autoavaliao dos Estudantes s suas Competncias Empreendedoras, Nvel
de Concordncia (%)..83
Figura 30. Estimativa dos Estudantes para o Volume de Capital Necessrio para Abrir um
Negcio (%)...85
Figura 31. Fontes de Familiaridade dos Estudantes com Aspetos Relacionados com o
Empreendedorismo, Nvel de concordncia (%)...86
Figura 32. Interesse dos Estudantes pelo Empreendedorismo, Durante o Percurso
Acadmico, Nvel de Interesse (%)...88
Figura 33. Propenso Empreendedora dos Estudantes de Ensino Superior na Regio
Autnoma dos Aores (%).90
Figura 34. Razes Para os Estudantes Preferirem Ser Trabalhadores por Conta de Outrem
a Serem Trabalhadores por Conta Prpria, Nvel de Concordncia (%)...92
Figura 35. Razes Para os Estudantes Preferirem Ser Trabalhadores por Conta de Outrem
a Serem Trabalhadores por Conta Prpria, Nvel de Concordncia (%)...95
Figura 36. Factores que Suscitam Receio aos Estudantes na Abertura de uma Empresa,
Nivel de Receio (%)...99
xi
Figura 37. Factores Considerados pelos Estudantes como Dificuldades na Abertura de
uma Empresa, Nvel de Concordncia (%)..100
Figura 38. Aspetos Considerados pelos Estudantes como fatores de sucesso de uma
Empresa, Nvel de Concordncia (%)..102
Figura 39. Aes que a Serem Desenvolvidas pela Universidade para Promover o
Empempreendedorismo Junto dos Estudantes, Nvel de Concordncia (%)...105
Figura 40. Fatores que Podero Influenciar a Propenso ao Empreendedorismo dos
Estudantes do Ensino Superior110
xii
ndice de Anexos
Anexo 1. Taxa de Atividade Empreendedora Early-Stage (TEA)..141
Anexo 2. Resultados do Modelo Logit Multinominal.142
Anexo 3. Inqurito Propenso Empreendedora dos Estudantes de Ensino Superior da
Regio Autnoma dos Aores.143
1
1. Introduo
A temtica do empreendedorismo tem sido, nos ltimos tempos, alvo de um variado
nmero de estudos acadmicos. Tal facto vem acompanhar a crescente importncia que
o fenmeno do empreendedorismo tem assumido, como fator potenciador de
desenvolvimento econmico e social dos pases e regies. De acordo com esta
perspetiva, o papel dos empreendedores na sociedade atual tem vindo, tambm, a ser
muito valorizado, sendo os mesmos entendidos como agentes de mudana e de
desenvolvimento dos contextos sociais onde se encontram inseridos.
Estudos efetuados, como o caso do Global Entrepreneurship Monitor, tm
demonstrado que associado ao empreendedorismo esto algumas vantagens para as
sociedades, como a criao de novas empresas, a criao de novos postos de trabalho, a
promoo da competitividade e o desenvolvimento de negcios inovadores.
No atual cenrio de crise econmica que se vive, de forma generalizada, nos pases
Europeus e, em particular em Portugal, o futuro do desenvolvimento da economia passa,
em grande parte, pelo aumento da atividade empreendedora, o que permitir construir
uma economia mais competitiva e, simultaneamente fazer decrescer as altas taxas de
desemprego que se tem verificado mais recentemente.
Contudo, no se pode exigir populao de uma sociedade que se torne,
automaticamente, altamente empreendedora, sem criar condies para promover o
espirito empreendedor e sem polticas e programas que apoiem um crescimento
sustentvel da atividade empreendedora.
Tem-se assistido, a nvel internacional, nacional e mesmo regional, a uma crescente
preocupao pela criao de programas e atividades que promovam o espirito e a
2
propenso empreendedora dos estudantes de ensino superior, de modo a que, no final do
seu percurso acadmico, estes sejam capazes de criar as suas empresas, permitindo que
os mesmos criem os seus prprios postos de trabalho e empresas produtoras de bens e
servios inovadores e com forte valor acrescentado para a sociedade.
Em Portugal, assiste-se cada vez mais a esta preocupao por parte das entidades de
ensino superior, em implementar aes e programas que promovam junto dos
estudantes o espirito empreendedor e mecanismos para dotar os estudantes de
capacidades e competncias empreendedoras. Para aferir os resultados destas iniciativas
e medir a sua adequabilidade, tm sido desenvolvidos alguns estudos, nomeadamente,
(Camilo (2005); Rosrio (2007); Teixeira (2009), que tm como principal intuito
verificar o nvel de propenso empreendedora dos estudantes de ensino superior a nvel
nacional.
Apesar de se ter vindo a desenvolver alguns estudos para abordar a temtica da
propenso empreendedora dos estudantes de ensino superior em Portugal, desconhece-
se a existncia de algum estudo efetuado que avalie a realidade da propenso
empreendedora dos estudantes de ensino superior da Regio Autnoma dos Aores.
Assim sendo, o presente trabalho de investigao pretende colmatar esta lacuna e
analisar esta realidade, de modo a aferir qual o comportamento dos estudantes de ensino
superior aorianos face ao empreendedorismo.
O principal propsito do presente trabalho de investigao o de aferir o nvel da
propenso empreendedora dos estudantes de ensino superior da Regio Autnoma dos
Aores. Pretende-se, tambm, aferir qual a percepo dos estudantes acerca do
emprendedorismo e do papel do empreendedor, perceber o grau de familiaridade dos
estudantes com o fenmeno do empreendedorismo e quais factores influenciadores da
3
deciso dos estudantes a tornarem-se empreendedores, bem como entender como pode a
universidade fomentar o interesse dos estudantes pelo empreendedorismo. Por ltimo,
este trabalho visa apurar qual o empreendedor regional de referncia para os estudantes
que so alvo desta investigao.
A partir dos resultados deste trabalho pretende-se identificar quais os factores que
funcionam como obstculos ou como potenciadores do desenvolvimento da prtica
empreendedora, junto dos estudantes de ensino superior, nos Aores. De acordo com
esta anlise ser possvel delinear um conjunto de indicadores que possam servir de
directrizes para as entidades de ensino superior da regio, bem como para as entidades
governamentais, no sentido destas poderem construir aces e polticas equilibradas de
promoo e de apoio actividade empreendedora, junto do pblico aqui considerado.
Para a elaborao deste trabalho de investigao, procedeu-se realizao de um
questionrio, que foi aplicado junto de alunos de licenciatura e mestrado dos vrios
plos da Universidade dos Aores e da Escolas Superiores de Enfermagem de Ponta
Delgada e Angra do Herosmo, durante o primeiro semestre do ano lectivo 2010/2011,
de forma a obter a informao necessria ao desenvolvimento do estudo.
Para cumprir os propsitos desejados construiu-se o presente trabalho que se
encontra composto por cinco pontos fundamentais que, para alm da presente
introduo, se apresentam de seguida:
2. Reviso da literatura contempla a exposio do estado da arte das
temticas do empreendedorismo e do empreendedor, da importncia do
fenmeno do empreendedorismo para o desenvolvimento e desempenho
econmico das regies, da temtica da propenso ao empreendedorismo e os
fatores que o determinam de um modo geral e, em particular, junto de
4
estudantes universitrios. Efetua-se, ainda, uma breve anlise s condies
de desenvolvimento do empreendedorismo em Portugal e, com especial
enfoque na Regio Autnoma dos Aores.
3. Metodologia - contm a explicao da metodologia e o modelo utilizado
para apurar os resultados do estudo.
4. Anlise dos resultados abarca uma anlise detalhada aos principais
resultados obtidos atravs da anlise estatstica das informaes recolhidas
no estudo, bem aos resultados obtidos pela aplicao do modelo adoptado na
investigao, para apurar a propenso empreendedora dos estudantes e os
factores que mais a influenciam.
5. Consideraes finais - contempla as principais concluses retiradas do
estudo desenvolvido e refere, tambm, algumas limitaes do mesmo, bem
como algumas sugestes para futuros trabalhos de investigao.
5
2. Reviso da Literatura
O presente captulo tem como principal propsito efectuar um enquadramento
terico acerca da problemtica do empreendedorismo. Para tal, aqui efectuada uma
abordagem evoluo da definio do conceito de empreendedorismo e, por inerncia,
tambm da definio de empreendedor.
Para alm de se efectuar uma relao da perspectiva de vrios autores, em relao a
esta temtica, demonstra-se igualmente relevante perceber as perspectivas de alguns
estudiosos acerca da importncia do empreendedorismo para a promoo da inovao e
para o desempenho econmico das regies.
Considerando o estado da arte do estudo da propenso ao empreendedorismo
pretende-se extrapolar, a partir dos trabalhos de diversos autores, quais os factores que
mais contribuem para influenciar a disposio de um indivduo para se tornar
empreendedor e, consequentemente, impulsionar a actividade empreendedora.
Tendo em conta que o presente estudo se debrua sobre a da temtica da propenso
emprendedora, junto de estudantes do ensino superior, torna-se imprescindvel aqui
delinear um enquadramento acerca do panorama da propenso ao empreendedorismo,
por parte dos estudantes de ensino superior a nvel nacional e internacional. Deste
modo, poder aferir-se quais os factores que mais contribuem para a propenso
empreendedora dos estudantes de ensino superior.
2.1. Definio do Conceito de Empreendedorismo e de Empreendedor
Ao abordar o fenmeno do empreendedorismo, possvel verificar que existe um
variado conjunto de publicaes e trabalhos de investigao acerca desta temtica. No
6
entanto, no obstante desta diversidade o investigador tambm se depara com a rdua
tarefa de destrinar e perceber a divergncia de vises que existem acerca do
empreendedorismo e, consequentemente, do conceito de empreendedor. Segundo a
perspectiva de alguns autores, esta situao faz com que a maior dificuldade do estudo
do empreendedorismo seja a de delinear as suas prprias fronteiras (Favareto, 2005 e
Rosrio, 2007).
Neste ponto apresenta-se uma breve anlise da evoluo do termo
empreendedorismo, de modo a perceber o sentido das definies e conotaes que lhes
so actualmente atribudas.
2.1.1. A Evoluo do Termo Empreendedorismo
Ao traar uma perspectiva histrica do conceito de empreendedorismo podemos
constatar que vrias so as abordagens que lhe esto associadas. De acordo com
Sarkar (2007), Cantillon, em 1730, ter sido o primeiro responsvel pelo surgimento do
conceito de empreendedorismo, de acordo com a conotao que o conceito representa
actualmente.
No obstante a este importante contributo para a construo do conceito de
empreendedorismo, muitos outros contributos foram sendo desenvolvidos, ao longo de
vrios anos, como possvel verificar na elencagem de definies e contributos
conforme se apresenta na Figura 1.
O empreendedorismo foi tambm entendido como sendo um processo gerador de
riqueza, resultado da assuno de riscos inerentes s obrigaes das carreiras dos
indivduos, do dispndio de tempo ou do valor acrescentado a alguns produtos ou
servios que so criados (Ronstad, 1984).
7
Figura 1. Evoluo da Definio do Termo Empreendedorismo/Empreendedor.
Autor Definio
Richard
Cantillon (1730)
O empreendedor uma pessoa empregada por conta prpria de qualquer tipo. Empreendedores
compram a um preo certo no presente e vendem a um preo incerto no futuro. Um empreendedor
uma pessoa que suporta a incerteza.
Adam Smith
(1776)
Empreendedores so agentes econmicos que transformam a procura em oferta, com ganho de
margens de lucro.
Jean Batiste Say
(1816)
O empreendedor o agente que une todos os meios de produo e encontra, nos valores do produto,
o reembolso total do capital empregue, o valor dos ordenados, o juro, as rendas, bem como os outros
lucros que lhe pertencem.
Alfred Marshall
(1879)
O empreendedor algum que se aventura e assume riscos, que rene capital e o trabalho requerido
para o negcio e supervisiona os seus mnimos detalhes, caracterizando-se pela convivncia com o
risco, a inovao e a gesto do negcio.
Frank Knight
(1921)
Os empreendedores tentam prever e agir em mercados em constante mudana. Knight enfatiza a
responsabilidade do empreendedor para suportar a incerteza da dinmica dos mercados. Aos
empreendedores exigido que executem tarefas fundamentais de gesto, como a direo e o
controlo.
Joseph
Schumpeter
(1934)
O empreendedor o inovador que implementa a mudana nos mercados atravs da criao de novas
combinaes. Estas novas combinaes podem assumir vrias formas:
1. A introduo de um novo produto ou incremento na sua qualidade; 2. A introduo de um novo mtodo de produo; 3. A abertura de um novo mercado; 4. A conquista de uma nova fonte de prestao de servios ou produtos; 5. A criao de uma nova organizao industrial. Schumpeter comparou o
empreendedorismo com o conceito de inovao aplicado a um contexto empresarial.
Como tal, o empreendedor afasta o mercado do seu equilbrio. A definio de Schumpeter tambm
enfatizou a combinao de recursos. Este autor no considera os gestores de negcio j estabelecidos
como empreendedores.
Penrose
(1963)
Actividade empreendedora envolve identificao de oportunidades dentro do sistema econmico.
O autor faz a distino entre capacidade de gesto e capacidade empreendedora.
Harvey
Leibenstein
(1968)
O empreendedor preenche as deficincias de mercado introduzindo actividades complementares.
Empreendedorismo envolve actividades necessrias para criar ou manter uma empresa onde os
mercados no esto claramente definidos e no qual no se conhece completamente partes pertinentes
da funo de produo.
Israel Kirzner
(1979)
O empreendedor reconhece e age nas oportunidades de mercado. O Empreendedor
essencialmente um rbitro. Em contraste com o ponto de vista de Schumpeter, o empreendedor
orienta o mercado para o equilbrio.
Rothwell and
Zegveld
(1982)
Empreendedorismo organizacional est relacionado com a criao de um novo negcio dentro das
grandes corporaes. Um fenmeno que aumenta em importncia junto das grandes concentraes
industriais e, particularmente, nas indstrias de investigao intensivas.
Peter Drucker
(1985)
Empreendedorismo de criao. Criado de uma nova organizao, substituindo a atitude de
subsistncia para adoptar uma atitude pr activa e autnoma de obter lucros. Empreender diz respeito
a todas as actividades dos seres humanos. Os empreendedores inovam. A inovao o instrumento
especfico do esprito empreendedor. o acto que contempla os recursos com a nova capacidade de
criar riqueza. A inovao, de facto, cria valor. No existe algo de designado de recurso at que o
homem encontre um uso para alguma coisa na natureza e, assim, o dote de valor econmico.
Gartner
(1988, 1990)
A criao de organizaes distingue o empreendedorismo de outras disciplinas. Empreendedorismo
a criao de organizaes. Empreendedorismo termina quando o estdio de criao da organizao
acaba. A essncia do empreendedorismo reside no empreendedor, na inovao, na inovao
organizativa, na criao de valor, no lucro, no crescimento, na singularidade e no dono-gestor.
Stewart
(1991)
O empreendedorismo pode ser definido como o processo de criao de riqueza atravs de
inovao.
Andersson
(2000)
As qualidades do empreendedor so: capacidade de ver novas combinaes; vontade de agir e
desenvolver estas combinaes; a viso de que interessa mais perspetiva pessoal de que os clculos
racionais; a capacidade de convencer os outros.
Diochon
(2003)
Empreendedorismo um conceito multifacetado e que evoluiu para incluir: o empregado por conta
prpria, pequeno negcio, criao de novos empreendimentos a partir do nada, novos
empreendimentos dentro de organizaes, gesto empreendedora (auto-conhecimento e capacidade
de liderana), empreendedorismo social (no lucrativo), entre outros.
Bygrave
(2004)
Um empreendedor um indivduo que v numa oportunidade a possibilidade de criar um
negcio. Esse processo empreendedor envolve actividades e as aces associadas s percepes da
oportunidade e criao do negcio.
Beugelsdijk
(2005) O empreendedor distingue-se da restante populao pela sua caracterstica individualista.
Fonte: Rosrio (2007)
8
Timmons, Smollen e Dingee (1985), citados por Chwee-Huat (1987), defendem que
o indivduo, o meio envolvente e a oportunidade so os elementos fundamentais que
compem o empreendedorismo.
De acordo com Bygrave e Hofer (1991) e Bygrave (1993), todas as atividades
relacionadas com a deteo de oportunidades e criao de empreendimentos capazes de
concretizar estas oportunidades compem o empreendedorismo. Este processo assume-
se como dinmico, abarcando variveis antecedentes, que compreende a
descontinuidade e que tem incio num ato de vontade humana.
O empreendedorismo depende, ainda, da relao entre a existncia de oportunidades
entendidas como lucrativas e a presena de indivduos empreendedores. Consiste na
avaliao de fontes de oportunidades e na relao dos indivduos com o processo da
descoberta, apreciao e explorao (Venkataraman, 1997).
De acordo com Virtanen (1997) este fenmeno apresenta-se como um processo
dinmico, cujo principal objetivo o de criar valor no mercado, pela explorao de
inovaes econmicas, sendo o empreendedor algum que contribui para o alavancar do
seu negcio criando valor e explorando processos inovadores.
Barreto (1998) entende o fenmeno do empreendedorismo como a habilidade de
criar e construir algo a partir de pouco. Segundo este autor, empreender relaciona-se por
um lado com a criatividade e por outro, com a deteco e aplicao de competncias de
forma produtiva.
Este fenmeno depende tambm da vontade e aptido dos indivduos de forma
singular ou em conjunto, dentro ou fora das organizaes existentes, detectarem e
9
explorarem novas oportunidades econmicas, desenvolvendo as suas ideias e
difundindo-as no mercado (Wennekers e Thurik, 1999).
Segundo Hirish (2000), o empreendedorismo assume-se como um fenmeno
econmico que composto por indivduos, empresas e envolvente, dependendo o
sucesso da conjugao destes trs elementos. O elemento empresa congrega a
orientao estratgica, a atitude competitiva, o nvel de tecnologia disponvel e o
recurso a redes de informao. Por seu turno, a envolvente capaz de exercer influncia
em aspectos como a turbulncia, a complexidade, a adversidade e a liberalidade.
Ainda de acordo com este autor, o sucesso de um empreendimento pode ser
avaliado tendo em conta os resultados alcanados pelo crescimento das vendas, nas
tendncias de emprego e na satisfao gerada. A satisfao pode assumir duas formas, a
forma de sucesso econmico e a forma de satisfao do prprio empreendedor.
Mais recentemente, a ideia defendida por vrios economistas a de que o
empreendedorismo desempenha um papel fulcral na criao de novos empregos, na
divulgao de novas tecnologias e na competitividade internacional. Servindo, assim, o
empreendedorismo para estabelecer uma unio entre sistemas tecnolgicos, bem como
para a explorao de oportunidades existentes no mercado. (Grebel, Pyka e Hanush,
2003)
Outros autores afirmam que, actualmente, o empreendedorismo uma forma
importante de insero do indivduo no ambiente socioeconmico (Carland e Carland,
1988), bem como um processo de criar algo de novo e de assumir riscos e recompensas
(Hisrich, Peters e Shepard, 2005).
Contributo, tambm, relevante o de Andrestsch e Keilbach (2004), que defendem
que a definio de empreendedorismo implica ter em conta dois critrios, sendo que o
10
primeiro se traduz no estado do conhecimento e na capacidade dos indivduos
reconhecerem as oportunidades econmicas existentes, e o segundo traduz-se no
comportamento econmico e na criao da nova empresa, e na maneira de agregar valor
econmico ao conhecimento.
possvel encontrar, ainda, uma definio mais sucinta do conceito de
empreendedorismo, como sendo qualquer tentativa de criao de um novo negcio ou
nova iniciativa, tal como emprego prprio, uma nova organizao empresarial ou a
expanso de um negcio existente, por parte de um indivduo, de uma equipa de
indivduos, ou de negcios estabelecidos. Esta a definio avanada pelo estudo
Global Entrepreneurship Monitor (GEM Aores, 2010).
Aps a exposio de vrias definies do conceito de empreendedorismo possvel
delinear alguns aspectos fundamentais deste conceito, sendo eles os seguintes:
1. A deteo e explorao de oportunidades existentes no mercado;
2. O conceito de risco associado explorao de oportunidades existentes no
mercado;
3. A importncia da influncia exercida pelos elementos do contexto envolvente
tanto ao nvel social como econmico;
4. O conceito de inovao que lhe est associado e o consequente contributo para
o desenvolvimento e progresso econmico;
5. O conhecimento e capacidades dos indivduos como factor chave para o
desenvolvimento deste processo.
11
2.1.2. Definies de Empreendedor
Demonstra-se tambm relevante efectuar a uma breve abordagem ao conceito de
empreendedor que, apesar de estar implcito nas vrias definies de
empreendedorismo, anteriormente avanadas, no foi tratado de forma manifesta.
No entender de autores como Ageev et al (1995) e Shulus (1996), citados por
Kalantaridis (2004), o empreendedor visto como algum economicamente relevante.
entendido como um indivduo responsvel pela criao de um nmero relativo de postos
de trabalho e pela criao de uma elite de negcios. A esta viso, Kalantaridis (2004)
acrescenta a sua perspectiva do empreendedor, como sendo o agente econmico que
rene factores de produo, que contratualiza e estabelece relaes com outros
empreendedores e com outros agentes econmicos, tendo a capacidade de criar uma
rede de produo e distribuio de bens e produtos.
O empreendedor tambm entendido como algum que capaz de reconhecer e
desenvolver uma oportunidade para comear um negcio, onde outros indivduos nunca
a reconhecero. Para alm disso, algum que consegue avanar e efectivamente
concretizar o seu negcio. Esta definio de empreendedor avanada por Mariotti e
Glackin (2010).
Murray (1938) e Timons (1994) definem o empreendedor com base na sua mente.
Designam o empreendedor como sendo um indivduo perseverante, com forte sentido
de responsabilidade, que trabalha para se destacar e alcanar os objectivos, procurando
aproveitar as oportunidades existentes, para se poder ir aperfeioando. Apresenta-se
como sendo um optimista que procura tirar ilaes positivas das situaes com que se
depara, que tenta aprender com os erros e que privilegia a eficcia, acreditando sempre
12
que as suas aces podem contribuir para o alcance do sucesso do seu empreendimento
e da sua vida pessoal (Virtanen, 1997).
De acordo com Luczkiw (1997), o empreendedor um elemento potenciador de
mudana no meio envolvente, que detm capacidades para criar e desenvolver o que no
foi ainda criado, colmatando as necessidades da sociedade, atravs da utilizao de
modelos por si desenvolvidos.
De acordo com Casson (1990) e Pickle e Abrahamson (1990), citados por Virtanen
(1997), pode-se afirmar que os indivduos empreendedores gerem negcios assumindo
riscos, com o intuito de obter lucro. Quanto capacidade de assumir riscos, Knight,
citado por Casson (1990), distingue aquilo que se entende por risco calculado de
incerteza referindo, tambm, que os empreendedores so indivduos que no se
importam de incorrer em riscos calculados, mesmo que sozinhos, porque sabem que os
lucros que iro obter sero compensatrios dos custos psicolgicos que implica a
assumpo do risco.
Na opinio de Praag (1999), os empreendedores so, ainda, quem promove a
sustentabilidade do desenvolvimento econmico, pela introduo e implementao de
novas ideias, que incluem a inovao de produtos, processos, mtodos e inovao das
organizaes.
Uma questo pertinente acerca do empreendedor colocada por Casson (1990). Este
autor questiona se um gestor contratado poder ser considerado um empreendedor, uma
vez que tambm lhe so delegadas algumas tarefas de responsabilidade e decises
estratgicas para as empresas onde desempenham funes. Tal questo remete-nos para
a perspectiva de Gartner (1989) que defende a existncia de diferentes tipos de
13
emprendedorismo, em funo de existncia de diferentes empreendedores que
apresentam diferentes caractersticas e traos de personalidade.
Esta perspectiva vem ao encontro da ideia defendida por Wennekers e Thurik
(1999), que se baseia na dupla do antagonismo do autoemprego versus emprego e
empreendedorismo versus gesto, para poder distinguir trs tipologias possveis de
empreendedores. A Figura 2 seguinte, esquematiza o processo de raciocnio destes
autores.
Figura 2. Trs Tipos de Empreendedores.
Auto emprego Emprego
Empreendedorismo (1) Empreendedor
Schumpeteriano
(2) Gestores
empreendedores
Gesto (3) Gestor dono de
negcio Gestor executivo
Fonte: Wennekers e Thurik, (1999)
Da lgica de pensamento dos autores mencionados podemos, ento, definir os trs
tipos de empreendedores, para os quais, de seguida, se formula uma interpretao
individualizada:
1. Empreendedor shumpeteriano: so os indivduos que, geralmente se
encontram em empresas de pequena dimenso e que detm e gerem pequenos
negcios inovadores, destruindo de forma criativa as estruturas existentes no
mercado. Tendencialmente, aps terem alcanado os objectivos pretendidos,
estes indivduos tendem a criar novos negcios ou novas empresas.
2. Gestores empreendedores: estes indivduos so entendidos como verdadeiros
empreendedores, uma vez que nas suas tarefas esto implcitas a assuno de
14
iniciativas comerciais, o risco associado ao tempo dispendido sua reputao e
ao seu trabalho. Contribuem para transformar negcios empreendedores em
grandes empresas. Pode-se dizer que este tipo de empreendedor pode ser
entendido como um potencial empreendedor shumpeteriano, uma vez que no seu
percurso pessoal, muitas vezes tendem a criar as suas prprias empresas.
3. Gestores donos de negcios: este tipo de empreendedor caracteriza-se por se
encontrar na maioria das pequenas empresas, ocupando apenas a funo de ser
responsvel pelo estabelecimento e por outras pessoas que ocupam cargos
profissionais na empresa que por ele detida. Apesar de desempenharem
funes teis nas organizaes como a coordenao da produo e da
distribuio, no podem ser entendidos como motores de inovao e destruio
criativa, tal como os empreendedores schumpeterianos.
Em sntese podemos utilizar a definio avanada por Carland et al. (1984), onde o
empreendedor entendido como sendo um indivduo que cria e gere um negcio,
atravs da aplicao de estratgias de gesto que visem o alcance do lucro e do
crescimento da empresa. Este um indivduo que se caracteriza por um comportamento
inovador, diferenciando-se do dono de um pequeno negcio que se apresenta como um
indivduo que gere o seu negcio, tendo os seus objectivos pessoais como propsito
principal da empresa.
De acordo com as diversas abordagens expostas possvel traar uma
caracterizao sumria do conceito de empreendedor. Assim o empreendedor pode ser
entendido como:
15
1. Um individuo que com sentido de responsabilidade, que otimista e que
privilegia a eficcia para alcanar o sucesso, no se importando de, para tal,
correr riscos calculados;
2. Algum com capacidade de reconhecer e desenvolver uma oportunidade e de a
transformar num negcio, criando e desenvolvendo novos produtos e servios
que ainda no foram explorados por outros indivduos;
3. Um agente econmico com capacidade de reunir fatores de produo e
estabelecer relaes com outros agentes econmicos, potenciando o seu negcio
e promovendo a sustentabilidade do desenvolvimento econmico.
4. Um elemento potenciador de mudana no seu meio envolvente, uma vez que se
apresenta como algum economicamente relevante e com capacidade de criao
de empregos.
2.2. Importncia do Empreendedorismo Para o Desempenho Econmico
Ao longo deste captulo, dedicado reviso da literatura alusiva temtica do
empreendedorismo foi elaborado um enquadramento terico acerca da definio do
conceito de empreendedorismo e do indivduo empreendedor. No entanto, no basta
saber definir estes conceitos, mas tambm perceber qual o impacto que os mesmo tm
no desenvolvimento das sociedades.
Deste modo, este ponto do presente captulo pretende abordar as perspetivas de
vrios autores acerca do impacto da actividade empreendedora para o desenvolvimento
econmico das regies.
16
2.2.1. A Relao Entre o Empreendedorismo e o Crescimento Econmico
Os empreendedores so frequentemente entendidos como responsveis pelo
desenvolvimento econmico dos contextos onde se inserem, quer pela implementao
de ideias inovadoras, quer pela introduo de produtos e processos inovadores,
explorao de novos mercados e adopo de inovaes organizacionais. Desta aco
dos empreendedores emerge a satisfao das necessidades de novos consumidores que,
por consequncia, leva criao de novas empresas. Por sua vez as novas empresas
criadas geram crescimento econmico que acarreta uma maior oferta de empregos para
a populao, estimulando desta forma o mercado de trabalho e o mercado de produtos
(Van Praag, 1999).
De acordo com Caree e Thurik (2002), possvel verificar que so vrias as
consequncias do empreendedorismo face ao fenmeno do desempenho econmico. No
entanto, os estudos acerca desta temtica cingem-se, na maioria dos casos, a abordar o
impacto do empreendedorismo ao nvel das organizaes e das regies.
Na sua grande maioria os estudos existentes acerca desta temtica apresentam um
cariz terico, sendo escassos aqueles que apresentam resultados do ponto de vista
emprico. Tal facto leva a que se crie a dificuldade em encontrar formas eficazes de
medir e quantificar o impacto do empreendedorismo face realidade do
desenvolvimento econmico (Salgado-Banda, 2005).
Em relao ligao existente entre o empreendedorismo e o crescimento
econmico, podemos verificar, a partir de um estudo realizado nos Estados Unidos da
Amrica, por Reynolds e Maki (1990), que face existncia de elevadas taxas de
criao de empresas se verifica um consequente aumento do crescimento econmico.
17
A concluso semelhante chegam autores como Arzeni e Pellegrin (1997) e Tang e
Koveos (2004), que verificam, nos seus estudos, que existe uma relao estatstica
relevante entre o fenmeno da criao de novas empresas e o crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB).
Associado a esta situao apresentam-se os resultados de outros estudos efectuados,
que revelam que a criao de novas empresas impulsiona entre um quarto e um tero do
crescimento dos pases industrializados (Carter et al., 2003).
Viso contrria a de autores como Audretsch e Fritsch (2002) e Van Stel et al
(2005). luz da viso destes autores verifica-se que no existe uma relao directa e
clara entre empreendedorismo e crescimento econmico, pois esta relao no
semelhante em todos os pases e varia de acordo com o rendimento per capita do pas
em causa.
No entender de Wennekers et al (2005), a relao entre o empreendedorismo e o
desenvolvimento econmico desenvolve-se nos contornos seguintes: em pases que se
apresentam como em vias de desenvolvimento, com nveis de PIB per capita mais
baixos, os nveis de empreendedorismo assumem-se, manifestamente, como sendo mais
elevados, com a existncia de actividades empreendedoras mais relacionadas com o
sector agrcola. Por sua vez pases com PIB per capita mais elevados tendem a
apresentar nveis de empreendedorismo mais reduzido, verificando uma actividade
empreendedora mais direccionada para o sector organizacional.
A viso apresentada por este autor vem ao encontro da situao verificada nos
pases participantes do estudo Global Entrepreneurship Monitor para o ano de 2011.
Pois, como possvel verificar na Figura 3, a tendncia verificada por este autor
comprova-se na realidade atual.
18
Figura 3. Atividade Empreendedora em Estado Inicial e Nveis do PIB per capita.
Fonte: Global Entrepreneurship Monitor 2011 Global Report
Na Figura 3 bastante clara a ideia defendida, anteriormente, por Wennekers e
Thurik (1999). Estes autores defendem que no existe uma ligao directa entre o
empreendedorismo e o crescimento econmico, pelo facto de existir um nmero
considervel de variveis intermdias que permitem explicar o modo como o
empreendedorismo pode influenciar o desenvolvimento econmico. As variveis que
podem ser consideradas so as seguintes: a inovao, a competio, os esforos e a
energia dos empreendedores (Figura 4).
Tambm Caree e Turik (2002) avanam cinco elementos passveis de influenciar o
efeito do empreendedorismo no crescimento econmico, sendo eles os seguintes:
1. A turbulncia referente ao fluxo de sadas e entradas de indstrias numa
determinada regio;
U nit ed St at es U S M xico M X Ireland IE
R ussia R U A rgent ina A R F inland F I
Sout h A f r ica Z A B raz il B R Lit huanie LT
Greece GR C hile C L Lat via LV
N et herlands N L C o lombie C O C roat ia HR
B elg ium B E M alaysia M Y Slovenia SI
F rance F R A ust ralia A U B osnia and Heregovina B A
Spain ES Singapore SG C zech R epub lic C Z
Hungary HU Thailand T H Slovakia SK
R omania R O Japan JP Guat emala GT
Swit zerland SW Korea Sout h KR Panema PA
U nit ed Kingdom U K C hina C N V enezuela V E
D enmark D K Turkey T R U ruguay U Y
Sweden SE Pakist an PK Trinidad and To bago T T
N orway N O Iran IR Jamaica JM
Po land PL A lgeria D Z B ang lad esh B D
Germany D E B arbados B B Taiwan T W
Peru PE Port ugal PT U nit ed A rab Emirat es A E
19
2. A variao da dimenso e distribuio das empresas em cada regio e o seu
respetivo desenvolvimento econmico;
3. O efeito do nmero de indstrias existentes no mercado;
4. Os resultados induzidos na economia por um nmero maior ou menor de
empreendedores existentes;
5. A relao existente entre a criao do prprio emprego e o progresso
econmico.
Figura 4. Variveis Intermdias e Ligaes que Explicam a Influncia do
Empreendedorismo no Crescimento Econmico.
Fonte: Wennekers e Turik (1999)
Na perspetiva de Verheul et al (2001), os fatores de desenvolvimento tecnolgico e
aumento da riqueza influenciam de forma conjunta os nveis de empreendedorismo de
uma regio ou pas. Da interaco entre este dois factores verifica-se que, enquanto o
crescimento da riqueza permite verificar um aumento e diferenciao da procura por
novos bens e servios, o desenvolvimento tecnolgico garante uma resposta plena a essa
procura. dos efeitos da oferta e da procura por este novos bens e servios que resulta
uma aumento do empreendedorismo e consequente aumento da riqueza, constituindo-se,
Condies
(pessoais, culturais, institucionais)
Empreendedorismo
(multidimensional, diferentes nveis de
anlise)
Ligaes intermdias
(pessoais, culturais, institucionais)
Crescimento econmico
20
assim, um estmulo criao de novos negcios que possam preencher os nichos de
mercado que vo surgindo. Na figura 5 possvel verificar, de forma sistematizada, de
que forma se desenvolve este processo, que se apresenta de forma cclica, com base na
criao de riqueza e consequente aumento do nvel de empreendedorismo.
Figura 5. Contributo do Desenvolvimento Tecnolgico e do Aumento da Riqueza para o
Desenvolvimento do Empreendedorismo.
Fonte: Verheul et al (2001).
No entanto, em estudos referenciados pelo mesmo autor (Kuznetz, 1996; Schultz,
1990 e Bregger, 1996), verifica-se que aps perodos de desenvolvimento econmico
segue-se a verificao do decrscimo das taxas de auto-emprego. Tal situao acontece
porque os perodos de crescimento econmico so acompanhados de um aumento no
nvel dos salrios e tambm de melhorias nos sistemas de segurana social, deste modo
poucas pessoas esto dispostas a abdicar dos seus empregos seguros e bem remunerados
para arriscarem a abrir o seu prprio negcio, para se auto empregarem.
21
Uma vez mais, esta situao encontra-se espelhada nos dados avanados pelo estudo
Global Entrepreneurship Monitor para o ano de 2011. Ao observar a Figura 6, onde
contm informao referente ao total da taxa de actividade empreendedora em estado
inicial (TEA) 2011, por fases de desenvolvimento econmico, para os vrios pases que
este estudo contempla, possvel verificar que, tendencialmente, os pases com nveis
de desenvolvimento mais elevado e os pases com economias orientadas para a
inovao, so os que apresentam menores taxas de actividade empreendedora em estado
inicial, o que consequentemente faz com que apresentem menores taxas de auto
emprego.
Figura 6. Total da Taxa de Atividade Empreendedora em Estado Inicial (TEA) 2011,
por Fases de Desenvolvimento Econmico, com Intervalos de Confiana de 95%.
Fonte: Global Entrepreneurship Monitor 2011 Global Report
luz de estudos recentes, sugere-se que o desenvolvimento econmico est, ento,
positivamente relacionado com os nveis de actividade empreendedora numa
determinada regio. Por sua vez tambm possvel de verificar que o capital
22
empreendedor, ou seja, a capacidade de criar empresas, assume-se com maior dimenso
nas regies com um forte desenvolvimento econmico (Audretsch e Keilbach, 2004).
2.3. Propenso ao Empreendedorismo
No passado, alguns estudos no campo do empreendedorismo introduziram vrias
perspectivas acerca da conceptualizao do empreendedorismo e, em particular, do
empreendedor. Estes estudos demonstram diferentes perspectivas acerca dos factores
que contribuem para a construo do empreendedor e que influenciam a actividade
empreendedora. Deste modo, possvel verificar a existncia de diferentes correntes
explicativas deste fenmeno, sendo elas:
1. A psicologia, que se recorrem utilizao dos factores motivao e capacidade
cognitiva dos indivduos;
2. A sociologia e a antropologia, que explicam o grau de empreendedorismo dos
indivduos pela relao dos mesmos com o contexto onde esto inseridos; e
3. A economia que explica esta realidade como o resultado da atividade
econmica existente (Kalantaridis, 2004).
No obstante destas perpectivas, se assumirem mais estanques, possvel encontrar
autores como Evans e Leighton (1989), De Wit e Van Winden (1991) e Van Praag
(1996), referidos por Verheul et al (2001), que defendem que variveis como as
caractersticas de personalidade, o nvel educacional, os activos financeiros, o passado
familiar e a experincia profissional dos indivduos, devero ser consideradas para
avaliar a propenso ao empreendedorismo.
Aqui podemos encontrar uma posio que demonstra claramente que o fenmeno da
propenso ao empreendedorismo no poder ser abordado numa perspectiva isolada,
23
mas sim dever ser analisado de acordo com as vrias perspectivas existentes, sejam
elas de ordem psicolgica, sociolgica, antropolgica ou econmica. Importante reter
que a actividade empreendedora e a propenso empreendedora apresentam-se como um
fenmeno com influncias multidisciplinares, compostas por factores que esto ligados
a vrias reas de interveno, sendo todos eles provveis de influenciar o nvel de
empreendedorismo.
No entender de Reynolds et al (2001) que desenvolvem um pouco mais a ideia
defendida pelos autores anteriormente referidos, existem trs grupos de variveis que
podem influenciar a propenso para o empreendedorismo por parte de um individuo,
sendo estes os seguintes:
1. Variveis sociodemogrficas como a idade e o sexo;
2. Situao que os indivduos vivem no momento presente, as suas percepes,
capacidades para iniciar um novo negcio, percepo das oportunidades
existentes no mercado, medo de falhar, ligaes a outros indivduos
empreendedores e perceo das perspetivas econmicas para a famlia e para a
economia;
3. Efeito do nvel educacional, da importncia do rendimento familiar sobre a
actividade empreendedora e da actividade laboral habitual dos indivduos.
De acordo os contributos aqui analisados, possvel estruturar os determinantes da
vocao para se ser empreendedor em duas categorias, sendo estas as caractersticas
psicolgicas associadas aos empreendedores e o contexto em que o empreendedor se
encontra inserido. Sendo que, no que diz respeito ao contexto, podemos verificar que a
este esto associadas caractersticas de carcter scio-demogrfico, ambiental e
24
formativo, que podero influenciar directa ou indirectamente a propenso ao
empreendedorismo por parte dos indivduos.
Assim, demonstra-se pertinente verificar de que modo estas caractersticas
manifestam a sua influncia no desenvolvimento da actividade empreendedora, e que
indicadores lhes esto associados.
2.3.1. Caractersticas Psicolgicas Associadas aos Empreendedores
O empreendedor o termo que designa a pessoa que inovadora (Schumpeter,
1934), que pratica a inovao de um modo sistemtico, ou seja, que procura fontes de
inovao e que atravs delas capaz de criar oportunidades de um modo continuado e
sistemtico (Drucker, 1985).
Outros autores como Pinchot (1989) e Filion (1999), segundo (Moreira e Silva,
2008), referem que associadas figura do empreendedor esto tambm outras
capacidades, nomeadamente:
1. Capacidade de criar e de transformar os sonhos em realidade;
2. Capacidade de desenvolver e concretizar vises a partir de um contexto de
incerteza e de indefinio;
3. Capacidade de aprender a partir da aco; e
4. Capacidade de realizao de objectivos prprios.
De acordo com tais associaes est a perspectiva de empreendedor apresentada por
David et al (2001), que define o empreendedor como um ser criativo, capaz de
transformar os sonhos em realidade, fazendo para isso uso de um conjunto de
capacidades e competncias prprias que, quando no so detidas genuinamente pelo
indivduo podem ser aprendidas e desenvolvidas de um modo consistente.
25
Deste conjunto de habilidades e competncias fazem parte: a criatividade, o
entusiasmo, a motivao, a liderana, a responsabilidade, a capacidade de correr riscos,
o comprometimento, a necessidade de estabelecer relaes pessoais, o pensamento
difuso, a eficincia, o optimismo, a tenacidade, a atitude positiva perante o fracasso, a
tolerncia ambiguidade e incerteza, a flexibilidade, a autoconfiana, o esprito de
iniciativa, a viso de longo prazo, a cooperao, a inovao, a independncia e a procura
constante de oportunidades (Kent, Sexton e Vesper, 1982; Sexton e Upton, 1987; Filion,
1991; Carson, Cromie, McGowan e Hill, 1995; David et al, 2001; Hisrich et al., 2005 e
Veciana, 2005).
Pode-se, assim, verificar que quanto maior for a proximidade entre as caractersticas
pessoais dos indivduos e as caractersticas entendidas como necessrias para se ser
empreendedor, isto , quanto maior conciliao existir entre individuo-empreendedor,
maior ser a propenso para o empreendedorismo e para alcanar o sucesso (Markman e
Baron, 2003).
2.3.2. A Influncia do Contexto
O empreendedorismo no pode ser entendido como um fenmeno simples e
unidimensional. , pelo contrrio, um fenmeno influenciado pela personalidade do
indivduo e pelos seus comportamentos, da mesma forma que influenciado pelo
contexto. a relao entre estes elementos que origina o desempenho das organizaes
criadas (Trigo, 2002).
Os empreendedores so influenciados pelo contexto onde se inserem (Kalantaridis,
2004). Por seu turno, a dimenso contexto abarca um conjunto de variveis como o
capital, as competncias e o conhecimento adquiridos pelos indivduos, as infra-
26
estruturas existentes, a dimenso, a natureza e a acessibilidade aos mercados e fontes de
oferta, o papel das entidades governamentais e as polticas vigentes. Esta a posio
defendida por Gartner (1985), referenciado por Kalantaridis (2004).
Na Figura 7 possvel perceber como se processa a dinmica da influncia do
contexto na atividade empreendedora, de acordo com Trigo (2002).
Figura 7. Relao entre o Empreendedor, o Seu Comportamento e o Meio Envolvente
Para a Obteno de Resultados.
Fonte: Trigo (2002)
Nos pontos que se seguem ser efetuado um levantamento do conjunto de vrias
caractersticas existentes no contexto que influenciam de forma direta ou indireta a
propenso para a atividade empreendedora. A saber caractersticas demogrficas,
ambientais e de formao.
27
2.3.2.1.Caractersticas Sociodemogrficas
De acordo com Verheul et al (2011), a estrutura etria de uma populao pode
influenciar os nveis de empreendedorismo, uma vez que existem diferentes graus de
disponibilidade para criar uma empresa de acordo com os diferentes escales etrios
existentes.
possvel verificar que o factor idade dos indivduos pode tambm influenciar
outros factores que so determinantes da propenso empreendedora, como o caso da
atitude face ao risco, a experincia profissional e, consequentemente, o capital humano.
Viso contrria a apresentada pelo autor Blau (1987), citado por Cowling e Taylor
(2001), que afirma que a idade dos indivduos no tem influncia na propenso para o
empreendedorismo.
Ainda no conjunto das caractersticas demogrficas, para alm do factor idade,
podemos verificar que o factor gnero assume tambm importante relevncia. Na
abordagem dos autores Verheul e Thurik (2011), defendida a ideia de que homens e
mulheres actuam de forma diferente face ao empreendedorismo. Essencialmente, as
principais diferenas reflectem-se no modo como procuram financiar os seus negcios,
facto que decorrente de diferentes estilos de gesto existentes entre os gneros, o tipo
de negcios escolhido e as experincias vividas como empreendedores. Outro aspecto
referido por estes autores prende-se com as diferenas entre o gnero e a educao, pois
verificam que os homens apresentam maior formao nas reas tecnolgicas e as
mulheres nas reas econmicas, administrativas e comerciais.
Uma das variveis que tambm mais concorre para a propenso empreendedora a
famlia. De acordo com De (2001), a influncia desta varivel no processo de
28
empreendedorismo, levado a cabo por um indivduo, poder ser enaltecida pelos valores
em vigor na sociedade onde se insere este mesmo indivduo.
As oportunidades para desenvolver a actividade empreendedora podem tambm
variar de acordo com os graus de diversidade que apresente uma determinada sociedade.
Sociedades compostas por diferentes culturas esto mais propensas a que se
desenvolvam um maior nmero de ideias. o caso das sociedades, maioritariamente,
compostas por imigrantes e por jovens, que demonstram ter uma maior tendncia para o
desenvolvimento da actividade empreendedora. Contudo, existem outros factores que
podem exercer, influncia no capital empreendedor, nomeadamente as polticas
pblicas, criadas pelo sector pblico para gerarem oportunidade de desenvolvimento de
actividades empreendedoras (Audretsch e Keilbach, 2004).
No entender dos Mueller e Thomas (2000), existe uma relao entre os traos
psicolgicos dos indivduos, o seu comportamento, valores e atitude. Nesta relao
notria a influncia da cultura nacional, dos valores e das crenas sobre os
comportamentos e decises dos indivduos, incluindo a deciso de se tornarem
empreendedores. A cultura entendida por estes autores como o factor que est na base
dos sistemas de valores das sociedades que, por seu turno, influenciam o
desenvolvimento dos traos de personalidade e o comportamento dos indivduos.
Assim, os nveis de empreendedorismo das sociedades podem ser, tambm, o resultado
das diferenas culturais dos valores e crenas existentes nestas sociedades.
2.3.2.2.Caractersticas Ambientais
Importante varivel a que se refere existncia de infra-estruturas institucionais.
No entanto, no podemos referir a esta varivel de forma isolada, pois esta encontra-se
29
associada a outros factores como a existncia de estruturas legais, financeiras e polticas
que, consequentemente, do origem a uma envolvente contextual, que por sua vez
propicia oportunidades originadas pelos nveis de hostilidade, dinamismo ou
complexidade existente numa sociedade. Tambm os nveis de desenvolvimento so
despoletados, quer pelo desenvolvimento econmico de um pas, quer pelo ciclo de
negcios existente, estando subjacentes a estes factores os recursos e as oportunidades
de mercado (Noorderhaven et al., 2003).
Neste nvel, a propenso para o empreendedorismo num pas influenciada por
vrios factores: a criao de incentivos fiscais por parte do governo, a atribuio de
subsdios, o sistema de educao e a legislao laboral (Verheul et al., 2001).
Quando se refere a criao de novas empresas tambm essencial falar-se em
financiamento, que se demonstra como um aspecto fulcral para a definio da
propenso e dos nveis de empreendedorismo. O financiamento, de acordo com
Reynolds et al. (2001), pode assumir-se de vrios tipos consoante o nvel de
empreendedorismo em que se encontra a empresa a ser alvo de financiamento.
Ainda na viso deste autor, outro aspecto apontado como relevante para a influncia
do desenvolvimento do empreendedorismo o nvel de desenvolvimento econmico de
um pas ou de uma regio. Este um aspecto que, por sua vez, recebe a influncia de
factores como o ambiente poltico e o ambiente scio cultural.
2.3.2.3.Caractersticas de Formao
O nvel educacional dos indivduos um aspecto determinante na propenso para o
empreendedorismo, pois, segundo Rees e Shah (1986) possvel verificar que
indivduos com nveis de educao mais elevados tendem a ter um melhor desempenho,
30
acrescentando o facto de terem mais informaes sobre oportunidades existentes no
mercado e de estarem melhor preparados para as poderem concretizar.
De acordo com Verheul et al. (2001), as capacidades empreendedoras dos
indivduos podem ser desenvolvidas nas universidades, sempre que estas ofeream
cursos que versem o tema empreendedorismo e incorporem nos seus cursos disciplinas
que possam focar este assunto.
De forma sumria, possvel expor na Figura 8 quais os principais fatores que
exercem influncia no processo de desenvolvimento da actividade empreendedora, de
acordo com as perspectivas dos vrios autores aqui citados.
Figura 8. Determinantes da Propenso Para o Empreendedorismo.
31
2.3.2.3.1. Ensino e Formao Para o Empreendedorismo
A ideia de que o empreendedor apenas fruto do factor hereditariedade ou de que o
empreendedorismo uma caracterstica inata de alguns indivduos, comea a ser
abandonada no meio acadmico, ganhando lugar a corrente que defende que possvel
aprender a ser empreendedor, atravs do recurso a polticas diferenciadas ao nvel do
ensino (Rodrigues et al., 2007).
De acordo com Rasheed (2000), citado por Rodrigues et al., (2007), o
desenvolvimento do empreendedor demonstra ser importante para sustentar a vantagem
competitiva numa economia que catalisada pela inovao. Assim, o papel da educao
e formao de empreendedorismo, na identificao de dotao de potencial
empreendedor nos jovens, tornou-se evidente para os estudantes, polticos e educadores.
A preparao educacional para o empreendedorismo contribui, deste modo, para o
aumento do nmero de empreendedores, atravs do desenvolvimento de uma percepo
positiva acerca da necessidade e da praticabilidade do empreendedorismo e do
desenvolvimento de competncias que facilitem o processo empreendedor.
De acordo com o estudo realizado por Rodrigues et al. (2007), acerca da propenso
para a criao da prpria empresa, junto de estudantes de ensino superior da
Universidade da Beira Interior, foi possvel verificar que o fator educao foi
considerado mais relevante para a propenso criao de empresas. A Figura 9
apresenta o modelo conceptual depurado, constante nos resultados deste estudo.
32
Figura 9. Modelo Conceptual Depurado dos Fatores que Influenciam a Propenso
Criao de Empresas.
Fonte: Rodrigues et al (2007).
Na perspetiva de Fayolle e Klandt (2006), o surgimento de programas de ensino e
de formao em empreendedorismo vem responder ao aumento do interesse dos
estudantes por uma carreira empreendedora (Brenner et al., 1991; Hart e Harrrison,
1992; Fleming, 1994 e Kolvereid, 1996) e pelo aumento da preocupao das
autoridades pblicas acerca da importncia do empreendedorismo como contributo para
o desenvolvimento econmico (Hytti and Kuopusjrvi, 2004). Deste modo, a temtica
da educao em empreendendedorismo passa a ser foco de interesse e de investigao,
principalmente, a partir da dcada de 90 do passado sculo.
A viso de Gibb (2002;2004), citado por Fayolle e Klandt (2006), acerca desta
realidade a de que o crescente interesse pela temtica do empreendedorismo e pela
educao em empreendedorismo est relacionado com as percepes provenientes do
fenmeno da globalizao, que se caracteriza por um aumento no grau de complexidade
do ambiente e pelo aumento de grau de incerteza nas sociedades. Assim, governos,
33
instituies, organizaes, empresas e os indivduos alteram a suas percepes acerca
do mundo, e sentem necessidade de se preparar face complexidade e incerteza com
que se deparam no novo mundo globalizado.
Ainda de acordo com Gibb (2002;2004), existe a necessidade de se alterar o foco
tradicionalista do ensino em empreendedorismo para um novo foco neste tipo de
educao, nomeadamente, atravs da introduo de tcnicas que visem abordar
temticas como a criao de novas empresas, a construo de planos de negcios, o
crescimento econmico e a inovao, bem como um quadro conceptual que permita
perceber de que forma os empreendedores vivem e aprendem.
A principal premissa dos programas de aprendizagem do empreendedorismo a de
que os indivduos no nascem empreendedores, mas sim vo-se tornando
empreendedores pela sua experiencia, medida que vo crescendo e aprendendo,
sofrendo a influncia dos seus professores, familiares, mentores e pelo exemplo de
outros empreendedores. No entanto, o interesse pessoal pelo empreendedorismo no
pode ser imposto aos indivduos, mas poder ser algo possvel de encorajar ou
desencorajar. Deste modo, o empreendedorismo pode ser visto como um processo de
aprendizagem continuada. Esta a viso apresentada por Teixeira (2009). Esta ideia
possvel de se verificar na Figura 10 que a autora utiliza para espelhar o
empreendedorismo como um processo de aprendizagem.
A abordagem ao empreendedorismo, como algo que pode ser aprendido, remete
para a temtica do empreendedorismo tecnolgico. Segundo Zahra e Hayton (2004),
citados por Moreira e Silva (2008), o empreendedorismo tecnolgico consiste na criao
de novas empresas por empresrios independentes e o desenvolvimento de projectos
com base em descobertas tecnolgicas em empresas existentes. Este tipo de
34
empreendedorismo revela-se como gerador de novos empregos, contribuindo para o
bem-estar das comunidades e gerando riqueza para os proprietrios dos
empreendimentos (Bhid, 2000).
Figura 10. Empreendedorismo como um Processo de Aprendizagem.
Fonte: Adaptado de Wenneckers and Thurik (1999), em Portela (2008).
De acordo com os autores Robinson e Haynes (1991), no s o empresrio dever
ser empreendedor, como tambm todos os indivduos envolvidos na organizao. Para
que tal acontea compete aos estabelecimentos de ensino a preparao dos indivduos
que devero integrar esta sociedade empreendedora. Assim, o ensino do
empreendedorismo demonstra-se como um importante contributo para as organizaes.
A opo pela actividade empreendedora resulta de um processo que est em perfeita
consonncia com as caractersticas do empreendedor (Carland e Carland, 1988). No
35
entanto, do desenvolvimento desta cultura empreendedora emana a necessidade de
formao de discentes autnomos, criativos, capazes de liderar e detentores de uma
viso alargada da sociedade.
Tal perspectiva vem ao encontro de uma importante questo colocada por Fayolle e
Klandt (2006): Como se aprende e se ensina o empreendedorismo? Esta ,
provavelmente, a questo mais antiga na temtica da educao em empreendedorismo.
Carland e Carland (1988) sugerem que tal dever ser feito atravs do
desenvolvimento de programas de ensino e de aprendizagem que contemplem o
desenvolvimento interpessoal e intrapessoal, em sintonia com a gerao de ideias,
negociao, desenvolvimento estratgico, desenvolvimento de produtos, tomada de
decises e resoluo de problemas (Moreira e Silva, 2008).
Tal viso contrasta com o ensino segundo uma linha tradicional, baseado na
memorizao, onde o discente moldado enquanto sujeito passivo que recebe e assimila
conhecimento, cabendo aos docentes apenas expor e demonstrar esse mesmo
conhecimento (David et al., 2001).
Na perspetiva dos autores Solomon, Duffy e Tarabishy (2002), a corrente de ensino
mais actual mais adequada s exigncias da prtica do empreendedorismo, onde o
conhecimento elaborado e construdo em parceria entre o docente e o discente. Nesta
perspectiva o docente entendido como um facilitador e indutor do processo de
aprendizagem, sendo um estimulador e orientador da aprendizagem, cuja iniciativa
principal compete ao discente, que tem como tarefas desenvolver habilidades
comportamentais induzidas pela prpria formao existencial e psicolgica.
36
Referenciado por Moreira e Silva (2008), Bolzan (1998) refere as principais
diferenas entre o ensino tradicional, enquanto reproduo de conhecimento, e o ensino
moderno, centrado na produo de conhecimento (Figura 11).
Figura 11. Diferenas entre o Ensino Tradicional e o Ensino Moderno
Ensino Tradicional Ensino Moderno
Transmisso do conhecimento enquanto produto
acabado e inquestionvel;
Transmisso do conhecimento a partir de razes histricas,
sendo este provisrio e relativo;
Valorizao do imobilismo e a disciplina intelectual
visa a reproduo de palavras, textos e experincias;
Valorizao da aco reflexiva e a disciplina vista
enquanto capacidade de estudar, reflectir e sistematizar
conhecimentos;
Privilegia a memria e a repetio do conhecimento
socialmente acumulado;
Privilegia a interveno no conhecimento socialmente
acumulado;
Uso da sntese na transmisso das informaes; Estmulo da anlise, da capacidade de produzir dados,
informaes, argumentos e ideias;
Valoriza a preciso, a segurana e a certeza; Valoriza a aco, a reflexo crtica, a curiosidade, a
inquietao e a incerteza;
Premeia o pensamento convergente, a resposta nica e
verdadeira e o sentimento de certeza;
Valoriza o pensamento divergente e provoca incerteza e
inquietao;
Concebe cada disciplina como um espao prprio de
domnio de contedo;
Concebe o conhecimento de modo interdisciplinar e inter-
relacionado;
Valoriza a quantidade de informao transmitida; Valoriza a qualidade de informao transmitida;
Concebe a pesquisa como uma actividade inicial onde
os aspectos metodolgicos e instrumentais se
sobrepem capacidade intelectual de trabalhar no
contexto de incerteza;
Concebe a pesquisa como uma actividade inerente ao ser
humano e acessvel a qualquer um;
Defende a incompatibilidade entre o ensino e a
pesquisa; Entende a pesquisa enquanto instrumento do ensino;
Requer um docente erudito, detentor dos contedos da
matria a expor;
Requer um docente inteligente e responsvel, capaz de
estimular a dvida e orientar o estudo para a autonomia;
O docente a principal fonte de informao; O docente o mediador entre o conhecimento, a cultura
sistematizada e a condio de aprendizagem do discente.
Fonte: Adaptado de Bolzan (1998), em Moreira e Silva (2008).
De acordo com Dolabela (1998), o conhecimento deixa, assim de ser transmitido
pelo docente, para passar a ser gerado pelos prprios discentes ao longo da construo
da sua viso, ou seja na autoavaliao do comportamento individual, na construo dos
mtodos de aprendizagem prprios, bem como no modo proactivo de agir, verificando-
se uma inverso no fluxo do saber a que autores como Ulijn et al. (2003) denominam de
dilema ensino/treino.
Segundo Moreira e Silva (2008), no mbito do empreendedorismo tecnolgico e do
ensino, existem diferentes linhas de pensamento terico que permitem distinguir cinco
37
linhas de investigao acerca desta temtica. De seguida se descrevem estas linhas de
pensamento:
1. Ao nvel do ensino universitrio - reala o impacto que a formao e o ensino
tm sobre a economia, pesando os efeitos do empreendedorismo ao nvel da
abertura da prpria empresa e dos salrios, bem como ao nvel da criao de
postos de trabalho. Nesta linha de investigao destacam-se os estudos de
alguns autores como Clark et al. (1984) e Upton, Sexton e Moore (1995). A
destacar o estudo de Clark et al. (1984), que se debrua sobre os impactos do
empreendedorismo ao nvel da economia local e nacional, chegando
concluso que a maioria dos estudantes de empreendedorismo, ao ingressarem
no curso, pensa no imediato, na abertura da sua prpria empresa, considerando
que as ferramentas disponibilizadas no decorrer do curso so essenciais sua
deciso. Neste caso um dos efeitos mais manifestos do ensino do
empreendedorismo o crescimento do mercado, com consequncias ao nvel do
aumento dos salrios e de postos de trabalho.
2. Ao nvel da anlise dos instrumentos e metodologias pedaggicas utilizadas
para o ensino de empreendedorismo nesta linha de pensamento, estudos
como Sexton e Upton (1987) recorrem a instrumentos que permitem identificar
as caractersticas da personalidade dos indivduos possveis de serem
determinantes do empreendedorismo. Assim, estes autores defendem que as
caractersticas psicolgicas dos indivduos so fortes determinantes das suas
intenes empreendedoras.
3. Ao nvel dos trabalhos sobre o estado da arte da educao em
empreendedorismo esta linha abrange estudos que abordam as diferenas
entre as linhas de ensino tradicionais, essencialmente as aplicadas ao ensino da
38
gesto, e as linhas de ensino requeridas pelo empreendedorismo. Destes estudos
destacam-se os estudos de autores como Solomon et al. (2002).
4. Ao nvel de estudos das experincias e prticas de formao em distintos
nveis de ensino, em diferentes pases nesta linha de pensamento alguns
autores, como o caso de Robinson e Hayes (1991) dedicaram-se anlise de
diferentes programas de empreendedorismo praticados nas universidades
americanas, de modo a identificarem a viabilidade dos resultados prticos dos
programas em causa. Nestes estudos foram considerados indicadores como:
nvel de ensino, nmero de alunos a frequentar os programas, pessoal afeto,
bem como a natureza e o horrio dos cursos. Estes indicadores permitiram
construir matrizes de correlao uteis na avaliao do sucesso ou insucesso de
cada programa.
5. Ao nvel da anlise das atitudes e das intenes empreendedoras dos
estudantes face ao empreendedorismo e criao de empresas nesta linha
de estudo saliente-se o estudo realizado por Santos e Lin (2007). Este estudo
de carcter emprico com o intuito de medir a performance dos empreendedores
da regio de Andaluzia, atravs da elaborao de um modelo conceptual,
defende que as atitudes e intenes dos empreendedores so influenciadas por
factores como o desejo de independncia, a motivao, o ambiente pessoal e o
ambiente global.
possvel verificar que as diferentes linhas de estudo, apesar de distintas entre si,
trazem um contributo vlido, para percebermos quais as variveis e factores que
condicionam, a partir do ensino, o desenvolvimento do empreendedorismo e as
intenes empreendedoras dos indivduos. Esta temtica demonstra um ponto
39
importante para o estudo das condicionantes do desenvolvimento do empreendedorismo
tecnolgico, aspecto indissocivel do ensino de empreendedorismo.
O surgimento do emprendedorismo tecnolgico, nas disciplinas do ensino
universitrio, surge como algo revolucionrio e inovador, na medida em que se
apresenta como uma disciplina que utiliza metodologias de ensino do
empreendedorismo em geral, mas envolvendo uma diversidade de meios e modos de
aprendizagem, participantes e interaces (Moreira e Silva, 2008).
O ensino desta tipologia de empreendedorismo implica, ento, uma quebra nos
paradigmas didcticos, com implicaes necessrias nas tcnicas e nos mtodos
utilizados (Dolabela, 1998). Associado a esta quebra de paradigma surge a metodologia
assente em estudos de caso, estudos de biografias de empreendedores de sucesso,
seminrios, simulaes e jogos interativos (David et al., 2001; Ulijn et al.,2003).
Figura 12. Relao Treino e Envolvimento dos Empreendedores.
Fonte: (Ulijn et al., 2003)
A Figura 12 demonstra como podem ser treinados os potenciais empreendedores de
acordo com os elementos utilizados nesta nova metodologia, podendo-se verificar o
40
grau de envolvimento dos estudantes na temtica do empreendedorismo, de acordo com
as tcnicas de ensino utilizadas.
De acordo com esta lgica de aco, no contexto de aula, voltado para o ensino de
empreendedorismo de ndole tecnolgico privilegiam-se novos elementos como a
atitude, o comportamento, a emoo, o sonho e a individualidade, em substituio do
saber como um fim em si mesmo (Dolabela, 1998). Segundo Solomon et al., (2002),
verifica-se que so os aspectos psicolgicos, sociais, histricos e econmicos que
passam a moldar esta nova rea do saber.
O objecto do ensino do empreendedorismo tecnolgico ento entendido como o
desenvolvimento de caractersticas pessoais, essenciais ao empreendedor de sucesso,
embora nem todos os indivduos possam ser inovadores ou empreendedores,
dependendo tais capacidades de factores como a personalidade, a inteligncia, o clima
ou a cultura (Sexton e Upton, 1987; Dolabela, 1998; Ulijin et al., 2003)
Torna-se necessrio estimular as atitudes e intenes empreendedoras dos
estudantes, dos investigadores e de outros agentes do contexto universitrio, pois, de
acordo com Veciana (1988) e David et al., (2001), nas sociedades ditas do
conhecimento as fontes mais promissoras de empresrios so os estudantes
universitrios, entendidos como agentes centrais e activos do processo de aprendizagem.
O empreendedorismo, nomeadamente o tecnolgico, tem-se revelado um importante
plo de atraco de estudantes, que desde cedo demonstram interesse pelas actividades
empreendedoras e que culminam vrias vezes com a criao da sua prpria empresa e
de postos de trabalho. Demonstra-se, assim, que os cursos direccionados para a vertente
do empreendedorismo afectam as atitudes e as intenes dos estudantes, validando-se a
hiptese de que possvel formar empreendedores e no aceitar cegamente o facto de
41
que o empreendedor determinado priori, sendo detentor de caractersticas inatas
(Moreira e Silva, 2008).
Em Portugal, a educao empreendedora tem vindo a evoluir de forma positiva,
pois, no ano letivo de 2004/2005 existiam 22 disciplinas de empreendedorismo em 17
instituies de ensino superior, tendo este nmero aumentado para 21 instituies
abrangendo 26 disciplinas no ano letivo 2005/2006. No entanto, o desenvolvimento de
disciplinas de empreendedorismo em Portugal um fenmeno recente, tendo a maioria
das disciplinas de empreendedorismo (63,2%) sido lecionadas pela primeira vez em
2002 ou posteriormente. Comparando com os Estados Unidos da Amrica a maioria das
disciplinas comearam a ser lecionadas em 1982, constituindo 20 anos de experincia
com a qual Portugal poder sempre aprender (SEDES, 2007).
2.4. Propenso ao Empreendedorismo dos Estudantes Universitrios
De acordo com Kurato (2004), citado por Henrique e Cunha (2008), actualmente
cerca de 5,6 milhes de jovens americanos com idades at aos 34 anos tentam iniciar o
seu prprio negcio. Desses novos empreendedores, um tero so jovens de at 30 anos
e mais de 80% dos que esto na faixa dos 18 aos 34 referem que pretendem abrir o seu
negcio. De acordo com o estudo do estado da arte do ensino do empreendedorismo,
realizado por Henrique e Cunha, estes nmeros devem-se ao crescente aumento do
surgimento de disciplinas e de formaes especficas em empreendedorismo que surgem
nas Universidades americanas.
Na Unio Europeia existe um consenso de que a prosperidade do futuro depende da
criao de negcios que estejam profundamente enraizados na economia local. A ttulo
de exemplo, mostra Henrique e Cunha (2008) citando o autor Matlay (2005) que, no
Reino Unido os responsveis pela poltica de desenvolvimento esto envoltos numa
42
verdadeira obsesso com o empreendedorismo e a educao e ensino de
empreendedorismo, por julgarem ser a soluo mais pragmtica para um crescente
aumento de desafios socioeconmicos e polticos. O autor referenciado reala, ainda,
que o fascnio por esta temtica semelhante tambm noutros pases em
desenvolvimento ou que passam por uma transio poltica e econmica. No entanto,
para ser possvel concretizar o propsito de expandir o empreendedorismo nas naes
necessrio aumentar o nmero de talentos empreendedores locais para que,
efetivamente, se venham a desenvolver novos empreendimentos e, acima de tudo,
necessrio qualific-los para que sejam capazes de criar actividades capazes de gerar
inovao (Hytti e OGorman, 2004).
possvel verificar que as instituies de ensino superior tm vindo a implantar,
com o passar dos anos, o ensino do empreendedorismo nos seus planos curriculares a
fim de se manterem em consonncia com o conjunto crescente de desafios
socioeconmicos e polticos procedentes da atualidade. Tais desafios tm levado os
jovens a recorrerem ao autoemprego lanando-se em empreendimentos independentes e
procurando gerar organizaes compostas por indivduos com esprito empreendedor.
Alguns estudos, mostram, ainda, que as experincias passadas e o trabalho em pequenas
empresas ou em consultorias juniores auxiliam os jovens no processo de aprender a
empreender. Destaca-se, ainda, o facto de estruturas como incubadoras de empresas
serem consideradas essenciais para a implementao dos planos de negcios
desenvolvidos pelos estudantes (Henrique e Cunha, 2008).
Facto que, tambm, se nota que durante o prprio percurso universitrio, os
estudantes tendem a apresentar um aumento na vontade de se tornarem empreendedores,
como possvel verificar no estudo realizado, no Brasil, por Tatto et al. (2008).
43
A educao empreendedora reconhecida como sendo um factor crucial para os
jovens perseguirem uma atitude empreendedora. Devido influncia da educao nas
atitudes e aspiraes dos jovens fundamental compreender como estimul-los a
tornarem-se potenciais empreendedores durante o seu percurso nas universidades
(Wang e Wong, 2004).
De acordo com o estudo realizado por Dorse e Walter (2011), junto de estudantes de
ensino superior, na Alemanha, possvel verificar que a inteno empreendedora pode
ser influenciada tanto por factores que se manifestam ao nvel do indivduo, estando
relacionados com a personalidade dos indivduos, como por factores do contexto da
regio onde se encontram inseridos os indivduos.
De acordo com os resultados do estudo efetuado por estes autores possvel
concluir que, junto dos estudantes abordados pelo estudo, o papel da famlia e dos
amigos, como fonte de transmisso aquisio de conhecimento, experincia e know-
how, exerce um impacto significativamente importante para definir a vocao
empreendedora dos estudantes. Por sua vez, tambm a hiptese de que o contexto
regional influencia de forma significativa a propenso empreendedora dos estudantes
aceite, manifestando-se esta situao, principalmente, pela varivel intensidade e taxa
de crescimento regional do investimento em investigao e desenvolvimento, pois,
quanto mais elevada esta se apresentar, maior ser a propenso dos estudantes a
tornarem-se empreendedores.
Deste modo, as universidades desempenham um importante papel, apresentando-se
como motores impulsionadores de inovao. De acordo com o estudo efetuado por
Audretsch et al., (2011), possvel verificar que o desempenho das regies e as
actividades das universidades so factores que contribuem para o desenvolvimento do
44
empreendedorismo. Sobretudo destaca o papel das universidades que produzem
conhecimento capaz de suportar atividades de inovao associadas s empresas mais
jovens e com actividades ligadas alta tecnologia. Este autor verifica que, nas regies
onde se encontra um maior nmero de universidades, assiste-se tendncia de uma
maior competitividade nas empresas e uma maior gerao de empresas. Este fenmeno
decorrente da influncia do trabalho de investigao e do conhecimento gerado nas
universidades e que , com frequncia, transposto para a actividade empresarial.
Num estudo elaborado para analisar as percepes do desejo, da viabilidade e da
inteno de criao de uma empresa, por parte de estudantes de ensino superior na
regio da Beira Interior, em Portugal, e na regio de Extremadura, em Espanha,
realizado por Casero, Mogolln e Raposo (2004), possvel verificar no s os factores
que influenciam a atitude empreendedora dos estudantes, mas tambm qual a percepo
que estes tm acerca do empreendedor e do processo de criao de empresas.
Resultado desta investigao so as concluses que de seguida se apresentam:
1. Revela-se que os estudantes tm uma percepo muito positiva acerca do desejo
de criar uma empresa prpria, situao que se manifesta nas duas reg