36
Ninguém conhece o Pai senão o Filho…

Ninguém conhece o Pai · E ninguém Sabe Quem é o Filho senão Pai ... Ele próprio tem que me dar. É a minha existência humana á procura do ... contudo leves e suaves muitíssimo

Embed Size (px)

Citation preview

Ninguém conhece o Pai senão o Filho…

José Monteiro Morais

2

José Monteiro Morais

3

E ninguém Sabe Quem é o Filho senão Pai, nem

quem é o Pai, senão o Filho (…)

(Luc. 10,22)

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus”.

(…) S. João Evangelista.

Aveiro 2009

José Monteiro Morais

4

Nota

O meu objectivo é invocar e salientar alguns ensinamentos de Cristo, naturalmente extraídos dos evangelhos (S. Lucas, S. Mateus, S. Marcos e S. João, para que os católicos, conhecendo melhor a Palavra de Cristo, realizem um cristianismo coerente por causa dessa Palavra. Não me assiste qualquer autoridade para o fazer. Faço-o pensando que Deus aceita este gesto como bom. Faço-o também para exteriorizar a forma que tenho de interpretar a doutrina de Cristo, tentando assumi-la deste modo, de há muito.

O autor

José Monteiro Morais

5

PRIMEIRA PARTE

“Ninguém conhece o Pai senão o Filho e ninguém conhece o Filho senão o Pai”, disse Jesus.

Quando invoco o Santo nome de Deus Altíssimo, ocorre-me um sentimento de profundo respeito, temor, envolvendo simultaneamente este pouco que sou, defeituoso, sem qualquer mérito, mas esperando Dele o que Ele próprio tem que me dar. É a minha existência humana á procura do que lhe falta, sentindo que tudo se esconde por detrás de insondáveis mistérios.

Em intervenções suas, narradas pelos profetas e que nos inspiram respeito e até medo, soubemos, mesmo antes de Jesus vir à terra, que o Senhor Todo-Poderoso é amor.

Brada no nosso espírito um sentimento de entrega profunda ao nosso Deus enquanto a alma reconhece o verdadeiro sentido da vida humana incluída nessa grandeza divina.

Aqui, deste meu nada, sinto o incómodo da pessoa que sou, controversa e pecadora, ainda que sempre me anime a fé e a vontade de ser melhor.

Á espera do que há-de vir, rezo. Sei que as orações comunicam a Deus as nossas alegrias e as nossas penas e constituem a forma perfeita e completa de falar com Deus. Mas rezar escrevendo, é igualmente oração.

Dou profundas graças a Deus por inspirar os evangelistas a escreverem passados anos os evangelhos, que nos dão a conhecer com toda a segurança, a pessoa de Jesus Cristo. Os evangelhos são o alimento e a base da nossa fé.

Das sabedorias, ilações e tratados que surgem por esse mundo além, a única sabedoria que me prende e absorve, é a doutrina de Jesus Cristo. Nos evangelhos está a sabedoria que fundamenta directa e totalmente a minha fé.

Não olho para as palavras e ensinamentos de Cristo por acontecimentos históricos e achegas humanas do meu tempo. Firma-se no meu pensamento e na minha fé, o facto de as palavras de Jesus Cristo serem intemporais e independentes. Tenho na consciência que Jesus falou uma só vez por todas para, obrigatoriamente ser ouvido, com a mesma intensidade, ao

José Monteiro Morais

6

longo de todos os tempos. “Passará – disse -, o Céu e Terra mas as minha palavras não passarão”. Avisou mesmo que nem uma vírgula será tirada da sua palavra, da sua doutrina, sem que tudo se cumpra segundo a sua vontade.

No gesto de escrever este meu trabalho, quero garantir desde já que não decorre no meu espírito qualquer animosidade contra quem quer que seja.

O amparo espiritual que creio que assistir-me, é a fé nas palavras de Jesus que dizem: “Não vos deixarei órfãos” E ainda que o vazio me envolva como afinal a toda a gente, tento tonificar a vida com essa presença divina. Dias melhores, dias piores.

Meditando nos mistérios em que se descreve a existência humana, vemos que surgimos nesta vida enleados na dor do parto de uma mãe, da qual brota um amor sem medida, até que um dia esta mãe definha e morre. E nós, nascidos na contradição que há na dor e num amor profundo, deparamo-nos com uma vida carregada de infindáveis controvérsias, um mundo em luta permanente entre o Bem e o Mal.

Estamos sempre rodeados de inimigos da alma. Nesta circunstância incontornável é que iremos optar por procurar o Deus que nos criou, ou acolher o meio turbulento em que aparecemos.

O ser humano é por natureza culto, se culto é todo aquele que sabe realizar aquilo que pensa e só será verdadeiramente nosso o património que realmente nós próprios cultivarmos. Deus não fará o que em verdade, as nossas mãos terão de fazer.

Assim será para todos os efeitos da vida, assim será para encontrar o nosso equilíbrio espiritual e humano.

Não temos respostas lógicas para tudo que nos vem ao pensamento, limitadas a um espaço humano que nem conhece os mistérios da sua origem, e não possui qualquer controle da sua morte. Apenas existimos.

Mesmo sem fé os homens procuram Deus. Ele é a referência que prevalece para além das teorias mais ou menos sustentáveis, deduzidas pela inteligência humana. Deus é uma interrogação sempre latente no espírito do homem.

Movidos pela fé sabemos que o Senhor Todo-Poderoso, se fez homem na pessoa de Jesus Cristo, e por Ele nos tornou íntimos no mistério da sua divindade. Cristo é a fonte única da nossa sabedoria e é Nele que procuramos tudo por que ansiamos conhecer. Nele se funda a nossa fé até que se dê a conclusão final. Esse momento único que agora Deus nos esconde.

Nasci pobre pelo que dou graças a Deus e digo-o depois de perceber o que o dinheiro e as riquezas fazem às pessoas. Tive uma vida envolta em adversidades, contudo leves e suaves muitíssimo longe da existência daqueles

José Monteiro Morais

7

que, seres como eu, apenas vivem encarnando o sofrimento atroz de uma agonia que não acaba, sem que o mundo perceba o crime que comete. Jesus invocou este aspecto invocando o castigo de condenação, dizendo: “Afastai-vos de Mim, malditos, porque tive fome e não Me destes de comer”.

Nasci de pais católicos, com fé e respeitadores dos mandamentos, em que o pai tinha uma noção de justiça ainda que não a soubesse usar com equilíbrio. Era áspero e rude, mas sério e muito respeitado.

Tive uma mãe doce e de espírito forte, cheia de fé e que foi martirizada pelas condições adversas que a vida lhe impunha. Recordo o seu ânimo e a sua confiança.

Mãe de seis filhos, padeira, sempre em dificuldade para obter dinheiro para a farinha.

Introduzo este apontamento apenas para situar as pessoas que lerem estas letras. O que pretendo é debruçar-me nesta procura familiar que se estabelece entre mim e Deus, louvando-O e dando graças pela sua divindade ligada com as nossas vidas em geral e particular com cada um.

Já disse em outros lados que a minha vida mudou aos 21 anos de idade e que tomei como ponto de partida a palavra dos evangelhos, que lutei pela sua pureza contra farsas desastrosas e obviamente inglórias porque se apoiavam em teses obscuras que não eram do céu nem puramente materialistas. É gente que ocupa uma área enorme do catolicismo que, segundo Jesus Cristo, são gente que nem é quente nem é fria, provoca vómitos ao Senhor. A meu ver já de há muito haveriam de ser adultos na fé, através do conhecimento de Cristo, mas conservam-se numa mentalidade de criança e, já idosos, vivem e morrem ignorantes.

Apenas para exemplo, não entendo o simbolismo que está em ler a Bíblia ao menos uma vez na vida agora recomendado pelo Papa, se nela há tanto para interiorizar, rever e meditar para aquisição da Palavra e a vontade de Deus, mas também para que a nossa fé tenha um sentido inteligente e adulto.

O novo testamento é o tesouro da nossa sabedoria. Luz efectiva e indispensável ao cristianismo; mas, sem essa formação, ficamos sujeitos a todo o tipo de pareceres e teses que despontam insidiosamente de todos os lados.

Temos de ter uma consciência da presença de Deus que age no silêncio, necessariamente orientados e baseados na doutrina de Jesus Cristo.

No silêncio se revelou como no tempo do Patriarca Noé, referido no Livro do Génesis. Noé viveu durante uma época de grande corrupção moral. Homem justo, Noé e sua família foram preservados por Deus do Dilúvio que destruiu os seus contemporâneos.

José Monteiro Morais

8

Segundo as instruções minuciosas de Deus, Noé e seus filhos Sem, Cam e Jafet, construíram uma arca (…) com 450 pés de comprimento, 75 de largura e 45 de altura. Depois de construída, entraram nela com as suas esposas, levando consigo um casal de cada espécie de animais. Veio então o Dilúvio causado por uma chuva que durou 40 dias e quarenta noites (…) e não sobreviveu nenhuma criatura.

(Genesis 6, 5) “O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. O Senhor arrependeu-Se de ter criado o homem sobre a terra e o seu coração sofreu amargamente (…)”

Compreende-se que entre os prevaricadores circulava o Espírito de Deus no silêncio e muitos viram decerto a construção da barca sem nunca atinarem para o que serviria.

Jesus refere na sua evangelização esta situação e diz-nos que a sua segunda vinda obedecerá a contornos semelhantes. Manda-nos vigiar e estar atentos, pois que é coerente o homem esperar por Deus, ocupado nas obras do bem, porquanto esse segredo não nos apanha desprevenidos. É um momento único guardado nos segredos de Deus e que recairá sobre bons e maus, indubitavelmente.

Não imagino se a situação actual do mundo é mais um menos grave que a do tempo de Noé. Contudo vemos que é clamorosa a devassidão e o desinteresse pelos mandamentos de Deus. Quem quiser ver com isenção, achará no meio da degradação geral, um espaço onde Jesus deveria ser conscientemente amado mas, ao contrário, Ele é praticamente desconhecido.

Jesus diz: “Quem não é por Mim é contra Mim”. Estas palavras fortes e solenes hão-de interpelar as consciências daqueles que se sintam aptos e responsabilizados pelo rigor das palavras de Cristo, palavras que decerto não são adequadas aqueles que desconhecem a sua doutrina, talvez por falta de evangelização.

O Senhor sempre nos fala do amor e da unidade na comunhão de pessoas conscientes de um comportamento de serviço agradável a Deus e ao próximo. Mas nós sabemos que não é com métodos superficiais que se criam as comunidades exigidas pela rectidão de Cristo.

Todos sabemos que o nosso cristianismo cultiva o individualismo e se conforma no cumprimento de preceitos.

Jesus entendia que as comunidades deveriam ser abertas e francas entre irmãos, necessariamente fundadas num amor que brota dos corações fiéis à justiça que Ele exige.

José Monteiro Morais

9

Essa unidade não se coaduna com movimentos em despique, criticando-se mutuamente em surdina ou mesmo abertamente. O que sabemos é que Jesus, não é a luz intensa que determina a postura daqueles que se recolhem no seu Corpo Místico.

Disse Ele:

(Jo.17,20): “Eu não rogo somente por eles (os Apóstolos), mas também por aqueles que hão-de crer em mim por meio da sua palavra; para que sejam todos um, como tu, Pai, o és em mim, e eu em ti, para que também eles sejam um em nós, pela união do amor e da fé, afim de que o mundo creia que tu me enviaste Eu dei-lhes a glória que tu me deste (…)” As causas da descristianização galopante que vemos nos cristãos baptizados e na juventude que nem uma frase conhece da doutrina de Jesus, são decerto muitas; mas um dos problemas e não sei se o principal, está nas directrizes ou orientações da Igreja. Evangelizar e fazê-lo, adequadamente. Pessoalmente não descubro na Igreja a submissão correcta a este ensinamento de Jesus Cristo. Disse Ele:

(Mat.20, 25): “Vós sabeis que os príncipes das nações têm o domínio sobre elas, e que os grandes as governam com autoridade. Não será assim entre vós, mas todo o que quiser ser entre vós o maior, seja vosso ministro, e o que quiser ser entre vós o primeiro seja vosso servo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para redenção de muitos.”

Se nós cristãos não sabemos encontrar em Jesus Cristo estímulos que deixem em nós a consciência de sermos verdadeiros cristãos, a nossa forma de estar na sociedade, e consequentemente a evangelização a que estamos obrigados, são inócuas. Penso que a ignorância em que nos permitimos quedar e manter o cristianismo, pode constituir o maior dos erros da Igreja, no âmbito da conversão do mundo.

As palavras certas estão na forma de anunciar a Boa Nova saídas da boca de Jesus Cristo. Quero dizer que as palavras de Jesus são a sabedoria de Deus e é com grande constrangimento e desagrado que vejo a “evangelização” da Igreja Católica a resumir-se a uma homilia erudita ou não, exaltada ou balbuciada, conforme o espírito e a capacidade do sacerdote. Mas é pior quando os místicos concluem (!) que o pão do espírito atenua as necessidades do corpo.

É claro que não é a narração de um evangelho ouvido por um cristão domingo a domingo, que tem o poder da evangelização que Jesus pretendeu.

A evangelização não termina nas obrigações de formar criancinhas, mas impõe-se que acompanhe o homem até à sua morte.

A evangelização não se esgota nos serviços de culto, pelo contrário, serve o homem antes do culto, ainda que o culto seja salutar e desejado

José Monteiro Morais

10

profundamente pela alma humana, para louvor de Deus e consolação dos homens.

Não há nisto ciência nem parecer humano. Apenas a interpretação séria do mando de Jesus:

“Se estiveres apresentando ao altar a tua oferenda e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferenda lá diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão e vem então apresentar a tua oferenda” Mat. 5, 23.

Também não pode ser considerada utopia a palavra que sai da boca de Deus. Disse Jesus:

“Amar a Deus sobre tudo e ao próximo como a nós mesmos”

Poderemos ter estas palavras nos ouvidos a soar como uma “piedosa cantiga”, de tão estafada que está e pessimamente cumprida. Mas estes dois mandamentos saíram da boca de Cristo e constituem a sabedoria total do cristianismo.

Muitos homens responsáveis resolveram considerar estes dois mandamentos “uma utopia” quando deviam lutar por eles com humildade e fazer deles a base de todo um trabalho de evangelização e acção em cada paróquia.

É claro que estes mandamentos exigem, decididamente, trabalho e determinação e mudariam os métodos e formas de estar neste cristianismo superficial em que nos quedamos.

O cristianismo não é próprio das filosofias de massas. No meio de um mundo cada vez mais paganizado, o cristianismo tem de ser acolhido na intimidade daqueles que pessoal ou colectivamente regem a sua vida pela fidelidade às leis de Deus.

Essa intimidade e esse respeito custou o sofrimento e a morte de Cristo e tem de servir de medida para os Apóstolos. Seja como for, a orientação que vem de Cristo é viver e raciocinar em comunidades de amor.

Contrariamente, os que têm as suas concepções de vida no materialismo e na anarquia dos sentimentos humanos, adquirem o poder que lhe é próprio, deturpando e enganando a sociedade, mas jamais dominarão a mística de uma comunidade que confie em Cristo.

Quando comecei este trabalho tinha na ideia escrever meditando para meu recolhimento e recreio, pois que me sinto bem a meditar em Deus. É um hábito que tenho de há muito e porque a doutrina de Jesus expressa nos evangelhos me empolga pela clareza e precisão de uma resposta única à vida humana. Não olho para as palavras de Jesus como se nelas estivesse um apoio religioso, mas sim a palavra humana de Cristo votada a descobrir inteligentemente o que Deus pretende de nós.

José Monteiro Morais

11

Apenas é correcto amar o que se conhece. Ainda que não conheçamos o Senhor Criador dos Céus e da Terra, temos seguros motivos para O amar, pois que O conhecemos, na pessoa de Jesus: “Quem Me vê, vê o Pai.” Disse Jesus.

Mas Jesus deu-nos preciosas referências que nos encantam.. Disse Jesus à samaritana:

(Jo. 4, 21):“Mulher, crê que é chegada a hora em que não adorareis o Pai, nem neste monte, nem em Jerusalém, mas em qualquer lugar. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque dos judeus é que conhecemos. Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. Porque é desses adoradores que o Pai procura. Deus é espírito; e em espírito e verdade é que o devem adorar os que o adoram (…)

Ao vermo-nos familiarizados com o Senhor que nos ouve e ama, é natural que a nossa vida cristã reflicta o nosso estado de alma, necessariamente através da doutrina de Jesus Cristo.

Mas há outra extraordinária referência, neste caso descrita nas profecias de Oséias que me parece uma autêntica revelação surpreendente, como se o profeta conhecesse intimamente o próprio Deus, falando do amor indescritível que Ele nos tem.

Diz o profeta: (Oséias 11, 8) Quando Israel era ainda menino, Eu o amei, e chamei do Egipto o meu filho.

Mas, quanto mais os chamei, mais se afastaram; ofereceram sacrifícios aos Baals e queimaram oferendas aos seus ídolos.

Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços mas não reconheceram que era Eu Quem cuidava deles.

Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como a espuma que acariciava as suas faces, e dei-lhes alimento.

Ele voltará para o Egipto e o assírio será o seu rei, porque recusou converter-se.

A espada devastará as suas cidades, destruirá seus filhos, os quais colherão o fruto das suas obras.

O meu povo é inclinado a afastar-se de mim; quando se convida a subir ao que está no alto, ninguém procura elevar-se.

Como te abandonarei, ó Efraim?

Entregar-te-ei, ó Israel?

Como poderia eu tratar-te como Adamá, ou tornar-te como Seboim?

O meu coração dá voltas dentro de mim,

Comove-se a minha compaixão.

José Monteiro Morais

12

Não desafogarei o furor da minha cólera,

Não destruirei Efraim;

Porque sou Deus e não um homem, sou santo no meio de ti,

E não gosto de destruir.

Eles seguiram o Senhor, que rugirá como um leão,

Quando ele rugir, virão pressurosos, os filhos do ocidente.

Virão do Egipto como aves,

E da Assíria como uma pomba;

Eu os farei habitar nas suas casas,

-oráculo do Senhor.

Se procurarmos Deus, achá-lo-emos. Indispensável é assumi-Lo nas nossas vidas e esperar que Ele se manifeste, o que já faz com os bens que nos proporciona.

É importante e decisivo acreditar que o caminho para Deus está no cumprimento da doutrina de Jesus. “Ninguém vai ao Pai senão por Mim”; disse Jesus.

Desde já queria dizer que a força das palavras de Jesus têm em si todo o poder dos céus; mas essa força apenas se mostrará forte no mundo se a nossa fé e as nossas obras mostrarem esse poder.

Decerto que não estou a falar de uma fé particular qualquer, mas a fé que se apoia no próprio Jesus.

Diz Ele: “Eu sou o pão vivo descido do Céu”

Da origem de Jesus, diz o Apóstolo Evangelista S. João, 1,1): No princípio era o Verbo, e o verbo estava em Deus. Ele estava no princípio em Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele e nada do que foi feito, foi feito sem Ele. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. Disse Jesus (Jo. 6,35): “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, não terá jamais fome; e o que crê em mim não terá jamais sede (…)”

Os judeus, incrédulos e mesmo indignados com tais palavras, argumentavam: «Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo está escrito: Deu-lhes a comer o pão do céu1. E Jesus respondeu-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: Não vos deu Moisés o pão do céu, mas meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do céu. Porque o

1 Moisés chamou pão do céu ao maná que todos os dias caia sobre o acampamento. Moisés é o Patriarca que tirou o povo hebreu da escravidão do Egipto e o conduziu pelo deserto, a caminho da terra prometida

José Monteiro Morais

13

pão de Deus é o que desceu do céu, e dá a vida ao mundo. Eles, pois, disseram: Senhor dá-nos sempre desse pão”.

Ao invocar estas palavras de Jesus parece-me bem abrir um parêntesis para referir a comunhão que fazemos do Corpo de Cristo.

Não será para esboçar sequer qualquer reparo, mas apenas para fazer uma pequena meditação sobre o Corpo de Cristo, mistério de fé. Diria que não será assim tão simplesmente mistério de fé. Cristo é Deus e estamos a fazer o que Ele nos mandou.

É certo que o que vemos é apenas um disco branco e ainda agravado talvez pela rotina que fazemos da comunhão. Podemos estar a correr o risco de passar por cima do valor intrínseco da hóstia que tomamos.

Será bom recordar o que aconteceu momentos antes do martírio a que Jesus estava prestes a ser submetido pelos algozes e ainda na intimidade da Ultima Ceia com os seus queridos apóstolos, proferiu estas palavras:

(Luc 22,14): “ chegada que foi a hora pôs-se Jesus à mesa, e com ele os doze Apóstolos. E disse-lhes: tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer; porque vos digo que não mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus. E depôs de tomar o cálice, deu graças e disse: Tomai e distribui-o entre vós, porque vos declaro que não tornarei a beber do fruto da vide até que chegue o reino de Deus. E depois de tomar o pão, deu graças, e partiu e dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Da mesma sorte tomou o cálice depois de cear, dizendo: Este cálice é o novo testamento em meu sangue, que será derramado por vós”

Na Igreja só a hóstia consagrada é Vida. É preciso que a nossa fé e a nossa confiança saibam aliar aquele pão ao Jesus que no-lo mandou transformar Nele mesmo.

É preciso que as palavras de Jesus sejam acolhidas como se Jesus no-las dissesse a nós próprios.

Jesus falou e sentiu-nos ao nível da nossa humanidade devidamente adulta, idónea.

Tudo começa em Jesus Cristo e tudo reverte para Ele. Só Ele é Vida na Qual se haverão de basear os nossos projectos e aspirações. Ele disse: (Marc.8, 34): “Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Porque quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por Mim e pelo Evangelho, salvá-la-á. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Pois quem se envergonhar de Mim e das minhas palavras diante desta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos”.

José Monteiro Morais

14

O Rigor de Jesus

Há dois momentos na evangelização de Cristo proferidos na intimidade com os Apóstolos que tenho especial agrado em transcrevê-los neste trabalho.

(Marc. 8,27): “Jesus partiu com os seus discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho fez-lhes esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou? Disseram-Lhe, João Baptista; outros Elias, e outros que És um dos profetas». E vós quem dizeis que Eu sou? – Perguntou-lhes. Tomando a palavra, Pedro respondeu: «Tu és o Cristo». Ordenou-lhes, então, que não dissessem isto a ninguém”.

Também de S. Marcos (8, 31): “Começou, depois, a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito, e ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas, e ser morto, e ressuscitar depois de três dias”.

Poderia eu partir desta vida em silêncio, a pensar que fui cristão e que por isso teria direito à entrada no seio de Deus? Talvez, se não soubesse destes ensinamentos de Cristo. Mas, uma vez instruído pela Doutrina tudo deverei fazer pela verdade e transparência que garantem a certeza da vontade Deus. É pois meu dever anunciá-la, principalmente através do meu testemunho de vida.

“Passará o Céu e a Terra mas as minha palavras não passarão”. Ele o Salvador, o Deus que noite e dia observa a humanidade, também Ele, na pessoa de Jesus, chorou ao prever a destruição de Jerusalém.

(Luc. 19, 41): “Quando se aproximou, ao ver a cidade, chorou sobre ela e disse: Se neste dia tivesses conhecido, tu também, O que te pode trazer a paz! Mas isto ficou oculto aos teus olhos. Virão dias para ti em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, sitiar-te-ão e estreitar-te-ão de todos os lados: hão-de esmagar-te contra o solo, bem como a teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que foste visitada. Depois entrando no Templo, começou a expulsar os vendedores dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa será casa de oração; mas vós fizestes dela um covil de ladrões ( … )”.

Mas Jesus veio para salvar.

Um dia, nas deslocações de terra em terra, aconteceu o seguinte: (Luc.19, 1-10): “Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de publicanos. Procurava ver Jesus e não podia por causa da multidão, por ser de pequena estatura. Correndo à frente subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali. Quando chegou aquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, pois tenho de ficar em tua casa. Ele deseu imediatamente e recebeu-O cheio de alegria. Ao verem aquilo, murmuravam todos entre si, dizendo que tinha ido hospedar-Se em casa de um pecador. Zaqueu, de pé disse ao Senhor: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres, e, se defraudei alguém em qualquer

José Monteiro Morais

15

coisa, devolver-lhe-ei quatro vezes mais. Jesus disse-lhe Veio hoje a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão; pois o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

Disse Jesus (Mat. 6, 24): “ Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há-de afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.

Portanto vos digo: não andeis demasiadamente inquietos nem com o que vos é preciso para alimentar a vossa vida, nem com o que vos é preciso para vestir o vosso corpo. Por ventura não vale mais a vida que o alimento, e o corpo mais que o vestido? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem fazem provisão nos celeiros, e contudo o vosso Pai celeste as sustenta. Por porventura não sois vós muito mais que elas? E qual de vós, por muito que pense, pode acrescentar um côvado à sua estatura? (…)”

Ao passarmos por um caminho que não conhecemos, ficamos extremamente agradados e agradecidos a quem pôs sinais claros e bem definidos, os quais nos dão a segurança e a certeza de chegar ao destino.

Este evangelho é isso mesmo. Não há que enganar.

«Não se pode servir a Deus e à riqueza»

Jesus refere a natural fragilidade do nosso ser: «Qual de vós pode acrescentar um côvado à sua estatura?» E diz-nos: “Sem mim nada podeis”

Invoco estas palavras para dizer que só com Jesus pode haver verticalidade no cristianismo que dizemos ter assumido.

Podemos enganar a sociedade é há muitos a enganar os homens; mas a Deus não, evidentemente.

Disse Jesus (Mat. 21,28): “Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: «Filho vai hoje trabalhar na vinha». Mas ele respondeu: «Não quero». Mais tarde porém, arrependeu-se e foi. Dirigindo-se ao segundo, falou-lhe do mesmo modo, e ele respondeu: «Vou sim. Senhor»; mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? «O primeiro» responderam eles. Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as meretrizes preceder-vos-ão no reino de Deus. João veio até vós ensinando-vos o caminho da justiça e não acreditastes nele. E vós vendo isto, não vos arrependestes, crendo nele”.

As palavras de Jesus são um permanente convite à elevação do espírito da verdade e nós estamos no tempo das conquistas e das condenações.

S. João Baptista o precursor de Messias, dizia aos Judeus: (Mat. 3, 10): “Já o machado está posto à raiz das árvores. Toda a árvore, pois, que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo”. (…)

Mas Jesus, sendo justo é também misericordioso e não deixará sem ajuda o último dos homens que, de algum lado longínquo clame pelo seu perdão e Lhe peça socorro.

José Monteiro Morais

16

Palavras de Jesus ( Luc. 13, 6): -Disse-lhe também a seguinte parábola «Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar a fruta que nela houvesse, mas não a encontrou. Pelo que disse ao encarregado da vinha: Há três anos que venho procurar fruta nesta figueira e não a encontro. Corta-a; para que está ela a ocupar a terra? Mas ele respondeu: Senhor deixa-a ainda este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, cortá-la-ás».

Recompensa dos que seguem Jesus

(Mat. 19,27): Então Pedro tomando a palavra disse-lhe: Eis que abandonamos tudo e te seguimos; que haverá então para nós? E Jesus disse-lhes: Em verdade, em verdade vos digo, que no dia da regeneração, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da sua majestade, vós que me seguistes, também estareis sentados sobre doze tronos, e julgareis as doze tribos de Israel. E todo o que deixar a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou os campos, por causa do meu nome, receberá o cêntuplo, e possuirá a vida eterna. E muitos primeiros serão os últimos, e muitos últimos serão os primeiros”.

Jesus exige claramente de nós toda a boa vontade, toda a inteligência e tudo o mais que nos identifique com a condição de servos de Deus, herdeiros do seu Reino.

Jesus não fala de sentimentos nem emoções e sim de atitudes concretas em que servir a Deus é o princípio do qual há-de partir todo o nosso projecto, e o empenho absoluto de lhe agradar. É Jesus que nos leva a este estado de espírito. Não há nisto engano nem fantasia.. Quantos de nós poderemos ser os últimos e quantos de nós poderemos ser os primeiros.

O cenário que povoa o meu cérebro é perceber e sentir que Jesus é a Luz do Mundo, e é essa luz que todos distinguiremos num certo tempo com toda a nitidez, visto que nada haverá neste mundo que impeça tal brilho.

Por ora os nossos olhos e os nossos corações sentem-se num emaranhado de cumplicidades com o erro e nada despertos para a regeneração, antes quedados num marasmo e ignorância nada condizentes com a palavra do Evangelho.

Olhando para a exactidão das palavras do evangelho, parece haver duas igrejas: uma que personifica a pessoa de Jesus Cristo e que por isso anseia implantar-se sobre a terra e outra que se impõe apoiada no fabrico humano de medidas que distorcem a verdadeira identificação com Jesus Cristo.

José Monteiro Morais

17

Não é pois o tempo em que se distinga a Luz de Cristo. Mas se o cristianismo fosse de facto a verdade de Cristo em nós, essa luz refulgiria no espírito e nas acções como a estrela da manhã num céu puro e radioso.

O estímulo é forçosamente o sentimento de alegria que entra na alma daqueles que se deparam habitualmente com a passagem da gloriosa ressurreição de Cristo.

Jesus deu-nos os meios para que saibamos entender o que é a sua verdade nesta via-sacra por que temos de passar e os meios de viver a sua palavra são de sofrimento, austeridade, muito mais de acordo com os que sofrem neste mundo.

A nossa disponibilidade para a verdade de Cristo está sem dúvida na justiça e no carinho pelo próximo, está na semelhança com o Jesus pobre, isento e activo como se mostrou ao mundo. Mas não consigo identificar essa semelhança nos homens da Igreja.

A evangelização dos próprios crentes ainda não conseguiu despertar para as palavras que definem a fé em Jesus Cristo. Essa palavra de formação constante e adequada que dá forma e consistência à nossa fé, não foi ainda posta em prática. Se o conhecimento para uma fé inteligente e esclarecida é a Boa Nova, não é o encanto do título, que substitui o trabalho árduo e objectivo que o apostolado exige. Também não é o esplendor dos artefactos nem a religião que têm o poder de salvar, mas sim o trabalho que possamos definir com Jesus Cristo. Ele e o nosso trabalho, principalmente pela causa dos fracos, é que determinarão o cristianismo dos evangelhos.

Ainda que as questões aqui referidas, nem sequer tenham solução, pois que, para o efeito, a Igreja teria de se submeter à pobreza e fidelidade absolutas a Cristo, e o que me faz reagir é exactamente a profundidade da doutrina de Jesus que me passa pela mente e que eu não posso calar.

O que transcrevo a seguir teria de ser observado e venerado por todo o cristão e daí aferir da sua posição perante o rigor da verdade de Cristo.

(Jo. 3,1): “ Ora, havia um homem da seita dos fariseus chamado Nicodemos, um dos principais entre os judeus. Este foi ter com Jesus, de noite e disse-lhe: Mestre sabemos que foste enviado por Deus para ensinar; porque ninguém pode fazer estes milagres que tu fazes se Deus não estiver com ele. Jesus respondeu e disse: Em verdade, em verdade te digo que não pode ver o reino de Deus senão aquele que nascer de novo. Nicodemos disse-lhe: Como pode um homem nascer sendo velho? Porventura pode tornar no ventre de sua mãe e renascer? Respondeu-lhe Jesus. Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer por meio do baptismo da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do espírito é espírito (…)

José Monteiro Morais

18

Distingo o Jesus que veio do céu para ensinar, e afanoso, vemo-Lo falando da importância da sua sabedoria para indicar a alguém o que são os requisitos dos caminhos que levam ao Reino de Deus.

Disse Jesus: (Luc. 6, 20):

“Erguendo os olhos para os discípulos, pôs-se a dizer:

Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus.

Bem-aventurados vós os que agora tendes fome, porque sereis saciados.

Bem-aventurados os que agora chorais, porque haveis de rir.

Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, quando vos expulsarem, vos insultarem e rejeitarem o vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem.

Alegrai-vos e exultai nesse dia, pois a vossa recompensa será grande no céu.(…)

Mas não é fácil acolher Jesus como Ele próprio exige.

Muitos quiseram segui-Lo e não tiveram coragem e disponibilidade para isso.

Apresentaram a Jesus as suas razões e Jesus mostrou-lhes que para O seguir lhes exigia uma disponibilidade total. Um deles pedia-lhe para esperar por ele pois que tinha de fazer o funeral do pai.

Disse Jesus: (Luc. 9, 57): “Enquanto iam a caminho, disse-lhes alguém: «seguir-te-ei para onde quer que fores». Jesus respondeu-lhes: «As raposas têm covas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça». Disse a outro. «Segue-Me». Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus». Disse-lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei Senhor, mas deixa que primeiro vá despedir-me dos meus. Jesus respondeu-lhe: «Quem depois de deitar a mão ao arado, olha para trás, não é apto para o Reino de Deus».

Transcrevo os evangelhos na íntegra, pois que se alguém ainda não leu a Bíblia e se em algum momento passar os olhos por este livrinho, sempre deparará com algumas palavras fundamentais ditas pelo próprio Jesus Cristo.

Há muitíssimas referências da doutrina de Jesus que constituem uma base salutar para que nos sintamos unidos a Deus. Além da fé, temos a própria palavra de Jesus que nos garante total confiança. “Não vos deixarei órfãos” ou “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome Eu estarei no meio deles”. Disse Jesus.

José Monteiro Morais

19

Pedido impróprio

«Senhor, fazei que sejamos uma comunidade de amor, Senhor fazei que nos sintamos irmãos uns dos outros!»

No meu modo de ver são pedidos que não têm coerência, porque as coisas que têm de ser realizadas pela actividade humana, não será Deus que as há-de fazer. São pedidos que nada mudam pois que, se o nosso trabalho estivesse imbuído de zelo e da verdade de Jesus como se lê: (Mat.12,30): “Quem não é comigo, é contra mim; e quem não junta comigo, desperdiça”, esse milagre da união de irmãos, despontaria do trabalho apostólico, desenvolvido nas paróquias, à luz do evangelho seguinte:

Disse Jesus ensinando-nos: (Mat. 5,23,24 como já referi atrás, qualquer outro comportamento não condiz com o evangelho.

Com que lógica nós desejamos que as nações ricas repartam com as pobres os seus recursos, se nas nossas paróquias, os ricos não têm essa noção de partilha!? O nosso cristianismo mente aos pobres.

Sabemos que nações não se regem pelo amor; mas os cristãos deveriam ter a noção do próximo, de acordo com a doutrina que dizem professar.

Jesus mostrou-se feliz ao ver o poder de Deus agora exercido pelos seus Apóstolos.

(Luc 10, 17): E os setenta e dois voltaram alegres, dizendo: Senhor, até os demónios se nos submetem em virtude do teu nome. E ele disse-lhes: Eu via a Satanás cair do céu como um relâmpago. Eis que vos deu poder de calcar serpentes e escorpiões e de vencer toda a força do inimigo; e nada vos fará dano. Contudo não vos alegreis porque os espíritos maus vos estão sujeitos, mas alegrai-vos porque os nossos nomes estão escritos no céu.”

(Luc. 10,21): Naquela mesma hora exultou Jesus sob o impulso do Espírito Santo e disse: Graças te dou ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos prudentes e as revelaste aos pequeninos. Assim é, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. E ninguém sabe quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho quiser revelar. E, tendo-se voltado para os seus discípulos, disse: Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes. Porque eu vos afirmo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e não viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”.

Porém, a falta de verdade em relação ao evangelho, é ludibriada pela enorme maioria dos que, supostamente, nos consideramos herdeiros do Reino de Deus, deveríamos ser o sal da terra que Jesus tanto desejou no seu coração.

José Monteiro Morais

20

Todos sabemos que não há semelhança entre o nosso cristianismo e o que Jesus nos pede e recomenda; mas a justiça de Deus, proclamada sobre o mundo anunciada e exigida por Jesus, tem de prevalecer.

Sabemos que Deus deverá ser servido com verdade, quer por amor à terra, aos céus, ao Universo, quer pelo bem-estar dos homens. Estes porém mostram-se cada vez mais distantes dos preceitos da salvação, embandeirando a sua arrogância.

Mas o mundo não pode invocar a ignorância porque Jesus ensinou e nós compreendemos. Sinto-me tremer se essa ignorância for causada pela falta de evangelização. Isso seria a maior desilusão do nosso comportamento quando nos encontrarmos diante de Jesus.

Por vezes sinto-me confrontado cá nos meus pensamentos com questões extremas em que um ser humano é capaz de praticar a maior das purezas e o mesmo ser capaz de praticar os crimes mais abjectos, mais diabólicos!

É obvio que não conheço os segredos que envolvem o homem, nem a intervenção do poder do mal.

O que sei é o que Jesus me ensinou e nada mais. Também, no meu entender, ninguém me poderia ensinar o que quer que fosse. Mas não há nenhum mistério no que nos cabe saber. Tudo é lógico em Jesus.

(Luc 11,14): “ Jesus estava a expulsar um demónio mudo. Quando o demónio saiu o mudo falou e a multidão ficou admirada. Mas alguns dentre eles disseram: «É por Belzebu,o príncipe dos demónios, que ele expulsa os demónios». Outros para o experimentarem, pediram-lhe um sinal do Céu. Mas Jesus que conhecia os seus pensamentos disse-lhes: «Todo o reino dividido contra si mesmo será devastado e cairá casa sobre casa». Se Satanás também está dividido contra si mesmo, como há-de manter-se no seu reino? Pois vós dizeis que é por Belzebu que Eu expulso os demónios, por quem os expulsam os vossos filhos? Por isso eles mesmos serão vossos juízes. Mas se eu expulso os demónios pelo dedo de Deus, então quer dizer que o reino de Deus chegou a vós. Quando um homem forte e bem armado guarda o seu palácio, os seus bens estão em segurança; mas se aparece um mais forte e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos. Quem não está Comigo está contra Mim, e quem não junta Comigo dispersa.

Quando o espírito imundo sai dum homem, vagueia por sítios áridos em busca de repouso, e não o encontrando, diz: Voltarei para minha casa, de onde saí. Ao chegar, encontra-a varrida e arrumada. Vai então e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele; e, entrando, instalaram-se ali; E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro».

Sei que qualquer pessoa pode emergir do pior dos pecados para se dirigir aos caminhos da graça devido ao poder de Deus; mas as normas indicadas naquele evangelho foram dirigidas à nossa própria observação.

José Monteiro Morais

21

E porque o assunto é um alvo crucial em que é obrigatório meditar, achei por bem transcrever uma outra explicação de Jesus que diz o seguinte: (Jo. 12, 44): “Erguendo a voz, Jesus disse: Quem acredita em Mim, não é em Mim que acredita mas n’Aquele que me enviou; e quem Me vê a Mim, vê Aquele que Me enviou. Eu vim como luz ao mundo para que todo aquele que crê em Mim não pereça nas trevas. Se alguém ouvir as minhas palavras e as não guardar, não sou Eu que o condeno porque não vim para condenar o mundo, mas para o salvar. Quem Me rejeita e não acolhe as Minhas palavras, tem quem o condene. A palavra que anunciei é que há-de condená-lo no último dia. Porque Eu não falei de Mim mesmo; o Pai que me enviou, foi quem determinou o que devo dizer e anunciar. Eu sei que o Seu mandamento é vida eterna. Portanto, as coisas que digo, digo-as como o Pai Mas comunicou a Mim».

Jesus pensa também naqueles que vivem amando-o noite e dia.

É o espaço daqueles que se albergam e formam o seu corpo místico. Há para estes uma noção de protecção, ainda que o mundo, atormente a todos com as suas convulsões. Disse Jesus: (João 16, 16): “Digo-vos isto para terdes paz em mim; no mundo tereis aflições, mas tende confiança! Eu venci o mundo”.

José Monteiro Morais

22

SEGUNDA PARTE

Como preparação para o assunto que espero tratar na segunda parte

deste pequeno livro, ocorre no meu espírito a ideia que tenho da Nova Terra, o Reino de Deus, e que Jesus conquistou para nós.

Diz o profeta Isaías. (60, 18):

A Jerusalém celeste

“ Não se ouvirá mais falar de iniquidade na tua terra, nem haverá assolação nem ruína dentro das tuas fronteiras; e a salvação reinará dentro dos teus muros, e o louvor dentro das tuas portas. Tu não terás mais necessidade do sol para luzir de dia, nem do resplendor da lua para te alumiar; mas o Senhor te servirá de luz eterna, e o teu Deus será a tua glória. Não mais se porá o teu sol, e a tua lua não minguará: porque o Senhor te servirá de luz eterna e terão acabado os dias do teu pranto. Todo o teu povo será um povo de justos; eles possuirão a terra para sempre, como vergônteas que eu plantei, e como obras que a minha mão fez para me glorificarem. O menor deles valerá por mil, e o mais pequeno, por uma nação poderosa. Eu o Senhor, a seu tempo farei tudo isto subitamente.

Quanta riqueza a nossa fé descobre na sabedoria divina, como acontece neste caso: a invocação do profeta Isaías!

Sabemos que todo o poder foi dado a Jesus e é por Ele que todo este bem celeste nos é reservado. É nosso. É a cura de todos os nossos males. É a redenção. Felizes daqueles a quem sua alma cresce e se eleva ao ouvi-las e as guarda.

No seguimento das maravilhas que Deus realiza ao nível da nossa inteligência, uma das maiores é a criação da Pessoa da Virgem Maria, colocada pelo próprio Deus, no processo da salvação.

Ela, que é a Mãe de Deus, logo foi anunciada, também pelo próprio Deus ao dizer ao demónio.

(Génesis, 3, 14): E o Senhor disse à serpente: Pois que fizeste isto, és maldita entre todos os animais e bestas da terra; andarás de rastos sobre o teu peito, e comerás terra todos os dias da tua vida. Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar.

Palavras de Deus e mencionadas no Livro do Génesis por Moisés. Mas nós vimos, ou nos contaram, testemunhas oculares que viveram tais maravilhas e que igualmente vibram no nosso coração. Nós somos contemporâneos de Jesus e de sua Mãe.

José Monteiro Morais

23

Tempo de glória e exaltação de uma fé que nos proporciona esta condição sublime de sermos cristãos, portanto inseridos conscientemente na continuidade dos planos divinos.

Antes de continuar com o meu raciocínio relativamente a Nossa Senhora, quererei fazer uma certa meditação:

O Senhor dos céus veio para destruir o mal que nos envolve, deu lugar ao seu reino na terra para aqueles que ouvirem a sua voz, mas vimos que a justiça do Senhor foi obtida através do sofrimento.

Na verdade achamos que sobressai uma grande alegria espiritual nos corações das pessoas que se entregam ao serviço dessa justiça, pelo que se tornam, necessariamente colaboradoras directas da obra do Reino de Deus.

A Virgem Mãe é causa da maior alegria na terra e nos céus, ao aceitar e tornar-se a Mãe de Deus, a partir da anunciação do anjo.

A Virgem Maria foi desde logo visitar sua prima Isabel e esta ao vê-la, (Luc 1.42): (…) exclamou em alta voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre. E donde a mim esta dita, que a mãe do meu Senhor venha ter comigo? Porque, logo que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino exultou de alegria no meu ventre. E bem-aventurada tu, que creste, porque se hão-de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas”.

Magnificat

(Luc. 1,46): “Então Maria disse: A minha alma glorifica o Senhor; e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu salvador. Porque lançou os olhos para a baixeza da sua escrava; portanto eis que, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada. Porque fez em mim grandes coisas aquele que é poderoso, e cujo nome é santo. E cuja misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Manifestou o poder do seu braço, dissipou aqueles que se orgulhavam nos seus pensamentos do seu coração. Depôs do trono os poderosos, e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos. Tomou cuidado de Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia; conforme tinha dito a nossos pais, a Abraão e à sua posteridade para sempre. E ficou Maria com Isabel cerca de três meses, e depois voltou para sua casa.”

A Virgem Mãe desde logo aceitou ser serva da vontade do Altíssimo tal como fora anunciada pelos profetas.

Sabemos que há um só Deus e uma só salvação. Estes são os dois elementos que verdadeiramente nos interpelam a alma. Neste sentido, os que têm a noção e a graça de mergulhar nessa obra divina, sentem ânsias de crescimento e de vitória, tão profunda e premente a relação que se sente com as coisas de Deus.

José Monteiro Morais

24

Naturalmente que toda a força e desvelo que fazer a vontade de Deus está necessariamente em Jesus Cristo; mas essa vontade sagrada chega abundantemente ao coração dos homens.

É o que ocorre no espírito do profeta Isaías imbuído do Espírito acerca de Jesus, muitos anos antes da vinda do Messias ao mundo.

(50, 4) O Messias não será vencido pelos seus sofrimentos. “O Senhor deu-me uma língua erudita, para eu saber sustentar com a palavra o que está cansado; ele me chama pela manhã, pela manhã chama aos meus ouvidos, para que eu o ouça como a um mestre. O Senhor Deus abriu-me o ouvido, e eu não o contradigo; não me retirei para trás. Eu entreguei o meu corpo aos que me feriam, e a minha face aos que me arrancavam a barba; não desviei a minha face dos que me injuriavam e cuspiam. O Senhor Deus é meu protector, por isso não fui confundido; e por isso ofereci a minha face como uma pedra duríssima, e sei que não ficarei envergonhado. Ao pé de mim está quem me justifica; quem me contradirá? Apresentemo-nos juntos, quem é o meu adversário? Aproxime-se de mim. O Senhor Deus é o meu protector; quem há que me condene? Eis que serão todos consumidos como um vestido; a polilha os comerá. (…)”

Esta é uma das profecias de Isaías, cuja precisão mais parece de alguém que foi testemunha ocular dos sofrimentos que os homens causaram a Jesus Cristo!

(Luc. 2, 22): “E depois que foram concluídos os dias da purificação de Maria, segundo a lei de Moisés levaram-no (o menino Jesus) a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o varão primogénito será consagrado ao Senhor; e para oferecerem em sacrifício, conforme o que também está escrito na lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos.

Ora havia então em Jerusalém um homem chamado Simeão, e este homem era justo e temente a Deus, e esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. E tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte, sem ver primeiro o Cristo (o ungido) do Senhor. E foi ao templo conduzido pelo Espírito de Deus, E, levando os pais o Menino Jesus, para cumprirem segundo o costume da lei a seu respeito, ele também o tomou em seus braços e louvou a Deus, dizendo: Agora Senhor, deixas partir o teu servo em paz, segundo a tua palavra; porque os meus olhos viram a tua salvação, a qual preparaste ante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações e glória de Israel teu povo.

E seu pai e mãe estavam admirados das coisas que dele se diziam. E Simeão os abençoou e disse a Maria sua mãe: Eis que este menino está posto para ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição e uma espada trespassará a tua alma, a fim de se descobrirem os pensamentos escondidos nos corações de muitos. (…)

Sobre este momento da vida da Virgem Mãe, de S. José, juntamente com Menino, vem-me à mente virtudes como a humildade e simplicidade das pessoas que no meio comum vivem a vida em atenção constante pela vontade de Deus.

José Monteiro Morais

25

Esse amor, essa dedicação, esse zelo, transparecem também em S. Lucas quando no sentido mais humano, decidiu escrever o seu evangelho. Imagino-o no seu cuidado e esmero à procura dos dados seguros que constituiriam no seu evangelho. (para que conhecêssemos a verdade das coisas em que fomos instruídos.) Palavras escritas com um sentido que me encanta.

Diz ele: «Visto que muitos já empreenderam pôr em ordem a narração das coisas que entre nós se cumpriram, como no-las referiram os que desde o princípio, as viram e foram ministros da palavra, pareceu-me bom também a mim excelentíssimo Teófilo, depois de ter investigado diligentemente tudo desde o princípio, escrever-te por ordem a sua narração, para que conheças a verdade das coisas em que foste instruído»

Desvanece-me a alma, pensar que o Apóstolo decidiu escrever sobre o que indagou e o que viu, “para que a nossa fé fosse segura e idónea”; louvo a Deus pelo facto dos evangelistas decidirem, em tempo, escrever os seus testemunhos.

Aqui estamos a imaginar o Apóstolo a pesquisar tudo minuciosamente, imbuído de contínua intimidade espiritual com o Senhor, escrevendo mais esta passagem da vida de Maria:

(Luc. 1, 26): “E, estando Isabel no sexto mês, foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. E entrando o anjo onde ela estava, disse-lhe: Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.

E ela, tendo ouvido estas coisas turvou-se com as suas palavras, e discorria pensativa que saudação seria esta. E o anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó; e o seu reino não terá fim.

Maria disse ao anjo: como se fará isso, pois eu não conheço varão? E respondendo o anjo disse-lhe: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. E por isso mesmo o santo que há-de nascer de ti, será chamado Filho de Deus. Eis que também Isabel, tua parenta concebeu um filho na sua velhice; e este o sexto mês da que se diz estéril; porque a Deus nada é impossível. Então disse Maria: Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.”

Isto passava-se num dos dias correntes daquele tempo único, para uma Mulher prometida por Deus, distantes anos atrás. A Mulher capaz de “esmagar a cabeça da serpente e que esta não teria poder nenhum contra ela”.

Desta virgem diz o profeta Isaías, cerca de setecentos anos antes, quando assinalava uma visão perante ao rei Acaz.

José Monteiro Morais

26

A grande Profecia da Virgem Mãe

(Isaías 7, 10): “E o Senhor continuou a falar com Acaz, dizendo: Pede para ti ao Senhor teu Deus um sinal quer no fundo da terra, quer no mais alto do céu. E disse Acaz. Não pedirei tal, nem tentarei ao Senhor. E Isaías disse: Ouvi pois casa de Davi: Porventura não vos basta ser molestos aos homens, senão que também ousais sê-lo ao meu Deus? Pois por isso o mesmo Senhor vos dará este sinal: Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel. Ele comerá manteiga e mel, até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem. Porque antes que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra que tu detestas, será desamparada por causa dos seus dois reis”.

Também este profeta, referindo-se a este menino (Emanuel, que quer dizer Deus connosco) e a uma virgem que o conceberá e dará à luz, é o Filho de Deus que o anjo disse que nasceria do ventre da Virgem Maria.

Agora dizemos e sentimos estas coisas com total conhecimento pois que, se a profecia de Isaías foi sentida e escrita setecentos anos antes do nascimento de Cristo, nós somos contemporâneos, seja de Jesus, de sua Mãe e dos Apóstolos os quais nos deram as preciosas notícias. Felizes somos por tais circunstâncias.

Como S. João diz, muito há que dizer sobre Jesus Cristo. Por mim parece-me que deveríamos invocá-Lo e segui-Lo em todos os dias da vida, apenas baseados nos seus feitos e na sua palavra. Veríamos que nem a vida inteira chegaria para concluir e definir tantas maravilhas.

Ainda quererei referir alguns apontamentos da vida da Virgem Mãe, serva que Deus concebeu na origem, para realização da sua própria vontade.

(Luc.8, 19) “ E foram ter com ele (Jesus), sua mãe e seus irmãos, e não podiam aproximar-se dele por causa da multidão. E foram dizer-lhe: Tua mãe e teus irmãos, estão lá fora, e querem ver-te. E ele, respondendo, disse-lhes Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus, e a praticam.”

(Jo. 19, 25): “Entretanto estavam de pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe, e a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria Madalena, Jesus, pois, tendo visto sua Mãe e o discípulo que ele amava, o qual estava presente, disse a sua Mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe. E desta hora por diante, a levou o discípulo para sua casa.

Penso que quem estiver a escutar e a discernir o que será a vontade de Deus sobre nós e sobre este mundo, saberá encontrar em Jesus e sua Mãe, o sentido profundo da morte do Crucificado.

Vou terminar este trabalho com a narração do Natal de Cristo, segundo nos conta o Evangelista S. Lucas.

José Monteiro Morais

27

Nascimento de Jesus

(Luc. 2, 1): “E, naqueles dias, saiu um édito de Cesar Augusto para que fizesse o recenseamento de todo o mundo. Este primeiro recenseamento foi feito por Cirino, governador da Síria: E iam todos recensear-se cada um à sua cidade. E José foi também da Galileia, da cidade da Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi, que se chamava Belém, porque era da casa da família de Davi para se recensear juntamente com Maria sua esposa que estava grávida.

E, estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz. E deu à luz o seu filho primogénito, e o enfaixou, e reclinou numa manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem.

Ora naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. E eis que apareceu junto deles um anjo do Senhor, e a claridade de Deus os cercou, e tiveram grande temor. Porém o anjo disse-lhes: Não temais; porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que terá todo o povo. Nasceu-vos na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura. E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens do Seu agrado.

E depois que os anjos se retiraram deles para o céu, os pastores diziam entre si: vamos até Belém, e vejamos o que é que lá sucedeu, e o que é que o Senhor nos manifestou. E foram com grande pressa e encontraram Maria e José, e o menino deitado na manjedoura. E vendo isto, conheceram o que lhes tinha sido dito acerca deste menino. E todos os que ouviram, se admiraram das coisas que lhes diziam os pastores. Ora Maria conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, conforme lhes tinha sido dito.”

Muito haveria que pôr em observação neste nosso caminhar para Deus. Escrevi como que rezando a pensar que Deus é a Vida eterna que me espera mais hora menos hora, mais ano menos ano, enquanto fixo na mente a esperança pelo Nove Terra prometida por Jesus Cristo. Interpreto esta questão e tudo o mais que vem de Jesus, com toda a lógica que advém da Sua palavra, e que foi através de uma linguagem simples e obviamente inteligente que Deus desceu dos Céus para falar connosco ao nosso próprio nível intelectual.

A todos, boa sorte.

Aveiro, Setembro de 2009

J. Morais

José Monteiro Morais

28

APÊNDICE

MISTÉRIOS DA NOITE SANTA Milhões de estrelas brilhavam Pelo céu do velho mundo Nele os homens pesquisavam Um segredo mui profundo Sempre as estrelas sondavam Com temor e devoção Pois lá dos céus esperavam O sinal da salvação E se há quem esteja alerta Ao movimento dos céus, São os pastores pela certa Sempre à procura de Deus Por perto dos povoados Pastoreiam seus rebanhos E perante céus estrelados Sondam mistérios tamanhos Aquele abismo estelar É pra eles um bom motivo Que os faz conjecturar Sobre o poder de Deus vivo São muitos milhões de estrelas Montes se colam aos céus Ficam suspensos ao vê-las Parece que lá vem Deus Talvez ali deva estar O trono do próprio Deus Oculto naquele pulsar Entre a terra, mar e céus Falam das profecias Da vinda do salvador Pois segundo Isaías Vem lá Deus Nosso Senhor

José Monteiro Morais

29

Recordam pai Abraão Também Isac e Jacob E falam da criação Do homem tirado do pó Há dias nos céus se via, Um astro aureolado Mas nenhum deles percebia O que era anunciado Foram por fim descansar Saindo daquele relento Eram horas de deitar Tudo bem naquele momento Mas eis que vêem os céus Rasgados desde o Além Pairando sobre Belém Grande foi seu temor Contudo maravilhados Olhavam em seu redor Estavam de anjos cercados Chegou-se a eles um dos anjos Pressuroso diligente Como quem chega dum reino A mando do seu Senhor Lhes falou serenamente Hoje pastores neste dia Foi cumprida a profecia Da vinda do Salvador Enchei-vos pois de alegria Porque Deus desceu à terra. Achá-lo-eis em Belém Na manjedoura deitado Em panos aconchegado Pelas mãos de sua Mãe E nisto desapareceram Os pastores se entre olhavam Sentindo que não sonhavam. Queijos e leite pegaram E logo desarvoraram Á procura dum abrigo De que os anjos falaram.

José Monteiro Morais

30

Velho curral encontraram Mesmo às portas de Belém De felizes exultaram Alegres de tanto bem Estava à porta S. José Mais dentro a Virgem Maria Entraram pé ante pé, Pois o Menino dormia.

Segredos

Segredos densos, profundos, Ocultos em espesso véu, São mistérios de outros, mundos Talvez urdidos no céu. Quando Adão foi criado, Já o mundo existia; E a este fora dado, Da terra quanto ele via. Sentia-se extasiado Desde o nascer ao sol-pôr Sentia-se muito amado Por seu Pai, nosso Senhor Era forte, era robusto, De humana perfeição; Nada fazia com custo, Na sua bela mansão. Quando Deus o visitava Num doce sopro de aragem A sua alma vibrava Ali por entre a folhagem Anjos hossanas cantavam Sobre e terra sobre o mar Os animais saltitavam Ao verem Deus a passar Adão anjo não era Nem igual aos animais Vê que Deus o fizera Diferente de tudo o mais

José Monteiro Morais

31

De tudo quanto ele via Longe ou perto ao redor Gozosamente sentia Que só ele se parecia Ao seu Deus e seu Senhor Ao olhar a imensidão Variada do seu mundo Lhe acode ao coração Um sentimento profundo Chamar Deus, alto brado Para que Ele sinta também A alegria que lhe vem Da grandeza do achado Ora Deus pôs em Adão Esse Dom puro sagrado Causar-lhe ao coração Um amor humanizado Por essa força movido Pede Adão uma mulher Estar só não tem sentido O seu amor o requer Dormia profundamente Quando Deus o acordou Tem Adão na sua frente A mulher que desejou Ao vê-la exclamou Oh que linda minha amada Tão humana como eu É carne da minha carne Ai quanto bem Deus me deu Vai-se o dia, dia-a-dia Cheio de paz e amor Tudo inspira alegria Sem que sintam qualquer dor Amor calmo e perene, De uma só comunhão Um conviver tão solene Dessa tão bela união

José Monteiro Morais

32

Deus do Céu dotou Adão Com senso, discernimento Pois que só pela razão Sente Deus no firmamento Tem Adão na sua mente O dever de obediência Uma regra a respeitar “Nunca de Deus se afastar”. Afinal havia perigo A suscitar precaução Há portanto um inimigo Lá por perto da mansão Outro ponto dá temor Uma árvore do lugar Pois lhes dissera o Senhor Que lá não fossem tocar Não era qualquer arbusto Mas com frutos especiais Havia luz nesse fruto Tão diferente dos demais Já passavam sem olhar Por vezes já sem lembrar A ordem do Criador Mas tinham bem a noção Que algo dava temor Sem qualquer explicação

Um dia, estando Eva sentada à sombra de uma árvore viu uma serpente ali perto a mirá-la fixamente. Isso pouco ou nada importaria, mas o caso é que lhe pareceu ter saído da garganta do animal uma voz surda, pouco perceptível. Admirada, achou até nojenta tal coisa porém, a estranha voz se tornava cada vez mais nítida embora resmungando sempre.

Sentiu nojo, mal-estar Mas, como medo não tinha, Lá se ficou a escutar. Eram palavras matreiras Mastigadas contra Deus! Que Deus os enganava Que segredos lhe ocultava Da sua casa nos céus.

José Monteiro Morais

33

Mas se ela consentisse, Posto que Deus não ouvisse Muito lhe ensinaria P`ra que ela própria visse O quanto Deus lhe escondia. Bastava só que colhesse E de tal fruto comesse Porém se Adão cedesse A comer também do fruto Estranhas coisas sentiriam Iguais as Deus ficariam. Dito isto emudeceu Lentamente rastejou Na penumbra se escondeu E disfarçada esperou Eva zonza ficara Ante tal atrevimento Seu rosto ruborizara Tropeça de entendimento. Que coisa repugnante Uma serpente que fala E que fala contra Deus. Que coisa tão intrigante! Enovelada da mente A cabeça em convulsão Nem sabe bem o que sente Daquela confrontação. Afastou-se daquele chão Vagueou pelo jardim Sem nada dizer a Adão Daquela coisa ruim Fechada no seu segredo Perplexa, e medrosa Muito mais está curiosa Retumbavam-lhe na mente As palavras da serpente Que coisa era saber Se daqueles frutos comer Igual a Deus vir a ser Uma espécie de loucura Ensombrando-lhe os sentidos. Deixando-lhe suja a mente A proposta da serpente

José Monteiro Morais

34

Era uma luta mental. Repassada de tortura Era a voz do animal Decidida contra Deus Ajuda não a pediu Antes correu decidida Direita ao fruto da vida E de juízo perdido Come o fruto proibido. Mal que o fruto tirou Mal que o fruto trincou Fica um pouco engasgada A serpente deu enorme gargalhada. Pasma por se ver nua De nervos assediada Corre a esmo chama Adão E que palavras lhe disse Palavras boas não são Decerto contaminadas De total condenação Mas Adão também comeu Do fruto da perdição Mal o fruto engoliu Transtornado se sentiu Como louco olha os céus Para ver se via Deus Olhou e viu-se nu. Tem vergonha de si mesmo Vê a mulher a chorar E desgrenhada também Sem saber o que fazer Repassado de pavor Vão os dois p`ra trás das folhas Fugindo do Criador Claro que Deus ouvira O estrondo de tal pecado. E quem sabe o que sentira O Senhor Deus magoado Ter-se-á arrependido Desses pobres ter criado!? Escutou também o brado De tremenda aflição Pois que Adão tinha ao lado A morte pondo-lhe a mão

José Monteiro Morais

35

Esse grito lancinante Retiniu persistente Nos confins do Universo Foram os céus abalados Na desordem conturbados Por algo muito perverso Agora não se sabia O que é que Deus faria Da vida dos pobres Seres Tirar-lha jamais podia Nem isso se entenderia Pois que a Vida não morre E seu AMOR também não. Se é Deus a própria Vida Só Lhe restava o perdão. Talvez Ele naquela hora, Ante o pobre desolado De pena tenha chorado Se é que Deus também chora. A terra ficara impura O infeliz do Adão Trespassado de amargura Nem sabe se tem perdão Turvam-se as águas do mar Desabam águas do Céu Há animais a morrer Grandes males a suceder No jardim que Deus lhe deu. Com grande choro nos olhos Sente fome e não tem pão Não via senão abrolhos Quer nas árvores, quer no chão Corre agora matagais Em busca de alimento Aqui além emboscado Come carne de animais Por achar neles seu sustento De calor se abrasou De frio se contorceu De medos se atormentou Já muita fome passou

José Monteiro Morais

36

Transformações padeceu De mil maneiras morreu Nunca sabia p’ra onde ia Desaparece, aparece Do Adão nada se via Pois animal se parece O Criador foi esquecido Qual tremenda convulsão Já Adão não faz sentido E o Éden também não Mas os tempos vão passando Muitos anos lá vão já Há vozes profetizando Que Deus à terra virá Que no mundo surgirá Como um grande luzeiro A treva dissipará É luz p’ró mundo inteiro No tempo virá uma virgem De pureza sem igual Envolta é sua origem Num mistério divinal Conceberá Deus Menino Salvador da humanidade Mãe de Deus é na verdade! Glorioso destino O menino pequenino Em Homem se tornará E numa cruz sofrerá Grande dor, outra não há Messias é o Seu nome É Jesus igual ao Pai Vencedor da própria morte Nele a Vida sobressai Também Dele virá o perdão Desta pobre humanidade E só Ele será o Pão Dos que de DEUS são em Verdade

J. Morais