Upload
eli-miguel
View
391
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Maio ~ Setembro ~ 2007 textos e imagens publicadas emhttp://novelosdesilencio.blogspot.com
Citation preview
Novelos de Silêncio – II
Maio ~ Setembro de 2007
eli miguel
A poesia está na vida,
nas artérias imensas cheias de gente em todos os sentidos,
nos ascensores constantes,
na bicha de automóveis rápidos de todos os feitios e de todas as cores,
nas máquinas da fábrica e nos operários da fábrica
e no fumo da fábrica.
A poesia está no grito do rapaz apregoando jornais,
no vaivém de milhões de pessoas conversando ou praguejando ou rindo.
Está no riso da loira da tabacaria,
vendendo um maço de tabaco e uma caixa de fósforos.
Está nos pulmões de aço cortando o espaço e o mar.
A poesia está na doca,
nos braços negros dos carregadores de carvão,
no beijo que se trocou no minuto entre o trabalho e o jantar
- e só durou esse minuto.
A poesia está em tudo quanto vive, em todo o movimento,
nas rodas do comboio a caminho, a caminho, a caminho
das terras sempre mais longe,
nas mãos sem luvas que se estendem para seios sem véus,
na angústia da vida.
A poesia está na luta dos homens,
está nos olhos abertos para amanhã.
Mário Dionísio, "Arte Poética”
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
Álvaro de Campos, Poemas
Puccini ,”a bocca chiusa”
O que nos chama para dentro de nós mesmos
é uma vaga de luz, um pavio, uma sombra incerta.
Qualquer coisa que nos muda a escala do olhar
e nos torna piedosos, como quem já tem fé.
Nós que tivemos a vagarosa alegria repartida
pelo movimento, pela forma, pelo nome,
voltamos ao zero irradiante, ao ver
o que foi grande, o que foi pequeno, aliás
o que não tem tamanho, mas está agora
engrandecido dentro do novo olhar
Fiama Hasse Pais Brandão, Às vezes as coisas dentro de nós
Acontece
um outro acontecer
o lento despertar
de um estranho segredo.
Um rumor de bosque
que se adivinha
rajadas de vento brando,
barcos
em mãos de desejo.
E um olhar de água
como que desfeito
longe,
mesmo muito longe,
felizmente longe
de qualquer razão.
Gundula Stegliz
O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.
Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas
na praia lá do guincho as velas
de windsurf saltam sobre as ondas
e o meu olhar, equestre,
pula nos peitos das banhistas, enquanto
um cachorro tenta agarrar a cauda.
nos feriados tudo é insuportável
menos o sol e o mar
apesar das famílias.
e sustendo as gaivotas na mais alta
imaginação, porque hoje não vi nenhuma,
o vento traz de tudo
e antónio nobre e lorca às pandas roupas
que modelam os corpos em míticas figuras
com o seu drapejado esvoaçante,
entre dunas e lixo e vendedores de gelados.
restaria o campo, mas
«no campo não há bicas nem paperbacks»
diz uma amiga minha e tem razão.
que seria de nós, bucólicos, sem esses indicadores da alma? dou
lume a uma italiana e enquanto
ela agradece ocorre-me que despi-la já não é
cosa mentale; faz-me lembrar o algarve, mas no verão
o algarve é a continuação
da política por outros meios. antes
a nortada, os surfistas,
na crista da onda, a areia que entra no poema,
e o regresso mais cedo, quando já não se
aguenta.
agora que passaste muito queimada do sol
o vento vem pela estrada até à duna
com uma folha de jornal desdobrada
aos baldões e as vozes dos piqueniques.
tu desceste da moto e foste
comprar um gelado, afastando impaciente
algumas crianças. era a impostura
para a sede, avivada pelos guarda-sóis
de cor berrante. nas rochas havia
alguns pares esfregando-se
mais ou menos à vista. penduraste
os óculos de sol no decote da blusa
e o gelado avançou para os teus dentes muito brancos.
tudo isto dava uma fotografia
com o teu peito em grande plano
e a cena reflectida nos óculos escuros.
Vasco Graça Moura, Antologia de Convívios
Na minha juventude antes de ter saído
Da casa de meus pais disposto a viajar
Eu conhecia já o rebentar do mar
Das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
Ruy Belo, Homem de Palavra[s]
Digo: o amor. Há palavras que parecem sólidas,
ao contrário de outras que se desfazem nos dedos.
Solidão. Ou ainda: medo. As palavras, podemos
escolhê-las, metê-las dentro do poema como
se fosse uma caixa. Mas não escondê-las. Elas
ficam no ar, invisíveis, como se não precisassem
dos sons com que as dizemos.
Agora, o efeito das palavras. A sua rotação
na cabeça, e pelas artérias, até ao centro:
o coração. Outra palavra com que se diz: o
amor. Mas não falo de sinónimos; de resto,
há palavras que escondem o contrário do que
querem dizer, e só as conhece quem ama, se
a vida não o levou por caminhos confusos.
Amo-te. Também podia dizer: a solidão
com que te amo, ou o medo de te amar. A partir
de uma palavra tudo se pode fazer, numa página,
quando o que aí está é um poema. No entanto,
essas palavras conduzem-me até ti, isto é,
fazem-te viver por dentro delas. É por isso
que tudo se confunde: o amor, a solidão, o medo,
e até a vida, que também é uma palavra.
Nuno Júdice, "Semiologia"
Die liebe Erde allüberall
Blüht auf im Lenz und grünt aufs neu!
Allüberall und ewig
Blauen licht die Fernen!
Ewig... ewig...
Mahler - Wang Wei, "der Abschied"
Das Lied von der Erde
(a um Amigo)
Eu em tudo Te vi amanhecer
Mas nenhuma presença Te cumpriu,
Só me ficou o gesto que subiu
Às mais longínquas fontes do meu ser.
Sophia de Mello Breyner Andresen, "Gesto"
Um dia destes vou-te matar
Uma certeira bala de pólen
mesmo sobre o coração
Jorge Sousa Braga, "Carta de Amor"
SOBRE
O
LADO
ESQUERDO
De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se
ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: «o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim,
deslocando todo o peso do sangue sobre a metade gasta do meu corpo, esmagar o coração».
Carlos de Oliveira, Trabalho Poético
Ao fim de cada construção diária, ao crepúsculo, o construtor sobe a uma torre de pedra para meditar um pouco. A plenitude
da tranquilidade é perfeita nos campos fulvos e ondulados em redor, cobertos de ervas altas, de flores e arbustos e marginados
por um riacho sob a penumbra verde de um arqueado tecto de folhagem. Dir-se-ia que o olhar do construtor encontrou o ser
em extensão, o ser que se oferece, no seu mutismo eloquente, e ao mesmo tempo se guarda no mesmo espaço do seu tranquilo
esplendor. A meditação não é mais do que a contemplação de uma matéria que contém em si o excesso da sua energia calma e
a densidade materna que envolve todas as interrogações e torna supérfluo e intruso o pensamento. Por isso o construtor se
integra na paisagem e, reflectindo-a, não a elabora nem a altera. Toda a sua vida está intacta e plenamente segura na
indistinção entre o seu íntimo e a túmida e fresca serenidade da paisagem que o envolve. A realidade exterior passou a ser a
matéria mais íntima e mais pura da relação total e, inversamente, o contemplador converteu-se num elemento da paisagem
que a partir dela própria a vê e nela se vê. Esta circularidade é a mais harmoniosa manifestação do uno e o alvo da construção
será criar o espaço mais propício à sua tranquila fulguração. Não há segredo mais supremo nem mais simples do que esta
relação vital entre o corpo e o espaço, entre o alento e a paisagem, entre o olhar e o ser.
António Ramos Rosa, Aprendiz Secreto
OS JACARANDÁS
Em meados de junho os jacarandás de Lisboa estão em flor, a sua luz fende a pupila, acaricia o dorso da
sombra. É então que - sei lá se pela última vez - a inocência volta a entrar na minha vida. Olhos, mãos, alma,
tudo é novo - recomeço a prodigalizar alegria, uma alegria que não procura palavras porque o seu reino não é
o da expressão. Digamos que esta nova experiência, a que não quero dar nome, não se preocupa em
interrogar, talvez por já não ser tempo de dúvidas, ou então por não lhe dizerem respeito essas verdades
últimas, cegas como facas.
Não é um poema de obediência o que me proponho nestas linhas; trata-se de outra coisa: levar à boca fresca
do ar o ardor das areias queimadas. Mas sem palavras, sem palavras.
Eugénio de Andrade, Vertentes do Olhar
Sou lindíssimo, disse o autor fascinado. Lindíssimo, lindíssimo, lindíssimo. De tal modo que não posso despegar os olhos do espelho. E
tudo o que existe, sou tentado a converter em ‗eu‘. Porque só tenho olhos para mim.
Sentou-se na cadeira, cruzou as pernas e começou a devorar o mundo. Engolia, engolia, engordava sem medida e a inflação do eu era tão
grande que a certa altura rebentava e caía numa chuva de estilhaços.
E então pacientemente, de gatas, ia procurando os pedaços, aqui e ali, e começava a colá-los outra vez com Araldite.
Teolinda Gersão, Os Guarda-Chuvas Cintilantes
Rosa rosa rosam
Rosae rosae rosa
Rosae rosae rosas
Rosarum rosis rosis
Jacques Brel, "Rosa"
Consuma-se o eterno em cada instante
na crença de reservas infinitas
importa mais o vértice da chama
que a cera a consumir ou consumida
David Mourão-Ferreira, Os Ramos Os Remos
E o mar imenso
se fez lago
e se tingiu
de fogo brando
para que os dois,
amigos já,
pudessem também brincar.
Gundula Steglitz
Alguna vez he de volverme
y mirar hacia atrás
si habré de dirigir mis ojos hacia arriba
o hacia abajo, pero tú, a quien no escribí un poema de amor
y di más que el amor, comprenderás
(¿He dicho que no creo en el amor
sino en la luz? Amor . . . He visto demasiado
esas palabras: conteniendo la vida,
engalanando la muerte, arrastrada por lechos,
desvaneciéndose en los idiomas – love,
liebe, amore . . . amore mío, amor: sonidos,
confusión de sonidos que ocultan
algo. Luz: tan sólo en ella creo).
Nadie es su voluntad: es su destino.
Ni es sólo su presente: es el pasado
y el futuro también – un peligroso borde
donde, no siempre ciegos, caminamos -.
Inevitable despeñarse
mas tal vez no terrible. La luz sólo
puede liberar a las sombras,
derretir sus cadenas,
dar a las aguas transparencia y vida,
aire al espacio clausurado.
Y el presente de ayer
no es ya más una soledad sin sentido
en que se puede llamar amor a las sombras.
Porque ¿puede ser una garra el amor?
¿Puede ser un desierto el amor? ¿Puede ser
una alta muralla?
¿Podría haber sido, yo sola, el amor y el amante
viendo otro cuerpo donde nada había?
No sé: ¿cómo saber quién fui, quién, ellos, fueron
sin luz?
Yo, a mí misma,
regresaré por esa luz - semilla de una luz ahora -
restaurando los rostros mordidos por el tiempo,
ordenando la casa que me habita
- puesto el mirto en los vasos
en honor de las sombras ancestrales -,
porque no hay que renunciar a la pena,
ni al testimonio de los escombros,
sino a la destrucción.
Porque ser o no ser destruida,
sólo depende de mí: de que mi mano
tape la uz o la deje pasar
por el pequeño espacio que entre mis ojos vive,
hasta el fondo infinito,
y me incluya en su círculo.
En ese día inacabable
en el que los vocabularios se fundan en la luz,
y sea suficiente mirar,
¿para qué llamar nada a nada?
Julia Uceda, Campanas en Sansueña
Provoca o vento rápido tumulto
de rubros vivos colorindo a base
de os ver, como verdes, sobressaltar
o fundo
da pupila iluminar-se.
Que escuro que é o perímetro do rubro
quando o usufrui a lentidão da análise.
Dói ver mover-se o luminoso fruto
na sua aquosa sapidez na carne
da cor que se saliva. Um vivo lustro
em seu rigor constrange
o volume a crescer no paladar. E o vulto
na líquida retina a deslumbrar-se.
Fernando Echevarria, ―Cerejas‖
ficar nas vibrações deste espaço receptivo, à espera
que alguém entre, e seja o visitante esperado: Rilke, Müntzer, o pobre, Ana de
Peñalosa, ou alma, ou semelhante.
Maria Gabriela Llansol, Finita, Diário 2
Some men never think of it.
You did. You'd come along
And say you'd nearly brought me flowers
But something had gone wrong.
The shop was closed. Or you had doubts -
The sort that minds like ours
Dream up incessantly. You thought
I might not want your flowers.
It made me smile and hug you then.
Now I can only smile.
But look, the flowers you nearly brought
Have lasted all this while.
Wendy Cope, "Flowers"
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
Miguel Torga, "Segredo"
Olhar
o interior das coisas
e procurar
o rumor,
o brilho oculto
das palavras,
o estranho renascer
dos sentidos,
nos beirais
que repousam
como se voassem.
Gundula Stegliz
Tómate esta botella conmigo
en el último trago nos vamos
quiero ver a qué sabe tu olvido
sin poner en mis ojos tus manos
Esta noche no voy a rogarte
Esta noche te vas de veras
que difícil tratar de olvidarte
sin que sienta que ya no me quieras
Nada me han enseñado los años
siempre caigo en los mismos errores
otra vez a brindar con extraños
y a llorar por los mismos dolores
Tómate esta botella conmigo
en el último trago me bejas
esperamos que no haya testigos
por si acaso te diera vergüenza
Si algún día sin querer tropezamos
no te agaches ni me hables de frente
simplemente la mano nos damos
y después que murmure la gente
Nada me han enseñado los años
siempre caigo en los mismos errores
otra vez a brindar con extraños
y a llorar por los mismos dolores
Tómate esta botella conmigo
en el último trago nos vamos
Chavela Vargas, "En el último trago"
alma limpa
nas calmas águas
que teus temores pairem sobre elas
enquanto o reflexo do que és
mergulha na profundeza do teu ser
sairás deste banho
com a alma limpa
c peres feio
Flor lilás de vida efémera
Caíste beijando a pedra nua
E ficaste adormecida…abandonada…
Olho-te e vejo-te perto longe.
Impossível tocar-te…
Qual pedaço sublime de céu
Descido até cá,
Flor de jacarandá.
Como tu, espero irmãs
Que ao cair, possam
Reflorir, sentir-me amada
E ver o milagre da vida renovada…
Não te sintas sozinha.
Caíste mas no beijo
Vestiste a pedra de desejo.
Cristina Peres
Flor lilás de vida efémera
Caíste beijando a pedra nua
E ficaste
adormecida…abandonada…
Olho-te e vejo-te perto longe.
Impossível tocar-te…
Qual pedaço sublime de céu
Descido até cá,
Flor de jacarandá.
Como tu, espero irmãs
Que ao cair, possam
Reflorir, sentir-me amada
E ver o milagre da vida
renovada…
Não te sintas sozinha.
Caíste mas no beijo
Vestiste a pedra de desejo.
Cristina Peres, "Flor lilás de
vida efémera"
é em sítio nenhum que escrevo.
o que parece ser eu
é o lugar onde não existo.
maria azenha
Le moulin tourne au fond du soir, très lentement,
Sur un ciel de tristesse et de mélancolie,
Il tourne et tourne, et sa voile, couleur de lie,
Est triste et faible et lourde et lasse, infiniment.
Depuis l'aube, ses bras, comme des bras de plainte,
Se sont tendus et sont tombés ; et les voici
Qui retombent encore, là-bas, dans l'air noirci
Et le silence entier de la nature éteinte.
Un jour souffrant d'hiver sur les hameaux s'endort,
Les nuages sont las de leurs voyages sombres,
Et le long des taillis qui ramassent leurs ombres,
Les ornières s'en vont vers un horizon mort.
Autour d'un vieil étang, quelques huttes de hêtre
Très misérablement sont assises en rond ;
Une lampe de cuivre éclaire leur plafond
Et glisse une lueur aux coins de leur fenêtre.
Et dans la plaine immense, au bord du flot dormeur,
Ces torpides maisons, sous le ciel bas, regardent,
Avec les yeux fendus de leurs vitres hagardes,
Le vieux moulin qui tourne et, las, qui tourne et meurt.
Emile Verhaeren, «le moulin»
No lugar da árvore. No lugar do ouvido.
No lugar do chão. Unidade crepitante no
silêncio aberto no trânsito. Tronco, calma
bomba indeflagrável, dádiva de identidade.
António Ramos Rosa,
Nos seus olhos de silêncio
O jardim não mudou, o silêncio está intacto.
A verdade ainda não irrompeu para possuir
A manhã vazia nem a hora prometida
Abalou a vibração de Maio.
W.H. Auden, "Pensamento"
Tradução de José Alberto Oliveira
A ria é uma longa fita de muitos verdes
fios doiro de julho que reflectem
acidentes de luz.
João Miguel Fernandes Jorge, Obra Poética
A minha vida é como um certo corredor sombrio
de tecto baixo e lúgubre dos lados
com inúmeras portas mas fechadas
e só lá muito ao fundo se divisa
se é que se divisa uma janela
que me promete árvores e relva
e um mundo de verdura que perdi
até porque em criança vastamente o conheci
Ruy Belo, "Agora o verão passado"
Le silence est comme le vent :
il attise les grands malentendus et n'éteint que les petits.
Elsa Triolet, L'écrivain et le livre ou la suite dans les idées
Espero cada momento seu
como se espera o rebentar das amoras
Herberto Helder, Ou o Poema Contínuo
Descobrir o
valor do
abstracto,
esquecer
qualquer
realidade
preexistente
e construir
uma nova!
Gundula Steglitz
Penso che forse a forza di pensarti
potrò dimenticarti, amore mio.
Patrizia Cavalli, Poesie
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Thiago de Mello, "Artigo III"
Así en horas profundas sobre los campos he visto
doblarse las espigas en la boca del viento.
Pablo Neruda, "Ah Vastedad de Pinos..."
E pairo nas alturas com as costas voltadas
Aos séculos de pasmo que para trás deixei.
José Carlos Ary dos Santos, "Viagem"
Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?
José Saramago, "No Silêncio dos Olhos"
Chamo...
Por um momento julgo ouvir resposta.
Fico à espera.
É o apelo de alguém, chamando como eu chamei.
...E assim são as conversas dos homens.
Jaime Salazar Sampaio, Em rodagem
Aqui me tenho
como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim
aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas um bicho
transparente.
Ferreira Gullar, "Um Instante"
["78"]
há uma hora azul
permeando de poesia
minha existência cinza;
uma hora hortênsia
que se abre em fins de tarde
(maybe in my mind)
Valéria Tarelho, "happy hour"
Sentada,
no rasto do tempo,
sem desviar o olhar,
procuras-te
sem procurar,
longe de ti
cansada
de esperar o vento
Joaquim Castilho, Artesanato
Meu moinho abandonado,
meu refúgio de inocente,
meu suspiro impertinente,
meu social transtornado.
Meu sussurro de oceano,
meu ressoar de caverna,
minha frígida cisterna,
minha floresta de engano.
Minha toca de selvagem,
meu antro de vagabundo,
minha torre sobre o mundo,
minha ponte de passagem.
Meu atributo coitado,
meu tanger de hora serena,
rolo de pedra morena,
silêncio petrificado.
António Gedeão,"Moinho sem velas"
FEIGENBAUM, SEIT WIE LANGE SCHON IST'S MIR BEDEUTEND
Figueira
ó árvore que irrompes da tua secura
suportando o penoso desdobrar de teus ramos
amaldiçoada
ofereces ainda a doçura de teus frutos
a sombra de tuas folhas
a firmeza do teu apego à terra
Ó dura bruta forma
heroína da escassez
ó teimosa
que insistes e insistes
e nos ensinas
que a vida é feita de incessantes mortes
e que a nós
suas futuras vítimas
nos aguarda
a todo o momento
a derrocada do templo
sem nenhum outro fruto
além da amargura
Ó doçura
porque amargas tanto
a nossa tentação de florir
ao mesmo tempo sendo tudo
e nada ?
Ana Hatherly,"A nossa tentação de florir"
Apetece-me explicar, agora, as asas dos anjos.
Jorge de Sena, "Sem Data"
Las superficies de vagos remolinos,
recuerdan en la espuma las ondinas perdidas,
en su música menuda de huidizas ondas rotas,
y a los submarinos que no pueden volver a los vientos.
Vicente Gerbasi, "Vigilia del Náufrago"
De todas as palavras, uma ficou gravada em minha memória, uma só, pura, insubmissa, mas ao
alcance das tuas mãos.
De todos os minutos, também um se encheu de uma alegria íntima, e no entanto sobrenatural, com
que festejei os teus olhos e deixei que repousasse minha cabeça no teu ventre, quando meu corpo
cansado e ferido, abandonando-se nos teus braços, foi o princípio da noite, o chamamento do vento, a
agonia dos pássaros.
Se eu pudesse dizer o teu nome essa palavra bastar-me-ia. Chamando-te, iria ao teu encontro, e não
importa onde estivesses, porque não importa onde estás, e, num minuto, toda a ternura voltaria a
acordar meu sangue e minhas mãos para acolher o teu corpo onde, hoje, o meu corpo treme e a minha
boca vacila.
Que nada, ao menos, meu amor, me possa perturbar a tua ausência, presente na alegria magoada do
meu coração inquieto.
Joaquim Pessoa, os olhos de Isa
Há muito estavas longe
Mas vinham cartas poemas e notícias
E pensávamos que sempre voltarias
Enquanto amigos teus aqui te esperassem
Sophia de Mello Breyner Andresen, Correspondência
Cuándo
con qué fuerza
de qué modo asumir
nuestro destino
Dionisio Aymará, Vivir y otros enigmas
Onde inda vibram
Do extinto amor os ecos
Luís Miguel Nava, Vulcão
[...] ciò che noi conosciamo nelle cose è niente altro che noi stessi.
Antonio Gramsci, Quaderni del carcere
Creio que é isto: não a angústia crua
da morte física, mas as incomparáveis
agonias da misteriosa manobra mental
necessária para passar de um estado do ser
para outro.
Vladimir Nabokov, Transparências
Era preciso mais do que silêncio,
era preciso pelo menos uma grande gritaria,
uma crise de nervos, um incêndio,
portas a bater, correrias.
Mas ficaste calada
Manuel António Pina, Poesia Reunida
Eu tinha chegado de um outro mundo e agora era preciso
que o tempo passasse para que lentamente este voltasse
a tomar conta de mim.
Pedro Paixão, A Cidade Depois
como uma flor de sono te guardo,
tão impossível, o real
Pedro Sena-Lino, as flores do sono
fui ao Douro em busca do nada
olhar suas águas brilho de ónix
ouvir margens enganadas pelo tempo
num choro que marca a manhã
com incêndios pôr de sol
esperanças em nova era
morreram na barca que habito
tornar a voltar ao Douro agora
num naufrágio de águas calmas
nevoeiro cerrado
humidade no ar
em mistura com lágrimas
c peres feio, "Douro triste"
O que há de novo na tarde
Verdadeiramente tarde
Verdadeiramente terna
É este gosto novo de cantar
É esta fome absurda de verão
Amélia Pais, "Verão"
Regressas
na esteira do sol ao
interior do Mar.
Deixas-me a luz quente
que era tua.
E sei o que já sabia.
Fernanda Sal Monteiro, "Rosas ao fim da tarde"
Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir.
Hei-de aprender com ele
A partir de uma vez
– Sem medo,
Sem remorso,
Sem saudade.
Manuel Bandeira, "Lua Nova"
Levanta-te, não chores.
Tens de saber que às vezes é difícil
matar o que nos mata,
ir aguçando o gume do cutelo
e movê-lo depois, logo em relâmpago,
até que o monstro seja degolado
e não fique sequer uma gota de sangue,
da cicuta voraz que lhe corria
plas veias tão geladas, sob a pele
que terias beijado quase a medo
em busca de um sabor que fosse o fogo
e o ar e a água,
mas era só veneno adocicado,
daquele que vicia sem parecer viciar
e nos deixa sem cura a vida inteira.
Levanta-te, bem sabes,
desde o tempo dos contos infantis,
que todo o mal procura disfarçar-se
em rostos como aquele,
na perfeição volátil desse abismo
a que chamam beleza e vai ardendo
em lânguidos sorrisos e olhares
feitos de pura seda, seduzindo
espíritos como o teu,
demasiado inocentes ou perversos
para desconfiar da eternidade
ou para resistir à luz fosforescente
que, obedecendo às leis da natureza,
sempre soube atrair até à morte
o alucinado voo das borboletas.
Levanta-te, vá lá, não tenhas medo
de apertar o gatilho as vezes necessárias
para que tudo morra - os estertores
da tua alma ou do teu corpo
mesmo assim doem menos, acredita,
que o travo torvo dos piores remorsos.
E se vires que é preciso
rasgar dentro de ti, antes de serem escritos,
os mil e um poemas
que haverias de ler, talvez sem esforço,
à flor daquela face, não hesites,
porque a felicidade tem um preço
e os versos, quaisquer versos, são apenas
a memória infiel deste vento que move
as árvores lá fora enquanto é noite,
mas que às primeiras horas da manhã
deixará elevar-se um nevoeiro
tão espesso e esbranquiçado, que o amor
será nesse momento uma palavra baça
que nada te dirá, a ti ou a ninguém.
Fernando Pinto do Amaral, "Exorcismo"
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E da ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa, Cancioneiro
You said you'd come but you have gone and left no trace;
I hear in the moonlit tower the fifth watch bell.
In dream my cry could not call you back from distant place;
In haste with ink unthickened I cannot write well.
The candlelight illuminates half our broideret bed;
The smell of musk still faintly sweetens lotus screen.
Beyond my reach the far-off fairy mountains spread;
But you're still farther off than fairy mountains green.
Li Shangyin, 300 Tang Poems
Porque está esta barca amarrada ao velho cais?
para onde partiu então o homem nestas montanhas azuis?
enquanto esperamos por ele façamos do poema uma pintura
que possamos contemplar
gritos de gansos selvagens, folhas de canas secas
sombra duma pluma branca, flor fria duma campainha de água
o grou no ninho, no alto dum pinheiro, a tarde
Zhang Kejiu, Cinquenta "Xiaoling"
Tradução de Albano Martins
Corpo meu fará quadrado.
Corpo meu duro que é
Embora palavra não diga
Palavras guarda. E responde.
Anónimo. China, séc.XVIII,
"Poema Enigma"
Tradução de Gil de Carvalho
Yuefu Songs with Regular Five-Syllable Lines
A Choice Sellection Of Ancient Poemes (Chinese-English)
Quando as pessoas assumem a beleza
como emanação do belo
É porque a fealdade existe
E quando assumem a bondade
como ideia subjacente ao bom
é porque existe a maldade
Portanto como conceitos entre si recorrentes
Prevalecem a Existência e a Não-Existência
Conjugam-se o fácil e o difícil
O longo e o curto rivalizam-se
O alto e o baixo contrapõem-se
A voz e o eco harmonizam-se
A dianteira e a traseira não se distanciam
O sábio rege-se pela inacção
Ensinando sem falar
Deixando as dez mil coisas nascerem e crescerem
Sem reivindicar nisso a sua participação
Promove a sua evolução gradual
Sem nisso mencionar a sua contribuição
Nem reclamar por isso qualquer mérito
E como não se expõe
Permanece na mais absoluta solidão
Lao Za, séc. VI a.C.
Tradução de João C. Reis e Mª Helena O. Reis
Em nós
tudo é presente,
infinito e nada
Li Bai, Poemas de Li Bai
Versão de A. Graça de Abreu
Camões - pormenores da estátua - Coloane
Escondido atrás de ferrolhos e barras duplas, cobertas de musgo.
No fundo dos corredores, nos quartos mais recônditos deambulo.
Um presságio de que irá levantar-se vento: a auréola à volta da lua.
Ainda a estação das geadas, os botões por desabrochar.
Um morcego atravessa a persiana. Inquietação sem fim.
Um rato perturba a teia de aranha na janela, alarmado por suspeitas breves.
À luz da lâmpada, falo a uma fragrância que persiste no ar
E, como antes, desprevenido, canto «Levanta-te Na Noite E Vem».
Li Shang-Yin, "Primeiro mês: em casa de Ch'ung-Jang"
Tradução de José Alberto Oliveira
Kublai domanda a Marco: - Quando ritornerai al ponente, ripeterai alla tua gente gli stessi racconti che fai a me?
Io parlo, - dice Marco, - ma chi m'ascolta ritiene solo le parole che aspetta. Altra è la descrizione del mondo cui tu presti benigno orecchio,
altra quella che farà il giro dei capannelli di scaricatori e gondolieri sulle fondamenta di casa mia il giorno del mio ritorno, altra ancora quella
che potrei dettare in tarda età, se venissi fatto prigioniero da pirati genovesi e messo in ceppi nella stessa cella con uno scrivano di romanzi
d'avventura. Chi comanda al racconto non è la voce: è l'orecchio.
I. Calvino, Città invisibili
Desocupado visitei um antigo mestre
A bruma e as montanhas sucediam-se em camadas
O mestre mostrou-me o caminho de regresso
A lua estava suspensa como redonda lanterna
O vagabundo do Dharma. 25 poemas de Han-Shan
Versão poética de Ana Hatherly
Pa vôs, Macau quirido, pequinino,
Nésga di chám pa Dios abençoado,
Macau cristám, qui fórça di destino
Já botá na caminho alumiado;
Pa vês, iou pensá vêm co devoçám,
Rabiscá unga poema di amôr,
Enfeitado co vôs no coraçám,
Pa têm mercê di bénça di Sinhôr.
II
Tera qui nôsse Rê chomá lial,
Sômente unga: sã vôs, bunitéza,
Filo di coraçám di Portugal,
Alma puro inchido di beléza.
Iou querê vêm contá co sentimento,
Vôsso estória pa mundo uvi!
— Qui di péna fino? Qui di talento?
Ai, qui saiám Camões nom-têm aqui!
Adé, José dos Santos Ferreira, "Poéma di Macau"
(em Doci Papiaçam di Macau)
Muito estranho sempre me pareceu
Os homens adorarem um deus.
E a vida a esse deus dedicarem
E diante dele se curvarem.
Que os deuses são feitos por dentro
Da matéria da sombra ou do vento.
Yüan Mei
Tradução de Maria Ondina Braga
Usem as vossas jóias de oiro e os vossos vestidos de seda.
Saboreiem enquanto é tempo os frágeis prazeres da vida.
Os ramos ficarão despidos quando vier o grande frio.
Sem o sol, emurchecidas as flores, que é a vida? Apenas saudade.
Tu Chiu Nang
Tradução de António Ramos Rosa
Contemplo ainda a poeira do mundo
exterior:
Na esfera do sonho que faria eu de novo?
Han-Shan, O vagabundo do Dharma
Versão poética de Ana Hatherly
[…] la domanda del Kan ―A che ti serve tanto viaggiare?‖ si chiude con Marco che afferma:
―L‘altrove è uno specchio negativo. Il viaggiatore riconosce il oço che è suo, scoprendo il molto
che non há avuto e non avrà.‖
I. Calvino, Città invisibili
L‘Empereur, penché en avant, la main sur les yeux, regardait s‘éloigner la barque de Wang qui
n‘était dejà plus qu‘une tache imperceptible dans la pâleur du crépuscule. Une buée d‘or s‘éleva et
se déploya sur la mer. Enfin, la barque vira autour d‘un rocher qui fermait l‘entrée du large ;
l‘ombre d‘une falaise tomba sur elle ; le sillage s‘effaça de la surface déserte, et peintre Wang-Fû et
son disciple Ling disparurent à jamais sur cette mer de jade bleu que Wang-Fû venait d‘inventer.
Marguerite Yourcenar, « Comment Wang-Fû fut sauvé »
Nasce o sol trabalhamos
Põe-se o sol descansamos.
Cavamos um poço, p'ra beber,
Lavramos um campo, p'ra comer:
O Imperador e o seu poder
- Queremos lá saber!
China - anónimo, séc. III a.C.,
"Canção de bater no chão"
Tradução de Gil de Carvalho
Transcorrida a sétima lua não recordo
as mulheres de cuja sabedoria aprendi.
Guardo o claro rosto daquela
que me recebia no templo do seu corpo
como se eu fora um deus.
Tao Li
Tradução de Rui Knopfli
Nada é mais flexível e fraco do que a água
mas para vencer o que é duro e forte, nada a ultrapassa
e nada poderia substituí-la.
A fraqueza vence a força;
a flexibilidade vence a dureza.
Todos o sabem
mas ninguém o consegue pôr em prática [...]
Lao Tse, Tao te King - Livro da Vida e da Virtude
Tradução de António de Melo
Une fois par an, allez quelque part
où vous n'êtes jamais allé auparavant
Dalaï-Lama
Rejeitaram a vida procurando a Via. As suas pegadas diante de nós.
Decisão inabalável: oferecer os pensamentos, destroçar os corpos.
Julgando-o enorme um grão de milho engana-nos sobre o Universo.
Julgando-o pequeno o Mundo esconde-se na ponta de uma agulha.
Antes de ter o ventre cheio a ostra pensa na nova acácia.
O âmbar, quando se deposita, recorda ter sido um pinheiro.
Se acreditarmos nas palavras escritas nas folhas indianas
Ouviremos todo o passado e o futuro num toque do sino do templo.
Li Shang-Yin, "Escrito na parede de um mosteiro"
Tradução de José Alberto Oliveira
O tempo é uma indiscrição de Deus. A
noção de tempo é-nos dada para nos
situarmos aos pés de qualquer acção que
se repetirá pelos milénios fora com a
mesma sagacidade e importância
inefável. Se perguntardes a um chinês
quanto tempo leva a desenhar uma cena
quase imperceptível numa pedra, ele
dirá: ―Dois ou três anos‖.
- Então, em toda a vida, não pintará
senão vinte pedras‖ – direis. E ele
responde:
- ―Nesta vida‖.
Agustina Bessa luís, ―A Pedra Pintada‖
Mas, sobre as mulheres de Macau, nem
as vinte pedras dão decerto uma ideia. A
mulher oriental é um reino à parte.
Vemos uma pequenina chinesa entrada
na idade circular entre asslot-
machines do casino, com uma alegria
pueril e ao mesmo tempo capaz de
vencer o destino. Tinha uma força
dinástica no pequeno corpo levíssimo; e
riu-se como se tudo fosse obra dos seus
sentidos. Riu-se francamente, como
fazendo troça sem malícia, gozando uma
liberdade a que se rendia a sua
curiosidade por milénios insatisfeita.
Agustina Bessa Luís, ―A Pedra
Pintada‖
Novelos de Silêncio
Maio ~ Setembro de 2007
eli miguel