O Ambo (Caderno Da Letra E)

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    AUGUSTO E GABRIELA

    OAMBO

    Fomos coincidentese fomos viajantes para praias prprias...

    [M. G. Llansol, Finita, 22 de Maro 1976]I

    Colares, 5 de Abril de 1987, domingo

    Desde ontem que leio nos jornais________ Prmio Inasset paraLlansol. Hoje, de dentro do meu nome ou fora dele, confluindo paraele surgiram os prados do espao de Herbais, o nevoeiro cheio de razesda Blgica, os animais com seus nomes circunscritos e, cabea, o etcoeterainfinito que faz entrar a lngua em mim, e sair outra de mim.

    O meu corpo um crculo receptivo a uma claridade que se espalha,tornando ntida a indiferenciao hierrquica dos seres. O meu nomerecebe tambm o Augusto, com seus filamentos de apoio, e inteligncia elucidez; est, assim, muito para alm de mim, difuso, paisagem agresteque algum me emprestou para eu viver, apagando-me, em Comunidade.

    [M. G. Llansol, Dossier DOA 14, p. 8]

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    VIVEREI PROCURA DELA PARA SER EU

    uma mulher que s disponibilidade, profundamente gentil, totalmentefrgil, realmente forte, soberanamente doce, sedenta de carcia, que formao seu amante imagem da sua certa e serena ousadia. Uma mulher deque o movimento minha alegria. De uma grande beleza. S lgica, schoro, s mentira, s fora. Vejo o vestido que flutua. Vejo o corpo leve,alegre, gil e livre. Vejo Deus que jovem graa. Vejo-me paisagem. Vejoo vazio e a forma. O vazio de tudo. A forma do amor. Vejo a mulher quesou. Como paisagem sou a mulher que jamais abandona o amante. Quetudo abandona.

    Viverei procura dela, para ser eu.

    Viverei minha procura, para ser ela.Chama-se Cantante Existe.

    VIVEREI MINHA PROCURA PARA SER ELA

    Inteligente, fina, organiza o real, intuitiva, belssima, os homens passamjunto dela e no a vem. Consagrou-se ao Amor e no seduz. Esconde-sesob mscaras e uniformes. Est onde ningum a procura, mas uma

    subterraneanssima melancolia a faz viver espera. Vivo com a imagemdela. Fonte da minha Alegria. Ela sopro, respirao retida, conteno degestos. No a revelao da mulher, nem dela, nem da cor, nem damsica, mas a revelao do choro de revelao. A verdade. Se nopodes contentar toda a gente com as tuas aces nem com a tua arte,escolhe as que convierem a um pequeno nmero. Satisfazer a multidono serve de nada.

    CHAMA-SE CANTANTE EXISTE

    A verdade consagrada ao Amor, Amorosamente. Amorque altssimo intelecto de adorao. S olhar. Smovimento.

    [Augusto Joaquim, folha avulsa, 1976]

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    Augusto Joaquim, Quatre histoires pour deux ballons(bande discursive)

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    II

    Ns somos caminhantes de autognese...

    ... Na minha vida e na do Augusto houve uma modificao. Tinhade ser. Ns somos caminhantes de autognese.(...)

    Por vezes, o Augusto parece-me monoltico, pouco tolerante. Elequer, no entanto, dar-se ao agir do pensamento livre, e deseja inscrev-locom preponderncia no meu curto destino. O que lhe agradeo. Digocurto, sem saber se a minha vida ser pequena ou grande. Curto , dequalquer modo, o tempo em relao experincia nostlgica, e durativa,que me leva.(...)

    Sentindo-me implicada na imagem do amor que A. tem de mim, e

    desejando que ele e eu sejamos os ltimos a viver em separao em facedo nada, ou no interior mltiplo do todo, utilizo a palavra, que tenhopor minha manifestao mais verdadeira, para que, atravs dos nossosseres, no nos afastemos desta Histria.

    De mim poder-se- dizer, como dele, que muito pertence a um s.(...)

    Em Setembro, antes da partida para Portugal, uma sequncia

    esplendorosa de dias em que me deixei ficar com a costura, o texto, osanimais e o jardim. A intensidade das contradies usuais entre mim e A.diminuiu, e o que prevalece o grande entendimento criativo que nosune. Para onde quer que formos, nascer um novo clima...(...)

    A simples maneira matinal de viverNa sala das diferenas que nos unem.

    [M. G. Llansol, Caderno 1.11, Agosto de 1981]

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    Quando leio os textos da Gabi,

    estou certo de que se trata da maior literatura mundial deste sculo XXque se arrasta industrial e tarda em se volver outro.

    Mas no de facto o mais importante.O que acho significativo o movimento do texto que guarda o

    leitor na leitura, o mantm num estado quasi permanente de elevaoconceptual e afectiva, no o engana quanto ao real e lhe abre possveis que tantos so os futuros que lhe restam a criar.

    O n do texto o movimento todo ele lngua. A lngua que meusolhos pensam ou que desejariam falar, quando o pensamento acolhe osconvites vindo do corao.

    Eu no creio que se trate de sentimento. H gosto em causa, issosim.

    O texto complexo, multilinear, figural e probabilstico. Eudivido-o em experincias-miniatura. Dez linhas, vinte, trinta linhas ouum pouco mais, em que um corpo se oferece e se vai. Uma tentativa.

    Quebram-se os gneros. Ousa-se uma coincidncia. Reposiciona-seuma personagem conhecida. Aos poucos instala-se o ser escrito. Armaeste o lugar primeiro e aceita o leitor que o possvel seja possvel, que esteseja o seu possvel.

    Claro que h uma tcnica,mas porque h um olhar visionrio,porque h uma vontadeque no se exerce na narrativa plausvel,mas na sua prpria fora em dar guarida, em qualquer pgina brancadisponvel, ao vago vagido de uma figura brumosa ou rgida que pedevidade h muito pedir socorro.

    (...)A tcnica no fundo simples.Frases quebradas. Abandono da narrativa linear.

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    Confronto de referncias entre si alheias. Multiplicao de posies.Seguir o movimento do gosto.Escutar a Restante Vida. Ir ao encontro de Causa Amante.Soprar no pensamento. Afirmar o sentido, no como mito, mas como oantigo futuro daqui.Um lquen sobre uma rocha.Uma voz que desbrava o caos ou talvez o quebrado ido a reinstalar-se naideia inteira.(...)Este texto tacteiaem imagens experimentais de poucas linhas,persistentemente tacteiaa possibilidade que nos aponta:viver entre Tudo. Nada. Ser a forma de ser at agora considerada menore errada. Abrir ao Entresser a sua sorte

    e dizer-lhe que um pouco de olhar vidente, mais um pouco de trauteadosostenutto som, mais outro pouco de gesto apropriado, e ainda outropouco de trao livre formar o quadrado da sua navegao,

    onde ns entrando,com prudncia entrando,veremos a Figura do Homem.

    [Augusto Joaquim, Caderno 4, pp. 11-15]

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    III

    6 de Fevereiro de 1979, tera

    Leitura do texto do Augusto, surpreendida pelo seu ritmo binrio.Sou impelida a ver uma espcie de estrutura trrea, dando para umaimensa cave / cavidade de ar que brilha. uma anlise carregada de umafora libidinal intensa, para mim. Para mim, a anlise o outro sexo, oopositor que vai, no entanto, suportar a minha trama.

    [M. G. Llansol, Caderno 1.06, pp. 196-97]

    17 de Outubro de 1982

    Estou no Nopri, margem do Nopri, e com o pensamento noencontro com Had[ewijch], nos limites que atingirei com a minha obra,e nas minhas relaes com A., que actualmente me culpabilizam. Comoeu mudei, como me voltei para horizontes de realizao, e de trabalho.Como me tornei ambiciosa por um nico livro. Desejo uma casa noisolamento, mas prxima da aco; uma fora apoderou-se de todos osmeus desejos e centralizou-os num nico objectivo: viver o mais aplicada

    e inovadoramente que for possvel, para poder da minha experinciadeixar memria.A este desejo invasor e violento o nico posso chamar suave

    desejo. E, no entanto, suave a consecuo da amplitude escrita, aimagem deixada no final da tempestade. A tempestade temporria e omau tempo; o tempo corre agora de maneira diferente, confronta-se matria figural produzida em livro; o livro tornou-se um ser, um sinal devida; e eu, opaca, tornei-me para ns mesmos um sinal de fogo, que h-

    de iluminar-vos para iluminar-se enquanto fruir deste carisma queexero agora.

    [M. G. Llansol, Caderno 1.13, pp. 106-107]

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    7 de Julho de 1983

    Ontem a Lurdes telefonou-me. Parece que o Eduardo PradoCoelho se referiu Restante Vidano Expresso dizendo que o meu textocontinuava enigmtico.

    A princpio desagradou-me a afirmao, mas depois, e aps umaconversa com o Augusto sobre a fatuidade da glria, comecei a sentir-meem paz, contente por a minha prosa ser designada de enigmtica.Enigmtica, desconhecida, sem se poder precisar nem as origens, nem asconsequncias. Uma espcie de personalidade velada, para que eu possaencontrar a paz e ligar-me com simplicidade, medida que vivo, funo de escrever: ela fala de coisas de que ningum ainda falou.

    [M. G. Llansol, Caderno 1.14, p. 128]

    Digo muitas vezes Gabi que o seu problema o de poder guardara distncia, como se costuma dizer de um atleta de maratona. Guardar adistncia sinnimo de ter reservas de flego, de vitalidade e de vontade,para chegar ao fim de uma meta, colocada excepcionalmente longe.

    A questo assim posta parece decorrer de uma viso realista.

    Mesmo se ela se impacientasse, nada resolveria porque nem o aparelhoeditorial pode arriscar somas sucessivas num s nome, nem o que correlato os leitores podem assimilar em acelerado o texto que elaconstri.

    Contudo, progressivamente, h uma outra intuio que germina eque no diz respeito nem ao aparelho editorial, nem inpcia dos crticos,nem aos complots dos escritores incapazes e ciumentos, nem imaturidade dos leitores.

    O problema da Gabi , afinal, mais simples: creio que o que elaescreve que o que ela v s o pode receber na grande distncia. Oque ela conta e assim contado s na grande distncia existe. No setrata talvez de eternidade, e ainda menos de posteridade, mas de um

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    desgnio, que s nessa grande distncia aparece com relativa, mas real,clareza.

    Sobre o mapa de um pas, h os pequenos nomes e os grandes, alocalidade e a provncia, a regio e o territrio nacional. Quem s prestarateno localidade, no poder ler sobre a carta o nome do pas ondeela se encontra.

    Os livros da Gabi o seu texto no so nomes de localidades e deprovncias, mas nomes de um pas com letras grandes e unicamentelisveis se o leitor adoptar a escala adequada. (...)

    Os livros da Gabi (...) so a trama larga da grande dimenso.Esperar no pode ser uma questo de pacincia, mas um modo de ser.

    [Augusto Joaquim, Caderno 6, pp. 67-69, 14 de Maio 1983]

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    Augusto JoaquimDE:PRODUZIR O REAL NO CAMPO DE BATALHA

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    IV

    1 de Julho de 1979

    Aceito a crise econmica que se prepara, a crise cultural portuguesapermanente numa espcie de onda que me soergue e me pe, por um diaque comeou agora, ao abrigo do circunstancial. Olho para mim mesma,sentada, sobrecarregada por estas preocupaes que pouco a pouco sedistanciam porque, como sempre, quero escrever. Dizia ao Augusto omeu sentimento sobre a explorao da cultura atravs da explorao dosautores portugueses. Ver um livro publicado seria j paga suficiente. Maisuma vez no posso ceder. Ou editar se traduz no cumprimento factual deum compromisso, ou o livro deve ficar por editar, existindo ausente.

    [M. G. Llansol, Caderno 1.07, pp. 63-67]

    *

    A Gabi preocupa-me.

    No consegue desligar a sua existncia imediata do desejo de glria

    literria. No v que o nico reconhecimento com valor o da terra ondepoisamos os ps: os nossos e os nossos prximos.A sua escrita tem a ver directamente com o destino da espcie. Seria

    necessria uma excepcional viso de critrios e de valores, para que nosprximos anos os crticos e outros fazedores de opinio lhe reconheam osentido e o alcance, e coloquem os seus textos no lugar primeiro.

    Por este andar, arrisca-se a perder o real e a correr atrs de umaquimera.

    (...)O que vale a pena explorar o que est mesmo ao alcance da mo,do olhar e do olfacto: os meandros afectivos, o servio, o aligeirar da vida,o habitculo inacessvel de cada espcie animal, a arte de criar uma casa.

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    Que ela nesse contexto escreva e viaje... tanto melhor, mas queespere reconhecimento pelo que s a perspectiva histrica pode dar...parece-me um perigoso contra-senso.

    [Augusto Joaquim, Caderno 6, pp. 110-111, 7 de Agosto 1983]

    *

    8 de Agosto de 1983

    A. cr que [o] eu sentir-me na fossa depressiva tem a ver com omeu desejo de reconhecimento e de glria. Mas no. Tem certamente aver com a necessidade absoluta de figuras humanas, com a casa, atitudes,

    cheiro prprio na roupa...

    [M. G. Llansol, Caderno 1.14, p. 135]

    V

    8 de Maro de 1981

    O Augusto no se cala quanto a sugestes sobre Da Sebe ao Ser. Asua inteligncia orientadora. Tenho de defender-me dele, porque, deforma inconsciente,ele pode vir a marcar este livrocom uma profunda impotncia minha,

    querendo levar-me por vias que no me pertencem.[M. G. Llansol, Caderno 1.10, p. 221]

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    30 de Maio de 1981

    Comeo o meu trabalho de sincretismo com Os Lusadas; tentolevantar-me da crise, [d]o rude desequilbrio de no encontrar inserosocial e cultural em parte alguma; a meu lado, o Augusto, e longe apenasminha me... [...]

    Decidimos esta manh, o Augusto e eu, salvar-me com uma ideiaperegrina. Ele iniciou h tempos o trabalho de reanimar Cames emnovas perspectivas de investigao; mas pode tambm haver um mtodointuitivo que conduza igualmente pelo estudo de uma poca frutuosa; eseria essa pesquisa dos mltiplos possveis que me caberia. Trata-se, pois, de uma soma de trabalho, de uma colaborao, quepoderia ligar-me, no imediato, a um meio humano.

    [M. G. Llansol, Caderno 1.10, p. 345]

    A obra que inicimos dever prosseguir em Herbais?Acabo por no saber se sim ou no.Herbais, na prtica, implica a minha actividade na sociedade e,

    nisso, significa pouca disponibilidade para a Obra.

    H igualmente a barreira da insero num tecido humano. Quaseno estamos integrados, e aqueles que conhecemos, aqui, fogem de nsou distanciam-se.

    Eu e a Gabi sabemos o que servimos, a longa distncia e prazo, mas,no dia a dia, tudo quase deserto, concentrados que estamos em dois outrs seres.

    Mas o maior problema a disponibilidade.

    A sociedade come-me o tempo todo.*

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    Augusto Joaquim

    AHORA SEXTA DE HERBAIS

    Este texto tornou a minha vida improvvel.Quase todos ns acabamos por chegar a essa concluso. Apenas aconteceque o descobrimos demasiado tarde, quando (imaginamos) j no temostempo para voltar atrs e reviver a vida nesse acorde. Esse dom foi-medado aos trinta anos. Estou-lhe infinitamente grato.

    O texto no agiu de uma s vez, mas agiu.

    Quase sem dar por isso, fui acabando com todos os peditrios que

    tinha em curso. Era ele a carreira, o prestgio, a poltica, o mundo finito,a famlia, a f, o mundo melhor.

    E veio Herbais. E veio o Jade.

    A vida podia no me ter acontecido. Ou acontecer-me, sem eu dar porisso. Bastaria talvez que eu no tivesse lido vejamos onde nos leva aescrita. A escrita, e no outra grafia qualquer.

    J contei, algures, como foi (posfcio a Causa Amante).

    Em este o jardim que o pensamento permite, que devo ter ouvidonum final de tarde, soube que definitivamente no me interessava afotografia das coisas, nem que o preo fosse viver durante anos, otempo que me fosse pedido, entre cpias da noite. E vivi.

    Interessa-me, agora, entre ns, o improvvel.

    No tem prova, mas abre ao gosto. O mundo pode reencantar-se, sem serpara nossa consolao. O pensamento no tem nada a ceder. Podesimplesmente aceder. Reconhecer quem o chama, a postura de umpensamento livre. verdade. Foi sem f que li, e leio este texto.

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    Encantado por haver um esprito humano que assim o escreve. S depois,decidi compreender. Talvez, farto de tanta glosa apostada em soterr-losob os escombros de tanto fascnio e comentrio.

    Hoje, sei que este texto me agir sempre.[2001]

    Desenho de Augusto Joaquim

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    AUGUSTOJOAQUIM

    Por que busco eu estes poderes?Para me subtrair ao poder.Existe em mim um comeo.H comeo. Sei que estouno comeo de alguma coisa,de Abrao.No penso quese trate de um povo: povo nunca mais haver. antes um novo ramoda espcie.Uma outra, e nova,forma de humano. Talvez nodo humano.

    Quando chegar o meu tempo de solido?J chegou:os meus anos de ser-em-Gabi. De

    permanncia nela.Sei que a a minha terra.Posso partiragora para a minha viagem de Nmadasem sair do lugar.Deu-se em mim

    a mutao primeira:depositar numa outra o meu ncleo maisntimo.

    A, posso comunicarcomigo prprioe, em mim, ela pode comunicarconsigo prpria.

    Eu no sou a sua alegria, nem o seu repouso:a sua obra est noutro lugar.Ela pode ir para esse lugar em paz,nada lhe faltar.

    Ela no a minha cama, nem a minha hora:a minha obra est em outro lugar na obra dela.Posso ir para esse lugar em paz,nada me far infeliz.

    Torno-me uma mulher, belo,ela torna-se um homem, forte.

    a minha beleza que a atrai. a sua fortaleza que me faz forte.

    Todos os poderesque buscotm esse gosto.

    J no sou eu, e ela j no est nela:o seu pas mudou de nomee tornou-se aquele que diz Simao poder.

    Aonde ir ela?Ela, que no me procurou,mas me esperou. Me encontrou,velho infantil abandonado que nela encontroua rapariga com sonhos de poder.

    Ela disse-me:qualquer um pode abater,mas h poucos que conheam a arte de deixardesmoronar-se o mundo da espcie antigae o seu poder sobre ns.

    Aonde ir elalevar o seu poder ao real?

    Dizer-lhe o queela me disse e

    voltar. Um sonho real!

    Reconhec-la-einesse tempo, eu que terei partidopara moldar um real minha imagem?

    Sei que assim ser.Que o sonho ser o meu sonho.Que a imagem ser a sua imagem.

    Todo eu sou um sonho,e toda ela feitade imagem e de forma.

    A afirmaoque h em mim, ela.

    A afirmaoque ela , em mim a cartado mundo novo.

    [Sosoye, 30 de Agosto de 1974]

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    Desenho de Augusto Joaquim

    6 DE ABRIL 2013