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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DCH I PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS O APAGAMENTO DO R EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: há influência da fala na escrita discente? LORENA NASCIMENTO DE SOUZA RIBEIRO Salvador 2013

O APAGAMENTO DO R EM POSIÇÃO DE CODA … · de portas para que uma estranha adentrasse seus mundos. MENSAGEM (Cidade Negra ± Lazão, Da Gama, Rás Bernardo, ... Ás vezes numa

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH – I

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS

O APAGAMENTO DO –R EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: há influência da fala na escrita discente?

LORENA NASCIMENTO DE SOUZA RIBEIRO

Salvador

2013

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH – I

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS

O APAGAMENTO DO –R EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: Há influência da fala na escrita discente?

LORENA NASCIMENTO DE SOUZA RIBEIRO

Orientadora: Profa. Dra. Cristina dos Santos Carvalho

Salvador 2013

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudo de Linguagens

LORENA NASCIMENTO DE SOUZA RIBEIRO

O APAGAMENTO DO –R EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: há influência da fala na escrita discente?

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Estudo de Linguagens

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________

Profa. Dra. Cristina dos Santos Carvalho – UNEB/PPGEL (orientadora)

____________________________________________________________

Profa. Dra. Jacyra Andrade Mota – UFBA

____________________________________________________________

Profa. Dra. Norma da Silva Lopes – UNEB/PPGEL

Salvador 2013

FICHA CATALOGRÁFICA

Sistema de Bibliotecas da UNEB

Bibliotecária: Jacira Almeida Mendes – CRB: 5/592

Ribeiro, Lorena Nascimento de Souza

O apagamento do -R – em posição de coda silábica: há influência da fala na escrita

discente? / Lorena Nascimento de Souza Ribeiro . – Salvador, 2013.

109f.

Orientadora: Cristina dos Santos Carvalho.

Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências

Humanas. Campus I. 2013.

Contém referências, apêndices e anexo.

1. 1. Sociolingüística. 2. Língua portuguesa - Variação. 3. Escrita. I. Carvalho, Cristina dos

Santos. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas.

CDD: 400

Dedico este trabalho ao Pai, Deus de Amor,

que atendeu sempre aos desejos do meu

coração e me deu forças para enfrentar as

tormentas do destino.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tudo que tem operado em minha vida e por todas as pessoas que passaram ou estão junto a mim neste caminhar.

A Marcos Paulo, esposo fiel, companheiro devotado, escudeiro incansável.

À minha boneca Sofia e ao menino mais lindo do mundo, Daniel, por trazerem a alegria da esperança em dias melhores.

Às minhas bases, D. Heliana (mainha) e Milena (irmãe), por dizerem sempre a verdade, por mais dura que fosse.

A S. Antonio (painho) e aos meus irmãos, Elton e Junior, por todos os “quebra-galhos” e socorros.

Ao meu amigo e compadre Valter de Carvalho, pelo plantão 24 horas de apoio acadêmico e emocional.

Às professoras, Jacyra Mota e Suzana Cardoso, por mostrarem, na superfície estrelada das Letras, o fascinante mundo da Sociolinguística. Trarei sempre as senhoras no coração.

À minha primeira orientadora no PPGEL, Profa. Lígia Pellon, por instigar o questionamento sobre o meu objeto de pesquisa e, assim, fortalecer minha certeza de que queira muito estudá-lo.

À minha orientadora, Profa. Cristina Carvalho, por toda paciência, perseverança, e, sobretudo, pela profissional que jamais esquecerei.

Aos professores Rosa Helena Blanco e Gilberto Sobral, pelo apoio para minha permanência no PPGEL

Ao Prof. João Santana, meu orientador de tirocínio docente, um exemplo humano e profissional. Quando crescer, quero ser igual ao senhor.

A todos os meus professores do PPGEL, pelo turbilhão de teorias e visões novas sobre o velho mundo das Letras.

Aos meus colegas da UNEB pela companhia agradável e debates produtivos em aulas, em especial, a Eduardo Santos, pela amizade sincera e apoio inconteste.

Aos profissionais e alunos das escolas observadas nesta pesquisa, pelo abrir de portas para que uma estranha adentrasse seus mundos.

MENSAGEM

(Cidade Negra – Lazão, Da Gama, Rás Bernardo, Bino Farias)

É uma passagem esta vida.

É para você onde estiver

Esta mensagem.

É importante você ouvir.

Em meio ao maior sofrimento

Você encontra a chave da felicidade.

Ás vezes numa derrota você encontra

A chave da próxima vitória.

Deus é a vontade de estar feliz !

RESUMO

Diversos fenômenos de variação linguística presentes na fala, transpostos para

as produções escritas de alunos, têm sido colocados indistintamente como

erros de cunho ortográfico em muitas salas de aula. Esta realidade motiva o

presente estudo, haja vista a necessidade de trabalhos que sirvam de norte

para práticas docentes mais situadas no universo multifacetado da nossa

língua. Neste trabalho, é apresentado, à luz da Sociolinguística Laboviana, um

estudo dos usos dos róticos em 192 produções escritas de alunos de ensino

básico (5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio) das

redes pública e privada de ensino na cidade de Salvador. Concebendo a língua

como fruto das interações sociais, o estudo aqui realizado pretende verificar o

papel dos fatores sociais no fenômeno investigado, sobretudo o papel do grupo

social escolar no processo de aquisição da modalidade escrita da língua, por

vezes, divergente da modalidade oral do aluno. Ademais visa analisar como os

contextos linguísticos favorecedores da variação na fala estão presentes no

apagamento do –R em posição de coda na escrita desses alunos, observando

desta forma como a fala pode influenciar a escrita. Para tanto, foram

controladas três variáveis sociais (escolaridade, gênero/sexo e rede de ensino)

e oito variáveis linguísticas (gênero textual, extensão do vocábulo, contexto

precedente, contexto subsequente, modo de articulação do segmento

subsequente, ponto de articulação do segmento subsequente, sonoridade do

do segmento subsequente, classe morfológica do vocábulo). Os resultados

revelaram que, na escrita, o fenômeno é pouco presente e, à medida que o

aluno avança nas séries do ensino básico, a manutenção dos róticos em

posição de coda silábica é mais recorrente, evidenciando, deste modo, o papel

decisivo da escola como lugar de manutenção do padrão linguístico.

Palavras-chave: Sociolinguística. Variação Linguística. Escrita. Apagamento

dos róticos.

ABSTRACT

Several phenomena of linguistic variation present in speech, transposed the written production of students have been placed indiscriminately as stamp spelling errors in many classrooms. This scenario motivates the present study, given the need to work to serve the north to teaching practices located in more multifaceted universe of our language. This work is presented in the light of Labov’s Sociolinguistic, a study of the uses of rhotics in 192 written productions of basic school students (5th degree of elementary, 9th degree of middle school and 3rd year of high school) from public and private schools in city of Salvador. Understanding language as result of social interactions, this research intents verify the role of social factors on the phenomena approached , especially the role of the scholar social group on the way to acquisition of written language, sometimes, dissonant oral language modality. Moreover, aims to examine how the linguistic contexts favoring variation in speech are present in the deletion of the –R in coda position in the writing of these students, noting how this can influence speech writing. For this 03 social variables were controlled (education, gender / sex and education network) and 08 linguistic variables (genre, length of the word, the preceding context, context subsequent manner of articulation of the subsequent segment, pivot point subsequent segment, sonority segment subsequent morphological class of the word). The results revealed that, in writing, the phenomenon is hardly present, and as the student progresses in the series of basic education, the maintenance of rhotics in coda position is more applicant, showing thereby the decisive role of the school as a place to maintain the standard language. Key-words: sociolinguistics. Linguistic Variation. Writing. Deleting rhotics

LISTA DE QUADROS

Quadro 2 – Resumo da cronologia dos estudos sobre os róticos 53

Quadro 3 – Distribuição dos informantes nas células 59

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados gerais do corpus: presença x ausência do –R 75

Tabela 2 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto precedente 78

Tabela 3 – O apagamento dos róticos na escrita e a classe morfológica 79

Tabela 4 – O apagamento dos róticos na escrita e a rede de ensino 81

Tabela 5 – O apagamento dos róticos na escrita e a escolaridade 83

Tabela 6 – O apagamento dos róticos na escrita e a extensão do vocábulo 84

Tabela 7 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto subsequente 86

Tabela 8 – O apagamento dos róticos na escrita e o ponto de articulação do segmento subsequente

88

Tabela 9 - O apagamento dos róticos na escrita: análise dos fatores escolaridade e rede de ensino

91

Tabela 10 - O apagamento dos róticos na escrita: análise dos fatores rede de ensino e sexo/gênero

92

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Dados gerais do corpus: presença x ausência do –R 77

Gráfico 2 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto precedente 79

Gráfico 3 – O apagamento dos róticos na escrita e a classe morfológica 80

Gráfico 4 – O apagamento dos róticos na escrita e a rede de ensino 82

Gráfico 5 – O apagamento dos róticos na escrita e a escolaridade 83

Gráfico 6 – O apagamento dos róticos na escrita e a extensão do vocábulo

85

Gráfico 7 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto subsequente

87

Gráfico 8 – O apagamento dos róticos na escrita e o ponto de articulação do segmento subsequente

89

LISTA DE ABREVIATURAS

ALIPA – Atlas Linguístico do Pará

C – consoante

L.P.L.B. – Língua Portuguesa e Literatura Brasileira

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

Projeto ALiB – Projeto Atlas Linguístico do Brasil

Projeto NURC – Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta

Projeto VARSUL – Projeto Variação Linguística na Região Sul do Brasil

V – vogal

SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS 10

LISTA DE TABELAS 11

LISTA DE GRÁFICOS 12

LISTA DE ABREVIATURAS 13

INTRODUÇÃO 16

1 BASE TEÓRICA 23

1.1 A Sociolinguística Variacionista 23

1.1.1 A sociolinguística e o ensino de língua portuguesa 29

1.2 Oralidade e escrita: interrelações 35

1.2.1 O processo de aquisição de regras ortográficas 38

1.2.2 A escrita e a oralidade na sala de aula 41

2 ESTUDOS SOBRE OS RÓTICOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO 44

3 METODOLOGIA 57

3.1 A constituição do corpus e a seleção dos informantes 58

3.2 A observação e análise dos dados 60

3.2.1 Procedimentos metodológicos adotados 61

3.2.2 Variável dependente 61

3.2.3 Variáveis independentes 62

3.2.3.1 Variáveis linguísticas 63

3.2.3.1.1 Gênero Textual 64

3.2.3.1.2 Extensão do vocábulo 65

3.2.3.1.3 Contexto precedente 66

3.2.3.1.4 Contexto subsequente 67

3.2.3.1.5 Ponto, modo de articulação e sonoridade do segmento

subsequente

68

3.2.3.1.6 Classe morfológica do vocábulo 69

3.2.3.2 Variáveis extralinguisticas 70

3.2.3.2.1 Escolaridade 70

3.2.3.2.2 Gênero/sexo 71

3.2.3.2.3 Rede de ensino 72

3.3 A ferramenta de análise – Goldvarb X 73

4 ANÁLISE DOS DADOS 75

4.1 Distribuição das variantes no corpus 75

4.2 Variáveis selecionadas pelo programa Goldvarb X 77

4.2.1 Contexto precedente 78

4.2.2 Classe morfológica 79

4.2.3 Rede de ensino 81

4.2.4 Escolaridade 82

4.2.5 Extensão do vocábulo 84

4.2.6. Contexto subsequente 86

4.2.7 Ponto de articulação do segmento subsequente 87

4.3 Variáveis não selecionadas pelo programa Goldvarb X 89

4.4 Cruzamento de variáveis sociais 91

CONSIDERAÇÕES FINAIS 93

REFERÊNCIAS 96

APÊNDICE A – Propostas de produção textual apresentadas aos

alunos

101

APÊNDICE B – Chave de codificação 102

APÊNDICE C – Comparação entre rodadas realizadas 105

ANEXO A – informações sobre projetos elencados do capítulo 2

106

16

INTRODUÇÃO

Os avanços nos estudos linguísticos mostram que conceber a língua

como um sistema homogêneo é uma utopia, pois, em sendo esta uma

ferramenta de interação social, seu aspecto multifacetado reflete a diversidade

das relações humanas. Contudo, por mais evolução que o advento dos estudos

linguísticos de cunho social tenha trazido à sociedade, o que ainda se vê, em

muitas escolas, é um ensino pautado na repetição, que desconsidera e, muitas

vezes, estigmatiza, muitos dos usos correntes desses alunos. Concomitante a

esse confronto há os meios de comunicação, cada vez mais velozes e

ditadores, cujas “boas falas” são seguidas, criando novos usos, ressuscitando

alguns e marginalizando outros. Em meio a este palco de “luta”, vê-se, cada

vez mais, os alunos admitindo não dominar o português, chegando até a

considerar sua língua pátria mais difícil do que línguas estrangeiras. Em suas

mentes, a noção estigmatizadora de erro é uma constante, principalmente no

que tange à escrita.

O norteamento inicial do ensino de língua escrita, alicerçado em um

ensino tradicional, encara fatos fonéticos correntes e pouco estigmatizados

como desvios no homogêneo e imutável sistema linguístico.

A associação entre estrutura e homogeneidade é uma ilusão. A

estrutura linguística inclui a diferenciação ordenada dos falantes e

dos estilos através de regras que governam a variação na

comunidade de fala; o domínio do faltante nativo sobre a língua inclui

o controle destas estruturas heterogêneas.(WEINREICH; LABOV;

HERZOG, 2006, p. 125)

Cabe, nesta perspectiva, ao ambiente escolar a manutenção de um

padrão, distanciando seus alunos da “profanação” que a língua sofre em

ambiente de pouca escolaridade, gerando, destarte, inseguros indivíduos

“escreventes”, fazendo do ato de comunicar-se uma negação de sua própria

identidade. Analisar fala e escrita como lados opostos e concorrentes é,

realmente, um equívoco, pois se trata de manifestações de um único sistema, a

língua.

Não obstante, a escrita segue um padrão e é papel da escola auxiliar

seus alunos a internalizarem as normas que regem sua ortografia oficial. Neste

17

momento, cabe o questionamento: o que fazer diante de um aluno que escreve

fora do padrão da língua?

Antes de solucionar este ponto, deve o professor entender o porquê de

seu aluno escrever fora do padrão, perceber quais fatores levaram seu aluno a

esse “descaminho”, para que assim possa proporcionar em sua sala de aula

um ambiente verdadeiramente respeitoso, no qual seja passado um padrão

normativo da língua ao passo que não rotule o uso trazido por seus alunos.

Neste diapasão, ressalta Marchuschi:

Não importa se na modalidade escrita ou falada. Podemos observar

que a construção de categorias para reflexão teórica ou para

classificação são tanto um reflexo da linguagem como se refletem na

linguagem e são sempre construídas interativamente dentro de uma

sociedade.(MARCHUSCHI, 2007, p.35)

É neste contexto que se insere a pesquisa ora proposta: analisar o

fenômeno de apagamento dos róticos em coda silábica em final palavra na

escrita dos alunos soteropolitanos, tentando, assim, observar em que contextos

o cancelamento consonantal emerge.

De acordo com Simões (2006):

Há estruturas básicas da fonologia da língua que podem e devem ser

assentadas desde as primeiras séries do ensino fundamental, para

que o estudante obtenha ponto de partida para seu aperfeiçoamento,

fundamentando sua prática de usuário da língua com uma dose de

raciocínio linguístico (SIMÕES, 2006, p. 15)

Essas palavras servem de realce para a necessidade de estudos

linguísticos voltados para a orientação do trabalho do professor. Em algumas

situações do dia a dia em sala de aula, o docente de ensino básico, ao se

deparar com uma redação em que seu aluno escreve, apenas focaliza o “erro”,

sem se preocupar com o conteúdo informacional do enunciado. Tal prática

supervaloriza estruturas que, provavelmente, com o avanço do tempo de

escolarização, não se apresentarão tão constantes nos usos do aluno,

porquanto este tenderá a assimilar as diferenças entre o uso oral e escrito da

língua. Munir este profissional com estudos que observem a realidade de sala

de aula faz-se de importância ímpar para a luta contra uma escola

estigmatizadora e fadada ao fracasso.

18

(01) “ Plantar árvores, regar plantas, para de andar de carro e só usar

bicicleta e metror”

De igual modo – não obstante a necessidade de estudos norteadores

para a prática docente no ensino básico – o estudo em questão justifica-se,

primordialmente, por seu caráter investigativo da realidade linguística

soteropolitana, somando-se a seus antecessores para o delineamento da

realidade linguística brasileira.

Na fala, é predominante a ausência do –R em posição final de vocábulo,

principalmente na forma do infinitivo verbal e vocábulos monossilábicos

(CALLOU; MORAES; LEITE, 1996; OLIVEIRA, 1999; MOTA e SOUZA, 2009;

entre outros), fato evidenciado também em posição medial, sobretudo em

vocábulos de uso mais corrente (NASCIMENTO; RODRIGUES; CUNHA, 2006;

GOMES, 2006; BRANDÃO, 2008, entre outros). Assim, após análise de

estudos anteriores sobre este processo de variação, idealiza-se a possibilidade

de observar a influência desta fala na escrita dos indivíduos. Pretende-se

então, neste trabalho, verificar se, tal evento, comum e não marcado na fala,

será encontrado, também na escrita, ratificando a hipótese de influência da fala

na escrita, sobretudo nos indivíduos com menor tempo de escolarização e

aqueles de acesso restrito à leitura, diferenciando-os daqueles pertencentes a

uma classe social mais próxima da cultura formal e escolarizada.

Assim, a presente pesquisa, ao analisar os registros escritos de

estudantes soteropolitanos, objetiva identificar os possíveis contextos

linguísticos e extralinguísticos motivadores da realização ou do apagamento do

rótico em coda silábica em final de palavra na escrita de estudantes.

Como aporte teórico, o presente estudo assenta-se nas ideias

preconizadas pela Sociolinguística Laboviana de cunho quantitativo (LABOV,

2008 [1972]; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, entre outros), nos estudos

que vêm sendo chamados de Sociolinguística Educacional (BORTONI-

RICARDO, 2004, 2005, entre outros) e nas contribuições dos estudos em

Fonologia, mais especificamente no estudo da sílaba (COLLISCHCONN, 1996,

entre outros).

A dinâmica da Linguística se constitui no fato de que as línguas

humanas não são estáticas, elas se alteram continuamente no tempo, de forma

19

lenta, sem que os falantes percebam o complexo jogo da mutação. Deste

modo, nos últimos tempos, esta ciência apresenta-se como objeto de interesse

de muitos pesquisadores que buscam estabelecer relações da língua e suas

múltiplas funções com uma sociedade cada vez mais heterogênea e

diversificada.

Um dos caminhos seguidos pela Linguística está na abordagem

sociolinguística que objetiva processar, analisar e sistematizar o universo

aparentemente “caótico” da língua falada. Assim, pode-se entender que a

Sociolinguística é uma área dentro da Linguística que teve início com William

Labov, linguista norte-americano que principiou a “Teoria da Variação”:

O modelo de análise proposto por Labov apresenta-se como uma reação à ausência do componente social no modelo gerativo (...) [ele] voltou a insistir na relação entre língua e sociedade e na possibilidade, virtual e real, de se sistematizar a variação existente e própria da língua falada.(TARALLO, 2007, p.07).

A perspectiva laboviana busca entender a língua em seu contexto social

– as regras de inserção e as variações sociais expressivas – como elemento

prático, baseado em uma metodologia própria. A Sociolinguística analisa os

aspectos sociais com o intuito de compreender melhor o funcionamento das

línguas, pois ela tem a heterogeneidade como foco, a qual permite a variação

linguística.

Em contrapartida, há alguns teóricos que entendem que a variação é

apenas um acidente e não uma característica essencial das línguas. A

Sociolinguística tenta provar que a variação é essencial à própria natureza da

línguas humanas, é o produto do uso. Tal pensamento ganha forma nas

palavras de Weinreich, Labov e Herzog (2006) quando defendem que:

Um linguista que exclui fatores sociológicos teria de lidar com o

inglês nova-iorquino como um feixe de dialetos separados que

fortuitamente estão mudando em paralelo, ou, desprezando a

diferenciação socioeconômica, considerá-lo como um objeto único

caracterizado por intensa varaiação livre. Qualquer das atitudes, no

entanto, o privaria da explicação mais óbvia para o comportamento

da maioria – o fato de que a mudança se origina no subgrupo de

20

posição mais elevada. E seguramente o comportamento de cada

classe nos diversos estilosnão é uma alternância indiferente entre

estilos aleatórios: o cartáter de (r) como traço de prestígo é

confirmado por toda a rede de disparidades estilísticas e

sociais.(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 117-8)

A partir deste pressuposto, a investigação da linguagem no contexto

social é necessária a fim de encontrar respostas para os problemas que

emergem da variação inerente ao sistema linguístico. A título de ilustração,

pode-se citar o reflexo da variação linguística em sala de aula. Hoje, muitos

educadores ainda não sabem agir diante dos chamados “erros de português”.

Por isso, Bagno (2007), afirma que:

[...] devemos prestar toda a atenção possível ao que está

acontecendo no espaço pedagógico em termos de discriminação,

desrespeito, humilhação e exclusão por meio da linguagem. É

inadmissível, nos dias de hoje, que o modo de falar de uma pessoa

continue sendo usado como justificativa para atitudes

preconceituosas e humilhantes. (BAGNO, 2007, p.27)

Esses “erros” são simplesmente diferenças entre as variedades da

língua, que, com frequência, se apresentam no domínio do lar, em que

predomina uma cultura de oralidade, em relações permeadas pela

informalidade e em culturas de letramento, como a cultivada na escola.

E é no momento que o aluno usa uma regra não-padrão que as

variantes se justapõem em sala de aula, como demonstram os exemplos 02 e

03:

(02) “Vemos meios de economizar, recicla, não polui.” (aluna 5º ano –

rede particular)

(03) “Sua atitude pode nos prejudica” (aluna 9º ano – rede pública)

De acordo com a linguística moderna, é necessário estar atento às

diferenças de culturas que o aluno representa e a da escola. Assim, deve o

educador encontra formas efetivas de conscientizar os educandos sobre estas

diferenças.

21

[...] uma das principais tarefas da reeducação sociolinguística é elevar a auto-estima linguística das pessoas, mostrar a elas que nada na língua é por acaso e que todas as maneiras de falar são lógicas, corretas e bonitas.(BAGNO, 2007, p.36)

Todos falam “a mesma língua”, porém apresentam traços que ora os

caracterizam (particularizam), ora os agrupam, mostrando, assim, que a língua

falada vive a história de cada falante, variando no tempo e no espaço. Essas

variações, se rechaçadas pela norma culta, estigmatizam; caso contrário, se

legitimadas, passam a ser cultas. As línguas variam, tanto em sua forma falada

quanto em sua forma escrita. A esse respeito Marchuschi (2007) afirma:

O interessante nesta perspectiva é que a variação se daria tanto na

fala como na escrita, o que evitaria o equívoco de identificar a língua

escrita como a padronização da língua, ou seja, impediria identificar a

escrita como equivalente a língua padrão, como fazem os autores

situados na perspectiva da dicotomia estrita.(MARCHUSCHI, 2007,

p.32

A escrita se encontra em um estado normatizado, sujeito às regras

estabelecidas. Surge o grande desafio do educador: tratar a influência da fala

na escrita, como meio de evitar estigmatizações, propiciando ao aluno a

possibilidade de inserção numa sociedade como a nossa atual.

Desta forma, esta pesquisa segue seu curso, tendo por desafio observar

os usos linguísticos nos registros de estudantes ao longo do ensino básico,

possibilitando a interessados em prática pedagógica debates para aplicações

práticas para seus frutos, visando, assim, contribuir para o trabalho de

docentes de Língua Portuguesa e, por conseguinte, para a democratização do

ensino da língua materna no país, numa atitude pedagógico-inclusiva.

O trabalho que ora se delineia apresenta a seguinte forma

organizacional:

O capítulo inicial da presente pesquisa, Base teórica, apresenta a

seguinte formatação: inicialmente, aborda-se o norte principal deste estudo,

cujos pressupostos teóricos e metodológicos se orientam pela Sociolinguítica

Variacionista; e em seguida, trata-se dos processos de relações entre as

modalidades falada e escrita da língua, mostrando que a oralidade e escrita

como interrelações.

22

Em continuidade ao delineamento da pesquisa, tem-se o segundo

capítulo Estudos sobre os róticos no Português Brasileiro. Nele contemplam-se,

em ordem cronológica, as pesquisas que antecederam a esta, visando

esquematizar os principais contextos favorecedores do apagamento dos róticos

na fala brasileira.

Com o fito de refazer o caminho percorrido ao longo do presente estudo,

o texto segue com a apresentação da Metodologia adotada para dar conta do

objetivo principal da pesquisa. Nesta etapa, apreseentam-se a constituição do

corpus, a seleção dos informantes, a observação e análise dos dados e a

ferramenta de análise – Goldvarb X.

Em sequência ao curso da pesquisa, há o capítulo Análise dos dados.

Neste capítulo, expõe-se a distribuição geral das variantes no corpus, e

analisam-se os contextos favorecedores do fenômeno foco do estudo por meio

da observação das variáveis (não) selecionadas pelo programa Goldvarb X.

Por fim, traçam-se as Considerações finais, resumindo-se os prinicipais

resultados, dialogando-se com o “já dito” em pesquisas anteriores e apontando-

se possíveis encaminhamento. É necessário ressaltar que o estudo não se

finda. As reflexões aqui apresentadas não têm a pretensão de ser axiomas,

mas sim o prosseguir de um caminho, uma vez que “Fino, estranho, inacabado

é sempre o destino da gente” (João Guimarães Rosa).

23

1 BASE TEÓRICA

A pesquisa aqui retratada orienta-se pelos pressupostos teóricos da

Sociolinguística Variacionista propostos por William Labov, cuja base encontra-

se na observação do caráter multifacetado da língua propiciado pelas relações

sociais, adotando, para tanto, a observação, descrição e interpretação do

comportamento linguístico do ser humano enquanto ser social.

É mister ressaltar que, para melhor investigação do objeto desta

pesquisa, somaram-se à Teoria Variacionista Laboviana os estudos que vêm

sendo denominados de Sociolinguística Educacional (BORTONI-RICARDO,

2004, 2005; GARRÃO NETO,2009; PILOTO; GORSKI, 2003).

1.1 A Sociolinguística variacionista

O homem, há muito tempo, busca compreender-se. Assim, uma vez a

língua sendo meio de expressão do indivíduo em suas relações sociais, a

busca por essa compreensão da essência humana dá-se, também, no campo

dos estudos da linguagem. De igual modo, também há muito remontam as

indagações do homem quanto ao caráter multifacetado da língua. Tais

afirmações encontram lastro em diversos textos, inclusive os datados antes da

Era Cristã, a exemplo do diálogo platônico “Crátilo”. Neste escrito filosófico, o

mestre Sócrates debate com Hermógenes a origem dos nomes, a partir de um

oráculo feito por Crátilo a Hermógenes, cujo tema é a origem e significado dos

nomes. Ao longo do debate, Hermógenes revela sua observação quanto às

variações que ocorrem na língua, no momento em que afirma a Sócrates que:

"também vejo, às vezes, cada uma das cidades atribuindo nomes distintos às

mesmas coisas, tanto os gregos diferentemente de outros gregos, quanto estes

dos bárbaros".

O texto aqui tomado como gatilho para discussão não objetiva o estudo

da língua em si, contudo configura-se como importante exemplo de como o

entendimento da língua é ímpar para a compreensão do homem enquanto

indivíduo perante a sociedade. E é justamente nesta perspectiva social que se

inserem os estudos sociolinguísticos, cuja base teórica encontra-se na

concepção de língua sob a ótica social, como bem sinalizam Cezario e Votre:

24

Para essa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação. (CEZARIO; VOTRE, 2009. p. 141)

É possível perceber o debate quanto ao caráter social da língua desde o

início do século passado nas considerações do linguista francês Antoine Meillet

em seu artigo “Comment les mots changent de sens”, no qual, sob a influência

do pensamento Durkheimiano, apresenta uma visão diferenciada de estudo da

língua, definindo-a como um fato social, diferentemente da visão científica

dominante de sua época, o estruturalismo.

Para melhor compreensão do pensamento estruturalista, segundo

Weedwood (2002), faz-se necessária a análise separada de suas duas

vertentes: a europeia e a americana. O estruturalismo europeu tem como

marco inicial a publicação do Curso de Linguística Geral de Ferdinand

Saussure, no qual, sob a influência das ideias de Humboldt, discorre sobre a

estrutura do sistema linguístico a partir de dicotomias: langue (totalidade de

regularidades e padrões de formação que subjazem de um enunciado) x parole

(comportamento linguístico que designa os enunciados reais). Desta forma, o

estruturalismo europeu, representado pela Escola de Praga e pela Escola de

Copenhague, é um termo que se refere à visão de que existe uma estrutura

relacional abstrata subjacente e esta se distingue dos enunciados reais.

Compartilhando uma série de características do estruturalismo europeu, tem-se

o estruturalismo americano, preconizado por Franz Boas (1858-1942), Edward

Sapir (1884-1939) e Leonard Blomfield (1887-1949). Este último adotou

explicitamente uma abordagem behaviorista do estudo da língua, eliminando

toda referência a categorias mentais ou conceituais. Outro aspecto

característico da vertente americana do estruturalismo está na tentativa de

formulação de uma série de “procedimentos de descoberta”, os quais poderiam

ser aplicados mais ou menos mecanicamente a textos e poderiam gerar uma

descrição fonológica e sintática apropriada da língua dos textos.

Assim, uma vez visualizada a atmosfera científica vivenciada por Meillet,

é possível perceber a grande importância de seus estudos para essa nova

visão do elemento social como parte atuante nas mudanças de uma língua,

25

comungada, anos depois, com Labov quando expõe, no capítulo O estudo da

língua em seu contexto social, em Padrões Sociolinguísticos:

As questões teóricas a serem levantadas também farão parte da categoria da linguística geral. Estaremos preocupados com as formas das regras linguísticas, sua combinação em sistemas com o tempo. Se não houvesse necessidade de contrastar este trabalho com o estudo da língua fora de seu contexto social, eu preferiria dizer que se trata simplesmente de linguística.(LABOV, 2008 [1972], p.216)

A partir das colocações de Meillet, “surge assim, desde o nascimento da

linguística moderna, em face de um discurso de caráter estrutural e insistindo

essencialmente na sua forma da língua, outro discurso que insiste em suas

funções sociais” (CALVET, 2002. p. 17).

Um passo importante no desenvolvimento desta então nova visão da

língua data de 1964, mais precisamente em um congresso na Universidade da

Califórnia – Congresso de UCLA –, organizado pelo linguista William Bright.

Nesta ocasião, cunhou-se o termo Sociolinguística, tendo por fruto dos debates

ali realizados a publicação do livro intitulado “Sociolinguistics”. Entre os

estudiosos deste marcante evento para os estudos sociolinguísticos, estão

Bright, Dell Hymes, William Labov, John Gumperz, Einar Haugen, John Fisher,

José Pedro Rona, entre outros. É necessário destacar a importância deste

congresso para a consolidação dos estudos da área, sobretudo no que se

refere às dimensões da Sociolinguística, tema introdutório de “Sociolinguistics”,

em que Bright define e caracteriza a área, além de pontuar o papel da

Sociolinguística em relacionar as variações linguísticas em uma comunidade às

distinções inerentes à estrutura da sociedade.

Também no início da década de 1960, há um grande passo nos estudos

sociolinguísticos com a análise do falar dos habitantes da ilha de Martha’s

Vineyard (1963). Em sua dissertação de mestrado, cujo objetivo foi estudar a

frequência e distribuição das variantes fonéticas dos ditongos /ay/ e /aw/ nas

diversas regiões, faixas etárias, grupos profissionais e étnicos dentro da ilha

americana, localizada no estado de Massachusttes, William Labov concebe a

vertente quantitativa da Sociolinguística – também conhecida como Teoria da

Variação ou Sociolinguística Variacionista – e constrói uma metodologia em

26

que os dados linguísticos são passíveis de sistematização e análise. Assim, o

autor mostra, por meio da observância de dados estatísticos, a necessidade

dos habitantes mais velhos da ilha em intensificar a pronúncia local como

reflexo de uma reação a fortes mudanças sociais decorrentes da ocupação do

território por veranistas e, destarte, evidencia o fato de a língua ser um fator de

identidade social.

Outro estudo de suma significância para o avanço metodológico dos

estudos sociolinguísticos foi desenvolvido por Labov, em sua tese de

doutoramento. Nele, o estudioso analisa a estratificação social do inglês nova-

iorquino (1966) a partir da análise do fenômeno de presença e ausência da

consoante pós-vocálica -R em falas de vendedores de três lojas de

departamentos subdivididas em status superior, médio e inferior, intentando,

assim, mostrar como o falar destes profissionais revela-se em consonância à

estratificação social dos seus locais de trabalho. Além do estrato social das

lojas e, por conseguinte, de seus funcionários, Labov também analisou outras

variáveis de cunho social atuando na variação foco do estudo tais como a raça

e a ocupação de seus informantes.

Neste diapasão, ao sinalizar o papel dos fatores sociais no processo de

variação da língua, Labov estabelece um modelo teórico-metodológico de

descrição e interpretação de fenômenos linguísticos, ou seja, um modelo que

estuda a língua em uso nas comunidades de fala, focando a atenção em um

tipo de investigação em que aspectos linguísticos e sociais encontram-se

correlacionados.

Os objetivos basilares da Sociolinguística Variacionista são

estabelecidos tendo como ponto de partida a ideia de heterogeneidade da

língua e da sociedade e podem ser resumidos em analisar e legitimar variantes

usadas numa comunidade de fala e compreender a relação entre variação e

mudança linguísticas. Assim, a partir da Sociolinguística, tem-se a ênfase ao

caráter multifacetado da língua e sua constante mutação, consoante às

mudanças do meio social em que se insere:

Os procedimentos da linguística descritiva fundamentam-se na

concepção de que a língua é um conjunto estruturado de normas

27

sociais. No passado, foi útil considerar que tais normas eram

invariáveis e compartilhadas por todos os membros da comunidade

linguística. No entanto, as análises mais detalhadas do contexto

social em que a língua é utilizada vieram demonstrar que muitos

elementos da estrutura linguística estão implicados na variação

sistemática que reflete tanto a mudança no tempo quanto os

processos sociais extralinguísticos. (LABOV, 2008 [1972]. p 12)

Assim, neste cenário de evolução nos estudos linguísticos, surge o

modelo teórico variacionista proposto por Labov, o qual, como exposto

anteriormente, é orientado pela relação entre a língua e sociedade, insistindo

na possibilidade de sistematizar a variação linguística. Nesta perspectiva, além

de regras categóricas, há, no sistema linguístico, regras linguísticas variáveis,

uma vez que o favorecimento de uma forma dá-se pelas circunstâncias

linguísticas e não linguísticas apropriadas à aplicação de uma regra específica.

Deste modo, afirma-se que a língua é passível de variação e que um mesmo

vocábulo ou construção pode ser realizado de formas diversas, que a teoria

laboviana define por variantes linguísticas.

A Sociolinguística Variacionista tem por objeto de estudo a variação e a

mudança da língua no contexto social da comunidade de fala. O estudioso

dessa corrente de estudos linguísticos vê a língua como dotada de

“heterogeneidade sistemática”, elemento importante na identificação de grupo e

na demarcação de diferenças sociais na comunidade:

A mudança aparece primeiramente como um traço característico de

um subgrupo específico, sem atratir a atenção particular de ninguém.

À medida que avança dentro do grupo, ela pode também se difundir

para fora, numa onda, afetando primeiramente os grupos sociais mais

próximos do grupo de origem. Inevitavelmente, o traço linguístico fica

associado com as características expressivas do grupo de origem,

seja qual for o prestígio ou outros valores sociais associados a tal

grupo pelos demais membros da comunidade de fala (LABOV, (2008

[1972], p. 366)

Como tratado anteriormente, a língua não é propriedade do indíviduo e

sim um bem social. Deste modo, Labov, a partir da crença em um novo modelo

de fazer Linguística, estuda empiricamente as comunidades de fala. De acordo

com Labov (2008 [1972]), o sociolinguistica concorda que a produção e

interpretação de um usuário da língua não são o lugar primário da investigação,

28

nem unidade finais de análise, mas os componentes usados para construir

modelos de nosso objeto primário de interesse: a comunidade de fala.

Deste modo, configura-se a Sociolinguística como a ciência que estuda

a estrutura e evolução da língua em seu contexto social da comunidade,

evidenciando seu aspecto multifacetado: a heterogeneidade linguística. Labov,

ao tratar de heterogeneidade linguística, suscita a reflexão a seguir:

Seria apropriado perguntar, neste momento, quais são as propriedades mais úteis de uma variável linguística para servir de foco para o estudo de uma comunidade de fala. Primeiro, queremos um item que seja frequente, que ocorra tão reiteradamente no curso da conversação natural espontânea que seu comportamento possa ser mapeado a partir de contextos não-esturuturados e de entrevistas curtas. Segundo, deve ser estrutural: quanto mais integrado o item estiver num sistema amplo de unidades funcionais, maior será o interesse linguístico intrínseco do nosso estudo. Terceiro, a distribuição do traço deve ser altamente estratificada: ou seja, nossas explorações preliminares devem sugerir uma distribuição assimétrica num amplo espectro de faixas etárias ou outros estratos ordenados da sociedade. (LABOV, (2008 [1972], p. 26)

Assim, a variação sistemática é um caso de modos alternativos de dizer

a mesma informação, sendo esses modos portadores do mesmo significado

referencial. Nesta perspectiva, dois enunciados que se referem ao mesmo

estado de coisas, com o mesmo valor de verdade compõem variantes de uma

mesma variável. A Sociolinguística, cuja gênese está nos estudos de Labov,

configurou-se como sinônimo do estudo da variação e mudanças linguísticas.

Como já mencionado, os primeiros trabalhos de Labov baseiam-se na

proposta de correlacionar os padrões linguísticos variáveis a diferenças

paralelas na estrutura social em que falantes estão inseridos. Investigando

variáveis fonológicas, tais como a centralização dos ditongos /ay/ e /aw/ e o

apagamento dos róticos, o autor constata uma forte ligação entre a

estratificação social dos falantes e seus usos linguísticos diferenciados.

A Teoria da Variação rompe com a dicotomia sincronia/diacronia de

Saussurre aproximando-as e correlacionando variação e mudança: “Afinal de

contas, para que os sistemas mudem, urge que eles tenham sofrido algum tipo

de variação.” (TARALLO, 2007, p. 25). A conjunção entre sincronia e diacronia

permite que o enfoque não seja o de mudanças abruptas ou etapas estáticas.

Pode-se dizer que, “a partir de tais e tais características estruturais e de tais e

29

tais condições de funcionamento, o sistema, quase que preditivamente,

caminhou na direção X e não na direção Y” (TARALLO, 2007, p.26). Assim

sendo, é basilar a ideia de que:

Fatores linguísticos e sociais estão intimamente inter-relacionados no desenvolvimento da mudança linguística. Explicações confiadas a um ou outro aspecto, não importa quão bem construídas, falharão em explicar o rico volume de regularidades que pode ser observado nos estudos empíricos do comportamento linguístico. (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 126)

Por meio do estudo da variação, é possível captar a direção e algumas

generalizações acerca da mudança. De acordo com Faraco (2005), a mudança

não se refere à troca direta e abrupta de um elemento por outro, mas envolve

sempre uma fase de concorrência. Da variação entre duas formas para a

codificação de uma mesma função/significação, uma pode se fixar na função

tornando a outra obsoleta, embora nem sempre seja esse o caso.

1. 1.1 A Sociolinguística e o ensino de Língua Portuguesa

É inconteste o fato de que a língua, apesar de tantas mudanças sociais

vivenciadas pela sociedade brasileira nas últimas décadas, ainda se configura

como um profícuo veículo de exclusão social posto que esta, na condição de

bem cultural, revela-se como um importante indicador da estratificação social.

Além do desenvolvimento científico e tecnológico no país, os estudos

sociolinguísticos adquiriram, ao longo dos anos, importância política, sobretudo

para a educação nacional, mais especificamente, para as políticas de ensino

da Língua Portuguesa. Analisando uma outra realidade sociocultural, tem-se o

pensamento de Silva-Corvalán (2001), que reforça o valor de tais estudos para

a educação como um todo:

La amplia gama de estudios sociolingüísticos realizados en los

últimos treinta años dan prueba de la validez e importancia de la

sociolingüística en el campo de la educación. (SILVA-CORVALÁN,

2001.p.26)1

Têm-se no Brasil, como marco deste destaque, os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) em que, repetidas vezes, encontram-se

1 A ampla gama de estudos sociolinguísticos realizados nos últimos trinta anos dão prova da

validade e importância da Sociolinguística no campo da educação.(tradução nossa)

30

referências a conceitos oriundos da nova mentalidade presente no pensamento

da nossa sociedade, resultante do entendimento sobre o vernáculo propiciado

pelos estudos de diversidade linguística. Nos dias atuais, contudo, a educação

nacional enfrenta um grande desafio: transpor o conhecimento científico de

modo efetivo e eficaz para o cotidiano da sala de aula. Nesta linha de

pensamentos, tem-se a contribuição dos PCN , que defendem que:

(...) não são os avanços do conhecimento científico por si mesmos que produzem as mudanças no ensino. As transformações educacionais realmente significativas — que acontecem raramente — têm suas fontes, em primeiro lugar, na mudança das finalidades da educação, isto é, acontecem quando a escola precisa responder a novas exigências da sociedade. E, em segundo lugar, na transformação do perfil social e cultural do alunado: a significativa ampliação da presença, na escola, dos filhos do analfabetismo — que hoje têm a garantia de acesso mas não de sucesso — deflagrou uma forte demanda por um ensino mais eficaz. (BRASIL, 1997. p. 21)

Na mesma linha desta latente inquietação evidenciada no texto dos

PCN, Bortoni-Ricardo, ao tratar sobre “O Estatuto do erro na língua oral e na

língua escrita”, enfatiza o papel singular do professor na necessária mudança

das práticas de sala de aula:

[...] é nossa tarefa na escola ajudar os alunos a refletir sobre sua língua materna. Essa reflexão torna mais fácil para eles desenvolverem sua competência e ampliarem o número e a natureza das tarefas comunicativas que já são capazes de realizar, primeiramente na língua oral e, depois, também, por meio da língua escrita. A reflexão sobre a língua que usam torna-se especialmente crucial quando nossos alunos começam a conviver com a modalidade escrita da língua. (BORTONI-RICARDO, 2013)

Em meio a tantos questionamentos e apreensões, há a vertente

educacional dos estudos sociolinguísticos, na qual é possível observar as

implicações que diversos fenômenos analisados exercem no processo de

ensino e aprendizagem de língua materna, em especial nas séries do ensino

fundamental. Tais estudos pretendem contribuir ainda mais para a melhoria da

qualidade do ensino, uma vez que pesquisam a realidade linguística dos

usuários da língua, os alunos, entrelaçando, em suas análises, fatores internos

à língua (fonologia, morfossintaxe, semântica) e fatores externos à língua

(sexo, faixa etária, situação econômica, cultural, entre outros).

Para uma melhor compreensão do processo de variação linguística,

Bortoni-Ricardo (2004) define três contínuos: contínuo de urbanização,

31

contínuo de oralidade-letramento e o contínuo de monitoração-estilística. Este

modelo de descrição revela-se importante para um melhor entendimento dos

aspectos que caracterizam a variação linguística. Nesta pesquisa, recorre-se

aos contínuos de oralidade-letramento e monitoração-estilística. No primeiro

caso, pretende-se observar o comportamento linguístico dos indivíduos que

contribuíram para a formação do corpus analisado, uma vez que se levam em

conta eventos de comunicação mediados pela escrita e eventos marcados pela

oralidade sem influência direta da escrita, acreditando-se, destarte, que o

primeiro tipo de evento apresenta traços da oralidade, uma vez que a língua

falada é mais corrente nas atividades cotidianas. No segundo caso, objetiva-se

aferir a oscilação entre usos linguísticos mediante a mudança no grau de

formalidade do registro, seja este espontâneo ou mais formal, apresentando os

primeiros uma interação maior com a língua falada.

Outro aspecto interessante, sinalizado por Bortoni-Ricardo (2004), é a

classificação das regras fonológicas que caracterizam o português brasileiro

em: traços descontínuos - variações marcadas socialmente, configurando-se,

assim, como traços mais fáceis de serem substituídos nos usos dos alunos

com o processo de escolarização; e traços graduais – regras variáveis sem

distinção social e geográfica, as quais exigem do docente uma atenção maior

posto sua ausência de estigmatização. Conhecedor destes aspectos que

propiciam a variação nos usos linguísticos dos alunos, cabe ao professor

estabelecer estratégias que possibilitem ao aluno a apreensão da variante-

padrão e reconhecer os usos fora do padrão, mostrando-lhe estes com

cuidado sem humilhá-lo, conscientizando-o, assim, sobre as diferenças

linguísticas que permeiam as relações sociais. Neste universo dos estudos

sociolinguísticos, o presente trabalho insere-se por meio da observação de

registros escritos de estudantes soteropolitanos (em diferentes séries, gêneros

textuais e natureza de instituições). Espera-se, assim, verificar em que medida

o processo de enfraquecimento consonantal dos róticos em posição de coda

silábica em final de palavra está presente na escrita dos alunos e – ainda que

subsidiariamente, já que não se trata de um estudo em Linguística Aplicada –

fomentar o debate entre docentes de língua portuguesa sobre melhores

estratégias de apreensão do padrão linguístico.

32

O ensino de Língua Portuguesa é por si só uma questão paradoxal,

como bem sinalizam Guy e Zilles (2006), uma vez que, diferentemente do

ensino da Matemática em que o aluno chega ao ambiente escolar com

conhecimentos rudimentares, o docente de Língua Portuguesa encontra um

aluno proficiente na língua, principalmente a variedade linguística de sua

comunidade. Assim, inicia esse embate entre culturas docente e discente,

posto que, como sinaliza Bortoni-Ricardo (2004), em muitos casos, há um

distanciamento na relação professor x aluno em sala de aula, mais

precisamente, nos usos linguísticos de professor x usos linguísticos de alunos.

Destarte, o estudo sobre a relação entre os usos da língua padrão aos quais os

alunos são expostos na escola e a variedade da língua que trazem consigo

apresenta-se como ferramenta singular para minimizar tal conflito.

Uma reflexão bastante interessante sobre o papel do ensino de língua

portuguesa frente às demandas geradas pelas variedades dialetais

encontradas no ambiente escolar está no texto de Piloto e Gorski (2003). As

autoras analisam quatro pontos relativos à relação ensino x diversidade

linguística:

(i) o problema da escola brasileira, que não tem se mostrado

competente para as camadas mais populares, gerando, assim, o

fracasso escolar e, por conseguinte, acentuando as

desigualdades sociais;

(ii) o preconceito linguístico, que impõe a variedade padrão,

desprezando a variedade linguística trazida pelo aluno com seus

“erros” de fala e escrita;

(iii) as relações de comunicação linguística em condições

sociais concretas como mercado linguístico - retomando o

pensamento de Bourdieu - , pois veem-se muitas crianças

silenciadas e suas produções escritas reduzidas ao mínimo

possível para não se exporem a comentários como “erro

ortográfico”, “pobreza de vocabulário”, “falta de sentido”.

33

(iv) a inserção de diferentes indivíduos pertencentes a níveis

sociais dos mais variados com o advento da democratização do

ensino e, como consequência, a absorção de acentuadas

diferenças dialetais, as quais geram problemas, pois que são

consideradas errôneas.

Piloto e Gorski (2003) finalizam suas observações mostrando a

importância da postura docente frente a esta problematização. Cabe ao

professor conhecer a realidade sociocultural e econômica de seus alunos antes

de trabalhar em sala o padrão da língua.

Ainda em reflexão sobre o padrão linguístico e a configuração social,

Marchuschi (2007) afirma que:

A língua, seja na sua modalidade falada ou escrita, reflete, em boa

medida, a organização da sociedade. Isso porque a própria língua

mantém complexas relações com as representações e as formações

sociais.(MARCHUSCHI, 2007, p.35)

Silva-Corvalán (2001) também trata desta relação língua x sociedade,

sobretudo quanto à importância do conhecimento do vernáculo para a relação

professor e aluno, quando expõe que:

Ninguna variedad de lengua es menos lógica o más simple que otra,

sino sencillamente diferente. Para tanto, es absolutamente necesario

comprender y conocer las formas vernaculares ya que ignoralas

puede causar conflictos graves entre profesor e alumno. (SILVA-

CORVALÁN, 2001. p. 28)2

Desta forma, o docente não exporá seus alunos a uma situação

constrangedora diante de seus colegas, pois, em seu processo avaliativo

(consciente das variações presentes na fala discente), a correção motivará

esses alunos a encontrarem naturalmente, também, seus erros.

Outro aspecto a ser observado é a diferença entre a postura dos

professores frente ao desempenho do aluno em atividades de oralidade e

escrita. A noção de erro atrelada aos usos da língua oral já não é comum nos

discursos dos profissionais de educação e em documentos oficiais ou textos 2 Nenhuma variedade da língua é menos lógica ou mais simples que outra, mas simplesmente

diferente. Para tanto, é absolutamente necessário compreender e conhecer as formas vernaculares já que ignorá-las pode causar graves conflitos entre professor e aluno. (tradução nossa)

34

sobre o ensino de língua; a exemplo, têm-se os PCN, em que situações de fala

em que variantes não-padrão da língua são reveladas são consideradas como

fato social. Contudo, a noção de erro na escrita é bastante forte, até mesmo

pelo fato de se tratar de um rompimento com um código, bem como havendo

um forte componente de avaliação social, dado o caráter negativo da avaliação

de erros ortográficos.

Assim, faz-se necessária a configuração fixa e pré-ordenada da escrita,

uma vez que:

Na modalidade escrita, a variação não está prevista quando uma língua já venceu os estágios históricos da sua codificação. A uniformidade de que a ortografia se reveste garante sua funcionalidade. Toda variação fonológica de um discurso oral (inclusive e principalmente a de natureza regional) se reduz a uma ortografia fixa e invariável, cuja transgressão não é uma opção aberta para o usuário da língua. Assim, o texto escrito pode ser lido e entendido por falantes com os mais diferentes antecedentes regionais. (BORTONI-RICARDO, 2004, p.273)

Portanto, cabe ao professor diferenciar a origem de erros ortográficos se

estes são próprios da natureza arbitrária do sistema de convenções da escrita

ou se são transposições dos hábitos da fala para a escrita (BORTONI-

RICARDO, 2005. p.54). Firma-se, neste cenário, a cogente necessidade de

estudos sociolinguísticos em sala de aula, visando sobremaneira ao auxílio às

práticas pedagógicas para que não mais sejam permitidas, em ambiente

escolar, práticas de preconceito, o que deveras serve como fomentador para os

elevados índices de evasão nas escolas brasileiras.

Discussão similar encontra-se em Garrão Neto (2009). O autor debate a

importância da aplicação dos estudos sociolinguísticos em sala de aula,

ajudando o professor de língua materna a reconhecer e a legitimar a

diversidade linguística. Ao tratar da variação linguística em sala de aula, o autor

salienta que:

Um professor de língua materna não atento pode perpetuar

preconceitos, no lugar de combatê-los. Caberá, primordialmente ao

professor de língua materna, não só apresentar ao discente

mecanismos para que ele possa melhor usufruir da própria língua,

mas também apresentá-lo, de forma legítima, às variações regionais

e sociais encontradas no Brasil. Desse modo, o ensino da gramática

deve estar subjugado a uma ampla percepção, por parte dos alunos,

do que vem a ser, de fato, uma língua. Deve-se apresentar a língua

35

como um organismo vivo, que se modifica constantemente

justamente pelo uso que, portanto, não pode ficar alheio aos estudos

de gramática. (GARRÃO NETO, 2009, p. 88)

O autor argumenta sobre o ensino de gramática prescritiva e sua

defasagem cuja previsão baseia-se na aquisição de estruturas não mais usuais

na fala de grande parte da população. Para concretizar seu argumento, mostra

uma série de ambientes fonéticos e sintáticos em desacordo com o que o

professor de língua materna ensina em sala de aula. Entre os diversos

exemplos em ambiente fonético explanados pelo autor, encontra-se a

tendência à omissão do -r final do infinitivo dos verbos (fazer/fazê). Finalizando

o debate, Garrão Neto (2009, p.91) ratifica a importância dos estudos em

Sociolinguística na formação docente para " banir as considerações que

reduzem toda questão linguística aos rótulos 'certo' e 'errado'", faltando apenas

a prática dessa discussão, ou, como coloca o autor, resta ao docente "pôr a

mão na massa".

Neste universo de vozes sobre a realidade do ensino brasileiro, suas

dificuldades, processos, produtos, a presente pesquisa insere-se, pretendendo

contribuir para fortalecer o discurso do respeito à diversidade e servir de mais

um alicerce para o trabalho docente consciente e empenhado em dissipar as

mazelas do sistema de ensino.

1.2 Oralidade e escrita: interrelações

Refletir sobre o papel da oralidade e da escrita nas práticas sociais deve

ser o ponto de partida para o pensamento docente, e mais ainda, para o

repensar de sua prática pedagógica. Muitas vezes, a falta de entendimento das

relações e influências dessas duas formas de apresentação da língua gera

uma série de equívocos nas aulas de língua portuguesa, sobretudo no

processo de avaliação do aluno. Marchuschi (2007, p. 17) assinala que

“oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias,

mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos”,

possibilitando a ambas a construção de textos coesos e coerentes, bem como

36

a exposição de variações de cunho estilísticos, sociais e dialetais. A exemplo,

tem-se – como observado no presente trabalho – a prática comum de

generalizar erros decorrentes de regras fonológicas categóricas e/ou variáveis

como próprios da natureza arbitrária do sistema de convenções da escrita

(Bortoni-Ricardo 2005, p.54). Diante de tais reflexões, é válido ressaltar que

não se intenta, com isso, abandonar a notificação de tais variações na escrita,

mas sim, fazer com que o aluno as perceba e entenda os limites que o texto

escrito lhe impõe e as adequações que este carece ter.

Scliar-Cabral (2003) apresenta diferenças entre o sistema verbal oral e

escrito: linguagem oral dá-se espontaneamente desde que haja traços de

humanização, enquanto a linguagem escrita, por ser uma invenção, sua

aprendizagem se dá de forma intensiva e sistemática na maioria dos casos.

Não obstante, a autora sinaliza propriedades partilhadas pela fala e escrita: (i)

meio de comunicação verbal – tanto o sistema oral quanto o sistema escrito

servem à função comunicativa, de modo que ainda que uma mesma palavra

possa ser reproduzida de formas diversas, consoante à variedade

sociolinguística do indivíduo que a produz, os demais indivíduos da

comunidade entendem a mensagem oral. De igual modo ocorre com o registro

escrito, por mais diversificado que este seja, sua funcionalidade permanece

inalterada pelos valores atribuídos aos signos linguísticos pelos membros da

comunidade linguística; (ii) retificação – configura-se como atividade de

conceituar, possibilitando a reflexão tanto na modalidade oral quanto na escrita;

(iii) metalinguagem – ambos os sistemas servem-se como instrumento de

reflexão sobre a própria língua; (iv) transmissão cultural – tanto a língua falada

quanto a língua escrita servem como veículo de transmissão cultural, sendo a

escrita um registro que não permite distorções e a fala um meio comum de

transmissão do conhecimento por várias gerações; (v) funções expressiva e

estética, destacando-se a língua falada pela presença de elementos como a

expressão facial, corporal e modulações da voz; (vi) articulações –

característica que garante produtividade e criatividade à linguagem; (vii)

produtividade – diferentes combinações de poucas unidades garantem a

construção contínua de novas informações; (viii) retroalimentação total –

habilidade que permite ao usuário da língua refletir sobre o que fala ou escreve.

37

O cotidiano em sala de aula deve ser encarado pelo docente, sobretudo

no caso específico dos pensamentos aqui elencados, como um constante

desafio, cujas certezas devem ser frequentemente questionadas e o olhar novo

sobre o já conhecido mundo mostra-se como estratégia singular de renovação.

Assim, ao corrigir uma produção escrita do aluno, o professor não deve se

restringir ao ato único de podar os erros ortográficos, mas marcá-los, quando

houver, sem perder de vista o processo de construção do conhecimento

daquele indivíduo e a importância do desenvolvimento da habilidade

comunicativa para seu crescimento enquanto ser social. Mais especificamente

no que tange ao tratamento da inteferência da fala na escrita, é válido destacar

as palavras de Marchuschi (2007) como balizador para esse novo olhar

docente:

Minha posição é a de que fala e escrita não são propriamente dois

dialetos, mas sim duas modalidades de uso da língua, de maneira

que o aluno, ao dominar a escrita se torna bimodal. (MARCHUSCHI,

2007, p.32)

Auxiliar o aluno neste processo de apreensão desta modalidade da

língua, a escrita, é papel do professor e seu exercício exige consciência da

realidade sociocultural do aluno e, principalmente, das desastrosas

consequências geradas por uma prática de ensino-aprendizagem alicerçada no

preconceito linguístico.

Isto posto, na etapa que se segue, serão aventados estudos sobre a

organização da ortografia de língua portuguesa, para que, em momento

seguinte, seja possível observar como tal organização é apreendida pela

criança ao longo do processo de aquisição da língua escrita. Deste modo,

pretende-se reforçar o diálogo de que, em diversas situações de sala de aula,

“erros” de ortografia, ou “erros” de escrita, em verdade, devem ser concebidos

como interações da fala na escrita, sendo que tais interações tendem a sofrer

decréscimo com o avançar da escolarização do indivíduo, sobretudo se aliado

a este desenvolvimento estejam ações pedagógicas que proporcionem ao

educando uma visão crítica de seus usos linguísticos, como pontuado por

Simões:

A apropriação da leitura e da escrita, pela criança em especial, é um processo de alto grau de complexidade e requer do professor

38

competência técnico-pedagógica específica, para que as dificuldades possam ser minimizadas. (SIMÕES, 2006, p.16)

Assim sendo, para aprofundar o debate sobre a escrita e oralidade o

presente capítulo discorrerá, inicialmente, sobre observações acerca do

processo de aquisição de regras da ortografia oficial, para, por conseguinte,

apresentar algumas análises referentes à escrita discente.

1.2.1 O processo de aquisição de regras ortográficas

O poeta Carlos Drummond de Andrade sintetiza brilhantemente a

dificuldade encontrada pelo indivíduo ao adentrar no universo escolar nos

primeiros versos do poema Aula de Português: “A linguagem/ na ponta da

língua/ tão fácil de falar / e de entender” x “A linguagem/ na superfície estrelada

de letras/ sabe lá o que ela quer dizer”. O aluno, para o poeta, vê-se diante de

duas vertentes da linguagem, a primeira já conhecida e sob seu domínio, uma

vez que esse se comunica com eficácia em suas práticas cotidianas; já a

segunda revela-se como um mistério, um caminho que não se apresenta linear;

em verdade, para muitos, é um labirinto cheio de armadilhas, as quais, se não

devidamente alertadas por quem o conduzirá nesta etapa da vida, serão um

forte motivo para seu fracasso escolar e, por conseguinte, não aceitação social,

dada a importância desta forma de linguagem, como indica Marchuschi:

Ela [a escrita] se tornou um bem social indispensável para enfrentar o dia-a-dia, seja nos centros urbanos ou na zona rural. Neste sentido, pode ser vista como essencial à própria sobrevivência no mundo moderno. Não por virtudes que lhe são imanentes, mas pela forma como se impôs e a violência com que penetrou nas sociedades e impregnou as culturas de um modo geral. (MARCHUSCHI, 2007, p. 16-17)

Assim, tem-se início uma reflexão sobre o processo de aquisição de um

sistema de escrita ortográfica no qual nem sempre há uma equivalência entre

fonema e grafema, ainda que o modelo alfabético, inicialmente, intente ser

fonético, ou seja, procure representar os sons da fala, exatamente como

pronunciado.

Kato (2010), em seu trabalho No mundo da escrita, afirma que a função

da escola é introduzir a criança no mundo da escrita, tornando-a um cidadão

39

funcionalmente letrado, sendo a norma-padrão – preconizada nas gramáticas e

manuais –, ou língua falada culta – utilizada por inidvíduos de escolaridade de

nível superior – uma consequência do letramento proporcionado pelas práticas

escolares. Ainda refletindo sobre a aquisição da escrita e suas dificuldades, a

pesquisadora assinala que:

a língua oral muda e a escrita é conservadora, o que acarreta um afastamento gradativo entre as duas. Quando a motivação vai deixando de existir, o que resulta é um misto de relações motivadas e arbitrárias. (KATO, 2010. p. 19)

Pensando acerca das ideias de Kato, surge o debate sobre essa

arbitrariedade da escrita, em que ocorre e em que medida dificulta a

aprendizagem da língua escrita, bem como o que deve fazer o professor diante

de tal situação.

Frente ao debate anteriormente posto, surgem as reflexões sobre o

sistema ortográfico do português brasileiro e a importância de sua

compreensão para a prática pedagógica.

O trabalho de Lemle (1982) revela-se como uma importante fonte de

estudo sobre a aquisição da ortografia do português brasileiro, ao caracterizar

três tipos de correspondências entre o sistema fonológico e ortográfico,

propondo, assim, uma ordem de aquisição ortográfica, a qual serviria para

orientar a prática pedagógica do alfabetizador: correspondências biunívoca

entre fonemas e letras; correspondência de um para mais de um, determinadas

a partir da posição; relações de concorrências. A autora caracteriza os erros

encontrados na escrita infantil como falhas de primeira (repetições, omissões

e/ou na ordem das letras; falhas decorrentes da forma das letras; falhas

decorrentes da incapacidade de classificar algum traço distintivo do som),

segunda (a escrita como uma transcrição fonética da fala) e terceira (trocas

entre letras concorrentes) ordens.

A autora destaca que, ao final de cada etapa da alfabetização, a

arbitrariedade do sistema de escrita traz inúmeras dificuldades de emprego das

formas padrão das palavras a todos os indivíduos, dependendo do grau de

escolarização, apresentando um grau maior de dificuldade aqueles que são

iniciantes no mundo da escrita.

40

Inspirado em Lemle (1982), Morais (1995; 2003) agrupa as regras da

ortografia do português brasileiro em quatro blocos: correspondências

fonográficas regulares de tipo biunívoco; correspondências regulares

contextuais; correspondências fonográficas do tipo regular morfológico;

correspondências fonográficas do tipo irregular. O primeiro grupo de regras,

segundo Morais, é aquele em que um fonema é sempre representado por um

grafema, e esse grafema só representa um único valor sonoro: o do fonema em

questão. O segundo grupo proposto pelo autor é formado por casos cujo

contexto determina qual grafema compete à notação do fonema, podendo o

valor sonoro ser representado por um ou mais grafemas. No terceiro grupo, são

levados em consideração aspectos ligados à categoria gramatical da palavra,

estabelecendo, assim, a regra. Ressalta-se, nesse grupo, o fenômeno em foco

na pesquisa que ora se delineia, posto que o autor indica o fenômeno de

variação do cancelamento do segmento consonantal, ratificando que – não

obstante sua ausência na fala – na forma verbal apresentada, o rótico deve ser

grafado, dada a indicação da categoria gramatical em questão, qual seja, os

verbos no infinitivo. Com essa observação, o autor ratifica a importância do

docente de língua portuguesa compreender tais regras de escrita, a fim de

traçar mais conscientemente suas estratégias de aula, sobretudo, em seu

processo de avaliação. Por fim, Morais expõe o grupo de correspondências

fonográficas de tipo irregular. Este grupo é formado por todos os casos em que

a norma estabelece formas únicas autorizadas, sem que haja princípio gerativo

que permita ao usuário decidir qual será o grafema adequado entre dois ou

mais grafemas que, consoante o sistema alfabético da língua, podem

representar um ou uma sequência de fonemas.

Faraco (2005) enfatiza que a língua portuguesa tem uma representação

gráfica alfabética alicerçada em uma memória etimológica. Essa estratégia

toma como critério, para determinar a forma gráfica de algumas palavras, não

apenas as unidades sonoras que as compõem, mas também sua origem.

Assim, na língua portuguesa, a correspondência som e letra não será uma

constante, havendo um grande número de palavras cuja ortografia foi fixada

arbitrariamente. Para tanto, é significante reforçar a prática pedagógica

pautada em estratégias que auxiliem o aluno a compreender e memorizar esse

sistema arbitrário.

41

A consciência dos processos envolvidos no momento de aquisição da

língua escrita deve ser assunto de primeiro ordem na agenda do professor de

língua portuguesa, sobretudo para uso nos momentos de avaliação das

produções escritas de seus alunos. O aluno, ao enveredar pelo mundo “letrado”

apresentado pelo professor, vê-se diante não apenas de uma nova forma de

comunicação mas de um mundo realmente novo e, por vezes, distante do seu

original. A noção desses processos e possíveis problemas dessa caminhada é

estratégia necessária e enriquecedora da prática docente.

1.2.2 A oralidade e a escrita na sala de aula

Para melhor entendimento sobre os reflexos de fenômenos de variação

inerentes à fala – como o apagamento dos róticos - na escrita, faz-se

necessário, nesta etapa de estudo, observar estudos pautados na relação fala

x escrita.

Em seu trabalho sobre oralidade e escrita, Fávero e Andrade e Aquino

(2009) afirmam que, ao tratar de fala e escrita, é necessário lembrar que estão

sendo trabalhadas duas modalidades pertencentes ao mesmo sistema

linguístico, observando, é claro, diferenças estruturais geradas pelo modo de

aquisição, condições de produção, transmissão e recepção e nos meios

através dos quais os elementos de estrutura são organizados.

Na seara de pesquisas empíricas sobre a influência da fala na escrita, há

inicialmente a pesquisa de Câmara Jr. que, em 1957, analisou a produção

escrita de 62 alunos de um colégio carioca, visando identificar os erros

ortográficos cometidos com mais frequência, sendo estes produtos de

realizações linguísticas utilizadas pelos alunos observados, sobretudo em

ambiente familiar. Este estudo revelou variações de cunho fonético,

morfológico e sintático na escrita, mostrando, assim, tendências de usos já

observadas na língua oral do Rio de Janeiro. Dentre os fenômenos

observados, o autor registra como principais alterações fonéticas encontradas

nas produções escritas analisadas:

42

debilidade do acento tônico quando o vocábulo se acha no interior de um

grupo de força;

tendência a anular-se a oposição entre [e] e [i], bem como [o] e [u] em

posição pretônica;

tendência a nasalizar a sílaba simples i-;

redução sistemática do em- inicial a in-;

certa tendência a nasalizar [i] ou [u] tônicos finais;

anulação da oposição entre ditongo [ou] e [o] fechado;

tendência à vocalização do [l] velar pós-vocálico;

precariedade do [r] e do [l] intervocálicos em contato com o [i];

tendência à omissão do [s] e do [r] finais.

Assim como Câmara Jr. – que pontua o último fenômeno analisado

como uma tendência típica na linguagem coloquial do Rio de Janeiro –, o

presente trabalho parte da premissa de que, sendo este um evento bastante

comum na fala soteropolitana, já estudado em corpus de fala (OLIVEIRA, 1999;

MOTA; SOUZA, 2009), também poderá ser observada a variação em foco na

escrita dos estudantes soteropolitanos, sobretudo naqueles com menor tempo

de escolarização, buscando, destarte, evidenciar, tal qual o trabalho de Câmara

Jr, uma interferência da língua oral no registro escrito desses indivíduos.

Um trabalho que entrelaça ensino de língua escrita e Teoria da Variação

é o de Mollica (2003). Neste estudo, a autora volta-se para a influência de

fenômenos de variação na língua falada em textos escritos de alunos,

sobretudo a escrita inicial:

Vale assinalar antecipadamente que, em certos casos, observa-se um isomorfismo perfeito língua coloquial/produção textual de iniciantes. Isto prova pelos índices de registro dos segmentos travadores que se apresentam equiparados às realizações da fala: unidades vocabulares maiores costumam ter os segmentos finais cancelados por exemplo. (MOLLICA, 2003,p. 27)

43

O estudo de Mollica (2003) volta-se para o cancelamento do rótico em

posição medial e final de palavra na escrita de estudantes das séries iniciais do

estado do Rio de Janeiro, por meio da aplicação de um teste de

preenchimento, no qual as crianças completam lacunas em frases seguindo

ícones. A pesquisadora analisou algumas variáveis no teste: nível de

escolaridade, sexo, idade, extensão do vocábulo, precedência do segmento,

classe de palavras e tonicidade. A pesquisa teve como meta responder aos

questionamentos: (i) A manifestação de alguns fenômenos que acontecem na

fala começa, na escrita, por itens ou por contextos?; (ii) Como aproveitar

pedagogicamente as descrições científicas dos estudos realizados sobre a

língua falada?; (iii) O aluno, quando monitorado, consegue um melhor

desempenho na escrita?

Após análise dos dados, ficou evidenciado que o cancelamento do rótico

encontra-se em estágio avançado em contexto final, sendo a recuperação do

segmento na escrita mais difícil, o que demonstra a necessidade de estratégias

de ensino mais reforçadas.

A pesquisa de Mollica (2003) reforça o estudo ora executado como um

possível instrumental na formação docente, uma vez que foi observada maior

frequência do cancelamento consonântico na escrita dos grupos cujos textos

foram produzidos sem sinalização do fenômeno em foco por parte dos

professores, evidenciando, assim, a importância da intervenção consciente do

docente neste processo.

Deste modo, uma vez explicitados alguns dentre inúmeros trabalhos

sobre as interações fala x escrita, emerge, sob influência do posicionamento de

Marchuschi (2007), a ideia de que, para o professor, o que deve ser priorizado

em sala de aula são os usos da língua e as adequações destes às práticas

cotidianas dos indivíduos, posto que “(...) as línguas se fundam nos usos e não

o contrário”, devendo o trabalho pedagógico voltar sua atenção às motivações

que geram os temidos desvios na escrita dos alunos.

44

2. ESTUDOS SOBRE OS RÓTICOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

No universo dos estudos sociolinguísticos, as pesquisas sobre os róticos

do português brasileiro já somam muitas décadas. A extensão temporal pela

qual resistem os estudos deste fenômeno linguístico – apagamento x

manutenção do /R/ – permite ao capítulo que se inicia o delineamento

cronológico dos estudos sobre o apagamento dos róticos em posição de coda

silábica, com especial enfoque ao contexto de final de vocábulo, transcorrendo

assim, desde os estudos iniciais (CALLOU; MORAES; LEITE,1996) até estudos

mais recentes (COSTA, 2010, HORA; PEDROSA; CARDOSO, 2010), todos

baseados nos pressupostos da Sociolinguística Variacionista.

A presente cronologia inicia-se no ano de 1996 com o trabalho dos

pesquisadores Dinah Callou, João Moraes e Yonne Leite, que objetivava

delimitar áreas dialetais no Português Brasileiro. Os autores, examinando 30

(trinta) inquéritos do tipo diálogo entre informante e documentador e diálogo

entre dois informantes pertencentes ao Projeto de Estudo da Norma Urbana

Culta (Projeto NURC), levantaram um total de 4.334 ocorrências do uso dos

róticos, tanto em posição medial, quanto em posição final de vocábulo,

inicialmente, analisando-as sem distinguirem os dados quanto à posição dos

róticos na sílaba. Nesta etapa da pesquisa, entre as variantes observadas a

partir da análise do corpus (vibrante apical múltipla, vibrante uvular, fircativa

velar, fricativa laríngea, vibrante aplical simples, retroflexa e zero fonético)

foram registrados, com maiores índices de ocorrência, o uso da vibrante apical

simples (32%), o zero fonético (26%) e a fricativa laríngea (21%). Diante da

possibilidade de os dados estarem mascarados, em etapa seguinte, os autores

fracionaram as ocorrências, analisando dados dos róticos em posição medial

de palavra e dados em posição final de palavra. Nesta segunda etapa da

pesquisa, ficou evidenciado que, entre as capitais, Salvador possuía o maior

índice de apagamento do –R em posição final de palavra e Porto Alegre, o

menor índice da ausência deste segmento consonantal, bipartindo o país em

norte (ausência do segmento) e sul (presença do segmento). Quanto às

variáveis linguísticas, a ausência dos róticos está atrelada aos seguintes

contextos: vogais não arredondadas, contexto subsequente iniciado por outra

consoante e classe morfológica (verbos). Dois anos depois, em 1998, estes

45

mesmos pesquisadores retomaram suas reflexões sobre os róticos no

Português Brasileiro, desta vez analisando, exclusivamente, o fenômeno na

fala carioca, com o intuito de observar o estágio final de enfraquecimento, cuja

consequência é a simplificação silábica, o padrão silábico CV (consoante-

vogal), e de verificar se este processo é uma variação estável ou se há uma

mudança em curso. Para tanto, foram analisados três conjuntos de dados do

Projeto NURC, coletados nas décadas 1970 e 1990, realizando observação por

meio de estudo em painel e um estudo de tendência. Assim, entre os fatores

linguísticos, a classe morfológica foi o primeiro selecionado pelo pacote de

programas VARBRUL, com maior incidência de apagamento em verbos no

infinitivo, e na primeira e terceira pessoas do futuro do subjuntivo. Já

observando-se a classe morfológica dos nomes, o apagamento é praticamente

nulo em monossílabos. Os resultados revelaram ainda que o apagamento tem

sido considerado um caso de mudança de baixo para cima que já atingiu seu

limite, revelando-se uma variação estável.

Em 1999, tomando como base os dados do Projeto NURC na cidade de

Salvador, mais uma vez, o estudo dos róticos vem à baila com o trabalho de

Josane Oliveira, intitulado “O apagamento do /R/ implosivo na norma culta de

Salvador”. Em sua dissertação de mestrado, a autora compara os dados da

fala de Salvador com a fala carioca (CALLOU, 1987). Para esta análise, foram

utilizados 16 (dezesseis) inquéritos do NURC dos tipos elocução formal e

diálogo entre dois informantes. Analisando o panorama geral do fenômeno,

foram levantadas 7.933 ocorrências de manutenção dos róticos e 4.878 de

apagamento. Em consonância com os dados de Callou (1987), a posição final

de palavra favorece o apagamento (0,94 nos dados entre as elocuções e 0,93

entre os diálogos). O contexto subsequente (consoantes alveolares), a vogal

precedente (vogal posterior [u]) e a tonicidade (sílaba pretônica) são os

principais contextos favorecedores para o processo de apagamento do /R/. Em

contrapartida, foi observado pouco apagamento em nomes, sendo tal

fenômeno em posição final de palavra favorecido pelas seguintes classes

morfológicas: numeral, conjunção e verbo nas elocuções formais e conjunção,

verbo e preposição nos diálogos entre informantes. Em sua conclusão, a autora

sinaliza a evidência de uma mudança em progresso em relação ao uso dos

róticos na fala soteropolitana.

46

No início deste século, no ano de 2001, há a inserção de um estado do

norte do país (Pará), com a dissertação de mestrado de Marilúcia Oliveira. A

autora, analisando o falar na cidade de Itaituba, observou o comportamento da

vibrante em posição de coda, em corpus coletado a partir da metodologia do

Atlas Linguístico do Pará (ALIPA), por meio da análise de 35 (trinta e cinco)

relatos de experiência de informantes de fala urbana da cidade de Itaituba.

Após tratamento dos dados, foram selecionados como fatores relevantes para

o fenômeno em foco: classe de palavras (verbos), dimensão vocabular

(monossílabos desfavoreceram a variação e os polissílabos favoreceram).

Entre as variáveis sociais, a escolaridade e o gênero feminino se mostraram

como fonte de manutenção do segmento consonantal; já com o fator renda,

observou-se que falantes de renda média favoreceram o apagamento e os de

renda baixa inibiram-no. Um dado interessante, na pesquisa, é a negação de

uma das hipóteses iniciais do trabalho, segundo a qual as consoantes fricativas

estariam como um dos contextos favorecedores do apagamento, contudo, este

tipo de segmento inibiu o apagamento, contribuindo, assim, para a manutenção

dos róticos. O estudo é finalizado com a afirmação de que o fenômeno é muito

produtivo e que toma lugar das demais variantes encontradas no corpus.

Retomando sua pesquisa com dados do NURC nas capitais brasileiras,

os professores Dinah Callou, João Moraes e Yonne Leite, em 2002, trazem ao

cenário dos estudos sociolinguísticos uma análise do processo de

enfraquecimento consonantal do português brasileiro, com enfoque nas

variáveis extralinguísticas sexo, faixa etária e origem geográfica do falante.

Após análise pelo pacote de programas VARBRUL, foram selecionados os

fatores sexo e idade, sendo observadas realizações para o segmento

consonantal em foco desde a vibrante múltipla alveolar até o zero fonético,

caminhando-se assim para a formação de um padrão silábico CV. Quanto ao

comportamento dos róticos na fala culta das cinco capitais analisadas, ficou

notório que: na cidade de Porto Alegre, há um padrão de mudança em curso

nas falantes do sexo feminino; em São Paulo, há o uso categórico do segmento

consonantal em posição posterior por falantes do sexo feminino com idade

entre 36 e 55 anos; nas capitais nordestinas, foi observado um forte processo

de posteriorização deste segmento consonantal em posição de coda silábica,

sobretudo, e em consonância com a cidade de São Paulo, na fala de mulheres

47

da segunda faixa etária. Assim, pela distribuição deveras restrita dos róticos

como vibrante uvular e fricativa velar, os autores julgam haver uma isoglossa

dividindo as cidades de Salvador, Recife e Rio de Janeiro das outras duas

capitais.

A região sul do Brasil destaca-se pelo número de trabalhos cujo objeto é

o estudo dos róticos: em 2002, há o trabalho de Valéria Monaretto, no qual se

estuda a fala capital gaúcha em três épocas distintas, por meio da análise de

dados do Projeto NURC nos anos de 1970 e Projeto Variação Linguística na

Região Sul do Brasil (VARSUL) nos anos de 1989 e 1999. Ao comparar os

dados da década de 70 e do final dos anos de 1990, a autora verificou o

aumento do apagamento do rótico, estando este em um processo de

crescimento, substituindo o tepe, variante típica do Sul do país, aproximando,

assim, o falar de Porto Alegre dos demais dialetos brasileiros em que o

fenômeno está em estágio avançado. A queda do segmento consonantal ficou

evidenciada por três fatores: posição do segmento na palavra (posição final de

palavra), verbos e processo de implementação (jovens utilizando mais que os

mais velhos).

Na linha de análise do panorama nacional do comportamento da

consoante pós-vocálica, há, em 2006, o trabalho das pesquisadoras Tiana

Nascimento, Deisiane Rodrigues e Claudia Cunha, cujo corpus é formado por

dados de atlas regionais. As autoras, seguindo a metodologia da geo-

sociolinguística, objetivaram descrever a pluralidade de variantes por meio das

quais o /R/ se manifesta. Após análise de 6.406 ocorrências, colhidas em oito

atlas linguísticos (Atlas Linguístico do Amazonas, Atlas Prévio dos Falares

Baiano, Atlas Linguístico de Sergipe, Esboço de um Atlas Linguístico de Minas

Gerais, Atlas Linguístico-sonoro do Pará, Atlas Linguístico da Paraíba, Atlas

Linguístico do Paraná e Atlas Linguístico-etnográfico da Região Sul do Brasil),

foram evidenciados como contextos favorecedores do apagamento dos róticos

em posição de final de palavras os grupos de fatores: contexto antecedente

(vogal alta anterior não-arredondada com peso relativo de 0.96), região (Minas

Gerais com peso relativo de 0.97), contexto subsequente (posição final

absoluta com peso relativo de 0.53) e dimensão do vocábulo (dissílabos com

peso relativo de 0.92).

48

Em 2006, Christina Gomes investigando a variação linguística como

fator inerente ao sistema linguístico e sua ocorrência também presente no

processo de aquisição da linguagem, além dos modelos da Linguística

Probabilística e da Fonologia de Uso, observou a aquisição da estrutura

silábica com -R em posição de coda em um grupo de crianças da cidade do Rio

de Janeiro. Ainda que de forma inicial, em virtude do número reduzido de

informantes (08 crianças) e tempo de entrevistas (média de 40

minutos/entrevista), a autora mostrou que os percentuais levantados em sua

pesquisa, de cunho preliminar, evidenciam o apagamento da consoante em

sílaba final de verbos, em todas as amostras, independente da idade da

criança. A autora considerou, ao final do texto, que a distribuição da ausência e

presença de -R em posição de coda revela a incorporação da variante mais

frequente na comunidade de fala. O estudo de Gomes (2006) motivou a

continuidade da hipótese de influência da fala na escrita, posto que a escrita,

como anteriormente visto, desenvolve-se em contexto formal e em estágio

posterior à aquisição da fala. Uma vez sendo evidenciada na oralidade a

escolha do falante, em consonância à realidade vivenciada em sua

comunidade, pelo apagamento do segmento consonantal em posição de coda,

em nítida preferência pelo padrão CV, desde sua aquisição, é destarte

esperado que, em sua escrita, este padrão tão cedo adquirido esteja presente.

Em 2008, Sílvia Brandão, somando cariocas e indivíduos nativos de

outras regiões fluminenses, analisou o comportamento dos segmentos

consonânticos /R/, /S/, /L/ em posição de coda. Para tanto, utilizou corpus

constituído por 78 inquéritos realizados em 13 comunidades das Regiões Norte

e Noroeste daquele estado com informantes analfabetos ou escolarizados até a

antiga quarta série do ensino fundamental (atual quinto ano), divididos em três

faixas etárias (18-35 anos, 36-55 anos e 56 anos em diante). Quanto ao

comportamento dos róticos em posição de coda na fala fluminense, o

apagamento mostrou-se, segundo a pesquisadora, bastante significativo, com

regra de 78% de aplicação e input de 0,85, tendo por contextos favorecedores

do apagamento em posição de final de palavra a classe morfológica (verbos no

infinitivo) e a faixa etária (informantes mais jovens). Comportamento díspare foi

observado em posição medial, havendo a observância de realização do

49

segmento consonantal, caracterizado contudo pelo polimorfismo de

realizações.

Em 2008, Valéria Monaretto retoma o estudo, desta vez com a

pesquisadora Cláudia Brescancini, analisando o comportamento da vibrante na

região sul do país. Para tanto, as pesquisadoras confrontam dados de

pesquisas realizadas nos três estados da região, em 12 cidades do banco de

dados do Projeto VARSUL. Após confronto dos trabalhos dos diferentes

pesquisadores estudados, as autoras traçam um panorama do comportamento

da consoante vibrante na fala sulista: em posição de coda, é possível identificar

um percentual aproximado de 24% de apagamento; na posição final de

palavra, o apagamento mostra-se mais evidente, ao passo que, em posição

medial, a realização do tepe é mais observada. Outro dado relevante apontado

nesta análise está no condicionamento favorecedor da ausência do rótico em

posição de coda: o comportamento dos verbos, com alta taxa de apagamento,

diferenciando-se, assim, dos não-verbos; na fala dos mais jovens, é

evidenciada a ausência da vibrante. Ainda em análise do comportamento da

variável, a classe morfológica (não-verbos), a extensão do vocábulo

(monossílabos) e a localização do /r/ (sílaba átona) destacaram-se como

fatores desfavorecedores desta variação. E, em 2009, traçando um perfil da

vibrante na região sul, Monaretto objetivou esboçar um panorama da vibrante

no português do sul do país, utilizando, para tanto, estudos já realizados

acrescidos de dados do projeto VARSUL até então não analisados.

Preliminarmente, a análise dos novos dados do projeto VARSUL sinalizou a

variável classe morfológica como significativa para o apagamento, sendo este

exclusivo da posição de coda. Neste trabalho, há um enfoque maior para as

possibilidade de variação na articulação dos róticos e sua distribuição na região

sul do país.

Em 2009, há o estudo de Tiana Nascimento, com sua dissertação de

mestrado cujo objetivo é analisar três munícipios fluminenses, a saber,

Petrópolis, Itaperuna e Parati. A autoria utilizou como corpus 18 entrevistas,

divididas em questionário fonético-fonológico e temas para discurso

semidirigido do questionário do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (Projeto

ALiB), em indivíduos selecionados consoante a metodologia de trabalho deste

Projeto. Analisando os dados, a pesquisadora verificou que, no questionário

50

fonético-fonológico, houve um total de 81% de apagamento, tendo por fatores

relevantes para a variação a localidade (Parati) e classe gramatical (verbos no

inifinitivo); os nomes também obtiveram um índice de apagamento do

segmento consonantal bastante significativo, atingindo o índice de 75%. Os

dados do discurso semidirigido revelaram o zero fonético em quase a totalidade

das ocorrências, com um percentual de 97%, tendo por contextos

favorecedores a vogal antecedente (anterior alta), a classe gramatical (verbos

no infinitivo) e localidade (Parati, único fator extralinguístico selecionado).

Assim, neste estudo, verificou-se a franca tendência ao cancelamento do –R

em posição externa.

Também, em 2009, há o estudo de Adilson Toledo, que, utilizando como

instrumento de coleta de dados os questionários do Comitê do Projeto ALiB,

retomou a análise da fala sulista, neste caso, mais especificamente, da

comunidade de fala da cidade de Paranaguá no litoral do Paraná. Este

trabalho, além da descrição das variantes encontradas, traz como diferencial o

estudo das crenças e atitudes dos indivíduos pesquisados, frente ao fenômeno

estudado. Analisando uma amostra a partir de entrevistas com seis nativos de

Paranaguá (três homens e três mulheres) e quatro migrantes de duas outras

regiões, o autor, ressalvado o fator de constituição não homogênea da

amostra, indica como fatores favorecedores do apagamento do -R em coda

silábica externa os seguintes: o nível de escolaridade e contexto de uso, pois,

consoante outras observações encontradas nesta seção em pesquisas com

outros corpus e em outras localidades, indivíduos com tempo de escolarização

maior e expostos a contextos de comunicação mais formais mantiveram a

realização da vibrante na posição final de palavra. Quanto ao grupo de fatores

linguísticos, o pesquisador sinaliza que, dada a brevidade da análise e a

constituição do corpus, faz-se necessária uma pesquisa mais exaustiva para

apontar caminhos condicionados por este grupo de fatores.

Em 2009, há ainda o trabalho que motivou esta pesquisa, com o estudo

de Jacyra Mota e Lorena Souza. Neste trabalho, as autoras analisaram o

apagamento dos róticos em posição final e medial de vocábulo, tendo por base

inquéritos experimentais do Projeto ALiB realizados na cidade de Salvador nos

anos de 1999 e 2005. No corpus utilizado, foram encontradas 1.569

ocorrências (953 em posição final de vocábulo e 616 em posição medial)

51

obtidas pela análise de 16 (dezesseis) entrevistas, construídas consoante os

critérios metodológicos do Projeto ALiB. Analisando separadamente os dois

contextos de apagamento, foi constatado que o fenômeno se mostra mais

profícuo em posição final de palavra (89,82%), tendo por seleção de fatores

motivadores a dimensão do vocábulo (trissílabos e polissílabos), classe

gramatical (verbos) e contexto subsequente (vogal). Quanto aos fatores

sociais, o trabalho, assim como em tantos outros, indicou a variação como não

estigmatizada uma vez que a recorrência ao apagamento é perceptível tanto na

fala dos indivíduos com nível fundamental de ensino como nos indivíduos com

nível superior de ensino. Ainda que diminuto, o fenômeno em posição medial

de vocábulo (9,59% das ocorrências), as autores visualizaram como

favorecedores do apagamento as variáveis contexto subsequente (segmentos

consonantais /v,z,s/ e como fator social o nível de escolaridade (fundamental).

As autoras concluem suas observações indicando uma mudança em direção à

sílaba aberta do tipo CV, padrão visto também em outras consoantes na

mesma posição silábica (coda).

Em 2010, Ana Brustolin foca seus estudos no estado de Santa Catarina.

Para tanto, utiliza um corpus de fala espontânea gravado em estúdio

(constituído por 04 (quatro) indivíduos do sexo/gênero masculino, nativos de

Florianópolis e que viveram de forma ininterrupta até pelo menos os 14

(catorze) anos na cidade, divididos em 02 (dois) níveis de escolaridade,

fundamental (séries iniciais) e superior). De posse do referido material, a autora

visa analisar o comportamento dos róticos na ilha de Santa Catarina,

destacando as diferentes realizações do segmento fônico foco do estudo. A

pesquisadora identificou a realização dos róticos em posição de coda (contexto

medial e final de palavra) nas seguintes formas variantes: tepe alveolar,

fricativa glotal, fricativa velar e apagamento, sendo esta última a variante mais

produtiva na fala florianopolitana. Observou o apagamento mais recorrente em

contexto final de palavra. Quanto aos fatores favorecedores do apagamento,

tem-se o contexto subsequente (final absoluto), número de sílabas, vogal

anterior (vogal central baixa, média anterior fechada e alta anterior). Na análise

social, a pesquisadora indicou a possibilidade de o fenômeno em causa não

ser estigmatizado, visto que os dois grupos de estrato social apresentaram o

mesmo índice de apagamento.

52

Também em 2010, Demerval da Hora, Juliene Pedrosa e Walcir Cardoso

refletiram sobre a constituição das consoantes pós-vocálicas (líquidas /l,r/;

nasal /N/; fricativa coronal /s/) no português brasileiro, vislumbrando se essas

estão em posição de coda ou se, em verdade, estão em onset com núcleo não

preenchido foneticamente. Analisando diversos trabalhos de base

sociolinguística, os autores observaram o comportamento variável das

consoantes em análise, apresentando-se como semivocalização, o

enfraquecimento, a palatalização e o apagamento. Por meio do confronto de

trabalhos anteriores, focados em apenas uma consoante, os autores visaram à

análise do comportamento desses segmentos de forma conjunta, tendo por

base a posição desses na sílaba, para assim analisar o comportamento destas

consoantes no corpus do Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba

(Projeto VALPB). Os autores dividiram o grupo de consoantes pós-vocálicas

em consoantes ocupantes da posição de coda (líquidas) e consoantes em

posição de onset de núcleo foneticamente vazio (fricativa coronal). A partir

desta divisão, observaram a extrema debilidade da posição de coda, tendo

como consequência a mitigação do segmento ocupante desta posição, seja por

meio do apagamento ou a busca pelo padrão CV a partir do preenchimento do

núcleo antes vazio foneticamente.

Ainda em 2010, em sua dissertação de mestrado, Geisa Costa

direcionou seus esforços para a relação fala x escrita, observando o

apagamento do /R/ em um grupo de alunos (18 estudantes, com faixa etária

entre 08 e 13 anos, a partir do segundo ano do ensino fundamental) de uma

escola pública da cidade de Catu, interior da Bahia. Inicialmente, a

pesquisadora realizou entrevistas com os indivíduos, contudo essas não foram

quantitativamente analisadas, haja vista o apagamento se apresentar

categórico na fala dos entrevistados. Desse modo, foram utilizados testes para

observar as variantes foco do estudo na escrita dos alunos (teste da lacuna e

ditado de palavras e frases). A autora verificou, em seus dados, que o

fenômeno estudado é condicionado tanto por fatores estruturais quanto por

fatores sociais: no primeiro caso, inserem-se a extensão da palavra

(polissílabos), contexto antecedente (vogais altas) e grau de familiaridade com

o vocábulo (palavras menos familiares); no segundo caso, incluem-se o fator

escolaridade – já que, em ambos os contextos analisados (posição final e

53

medial de palavra), observou-se uma grande redução do apagamento na

passagem da segunda para a terceira série – e o gênero/sexo (meninas

apagam menos que os meninos). Ao fim, a autora sinalizou o papel da

escolarização na aquisição do padrão escrito da língua (50% manutenção para

o final de verbos e 66% para o final de nomes).

Com o fito de revisitar e comparar, de forma suscinta, os estudos acima

elencados, e, mais especificamente, as variáveis selecionadas em cada

pesquisa, segue quadro resumitivo da cronologia exposta:

Autor/ano Origem dos

informantes

Contextos favorecedores do

apagamento do -R

CALLOU;MORAES;

LEITE

(1996)

São Paulo,

Porto Alegre,

Salvador, Rio

de Janeiro e

Recife

Classe morfológica (verbos)

Contexto antecedente (vogais

não arredondadas)

Contexto subsequente

iniciado por outra consoante

CALLOU;MORAES;

LEITE

(1998)

Rio de Janeiro

Classse morfológica (verbos

no infinitivo)

Dimensão vocabular

(apagamento quase nulo em

monossílabos)

OLIVEIRA

(1999) Salvador

Contexto subsequente

(consoantes alveolares)

Contexto antecedente (vogal

posterior [u])

Tonicidade (sílaba pretônica)

OLIVEIRA

(2001) Itaituba

Classe de palavras (verbos)

Dimensão vocabular

(monossílabos

desfavoreceram a variação e

os polissílabos favoreceram)

Renda (apagamento maior

em indivíduos de renda

54

média)

CALLOU;MORAES;

LEITE

(2002)

São Paulo,

Porto Alegre,

Salvador, Rio

de Janeiro e

Recife

Sexo (mulheres)

Faixa etária (35-55 anos)

MONARETTO

(2002) Porto Alegre

Classe morfológica (verbos)

Faixa etária (jovens utilizando

mais que os mais velhos).

NASCIMENTO;

RODRIGUES;

CUNHA

(2006)

Amazonas,

Bahia, Sergipe,

Minas Gerais,

Pará, Paraíba,

Paraná e

Dimensão vocabular

(dissílabos)

Contexto antecedente (vogal

alta anterior não-

arredondada)

Região (Minas Gerais)

Contexto subsequente

(posição final absoluta)

BRESCANCINI;

MONARETTO

(2008)

Porto Alegre,

Flores da

Cunha,

Panambi e São

Borja.

Florianópolis,

Blumenau,

Chapecó e

Lages. Curitiba,

Londrina, Irati e

Pato Branco

classe morfológica (verbos no

infinitivo)

faixa etária (informantes mais

jovens)

NASCIMENTO

(2009)

Petrópolis,

Itaperuna e

Parati

Classe gramatical (verbos no

infinitivo)

Contexto antecedente

(anterior alta)

55

Localidade (Parati).

TOLEDO

(2009) Paranaguá

Classe gramatical (verbos)

Nível de escolaridade e

contexto de uso (indivíduos

com tempo de escolarização

maior e expostos a contextos

de comunicação mais formais

mantiveram a realização da

vibrante na posição final de

palavra)

MOTA; SOUZA

(2009) Salvador

Classe gramatical (verbos)

Dimensão vocabular

(trissílabos e polissílabos)

Contexto subsequente (vogal)

BRUSTOLIN

(2010) Florianópolis

Dimensão vocabular

Contexto subsequente (final

absoluto)

Contexto antecedente (vogal

central baixa, média anterior

fechada e alta anterior)

COSTA

(2010) Catu

Dimensão vocabular

(polissílabos)

Contexto antecedente (vogais

altas)

Grau de familiaridade com o

vocábulo (palavras menos

familiares)

Quadro 02: Resumo da cronologia dos estudos sobre os róticos

Tomando o pensamento do escritor britânico C. S. Lewis “Mera mudança

não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e continuidade, e

onde não há continuidade não há crescimento.”, o estudo que se apresenta ao

longos destes capítulos, intenta dar prosseguimento aos estudos do

56

comportamento dos róticos em posição de coda silábica à luz da Teoria da

Variação e do estudo da sílaba, possibilitando assim a continuidade e, por

conseguinte, o crescimento do cenário de estudos sobre a realidade linguística

do português brasileiro.

57

3 METODOLOGIA

Com o fito de analisar a influência da fala na escrita, foi constituído para

o presente estudo um corpus de língua escrita. O capítulo que se inicia intenta

delimitar os procedimentos metodológicos adotados pela pesquisa ora

apresentada, expondo, para tanto, a definição das variáveis que se supõem

importantes para a seleção do apagamento dos róticos em posição de final

absoluto de sílaba, ou seja, final de palavra na escrita de estudantes do ensino

básico oriundos das redes pública e particular de ensino na cidade de

Salvador.

Como já tratado, a presente pesquisa foi executada sob o modelo

teórico-metodológico da Sociolinguística de cunho variacionista, conhecido

também como Sociolinguística Laboviana ou Sociolinguística Quantitativa,

buscando, assim, identifcar os contextos linguísticos e sociais que justificam os

usos encontrados em relação ao objeto de estudo.

As variáveis, ou grupo de fatores, foram estabelecidas a partir de

estudos realizados anteriormente, cujos corpora, unica ou majoritariamente,

contituem-se com dados de língua falada, buscando, assim, a delimitação dos

fatores preponderantes para o apagamento do segmento consonântico

estudado na fala do Português Brasileiro (CALLOU; MORAES; LEITE, 1996;

OLIVEIRA, 1999; OLIVEIRA, 2001; CALLOU; MORAES; LEITE, 2002;

MONARETTO, 2002; NASCIMENTO; RODRIGUES; CUNHA, 2006; GOMES,

2006; BRANDÃO, 2008; MOTA e SOUZA, 2009; MONARETTO, 2009;

TOLEDO, 2009; BRUSTOLIN, 2010; HORA; PEDROSA; CARDOSO, 2010;

COSTA, 2010).

Deste modo, a variável dependente - apagamento e presença do rótico -

foi cruzada com as demais varáveis (independentes – de cunho linguístico e

extralinguístico), e, fazendo uso do método estatístico de estudo, por meio do

programa Goldvarb X, geraram-se, destarte, os resultados quantitativos em

relação aos dados coletados para que, em etapa seguinte, sejam devidamente

interpretados e confrontados com os achados dos estudos que antecedem este

ora apresentado.

58

3.1 A constituição do corpus e a seleção dos informantes

O corpus, base de análise desta pesquisa, como explicitado

anteriormente, é constituído por produções escritas de alunos de 03 (três)

escolas das redes pública e privada da cidades de Salvador, mais

precisamente, 192 (cento e noventa e duas) produções escritas.

Para tanto foram apresentadas às escolas (inicialmente à direção ou

coordenação pedagógica) duas propostas distintas de produção textual: uma

carta cujo tema era a narrativa de um período de férias e uma dissertação cujo

tema era a preservação da natureza (Apêndice A). A aplicação dessas

propostas deu-se por meio dos professores regentes das disciplinas de Língua

Portuguesa, Produção Textual e/ou L.P.L.B. das turmas. Em momento prévio,

houve uma conversa com o professor sobre a pesquisa, sendo explicado

apenas que se tratava de uma pesquisa para análise de gêneros textuais na

escola, não sendo mencionado o objeto de estudo, para minimizar quaisquer

influências do docente na escrita de seus alunos. Tal procedimento foi adotado

consoante às orientações de Tarallo:

Seja qual for a comunidade, seja qual for o grupo, jamais deixe claro que seu objetivo é estudar a língua tal como é usada pela comunidade ou grupo. Se você inadvertidamente o fizer, ou mais grave ainda, se o fizer conscientemente, é muito provável que o comportamento de seus informantes – já prejudicado pelo uso do gravador e por sua presença – se altere ainda mais, e a pesquisa, consequentemente, se torne ainda mais enviesada. Procure, portanto, colocar ao informante os objetivos de sua pesquisa fora do campo da linguagem. Lembre-se também de que, sendo a língua propriedade do grupo estudado, seus informantes poderão se sentir ameaçados e embaraçados. (TARALLO, 2007, P. 27)

Posteriormente, foram entregues aos docentes os envelopes contendo

cópias das propostas – em número sempre superior ao pretendido para a

pesquisa, cerca de 20 (vinte) produções por turma – para que, assim, em data

marcada, fosse realizada a recolha das produções. Em algumas turmas, o

docente utilizou a proposta para atividades cotidianas, sendo devolvido nestes

casos, um número de produções superior às cópias entregues.

A seleção dos informantes para esta pesquisa teve por critério a faixa

etária dos alunos compatível com o previsto para série: 5º ano do ensino

59

fundamental (10 anos), 9º ano do ensino fundamental (14 anos) e 3º ano do

ensino médio (17 anos), descartando-se, assim, as turmas de alunos

repetentes, bem como os alunos adiantados nas turmas observadas. Ainda

com vistas à análise de fatores extralinguísticos e linguísticos, os indivíduos

foram agrupados obedecendo aos critérios de sexo/gênero, rede de ensino e

grau de formalidade do registro escrito.

Conforme a discriminação acima exposta, os grupos de informantes

foram equitativamente distribuídos em 24 células, contendo 05 produções

escritas em cada célula, conforme o quadro 01:

SERIE CARTA DISSERTAÇÃO

feminino masculino feminino masculino

5º ANO (ensino

fundamental)

rede particular

08 08 08 08

rede pública

08 08 08 08

9º ANO (ensino

fundamental)

rede particular

08 08 08 08

rede pública

08 08 08 08

3º ANO (ensino médio)

rede particular

08 08 08 08

rede pública

08 08 08 08

TOTAL DE PRODUÇÕES SELECIONADAS: 192

Quadro 03: Distribuição dos informantes nas células

A seleção das escolas, duas particulares e uma pública (situadas em

diferentes pontos da cidade), obedeceu ao critério de rede de ensino (pública

ou privada), valendo-se da disponibilidade e diligência de professores da área

para aplicação das propostas de produção textual.

Por razões éticas, mantêm-se omitidos os nomes das escolas,

professores e alunos envolvidos no presente trabalho, não obstante pelo

primordial motivo de que este trabalho não objetiva o estudo da língua utilizada

por um determinado indivíduo (idioleto), e sim, usos linguísticos de grupos

sociais os quais estes indivíduos representam, a saber a escrita discente

soteropolitana.

60

A escolha das séries, 5º e 9º anos do ensino médio e 3º ano do ensino

médio, objetivou traçar um perfil dos estudantes ao final dos ciclos do ensino

básico – ensino fundamental I (5º ano), ensino fundamental II (9º ano) e ensino

médio (3º ano) – para que assim seja possível analisar a influência do fator

escolaridade nos usos linguísticos dos indivíduos analisados.

Como corpus da pesquisa, foram utilizadas 192 produções textuais (96

cartas e 96 dissertações), distribuídas equitativamente entre as 06 turmas

observadas (03 em escolas da rede pública e 03 em escola da rede particular).

3.2 A observação e análise dos dados

Para a observação dos dados levantados e, por conseguinte, para o

desenvolvimento do estudo aqui apresentado, tomaram-se por base os

pressupostos teórico-metodológicos da vertente quantitativa dos estudos

sociolinguísticos. O trabalho de pesquisa sob a ótica desta vertente pauta-se

na crença de que toda variação é condicionada por fatores sociais e/ou

linguísticos, uma vez que a heterogeneidade linguística é ordenada, sendo,

assim, está passível de descrição por regras. Tais regras poderão favorecer ou

desfavorecer, variavelmente e com pesos específicos, as variantes usadas em

cada contexto analisado, sendo chamadas de regras variáveis,

proporcionando, desta forma, a possibilidade de identificar uma série de

categorias independentes (variáveis independentes) que motivarão a

ocorrência de uma determinada variante.

Tendo por base, então, a metodologia da Sociolinguística Quantitativa,

foram adotadas variáveis linguísticas e sociais para a observância do

comportamento do segmento consonantal foco deste estudo. Estas variáveis

foram analisadas por meio do programa computacional Goldvarb X. Para tanto,

alguns procedimentos metodológicos foram adotados, fazendo-se necessária,

em continuidade a este capítulo (explanados nos próximos subitens), sua

descrição a fim de que os resultados desta pesquisa revelem-se como

consequência de uma postura metodológica apropriadamente rígida, não

sendo permitidas distribuições e condutas dessemelhantes.

61

3.2.1 Procedimentos metodológicos adotados

Após coleta das produções dos alunos, deu-se início ao tratamento do

corpus seguindo as etapas a seguir listadas:

(i) leitura de todo o material para triagem das redações;

(ii) triagem do material: descarte das produções cujo texto possuia

sérios problemas de coesão e/ou coerência, caligrafia ininteligível

e pouco rendimento (produções com número inferior a 10 linhas

para a 5º ano e 15 linhas para os 9º e 3º anos);

(iii) releitura das produções selecionadas e marcação das ocorrências

de vocábulos foco da pesquisa (palavras finalizadas por –r);

(iv) tabulação das ocorrências, facilitando, assim, a verificação das

inter-relações nos dados observados;

(v) codificação das ocorrências;

(vi) submissão dos dados codificados ao programa Goldvarb X;

(vii) análise qualitativa e quantitativa dos dados.

Para a codificação das ocorrências (etapa 5), fez-se necessária a

definição das variáveis independentes (possíveis fatores condicionadores da

variação em estudo) em função da variável dependente da pesquisa.

3.2.2 Variável dependente

Tomando por base a ideia de concorrência de variantes na constituição

de uma variável, como sinaliza Tarallo (2007, p.02), tem-se o conceito de

variável dependente por diferentes formas de usos da língua cuja eleição por

uma ou outra depende de determinados ambientes. Assim, no estudo dos

róticos em posição de coda silábica em final de palavra na escrita de

estudantes soteropolitanos, tem-se como esquema de variável dependente:

< r >

Ø

R

62

Com base no esquema supracitado, a variável dependente pode se

apresentar como a realização do segmento consonântico (04) ou seu

apagamento (05). Tais comportamentos podem ser visualizados nos exemplos:

(04) “ (...) precisa pensar em melhor atitudes” (aluno 5º ano – rede pública) (05) “Vou te conta como foram minhas férias” (aluno 5º ano – rede

particular)

Neste trabalho, entende-se por conceito de apagamento o seguinte:

Fenômeno fonológico em que um segmento consonantal ou vocálico é cancelado. Utiliza-se o símbolo Ø para indicar que houve o cancelamento ou o apagamento da vogal ou da consoante. Apagamento é sinônimo de cancelamento e queda. (...) O apagamento de consoantes ocorre, tipicamente nas bordas das palavras ou em encontros consonantais. Por exemplo, [a’mo] para amor ou [‘livu] para livro. O apagamento equivale ao fenômeno de lenição, ou seja, de enfraquecimento consonantal, em grau máximo (SILVA, 2011, p. 59-60)

Em que pese a recorrência (ainda que não quantitativamente observada)

dos casos de hipercorreção3, ou seja, os casos em que as formas linguísticas

escolhidas pelo aluno foram além do ponto estabelecido pela variante de língua

que este tem como meta, produzindo, assim, uma versão que não existe no

padrão, a exemplo:

Dado o foco da pesquisa e por falta de tempo hábil para o devido

tratamento, estes dados não foram considerados. Sem embargos, dada a

reincidência de tal estratégia em diversas produções escritas no corpus

estudado, tais casos sugerem-se muito profícuos, podendo deste modo dar azo

a pesquisas ulteriores.

3.2.3 Variáveis independentes

Tem-se por variáveis independentes o conjunto de fatores que podem

influenciar um determinado fenômeno em variação. Como trata Mollica (2007,

3 “Amigo, você estar bem? Espero que sim.” (aluno 9º ano – rede pública)

63

p.11), estas variáveis são parâmetros reguladores dos fenômenos variáveis,

que podem condicioná-los positiva ou negativamente, agindo simultaneamente

e emergindo de dentro ou de fora dos sistemas linguísticos.

Para a análise aqui proposta foram elencadas, a partir da observação

dos contextos selecionados, pelo pacote programa VARBRUL, em estudos

anteriores com corpus de fala, as seguintes variáveis linguísticas e

extralinguísticas:

1. Grupo de fatores linguísticos:

a) Gênero Textual

b) Extensão do vocábulo

c) Contexto precedente

d) Contexto subsequente

e) Modo de articulação do segmento subsequente

f) Ponto de articulação do segmento subsequente

g) Sonoridade do segmento subsequente

h) Classe morfológica do vocábulo

2. Grupo de fatores extralinguísticos:

a) Escolaridade

b) Gênero/sexo

c) Rede de ensino

3.2.3.1 Variáveis linguísticas

Nesta etapa da pesquisa, serão listados e explicitados os grupos de

fatores internos cujas características repousam no ambiente linguístico.

Intenciona-se, assim, perceber quais os condicionamentos de natureza

linguística significativos para o apagamento dos róticos em coda silábica, visto

que alguns processos de variação linguística são condicionados pelo ambiente

estrutural em que determinadas variáveis se encontram. Assim, para o estudo

aqui apresentado, observaram-se como variáveis de natureza linguística os

seguintes parâmetros: gênero textual, extensão vocabular, contexto

64

precedente, contexto subsequente, modo de articulação do segmento

subsequente, ponto de articulação do segmento subsequente, sonoridade do

segmento subsequente e classe morfológica do vocábulo.

3.2.3.1.1 Gênero textual

Uma hipótese levantada no início desta pesquisa está relacionada ao

ambiente de formalidade que um determinado gênero textual pode incutir a seu

redator. Desta forma, similarmente a pesquisas com dados de fala, nas quais

há simulação de situações de fala mais formal ou mais relaxada, como em

entrevistas com questionários fonético-fonológicos e temas para discurso

semidirigido, foram pensados para esta pesquisa dois ambientes de escrita,

para observação de dois níveis de formalidade nos registros coletados:

a) Maior formalidade através de textos dissertativos (dissertação sobre

preservação ambiental), por tratar-se de um gênero textual comumente

utilizado em exames seletivos;

(06) “Tem várias maneiras de praticar a sustentabilidade” (aluna do 9º

ano – rede pública)

É mister justificar que o termo “dissertação” aqui trabalhado refere-se ao

gênero textual e não ao tipo textual, já que se assume para tal denominação a

perspectiva de Marchuschi (2007), que considera gênero textual como textos

materializados, frutos de trabalho coletivo, que fazem parte do cotidiano e que

apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,

propriedades funcionais, estilo e composição característica, ordenando, assim,

as atividades comunicativas do dia a dia e sendo, portanto, eventos textuais

altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Neste trabalho, há a referência,

assim como Souza (2007), ao termo dissertação como gênero textual

pertencente ao domínio discursivo escolar, sendo este um objeto de ensino

essencialmente da produção escrita, respondendo, assim, ao propósito de

desenvolvimento da competência comunicativa do aluno.

65

b) Menor formalidade através de textos epistolares (carta a um amigo

relatando o período de férias), por tratar-se de um gênero mais utilizado

para comunicação entre amigos e familiares, configurando-se assim

como um ambiente de escrita menos formal.

(07) “(...) vai acontece por causa...” (aluna do 3º ano – rede pública)

Assim, intenta-se, com a análise desta variável, verificar se os registros

escritos em ambiente menos formal fazem uso de estruturas típicas da fala, no

caso em estudo, se nos textos epistolares haverá maior incidência de

apagamento dos róticos.

3.2.3.1.2 Extensão do vocábulo

Como já exposto no capítulo “Estudos sobre os róticos no português

brasileiro”, em estudos anteriores, ficou evidenciado que a dimensão do

vocábulo é um importante fator no processo de apagamento dos róticos em

posição de coda silábica; a exemplo, podem-se citar: o trabalho de Callou,

Moraes e Leite (2002), no qual se constatou a relevância desta variável para o

apagamento, sendo este mais favorecido em nomes trissílabos (0,61) e

polissílabos (0,64); e o trabalho de Mota e Souza (2009), em que também se

observou a influência da dimensão vocabular para o fenômeno, sendo os

contextos de tríssilabos (96%) e polissílabos (92%) bastante produtivos.

Assim, espera-se que, como nos corpora de fala estudados, o

apagamento seja mais recorrente em vocábulos mais extensos e a

manutenção seja uma constante em monossílabos. Deste modo, compõem o

grupo de fatores em questão palavras:

a) monossílabas

(08) “... lixo ser jogado na rua” (aluno do 5º ano – rede particular)

b) dissílabas

(09) “tem que para com isso” (aluno do 5º ano – rede particular)

c) trissílabas

66

(10) “... tem várias maneiras de pratica a sustentabilidade” (aluno do 3º

ano – rede pública)

d) polissílabas

(11) “As atividades sustentáveis são pensar no futuro,(...) e utiliza bem o

recurso ” (aluno do 3º ano – rede pública)

3.2.3.1.3 Contexto precedente

Outro fator bastante relevante em estudos anteriores é a influência que o

segmento vocálico da sílaba analisada exerce sobre consoante em posição de

coda, evento comum em análises de cunho fonético. Callou, Moraes e Leite

(2002) constataram, em seu estudo com dados do NURC, que a vogal central

anteposta ao rótico propicia seu apagamento (0,57); posteriormente, o trabalho

de Nascimento, Rodrigues e Cunha (2006) também observaram o contexto

precedente como favorecedor do apagamento, contudo, neste estudo, a vogal

que se revelou mais produtiva para a variação foi a vogal alta anterior não-

arredondada (0,96).

Deste modo, há aqui a intenção de perceber o nível de influência que as

vogais precedentes exercem no apagamento ou manutenção dos róticos no

corpus de escrita aqui estudado. Como se trata de um corpus de escrita, sem

análise prévia da fala dos indivíduos analisados, o elenco de 07 (sete) vogais

orais tônicas do Português Brasileiro foi reduzido a 05 vogais, as quais são

ortograficamente representadas por a, e, i, o ,u:

a) vogal alta anterior “i”

(12) “(...) preciso senti na pele o problema” (aluno do 3º ano – rede

privada)

b) vogal anterior média “e”

(13) “... algo fácil de compreende e ser praticado” (aluno do 9º ano –

rede pública)

c) vogal central baixa “a”

(14) “Quando corta plante de novo” (aluna do 9º ano – rede pública)

67

d) vogal posterior média “o”

(15) “(...) e espalha o espírito do amo.” (aluno do 5º ano – rede pública)

e) vogal alta posterior “u”

(16) “(...) tur o trivela.” (aluna do 3º ano – rede particular)

3.2.3.1.4 Contexto subsequente

Neste grupo de fatores, pretende-se analisar a presença ou ausência de

elementos linguísticos dispostos à direita da ocorrência analisada, ou seja o

contexto seguinte ao vocábulo em estudo. Tem-se por contexto a ideia do

ambiente em que são definidas as condições ou locais estruturais em que um

fenômeno acontece (SILVA, 2011, p. 80); no presente caso, há as condições

posteriores ao fenômeno em foco, na tentativa de visualizar se a realização de

um fonema posterior ao rótico analisado ou sua ausência revela-se influente no

processo de apagamento em estudo. A exemplo da relevância da escolha

desta variável, tem-se o trabalho de Mota e Souza (2009), o qual, entre outras

variáveis estudadas, teve o contexto subsequente como fator selecionado,

sendo as vogais favorecedoras do apagamento. Neste trabalho, serão

analisados os contextos de:

a) Vogal

(17) “tive que viaja outra vez sozinha” (aluna do 3º ano – rede pública)4

b) Consoante

(18) “(...) vai joga pilhas de resíduos” (aluno do 9º ano – rede particular)

c) Pausa

(19) “(...) tem um amor para recorda” (aluna do 3º ano – rede particular)

Seguindo o trabalho de Mota e Souza (2009), uma das hipóteses

norteadoras desta pesquisa repousa na ideia de que, em contexto subsequente

formado por um segmento vocálico, observa-se com maior facilidade o

4 Nos exemplos, em relação ao contexto subsequente, optou-se por destacar também a letra que representa

o fonema que está sendo ilustrado.

68

apagamento do –R, pois há neste contexto uma busca pelo padrão silábico CV

(consoante – vogal).

3.2.3.1.5 Ponto, modo de articulação e sonoridade do segmento subsequente

Uma vez levantada a influência do segmento consonântico subsequente

como possível agente no processo de variação investigado, faz-se necessária

a análise da caracterização deste segmento, para assim, examinar seu (i)

ponto de articulação, (ii) modo de articulação e (iii) sonoridade.

a) Ponto de articulação ou lugar no trato vocal definido a partir da posição

do articulador ativo em relação ao articulador passivo. Para a presente

pesquisa, as consoantes encontradas entre as ocorrências catalogadas

foram divididas em:

- Bilabial

(20) “Destruir minha vontade” (aluna 3º ano – escola pública)

- Labiodental

(21) “po favo pare (...)” (aluna 5º ano – escola publica)

- Alveolar

(22) “Com o passar do tempo (...)” (aluno 5º ano – escola particular)

- Velar

(23) “(...) nunca força coisa alguma (...)” (aluno 3º ano – escola pública)

b) Modo de articulação é forma de obstrução do ar no trato vocal durante a

produção de um segmento consonântico. Assim, há neste estudo, como

maneiras de articulação analisadas:

- Oclusiva

(24) “O luga dela deve ser (...)” (aluno 9º ano – escola particular)

- Fricativa

69

(25) “Eu sei que se sustentável é se uma pessoa que se sustenta”

(aluna 5º ano – escola particular)

- Nasal

(26) “É preciso senti na pele os erros (...)” (aluna 5º ano – escola

particular)

- Lateral

(27) “Por causa de está lá com eles.” (aluno 3º ano – escola particular)

c) Sonoridade, tem-se nesta variável a análise da vibração (segmento

vozeado) das pregas vocais durante o processo de produção de um

segmento consonântico ou sua não vibração (segmento desvozeado).

(28) “Ser consciente e agi de forma (...)” (aluna 9º ano – escola pública)

(29) “(...) vai acabar sendo melhor” (aluna 9º ano – escola particular)

Foi observado em estudos anteriormente publicados que, de modo geral, os

trabalhos com corpus de fala têm apresentado as três variáveis ora

apresentadas de forma amalgamada, contudo ao ser aplicada tal estatégia ao

corpus de escrita utilizado nesta pesquisa, não houve seleção, por parte do

programa Goldvarb X, da variável em questão, evidenciando, assim a

neutralidade da junção destes elementos. Deste modo, optou-se por analisá-los

isoladamente.

3.2.3.1.6 Classe morfológica do vocábulo

Esta variável mostrou-se bastante produtiva, em trabalhos anteriores; a

exemplo, tem-se o trabalho de Mota e Souza (2009) em que foi possível

perceber a relevância deste grupo de fatores para o apagamento do segmento

70

consonântico, devido à frequência de apagamentos observados sobretudo em

palavras pertencentes à classe morfológica dos verbos. Destarte, tomando a

produtividade dos verbos no fenômeno analisado e observações em pesquisas

anteriores, as ocorrências levantadas no corpus em análise foram subdivididas

entre duas grandes classes morfológicas:

a) Verbos

(30) “Não senti passar o tempo.” (aluna do 9º ano – rede particular)

b) Não verbos

(31) “(...) o prasê de conhecer uma cidade...” (aluno do 5º ano – rede

pública)

3.2.3.2 Variáveis extralinguísticas

Para uma pesquisa que se fundamenta em uma teoria que se volta para

o estudo dos processos de variação e mudança linguísticas correlacionados

com os fatores sociais, a observância das variáveis extralinguísticas é de

significativa importância.

Deste modo, nesta etapa do texto, serão relacionados os grupos de

fatores sociais utilizados: escolaridade, gênero/sexo e rede de ensino.

3.2.3.2.1 Escolaridade

O grupo de fatores escolaridade apresenta-se como uma das variáveis

de maior relevância para este trabalho, uma vez que, consciente do papel da

escolarização no comportamento linguístico do aluno, espera-se que, à medida

que o aluno avance nas séries do ensino básico, o número de ocorrências de

apagamento diminua, como pontua Votre (2007, p. 54): “O ensino produtivo

cumpre sua missão quando o aluno busca identificar-se com grupos detentores

de formas de prestígio, procurando apropriar-se dessas formas, como capital

simbólico”.

Contudo, ainda que diminuta, haja vista o papel de controle e imposição

da variedade padrão da língua, tendo na escola “uma força corretiva e

71

unificadora da língua” (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 23), espera-se encontrar,

nos três níveis estudados, a variação aqui estudada uma vez que as condições

gerais de qualidade da educação no Brasil revelam-se – apesar dos esforços

empreendidos por governos municipais, estaduais e federais para o acesso à

educação – longe do esperado frente ao avanço econômico das últimas

décadas5:

Pode-se representar a força padronizadora da língua-padrão por um vetor que se denominará vetor de assimilação. (...) Opõe-se a essa força outro vetor, o da manutenção das variedades não-padrão, que se apóia principalmente em fatores de natureza psicossocial (...) Na situação brasileira, encontra-se a mesma força padronizadora representada pelo vetor de assimilação. Entretanto, o principal fator que se lhe contrapõe parece ser o acesso restrito à língua-padrão. (BORTONI-RICARDO, 2005 p. 23)

Seguindo o pressuposto de que, no ambiente escolar, tem-se foco maior

no canal da escrita, e a produtividade do ensino concretiza-se pela aquisição

de novos hábitos linguísticos, a incorporação de novos modos de dizer e

escrever, sempre com ênfase nos modos prestigiados de comunicação

(VOTRE, 2007, p. 53), o corpus deste estudo subdividiu seu grupo de

informantes consoante às três séries que configuram três importantes estágios

da educação básica, não obstante os três grandes instrumentos de avaliação

aplicados em cada um desses estágios: Provinha Brasil, Prova Brasil e ENEM.

Assim, em relação à variável escolaridade, são fatores controlados nesta

pesquisa:

a) Quinto ano do ensino fundamental (antiga 4ª série);

b) Nono ano do ensino fundamental (antiga 8ª série);

c) Terceiro ano do ensino médio.

3.2.3.2.2 Gênero/sexo

É notória e devidamente marcada em diversos trabalhos em

Sociolinguística em corpus de fala, tanto a diferença de uso entre homens e

5 Dados divulgados pela Revista Escola, na matéria “O acesso à escola melhorou. O desafio,

agora, é a qualidade”. Disponível em:< http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/avaliacao/acesso-escola-melhorou-desafio-agora-qualidade-618018.shtml>. Acesso em: 20 jan.2013

72

mulheres, quanto, sobretudo em estudos mais recentes, a proximidade de usos

entre homens e mulheres. Nesta perspectiva, indaga-se a esse ponto da

pesquisa: haveria relevância do fator gênero também na escrita? O

comportamento de homens e mulheres sinalizados em trabalhos anteriores,

observados no capítulo “Estudos sobres os róticos no português brasileiro” se

evidenciará também na escrita entre alunos e alunas?

Contudo, se faz necessário registrar que, nesta análise, pretende-se

apenas indicar um comportamento e não taxá-lo, haja vista que, em se tratando

de corpus no qual não é possível estudar a variável em questão conjuntamente

com a variável faixa etária, seria no mínimo imprudente caracterizar condutas

baseadas na concepção de gênero/sexo:

[...] qualquer explicação acerca do efeito da variável gênero/sexo requer uma certa cautela, vistas às peculiaridades na organização social de cada comunidade linguística e às transformações sofridas por diversas sociedades no que se refere à definição dos papéis feminino e masculino. A esse respeito a interação entre gênero/sexo e a variável idade fornece alguns elementos de reflexão. (PAIVA, 2007, p. 41)

3.2.2.2.3 Rede de ensino

A discussão sobre a diferença na qualidade de ensino e, por

conseguinte, no perfil do corpo discente entre rede pública e rede privada de

ensino é muito recorrente, sobretudo quando analisados instrumentos de

avaliação de caráter nacional, a exemplo o ENEM. Para ilustrar tal

posicionamento, tem-se o trecho de uma matéria veiculada em meio eletrônico

no final do ano de 2012, logo após a divulgação dos resultados do ENEM

realizado naquele ano:

Cresceu a diferença no desempenho entre alunos das redes privada e pública na redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, em 2011, estudantes particulares tiveram nota média de 623,13, em comparação com 506,31 dos concluintes do ensino médio das escolas públicas. A discrepância cresceu 56%, chegando a 116,82

73

pontos, isso em relação ao ano anterior, em que o índice chegou a 74,95.

6

Assim, objetiva-se, com a análise desta variável, verificar a possível

diferença no comportamento linguístico entre estudantes oriundos das redes

privada e pública, a fim de verificar se os estudantes da rede privada utilizam,

com mais frequência, a variante padrão como tem sido difundido em meios de

comunicação e senso comum de nossa sociedade.

3.3 A ferramenta de análise – Goldvarb X

A pesquisa aqui apresentada, como já exposto em capítulos anteriores,

encontra suporte no modelo teórico-metodológico da Sociolinguística

Laboviana, cujo método de procedimentos7 é o estatístico.

Assim, como ferramenta metodológica utilizada pela Sociolinguística, o

programa Goldvarb X apresenta-se como instrumento de importância ímpar

para a análise de dados, assegurando, destarte, uma análise estatística

rigorosa.

O Goldvarb X permite ao pesquisador, segundo Guy e Zilles (2007,

p.73), apreender a sistematicidade, o encaixamento linguístico e social e a

eventual relação com a mudança linguística. Assim, o Goldvarb X manifesta-se

como ferramenta ideal, uma vez que se preocupa com uma descrição

estatística que seja capaz de sistematizar as variáveis e seus fatores de

influência, sejam internos ou externos ao sistema linguístico. Essa análise

multivariada permite a investigação de situações em que a variável linguística

foco de análise é influenciada por vários elementos do contexto, ou seja,

múltiplas variáveis independentes.

O pacote de programas Varbrul – cujos primeiros usos em

microcomputadores tipo IBM datam de 1988, período de implementação por

Pintzuk – possui hoje uma versão mais atualizada e inovadora, o Goldvarb X,

6 Dados publicados em: 07/12/2012. Disponível em:<

http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/ult10103u1197415.shtml. Acesso em 20 jan. 2013 7 Tem-se aqui por método de procedimentos as etapas mais concretas da investigação, com

finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos, (LAKATOS, 2009, p. 106)

74

escolhido como ferramenta de análise, que amalgama em um só programa os

demais programas formadores do pacote inicial.

Não obstante o importante suporte de análise, faz-se necessário ratificar

o imprescindível papel do pesquisador, posto que os números sem um olhar

interpretativo, aqui, seriam meros dados estatísticos. É mister que o

pesquisador, de posse destes percentuais e pesos relativos levantados pelo

Goldvarb X, processe os dados informados, cruzando todas as variáveis

planejadas para a pesquisa e, assim, observe os grupos de fatores que

influenciam ou não influenciam o fenômeno em causa.

O tratamento de dados através do Goldvarb X exige que o pesquisador,

em seu universo de variáveis, estabeleça códigos para cada fator constituinte

dos grupos de fatores estudados, para que estes sejam cruzados com a

variável dependente (também codificada) e assim sejam gerados os números

do corpus analisado com seus percentuais de ocorrência e pesos relativos.

Para a presente dissertação, uma vez utilizado o programa Goldvarb, também

foram atribuídos códigos para cada fator exposto anteriormente, cuja listagem

encontra-se no apêndice do texto (Apêndice B – Chave de codificação).

75

4 ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo, serão apresentados os resultados quantitativos obtidos a

partir da análise das ocorrências levantadas dos textos de alunos do ensino

básico da cidade de Salvador, a fim de se observar o apagamento dos róticos

em posição de coda silábica. Os resultados aqui exibidos são frutos de

diversos processamentos estatístico-probabilísticos, visando dar conta da

explicação possível para a variação linguística do fenômeno ora estudado, visto

que:

Um código ou sistema é concebido como um complexo de

regras ou categorias inter-relacionadas que não podem ser

misturadas aleatoriamente com as regras ou categorias de outro

código ou sistema (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 104)

4.1 Distribuição das variantes no corpus

As análises estatísticas são denominadas de rodadas, já que os programas

utilizados realizam leituras das informações de cima para baixo e de baixo para

cima, cruzando ou não todos os grupos de fatores aventados para a pesquisa.

Assim, inicialmente, buscou-se a frequência das ocorrências encontradas

nas 192 redações coletadas, as quais perfizeram um total de 1587 ocorrências,

distribuídas nas duas variantes selecionadas, apagamento (13,1%) x

manutenção do rótico (86,9%) em posição de coda silábica em final de palavra,

conforme se vê na tabela 1.

Tabela 1 - Dados gerais do corpus: presença x ausência do –R.

Variantes Nº %

Apagamento do –R 208 13,1

Manutenção do –R 1379 86,9

TOTAL 1587

Os percentuais iniciais deste estudo revelam um dado interessante:

consoante diversos autores elencados ao longo do texto (COSTA, 2010;

76

HORA; PEDROSA; CARDOSO, 2010, entre outros) , ainda que presente a

variação nas produções observadas, há a indicação de que a escrita continua

como instrumento de manutenção dos padrões linguísticos. Contudo, não se

objetiva aqui restringir a escrita a um mero instrumento de repressão do

processo de variação linguística, pois o presente estudo comunga, entre as

tendências de estudos das relações fala x escrita sinalizadas por Marchuschi

(2007), com a perspectiva variacionista a qual:

Trata do papel da escrita e da fala sob o ponto de vista dos processos

educacionais e faz propostas específicas a respeito do tratamento da

variação na relação entre padrão e não-padrão linguístico nos

contextos de ensino formal.[...] O interessante nesta perspectiva é

que a variação se daria tanto na fala como na escrita, o que evitaria o

equívoco de identificar a língua escrita como a padronização da

língua, ou seja, impediria identificar a escrita como equivalente a

língua padrão, como fazem os autores situados na perspectiva da

dicotomia estrita.(MARCHUSCHI, 2007, p.31-2)

No gráfico 1, é possível observar a recorrência das variantes estudadas,

explicitando, assim, os percentuais de presença e manutenção do rótico nos

1.587 vocábulos analisados:

Gráfico 1 - Dados gerais do corpus: presença x ausência do –R.

77

Observando o gráfico 1, tornam-se de mais concreta visualização as

afirmações dos parágrafos iniciais sobre a distribuição geral das variantes no

corpus. Entre as 1587 ocorrências de vocábulos cujas sílabas finais são

travadas pelo rótico, contrariamente a diversos trabalhos com língua falada,

86,9% das ocorrências apresentaram a manutenção do segmento

consonântico e apenas 13, 1% destas indicaram uma possível influência da

língua falada por meio do apagamento do –R em posição de coda em final de

palavra. Tais dados levam a considerar o papel da escola nos usos linguísticos

dos indivíduos, bem como suscitam o pensamento de que a modalidade oral da

língua, na amostra analisada, não exerce tanta influência na modalidade

escrita.

4.2 Variáveis selecionadas pelo programa Goldvarb X

Primeiramente, fez-se necessária a exclusão do fator vogal alta posterior,

pertencente ao grupo de fatores contexto precedente, por causar nocaute8 nos

resultados obtidos através do Goldvarb. Deste modo, a tabela 1, a qual exibe

os dados gerais do corpus, apresenta um total de ocorrência (1.587) diferente

das demais tabelas (1.586). Realizada esta modificação, procedeu-se com a

rodada para obtenção dos dados numéricos, sendo escolhidos os grupos de

fatores, listados segundo ordenamento do programa na rodada selecionada:

(i) Contexto precedente

(ii) Classe morfológica

(iii) Rede de ensino

(iv) Escolaridade

(v) Extensão do vocábulo

(vi) Contexto subsequente

(vii) Ponto de articulação do segmento subsequente

8 Segundo Guy e Zilles (2007, p. 158), “nocaute, na terminologia de análise do Varbrul, é um

fator que num dado momento da análise, corresponde a uma frequência de 0% ou 100% para um dos valores da variável dependente”.

78

4.2.1 Contexto precedente

A primeira variável selecionada como favorecedora do apagamento na

escrita foi o segmento vocálico que antecede o rótico, isto é, o núcleo da sílaba

em que o rótico ocupa a posição de coda. Os resultados obtidos para essa

variável estão registrados na tabela 2.

Tabela 2 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto precedente.

Contexto precedente

Significância = 0.049 Apl./T. %

P.R.

vogal anterior alta 47/199 23,6 0.69

vogal central baixa 145/803 18,1 0.62

vogal anterior média 13/359 3,6 0.28

vogal posterior média 3/222 1,3 0.24

TOTAL 208/1586

Os dados da tabela 2 sinalizam que a vogal anterior alta (32) demonstrou

um maior apagamento do –R, com um peso relativo de 0.69, seguida da vogal

central baixa (33) com peso relativo de 0.62. Já o segmento vocálico menos

favorecedor da variação foi a vogal posterior média (34), com peso relativo de

0.24.

(32) “(...) for dormi, ao sair desligar a luz” (aluna 9º ano – escola

pública)

(33) “Vai usa para reutilizar e muitos (...)” (aluno 3º ano – escola

pública)

(34) “Ao mecher no computador desligue” (aluno 5º ano – escola particular)

Para uma melhor visualização dos dados, há, no gráfico 2, a disposição do

comportamento das vogais em posição de núcleo de sílaba travada por um

rótico: vogal anterior alta (23,6%), vogal central baixa (18,1%) e com

percentuais menores a vogal anterior média (3,6%) e a vogal posterior média

(1,3%). Resultados similares, quanto ao comportamento da referida vogal,

encontram-se em Cunha, Rodrigues e Nascimento (2006) com a indicação da

79

vogal anterior não-arredondada [i], com um peso relativo de 0.96 e em Costa

(2010), em que a vogal [i] revelou-se como terreno profícuo ao apagamento do

-R em final de verbos, apresentando peso relativo de 0.64.

Gráfico 2 - O apagamento dos róticos na escrita e o contexto precedente.

4.2.2 Classe morfológica Confirmando a hipótese inicial levantada para a variável classe

gramatical, em que o cancelamento do segmento em análise seria mais

frequente em verbos, no corpus, o apagamento revelou-se produtivo mais na

classe dos verbos apresentando peso relativo de 0.57, conforme se vê na

tabela 3, vale ressaltar que, consoante observações de Callou, Moraes e Leite

(1996), o comportamento constatado na classe dos verbos, dá-se, sobretudo,

no infinitivo verbal.

Tabela 3 - O apagamento dos róticos na escrita e a classe morfológica

Classe morfológica Significância = 0.049

Apl./T. % P.R.

Verbos 204/1327 15,4 0.57

Não-verbos 4/260 1,5 0.17

TOTAL 208/1587

A tabela 3 evidencia, então, o comportamento dos verbos análogo aos

estudos com corpus de língua falada, perfazendo um total de 15,4% de casos

80

em que ocorreu o apagamento do -R (35), com peso relativo de 0.57, frente a

apenas 1,5% de apagamento em vocábulos classificados como não verbos

(36), com peso relativo de 0.17.

(35) “Vai prejudica somente aqueles menos preparados” (aluna 3º ano –

escola pública)

(36) “O ser humano precisa (...)” (aluna 3º ano – escola pública)

A distribuição dos dados pode ser melhor visualizada no gráfico 3.

Gráfico 3 - O apagamento dos róticos na escrita e a classe morfológica

Oliveira (2001) também teve, em seu trabalho, o grupo de fatores classe

morfológica selecionado, apresentando peso relativo de 0.56:

Os resultados referentes à classe de palavras confirmaram o que

tradicionalmente se comenta a respeito do comportamento da

variável (r) nos verbos. Os resultados nos dizem que é nele que se

processa o maior índice de apagamento. Tradicionalmente, o verbo

tem sido uma das classes de palavra na qual mais ocorre o

apagamento. (OLIVEIRA, 2001. p. 54)

Outras pesquisas, como as de Callou, Moraes e Leite (1996) e

Monaretto (2002) também comungam da seleção da variável classe gramatical

como contexto favorecedor do processo de apagamento dos róticos.

81

Os dados de escrita ora apresentados indicam a classe de palavras dos

verbos também como ambiente favorecedor do processo de apagamento

consonantal. Tal observação leva à crença de que, ainda que pouco observada

a variação na escrita, quando esta ocorre, comunga de contextos

favorecedores na fala.

4.2.3 Rede de ensino

A tabela 4 apresenta os resultados para a variável rede de ensino.

Tabela 4 - O apagamento dos róticos na escrita e a rede de ensino.

Rede de ensino Significância = 0.049

Apl./T. % P.R.

Pública 117/693 16,9 0.59

Privada 91/894 10,2 0.42

TOTAL 208/1587

Como vislumbrado no início do trabalho, os alunos pertencentes à rede

pública de ensino demonstram maior recorrência à estratégia de apagamento

dos róticos em seus textos, com peso relativo de 0.59, enquanto a escrita dos

alunos da rede particular de ensino apresentaram um índice de apagamento de

0.42.

Silva-Corvalán (2001) posiciona-se em relação à importância dos

estudos sociolinguísticos frente à realidade linguística dos alunos e a

metodologia de ensino do padrão linguístico:

Si la escuela se propone como objectivo mantener la variedad no

estándar junto con la enseñanza del estándar, es necesario, por

tanto, motivar al niño a adquirir esta última, sin criticar ni emitir juicios

negativos hacia la variedad familiar y comunitaria que el niño usará

más frecuetemente fuera de la escuela. En cuanto a metodología, es

interesante observar que los educadores han adoptado técnicas

empleadas en la enseñanza de una lengua extranjera y han

empezado a aplicarlas en la enseñanza de variedades de la misma

lengua: técnicas de comparación, identificación de semejanzas y

diferencias, ejercicios de repetición y completación, etc.9 (SILVA-

CORVALÁN, 2001. p.32)

9 Se a escola propõe como objetivo manter a variedade não padrão junto com o ensino do padrão

linguístico, é necessário, para tanto, motivar o aluno a adquirir esta útlima, sem criticar, nem emitir

82

O gráfico 4 apresenta a diferença entre alunos oriundos da rede privada

e alunos da rede pública.

Gráfico 4 - O apagamento dos róticos na escrita e a rede de ensino.

Os resultados ilustrados no gráfico 4, reforçam o pensamento de que há

diferença no comportamento linguístico entre alunos conforme a rede de ensino

de origem, bem como suscita a necessidade de trabalhos voltados à

observação do comportamento destes alunos, buscando, a partir de uma maior

consciência da realidade destes, a elaboração de práticas pedagógicas que

diminuam esta diferença.

4.2.4 Escolaridade

Os dados relativos à variável escolaridade, expostos na tabela 5,

demonstram um dado social de extrema relevância para a pesquisa: a força da

escolarização no processo de aquisição do padrão ortográfico oficial.

juízos negativos à variedade da família e da comunidade que o aluno utilizará mais frequentemente

fora da escola. Enquanto metodologia, é interessante observar que os educadores optam por técnicas

empregadas no ensino de uma língua estrangeira e começam a aplicá-las no ensino de variedades da

mesma língua: técnicas de comparação, identificação de semelhanças e diferenças, exercício de

repetição e complementação, etc. (tradução nossa)

83

Tabela 5 - O apagamento dos róticos na escrita e a escolaridade.

Escolaridade Significância = 0.049

Apl./T. % P.R.

5º Ano do Ensino Fundamental 106/627 16,9 0.56

9º Ano do Ensino Fundamental 64/530 12,1 0.51

3º Ano do Ensino Médio 38/430 8,8 0.38

TOTAL 208/1587

Com base na tabela 5, verifica-se, então, o decrescente uso da variante

não-padrão consoante o avanço do tempo de estudo do indivíduo: os

estudantes do 5º ano do ensino fundamental encontram-se em um extremo,

com o peso relativo de 0.56 para a regra de aplicação e os estudantes que

estão finalizando o ensino básico, cursantes da 3ª série do ensino médio,

apresentam peso relativo de 0.39. Tal observação concretiza-se na

configuração do gráfico 5.

Gráfico 5 - O apagamento dos róticos na escrita e a escolaridade.

O comportamento distinto entre os alunos das três séries analisadas

nesta pesquisa dialoga com o posicionamento de Bortoni-Ricardo (2004) no

que tange aos conceitos de identificação da diferença e a conscientização da

diferença. Ao perceber a regra de uso, sobretudo de verbos no infinitivo e suas

formas flexionadas (em 3ª pessoa do singular), o aluno consicentiza-se de que,

ainda que não pronunciada a consoante, esta faz parte da constituição da

84

palavra que ora é utilizada. Convém, no entanto, reafirmar, mais uma vez, o

papel do mestre neste processo:

Da perspectiva de uma pedagogia culturalmente sensível aos

saberes dos alunos, podemos dizer que, diante da realização de uma

regra não padrão pelo aluno, a estratégia da professora deve incluir

dois componenentes: a identificação da diferença e a conscientização

da diferença. A identificação fica prejudicada pela falta de atenção ou

pelo desconhecimento que os professores tenham a respeito daquela

regra. Para muitos professores, principalmente aqueles que têm

antecedentes rurais, regras do português próprio de uma cultura

predominantemente oral são ‘invisíveis’, o professor as tem no seu

repertório e não as percebe na linguagem do aluno. (BORTONI-

RICARDO, 2004. p. 42)

Tal afirmação, somada aos dados levantados nas produções observadas

nesta pesquisa, reforça a necessidade de formação docente mais consciente,

não apenas dos processos de variação linguística, mas da estrutura

organizacional da língua como um todo, neste caso, dos processos fonológicos

suscitíveis na língua.

4.2.5 Extensão do vocábulo

Os dados exibidos na tabela 6 mostraram-se produtivos para o processo

de cancelamento do segmento consonântico em foco nas palavras trissílabas

(37), polissílabas (38) e dissílabas (39), com pesos relativos respectivos de

0.57, 0.57 e 0.55. Contrariamente, observa-se o comportamento dos vocábulos

monossílabicos (40), que apresentaram peso relativo de 0.27, ratificando a

crença de que, quanto menor o vocábulo, maior a manutenção de seus

elementos.

Tabela 6 - O apagamento dos róticos na escrita e a extensão do vocábulo.

Extensão do vocábulo Significância = 0.049

Apl./T. % P.R.

Trissílabos 74/396 18,7 0.57

Polissílabos 21/144 14,6 0.57

Dissílabos 106/709 15,0 0.55

Monossílabos 7/338 2,1 0.27

TOTAL 208/1587

85

(37) “Pode derruba sua moradia” ( aluno 9º ano – escola pública)

(38) “Para o homem desenvolve melhores práticas (...)” (aluna 3º ano –

escola particular)

(39) “Assim vamos todos morre.” (aluna 5º ano – rede pública)

(40) “Rir de novo” (aluno 9º ano – escola particular)

Assim como ocorreu nos dados analisados nesta pesquisa, a extensão

do vocábulo mostrou-se como fator relevante para o processo de apagamento

nos usos linguísticos de indivíduos da cidade de Salvador no trabalho de Mota

e Souza (2009), cujos dados revelaram maior incidência do apagamento em

vocábulos trissílabos.

Similarmente ao ilustrado no gráfico 6, há, na análise de dados em

Costa(2010), resultado semelhante em relação ao comportamento

desfavorecedor do apagamento em monossílabos:

Já nos vocábulos constituídos apenas por uma sílaba, houve uma

regra contrária, no sentido da preservação do segmento /R/ no final

das palavras, independentemente da classe gramatical, como é

possível notar nos pesos relativos baixos para a supressão do

segmento em final de verbos e nomes: 0.19 e 0.14 respectivamente.

(COSTA, 2010. p. 109)

Gráfico 6 - O apagamento dos róticos na escrita e extensão do vocábulo.

86

Posição parecida é vista em Callou, Leite e Moraes (2002, p.480): “Nos

dois casos de apagamento, em monossílabos, o /r/ nunca se encontra em final

absoluto e o contexto é o mesmo, embora em informantes distintos: mar e...”.

Esse resultado soma-se aos já vistos: embora ínfima a variação na escrita,

quando esta aparece nos textos dos alunos, apresenta-se em contextos

similares aos vistos em pesquisas anteriores com corpus de fala.

4.2.6. Contexto subsequente Conforme exposto na tabela 7, no corpus estudado, foi possível observar

que o contexto de pausa (41) favoreceu o apagamento dos róticos com peso

relativo de 0.63, ao passo que o segmento vocálico (42) não favoreceu a

variante não padrão, apresentando peso relativo de 0.47, junto ao contexto de

consoante (43) com peso relativo de 0.48.

Tabela 7 - O apagamento dos róticos na escrita e o contexto subsequente

Contexto subsequente Significância = 0.049

Apl./T. % P.R.

Pausa 38/224 17,0 0.63

Consoante 94/781 12,0 0.48

Vogal 76/582 13,1 0.47

TOTAL 208/1587

(41) “(...) não deveria existi” (aluna 3º ano – escola particular)

(42) “(...) viver em um mundo melho” (aluno 3º ano – escola particular)

(43) “(...) devemos mudar nossas ações” (aluno 3º ano – escola pública)

Comportamento parecido pode ser observado com os dados

apresentados por Brustolin (2010). A autora sinalizou que, na fala do

indivíduos nativos de Florianópolis, tem-se por um dos contextos favorecedores

ao apagamento dos róticos o contexto subsequente final absoluto.

87

Os dados que ora são explanados, tanto na tabela 7, quanto no gráfico

7, indicam como contexto favorecedor do apagamento a pausa com percentual

de 17% e peso relativo de 0.64, ao passo que um segmento consonântico

nesta mesma posição desfavorece a variação, posto que nas ocorrências

levantadas, dos vocábulos com o –R apagado em posição de coda silábica,

apenas 12% eram seguidos por palavra iniciada por consoante.

Assim, através da análise do gráfico 7, é possível visualizar os

comportamentos opostos de pausa, de um lado, e consoante e vogal, do outro,

em relação à variação de uso dos róticos em posição de coda silábica em final

de palavra:

Gráfico 7 - O apagamento dos róticos na escrita e o contexto subsequente

4.2.7 Ponto de articulação do segmento subsequente

Esta pesquisa difere das demais em que são utilizados corpora de língua

falada, entre outros aspectos, pelo caminho percorrido quando analisadas as

variáveis relacionadas ao segmento consonântico subsequente. De modo

geral, os trabalhos com corpus de fala amalgamam as variáveis ponto de

articulação, modo de articulação e sonoridade do segmento subsequente. Tal

estratégia foi seguida no presente estudo, contudo, quando amalgamadas

(primeiramente com a junção de ponto, modo de articulação e sonoridade; em

88

seguida apenas o ponto e modo de articulação), a variável resultante não foi

selecionada pelo programa Goldvarb X, fazendo, assim, necessária uma nova

rodada com as três variáveis analisadas separadamente. Assim, houve uma

pequena mudança, com a seleção da variável ponto de articulação. Vale

ressaltar que as demais variáveis selecionadas e anteriormente expostas não

sofreram alteração (vide quadro comparativo das rodadas em Apêndice C).

A tabela 8 expõe os dados relativos ao apagamento dos róticos da

variável ponto de articulação, sendo evidenciada a influência das consoantes

labiodentais (44) no processo de apagamento do –R, com peso relativo de

0.74, seguida das consoantes alveolares (45), com peso relativo de 0.53,

bilabiais (46) com peso relativo de 0.52. Em posição contrária, desfavorecendo

o apagamento encontram-se as consoantes palatais (47), com peso relativo de

0.37:

Tabela 8 - O apagamento dos róticos na escrita e o ponto de articulação do segmento subsequente.

Ponto de articulação Significância = 0.049

Apl./T. % P.R.

Labiodentais 6/28 21,4 0.74

Alveolares 46/364 12,6 0.53

Bilabiais 29/205 14,1 0.52

Palatais 13/184 7,1 0.37

TOTAL 208/1587

(44) “Vai acaba ficando” (aluna 5º ano – escola pública)

(45) “Devemos cuida do meio ambiente” (aluno 5º ano – escola

particular)

(46) “Não toma banho por muito tempo” (aluno 5º ano – escola

particular)

(47) “ele nunca vai tomar jeito na vida” (aluna 3º ano – escola pública)

89

Assim, pela observação do gráfico 8, é possível visualizar maior

influência das consoantes labiodentais no fenômeno de apagamento dos

róticos nas produções escritas analisadas:

Gráfico 8 - O apagamento dos róticos na escrita e o ponto de articulação do segmento

subsequente.

Ao observar os dados do gráfico 8, bem como os dados da tabela 8,

ficam evidentes os extremos de comportamento entre as consoantes

labiodentais com 21,4% do total de ocorrências de apagamento do –R em

posição de final de sílaba e as consoantes palatais com 7,1% de cancelamento

do rótico.

4.3 Variáveis não selecionadas pelo programa Goldvarb X

O que fazer com os grupos de fatores não selecionados, ou seja, com

aqueles que, na amostra utilizada, não revelaram comportamento atuante na

variação foco de estudo? Desprezá-los, pois não revelam nada significativo?

Apresentá-los para, em alguns casos, revelar uma visão inicial equvicada do

fenômeno a ser analisado? Guy e Zilles (2007) também levantam

questionamentos semelhantes e em resposta afirmam:

De fato, raramente é justificável simplesmente esquecer ou não

mencionar resultados sem significância.(...) Primeiro, é importante

lembrar que a falta de significância de uma relação ou efeito é, em si,

90

uma descoberta, uma evidência, uma resposta às perguntas do

pesquisador!(...) O segundo ponto a lembrar nesses casos é que há

vários motivos que determinam um resultado sem significância. (GUY;

ZILLES, 2007. p.214-5)

Dessa forma, seguem os grupos de fatores não selecionados pelo

programa Goldvarb X no corpus de língua na modalidade escrita utilizado nesta

pesquisa:

(i) Gênero/sexo

(ii) Gênero textual

(iii) Modo de articulação do segmento subsequente

(iv) Sonoridade do segmento subsequente

O primeiro grupo não selecionado é de cunho social, gênero/sexo. Nos

dados examinados na pesquisa, do total de 208 vocábulos que apresentaram o

apagamento, 101 de 772 foram em produções escritas por alunas e 107 de 815

por alunos, com percentuais idênticos 13,1% de apagamento do -R e 86,9% de

manutenção. Estes resultados evidenciam um fato bastante significativo, pois

indicam uma proximidade de usos linguísticos entre indivíduos independente se

são do gênero/sexo masculino ou feminino. Este comportamento de

proximidade entre alunas e alunos é discutido em Paiva (2007):

Transformações na organização social podem estar subjacentes à

neutralização do efeito da variável gênero/sexo nas faixas mais

jovens da população. A aproximação do comportamento linguístico de

falantes mais jovens pode ser um reflexo de que, nessa faixa etária,

reconfigura-se a atuação do homem e da mulher na sociedade, com

diluição das fronteiras entre papéis femininos e masculinos. (PAIVA,

2007. p.41)

O comportamento da variável gênero textual demonstrou-se adverso à

crença inicial da pesquisa, uma vez que, em corpus de fala, o grau de

formalidade de fenômenos como o trabalhado, em boa parte dos casos,

influencia os usos dos indivíduos. Contudo, nos dados do corpus de língua

escrita utilizado, não houve diferença significativa entre os níveis de

formalidade proposto: as dissertações coletadas apresentaram um percentual

91

de 12,9%, com dados muito similares (97 de 750 ocorrências de apagamento)

e as cartas obtiveram um percentual de 13,3% de apagamento.

Tal cenário leva, também, a um repensar na metodologia utilizada e não,

necessariamente, ao simples descarte desta variável. Deste modo, é

importante uma redefinição de trilhas em trabalhos futuros, talvez com a

mescla de outras técnicas de coleta de dados como o ditado de palavras e

frases e o teste de lacunas utilizados em outras pesquisas, tais como em

Mollica (2003) e Costa (2010).

Os dois últimos grupos de fatores não selecionados pelo programa

Golsvarb X – modo de articulação e sonoridade do segmento subsequente –

estão atrelados a o outro grupo selecionado, o ponto de articulação do

segmento subsequente. Como já exposto, foi feita uma rodada com estas três

variáveis amalgamadas, contudo a variável originada desta junção não foi

selecionada, descartando-se, assim, a rodada “amalgamada”. Ainda em

continuidade, na análise dos segmentos consonânticos subsequentes, foi

realizada a junção dos grupos de fatores ponto e modo de articulação, contudo,

tal estratégia não logrou êxito, mantendo-se a seleção de variáveis inicial.

Tal situação suscita a necessidade de uma provável ampliação de

corpus, visto que, diferentemente de alguns estudos com corpus de fala, a

variável consoante subsequente não foi selecionada. Com tal ampliação, será

possível visualizar se houve uma alteração nos resultados por uma limitação do

corpus ou se esta mudança se deu pela alteração na modalidade da língua,

evidenciando, adversamente à proposta inicial da pesquisa, um afastamento

dos registros escritos dos orais.

4.4 Cruzamento de variáveis sociais

Com vistas a uma análise mais estreita do condicionamento dos fatores

sociais frente ao fenômeno em foco, foram analisados conjuntamente os

seguintes grupos de fatores: escolaridade e rede de ensino; rede de ensino e

sexo/gênero, cujos dados encontram-se organizados nas tabelas 9 e 10.

Tabela 9 - O apagamento dos róticos na escrita: análise dos fatores escolaridade e rede de ensino.

REDE DE

ENSINO

5º ANO

FUND.

9º ANO

FUND.

3º ANO

E.M.

92

APAGAMENTO -R PARTICULAR

15% 6% 7%

MANUTENÇÃO –R 85% 94% 93%

APAGAMENTO -R PÚBLICA

20% 12% 9%

MANUTENÇÃO –R 80% 88% 91%

Observando os dados da tabela 9, confirma-se o papel da escolarização

na aquisição do padrão linguístico, uma vez que, independente da origem dos

alunos, estes tendem a utilizar cada vez mais o padrão da língua com o

avançar de seus estudos. Mais especificamente, os discentes apresentam, nos

5º e 9º anos do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio, os índices de

manutenção de –R: 85%, 94% e 93% na rede particular e 80%, 88% e 91% na

rede pública, respectivamente.

Não obstante, é válida a observação de que, ainda que pouca, há a

diferença de uso do –R quando observados alunos das mesmas séries nas

duas redes de ensino.

Outra observação interessante tem-se pela análise conjunta dos fatores

sociais rede de ensino e sexo/gênero, conforme demonstrado na tabela 10.

Tabela 10 - O apagamento dos róticos na escrita: análise dos fatores rede de ensino e sexo/gênero

.

REDE DE ENSINO ALUNOS ALUNAS

APAGAMENTO -R PARTICULAR

10% 10%

MANUTENÇÃO –R 90% 90%

APAGAMENTO -R PÚBLICA

18% 13%

MANUTENÇÃO –R 82% 87%

Os indivíduos oriundos da rede privada de ensino não apresentaram

diferença nos uso dos róticos em suas escritas, sendo observados exatamente

os mesmo percentuais tanto para o apagamento (10%), quanto para a

manutenção do segmento consonântico (90%). Este comportamento não foi

observado na rede pública de ensino, uma vez que, entre os dados analisados,

foi evidenciada uma diferença, ainda que diminuta, nos usos: a escrita das

alunas é mais próxima da escrita padrão (com 87% de manutenção do –R) do

que a dos alunos (com 82% de manutenção do –R) no que tange ao segmento

consonântico foco desta pesquisa. Tal diferença de comportamento suscita o

93

aprofundamento da análise, uma vez que o grupo de fatores rede de ensino

quando analisado conjuntamente com o grupo sexo/gênero configura-se como

um ponto de identificação e diferenciação desses indivíduos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi alicerçada na metodologia da Sociolinguística

Laboviana com o intuito de analisar o comportamento dos róticos na posição de

coda silábica em final de palavras, nas produções escritas de estudantes do

ensino básico das redes pública e privada na cidade de Salvador.

O estudo aqui exposto mostrou que a variante não padrão, ou seja, o

apagamento do segmento consonântico, contrariamente aos dados em corpora

de língua falada, é pouco frequente na escrita dos alunos observados.

Quanto aos grupos de fatores propostos para análise dos contextos

favorecedores do apagamento dos róticos na escrita, foram selecionados pelo

programa Goldvarb X:

a) Contexto precedente

b) Classe morfológica

c) Rede de ensino

d) Escolaridade

e) Extensão do vocábulo

f) Contexto subsequente

g) Ponto de articulação do segmento subsequente

As variáveis contexto precedente, classe morfológica, extensão

vocabular e contexto subsequente evidenciam que, apesar de pouco

observadas na escrita, as ocorrências de apagamento na escrita seguem,

assim como esplanado no quadro 2 - Resumo da cronologia dos estudos sobre

os róticos, os mesmos contextos linguísticos que as ocorrências observadas

em corpora de fala. Desta forma, ainda que diminuta, é possível perceber que

há influência da fala na escrita discente, bem como pontuado no início deste

trabalho.

94

Mollica (2003, p.51-2) chama atenção para a necessidade de os

professores estarem atentos ao fenômeno de apagamento dos róticos no

contexto de coda silábica em final de palavra, já que “[...] os problemas não são

sanados até 4ª série”. Os resutados da presente pesquisa ratificam tal posição,

pois à medida em que a análise, independente da rede de ensino de origem do

aluno, avançou nas séries do ensino básico, as ocorrências de apagamento

diminuíram.

Ao confrontar os trabalhos anteriores, cujo objeto de estudo é os róticos

em coda silábica, verificou-se a junção das variáveis ponto, modo de

articulação e sonoridade do segmento subsequente como estratégia para

delineamento de contexto favorecedor do cancelamento do –R. Tal artifício não

logrou êxito, no corpus utilizado nesta pesquisa, como pode ser observado no

confronto das rodadas (vide Apêndice C). Não obstante, a seleção, pelo

programa Goldvarb X, da variável ponto de articulação do segmento

subsequente suscita a ideia de que se faz necessária a ampliação do corpus;

assim, com o aumento no número de ocorrência, talvez seja possível recorrer à

amálgama dos grupos de fatores para uma possível visualização dos contextos

favorecedores do fenômeno na fala no corpus de escrita.

Dentre as variáveis extralinguísticas que fizeram parte da análise aqui

exposta, foram selecionadas: rede de ensino e escolaridade. A primeira

variável confirma a diferença no comportamento entre estudantes consoante e

escola que estudam, particular ou pública. Esta constatação reforça a

necessidade, não apenas de pesquisas que retratem a realidade vivenciada em

sala de aula, mas a efetiva aplicação de políticas públicas que minimizem esta

diferença que, inicialmente, apresenta-se em ambiente escolar, e com o

avançar do tempo, aparta os indivíduos no mundo do trabalho. A segunda

variável ratifica uma das hipóteses de maior relevância para a presente

pesquisa, reforçando afirmações como a de Votre (2007. p. 54) em que o

ensino mostra-se produtivo ao passo que o aluno apropria-se das formas do

padrão da língua como capital simbólico.

Continuando com o detalhamento da análise, tem-se entre as variáveis

não selecionadas pelo programa Goldvarb X, o destaque para o grupo de

fatores gênero textuai que, contrariamente à hipótese inicial, não se revelou

favorecedor do apagamento do -R. Diante disto, é possível refletir sobre a

95

estratégia de coleta de dados, fato que suscita uma possível junção da

estratégia utilizada com outras, a exemplo das estratégias utilizadas por Mollica

(2003) e Costa (2010), teste de lacunas e ditado de frases. Desta forma,

poderá ser mais viável a análise dos graus de formalidade frente ao uso dos

róticos na escrita discente. Outra possível estratégia que surge diante deste

entrave é a formação de corpora de fala e escrita do mesmo grupo discente

para uma análise mais aprofundada da relação fala x escrita.

Refletindo o pensamento do ensaísta irlandês, George Bernard Shawm

– “A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez.” –,

este trabalho encontra sua pausa. Nesta dissertação, não se encontram

afirmações inquestionáveis, tampouco verdades absolutas, mas sim, o início de

um caminhar. O que se objetivou, ao longo destas laudas, foi o começo de um

traçado sobre o que, e sobretudo, por que a escrita foge, em algumas

situações, aos padrões ortográficos e aproxima-se dos usos da fala. Também

se pretendeu fornecer material de debate para profissionais do ensino, uma vez

que, da discussão aqui feita, surge a inquietação e desta as mudanças. E a

língua, como reflexo do próprio ser humano, mostra, ao longo de tantos

séculos, que mudar é indispensável.

96

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101

APÊNDICE A - PROPOSTAS DE PRODUÇÃO TEXTUAL APRESENTADAS AOS ALUNOS

PROPOSTA – CARTA (TEXTO MENOS FORMAL)

Escreva a um(a) amigo(a) um texto narrando como foram suas últimas férias:

PROPOSTA – DISSERTAÇÃO (TEXTO MAIS FORMAL) A partir da análise da ilustração acima, escreva um texto mostrando sua opinião sobre este problema que nossa sociedade vive atualmente.

102

APÊNDICE B – CHAVE DE CODIFICAÇÃO

VARIÁVEL DEPENDENTE

o Presença do –R = S

o Ausência do –R = N

VARIÁVEIS INDEPENDENTES – EXTRALINGUÍSTICAS

1 Escolaridade

5º ANO EF = 5

9º ANO EF = 9

3º ANO EM = 3

2 Gênero/sexo

FEMININO = F

MASCULINO = M

3 Rede de ensino

PARTICULAR = a

PÚBLICA = u

VARIÁVEIS INDEPENDENTES – LINGUÍSTICAS

4 Gênero textual

CARTA = C

DISSERTAÇÃO = D

5 Extensão do vocábulo

MONOSSÍLABO = 1

DISSÍLABO = 2

TRISSÍLABO = 3

POLISSÍLABO = 4

103

6 Contexto precedente

VOGAL BAIXA = a

VOGAL MÉDIA ANTERIOR = e

VOGAL ALTA ANTERIOR = i

VOGAL MÉDIA POSTERIOR = o

VOGAL ALTA POSTERIOR = u

7 Contexto subsequente

VOGAL = V

CONSOANTE = C

PAUSA = P

8 Modo de articulação do segmento subsequente

FRICATIVAS = 5

OCLUSIVAS = 6

NASAIS = 7

LATERAIS = 8

AFRICADAS = 9

9 Ponto de articulação do segmento subsequente

BILABIAIS = B

LABIODENTAIS = L

ALVEOLARES = A

PALATAIS = P

10 Sonoridade do segmento subsequente

VOZEADO = &

DESVOZEADO = $

104

11 Classe morfológica do vocábulo

VERBOS = V

NÃO VERBOS = W

105

APÊNDICE C - COMPARAÇÃO ENTRE RODADAS REALIZADAS

RODADA SELECIONADA PARA ANÁLISE

Groups selected while stepping up: 6 11 3 1 5 7 9 Best stepping up run: #56 Run # 56, 354 cells: Convergence at Iteration 7 Input 0.069 Group # 1 -- 5: 0.568, 9: 0.516, 3: 0.383 Group # 3 -- a: 0.424, u: 0.597 Group # 5 -- 3: 0.578, 2: 0.558, 4: 0.575, 1: 0.272 Group # 6 -- i: 0.697, a: 0.629, o: 0.246, e: 0.281 Group # 7 -- C: 0.484, V: 0.470, P: 0.630 Group # 9 -- B: 0.528, A: 0.530, P: 0.371, L: 0.744 Group #11 -- V: 0.576, W: 0.173 Log likelihood = -522.860 Significance = 0.049

RODADA AMALGAMADA Groups selected while stepping up: 6 11 3 5 1 7 Best stepping up run: #49 Run # 49, 244 cells: Convergence at Iteration 7 Input 0.071 Group # 1 -- 5: 0.567, 9: 0.517, 3: 0.393 Group # 3 -- a: 0.422, u: 0.601 Group # 5 -- 3: 0.575, 2: 0.580, 4: 0.624, 1: 0.224 Group # 6 -- i: 0.736, a: 0.619, o: 0.224, e: 0.300 Group # 7 -- C: 0.479, V: 0.473, P: 0.641 Group #11 -- V: 0.569, W: 0.198 Log likelihood = -365.007 Significance = 0.044

Tem-se por rodada amalgada a resultante do processo de junção dos grupos

de fatores 8, 9 e 10, respectivamente conforme chave de codificação: modo de

articulação, ponto de articulação e sonoridade do segmento subsequente em

um único grupo, consoante subsequente.

106

ANEXO A – INFORMAÇÕES SOBRE PROJETOS ELENCADOS DO

CAPÍTULO 2

O Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta no Brasil (Projeto

NURC) teve início em 1969 e vem se desenvolvendo em cinco cidades

brasileiras — Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

Objetiva descrever os padrões reais de uso na comunicação oral adotados pelo

estrato social constituído de falantes com escolaridade de nível superior. [...] A

introdução do Projeto no Brasil foi por iniciativa de Nelson Rossi, Professor

Catedrático de Língua Portuguesa da Universidade Federal da Bahia, em

proposta apresentada ao IV Simpósio do PILEI, no México/1968, tendo sido ele

o seu primeiro coordenador nacional e coordenador do Projeto NURC/SSA até

a sua aposentadoria. O Projeto NURC tem caráter conjunto e coordenado e se

pauta pelos mesmos princípios metodológicos nas cinco cidades. Os

informantes são dos dois gêneros, distribuídos por três faixas etárias — I-25 a

35, II-36 a 55 e III-de 56 em diante —, e nascidos na cidade objeto de estudo,

na qual devem ter permanecido pelo menos três quartas partes de sua vida. O

corpus constituído em cada cidade compreende três diferentes categorias de

texto: elocuções formais (EF), diálogos entre informante e documentador (DID)

e diálogos entre dois informantes (D2).

(FONTE: disponível em:<http://twiki.ufba.br/twiki/bin/view/Alib/AlibNurc>.

Acesso em: 15 nov. 2012)

O ALIPA é um projeto de pesquisa ligado ao laboratório de linguagem da

Universidade Federal do Pará. Esse projeto tem por objetivo a construção do

Atlas Geo-Sociolinguístico do Pará, e, nesse sentido, vem se desenvolvendo

estudos a fim de identificar, analisar e mapear a variação liguística do

português falado no Estado. Integrando a dimensão social, que permitirá

melhor compreender os mecanismos internos envolvidos na variação (fonética,

107

morofssintática e lexical). Dividiu-se o Estado em 57 pontos de inquérito que

foram agrupados em 06 (seis) mesorregiões [...]. Esses pontos de inquérito

foram divididos em duas áreas de pesquisa: urbana e rural. A pesquisa urbana,

feita em 10 cidades (Abaetetuba, Altamira, Belém, Bragança, Breves, Cametá,

Conceição do Araguaia. Itaituba, Marabá e Santarém), envolve a coleta de 42

narrativas (gravdas em fita cassete) referentes a uma amostra de 42

informantes por cidade. A pesquisa rural, de cunho dialetológico, abrange

cinquenta pontos geográficos. Em cada ponto são entrevistados 04 informantes

estratificados da seguinte forma: sexo (2 homens e 2 mulheres); idade (2

informantes entre 18-30 anos e 2 entre 40-70 anos); escolaridade (todos

escolarizados até a 4ª série). Nessas entrevistas são aplicados, seguindo a

tradição dialetológica, dois questionários: um geral para todas as localidades e

outro específico para aspectos ligados à região investigada. Até agora já foram

coletados os dados da área urbana, e os da área rural ainda estão em fase de

conclusão de coleta.

(Disponível em: < http://www.ufpa.br/alipa/>. Acesso em: 15 nov. 2012)

O Projeto VARSUL (Variação Linguística na Região Sul do Brasil) tem por

objetivo geral a descrição do português falado e escrito de áreas

socioculturalmente representativas do Sul do Brasil. Conta com a parceria de

quatro universidades brasileiras: Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade Federal

de Santa Catarina e Universidade Federal do Paraná. O projeto constitui-se de:

Banco de Dados VARSUL (formado por 288 entrevistas de zonas urbanas, o

Banco VARSUL está distribuído igualmente entre quatro cidades de cada um

dos três estados da região Sul do Brasil: Rio Grande do Sul (Porto Alegre,

Flores da Cunha, Panambi e São Borja), Santa Catarina (Florianópolis,

Blumenau, Lages e Chapecó) e Paraná (Curitiba, Pato Branco, Londrina e

Irati). Trata-se de um banco de dados linguísticos e socioculturais para estudos

de fonologia, morfologia, sintaxe, léxico e discurso.), Amostra Digital VARSUL

(Formada por trechos de áudio (entre 5 e 15 minutos de fala), a Amostra Digital

108

VARSUL constitui-se de 40 entrevistas: 24 das capitais do Sul do Brasil (8 de

cada capital), 8 do Banco Monguilhott e 8 do Banco Brescancini e Valle - os

dois últimos, representativos de zonas não urbanas de Florianópolis.) e Banco

de Dados Diacrônico (Formado por textos de fontes diversas, o banco de

dados diacrônico conta com documentos de cartórios, de arquivos públicos e

privados, bem como com textos de jornais do Sul do Brasil, cartas pessoais e

peças de teatro, representativos da escrita catarinense, parananense e gaúcha

dos séculos XIX e XX, disponibilizados nos formatos .pdf e .html.).

(Disponível em:< http://www.varsul.org.br/>. Acessado em: 15 nov. 2012)

O Projeto Atlas Linguístico do Brasil - ALiB é um projeto um caráter

nacional, tendo dentre outros objetivos descrever a realidade linguística do

Brasil, oferecendo aos estudiosos de língua portuguesa e pesquisadores de

áreas afins base para uma melhor interpretação do caráter multidialetal do

nosso país. O trabalho concerne na realização e estudo dos inquéritos feitos

em localidades previamente estabelecidas. Esses inquéritos são realizados

com informantes nativos da localidade escolhida, somando um total de 08 nas

capitais de Estado e 04 nas demais cidades, distribuídos em duas faixas

etárias, a primeira compreendendo dos 18 aos 30 anos e a segunda dos 50

aos 65 anos, contemplando ambos os sexos. Quanto à escolaridade, ficou

estabelecido que os informantes tenham cursado, no máximo, até a 4ª série do

antigo primário, e apenas nas capitais há a seleção de 04 informantes de nível

universitário. A realização do inquérito é dividida em questionário fonético-

fonológico, questionário morfossintático, questionário semântico-lexical,

questões de pragmática, metalinguísticas e discurso semidirigido.

(Disponível em:< http://twiki.ufba.br/twiki/bin/view/Alib/WebHome>. Acessado

em: 15 nov. 2012

109

O Projeto VALPB – Variação Linguística no Estado da Paraíba surgiu em

1993. O Projeto pretendeu desenvolver, a partir do corpus coletado, o perfil

linguístico do falante da Paraíba, em seus aspectos fonológicos e gramaticais.

O corpus, vem, porém, transcrito em escrita convencional, o que exige que o

pesquisador ouça o material gravado. Os informantes do Projeto VALPB estão

organizados consoante grupos sociais: sexo (masculino, feminino); faixa etária

(15 a 25 anos, 26 a 49 anos, mais de 50 anos) e anos de escolarização

(nenhum, 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 11 anos e mais de 11 anos).

(Disponível em:<

http://www.cchla.ufpb.br/proling/index.php/component/content/article/13/177-

laboratorios-oficinas-e-demais-instalacoes->. Acessado em: 15 nov. 2012)