Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP
MILENE SANTOS ESTRELLA
O ARTESANATO EM OSSO NO MUNICÍPIO DE JARDIM, MS
CAMPO GRANDE - MS
2014
MILENE SANTOS ESTRELLA
ARTESANATO EM OSSO NO MUNICÍPIO DE JARDIM, MS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera - Uniderp, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional.
Orientação: Prof. Dr.Gilberto Luiz Alves
CAMPO GRANDE – MS
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera – Uniderp
Estrella, Milene Santos.
O artesanato em osso no município de Jardim, MS. / Milene Santos Estrella. -- Campo Grande, 2014.
68f. Dissertação (mestrado) – Universidade Anhanguera - Uniderp,
2014. “Orientação: Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves.”
1. Artesanato – Mato Grosso do Sul 2. Osso I. Título.
CDD 21.ed. 745.45098171 599.74446
E85a
AGRADECIMENTOS
Agradeço a DEUS por me dar saúde para concretizar mais um objetivo
na minha vida.
Aos professores do mestrado, pela dedicação em me direcionar nesta
caminhada, em especial aos professores Dr. Gilberto Luiz Alves, Dr. Sandino
Hoff e Dra. Rosemary Matias, pelo auxílio e incentivo recebidos durante a
elaboração da minha dissertação.
À Coordenação do Programa de mestrado, nas pessoas do Prof. Dr.
Silvio Fávero e à Alinne Freitas Signorelli, secretária do curso.
Aos meus pais, que ao longo da minha vida sempre estiveram presentes
e jamais mediram esforços para me apoiar na minha trajetória acadêmica.
Á minha irmã Gisele pelo suporte, incentivo e pelo apoio nesta caminhada.
Aos colegas de turma, pelo companheirismo, alegria, solidariedade
dispensados nessa caminhada; essa turma foi especial na minha vida.
Ao Professor Dr. Gilberto Luiz Alves, meu respeito, admiração e
agradecimento pela acolhida como orientanda e por todo o incentivo à
realização deste trabalho.
À banca examinadora do trabalho, professores Dr. Gilberto Luiz Alves,
Dra. Rosemary Matias e Dra. Carla B. Zandavalli, agradeço pelo tempo e
paciência dedicados à leitura deste trabalho e por permitirem-se colaborar, pois
a pesquisa individual nos coloca diante de impasses que só o debate ajuda a
esclarecer.
SUMÁRIO
1 Introdução Geral ................................ ....................................................... 06
2 Revisão de Literatura ........................... .................................................... 10
3 Referências Bibliográficas ..................... ................................................ 16
Artigo I ......................................... ................................................................ 19
Artesanato em osso no município de Jardim, MS
Resumo ........................................... ............................................................ 20
Abstract .......................................... .............................................................. 21
Introdução ........................................ ............................................................ 18
Materiais e Métodos .............................. ..................................................... 22
Resultados e Discussão ........................... ................................................. 26
Conclusão ........................................ ........................................................... 42
Referências Bibliográficas ....................... ................................................. 43
Artigo II ........................................ ................................................................ 46
Organização técnica do artesanato em osso no municí pio de Jardim, MS
Resumo ........................................... ............................................................ 46
Abstract ......................................... .............................................................. 47
Introdução ....................................... ............................................................ 47
Materiais e Métodos .............................. ..................................................... 52
Resultados e Discussão ........................... ................................................. 53
Conclusão ........................................ ........................................................... 66
Referências Bibliográficas ....................... ................................................. 67
Conclusão Geral ................................... ....................................................... 69
6
1 Introdução Geral
Vivemos em um mundo que tem sido palco de grandes transformações
advindas de acontecimentos históricos distantes, como a Revolução Industrial
na Europa, por exemplo.
Hoje, no Século XXI, presenciamos outro momento no qual a
globalização emerge e se fortalece, agora, em nova forma cuja mola
impulsionadora é a tecnologia da informação. Começa-se a enxergar a
economia mundial como um grande mercado.
O mundo passa por mudanças radicais, as condições macroambientais
são novamente afetadas. Em resposta a essas mudanças, surgem as
cooperativas, associações, organizações não governamentais, grupos
informais do terceiro setor para os quais se busca a integração de alguns
segmentos, como o artesanato. No Brasil, cooperados e associados se
distribuem em 1.376 cooperativas e associações, conforme pesquisa do
Sebrae nas várias regiões brasileiras.
O processo de desenvolvimento local é construído a partir de um
segmento mobilizado e grupos organizados que gerem resultados comerciais
intensificando o crescimento de renda e emprego.
Tendo em vista esse contexto, inserimos o objeto desta pesquisa – o
processo de implantação e expansão do arranjo produtivo local de artesanato
em osso.
O artesanato em osso no município de Jardim-MS tem representado
uma atividade que utiliza matéria prima abundante da região, na produção de
peças artesanais exclusivas, transformando-as em produtos de consumo e
favorecendo o desenvolvimento local.
Com vistas a compreender o surgimento dessa atividade, delimitamos o
local da nossa pesquisa ao município de Jardim, que está localizado no
sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul. O município de Jardim constitui
um grande potencial no segmento do Turismo Histórico-Cultural, visto que
agrega vários monumentos relacionados à Retirada da Laguna, um dos
episódios da Guerra do Paraguai. É, também, pioneiro no artesanato em osso,
madeira e couro, conhecido e comercializado nacional e internacionalmente
(PREFEITURA MUNICIPAL DE JARDIM, 2008).
7
O artesanato de osso, no município de Jardim, define-se como um
instrumento efetivo para prática do desenvolvimento local, sendo uma forma
alternativa de incentivo às economias de base local para assegurar a
preservação da identidade cultural do lugar, aliada à reutilização da matéria
prima abundante na região.
Sob o ponto de vista histórico, o estado de Mato Grosso do Sul possui
21,49 milhões de cabeças de gado (IBGE, 2012) e, nesse sentido, é
considerado o segundo maior rebanho de corte do país; praticamente, todo
material descartado pelos frigoríficos é aproveitado. A carne, além de
abastecer o mercado nacional também é exportada para a Europa. O couro vai
para a indústria de confecção, o sebo é vendido para as fábricas de sabão e
sabonete, a canela do boi é um produto fino para as indústrias de móveis, o
pelo da orelha é disputado pelos fabricantes de pincéis e o osso do animal tem
sido destinado e transformado em artesanato.
Uma compreensão mais apurada do que seja o conhecimento produzido
sobre o artesanato em osso no município de Jardim aponta características
peculiares, como o Projeto Mãos à obra, que incluiu a aprovação de uma verba
do Ministério de Desenvolvimento, destinada para a organização do processo
de produção das peças produzidas pela comunidade.
Para melhor apresentar nosso trabalho, dividimos o estudo em dois
momentos, organizados, aqui, na forma de dois artigos: no primeiro,
discorremos sobre o tema com base nas abordagens e contribuições dos
diversos autores que possibilitaram uma análise histórica do artesanato em
osso no desenvolvimento do município de Jardim em Mato Grosso do Sul.
Seguindo essa linha de raciocínio, elaboramos o segundo artigo com os
registros sobre a produção técnica do trabalho nas oficinas de artesanato em
osso no referido município. Mostramos, ainda, as etapas observadas na prática
individual ou coletiva de artesãos dentro da cadeia produtiva do artesanato,
assim organizada: capacitação; preparo da matéria- prima, desenvolvimento de
produto. Por fim, descrevemos como é feita a sistematização dessas etapas
no processo de divisão de trabalho realizado na oficina de artesanato do
Projeto Mãos à Obra.
Partindo das proposições até aqui elencadas, buscamos
encaminhamentos metodológicos por meio de procedimentos que incluíram,
8
inicialmente, uma revisão de literatura, a fim de se buscarem as bases teóricas
para o tema, com autores como ROCHA (2000), SILVA FILHO (1987),
JACOBY (2001), CHITI (2003), ALVES (2014), SILVA (2013), RIBEIRO (1983),
dentre outros. A pesquisa prosseguiu com o levantamento de dados em
campo, observação sistemática, registros fotográficos, entrevistas e visitas a
diferentes postos de troca, lojas, cooperativas e feiras. A pesquisa demandou
leituras e atividades dialógicas que, como suporte para o significado de todo
um corpo de dados científicos, foram usadas para compor e compreender o
contributo do artesanato na transformação da matéria prima local em produtos
de consumo.
As entrevistas foram realizadas com os artesãos e o dirigente da oficina
Mãos à Obra; consultas em documentos oficiais, legislação, recomendações,
informações de jornais, revistas, livros de memórias, mapas e fotografias
fizeram parte, também, do processo de pesquisa. Os dados levantados junto
aos artesãos, nos documentos, ainda que de forma inicial, permitiram obter
informações suficientes para enunciar os objetivos da investigação.
Consideramos, como questão central, a necessidade de analisar
historicamente o artesanato no desenvolvimento do município de Jardim/MS e,
de forma mais específica, estabelecemos como propósito: a) descrever o
Programa de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável (PDLIS) até a
implantação efetiva do Projeto Mãos à Obra ; b) analisar a organização técnica
do trabalho na oficina de artesanato em osso, no município de Jardim-MS .
Para atingir tais objetivos, foram realizadas visitas técnicas na oficina Projeto
Mãos à Obra, procurando registrar os fatos e aspectos vinculados, direta ou
indiretamente, ao artesanato local. Concomitante a essas ações, realizamos
um levantamento fotográfico, com formulário e aplicação de entrevista
semiestruturadas.
Na intenção de contribuir com esses encaminhamentos, concluímos o
estudo sugerindo que o apoio ao artesanato se mostra como boa alternativa
para se tentar alcançar o desenvolvimento local, uma vez que o setor
apresenta princípios básicos como a geração de emprego e de renda para
populações do município de Jardim/MS com baixa qualificação profissional.
2 Revisão de Literatura
9
O objetivo deste trabalho é contemplar as discussões sobre a
caracterização da concepção histórica do artesanato em osso no município de
Jardim, em Mato Grosso do Sul e analisar a organização técnica dessa
atividade.
Na busca por compreender tais concepções, iniciamos investigando, na
literatura, sobre a palavra artesanato, que vem de Artesania e, em latim, entre
outras coisas, significava capacidade de fazer alguma coisa.
O mesmo termo é conceituado por ROCHA (2000, p.21) como a forma
de ocupação ou trabalho, geradora de bens materiais produzidos por meios
técnicos, geralmente tradicionais com a utilização de instrumentos
rudimentares.
Artesanato também é definido por SILVA FILHO (1987, p.34) como fruto
gerado da cultura popular, da feitura de objetos relacionados à temática
folclórica dos países com emprego de técnicas primitivas de fabricação.
Afirma JACOBY (2001, p.19) que a cultura dá fundamento à atividade
artesanal, salientando que não se trata de entendê-la em seu sentido
antropológico, mas como algo que interpreta a cultura no resultado do
desenvolvimento de atividades da sociedade humana, acumuladas e
selecionadas ao longo do tempo.
Nessa mesma direção, CHITI (2003, p.23) aponta que a cultura aplicada
ao artesanato está referenciada na arte, principalmente de natureza popular,
criada por pessoas de baixo poder aquisitivo, pertencentes às camadas menos
favorecidas. A arte popular artesanal, aqui defendida, não é aquela direcionada
para o entendimento das massas, mas a arte criada por estas, como
necessidade estética, funcional ou de sobrevivência.
Em se tratando da Arte, recorremos a SILVA (2013, p.29), que, em
contraponto, trata da realidade histórico-social e cultural como forma de
expressão e manifestação humana diante da natureza em sua totalidade,
transmitindo, assim, às novas gerações a forma de ler, compreender,
interpretar e registrar o mundo, em diferentes períodos da humanidade.
As reflexões originadas a partir dessa questão reportam-nos a um dos
conceitos mais usados de artesanato, proposto pelo Conselho Mundial de
Artesanato (SEBRAE/MG, 1991, p. 3): “[...] artesanato é toda a atividade
produtiva que resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou
10
com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade,
destreza, qualidade e criatividade”.
Nesse embate, verifica-se que o conceito de artesanato, segundo
RIBEIRO (1983, p.31), não é suficientemente satisfatório para a complexidade
da investigação. Assim se expressa o autor:
As diferentes realidades que se escondem muitas vezes sob a capa do artesanato são bastante diversas e particulares. Desta forma, o artesanato é visto como uma forma de produção em que os trabalhadores desenvolvem uma forma de relação individualizada com o objeto de seu trabalho. Ou seja, o papel destes trabalhadores no processo produtivo coloca-os em uma posição importante face à construção do produto, que depende de sua capacidade e de seu conhecimento para ser criado. [...]. Mais ainda, o trabalhador das formas de produção artesanal necessita de um aprendizado que não é obtido na escola, mas na relação com o próprio trabalho.
Para CARDOSO (2003, p.18), o artesanato também está vinculado ao
mundo do trabalho, assumindo diferentes formas desde a Pré-história até os
dias atuais. Esse mesmo autor complementa:
[...] o artesanato com um mínimo de raciocínio é preciso mergulhar na história da humanidade e dela fazer uma nova leitura, ou seja, de como se determinou cada cultura; dos medos, que trouxeram consigo mudanças; das aprendizagens com cada medo passado; das formas de divisão do trabalho; e, principalmente, das formas para o desenho e a construção do seu tempo.
Para ALVES (2013, p.7), o artesão “[...] por realizar atividade que exigia
tanto os recursos de seu cérebro quanto a habilidade de suas mãos, se diz, [...]
um trabalhador qualificado”. Logo, o artesanato se contrapõe à manufatura que
introduz a divisão do trabalho, desapropriando o trabalhador das habilidades do
processo de trabalho como um todo. O trabalhador deixa de ser qualificado
para se tornar um especialista. O autor observa, ainda, que muitas atividades
“artesanais”, na atualidade, incorporam a organização técnica da manufatura e
não podem se configurar mais como artesanato. Essa organização técnica
manufatureira incorporada entre os “artesãos” está relacionada ao que ele
11
denomina como ideologia do empreendedorismo disseminada por muitas
instituições sociais.
Instituições sociais como o Sebrae desempenham um papel importante na valorização do artesanato, em nossos dias, e na veiculação da ideologia do empreendedorismo entre os artesãos. Não se pretende aqui desqualificar a criação de alternativas econômicas para a empobrecida população que se dedica ao artesanato. Mas,o que essa ideologia não revela é a profunda transformação que vem se operando nas atividades ditas artesanais, inclusive na organização técnica que as lastreia, tornando-as, qualitativamente outra coisa que não o artesanato. Estimulando o espírito empreendedor do artesão, incentivando a modernização do trabalho, a produção com certa escala, a ampliação do mercado que se projeta nacional e internacionalmente, viabilizando, inclusive, a agregação de mais trabalhadores às oficinas, estas instituições ajudam a criar as condições para a instauração da divisão do trabalho. Incorporada por muitas oficinas e ateliês, a divisão do trabalho impõe uma organização técnica de caráter manufatureiro nesses espaços de trabalho. Portanto, as atividades aí realizadas já não são artesanais, mas manufatureiras. (ALVES, 2013, p. 77),
Com propriedade sobre o tema, ALVES (2013, p. 2) também classifica o
artesanato em três modalidades: o artesanato ancestral, o artesanato
espontâneo e o artesanato induzido.
[...] o artesanato ancestral envolve tanto o artesanato indígena quanto o produzido por grupos sociais precariamente articulados ao funcionamento da sociedade capitalista. É um artesanato de caráter coletivo [...]. O artesanato espontâneo é produzido individualmente por pessoas simples, que, no passado, exerceram atividades econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais [...]. O artesanato induzido vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas iniciativas filantrópicas vêem no desenvolvimento do artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e jovens que vivem situação de risco nas ruas. Alguns deles chegam a consagrar-se como artesãos. Mas essa não é a tendência dominante. (ALVES, 2012, p.2).
12
Nos desdobramentos teóricos, LIMA (2006, p. 15) corrobora indicando
que o limiar no qual uma produção abandona seu processo artesanal e passa a
seguir um processo industrial é sutil:
Tomada em sua acepção original, a palavra artesanato significa um fazer ou o objeto que tem por origem o fazer ser eminentemente manual. Isto é, são as mãos que executam o trabalho. São elas o principal, senão o único, instrumento que o homem utiliza na confecção do objeto. O uso de ferramentas, inclusive máquinas, quando e se ocorre, se dá de forma apenas auxiliar, como um apêndice ou extensão das mãos, sem ameaçar sua predominância. (LIMA, 2007, p.15).
Dessa forma, no processo industrial, a participação do homem na etapa
de produção não fornece as características principais do produto final; ao
contrário do artesanato, é a máquina, criada para reproduzir o protótipo ou
partes dele, o fator predominante da produção.
Na definição do Programa de Apoio ao Artesão - PAB (2008, p.3),
“Artesão é o trabalhador que de forma individual exerce um ofício manual”, não
contempla a solução que os artesãos têm encontrado para baratear sua
produção ao realizarem seus trabalhos em equipe e, na medida do possível,
produzindo em série. Dentro e fora de cooperativas, os artesãos trabalham em
equipe e cada um deles é responsável por uma ou mais etapas da produção
artesanal.
A preocupação em fortalecer e preservar o valor cultural na produção
artesanal é evidenciada quando o PAB (2008, p. 4), antes de afirmar o que não
é artesanato, define:
[...] artesanato compreende toda a produção resultante da transformação de matérias-primas, com predominância manual, por indivíduo que detenha o domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor simbólico e identidade cultural), podendo no processo de sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas, ferramentas, artefatos e utensílios. As matérias-primas utilizadas na produção podem ser naturais, semiprocessadas, processadas industrialmente ou constituídas de materiais recicláveis.” (BRASIL, 2008).
13
Para artesanato são oferecidas várias definições. Percebe-se, por
algumas apresentadas anteriormente, que elas destacam visões diferentes,
tendo em vista os diferentes aspectos da atividade artesanal. De acordo com o
HOUAISS (2006, p. 34), artesanato é a arte e a técnica do trabalho manual não
industrializado, realizado por artesão, e que escapa à produção em série; tem
finalidade, a um tempo, utilitária e artística. O artesanato é uma atividade
produtiva singular, tem um significado especial que lhe confere uma
característica peculiar e própria.
Para ÁVILA (2000, p. 9), o artesanato está diretamente ligado à questão
do desemprego. O estímulo à produção artesanal exige baixos investimentos e
resgata os valores humanos.
O artesanato constitui uma das respostas colocadas para o problema do
desemprego, caracteriza a revitalização de atividades econômicas tradicionais,
constitui uma estratégia de ocupação de mão-de-obra, dinamiza os mercados
locais, preserva os valores culturais, amplia os conhecimentos acerca das
características e valores locais, regionais e nacionais.
Conforme ÁVILA (2000, p.10), ainda, isso implica no desabrochamento
das capacidades, competências e habilidades de uma comunidade, no sentido
de ela mesma, com colaboração de agentes externos e internos, tornar-se apta
a agenciar gerenciar os seus potenciais, visando solucionar problemas,
necessidades e aspirações.
O desenvolvimento local nos países “desenvolvidos” tem como
expectativa a geração de emprego e renda e o aproveitamento das vantagens
comparativas, baseadas nas especificidades do lugar, diferentemente dos
mundos subdesenvolvidos, devido ao estágio de desenvolvimento em que se
encontram.
De acordo com ÁVILA (2001, p.11),
[...] o agente de desenvolvimento local de fato age, [...] trabalhando e influenciando para que a comunidade mesma desabroche capacidades, competências e habilidades de desenvolvimento, sem a imediatista pretensão de querer levar o desenvolvimento para a comunidade ou de querer erigir iniciativas desenvolvimentistas na comunidade, que não fluam de seu
14
real estágio de cultura, condições e políticas de progresso coletivo.
No entanto, para SANTOS et al. (2004, p.151), o conceito de Arranjo
Produtivo Local (APL) só deve ser estabelecido com base em experiências
empíricas muito específicas. De maneira mais ampla, deve ser comum, a todos
os APLs, a cooperação como características fundamental, associada à
presença de pequenas ou médias empresas concentradas espacialmente em
alguns dos elos de uma cadeia produtiva, ou seja, os APLs representam
aglomerações de empresas de um determinado setor ou cadeia.
Baseando-nos no conceito de que Arranjo Produtivo Local (APL) são
aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco
em um conjunto específico de atividades econômicas, reafirmamos o objetivo
de nossa pesquisa, de caracterizar a evolução recente do APL de artesanato
de osso no Município de Jardim. Entender esses aspectos não é somente
importante para se definir a expressão Artesanato; implica, também, rever os
velhos paradigmas em todo o novo, como as duas faces da moeda.
Segundo SCHIMIDT e DOBES (2009).
O APL de Jardim tem na exclusividade do produto final seu maior diferencial competitivo. O artesanato em osso dificilmente é encontrado em outras localidades e por ser uma mercadoria pouco produzida e com grande receptividade no mercado, tem alto valor agregado.
Assim, levantados os conceitos e aspectos teóricos necessários na
organização dos estudos, faz-se necessário buscar as contribuições da história
para refletir sobre a atividade do artesanato em osso, como possibilidade de
diversificação da economia local, inclusão dos produtores artesanais no
mercado, geração de empregos, capacitação de profissionais e promoção das
vocações regionais.
15
3 Referências Bibliográficas
ALVES, G. L. Arte, artesanato e desenvolvimento regional: temas sul-
mato-grossenses . Campo Grande, MS: Editora UFMS, 2014.
ÁVILA, V. F. Pressupostos para formação educacional em desenvolvimento
local. Interações , Campo Grande, v.1, n.1, p.63-76, set 2000.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Secretaria de Comércio e serviços e Departamento de Micro, Pequenas e
Médias Empresas. Programa do Artesanato Brasileiro. Brasília, 2008.
Disponível em:
<http://www.desenvolvimento.gov.br/portalmdic/arquivos/dwnl_1255094473.pdf
>. Acesso em: 15 abr. 2013.
CARDOSO, C. F. O trabalho compulsório na antiguidade : ensaio
introdutório coletânea de fontes primárias . Rio de Janeiro: Edições Graal,
2003.
CHITI, J. F. Artesania, Folklore y Arte Popular . Buenos Aires: Ediciones
Condorhuasi, 2003.
CANTO, S. Artesanato em Jardim poderá ser visto na capital. Jornal Correio
do Estado . Campo Grande, 21 julho .2012.Caderno da Cultura.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa . 4. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
HOUAISS, A. Pequeno dicionário enciclopédico Koogan Larousse . Rio de
Janeiro: Editora Larousse do Brasil, 1979.
16
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatística da Produção Pecuária, junho de 2012 . Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso: 10 abr. 2014.
JARDIM [Município] Pontos Turisticos de Jardim . Cidades. 2013. Disponivel
em: <http://www.ferias.tur.br/informacoes/4189/jardim-ms.html>. Acesso em: 2
jan. 2013.
_____. Conheça Jardim . Cidades. Disponível em: <http:
www.jardim.ms.gov.br>. Acesso em: 23 dez. 2012.
JACOBY, R. O Fim da Utopia – política e cultura na era da apat ia. Rio de
Janeiro: Record, 2001.
LIMA, R. C. B. A História de uma Cidade. Jardim, MS: Gráfica Bodoquena,
outono de 2006. 15 p.
LIMA, R. C. B. Artesanato e arte popular: duas faces de uma mesma
moeda? CNFCP, 2007. Disponível em:
http://www.cnfcp.gov.br/pdf/Artesanato/Artesanato_e_Arte_Pop/CNFCP_Artesa
nato_Arte_Popular_Gomes_Lima.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2012.
MAIA, I. Cooperativa e Prática Democrática. São Paulo: Cortez, 1985.
ROCHA, J. M. T. Arte/Artesanato de Alagoas . Maceió: SEC, 2000.
RIBEIRO, B. A. O artesão tradicional e seu papel na sociedade
contemporânea. In: FUNARTE/Instituto Nacional do Folclore. Rio de Janeiro:
Abril, 1983.
SANTOS, G. A. G.; DINIZ, E. J.; BARBOSA, E. K. Aglomerações, Arranjos
Produtivos Locais e Vantagens Competitivas Locacionais. Revista do BNDES ,
Rio de janeiro, v. 11, n. 22, p. 151-179, dez. 2004.
17
SEBRAE. Artesanato no Sebrae . Minas Gerais, 1991. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/setor/artesanato/sobre-artesanato/artesanato-no-
sebrae>. Acesso em: 5 set. 2012.
SEBRAE. Incentivo do Sebrae ao artesanato brasileiro. Campo Grande, MS.
Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/setor/artesanato/sobre-
artesanato/artesanato-no-sebrae/integra_bia/ident_unico/649>. Acesso em: 5
set. 2012.
SILVA, A. L. G. Interdisciplinaridade na temática indígena: aspecto s
teóricos e práticos da educação arte e cultura. 2013, 169fls.Tese
(Doutorado em Educação). Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP.
SILVA FILHO, F. P. Perfil e problemática do Artesanato do Litoral
Piauiense . Teresina: Fundação Delta do Parnaíba/Banco do Nordeste,
1987.29
SCHIMIDT; V.; DOBES, C. M. F. A importância da atuação do SEBRAE na
criação e no desenvolvimento do “APL do Osso” do Município de Jardim-MS.
Revista Global Tourismo , Presidente Prudente, v. 5, n. 1, p. 30-40, maio
2009. (2009).
18
Artigo I
Artesanato em osso município de Jardim, MS
Milene Santos Estrella 1
1Mestranda no Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento
Regional da Universidade Anhanguera – Uniderp
Resumo
Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa que teve por objeto o
artesanato em osso no desenvolvimento do município de Jardim-MS.
Centramos o Programa de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável
(PDLIS) até a implantação efetiva do Projeto Mãos à Obra. A investigação
integra a linha de pesquisa Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional
Sustentável. O objetivo deste estudo é descrever, discutir e analisar
historicamente o artesanato em osso no município de Jardim-MS. Trata-se de
uma pesquisa bibliográfica e empírica por envolver coleta de dados por meio
de entrevistas com os artesãos e de observações in loco. Os pressupostos
teóricos tiveram por base leituras de autores como ALVES (2013), LIMA (2006)
e ÁVILA (2000), de documentos oficiais, legislação, recomendações,
informações de jornais, revista, livros de memórias, mapas e fotografias. Os
procedimentos metodológicos incluíram levantamento bibliográfico que exigiu
leituras e atividades de dialogicidade na pesquisa. Os indicativos apontam que
o artesanato caracteriza-se como uma revitalização de atividades econômicas
no Município de Jardim/MS, mas nessa direção salientam que as
possibilidades de melhoria dos programas e as possíveis transformações no
segmento, dependem do incentivo de políticas públicas eficientes.
Palavras-chave: Desenvolvimento , Artesanato em Jardim. Arranjo produtivo.
Abstract
This work has as purpose the craft and its impact on bone development in the
19
city of Garden - MS. We focus the discussion on the early implementation of the
Local Development Programme, Integrated and Sustainable ( PSLIS ) until the
effective implementation of the Project Hands at Work. The research integrates
online research Society, Environment and Sustainable Regional Development.
The aim of this study is to describe, discuss and analyze historically the process
to assess the improvement in the quality of life of artisans living in the city, as
well as local productive arrangements. This is a literature and empirical
research because it involves data collection through interviews with artisans
and in situ observations. The theoretical assumptions were based on readings
from authors such as ALVES (2013), LIMA (2006 ) and AVILA (2000), official
documents, legislation, recommendations, information from newspapers,
magazines, memoirs, maps and photographs. The methodological procedures
included literature, which required many readings and dialogical research
activities. The results indicate that the craft is characterized as a revival of
traditional economic activities and constitutes an alternative to the problem of
unemployment, especially in the Municipality of Jardin/MS, but this direction
emphasize that the possibilities for improvement of programs and the possible
transformations the segment depend on the encouragement of efficient and
assertive policies to ensure the construction of local development.
Keywords: Local Development. Crafts. Productive arrangement.
Introdução
Esta artigo apresenta resultados de uma pesquisa que teve por objeto o
artesanato em osso no Município de Jardim – MS. Considerou-se o
envolvimento dos artesãos desse município que utilizam matérias primas
abundantes, como a madeira e o osso, para produzir peças artesanais
exclusivas, transformando-as em produtos de consumo, favorecendo o
desenvolvimento local por meio da geração de trabalho e, consequentemente,
de renda.
O local da pesquisa delimitou-se ao município de Jardim, que está
localizado na região Centro-Oeste do Brasil, no Estado de Mato Grosso do Sul.
Jardim possui um grande potencial no segmento do Turismo Histórico-Cultural,
detém vários monumentos relacionados à Retirada da Laguna, um dos
20
episódios da Guerra do Paraguai. É, também, pioneiro no artesanato em osso,
madeira e couro, conhecido e comercializado nacionalmente e
internacionalmente (PREFEITURA MUNICIPAL DE JARDIM, 2008).
Justifica-se este estudo, em termos gerais, pela relevância que tem o
surgimento dessa atividade do artesanato no município, que transforma a
matéria prima local em produtos de consumo. Além disso, a atividade
possibilita a diversificação da economia local, a inclusão dos produtores
artesanais no mercado, a geração de empregos, a capacitação de profissionais
e a promoção de melhorias em infraestrutura básica e serviços que atendam
desde a comunidade local até os turistas.
Segundo MAIA (1985, p.11), o artesanato não deve ser somente
encarado como alternativa de fonte de renda, mas, também, como uma
atividade que oportuniza ao homem desenvolver a sua criatividade, além de
valorizar o seu trabalho.
O artesanato, hoje, é reconhecido como fonte geradora de trabalho e
renda, formador de mão de obra e conta com uma participação de 2% no PIB
brasileiro. (CORREIO DO ESTADO, 2012).
O estado de Mato Grosso do Sul possui 21,49 milhões de cabeças de
gado (IBGE, 2012), é o segundo maior rebanho de corte do país, cujo material
descartado pelos frigoríficos é quase que totalmente aproveitado. A carne
abastece o mercado nacional, é exportada para a Europa. O couro vai para a
indústria de confecção, o sebo é vendido para as fábricas de sabão e
sabonete, a canela do boi é um produto fino para as indústrias de móveis, o
pelo da orelha é disputado pelos fabricantes de pincéis e o osso do animal tem
sido destinado e transformado em artesanato.
Este estudo torna-se relevante, ainda, pelo fato de o conhecimento
sobre o artesanato em osso no município de Jardim tem características
próprias como o Projeto Mãos à obra, que incluiu a aprovação de uma verba do
Ministério de Desenvolvimento destinada para a organização do processo de
produção das peças produzidas pelo arranjo produtivo local.
Para a investigação na pesquisa foram realizadas entrevistas com os
artesãos e o dirigente da oficina Mãos à obra, consultas em documentos
oficiais, legislação, recomendações, informações de jornais, revistas, livros de
memórias, mapas e fotografias. Os dados levantados junto aos artesãos, nos
21
documentos, permitiram obter informações suficientes para enunciar as
conclusões da investigação.
O objetivo deste artigo é contemplar a análise histórica do artesanato em
osso e seus impactos no desenvolvimento do município de Jardim em Mato
Grosso do Sul, a partir do que foi possível avaliar a melhoria na qualidade de
vida dos artesãos residentes no município, bem como os arranjos produtivos
locais.
Material e Métodos
O trabalho tem como local de pesquisa o Projeto Mãos à Obra,
localizado na cidade de Jardim-MS, à Rua Rui Barbosa, nº 297, Vila Camisão.
Nesse espaço, encontra-se instalada, provisoriamente, a empresa AMO BIO
design, que produz artesanato em madeira com detalhes em osso e cujo
trabalho tem sido realizado em parceria com o Projeto Mãos à Obra. Essa
empresa disponibiliza sobras de madeira que são utilizadas, no projeto, para
fins de acabamento no artesanato de osso.
O município de Jardim está situado na mesorregião sudoeste do Estado
de Mato Grosso do Sul (Figura 2), entre as coordenadas (UTM) 505.000 e
632.000 m de longitude oeste e 7.648.000 e 7.574.000 m de latitude sul (Figura
1). Possui uma superfície de aproximadamente 2.188 km (EMPRAPA, 2008).
É um dos três municípios sul-mato-grossenses que integram o complexo
turístico da Serra da Bodoquena (Figura 3). Detém vários pontos de atração
turística e de beleza natural, devido à heterogeneidade de ecossistemas e ao
elevado nível de concentração de calcário no solo da região oeste do
município, que imprime, aos rios, acentuada transparência e limpidez,
formando, também, cachoeiras e grutas de estalactites e estalagmites, de
elevado valor científico. Além do mais, parte de suas terras é abrangida pelo
Parque Nacional da Serra da Bodoquena.
Com o intuito de favorecer uma visão sobre a localização do município
lócus da pesquisa, inserimos, aqui, dois mapas que indicam a situação regional
(Figura 1), e intermunicipal (Figura 2) da cidade de Jardim.
22
Figura 1. Situação regional. Localização do município de Jardim-MS no estado
de Mato Grosso do Sul. Fonte: Plano Diretor Municipal Participativo de Jardim
(2011).
Figura 2. Municípios vizinhos de Jardim-MS. Fonte: Plano Diretor Municipal
Participativo de Jardim (2011).
Os instrumentos empíricos utilizados para levantar as informações
necessárias à descrição da trajetória histórica do artesanato em osso
23
associada ao desenvolvimento local no município de Jardim/MS constituíram-
se de fontes documentais e de fontes historiográficas. Para essa primeira etapa
realizamos estudos de fontes primárias junto à Prefeitura, à Câmara Municipal,
ao SEBRAE, a órgãos estaduais e federais. Na sequência, realizou-se o
levantamento de fontes secundárias por meio de revisão bibliográfica: teses,
dissertações e artigos dos bancos de Universidades, livros, periódicos
especializados, revistas e sites acadêmicos da Internet.
Foi justamente a teia da pesquisa que nos propiciou conhecer o texto
SILVA (2013, p. 311), no livro Vozes das Artes Plásticas, sobre a artista
plástica Sonia Alves Correa. A autora relata que Sônia encontrou, nos ossos
bovinos dos animais da sua fazenda, material para se tornar uma importante
escultora, obtendo o registro dos direitos autorais do trabalho em osso pela
Escola de Belas Artes - Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 16 de
junho de 1997. Em seus escritos a autora faz referências ao início da história
da produção do artesanato em osso no município de Jardim/MS:
Nessa fase, além de produzir muitas peças, Sônia eleva a oportunidade de ter expandido sua arte pioneira nos cursos ministrados. O cenário de uma dessas experiências foi no município de Jardim, MS, em 2002, quando a artista, trabalhou com mais de trinta pessoas sua arte em osso. Por iniciativa da Prefeitura, o curso oferecido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro Empresas (SEBRAE) objetivou aumentar a mão de obra na cidade e que Jardim tivesse a marca da criação em osso. (SILVA, 2013, p.311)
Para atender os pressupostos que identificam o artesanato em osso e
permitir o esclarecimento da sua trajetória, trabalhamos com levantamentos a
campo na sede atual do Programa Mãos á Obra (Figura 3), nos meses de
março e outubro de 2013. Foram realizadas entrevistas com os 8 artesãos e o
dirigente da oficina Mãos à Obra, David Ojeda. Os dados obtidos nos
ofereceram informações suficientes para trilhar o passo a passo do caminho
investigativo.
24
Figura 3. Fachada da oficina Mãos à Obra no município de Jardim-MS.
Fonte: Arquivo da autora (2013).
Ressalta-se, na imagem abaixo (Figura 4), a logomarca do Programa
Mãos à Obra, em placa fixada na fachada da oficina, com a indicação da
parceria com a AMO Bio design.
Figura 4. Placa da Fachada da oficina Mãos à Obra no município de Jardim-
MS. Fonte: Arquivo da autora (2013).
Resultados e discussão
O desenvolvimento do município de Jardim-MS
25
A história do Município de Jardim está ligada à Guerra do Paraguai,
Guerra da Tríplice Aliança. Localizado no sudoeste do estado de Mato Grosso
do Sul, na Região Centro- Oeste do Brasil, esse município foi palco da Retirada
da Laguna, marco histórico guiado por José Francisco Lopes sob o comando
de Carlos de Morais Camisão.
Os conflitos da Guerra do Paraguai transformaram Lopes em peça
fundamental para guiar os soldados brasileiros na retirada das tropas, por se
tratar de um grande conhecedor da região, uma vez que havia fundado, às
margens do Rio Miranda, a Fazenda Jardim, onde se dedicava à pecuária.
Jardim teve, como primeiros moradores, operários da construção da
rodovia que ligaria o Brasil à fronteira com o Paraguai, a qual permitiu ao
município tornar-se uma cidade-polo de situação geográfica privilegiada. A
economia da região está baseada na atividade primária (pecuária e agricultura)
e tem a maior arrecadação de imposto sobre circulação de mercadorias e
prestação de serviço (ICMS) no setor terciário, em que o segmento comércio é
o principal contribuinte. (www.jardim.ms.gov.br).
O município de Jardim oferece serviço de hospedagem e alimentação,
há oito hotéis na cidade, bares e restaurantes de boa qualidade.
Possui cinco agências bancárias, atendimento hospitalar e ambulatorial,
Corpo de Bombeiros, Quartel de Polícia Militar, Polícia Ambiental, Quartel do
Exército Brasileiro, Aeródromo, serviço de Atendimento ao Turista (CAT),
localizado próximo à prefeitura municipal e agências de turismo. A cidade
oferece uma boa estrutura para recepção de turistas. (KIRCH, 2008).
Segundo informações do Centro de Atendimento aos Turistas – CAT
(2008), os principais atrativos turísticos (Quadro 1) na cidade são:
Quadro 1. Produtos Ecoturísticos de Jardim. CAT- Centro de Atendimento ao
Turista
Produtos Ecoturísticos de Jardim Características
Atrativos Históricos
1 - Oficina de ossos Artesanato feito de reciclagem de ossos
bovinos, couro e restos de madeira,
focada na criação de renda sustentável
26
para a população mais carente.
2 - Sr.Ramão - artesão da selaria Oficina de artesanato em couro, selaria,
de propriedade do Sr. Ramão,
conhecedor da história da região,
grande seleiro, e confecciona arreios
para animais.
3 - Museu da CER-3
Museu localizado no interior da 4 Cia.
de Engenharia de Combate
mecanizado, cujo acervo guarda parte
da história da Comissão de Estradas e
Rodagens, responsável pela construção
de rodovias e pontes de Aquidauana
até Bela Vista e Porto Murtinho.
Continuação do quadro 1...
3 - Balneário do Assis Capacidade estimada para 200
pessoas, o atrativo principal é o Rio da
Prata, onde se pratica o turismo de.
4 - Monumentos Históricos da
Retirada da Laguna
Trata-se de um cemitério localizado
próximo ao Rio Miranda, local onde
foram enterrados os heróis que
participaram da epopeia da retirada da
Laguna, episódio sangrento da Guerra
do Paraguai, onde foi erguido um
monumento em homenagem aos
mesmos.
Atrativos Naturais
1 - Buraco das Araras Uma gigantesca cratera com
aproximadamente 500 metros de
27
diâmetro e 100 metros de profundidae
no meio do cerrado. O passeio recebe
visitantes de todo mundo, interessados
nas belezas e curiosidades do atrativo,
já que sua formação é única e
raríssima.
2 - Balneário do Anicésio
Sua atratividade principal é o Rio da
Prata, ideal para banho e trilhas. Possui
uma estrutura com sanitários,
churrasqueiras, estacionamento e área
de camping.
lazer e contemplativo
4 - Balneário Verano
Ideal para banho e camping. Está
localizado às margens do Rio da
Prata, que é sua principal atração.
Continuaçao do quadro 1...
Tem boa estrutura para
recepcionar seus visitantes.
5 - Recanto Ecológico
Rio da Prata
Um dos principais atrativos do
município, dispõe de um aquário
natural com observação da
ictiofauna. O empreendimento
oferece uma estrutura com
sanitários, estacionamentos,
restaurantes e uma completa loja
de souvenires e redários.
O estímulo aos produtos ecoturísticos do município de Jardim, sejam
atrativos históricos ou naturais, configura-se, portanto, como alternativa
recorrente em projetos relacionados ao Desenvolvimento Local (DL). Como
28
potencialidades, entende-se aquilo que o local possui de melhor para oferecer
(ecoturismo, artesanato, produção agrícola etc.).
CASSIOLATO e LASTRES (2004, p.11) apud ALBAGLI (1999, p.32) afirmam:
O termo ‘local’ deve ser identificado como a idéia de ‘Lugar’ seguindo a perspectiva mais econômica, ou seja, espaço de realização de atividades técnico-científica, produtivas, comerciais, financeiras e correlatas que podem operar também em uma escala mais ampla.
Nesse contexto, trata-se, de impulsionar e articular as economias
territoriais, a fim de valorizar os recursos locais. Segundo AMARAL FILHO
(2001, p.4),
As tendências do debate acadêmico contemporâneo demonstram que a definição de desenvolvimento passa a ser estruturado a partir dos próprios atores locais, e não mais por meio do planejamento centralizado ou das forças de mercado.
Em relação a aspectos econômicos, o município de Jardim oferece
produtos turísticos, como atrativos históricos (monumentos, museu e
artesanato), atrativos naturais e agronegócio.
A seção seguinte abordará a importância da implantação do artesanato
utilizando o osso bovino e avaliará seus impactos no desenvolvimento local no
município de Jardim-MS, de forma a contribuir para um melhor entendimento
histórico sobre a implantação dessa modalidade e sua evolução até os dias de
hoje.
Tendo em vista as questões já elencadas até aqui, parece-nos
significativo apresentar informações específicas sobre o objeto central do
nosso estudo: o artesanato em osso.
Artesanato em Osso
O foco deste trabalho é caracterizar o setor de artesanato em osso no
município de Jardim e a sua relevância para o desenvolvimento local. O termo
artesanato se revela, neste estudo, com base na organização técnica do
29
trabalho, em que o artesão tem o domínio teórico-prático de todas as
operações técnicas necessárias à produção do objeto artesanal.
ALVES (2012, p.2), em seu texto sobre ‘O Artesanato em Mato Grosso
do Sul: Análise Centrada na Organização Técnica do Trabalho’, discorre que “A
partir da organização técnica do trabalho artesanal e das razões que estiveram
em suas origens, distribui o artesanato em três modalidades: artesanato
ancestral, artesanato espontâneo e artesanato induzido.” Nesse sentido, relata:
O artesanato ancestral envolve tanto o artesanato indígena quanto o produzido por grupos sociais precariamente articulados ao funcionamento da sociedade capitalista. É um artesanato de caráter coletivo [...]. O artesanato espontâneo é produzido individualmente por pessoas simples, que, no passado, exerceram atividades econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais [...]. O artesanato induzido vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas iniciativas filantrópicas vêem no desenvolvimento do artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e jovens que vivem situação de risco nas ruas. Alguns deles chegam a consagrar-se como artesãos. Mas essa não é a tendência dominante [...].
CARDOSO (2003, p.18) observa que o artesanato também está
vinculado ao mundo do trabalho, assumindo diferentes formas desde a Pré-
história até os dias atuais. Assim, para definir o artesanato com um mínimo de
raciocínio é preciso mergulhar na história da humanidade e dela fazer uma
nova leitura, ou seja, de como se determinou cada cultura: dos medos, que
trouxeram consigo mudanças; das aprendizagens com cada medo passado;
das formas de divisão do trabalho e, principalmente, das formas para o
desenho e a construção do seu tempo.
Citando KARL MARX (1986, p.41), esclarece que
o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção do trabalhador [...] Seus meios de subsistência [...] devem ser suficientes para mantê-lo num estado normal de indivíduo trabalhador. Suas necessidades naturais, como alimento,
30
roupas, combustível, abrigo, variam segundo o clima e outras condições físicas de seu país.
Observa-se, também, que o artesanato é visto como fonte de renda;
muitas pessoas dependem exclusivamente dessa atividade e já existem muitos
grupos de artesãos organizados de forma a gerar ainda mais renda para os
envolvidos.
Com esta perspectiva a Prefeitura do município de Jardim e instituições
políticas estimularam a formação de núcleos artesanais em suas comunidades,
incorporando essa ação aos programas de geração de emprego e renda, em
especial nas áreas que apresentam forte marginalidade e exclusão social. (Cf.
Figura 6).
Segundo SILVA (2013, p.29),
“No cenário atual, percebe-se que os modelos de desenvolvimento estão priorizando cada vez mais a capacidade das forças locais em criar e sustentar o seu desenvolvimento, tendência que vem se acentuando na área de Jardim.”
Nesse sentido, foi realizado, no município de Jardim, um fórum
promovido pelo Programa de Desenvolvimento Local e Sustentável (PDLIS),
em 1988, em que o turismo, o agronegócio e o artesanato foram selecionados
como as principais potencialidades do município de Jardim. Essa ação teve
como objetivo promover o desenvolvimento dos aspectos socioambientais e
econômicos do local, cujo processo está descrito na Figura 5, a seguir:
31
Figura 5. O processo de desenvolvimento dos aspectos socioambientais e
econômicos no artesanato local.
Posteriormente, em 1999, os agentes locais começaram a colocar em
prática as duas primeiras potencialidades,
O SEBRAE/MS (2001, p.5) verificou que os objetos produzidos no
município estavam limitados ao artesanato típico para utilização em fazendas
ou na lida com animais, tais como: placas para fazenda, adereços, carros de
boi etc.
A partir dessa análise, essa entidade realizou um levantamento para
identificar outras matérias primas disponíveis da região e inseriu a utilização
do osso, do couro e da madeira como nova modalidade de artesanato,
disponibilizando oficinas de capacitação para os artesãos.
As primeiras oficinas tiveram como foco a limpeza e a preparação do
osso; a seguinte, teve a participação do designer VINACCIA (2002, n.p),
inserindo uma iconografia que representasse as características da natureza da
região, tais como: imagens de flores e animais, como tucano, arara, jacaré,
onça pintada, peixes entre outros (Figura 6).
32
Figura 6 . Peças com icnografia regional. Fonte: http://www.pantanal-
brasil.com/page.aspx?pagina=251 (2011).
Nas palavras do coordenador David Ojeda, do Projeto Mãos à Obra, a
implantação das oficinas de osso seguiu uma sequência de eventos que estão
no quadro 2.
Quadro 2 - Linha de tempo da criação e implantação do artesanato em osso.
Linha de Tempo Dados
Ano de 1998 Fórum Desenvolvimento Local
Integrado e Sustentável (DLIS)
selecionou as três atividades
principais no município de Jardim-
Continuação do quadro 2 ...
MS: o turismo, o agronegócio e o
artesanato.
Ano de 1999 Agentes colocam em prática as
duas primeiras potencialidades.
Ano de 2001 O Sebrae iniciou um levantamento
33
e identificou o crochê, tricô e
bordados e o artesanato típico
para utilização nas fazendas,
como as atividades artesanais
realizadas no município e
identificou outras matérias primas
na região, tais como osso, couro e
madeira.
Ano de 2002
Período das primeiras
capacitações e marca a visita do
designer italiano GIULIO
VINACCIA (2002), que
desenvolveu estudos sobre as
imagens que poderiam ser
utilizadas pelos produtores locais
para caracterizar o artesanato em
osso.
Ano de 2002
Início da implantação do Programa
Mãos à Obra com um curso de
capacitação.
Fonte: Quadro elaborado pela autora a partir de informações fornecidas por
DAVID OJEDA (2013).
A partir das capacitações o Projeto Mãos à Obra, iniciou-se a produção
de objetos, que passaram a ser comercializados para os turistas que visitavam
o local, tais como móveis, descansos de mesa, bandejas, petisqueiras,
luminárias, vasos, porta escritórios, chaveiros, brincos, bijouterias e etc.
O Projeto recebeu apoio da Prefeitura de Jardim, que forneceu todo o
material a ser utilizado pelos artesãos e disponibilizou um local para realização
das oficinas.
34
Começaram a surgir, então, encomendas a partir da primeira exposição,
seguindo-se a exposição das peças no Museu de Arte Contemporânea
(MARCO), em Campo Grande, Capital de Mato Grosso do Sul. Os produtos
fizeram parte do Manual Iconográfico do Estado e foram reconhecidos em todo
Brasil.
O Projeto Mãos à Obra
O Programa Mãos à Obra começou em 2002 com um curso de
capacitação; em fevereiro de 2003 foi implantada uma oficina mantida pela
Gerência de Assistência Social de Jardim/MS, sediada no Centro Comunitário
da Vila Panorama.
Esse projeto foi incentivado na Gestão do Prefeito da época, com o
apoio do Programa de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável
(PDLIS) e do SEBRAE (Figura 7), conforme já referido neste texto. No período,
o programa era coordenado pela Gerência de Assistência Social, que financiou
por muitos anos as instalações e os equipamentos para a produção artesanal.
Figura 7 . Caracterização do APL Programa Mãos à Obra.Fonte: Arquivo da
autora (2013).
De acordo com o site oficial da Prefeitura Municipal de Jardim, o poder
público local buscava um projeto que fosse integrado com as principais
atividades econômicas do município e região, tais como o turismo e a pecuária,
pois o artesanato local poderia possibilitar o aumento do número de turistas e,
assim, contribuir com a economia do município.
35
O intento vislumbrava o desenvolvimento social, por meio de projetos
que proporcionassem capacitação profissional e geração de emprego e renda.
A perspectiva era a de criar possibilidade de ocupação para jovens que
necessitavam de uma segunda chance na sociedade, sendo essa uma
oportunidade de aprender um ofício e, consequentemente, de obter um
emprego.
Ainda segundo dados pesquisados, a parceria com o SEBRAE/MS
possibilitou o desenvolvimento do Projeto e, portanto, a atividade artesanal com
o osso.
Importante lembrar que anteriormente ao projeto o osso era utilizado
apenas para a fabricação de ração, apresentando baixo valor agregado e
utilizando reduzida força de trabalho.
Todas as oficinas foram desenvolvidas na comunidade na modalidade
de workshops com designers, dentro do programa de apoio ao artesanato,
juntamente com o SEBRAE/MS, para melhor aproveitamento da matéria prima
(Quadro 3).
Quadro 3 - Origens das matérias prima utilizadas no Projeto Mãos à Obra
Tipo Local de origem
Osso Frigorífico Guia Lopes – MS e
Açougues em Jardim-MS
Madeira Descarte de madeira das marcenarias
com autorização do IBAMA.
Fonte: Informação fornecida pela artesã Assunção Alves (2013)
O osso usado como matéria prima para a confecção das peças provém
de açougues e frigoríficos com selo da vigilância sanitária. Assim, o que seria
depositado de forma irregular, muitas vezes jogado em lixão ou em terrenos
abandonados, passou a ser reaproveitado. A madeira é coletada em
marcenarias e madeireiras da região, assim como de fazendas que extraem a
madeira com a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
O projeto social denominado Mãos à Obra visava, inicialmente,
proporcionar aos jovens uma perspectiva profissional que, por razões de
36
abandono, abuso ou envolvimento com drogas, estavam excluídos da
comunidade, necessitando de uma oportunidade para se reinserirem no meio
social.
Atualmente, conforme verificamos in loco, o projeto possui 8 mulheres
na faixa de 30 a 50 anos atuando na confecção das peças. Estas senhoras
sustentam sozinhas suas famílias ou complementam a renda familiar.
Por meio de reciclagem, da geração de renda, da oportunidade de
emprego, do desenvolvimento cultural, entre outros aspectos, o Projeto Mãos à
Obra pode beneficiar tanto o meio ambiente quanto a qualidade de vida do
artesão, como demonstrado no quadro a seguir (Quadro 4).
Quadro 4 - Opinião das artesãs quanto ao que mudou em suas vidas a partir
do Programa Mãos à Obra.
Mudança Frequência
Melhorou a renda 5
Aumentou a auto estima 8
Qualidade de vida melhorou 8
Ciclo de amizades aumentou 8
Visão de consciência ambiental 8 Fonte: Arquivo da autora (2013).
Para os artesãos, o Projeto Mãos à Obra oportuniza a realização de
atividades, a participação nas decisões e ações realizadas pelo grupo, a
participação em eventos de comercialização e divulgação do artesanato, entre
outras.
Em virtude desse caráter social do Projeto Mãos à Obra, o artesanato
em osso de Jardim foi indicado e ganhou o prêmio TOP 100 do SEBRAE, no
ano de 2006. O valor do prêmio recebido possibilitou, juntamente com outros
recursos, a construção da sede própria do Projeto, situada na saída de Bela
Vista, às margens da BR-060.
A iniciativa do SEBRAE/MS tem como objetivo incentivar e destacar os
empreendimentos mais bem organizados no setor, do ponto de vista
mercadológico.
37
Com base em levantamento prévio, verificamos que a sede própria do
Projeto Mãos à Obra encontra-se em fase final de construção. Conforme
relatos dos próprios artesãos, o Projeto recebeu o terreno da Prefeitura
Municipal por meio de doação para que fosse construída a sede.
Segundo o coordenador atual do Projeto Mãos à Obra, David Ojeda,
haverá a possibilidade de ampliar o quadro de artesãos, quando o projeto
estiver funcionando na nova sede, em função do espaço físico maior e das
melhorias da infraestrutura, podendo gerar, pelo menos, mais 25 novos
empregos diretos na cidade de Jardim. No momento o Projeto Mãos á Obra
trabalha na informalidade e no novo endereço tem como objetivo se tornar uma
cooperativa.
Desse modo aumentará também a demanda por novos cursos de
capacitação para os artesãos interessados em trabalhar no projeto.
Infraestrutura do Projeto Mãos à Obra
Em visita realizada no projeto, verificou-se no espaço físico uma mesa
comprida, onde os artesãos utilizam para realizar suas atividades. Nesse local
há um banheiro, dois quartos, que são utilizados como depósito para o estoque
dos ossos bovinos, uma cozinha onde é feito e servido o almoço para os
artesãos que moram mais distantes do local, além de um tanque (de lavar
roupas) usado para lavar os ossos.
Utilizam na confecção das peças, máquinas de uso odontológico, as
quais são adaptadas para possibilitar a troca de várias brocas, durante a
execução dos desenhos nos ossos (Figura 8). Dispõe de três esmeris, que são
utilizados para tirar lâminas dos ossos, nas quais, posteriormente, são feitos os
desenhos.
38
Figura 8. Artesãs produzindo as peças de osso. Fonte: Arquivo da autora (2013).
Há, ainda, no local, dois fogões a lenha onde os ossos são levados à
fervura por várias horas, juntamente com procedimentos químicos, até que
fiquem brancos.
O projeto disponibiliza uma serra elétrica para serrar os ossos nas
medidas necessárias a cada peça. Dispõe, também, de um “Dremel”, máquina
que permite o trabalho em alto relevo nos ossos (Figura 9).
Figura 9. Peças finalizadas em alto relevo. Fonte: Arquivo da autora (2013).
39
Reconhecimento do Projeto Mãos à Obra
O Projeto Mãos à Obra está, atualmente, inteiramente voltado para o
comércio (Quadro 5). Segundo o coordenador David Ojeda, a produção precisa
ser aumentada para que atenda à demanda de peças. Nesse caso, cabe
ressaltar que 85 % dos produtos são comercializados fora do município; os
países que mais compram produtos artesanais são a Itália e a Holanda, que
todos os anos renovam os pedidos.
Quadro 5 - Evolução da produção do artesanato em osso no Programa Mãos à
Obra
Anos Produção
Peças mês
Mercados
(%)
Total
(%)
Local Estado Brasil Exterior
2003 100 10% 15% 10% 0% 35%
2004 200 10% 15% 10% 10% 45%
2008 500 10% 20% 15% 10% 55%
2012 1000 10% 30% 20% 15% 65%
2013 1500 15% 45% 25% 15% 100%
Fonte: Tabela elaborada pela autora por meio dos dados cedidos por OJEDA (2013).
O Projeto já se tornou ponto turístico, pois quem visita a região e a
cidade passa pelo local para conhecer o processo de produção dos artesãos.
O Projeto Mãos à Obra obteve, junto ao Ministério de Desenvolvimento,
a aprovação de uma verba de R$ 210.000,00, que foi utilizada para a
conclusão da nova sede e para aquisição de brocas mais resistentes, que
reduzem o consumo de energia elétrica e possibilitam o crescimento do projeto.
Conclusão
Dentre os pontos refletidos, apontamos que a implantação do artesanato
em osso no município de Jardim diminuiu o impacto ambiental a partir do
melhor aproveitamento do descarte da matéria prima, anteriormente depositada
de forma irregular ou jogada no lixão.
40
Com o Programa Mãos à Obra o osso bovino passou a ser aproveitado e
possibilitou o desenvolvimento de uma atividade artesanal que visa
proporcionar uma perspectiva profissional para as artesãs envolvidas no
projeto, gerando trabalho e renda.
O apoio do PDLIS, da prefeitura e do Sebrae possibilitou buscar uma
atividade econômica que interagisse com as questões sociais do município de
Jardim, gerando oportunidade de trabalho para as populações com baixa
qualificação profissional e potencializasse as vocações regionais, favorecendo
o desenvolvimento local.
Observou-se, no projeto, uma visão empreendedora por meio da
preparação das organizações e de seus artesãos para o mercado competitivo.
Com a instalação da nova sede o projeto aponta para um novo patamar de
desenvolvimento, que visa a um aumento da produtividade associado à técnica
de acabamento perfeito com a implantação de novos maquinários.
Esse desempenho reflete claramente a importância da mudança para o
novo espaço físico, cujo objetivo será desenvolver um produto mais competitivo
e mais bem aceito em outras regiões do país.
Diante do exposto, pode-se salientar que as possibilidades de melhoria
dos programas e as possíveis transformações no segmento dependem do
incentivo de se promoverem políticas públicas eficientes e assertivas, que
garantam a construção do desenvolvimento local
Referências Bibliográficas
ALBAGLI, S.; MACIEL, M. L. Capital Social e Desenvolvimento Local. In:
Lastres, H. M. M.; Cassiolato; J. E., Maciel, M. L. (Orgs.). Pequena empresa:
cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará: UFRJ,
Instituto de Economia, 2003.
ALVES, G. L. Arte, artesanato e desenvolvimento local : temas sul-mato-
grossenses . Campo Grande, MS: Editora UFMS, 2014.
41
AMARAL, F. J. A Endogeneização no Desenvolvimento Econômico Regional.
Revista Planejamento e Políticas Públicas , Brasília, n. 23, 4 p., jun 2001,
IPEA.
CARDOSO, C. F. O trabalho compulsório na antiguidade : ensaio
introdutório coletânea de fontes primárias . Rio de Janeiro: Edições Graal,
2003.
CAT- Centro de Atendimento ao Turista . Jardim-MS. 2013.
CANTO, S. Artesanato em Jardim poderá ser visto na capital. Jornal Correio
do Estado .Campo Grande, 21 julho .2012.Caderno da Cultura.p17.
EMBRAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento . Boletim
de Pesquisa e Desenvolvimento. 2008. Disponível em:
<http://www.cnps.embrapa.br/publicacoes/pdfs/bpd_129_levantamento_jardim.
pdf. Acesso em: 20 mai. 2013.
: 10 nov. 2001
JARDIM [Município]. Pontos Turisticos de Jardim . Cidades. 2008? Disponível
em: <http://www.ferias.tur.br/informacoes/4189/jardim-ms.html>. Acesso em: 2-
01-2013.
_____. Conheça Jardim . Cidades. Disponível em: <http:
www.jardim.ms.gov.br>. Acesso em: 23 dez. 2012.
HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. 21 ed. São Paulo: LTC, 1986.
HOUAISS, A. Pequeno dicionário enciclopédico Koogan Larousse . Rio de
Janeiro: Editora Larousse do Brasil, 1979.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatística da Produção Pecuária, junho de 2012 . Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso: 10 abr. 2014.
42
KIRCH, F. F. Relatório de estágio supervisionado exigido pelo cu rso de
Turismo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS. Jardim,
não publicado, 2008.
MAIA, I. Cooperativa e prática democrática. São Paulo: Cortez, 1985.
SEBRAE. Artesanato no Sebrae . Minas Gerais, 1991. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/setor/artesanato/sobre-artesanato/artesanato-no-
sebrae>. Acesso em: 5 set. 2012.
SEBRAE. Incentivo do Sebrae ao artesanato brasileiro. Campo Grande, MS.
Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/setor/artesanato/sobre-
artesanato/artesanato-no-sebrae/integra_bia/ident_unico/649>. Acesso em: 5
set. 2012.
SILVA, A. L. G. Interdisciplinaridade na temática indígena: aspecto s
teóricos e práticos da educação arte e cultura. 2013, 169 folhas.. Tese
(Doutorado em Educação). Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP.
VINACCIA, G. Elementos da iconografia de Mato Grosso do Sul . Campo
Grande, MS: Sebrae/MS, 2002.n.p.
43
Artigo II
Organização técnica do artesanato em osso no municí pio de Jardim, MS
Milene Santos Estrella 1
1Mestranda no Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento
Regional da Universidade Anhanguera – Uniderp.
RESUMO
O presente trabalho tem por objeto a organização técnica do trabalho de
artesanato em osso desenvolvido pelo Programa Mãos à Obra no município de
Jardim (MS). Neste artigo são tratadas as etapas do artesanato: preparo da
matéria-prima e desenvolvimento do produto. Integra a linha de pesquisa
Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável. Os elementos
analisados nas etapas de produção do artesanato em osso buscam revelar que
o Programa Mãos à Obra tem um caráter capitalista, e esta observação deve
ser o ponto de partida para a análise do fazer artesanal e de suas
possibilidades de avanço do Desenvolvimento Local (DL). O artesanato é
considerado atividade de geração de trabalho e renda para aqueles que não
conseguem se inserir no mercado formal de trabalho, considerando que grande
parte dessas pessoas encontra no artesanato uma forma de garantir a própria
subsistência. O reconhecimento e valorização de vocações produtivas de cada
região são fundamentais para o desenvolvimento de políticas públicas que
permitam assegurar a transformação local.
Palavras-chave: Organização técnica do trabalho, Desenvolvimento Local,
Artesanato em Jardim.
ABSTRACT
The present work aims at the technical organization of work of craftsmanship
bone developed by Hands to Work Program in the City of Gardens ( MS) . This
article shall be dealt steps crafts: preparation of raw materials, product
44
development and production. Integrates the line of research Societ,
Environment and Sustainable Regional Development. The elements analyzed
in the stages of production of crafts seek bone reveal that Hands to the Work
Programme has a capitalist character, and this observation should be the
starting point for analyzing the craft and make your chances of advancement of
Local Development (DL). The craft activity is considered to generate
employment and income for those who are unable to enter the formal labor
market, considering that most of these people find in craft a way to ensure their
livelihood. The recognition and valuation of productive vocations of each region
are fundamental to the development of public policies that provide for local
processing.
Keywords: Data Organization, Local Development, Craft.
1 Introdução
Este artigo tem por objeto discutir a organização técnica do trabalho no
artesanato em osso realizado pelo Programa Mãos à Obra no município de
Jardim (MS). Considerou-se o envolvimento dos artesãos do município que
utilizam matérias-primas abundantes nesta região, como a madeira e o osso, e
produzem peças artesanais exclusivas, transformando-as em produtos de
consumo e favorecendo o desenvolvimento local.
Justifica-se este estudo, em termos gerais, pela relevância que tem o
surgimento desta atividade do artesanato no município, que transforma a
matéria-prima local em produtos de consumo.
Para a investigação deste trabalho foram realizadas visitas técnicas na
oficina do Projeto Mãos à Obra, do município de Jardim (MS), procurando
registrar as etapas da produção do artesanato local. Ao lado dessas atividades,
incluiu um levantamento fotográfico e entrevistas semiestruturadas.
Os dados levantados junto aos artesãos, nos documentos, permitiram
obter informações suficientes para atender a um dos objetivos da investigação.
O objetivo geral da investigação exposta neste artigo é analisar as
etapas da organização técnica do artesanato em osso desenvolvido pelo
Programa Mãos à Obra no município de Jardim (MS). Destina-se a apresentar
as etapas observadas na prática do desenvolvimento do produto: coleta da
matéria prima, operação de limpeza, serragem dos ossos até o processo de
45
finalização, que envolve o lixamento, desenho e escultura das peças. Será feita
a sistematização destas etapas, que permitirá uma análise da organização
técnica desta produção artesanal e avaliar como ocorre o processo de divisão
de trabalho realizado na oficina de artesanato em osso no Projeto Mãos à
Obra.
No que se refere ao Brasil, tendencialmente as atividades artesanais são
desenvolvidas por núcleos familiares artesanais, majoritariamente situados em
regiões mais pobres, cuja produção artesanal apresenta uma grande variedade
de produtos e reaproveitamento de matérias-primas disponíveis. Ao longo dos
últimos anos, essa atividade tem apresentado um ritmo de expansão
acelerado, constituindo-se em uma atividade econômica com grande potencial
de crescimento, atuando, inclusive, como fonte geradora de emprego e renda.
Segundo PEREIRA (1979, p.17), a política de fomento ao artesanato
brasileiro assumiu um caráter sistematizado a partir de 1977, quando o
Governo Federal, por meio do Ministério do Trabalho, instituiu o Programa
Nacional de Desenvolvimento do Artesanato (PNDA).
Em Mato Grosso do Sul, a Fundação de Cultura (FCMS) lançou, em
maio de 2007, o catálogo do Centro Referencial de Artesanato de Mato Grosso
do Sul, no início da gestão do governador André Puccinelli. Segundo a
Fundação, com esta iniciativa, a instituição investiu no desenvolvimento da
economia da cultura ao promover e potencializar a importância do artesanato
no estado. O objetivo foi colocar à disposição do público local e dos turistas,
peças artesanais dos ícones do artesanato regional, que foram reunidas num
acervo de produtos culturais. As peças foram produzidas por 31 artesãos da
Capital e do interior, que desenvolvem atividades de artesanato em cerâmica,
madeira, fibra, tecelagem, cabaça, couro, madeira e osso, fibra e ferro, entre
outros materiais.
Para CALHEIROS1 o referido catálogo visa divulgar a produção
artesanal do estado. Na sequência foi criado um espaço cultural para expor o
trabalho desenvolvido e dar visibilidade ao trabalho dos artesãos.
1 Américo Calheiros, presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCCM) durante os dois mandatos do governador André Puccinelli (2007-2014).
46
O artesanato é uma generosa fonte de emprego e renda e o estado tem cadastrado cerca de 5.000 artesãos que são beneficiados pela atividade e que melhora a qualidade de vida. O centro referencial é mais uma pequena peça que a Fundação de Cultura está inserindo na engrenagem que dá destaque ao artesanato e aos artesãos do Estado. CALHEIROS (2007).
Segundo o Termo de Referência da atuação do sistema SEBRAE no
artesanato e de acordo com a Pesquisa de Informações Básicas Municipais
(MUNIC, 2006), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Cultura,
64,3% dos municípios brasileiros possuem algum tipo de produção artesanal,
liderando o percentual das manifestações culturais identificadas na pesquisa.
Essa produção tem grande importância na geração de ocupação e
renda no Brasil, onde milhões de artesãos são responsáveis por um movimento
financeiro que comprova a capacidade econômica desse setor.
De acordo com dados do Centro de Capacitação ao Empreendedor
(Capes), embora a profissão de artesão não seja regulamentada no Brasil, o
que dificulta o desenvolvimento de uma política para o setor, cerca de 200 mil
artesãos estão organizados em pequenas empresas, associações ou
cooperativas.
A potencialidade de cada região e o reconhecimento e valorização de
vocações produtivas são fundamentais para o desenvolvimento de políticas
públicas que consigam assegurar à população boas condições de vida e
ferramentas sustentáveis básicas.
Segundo SILVA (2013, p.24 ),
A história da humanidade desenvolve-se com base na luta pela sobrevivência da espécie humana, estando ligada à produção material da sua existência. O ser humano nasce da natureza, surge, emerge, afirma-se e realiza suas virtualidades. A realidade na qual está imerso é a produção, de sua atividade prática, produtiva.
O artesanato é considerado como uma dessas atividades alternativas de
geração de trabalho e renda para aqueles que não conseguem se inserir no
mercado formal de trabalho, considerando que grande parte dessas pessoas
encontra no artesanato uma forma de garantir a própria sobrevivência e a
manutenção do bem estar de seus familiares.
47
No sistema produtivo manufatureiro que antecedeu ao capitalismo, o
processo de produção se dava sem a especialização das tarefas. A
necessidade de ampliação dos lucros constituiu-se fator decisivo na
transformação do artesanato ou da manufatura, em que há como característica
básica a introdução da divisão e especialização do trabalho e da maquinaria,
fazendo com que com base neste modelo o artesão dependa do seu ritmo de
produção. À medida que o homem avança no tempo, surgem novos
conhecimentos e novas tecnologias.
ALVES (2013, p.7), observa que muitas atividades “artesanais”, na
atualidade, incorporam a organização técnica da manufatura e não podem se
configurar mais como artesanato.
Para ALVES (2013, p.7), o artesão por realizar atividade que exigia tanto
os recursos de seu cérebro quanto a habilidade de suas mãos, se diz um
“trabalhador qualificado”. “O artesanato se contrapõe à manufatura por
introduzir a divisão do trabalho, expropiando o trabalhador das habilidades
exigidas pelo processo de trabalho como um todo. O trabalhador deixa de ser
qualificado para se tornar um especialista.”
Nesta perspectiva ALVES (2013, p. 7), afirma que:
As novas atividades ditas artesanais, surgidas pelo influxo da ação do Sebrae em Mato Grosso do Sul, incorporaram a organização técnica da manufatura. São manufaturas os ateliês de costura, por exemplo, onde há aqueles que desenham os modelos, os que cortam os tecidos, alguns costuram e outros pintam ou bordam. São manufaturas as oficinas de cerâmica, igualmente, onde trabalham, lado a lado, modeladores, pintores e operador do forno. São manufaturas, ainda, as oficinas de artesanato de osso e madeira.
No artigo Atuação do Sebrae no artesanato: dez anos de aprendizado e
sucesso, o gerente da Unidade de Atendimento Coletivo Comércio e Serviços
dá uma ideia geral das atividades desenvolvidas pelo Sebrae, no sentido de
induzir o desenvolvimento do artesanato brasileiro no interregno considerado.
Afirma, de início, que em 1997 foi “criado o Programa Sebrae de Artesanato,
com atuação em todas as 27 Unidades da Federação”. (GUEDES, 2008). No
ano de 2003, o
48
Programa foi reavaliado e redesenhado a partir do compartilhamento das experiências bem-sucedidas realizadas nas 27 Unidades da Federação, sempre levando em conta estratégias e prioridades do Sistema Sebrae. Em março de 2004, promovemos o lançamento do Termo de Referência do Programa Sebrae de Artesanato, em solenidade no Palácio do Planalto com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outras autoridades. (GUEDES, 2008)
O dirigente resume, em seguida, os resultados quantitativos e
qualitativos decorrentes da atuação do Sebrae nos dez anos de vigência de
seu programa voltado para o artesanato.
Os 2.700 municípios atendidos e os 220 mil artesãos capacitados em cursos acima de 40 horas mostram o esforço do Sebrae nesses 10 anos de atuação do Artesanato. E além dos resultados quantitativos, obtivemos importantes resultados qualitativos: o sorriso ‘refeito’ pelo trabalho digno; melhoria de qualidade de vida; moradia; resgate da auto-estima, da cidadania, da dignidade; enfim, a realização de sonhos por meio da valorização dos saberes e fazeres de milhares de cidadão brasileiros que (sic) “têm orgulho de serem artesãos”. [Grifo nosso]. (GUEDES, 2008).
O arremate do artigo coloca em primeiro plano a visão ideológica que
informa a proposta do Sebrae.
A produção artesanal é de grande importância na geração de ocupação e renda no Brasil, com especial destaque em comunidades carentes. Para que o artesanato cumpra esse papel de forma eficaz, é preciso estimular o empreendedorismo e o associativismo, e esse tem sido um importante foco do Sebrae em dez anos de intenso trabalho com o setor. (GUEDES, 2008)
Em geral, salienta-se que as associações melhoram o desempenho da
produção artesanal com o foco no empreendedorismo, facilitam a resolução de
questões de ordem prática no dia-a-dia de trabalho, como a compra de
matéria-prima, a produção em série, a comercialização e distribuição
integradas, o cálculo dos preços dos produtos e a troca de aprendizado e de
informações mas descaracteriza a questão artesanal.
49
O Programa Mãos à Obra teve início em 2002 com um curso de
capacitação com 17 pessoas, e em fevereiro de 2003 foi implantada uma
oficina mantida pela Gerência de Assistência Social Município de Jardim (MS),
sediada no Centro Comunitário da Vila Panorama. Possui, hoje, oito
integrantes envolvidos na produção do artesanato em osso.
Esse programa teve incentivo por meio da gestão municipal da época,
com o apoio do Programa de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável
(PDLIS). No período o programa era coordenado pela Gerência de Assistência
Social, que financiou por muitos anos as instalações e os equipamentos para a
produção artesanal e tem como objetivo estimular e desenvolver o exercício da
cidadania mediante a educação ambiental e capacitação para melhoria da
qualidade de vida da população local.
2 Material e Métodos
O presente trabalho foca o Programa Mãos à Obra, localizado no
município de Jardim (MS), sito à Rua Rui Barbosa, no. 297, Vila Camisão.
Nesse artigo são abordadas e discutidas as informações levantadas por
meio das entrevistas realizadas no local do Programa, bem como alguns
aspectos que foram observados, durante a visita, no local.
Considerando o universo total de oito pessoas, foram aplicadas
entrevistas a um dirigente da entidade, a seis artesãs filiadas ao Programa
Mãos à Obra e um funcionário que coleta a matéria-prima.
Na visita ao local, foram realizados registros fotográficos das atividades
desenvolvidas pelos artesãos durante a rotina de trabalho.
A utilização das entrevistas e o levantamento das informações junto aos
artesãos sobre a atuação do Programa Mãos à Obra permitiu que fosse
elaborado um quadro e expostos os avanços ou retrocessos resultantes dessa
associação.
Com base nesse panorama, identificamos o perfil destes artesãos,
avaliamos a melhoria da qualidade de vida, elaboramos um banco de dados e
identificamos em quais pontos a política pública foi mais eficiente. As respostas
das entrevistas de cada artesão foram tabuladas e analisadas para compor
este trabalho.
50
Depois da conclusão das etapas metodológicas, foram realizadas a
análise de interpretação dos dados e a conclusão do estudo. Acredita-se que a
adoção dessa metodologia possibilitou a compreensão dos fenômenos e a
indicação de sugestões sobre a problemática em foco.
3 Resultados e Discussão
O Programa Mãos à Obra tem por objetivo coordenar e desenvolver
ações em nível estadual, e, segundo o Sebrae, visam à valorização do artesão,
elevando seu nível cultural, profissional e socioeconômico e, ainda, promover e
divulgar o artesanato regional.
Entre as linhas prioritárias de atuação, destacam-se: geração de
oportunidades de trabalho e renda; aproveitamento das vocações regionais;
formação de uma mentalidade empreendedora por meio da preparação das
organizações e de seus artesãos para o mercado.
Para maior compreensão da organização técnica do trabalho, foram
obtidos os dados das artesãs selecionadas para entrevista. A seguir, quadro
resumo com os dados coletados.
Quadro1. Dados dos artesãos cadastrados no Programa Mãos à Obra
Fonte: OJEDA (2012).
Em relação à caracterização dos artesãos que atuam no programa, seis
são mulheres e dois são homens (Figura 1).
Nome Idade Escolaridade Atividade anterior
Assunção Alves 45 Fundamental incompleto
doméstica
Artete de Mattos 42 Fundamental completo
doméstica
Rosilena Castilho 40 Fundamental completo
doméstica
Ariele Bento Gonçalves 30 Técn.em Enfermagem
comércio
Rosane Rodrigues 35 Fundamental incompleto
doméstica
Veroni Benites 31 Fundamental incompleto
doméstica
Luis Rodrigues 26 Ens.fundamental completo
Func.braçal
David Ojeda 35 Ens.fundamental completo
Coordenador
51
Figura 1. Membros do Programa Mãos à Obra segundo o gênero.
Com sua economia centrada principalmente na agropecuária e no
turismo, o município de Jardim (MS) apresenta uma oferta de trabalho muito
limitada com baixos níveis de remuneração. Para conviver com essa realidade,
um grupo da população feminina dedica-se ao trabalho artesanal, por ser uma
das maneiras de se inserirem no mercado de trabalho.
Dos entrevistados, um se encontra na faixa etária de 20 a 30 anos, cinco
estão na faixa de 31 a 40 anos e um está na faixa de 41 a 50 (Figura 2).
52
Figura 2 . Faixas etárias dos membros do Programa Mãos à Obra.Fonte: Elaboração própria (2013).
No que se refere à escolaridade, três possuem o ensino fundamental
incompleto, quatro o ensino fundamental completo e um possui o ensino
técnico (Figura 3).
Figura 3. Escolaridade dos membros do Programa Mãos à Obra.
De acordo com o que já foi apresentado, percebe-se que o aspecto da
escolaridade é relativamente significativo, uma vez que a maioria dos artesãos
53
possui o ensino fundamental completo e incompleto, não havendo, nesse caso,
analfabetos.
Em relação à atividade anterior, sobre o trabalho que esses sujeitos
faziam antes de se dedicarem ao artesanato em osso, cinco eram domésticas,
um trabalhava no comércio, um exercia atividade braçal e o coordenador,
David Ojeda, exercia a função de artesão (Figura 4).
Figura 4. Atividade anterior dos membros do Programa Mão à Obra.
Essa descrição expressa as condições socioeconômicas nas quais
vivem os artesãos participantes da pesquisa, e a forma como se inseriram na
atividade do artesanato. Com base nos dados descritos na figura, pode-se
detalhar de que maneira o programa interferiu nas suas condições de vida.
As condições socioeconômicas são, em geral, bem parecidas, visto que
antes de entrar para o programa as mulheres trabalhavam como domésticas,
como vendedoras ambulantes, ou como donas de casa. São pessoas de baixa
renda, que buscaram se inserir no mercado de trabalho, se socializar, melhorar
a qualidade de vida por meio de uma atividade remunerada.
O Programa Mãos à Obra funciona em caráter informal, teve seis
coordenadores que recebiam remuneração da prefeitura para exercer a função.
54
Em 2010 David Ojeda foi nomeado coordenador e por não ser
funcionário da prefeitura, passou a receber segundo proposta das artesãs o
valor de 10% do rendimento como remuneração.
Em 2002, no início da implantação do Projeto Mãos à Obra , 70% das
artesãs tinham rendimento que variavam entre R$ 250,00 a R$ 400,00. A partir
de 2012, 100% tiveram rendimentos com variações entre R$ 700,00 a R$
1.200,00. Essas informantes explicam que ainda não recebem aumentos
consideráveis, porque ainda estão no processo de investimento do projeto,
que, naturalmente, caminha para se tornar uma cooperativa quando se mudar
para a nova sede.
Essa atividade proporciona, às artesãs, a oportunidade de viajar para
participar de feiras em outros municípios e estados, conhecer diferentes tipos
de artesanato e culturas diversas, como relata a artesã Ariele Bento Gonçalves
(2013).
Etapas de produção do artesanato em osso
O processo de produção foi explicado com detalhes pela artesã Arlete
de Mattos (2013), que participa do programa desde o início e conhece
profundamente sua história e todo o processo produtivo das peças junto com o
coordenador do Programa Mãos à Obra, David Ojeda.
A artesã Assunção Alves relatou que também está no programa desde a
sua implantação e que participou de todos os cursos oferecidos para a
qualificação, incluindo o de manejo e escultura dos ossos. De acordo com o
planejamento da APL todas as artesãs devem conhecer as operações
produtivas, para que desta forma possam identificar habilidades específicas.
Para SANTOS et al. (2004, p.152),
O conceito de APL só deve ser definido a partir de experiências empíricas muito específicas. De maneira mais ampla, deve ser comum a todos os APLs a importância da cooperação como característica fundamental, associado à presença de pequenas ou médias empresas concentradas espacialmente em alguns dos elos de uma cadeia produtiva, ou seja, os APLs representam aglomerações de empresas de um determinado setor ou cadeia.
55
A partir dessa seção, serão apresentadas as etapas de produção do
artesanato em osso, resultado das entrevistas aplicadas às seis artesãs que
trabalham no processo de produção. Inicialmente, o objetivo é apresentar as
características de cada etapa da organização técnica deste trabalho artesanal.
Serão apontadas as questões ligadas aos aspectos gerenciais, à produtividade
e à jornada de trabalho.
As etapas do processo produtivo estão relacionadas na figura 5.
Figura 5. Etapas da produção do artesanato em osso. Fonte: Elaboração própria (2013).
Na primeira etapa é feita a aquisição da matéria-prima (ossos bovinos).
Na sua maioria, provém dos açougues do comércio local e dos frigoríficos do
município vizinho, de Guia Lopes da Laguna (MS).
Uma bicicleta é utilizada como meio de transporte para coletar os ossos
nos açougues e frigoríficos (Figura 6).
Figura 6. Bicicleta utilizada para a coleta dos ossos nos frigoríficos locais. Fonte: Arquivo da autora (2013).
A prefeitura disponibiliza uma van como transporte, para participação em
feiras na localidade ou em outros estados. (Figura 7).
56
Figura 7. Veículo utilizado para o transporte de artesãos para as feiras. Fonte: OJEDA (2012).
Na segunda etapa (Figura 8), inicia-se o processo de limpeza dos ossos,
que consiste em retirar os restos de carne raspando com a faca.
Figura 8. Foto da operação da limpeza dos ossos. Fonte: OJEDA (2012).
Atualmente as etapas de trabalho estão organizadas da seguinte forma:
duas artesãs ficam responsáveis pela limpeza dos ossos, que consiste em
retirar os restos de carne raspando com as facas.
Na sequência, a gordura retirada de dentro dos ossos (tutano) passa por
um processo de fritura para ser reaproveitada e utilizada na confecção de um
sabão para a limpeza dos ossos beneficiados pelas artesãs.
57
Figura 8. Foto da operação da limpeza dos ossos. Fonte: OJEDA (2012).
Em 2003, segundo relato do coordenador David Ojeda, quando a
matéria prima chegava à sede do programa, todos deveriam trabalhar no
processo de limpeza. Na sequência, depois de aprender todo o processo,
poderiam passar para as outras fases e vivenciar todas as operações do
desenvolvimento do produto para que desta forma possibilitasse adquirir uma
visão geral do artesanato em osso e fossem identificadas as habilidades
individuais de cada artesã.
Na etapa seguinte os ossos são fervidos por oito horas em um caldeirão
colocado em fogões de barro montados no chão. (Figura 9).
58
Figura 9. Foto da operação da primeira fervura dos ossos para beneficiar a matéria-prima do artesanato. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).
Esses fogões foram feitos pelos artesãos como forma de não utilizar o
GLP (gás liquefeito de petróleo) e reaproveitar os restos de pó de serra
decorrentes do lixamento da madeira. Esses ossos são fervidos várias vezes
para que saia toda a gordura dos mesmos. (Figura 10).
Figura 10. Foto da operação da segunda fervura dos ossos. Fonte: OJEDA (2012).
59
Os ossos são fervidos duas vezes com o sabão, e são submetidos a
uma última fervura, com “água oxigenada” de volume 10. Atualmente a
quantidade de oxigenada foi reduzida em 80%, utilizando somente uma
quantidade mínima, para que o osso obtenha a coloração desejada. Logo
depois da etapa de cozimento, os ossos são expostos ao sol para que sequem
naturalmente.
A terceira etapa (Figura 11) consiste no processo de serrar as peças
com equipamentos adequados. Os ossos que não são utilizados de imediato
são estocados no depósito.
Figura 11. Foto da operação de serragem dos ossos. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).
Figura 12. Foto da artesã lixando o ossos no esmeril. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012)
60
Na sequência, depois dos ossos serem serrados, inicia-se a operação
em que as peças são lixadas nas suas bases, para obter uma superfície plana
e nas medidas corretas (Figura 12).
Nessa etapa também há carência de uso de equipamento de segurança,
tais como óculos, luvas e máscaras para a proteção das narinas, pois ao lixar
os ossos é levantada grande quantidade de pó, que pode se acumular nas
narinas e dificultar a respiração.
O uso de equipamentos é extremamente importante para evitar o atrito
da pele com a lixa, mas a artesã Rosilena Castilho (2013) relatou que o uso do
equipamento dificulta o acesso às lâminas mais finas.
Na quarta etapa, inicia-se o desenho da iconografia escolhida para a
peça.( Figura13).
Figura13. Foto da operação do desenho na peça. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).
A operação do desenho é fundamental, pois, uma vez realizada, todas
as outras poderão ser finalizadas. Somente três artesãs possuem habilidades
de desenho dentro do programa.
61
Figura 14. Foto da operação dos traços com a broca. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).
Depois do desenho, inicia-se, com broca específica, a realização dos
traços com uma ferramenta parecida com pirógrafo, para que na sequência as
peças sejam esculpidas.( Figura 14).
Figura 15. Foto da operação em alto relevo. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).
Nesta etapa as formas ganham mais precisão e adquirem diferentes
usos e funções, tais como petisqueiras, vasos, brincos, chaveiros, copos, porta-
cartão, porta-canetas e objetos para escritórios em geral. São esculpidos
nomes, flores, símbolos, mas em sua maioria são desenhos que representam a
fauna sul-mato-grossense.( Figura 15).
62
Durante as entrevistas, Ariele Bento Gonçalves relatou que em anos
anteriores o processo de produção, desde o entalhe nos ossos até o
acabamento final da peça, era realizado por um único artesão. Hoje a produção
é em série e cada um fica responsável por uma etapa do processo, pois assim
agiliza-se o processo de finalização das peças.
Para finalizar as peças, são lixadas com lixa fina e recebem um
acabamento de cera líquida para proporcionar um efeito espelhado.
Figura 16. Peças finalizadas. Fonte: Arquivo da autora (2013).
Condições de Trabalho
Nas etapas de produção foi observada a utilização de ferramentas de
risco, além do manuseio com produtos químicos. Constatou-se, também, no
local e mediante registro fotográfico, que as artesãs não utilizam os
equipamentos de proteção de forma adequada e com regularidade.
As artesãs têm consciência de que devem usar, até porque os
equipamentos estão disponíveis no programa, mas alegam que o uso dificulta o
manuseio no momento de trabalhar com lâminas de osso mais finas.
Neste sentido, acreditamos que esses cuidados com a segurança devem
ser levados em conta, pois, uma vez que o acidente ocorre, elas não têm
respaldo da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), e mesmo direitos da
Previdência Social, em razão de que são trabalhadores ainda em condições
informais.
63
O direito à saúde significa o direito à integridade física e funcional
(inclusive mental), à uma alimentação balanceada, ao vestuário, à moradia, ao
saneamento básico, à proteção do meio ambiente, entre outros (SILVA, 2008).
Equipamentos de proteção individual – EPIs
O artigo 166 da CLT dispõe que a empresa é obrigada a fornecer,
gratuitamente, o equipamento de proteção individual (EPI) adequado ao risco e
em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas
de ordem geral não ofereçam completa proteção contra as ameaças de
acidentes e danos à saúde do(a)s empregado(a)s (PADILHA, 2001). A NR- 6
assim define equipamento de proteção individual (EPI):
Para fins de aplicação desta Norma Regulamentadora (NR), considera-se Equipamento de Proteção Individual (EPI), todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança.
As artesãs vivem na zona urbana do município de Jardim (MS). A rotina
de trabalho inicia-se às 8h e se estende às 17h30min. Porém, a jornada de
trabalho varia de acordo com as conveniências individuais, com os dias da
semana e com a época do ano. Nos fins de semana, quando o movimento é
mais intenso, e na época de maior fluxo turístico, as artesãs permanecem
ainda mais tempo nos espaços que, atualmente, encontram-se improvisados. No que se refere às horas trabalhadas, há que se destacar que a
jornada de trabalho é de oito horas. Todavia quando há muitos pedidos e com
prazos restritos de entrega estabelecidos previamente pelo comprador, as
artesãs trabalham mais que oito horas diárias.
Cabe ressaltar que a produção do artesanato em osso realizado no
Programa Mãos à Obra no município de Jardim (MS) incorpora uma divisão de
trabalho no seu processo produtivo, visando um aumento da produtividade
associado à técnica de acabamento perfeito, o que torna, assim, seu produto
mais competitivo e melhor aceito em outras regiões do país.
64
Considerações finais Partindo do pressuposto de que as aglomerações de atividades
produtivas são uma alternativa de desenvolvimento local, podemos ressaltar
que o estímulo à atividade de artesanato no município de Jardim (MS) deve ser
encarado como alternativa exequível. Destacamos que o mesmo resulta de
uma ação oriunda da própria localidade, alcançado por meio de ações dos
próprios cidadãos, que agem como catalisadores do processo de
desenvolvimento, e que expressam uma consciência de pertencimento local.
O apoio à atividade artesanal na região de Jardim (MS) deve ser
contínuo, pois, além de esse setor ser gerador de emprego e renda, existem
vários fatores positivos que o impulsiona como, por exemplo, o potencial
turístico da região, e o aproveitamento da mão-de-obra local.
O artesanato constitui uma alternativa para a inclusão social e
produtiva das comunidades carentes, contribui com o meio ambiente
recuperando resíduos sólidos de origem animal, caracterizando uma
revitalização de atividades econômicas e potencializando as vocações
produtivas da região.
Atualmente o Programa Mãos à Obra encontra-se em um espaço
provisório, aguardando a mudança para a nova sede, que se encontra em
processo de finalização, e segundo o coordenador David Ojeda, quando o
programa estiver funcionando na nova estrutura, haverá a possibilidade de
contratar 25 novos artesãos, gerando mais emprego e renda.
O processo de divisão e especialização do trabalho e de introdução
de novas tecnologias no processo produtivo fez com que os artesãos se
submetessem aos ditames de produção.
As etapas de trabalho observadas na produção do artesanato em osso
no Programa Mãos à Obra evidenciam claramente que a divisão do trabalho
direciona para uma organização técnica de caráter manufatureiro e que a
produção em série é uma das características do programa. Portanto, as
atividades realizadas nesta associação já não são artesanais, mas
manufatureiras.
65
5 Referências Bibliográficas
ALVES, G L. Arte , artesanato e desenvolvimento regional : temas sul-mato-
grossenses. Campo Grande, MS: Editora UFMS, 2014.
JARDIM (Município). Pontos Turisticos de Jardim . Cidades. 2008? Disponivel
em: <http://www.ferias.tur.br/informacoes/4189/jardim-ms.html>. Acesso em: 2-
01-2013.
______. Conheça Jardim . Cidades. Disponivel em: <http:
www.jardim.ms.gov.br>. em: 23 dez. 2012. 19h. 24min.
CENTRO de Capacitação ao Empreendedor (CAPE), Disponivel em
hthttp://www.centrocape.org.http://www.centrocape.org.br/centrocape/index.php
/projetos/projetos/88-portal-das-instituicoes#>. Acesso em: 30 out. 2013.
FUNDAÇÃO, de Cultura. Disponivel em: http://www.fundacao de
cultura.ms.gov.br < Index.php. Acesso em: 30 out. 2013.
GUEDES, R. Atuação do Sebrae no artesanato: dez anos de aprendizado e
sucesso. Artesanato : um negócio genuinamente brasileiro. Sebrae, São Paulo,
v. 1, n. 1, p. 12-3, nov. 2008. (Edição comemorativa 10 anos)
PADILHA, N. S. Do meio ambiente do trabalho equilibrado. São Paulo: LTR,
2002.
PANTANAL, BRASIL (2012). <http:www.pantanal-
brasil.com/page.aspx?pagina=251.
66
PEREIRA, C. J. C. Artesanato-definições, evoluções-ação do MTb-PNA.
Brasília: Mtb, 1979.
SEBRAE. Artesanato no Sebrae . Minas Gerais, 1991. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/setor/artesanato/sobre-artesanato/artesanato-no-
sebrae>. Acesso em: 5 set. 2012.
SEBRAE. Incentivo do Sebrae ao artesanato brasileiro. Campo Grande, MS.
Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/setor/artesanato/sobre-
artesanato/artesanato-no-sebrae/integra_bia/ident_unico/649>. Acesso em: 5
set. 2012.
SANTOS, G. A. G.; DINIZ, E. J.; BARBOSA, E. K. Aglomerações, Arranjos
Produtivos Locais e Vantagens Competitivas Locacionais. Revista do BNDES ,
Rio de janeiro, v. 11, n. 22, p. 151-179, dezembro 2004.
SILVA, J.A.R.O. A saúde do trabalhador como um direito humano :
conteúdo essencial da dignidade humana. São Paulo: LTr. 2008.
SILVA, A. L. G. Interdisciplinaridade na temática indígena: aspecto s
teóricos e práticos da educação arte e cultura. 2013, 169 fls. Tese
(Doutorado em Educação). Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP.
67
Conclusão Geral A análise realizada e descrita no primeiro artigo; a reflexão resultante das
leituras que trataram sobre os conceitos de artesanato, sobre teoria do
desenvolvimento local, bem como de aglomerações produtivas na forma de
arranjos e as contribuições dos diversos autores possibilitaram o embasamento
teórico para a construção das seções seguintes deste trabalho. Sendo assim,
no que se refere ao desenvolvimento local (DL), de modo simples, podemos
entender que esse é um modelo que passa a ser estruturado a partir de atores
locais.
É de se notar que a tentativa de promover o DL vem sendo
constantemente estimulada pelas prefeituras, por meio de práticas voltadas
para atender à demanda do mercado.
O panorama dessa atividade é relevante para a região. Dessa maneira,
pode-se salientar que o apoio ao artesanato é uma boa alternativa para se
tentar alcançar o desenvolvimento local, isso porque o setor apresenta
princípios básicos como a geração de emprego e de renda para populações
com baixa qualificação profissional.
No segundo artigo deste trabalho, referente à organização técnica do
artesanato em osso, foram feitas reflexões acerca da divisão do trabalho, da
manufatura, das relações associativistas e da aproximação ou afastamento da
essência do fazer artesanal.
Foi observado in loco, na oficina do artesanato em osso, que o projeto
tem elevado interesse em ampliar o mercado. Atualmente existem muitos
pedidos, e, para atender a demanda do mercado nacional e internacional a
oficina tem que trabalhar de forma manufatureira.
As etapas de trabalho observadas na produção do artesanato em
osso, no Programa Mãos à Obra, evidenciam claramente que a divisão do
trabalho direciona para uma organização técnica de caráter manufatureiro e
que a produção em série é uma das características do programa. Portanto, as
atividades realizadas nessa associação já não são artesanais, mas
manufatureiras.
Dentro dessa perspectiva, podemos destacar a importância das
exposições e feiras enquanto principal espaço de divulgação e de distribuição
68
dos produtos artesanais nas diferentes escalas do país (municípios, estados ou
regiões). Estas se constituem como acesso estratégico para a sobrevivência e
manutenção do fazer artesanal de grande parte dos artesãos, como foi
observado durante a pesquisa, sem, entretanto, desconsiderar-se a
significativa importância dos pontos fixos e permanentes de exposição.
Atualmente, o Programa Mãos à Obra acontece em um espaço
provisório, aguardando a mudança para a nova sede, que se encontra em
processo de finalização. Segundo o coordenador David Ojeda, quando o
programa estiver funcionando na nova estrutura, haverá a possibilidade de
contratar 25 novos artesãos, gerando mais emprego e renda.
Diante do exposto, é possível destacar que as possibilidades de
melhoria dos programas de artesanato e as possíveis transformações no
segmento não se esgotam por aqui. Projetos de desenvolvimento, que
melhorem a visibilidade do Projeto Mãos à Obra, que elevem o padrão de
qualidade e viabilizem a expansão de seu mercado irão contribuir para o
fortalecimento desse arranjo produtivo de artesanato em osso.