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    THIAGO DE SOUZA DIAS

    ARTIGO

    Batismo com Espirito Santo

    Artigo apresentado atendendo s

    exigncias da matria Teologia

    Sistemtica, curso Bacharel em

    Teologia, do Seminrio Rev. Jos

    Manoel da Conceio.

    Seminrio Teolgico Presbiteriano Rev. Jos Manoel da Conceio

    So Paulo, 26 de outubro de 2011.

    3 ano matutino

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    INTRODUO

    O Esprito Santo hoje tem sido um dos assuntos mais controvertidos

    dentro do cristianismo. Uma das grandes crticas feitas que durante anos o

    Esprito Santo foi ignorado nos estudos teolgicos, pois muitas sistemticasno possuam um lcus especfico sobre Pneumatologia1.

    Apesar desta crtica, ser em parte verdadeira, no se pode concluir que

    o Esprito Santo foi descoberto apenas no sculo XX, pois apesar de no

    possuir um lcus especfico nas sistemticas, ele era abordado em diversas

    categorias da Sistemtica e diversas obras sobre o assunto foram publicas2.

    Hoje, entretanto, o quadro outro, o Esprito Santo tem sido o assunto

    do momento. Alis, alguns consideram que h at uma nfase exagerada.

    Sinclair B. Ferguson chega a dizer:

    Alis, possvel imaginar que o pndulo, at ento, tem

    oscilado na direo de uma obsesso to intensa pelos

    poderes do Esprito Santo, que um enorme volume de livros

    sobre o Esprito Santo tem sido uma realidade e grande anseio

    da parte de muitos3.

    Essa nfase exagerada no Esprito Santo fruto da influencia do

    Pentecostalismo, que so hoje os maiores em nmeros no Brasil juntamente

    com os neopentecostais4.

    O Pentecostal tem como predominncia em sua teologia a crena no

    Batismo com o Esprito Santo como sendo distinto da converso e a

    contemporaneidade de todos os dons. H muita nfase na experincia em

    detrimento das Escrituras. Alis, o prprio nascimento do movimento

    Pentecostalismo que se deu nos EUA no Avivamento da Rua Azuza foi

    marcado pelas experincias com Deus.

    1 A Teologia Sistemtica de Louis Berkhof, que uma referencia no estudo teolgico no Brasil, porexemplo, no traz um lcus especfico de Pneumatologia. Entretanto, antes de acusarmos taisestudiosos precisamos compreender o contexto que eles viveram e os confrontos teolgicosenfrentados por eles.2Joo Calvino, por exemplo, considerado o Telogo do Esprito.3FERGUSON, Sinclair B. O Esprito Santo. Trad, Valter Graciano Martins. So Paulo: Editora Os Puritanos,

    2000. p. 9.4

    A Revista Veja disponibilizou um levantamento de nmeros de evanglico um breve histrico dasIgrejas Evanglicas no Brasil. Onde h Disponvel emhttp://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/evangelicos/em_resumo.html#2.

    http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/evangelicos/em_resumo.html#2http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/evangelicos/em_resumo.html#2http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/evangelicos/em_resumo.html#2
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    O presente artigo, dentro da sua limitao, buscar analisar os

    fundamentos bblicos para o Batismo com Esprito Santo e avaliar se a

    concepo Pentecostal correta ou no. O artigo encontra-se dividido em trs

    partes:

    Na primeira parte, temos a exposio da esperana escatolgica

    presente no Antigo Testamento do derramamento do Esprito Santo e como

    podemos relacionar esta expectativa com a existncia do Esprito Santo no

    Antigo Testamento.

    Na segunda parte, h uma avaliao do cumprimento histrico do

    derramamento do Espirito Santo em Atos 2 e o que ele representou para a

    Igreja Crist.

    A terceira parte dedicada a analisar os textos usados pelos

    Pentecostais que possivelmente daria margem para compreender o Batismo

    com Espirito Santo sendo uma segunda Beno. Por fim, o artigo conclui com

    uma avaliao do estudo apresentado demonstrando que uma compreenso

    adequada do Espirito Santo salutar para a vida crist.

    1. A PROMESSA DO DERRAMAMENTO DO ESPRITO SANTO

    Leandro Lima declara que a vinda do Esprito marcaria uma nova era

    para o mundo, e especialmente para a igreja5. De fato o derramamento do

    Esprito Santo uma promessa escatolgica presente no Antigo Testamento,

    pois podemos perceber diversos textos que apontam para uma realidade

    futura, onde o Esprito Santo seria derramado. Isaias 44.3, por exemplo,

    declara: Assim diz o Senhor, que te criou, e te formou desde o ventre, a e quete ajuda: No temas, Jac, servo meu, amado, a quem escolhi. Porque

    derramarei gua sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca; derramarei o

    meu Esprito sobre a tua posteridade e a minha bno, sobre os teus

    descendentes; e brotaro como a erva, como salgueiros junto s correntes das

    guas. Um dir: Eu sou do Senhor; outro se chamar do nome de Jac; o outro

    ainda escrever na prpria mo: Eu sou do Senhor, e por sobrenome tomar o

    5LIMA, Leandro Antonio de. Razo da esperana: Teologia para hoje. So Paulo: Cultura Crist, 2006,p.412

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    nome de Israel.Ezequiel 36.25-27 corrobora dizendo: Ento, aspergirei gua

    pura sobre vs, e ficareis purificados; de todas as vossas imundcias e de todos

    os vossos dolos vos purificarei. Dar-vos-ei corao novo e porei dentro de vs

    esprito novo; tirarei de vs o corao de pedra e vos darei corao de carne.

    Porei dentro de vs o meu Esprito e farei que andeis nos meus estatutos,

    guardeis os meus juzos e os observeis. Possivelmente a profecia mais

    conhecida quanto ao derramamento do Esprito encontra-se em Joel 2.28-29:

    E acontecer, depois, que derramarei o meu Esprito sobre toda a carne;

    vossos filhos e vossas filhas profetizaro, vossos velhos sonharo, e vossos

    jovens tero vises; at sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu

    Esprito naqueles dias.

    Esta expectativa encontra-se tambm presente no Novo Testamento.

    Aps 400 anos de silencio proftico, Deus levantou Joo Batista o qual

    declarou que depois dele viria um que batizaria com o Espirito Santo (Mc 1.8) e

    o mesmo Joo Batista declara que este era Jesus: E Joo testemunhou,

    dizendo: Vi o Esprito descer do cu como pomba e pousar sobre ele. Eu no o

    conhecia; aquele, porm, que me enviou a batizar com gua me disse: Aquele

    sobre quem vires descer e pousar o Esprito, esse o que batiza com o

    Esprito Santo (Jo 1.33). Entretanto, Jesus declarou que o Esprito s seria

    derramado depois que Ele fosse (Jo 7.38,39; 16.7) e aps a sua ressureio

    ordenou aos apstolos a no sarem de Jerusalm at o derramamento do

    Esprito Santo: E, comendo com eles, determinou-lhes que no se

    ausentassem de Jerusalm, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual,

    disse ele, de mim ouvistes. Porque Joo, na verdade, batizou com gua, mas

    vs sereis batizados com o Esprito Santo, no muito depois destes dias (At

    1.4-5), promessa essa que se cumpriu em Atos 2.

    Toda esta expectativa quanto ao derramamento do Esprito Santo no

    significa que o mesmo no estava presente no Antigo Testamento, conforme

    podemos ver a seguir.

    1.1 O Esprito Santo no Antigo Testamento

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    O Esprito Santo, que eternamente procedente do Pai e do Filho6-7,

    como a terceira pessoa da trindade no estava ausente durante todo o Antigo

    Testamento8-9, pois ele no uma criatura de Deus que veio a existir no Novo

    Testamento, mas ele Deus10e estava em atividade desde a eternidade.

    A atuao do Esprito Santo no Antigo Testamento pode ser vista, por

    exemplo, nos seguintes aspectos:

    a) Na criao11-12-13-14e Providncia.

    No relato da criao de Genesis 1 encontramos a expresso e o

    Esprito (x:Wr)pairava sobre as aguas, que deve ser entendido como o Esprito

    Santo. Nas palavras de Sproul poderamos dizer que parte da obra do Esprito

    voejar sobre a criao, mantendo as coisas intactas. Quanto a isso, vemos

    o Esprito Santo como divino Preservador e Protetor. O Esprito, pois opera,

    afim de manter aquilo que o Pai trouxe a existncia 15. Louis Berkhof

    argumentando sobre a criao reconhece a atuao da trindade e declara: A

    segunda e a terceira pessoas no so poderes dependentes ou meros

    6Cf. WESTMINTER, Confisso de F. Seco III.

    7 Cf. in: COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Eu Creio no Pai, no Filho e no Esprito Santo. So Paulo:Edies Parakletos, 2002. p. 411-412.8Cf. in: LIMA, Leandro Antnio de. Razo da esperana: Teologia para hoje. So Paulo: Cultura Crist,

    2006, p.414.9 Cf.in: STOTT, John. Batismo e Plenitude do Esprito Santo: o mover sobrenatural de Deus. 3ed. SoPaulo: Vida Nova, 2007. p. 24.10

    Sobre a divindade do Esprito Santo, Hermisten Maia apresenta argumentos relevantes, dos quaisreproduzo alguns deles: O Esprito chamado Deus (At 5.3-4); Recebe nomes divinos (Ex 17.7, Hb 3.7-9,Nm 12.6, 2Pe 1.21); Perfeies Divinas so-lhe atribudas: santidade (Jo 14.26, Is 63.10), onipresena eimensido (Sl 139.7-10, Jr 23.24), onipotncia (Lc 1.35, Rm 15.19), oniscincia (Is 40.13-14, Rm 11.34,1Co 2.10-11, Jo 16.13, 2Pe 1.21), Liberdade soberana (1Co 12.11, Hb 2.4), eternidade (Hb 9.14, Gn 1.2),glria (1Pe 4.14), graa (10.29), vida (1Co 15.45, Rm 8.11); Realiza Obras Divinas: criao (Gn 1.2-3, J

    33.4, Sl 33.6), preservao e governo (J 26.13), inspirao das Escrituras (2Pe 1.20, 21; 2Tm 3.16),regenerao (Jo 3.5-6, Tt 3.5), revela os eventos futuros (Lc 2.26, Jo 16.13, At 11.28), ressureio (Rm8.11, 1Pe 3.18), confere dons (1Co 12.4-11), governa a Igreja (At 15.28), iluminao (Ef 1.17, 18),santificao (2Ts 2.13, 1Pe 1.2), milagres (Mt 12.28); Adorado (Lc 2.25-29; At 4.23-25; At 1.16, 20; Ef2.18); colocado em Igualdade com o Pai e o Filho (Mt 28.19, 2Co 13.13); Peca-se Contra o Esprito (Mt12.31-32); O Templo do Esprito o Templo de Deus (Rm 8.9-10, 1Co 3.16; 6.19). Cf.in COSTA, HermistenMaia Pereira da. Eu Creio no Pai, no Filho e no Esprito Santo. So Paulo: Edies Parakletos, 2002. p.398-410.11Cf.in: PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard Frederic ; REA, John: The Wycliffe Bible Encyclopedia. MoodyPress, 1975; 200512

    Cf. in: FERGUSON, Sinclair B. O Esprito Santo. Trad, Valter Graciano Martins. So Paulo: Editora OsPuritanos, 2000. p. 20.13

    Cf. in: SPROUL, R.C. O Mistrio do Esprito Santo. 2 ed.So Paulo: Cultura Crist, 2002. p. 61-7414Cf. in: TENNEY, Merrill C. (Org). Enciclopdia da Bblia So Paulo: Cultura Crist, 2008. p. 537.15

    Cf. in: SPROUL, R.C. O Mistrio do Esprito Santo. 2 ed.So Paulo: Cultura Crist, 2002. p. 69.

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    intermedirios, mas sim, Autores independentes, juntamente com o Pai16.

    Charles Hodge ao falar sobre o Esprito Santo declara: Era ele quem pairava

    sobre as guas e transformou o caos em ordem. Era ele quem deu vestimenta

    aos cus. ele que faz a relva crescer17. Outros textos bblicos apontam o

    Esprito Santo como atuante na criao: J 26.13; 33.4; Sl 104.30; Is 40.12-13.

    b) Nas Capacitaes especiais18

    Autores como Leandro Lima19, Hermisten Maia20, David Martyn Lloyd-

    Jones21, lanam luz ao citar exemplos de pessoas que so apresentadas no

    Antigo Testamento como capacitadas pelo Esprito para realizar determinadas

    tarefas. Por exemplo, Bezalel foi capacitado para trabalhar nos objetos a serem

    usados no Tabernculo (Ex 31.3-5); Sanso foi cheio do Esprito para realizarprdigios (Jz 14.6). O Antigo Testamento descreve tambm a atuao do

    Espirito nas escolhas dos lderes de Israel, por exemplo, no auge dos Juzes

    (3.10; 6.34), na escolha dos reis Saul (1Sm 10.1-13) e Davi (1Sm 16.13), e em

    Zorobabel, aps o Exlio (Zc 4,6)2223.

    Entretanto, precisamos separar a uno para realizar determinadas

    funes com o aspecto da Salvao.

    c) Na Salvao e Santificao

    O processo de salvao dos crentes do Antigo Testamento no deve ser

    entendida como diferente das descritas no Novo Testamento. Alis, um

    equvoco fazer esta dicotomia, pois a regenerao impossvel sem atuao

    do Esprito Santo. John Owen, considerado um dos prncipes do puritanismo,

    declara: A regenerao pelo Esprito Santo a mesma obra, do mesmo tipo, e

    16LOUIS, Berkhof. Trad. Odayr Olivetti Teologia Sistemtica. Campinas: Luz Para o Caminho Publicaes,

    1990. p. 130.17HODGE, Charles. Teologia Sistemtica. Trad. Valter Martins. So Paulo: Hagnos, 2001. p. 394.18 Cf.in: STOTT, John. Batismo e Plenitude do Esprito Santo: o mover sobrenatural de Deus. 3ed. SoPaulo: Vida Nova, 2007. p. 2419

    Cf.in: LIMA, Leandro Antnio de. Razo da esperana: Teologia para hoje. So Paulo: Cultura Crist,2006, p.414-41520 Cf.in: COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Eu Creio no Pai, no Filho e no Esprito Santo. So Paulo:Edies Parakletos, 2002. p. 41421

    Cf.in: LLOYD-JONES, David Martyn: God the Holy Spirit. Wheaton, Ill. : Crossways Books, 1997, p. 3022

    Cf.in: FREEDMAN, David Noel; MYERS, Allen C.; BECK, Astrid B.: Eerdmans Dictionary of the Bible.Grand Rapids, Mich. : W.B. Eerdmans, 2000. p. 601.23

    Cf.in: GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemtica. So Paulo: Vida Nova, 1999. p. 532.

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    realizada pelo mesmo poder do Esprito em todos os que so regenerados, ou

    foram, ou sero regenerados, do incio do mundo at o seu final24.

    A dificuldade de compreender como sendo igual atuao do Esprito

    na salvao ou santificao dos crentes tanto do Antigo Testamento como doNovo Testamento, se d por uma interpretao equivocada do texto de Joo

    14.16,17 que afirma que o Esprito Santo no habitava dentro dos crentes no

    Antigo Testamento. Entretanto, a presena do Esprito Santo nos crentes do

    Antigo Testamento visto na declarao feita por Davi no Salmo 51.11 No

    me repulses da tua presena, nem me retires o teu Santo Esprito. Lloyd Jones

    ao comentar este verso declara:

    Agora aqui estava um homem sob a dispensao do AntigoTestamento, um homem antes do Pentecostes, e ele orou para que

    Deus no levasse o Seu Esprito dele. E o que aconteceu com Davi

    era, claro, igualmente verdadeiro para todos os crentes do Antigo

    Testamento, como Abrao, Isaac e Jacob. Todos esses santos do

    Velho Testamento eram crentes e cidados do reino de Deus, e,

    obviamente, voc no pode ser qualquer uma dessas coisas sem o

    Esprito Santo25

    .

    Alm disso, outros textos bblicos descrevem pessoas cheias do Esprito

    Santo antes do derramamento histrico de Atos 2. Por exemplo: Joo Batista

    descrito como algum que seria cheio do Esprito Santo j no ventre Materno

    (Lc 1.15), Zacarias descrito como ficando cheio do Esprito Santo (Lc 1.63),

    Simeo descrito como algum que o Esprito estava sobre ele (Lc 2.25).

    2. O cumprimento Histrico do Derramamento do Esprito Santo

    O derramamento do Esprito Santo se cumpriu em Atos 2, por ocasio

    do Dia do Pentecostes. Ele foi um marco para Igreja, no no sentido que foi o

    surgimento do Esprito Santo, mas sim que foi o cumprimento da promessafeita no decorrer do Antigo Testamento e como evidencia do inicio de uma nova

    era para a Igreja de Cristo. O Prprio apstolo Pedro declara no seu sermo

    que o tinha ocorrido era o cumprimento da profecia de Joel 2: Mas o que

    ocorre o que foi dito por intermdio do profeta Joel: E acontecer nos ltimos

    dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Esprito sobre toda a carne; vossos

    filhos e vossas filhas profetizaro, vossos jovens tero vises, e sonharo

    24

    OWEN, John. Apud. HULSE, Erroll. O Batismo do Esprito Santo.3 ed.So Jos dos Campos: EditoraFiel, 2006. p. 102.25

    LLOYD-JONES, David Martyn: God the Holy Spirit. Wheaton, Ill.: Crossways Books, 1997, p. 31.

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    vossos velhos; at sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei

    do meu Esprito naqueles dias, e profetizaro. Mostrarei prodgios em cima no

    cu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaa. O sol se

    converter em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso

    Dia do Senhor. E acontecer que todo aquele que invocar o nome do Senhor

    ser salvo.

    O derramamento do Esprito Santo, registrado em Atos 2.1-4, foi

    marcado por alguns sinais: Som como de um vento impetuoso e lnguas como

    de Fogo. difcil precisar o que estas imagens simbolizam. Kistemaker

    entende que o vento simboliza o Esprito Santo, que enche a casa onde os

    crentes esto reunidos, o Som do vento denota o poder celestial e seu cartersbito revela o princpio de um acontecimento sobrenatural, j o fogo smbolo

    da presena de Deus em relao santidade, ao juzo e a graa26.

    Um fato importante a destacar que ao contrrio da pregao

    pentecostal, o derramamento do Esprito ocorreu sem nenhuma busca

    especfica por parte dos apstolos. O texto de Atos 2.1-4 nem menciona que

    eles estavam orando, mas apenas que eles estavam assentados. Frederick

    Daler Bruner ao comentar esta passagem diz que Lucas intencionalmente nomenciona orao, para deixar claro que o Batismo com Espirito Santo vem de

    Deus sem nenhuma participao humana27.

    O derramamento do Esprito Santo, registrado em Atos 2.1-4, conforme

    Richard Gaffin Jr nos lembra, faz parte dos atos concernente Histria da

    Salvao e no a Ordem da Salvao, por isso ele no um modelo a ser

    buscado, mas sim um fato realizado na histria em prol da salvao do povo de

    Deus, juntamente com a encarnao, morte e ascenso de Cristo28

    . BrianSchwertley segue essa mesma ideia ao declarar: A morte de Cristo, sua

    ressureio, ascenso e derramamento do Esprito Santo na igreja, todos so

    tratados nas Escrituras como eventos histricos da histria da salvao, que

    26Cf. in: KISTEMAKER, Simon. Comentrio do NovoTestamento: Atos. So Paulo: Cultura Crist, 2006. p.109.27

    Cf.in: BRUNER, Frederick Dale. Teologia do Esprito Santo. 2ed. Trad. Julio Paulo Tavares Zabatiero.

    So Paulo: Vida Nova, 1986. p. 130.28 Cf.in: GRUDEM, Wayne A. (Org.) Cessaram os Dons espirituais? 4 pontos de vistas. Trad. GordonChown. So Paulo: Vida Nova, 2003. p.31.

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    no mais se repetem29. Por isso, podemos concordar com Leandro Lima:

    pedir que Deus nos d o Esprito Santo, seria algo semelhante a pedir que

    Deus faa Jesus morrer de novo30.

    2.1. Consequncia do Derramamento do Esprito Santo

    Um questionamento comum : Se o Esprito j habitava no crente no

    Antigo Testamento, o que mudou ento com o derramamento em Atos 2?

    Erroll Hulse buscando responder a este questionamento declara que

    primeiramente houve o estabelecimento de uma ordem inteiramente nova e

    que em segundo lugar houve uma diferena de grau na obra do Esprito Santo

    em clareza, intimidade e abundancia31.

    A nova ordem na concepo de Erroll Hulse o estabelecimento da

    igreja como povo de Deus: o corpo de Cristo, pois agora, pelo Esprito, Cristo

    est com todo o seu povo, em todas as naes32. Grudem destaca que o

    Esprito Santo o unificador da Igreja33, por isso que aps o Pentecostes a

    Igreja de Cristo una, independente da nacionalidade. Abraham Kuyper ilustra

    esta diferena com as seguintes palavras:

    As poucas chuvas do Esprito Santo desciam sobre Israel antiga emgotas de graa salvadora, mas de tal maneira que cada um recolhia achuva celeste s para si mesmo, para matar a sede de cada coraoseparadamente. Assim foi at a vinda de Cristo. Ento ocorreu amudana, pois ele reuniu em sua Pessoa, a correnteza toda doEsprito Santo para todos ns. Com ele, todos os santos so ligadospelos canais da f. Quando, depois de sua ascenso, essa conexocom os santos ficou completa e ele recebeu o Esprito Santo do Pai,ento o ltimo obstculo foi removido e a correnteza plena deste veiojorrando impetuosamente atravs dos canais para o corao de cadacrente34.

    Kuyper conclui essa ideia dizendo que: O fato essencial do Pentecostesconsistiu em que, nesse dia, O Esprito Santo entrou pela primeira vez no corpo

    29Cf.in: SCHWERTLEY, Brian. O Movimento Carismtico e as Novas Revelaes do Esprito. Trad. RonaldoPernambuco. So Paulo: Editora Os Puritanos, 2000. p. 12.30

    Cf.in: LIMA, Leandro Antnio de. Razo da esperana: Teologia para hoje. So Paulo: Cultura Crist,2006, p.421.31Cf.in: HULSE, Erroll. O Batismo do Esprito Santo.3 ed.So Jos dos Campos: Editora Fiel, 2006. p. 104.32

    Cf.in: Cf.in: HULSE, Erroll. O Batismo do Esprito Santo.3 ed.So Jos dos Campos: Editora Fiel, 2006.p. 104.33

    Cf.in: GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemtica. So Paulo: Vida Nova, 1999. p. 540.34KUYPER, Abraham. A Obra do Esprito Santo. Trad. Neuza Batista da Silva. So Paulo: Cultura Crist,2010. p. 154-155.

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    orgnico da Igreja e os indivduos passaram a beber no mais cada um por si,

    mas todos juntos em unio35. Leandro Lima contrasta a unidade estabelecida

    no Pentecostes com a diviso de lnguas em Babel ao declarar:

    Podemos ver o Pentecostes como um tipo de Babel invertida.Naquele dia, a Igreja composta de todas as naes se reuniu numnico corpo. Foi por isso que o dom de lnguas foi concedido. Aslnguas de todos os povos foram unidas no dia do Pentecostes,simbolizando a unidade da igreja em todas as naes e no maisapenas dentro dos limites de Israel. As lnguas haviam sido divididaspor ocasio da torre de Babel como um juzo de Deus contra asoberba humana, mas no Pentecostes foram reunidas, demonstrandoa unidade do povo de Deus36.

    No segundo aspecto, a diferena de grau da atuao do Esprito Santo

    antes e depois do Pentecostes, Erroll Hulse argumenta que houve uma maiorclareza quanto s verdades bblicas, pois logo aps o Pentecostes os

    discpulos compreenderam os aspectos do Antigo Testamento. Outro aspecto

    que houve uma maior intimidade com o Deus Trino e por fim houve uma

    abundancia maior do Esprito Santo e uma diversidade maior de pessoas37.

    Evidentemente que o derramamento do Esprito Santo marcou uma nova

    era, pois agora ele vem sobre todos os verdadeiros crentes para realizar um

    ministrio mais amplo e profundo jamais realizado no Antigo Testamento38

    .Lembremos que antes, a capacitao do Esprito Santo para os ofcios de

    Sacerdote, Reis e Profeta era restrito apenas algumas pessoas, entretanto

    aps o Pentecostes todos so verdadeiramente Profeta, Sacerdote e Reis. O

    Catecismo de Heidelberg ao responder a pergunta 32 Por que voc e

    chamado cristo? declara:

    Porque pela f sou membro de Cristo e, por isso, tambm sou ungidopara ser profeta, sacerdote e rei. Como profeta confesso o nome

    dEle; Como sacerdote ofereo minha vida a Ele como sacrifcio vivode gratido; e como rei combato, nesta vida, o pecado e o diabo, delivre conscincia, e depois, na vida eterna, vou reinar com Ele sobretodas as criaturas39.

    35KUYPER, Abraham. A Obra do Esprito Santo. Trad. Neuza Batista da Silva. So Paulo: Cultura Crist,

    2010. p. 155.36LIMA, Leandro Antnio de. Razo da esperana: Teologia para hoje. So Paulo: Cultura Crist, 2006,p.419.37

    Cf.in: HULSE, Erroll. O Batismo do Esprito Santo.3 ed.So Jos dos Campos: Editora Fiel, 2006. p. 104.38

    Cf.in: STOTT, John. Batismo e Plenitude do Esprito Santo: o mover sobrenatural de Deus. 3ed. SoPaulo: Vida Nova, 2007. p. 29.39

    Cf.in: Catecismo de Heidelberg. Pergunta 32.

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    3. O Batismo com o Esprito Santo pode ser considerado uma

    Segunda Beno?

    Atualmente, a doutrina do Batismo com Espirito Santo tem sido

    interpretada de modos diferentes. A teologia reformada acredita que o Batismocom o Espirito Santo, conforme registrado em Atos 2, um marco histrico, e

    que desde ento, a norma que o Batismo com Esprito Santo ocorre no

    mesmo tempo da regenerao. A posio clssica do movimento Pentecostal

    entende este batismo como uma beno posterior a regenerao e que este

    deve ser buscado pelo crente. Douglas A. Oss representante da posio

    pentecostal declara que os pentecostais no acreditam que ser batizado no

    Esprito Santo uma experincia definitiva de revestimento de poder

    40

    . Eleprossegue argumentando:

    O batismo no Esprito Santo, conforme muitos pentecostais o temdefinido na sua teologia sistemtica, a primeira experincia da obrado Esprito Santo para o revestimento de poder, que inaugura umavida caracterizada por unes contnuas do Esprito. No denatureza uma vez por todas, como a regenerao

    41.

    A interpretao Pentecostal do batismo no Espirito Santo, alm de ser

    contrria a bblia, tem gerado uma diviso entre os espirituais que

    conquistaram o batismo com Espirito Santo e os crentes de segunda

    categoria que ainda no obtiveram essa beno. MacArthur comentando

    esta distino descreve:

    Ao conversar com crentes que no tiveram experincias miraculosas,ou pelo menos altamente emotivas, percebo sentimento deapreenso, desanimo e at mesmo o que poderamos chamar deintimidao. Parece-nos que a comunidade crist quase est dividida

    entre os que chegam e os que no chegaram42.

    A grande critica apresentada pelos Pentecostais a interpretao reformada o fato de que, segundo eles, o Derramamento do Espirito Santo

    em pessoas j convertidas teriam acontecido em outras partes das Escrituras,

    como Atos 2; 8; 10 e 19. Naturalmente, compreendemos que esta afirmao

    fruto de uma compreenso inadequada destes textos. Sproull lana luz a este

    40GRUDEM, Wayne A. (Org.)Cessaram os Dons espirituais? 4 pontos de vistas. Trad. Gordon Chown. So

    Paulo: Vida Nova, 2003. p.255.41

    GRUDEM, Wayne A. (Org.)Cessaram os Dons espirituais? 4 pontos de vistas. Trad. Gordon Chown. SoPaulo: Vida Nova, 2003. p.255.42

    MACARTHUR, John F. Jr. Os Carismticos.5 ed.So Jos dos Campos, 2002. p.6

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    tema ao declarar que os episdios subsequentes do batismo do Esprito

    Santo, depois do Pentecostes devem ser entendidos como uma extenso do

    Pentecostes, por meio da qual todo o Corpo de Cristo recebeu dons para o

    ministrio43. Poderemos ver isto ao analisarmos cada um dos textos citados.

    a) Atos 2

    O texto de Atos 2 conforme j abordado, deve ser compreendido como

    uma descrio44do ltimo evento da histria da redeno, antes da Volta de

    Cristo45, como o cumprimento histrico da profecia do Antigo Testamento,

    como o prprio Pedro declarou em At. Entretanto, um equvoco entender at

    mesmo o Pentecostes de Atos 2 como sendo uma segunda beno, pois os

    apstolos estavam vivendo no momento de transio e poderamos dizer que,de certa forma, at aquele dia eles eram crentes nos moldes do Antigo

    Testamento, e que somente com o derramamento do Espirito Santo eles de

    fato vieram a crer e a compreender a obra de Cristo Jesus46. O prprio Pedro

    declarou que eles creram na ocasio do derramamento do Esprito Santo (At

    10).

    Um dado importante que nenhum dos 120 seguidores de Cristo

    presentes no dia de Pentecostes ficou sem receber o Batismo com o EspiritoSanto. MacArthur comentando este texto declara: O fato das lnguas terem

    pousado sobre cada um deles, mostra que todos os que estavam presentes

    receberam o Esprito naquele momento. Foi um trabalho uniforme e soberano

    de Deus em todos coletivamente, no algo procurado individualmente47.

    Alm disso, outro ponto que passa despercebido pela Teologia

    Pentecostal que no dia do Pentecostes dois grupos receberam o Batismo

    com Espirito Santo: os 120 que estavam reunidos no cenculo e os 3000

    43 SPROULL. R.C. Verdades Essenciais da F Crist: Caderno 2. Trad. Josu Ribeiro. So Paulo: Cultura

    Crist, 1999. p. 18.44John Stott chega declara: preciso repetir que a doutrina do Esprito Santo no pode ser deduzida depassagens puramente descritivas em Atos. impossvel construir uma doutrina consistente a partirdelas, porque elas no formam um padro consistente. No se pode nem deduzir uma doutrina doEsprito Santo a partir da descrio do dia de Pentecostes. Cf.in: STOTT, John. Batismo e Plenitude doEsprito Santo: o mover sobrenatural de Deus. 3ed.So Paulo: Vida Nova, 2007. p. 32-33.45

    Cf. in: LIMA, Leandro Antnio de. Razo da esperana: Teologia para hoje. So Paulo: Cultura Crist,2006, p.420.46

    Cf.in: LIMA, Leandro Antnio de. Razo da esperana: Teologia para hoje. So Paulo: Cultura Crist,2006, p.424.47

    MACARTHUR, John:Acts. Chicago: Moody Press, 1994, c1996, p. 40

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    convertidos no sermo de Pedro. Os primeiros era um grupo especial que

    estava vivendo na transio entre o Antigo e o Novo Testamento e que

    aguardava o cumprimento da promessa de Jesus. J o segundo grupo eram

    pessoas incrdulas receberam o Batismo com Espirito Santo assim que

    creram. Diante disso, Stott conclui dizendo:

    Esta distino entre os dois grupos, os 120 e os 3 mil, de granderelevncia, porque a norma para hoje, sem dvida, deve ser osegundo grupo, os 3 mil, e no o primeiro (como muitos pensam). Aexperincia dos 120 ocorreu em dois momentos diferentes,simplesmente em razo de circunstancias histricas. Eles nopoderiam ter recebido o dom pentecostal antes do Pentecostes.Todavia, estas circunstncias histricas h muito deixaram de existir.Vivemos depois dos acontecimentos de Pentecostes, como os 3 mil.

    Portanto, como eles, recebemos o perdo dos pecados e o dom oubatismo do Esprito ao mesmo tempo48.

    b) Atos 8

    O texto de Atos 8 tem sido usado pelos Pentecostais para confirmar o

    Batismo com Espirito Santo como uma beno distinta da converso. A base

    para afirmao deles que os samaritanos primeiro aceitaram a palavra e s

    depois de um tempo eles foram batizados. Entretanto precisamos considerar

    que este intervalo encontra-se relacionado com o contexto histrico49, pois o

    relato de como os Samaritanos foram includos na Igreja de Cristo. Lembremos

    que os Samaritanos e os judeus eram inimigos de longa data, por isso era

    importantssimo que os apstolos confirmassem que os samaritanos tambm

    aceitaram a Palavra, pois a Igreja est edificada sobre o fundamento dos

    Apstolos. Alis, logo em seguida o Eunuco se converte pelo ministrio do

    mesmo Filipe que pregou aos samaritanos e no h nenhum registro que os

    apstolos tiveram que orar para que ele recebesse o batismo no Esprito Santo.

    Possivelmente, Deus reservou a manifestao do Batismo exatamente para

    ratificar que os samaritanos estavam sendo includos na famlia de Deus e que

    na Igreja no deveria haver mais a distino entre samaritanos e judeus50.

    48STOTT, John. Batismo e Plenitude do Esprito Santo: o mover sobrenatural de Deus. 3ed.So Paulo:

    Vida Nova, 2007. p. 31.49

    Cf.in: MACARTHUR, John F. Jr. Os Carismticos.5 ed.So Jos dos Campos, 2002. p.90.50Cf.in: LIMA, Leandro Antnio de. Razo da esperana: Teologia para hoje. So Paulo: Cultura Crist,2006, p.422.

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    c) Atos 10

    O texto de Atos 10 a narrao da converso de um gentio: Cornlio.

    Lembremos que os judeus no aceitavam os gentios. MacArthur lana luz para

    uma melhor compreenso de como era esta relao:Se havia diviso entre judeus e samaritanos, havia um abismo

    praticamente intransponvel entre gentios e judeus. Quando um judeu

    voltava de viagem num pas gentio, ele sacudia a poeira dos seus ps

    e de suas roupas, porque no desejava trazer sujeira dos gentios

    para a Judeia. Um judeu no entrava na casa de um gentio; no

    comeria uma refeio feita por mos de gentios. E alguns judeus nem

    compravam carne cortada por um aougueiro gentio51.

    Analisando todo o captulo 10, percebemos como Deus conduziu a

    Pedro at este momento: Enviando um sonho, falando-o atravs do Esprito edando uma viso tambm a Cornlio. Deus fez tudo isso para proporcionar a

    incluso dos Gentios na Igreja de Cristo, confirmando o texto que rege todo o

    livro de Atos: mas recebereis poder, ao descer sobre vs o Esprito Santo, e

    sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalm como em toda a Judia e

    Samaria e at aos confins da terra(At 1.8). De modo que Atos 10 um marco

    para a histria da Igreja Crist, nele encontramos a evidencia de que o Esprito

    Santo no estava limitado aos judeus, mas abrangia tambm os gentios, por

    isso que nesta ocasio o derramamento do Espirito Santo foi evidenciado com

    o dom de lnguas, para que no restassem dvidas aos judeus52.

    O prprio Pedro ao explicar aos demais o ocorrido declarou: Quando,

    porm, comecei a falar, caiu o Esprito Santo sobre eles, como tambm sobre

    ns, no princpio. Ento, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: Joo,

    na verdade, batizou com gua, mas vs sereis batizados com o Esprito Santo.

    Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a ns nos outorgou quando

    cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus? (At

    11.16-17). Diante disso, poderamos concluir com as palavras de Unger: Como

    Pentecostes foi introdutrio no sentido de inaugurar uma nova era, assim Atos

    10 terminantemente no sentido de marcar a consumao desse perodo

    introdutrio e o estabelecimento do curso normal e da nova era53.

    51

    MACARTHUR, John F. Jr. Os Carismticos.5 ed.So Jos dos Campos, 2002. p.92.52Cf.in: MACARTHUR, John F. Jr. Os Carismticos.5 ed.So Jos dos Campos, 2002. p.93.53

    UNGER. Apud. MACARTHUR, John F. Jr. Os Carismticos.5 ed.So Jos dos Campos, 2002. p.94.

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    d) Atos 19

    O texto de Atos 19 novamente um relato de pessoas que esto

    passando pela transio histrica54, estes eram discpulos de Joo Batista e

    tornaram-se crists. Entretanto, um equvoco classifica-los como pessoasque receberam o Batismo com Esprito Santo aps um espao temporal da sua

    converso. Alis, pergunta feita pelo apstolo Paulo Recebestes,

    po rven tura, o Esprito Santo qu ando cr estes? pressupe que no curso

    normal dos acontecimentos o batismo com Esprito Santo simultneo a

    converso55.

    O fato a ser destacado nesta passagem que estes discpulos de Joo

    Batista ainda no eram convertidos a Cristo, pois a resposta dada por elesrevela que eles nem sabia do Esprito Santo e que viviam ainda sob o batismo

    de Joo Batista, por isso que Paulo ora para que eles recebessem o Esprito

    Santo e imediatamente batizado com gua em nome de Jesus Cristo,

    demonstrando que a real converso deles ocorreu naquele momento e no

    anteriormente como os Pentecostais alegam56.

    3.1. O Ensino nas Cartas.

    O ensino normativo sobre o Esprito Santo encontrado nas cartas de

    Paulo. Poderamos destacar dois textos importantes para compreendermos o

    batismo com Esprito Santo como algo normativo a todo verdadeiro crente, pois

    ocorre junto com a regenerao: Romanos 8.9 e 1 Corntios 12.13.

    No texto de Rm 8.9 encontramos a declarao enftica de Paulo: Vs,

    porm, no estais na carne, mas no Esprito, se, de fato, o Esprito de Deus

    habita em vs. E, se algum no tem o Esprito de Cristo, esse tal no dele .

    Este texto indica que no h meio termo: O Esprito habita e a pessoa crist,

    54Cf.in: MACARTHUR, John F. Jr. Os Carismticos.5 ed.So Jos dos Campos, 2002. p.93.55Cf.in: SCHWERTLEY, Brian. O Movimento Carismtico e as Novas Revelaes do Esprito. Trad. RonaldoPernambuco. So Paulo: Editora Os Puritanos, 2000. p. 13.56

    Erroll Hulse declara que este erro dos Pentecostais fruto de uma traduo equivocada. Ele declara:Auxiliados por errneas tradues da Bblia, esta passagem uma das mais usadas por pentecostaispara dar apoio ao argumento que reivindicam uma experincia de crise ps-converso. H tradues quedizem: Recebestes vs o Esprito Santo desde que crestes? (19.2). Muitos significados so dados palavra desde; mas o texto deveria ser: Recebeste o Esprito Santo quando crestes?. Um tempo

    coincidentemente aoristo do verbo empregado da mesma forma que em Efsios 1.13: crendo fostesselados ou ao crer fostes seladosCf.in: HULSE, Erroll. O Batismo do Esprito Santo.3 ed.So Jos dosCampos: Editora Fiel, 2006. p. 62.

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    ou o Esprito no habita e ela no verdadeiramente convertida. Se houvesse

    um grupo dos que ainda no chegaram l com respeito ao Esprito Santo,

    certamente Paulo no poderia ter usado uma expresso to exclusivista.

    Calvino comentando este texto declara que Aqueles em quem o Esprito no

    reina no pertencem a Cristo57. Stott comentando este verso declara:

    Isto torna claro que o dom do Esprito uma bno inicial euniversal, recebida quando nos arrependemos e cremos em Jesus. claro que pode haver muitas experincias mais e ricas do Esprito, emuitas unes do Esprito para tarefas especiais, mas a habitaopessoal do Esprito privilgio de cada crente, desde o incio.Conhecer a Cristo e ter o Esprito uma nica coisa58.

    O texto de 1Co 12.13, Pois, em um s Esprito, todos ns fomos

    batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. Ea todos ns foi dado beber de um s Esprito., encontra-se no contexto que

    Paulo est tratando da diversidade dos dons e contraposio com a unidade do

    Esprito, pois apesar de haver diversidades nas funes o Espirito o mesmo.

    Ao utilizar a expresso todos ns, Paulo no admite excees. Ele

    est escrevendo a uma igreja problemtica e ao generalizar que todos os

    verdadeiros crentes foram batizados com o Esprito Santo ele o faz

    deliberadamente consciente, a fim de demonstrar que embora eles fossemdiferentes e tivessem dons diversos eles tinham em comum o mesmo batismo.

    Alis, se houvesse algum na Igreja de Corinto que no fosse batizado no

    Esprito, esse seria o momento ideal para Paulo estimul-lo a buscar, o que

    no acontece nem aqui e nem em nenhum outro lugar do Novo Testamento. O

    fato que Paulo utiliza exatamente a doutrina de que todos beberam de um s

    Esprito para fundamentar a unidade da Igreja, pois conforme bem expressou

    Leandro Lima para Paulo o Batismo com Espirito Santo era um fator unificadorda igreja, e em hiptese alguma um fator diversificador59.

    Naturalmente h outros textos que apontam para a universalidade do

    Esprito na vida daqueles que de fato so crentes em Cristo Jesus, entretanto,

    57CALVINO, Joo. Romanos. Trad. Valter Graciano Martins. 2ed. So Paulo: Edies Parakletos, 2001. p.279.58

    STOTT, John R. W.: The Message of Romans: God's Good News for the World. Leicester, England;

    Downers Grove, Ill. : InterVarsity Press, 2001], c1994 (The Bible Speaks Today), p. 22459LIMA, Leandro Antnio de. Razo da esperana: Teologia para hoje. So Paulo: Cultura Crist, 2006,p.428.

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    entendo que se a doutrina do batismo com Espirito Santo fosse algo estanque

    da regenerao, com certeza haveria textos claros nas Escrituras ordenando-

    nos a buscar esta Segunda Beno.

    CONCLUSO

    O Presente artigo, apesar da sua limitao, buscou abordar um dos

    temas mais relevantes no cenrio evanglico brasileiro: O Batismo com o

    Esprito Santo. Aps demonstrar que o derramamento do Esprito era algo

    ansiado e profetizado desde o Antigo Testamento, ratificamos que o

    cumprimento histrico se deu em Atos 2, na ocasio do Dia do Pentecostes.

    Entretanto um equvoco enorme acharmos que este mesmo Esprito no

    atuasse anteriormente na vida dos crentes, pois sem Ele a regenerao e asantificao no seriam possveis.

    Analisando os principais textos que tratam do batismo com Esprito

    Santo, o artigo defendeu a posio reformada clssica de que este Batismo

    ocorre simultneo a converso.

    Entendo diante do exposto, que a compreenso Pentecostal referente a

    este assunto tem gerado no meio cristo, dois tipos de pessoas: Aqueles que

    se auto consideram mais santas, pois supostamente obtiveram uma segunda

    beno e aqueles deprimidos, que se consideram menos espirituais, pois

    buscam o batismo com Espirito Santo sem contudo obter. Por outro lado,

    reconheo que os Pentecostais trouxeram ao cenrio a necessidade de um

    estudo mais aprofundado na Pneumatologia que durante anos ficou esquecida

    pelos grandes telogos e que muitos erros cometidos pelos Pentecostais

    histricos resultado de no separar o Batismo com Esprito Santo da

    Plenitude do Esprito Santo.

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