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O Corpo
Edição n. 27
04.08.2013
ISSN: 2236-8221
Edição n. 27 Vitória da Conquista, 31.11.2013
[email protected] http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm
O corpo é discurso
Nesta edição, O corpo é discurso traz um artigo de Welisson Marques, da Universidade Federal de Uberlân-
dia; um artigo de Josuelene da Silva Souza e Rubens Edson Alves Pereira, da Universidade Estadual de
Feira de Santana e um artigo de Regina Lucia Alves de Lima e Dilermando Gadelha de Vasconcelos Neto, da
Universidade Federal do Pará. Além disso, O Corpo divulga o volume 2, número 2 da REDISCO - Revista
Eletrônica de Estudos do Discurso e do Corpo, assim como notícias ligadas à Análise do Discurso e do
universo acadêmico, no Brasil.
Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco
ISSN: 2236-8221
EXPEDIENTE DE O CORPO
Editores
Nilton Milanez
Tyrone Chaves Filho
Organizador
Tyrone Chaves Filho
Editoração eletrônica
(MARCA DE FANTASIA)
Henrique Magalhães
CONSELHO EDITORIAL
Dr. Elmo José dos Santos
(UFBA)
Dra. Flávia Zanutto (UEM)
Dra. Ivone Tavares Lucena
(UFPB)
Dra. Maria das Graças Fonseca Andrade
(UESB)
Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA)
Dr. Nilton Milanez (UESB)
Dra. Simone Hashiguti
(UFU))
Jornal de popularização científica
O corpo como veículo discursivo
Welisson Marques (PPGEL-UFU)
Já há algum tempo que muitas
pesquisas inscritas sob o viés da Análise
do Discurso de vertente francesa e reali-
zadas em nosso país têm se voltado para
objetos além do linguístico, entre estes
podemos destacar o audiovisual, a imagem
e o corpo. No que tange à mídia impressa,
não diferentemente, é relevante pontuar
que a complexidade de materiais signifi-
cantes que a constitui demanda dispositi-
vos analíticos que atendam ao sincretismo
semiótico peculiar a este tipo de objeto.
É nessa direção que queremos
refletir brevemente sobre as relações
imagem-corpo no âmbito do discurso midi-
ático impresso contemporâneo, mais espe-
cificamente tomando a política como temá-
tica. Pode soar estranha tal relação (do
corpo na mídia impressa), efetuamo-la,
pois, a partir da mobilização de imagens
por parte de sujeitos enunciadores em que
o corpo e rosto dos “avatares políticos” –
representação dos partidos a que se refe-
rem – se apresentam com determinada
regularidade.
Em outro artigo de nossa autoria
(MARQUES, 2013), refletimos brevemente
sobre as relações da semiologia com a
Análise do Discurso. Sem querer se engol-
far nesta questão, retomamo-la breve-
mente aqui em virtude de sua importância
para essa discussão, pois compreende-
mos que tais relações podem incremen-
tar os dispositivos de análise desta última
teoria. Como afirmamos outrora, isso não
significa que a AD seja inepta para inter-
pretar determinados objetos; ao contrá-
rio, é pela inerente proposta analítica de
seu objeto heteróclito que o diálogo com
a perspectiva semiológica possibilita o
incremento de seus dispositivos. Aliás, o
próprio Pêcheux, desde o surgimento da
disciplina, já considerava a problemática
das complexas relações constitutivas de
seu objeto, convidando-nos, inclusive, a
ler Roland Barthes (PÊCHEUX, [1983]
1999).
Neste ínterim, Barthes, ao lançar
os fundamentos da perspectiva semioló-
gica, deixa explícita a indispensabilidade
de se observar outros determinantes
além daquele que era seu único enfoque,
ou seja, a relação de sentidos do signo
semiológico. Em outros termos, deixa em
aberto a possibilidade (e necessidade) de
se fazer intervir outros determinantes
desses objetos: “não devemos, é certo,
negar esses outros determinantes, cada
um dos quais depende de outra pertinên-
cia; mas eles próprios devem ser trata-
dos em termos semiológicos; isto é, seu
lugar e sua função devem ser situados no
sistema do sentido” (BARTHES, [1964]
2006, p. 103-104).
Ademais, Barthes muito se aproxi-
ma da perspectiva discursiva, especial-
mente em seus últimos trabalhos quando
realiza alguns ensaios sobre imagem. É
válido destacar as rupturas de suas pes-
quisas, e que não há um Barthes apenas, o
“estrutural”, aquele conhecido especial-
mente como autor de Éléments de Sémiolo-
gie.
É nesse devir que chega a nós as
reflexões de Jean-Jacques Courtine, discí-
pulo de Pêcheux e estudioso de Foucault. É
Courtine quem cunha um conceito que, ao
nosso entender, revela-se promissor na
análise de discursos, mais especificamente
de traços, indícios e gestos que constituem
seu objeto.
Seus trabalhos (de Courtine) par-
tem, grosso modo, da análise do discurso
político e se estendem para o estudo das
substâncias da expressão do rosto e do
corpo. Como ele declara: “A história do
rosto representa uma tentativa dessa or-
dem (da semiologia histórica), uma história
do que pôde produzir signo e sentido no
rosto e na expressão, durante a idade clás-
sica, na qual as percepções são reconstru-
ídas a partir de uma tradição propriamente
semiológica” (COURTINE, 2011, p. 152).
Página 2 O Corpo
É nessa via, ou seja, sem descurar
da dimensão simbólica no funcionamento
das posturas, feições e gestos que consti-
tuem o discurso sobre política, que se nos
apresenta relevante a análise desses ma-
teriais significantes mobilizados pelo sujei-
to-enunciador ao tratar sobre seus refe-
rentes no espaço fluído de circulação de
textos que é a mídia impressa contempo-
rânea. Dito isso, se é no discurso político
que são exercidos “os mais terríveis pode-
res” (FOUCAULT, [1971] 1996, p.10), o sujeito
midiático, assumindo posição política,
“seleciona” imagens que refletem, em boa
medida, suas preferências eleitorais. Em
outros termos, elementos de ordem semi-
ológica, nessa perspectiva, não podem ser
ignorados. Se já tem sido constatado en-
tre alguns estudiosos - ver por exemplo as
pesquisas de COURTINE (2006) ou MAR-
LÈNE-GULLY (2009) - que na veiculação do
discurso político contemporâneo o corpo
do homo politicus significa muito mais do
que o verbal, sejam os gestos, semblante,
postura, ou vestimentas, só para citar
alguns dispotivos, no discurso midiático
impresso o corpo também é instrumento
de poder; significa a partir das escolhas, e
mesmo retoques, efetuados pelo enuncia-
dor em consonância ou dissonância com
os textos verbais que acompanham.
Materializado por meio da fotogra-
fia na página impressa, os rostos e corpos
dos personagens políticos não ocupam um
espaço meramente informativo, nem tam-
pouco cumprem o papel de simples adendo
ilustrativo ao texto verbal. Servem, ao
contrário, aos sujeitos que delas fazem
uso como forte ferramenta de poder assi-
nalando suas posições e assentando suas
predileções partidárias. Para o analista
cabe uma sensibilidade em observar quais
dispositivos servem-lhe no exercício des-
crição/interpretação: a análise do rosto
pode incluir o sorriso (meigo ou irônico), o
olhar (direto ou indireto ao enunciatário),
o semblante, que pode outorgar a seu pos-
suidor um aspecto de cansaço ou jovialida-
de etc.; Sobre o corpo poder-se-ia con-
templar a postura (ereta ou encurvada), a
posição dos braços e pernas, as vestimen-
tas (formais, informais, etc.); Enfim, é um
empreendimento fecundo de reconstrução
das percepções deste objeto em dada con-
juntura socio-histórica.
Atualmente é possível também
qualquer alteração em fotografia por meio
de ferramentas tecnológicas ocasionando,
por exemplo, mudança de cena, como eli-
são de fundo, transmudação de corpo,
retoque do rosto de personagens, detalhes
acrescidos, coloração, etc. As possibilida-
des são infinitas e ao enunciatário nem
sempre é possível afirmar se a fotografia
é fidedigna ao acontecimento; ou, em ou-
tros termos, se antes da veiculação, no
processo editorial, a imagem sofreu alte-
ração.
Por fim, nestas breves linhas pro-
pusemos expor que a proposta semiológica
parece adequada para sustentar análises
cuja articulação de elementos é deveras
complexa, ou seja, do linguístico (texto
verbal) e semiológico (imagens do corpo e
rosto, gestos) com suas substâncias
(cores, por exemplo) e formas
(diagramação, tamanho). Isso tudo sem
desconsiderar seu atravessamento histó-
rico e efeitos de memória agregados e
resultantes dessa junção.
REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. [1964]. Elementos de Semio-logia. Trad. De Izidoro Blikstein. 16. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
COULOMB-GULLY, Marlène. Le corps présidentiel : représentation politique et incarnation dans la campagne présidentielle de 2007. Mots - les langages du politique , n. 89,
2009, p. 25-38.
COURTINE, Jean-Jacques. Metamorfoses do discurso político. Derivas da fala pública. Trad.
Nilton Milanez; Carlos Piovezani Filho. São
Carlos (SP): Editora Claraluz, 2006. 157 p.
________. Discurso e imagens: para uma ar-
queologia do imaginário. In: SARGENTI, Vanice; CURCINO, Luzmara; PIOVEZANI, Carlos (Orgs.). Discurso, semiologia e história. São Carlos, Editora Claraluz, 2011. p. 145-162.
FOUCAULT, Michel. [1971]. A ordem do discurso.
2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996. 79 p.
MARQUES, Welisson. Discurso e Semiologia:
imbricamentos necessários. In: MARQUES, Welisson; CONTI, Maria Aparecida; FERNANDES, Cleudemar Alves. Análise do Discurso & Semio-logia: Novas materialidades. EDUFU, 2013. (No
prelo) PÊCHEUX, Michel. [1983]. O papel da memória. In: ACHARD, Pierre et al. O papel da memória. Campinas: Pontes, 1999. p. 49-57.
Edição n. 27 Página 3
O MINGUADO PÚBLICO LEITOR DO BRASIL: FIGURAÇÃO NO ROMANCE MACHADIANO
Josuelene da Silva Souza (UEFS)
Rubens Edson Alves Pereira (UEFS)
RESUMO
Pretendemos neste artigo discutir sobre o
processo histórico e sociológico da forma-
ção do leitor de textos literários e sua
expansão no Brasil do século XIX. E como o
leitor é figurado na ficção machadiana.
Para tanto, partiremos das Memórias Pós-
tumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
por apresentar uma estrutura dialógica e
provocativa na relação narrador/leitor.
Percebemos que o narrador machadiano
espiona o leitor com o seu “olhar agudo”
sempre necessitando da presença dele. Às
vezes dirige-se ao leitor como cúmplice e
fiel ora cria uma birra freqüente com ele.
O narrador utiliza-se de suas armas mais
fortes: a ironia, o sarcasmo, o ceticismo, o
cinismo estrondoso, o desmascaramento,
sobretudo, as estratégias narrativas que
vão e vem de acordo com seu papel na
narração e, interesses próprios para cha-
mar atenção do seu público leitor.
PALAVRAS-CHAVE: Público Leitor. Século
XIX. Romance Machadiano.
No Brasil, em pleno século XIX,
ainda o número de leitor encontrava-se
limitado devido a pouca circulação dos
textos literários e o restrito contato da
produção deles “com o público, atribuindo-
lhe essa situação a ausência de uma socie-
dade letrada” (GUIMARÃES, 2004, p.47),
como também, às distâncias e às dificulda-
des comunicacionais entre as regiões do
país. A Companhia de Jesus foi a grande
contribuidora para a instrução pública e
“indiretamente ampliou e trouxe as primei-
ras leituras para o Brasil. Mesmo leituras
obrigatórias e para servir de cópias aos
modelos clássicos ou eclesiásticos, aos
poucos vieram alicerçar a formação social
e literária da Colônia” (ARAÚJO, 1999, 23-
32).
O livro adquiriu no Brasil do sé-
culo XIX um significado importante na edu-
cação pública, na formação sócio-cultural,
religiosa, e no ideal das universidades,
apesar de ter sido produzido muito tardia-
mente. O livro só começou a ser impresso,
de forma sistemática no início desse sécu-
lo com o estabelecimento da Corte Portu-
guesa e a criação da Imprensa Régia no
Rio de Janeiro. A instalação dessa impren-
sa permitiu a existência de publicações
regulares, negócios com livros e publica-
ções sem que se dependesse exclusiva-
mente da importação de obras estrangei-
ras vindas de Portugal, da França e da
Inglaterra. Da segunda para terceira me-
tade do século XIX, houve um crescimento
de livrarias, gráficas e, editoras na Corte
do Rio de Janeiro. Por volta de 1840:
O Brasil do Rio de Janeiro, sede da monarquia,
passa a exibir alguns traços necessários para
a formação e fortalecimento de uma sociedade
leitora: estavam presentes os mecanismos
mínimos para produção e circulação da litera-
tura, como tipografias, livrarias e bibliotecas;
a escolarização era precária, mas manifestava
-se o movimento visando à melhoria do siste-
ma; o capitalismo ensaiava seus primeiros
passos graças à expansão da cafeicultura e
dos interesses econômicos britânicos, que
queriam um mercado cativo, mas em constan-
te progresso (LAJOLO; ZILBERMAN, 1999, p.18).
A partir da instalação da Impren-
sa Régia brasileira, deu-se uma reviravolta
na quantidade e na qualidade das obras
introduzidas no Brasil e mesmo aquelas
que constavam nas listagens de livros
proibidos, seguindo os controles e crité-
rios das autoridades portuguesas, passa-
ram a circular com certa facilidade.
Página 4 O Corpo
A partir da instalação da Imprensa
Régia brasileira, deu-se uma revi
ravolta na quantidade e na qualidade
das obras introduzidas no Brasil...
Ao longo do século XIX, tanto Machado de
Assis, Aluísio Azevedo como outros escri-
tores brasileiros estavam frustrados
com o pequeno número de leitores e as
dificuldades de circulação de suas obras
literárias. Aluísio Azevedo inconformado
com a falta de leitores faz uma declara-
ção sobre o “minguado” público leitor
desta época: “Escrever para quê? Para
quem? Não temos público. Uma edição de
dois mil exemplares leva anos para esgo-
tar-se e o nosso pensamento, por mais
original e ousado que seja, jamais se
livrará no espaço amplo [...]” (AZEVEDO,
Aluísio, 1995).
Além da falta de um público
leitor voltado para os textos literários, os
autores ainda enfrentavam outro desafio
do século: o gosto do minguado leitor
brasileiro pelas obras estrangeiras, difi-
cultando a circulação das obras nacio-
nais e, diminuindo ainda mais o público
leitor, que se restringia aos leitores de
folhetins semanais, de ciências exatas, de
compêndios filosóficos e de Retórica.
Para defender a publicação e aceitação
de sua obra literária, o escritor tinha que
atualizá-la ao gosto do grosso público
(este sustentava à atividade do artista
pela compra das obras). Tornou-se mais
evidente a escassez do público consumis-
ta de literatura no Brasil oitocentista,
fazendo com que os escritores brasilei-
ros, entre eles Machado de Assis, tivessem
consciência da falta de leitores de literatu-
ra brasileira. A partir de então, buscaram
modificar “a imagem fluida” que se fazia do
Brasil com a elaboração de uma história
literária que demonstrasse a idéia da inte-
ligência nacional, e sucessivamente, à pro-
cura de um novo tipo de leitor dotado de
agudeza diante das manobras dos roman-
ces inovadores, como é o caso das Memó-
rias Póstumas de Brás Cubas, de Machado
de Assis.
O ceticismo e a ironia na prosa
machadiana podem ser lidos como uma
resposta original a crise de representação
na sociedade ocidental. E acrescenta Ru-
bens Alves Pereira, em Fraturas do Texto –
Machado e seus leitores, a nova ficção
machadiana “revela um escritor conscien-
te de que, ao escrever, manipula discursos
e incide sobre práticas políticas, morais,
psicológicas e literárias, desvelando-
as” (PEREIRA, 1999, p. 44-45). Rubens Alves
Pereira nos afirma que, Machado de Assis
pertenceu a um grupo de escritores que
sentiu profundamente a grande crise de
representação no mundo ocidental, que
marcou boa parte do pensamento e da
produção artística da modernidade. No
processo de formação da leitura no Brasil
na segunda década do século XIX, existia o
objetivo das livrarias e dos editores como
veículos responsáveis pela leitura culta em
adentrarem em outras regiões do Brasil.
De acordo com a pesquisadora Márcia
Abreu, em seu livro: Leitura, história e
história da leitura, isso era conciliado com
a “ambição de formar ‘o seu’ público leitor
especial, com um bom índice de cultura
geral, para se realizar, prescinde da exis-
tência de uma inteligência nacional, de
seus homens de letras e de um repertório
da sua melhor literatura” (ABREU, p.492,
1999). A busca de uma formação de um
novo público leitor almejado para o século
XIX se tornou possível para ampliar e for-
talecer os horizontes da literatura nacio-
nal.
A busca de um novo público leitor
de literatura é notável no prólogo das Me-
mórias Póstumas de Brás Cubas, em que o
narrador Brás Cubas faz uma classificação
de leitores: a gente frívola e a gente grave,
depois tenta amenizar sua retórica com o
fino leitor. O narrador Brás Cubas utiliza-
se do seu discurso “latente” para atrair a
atenção do público leitor, dedicando uma
nota “Ao leitor”, na qual esse narrador e
“defunto-autor” principia o diálogo da nar-
rativa. Como podemos notar no seguinte
trecho do prólogo:
Edição n. 27 Página 5
A busca de uma formação de um
novo público leitor almejado
para o século XIX se tornou possível
para ampliar e fortalecer os horizon-
tes da literatura nacional...
A busca de um novo público
leitor de literatura é notável no prólogo
das Memórias Póstumas de Brás Cubas,
em que o narrador Brás Cubas faz uma
classificação de leitores: a gente frívola
e a gente grave, depois tenta amenizar
sua retórica com o fino leitor. O narra-
dor Brás Cubas utiliza-se do seu discur-
so “latente” para atrair a atenção do
público leitor, dedicando uma nota “Ao
leitor”, na qual esse narrador e “defunto
-autor” principia o diálogo da narrativa.
Como podemos notar no seguinte trecho
do prólogo:
Que Stendhal confessasse haver escrito um
de seus livros para cem leitores, coisa é que
admira e consterna. O que não admira, nem
provavelmente consternará, é se este outro
livro não tiver os cem leitores de Stendhal,
nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito,
dez... Dez? Talvez cinco. [...]. Acresce que a
gente grave achará no livro umas aparên-
cias de puro romance, ao passo que a gente
frívola não achará nele o seu romance usual;
ei-lo aí fica privado da estima dos graves e
do amor dos frívolos (ASSIS, 2004, p.16).
Nesse trecho, percebemos que
o narrador Brás Cubas inicia a conversa-
ção com duas representações de leito-
res: o leitor grave e o leitor frívolo. E
coloca em dúvida se sua obra literária
terá os muitos leitores que a obra de
Stendhal teve ou talvez poucos leitores.
O narrador parece chegar à desoladora
conclusão de que o que escrevia pouca
eficácia poderia alcançar em razão do
limitado círculo de leitores a que o seu
livro estava destinado. Suas memórias
estão privadas somente a leitura dos gra-
ves e dos frívolos, apenas. Chegamos à
hipótese de que o leitor frívolo caracteriza
-se por ser um leitor apressados e preci-
pitados, representando o grosso público
leitor ao se adequar ao leitor estereotipa-
do pela estética romântica. Essa represen-
tação de leitor pode ser comparada com o
“ser leitor Estevão”, personagem da obra A
Mão e a Luva, de Machado de Assis, por
fazer leituras bem apressadas, possui
idéias fluídas que nunca se fixam, sobe e
desce, de acordo com ‘a recente leitura’ ou
o seu estado intelectual. O leitor frívolo é
carregado de “puro byronismo”, por não
ser capaz de estabelecer a diferença entre
o que lê e o que vive.
Por fim, as representações de
leitores graves e os frívolos são como
afirma Brás Cubas, as duas colunas máxi-
mas da opinião. Esses leitores também são
importantes para a composição e o suces-
so das Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Por outro lado, nota-se que não são os
leitores românticos os destinatários visa-
dos por Brás Cubas, pois ele idealiza leito-
res críticos que se comportam como
“Caçadores de poços e construtores de
casas, [...]; circulam nas terras alheias,
nômades caçando por conta própria atra-
vés dos campos que não escreveram para
usufruí-los”(CERTEAU, 1994, p.269-270)
capazes de refletir sobre a narração arti-
ficiosa das memórias de Brás Cubas, cheia
de idas e vindas sempre atentos a jogada
narrativa de Brás Cubas.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Série Bom Livro. 28 edição. São
Paulo: Editora Ática, 2004.
ABREU, Márcia (Org.). Leitura, história e histó-ria da leitura. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil. São
Paulo: Fapesp, 1999.
ARAÚJO, Jorge de Souza. Perfil do leitor colo-
nial. Salvador: UFBA; Ilhéus: UESC, 1999.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura
brasileira. São Paulo: Edusp, 1975.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano:
artes de fazer; tradução de Ephraim Ferreira Alves. Nova edição, estabelecida e apresentada por Luce Giard. Petrópolis, RJ: Editora Vozes,
1994.
GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século XIX. São Paulo:
Nankin Editorial: editora da Universidade de
São Paulo, 2004.
JAUSS, Hans Robert. A literatura e o leitor: textos de estética da recepção. et al.; coorde-
nação e tradução de Luiz Costa Lima. 2 ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN. A formação da leitura no Brasil. 3 ed. São Paulo: Editora Ática,
1999.
_____________;______________. A leitura rare-feita: leitura e livro no Brasil. 1 edição. São
Paulo: Ática, 2002.
PEREIRA, Rubens Alves. Fraturas do Texto – Machado e seus leitores. Rio de Janeiro: Sette
Letras; Feira de Santana: Universidade Estadu-
al de Feira de Santana, 1999.
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. 4 ed. São Paulo:
Duas Cidades; Editora 34, 2000.
Página 6 O Corpo
Edição n. 27 Página 7
O III COGITE — Colóquio de Estudos sobre Gêneros e Texto — é um evento de divulgação de pesquisas e de discussão teórica
sobre gêneros e textos e suas relações com a vida social. As pesquisas desenvolvidas no último ano de atividade do Núcleo
são divulgadas e discutidas com outros pesquisadores e estudantes e com dois conferencistas externos convidados. O foco central do evento é possibilitar aprofundamento na temática de gêneros e textos e discutir resultados de pesquisa. A atividade
possui como objetivos principais a divulgação dos fundamentos teóricos e as ferramentas metodológicas da Teoria Retórica de Gênero e das Teorias sócio-discursivas de viés bakhtiniano, a divulgação das pesquisas produzidas no interior do Núcleo de
Pesquisa Cataphora (UFPI), notadamente aquelas que visam o estudo da forma (estrutura), do propósito e do tema dos mais
diversos gêneros, além de promover um espaço de discussão teórico-metodológica de questões que gravitam em torno das
práticas sociais de linguagem. Para obter maiores informações, acesse o site www.coloquiocogite.com.br
O II Seminário Interdisciplinar das Ciências da Linguagem, no Maciço de Baturité (II SIC), se constitui na continuação da experiência exitosa do I SIC, que foi promovido pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e pela Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), o qual aconteceu no campus da Urca, na cidade do Crato, região do Cariri cearense, de 21 a 2 3
de novembro de 2012. Na ocasião, aproximadamente 350 pessoas se reuniram para discutir os aspectos mais variados da lingua-gem, com contribuições vindas de instituições de várias partes do país, como a UFSC, a UFPB, a UECE, a UFC, a UVA, o IFRN, dentre
outras. Essa celebração da linguagem contou com 5 palestras, 14 minicursos, 8 mesas-redondas e 10 grupos temáticos.
O II SIC, a ser realizado no Maciço de Baturité, com o tema “Integrando e Interiorizando através da Linguagem”, vem continuar essa
experiência ao se fundir a um dos princípios fundadores da Unilab, a integração, e também a um dos princípios fundadores da Urca,
a interiorização, no sentido de quebrar hegemonias e deslocar a discussão acerca dos problemas da linguagem para espaços dis-tantes dos chamados eixos hegemônicos. Nessa direção, o objetivo principal do evento se traduz nessa integração e interiorização
do conhecimento, dando continuidade ao escopo político do evento de levar para regiões fora daqueles eixos as valiosas contri bui-
ções da linguagem para a formação de uma sociedade mais justa e mais igualitária. O II SIC acontecerá entre os dias 11 e 13 de De-
zembro de 2013. Para obter maiores informações, acesse o site www.2sic.unilab.edu.br
Verônica não deita: corpo e discurso na materialidade fílmica
Regina Lucia Alves de Lima (UFPA)
Dilermando Gadelha de Vasconcelos Neto (UFPA)
Introdução
Este artigo tem como objetivo
fazer uma breve análise dos discursos que
são postos em ação a partir dos corpos
das personagens da obra audiovisual para-
ense Verônica Não Deita. A partir da análi-
se de como o corpo de Verônica é constru-
ído em cena, levando em consideração a
interação com outros elementos do filme,
buscamos perceber quais discursos e
enunciados irrompem na obra e como seu
acontecimento cria determinados efeitos
de sentido.
Utilizamos como referencial teó-
rico para análise os escritos do pensador
francês Michel Foucault, o qual disponibili-
za uma série de categorias analíticas que
contribuem para a percepção das diversas
marcas discursivas presentes em materi-
alidades discursivas. Apesar dessas varia-
das categorias, por uma questão de espa-
ço, tentaremos situar, principalmente, o
conceito de discurso em Foucault, para
então procedermos à sua aplicação na
materialidade proposta.
O discurso
Como apontado na introdução, o
que buscamos observar no curta é a forma
como o corpo de Verônica, personagem
principal do curta Verônica Não Deita pa-
rece dialogar com os outros elementos do
audiovisual para criar determinados efei-
tos de sentido, os quais, por sua vez, com-
põem o discurso presente no curta-
metragem. Para tanto, é preciso clarificar
o conceito de discurso ora utilizado.
Para Foucault (2013) o discurso
seria como um nó em uma rede, como um
conjunto de acontecimentos únicos, enun-
ciados finitos, mas que se ligam a uma
série de outros acontecimentos discursi-
vos que lhe precedem e lhe sucedem, seja
de forma direta ou indireta, em uma espé-
cie de memória. Dessa forma, o discurso,
composto por enunciados
abre para si mesmo uma existência remanes-
cente no campo de uma memória, ou na mate-
rialidade dos manuscritos, dos livros e de
qualquer forma de registro; em seguida, por-
que é único como todo acontecimento, mas
está aberto à repetição, à transformação, à
reativação; finalmente, porque está ligado não
apenas a situações que o provocam, e a con-
sequências por ele ocasionadas, mas, ao mes-
mo tempo, e segundo uma modalidade inteira-
mente diferente, a enunciados que o precedem
e o seguem. (FOUCAULT, 2013, p. 35)
Tais discursos, ainda segundo o
autor, ocorrem em uma determinada or-
dem, seu acontecimento está inscrito em
um determinado momento histórico no
qual é selecionado o que pode ser dito,
mostrado, e o que deve ser ocultado sobre
os mais variados temas, como o corpo ou
a sexualidade.
Suponho que em toda sociedade a produção do
discurso é ao mesmo tempo controlada, sele-
cionada, organizada e redistribuída por certo
número de procedimentos que têm por função
conjurar seus poderes e perigos, dominar seu
acontecimento aleatório, esquivar sua pesada
e temível materialidade. (FOUCAULT, 1999, p.
9).
A partir dessa perspectiva de
discurso – como constituído por enuncia-
dos finitos, temporalmente localizados e
inscrito em uma determinada ordem –
podemos perceber os sentidos que são
criados no curta-metragem aqui analisado.
Página 8 O Corpo
Em toda sociedade a produção do
discurso é ao mesmo tempo con-
trolada, selecionada, organizada
e redistribuída
A Materialidade
O curta-metragem Verônica Não
Deita (2011) é uma obra audiovisual de oito
minutos feita em direção coletiva, como
resultado de uma oficina de prática cine-
matográfica realizado em Belém, em de-
zembro de 2010, pela produtora Caiana
Filmes. O curta conta a história de Verôni-
ca, um travesti que, apesar do maltrato e
do preconceito sofrido, não se deixa aba-
ter, “não deita”.
A produção inicia com Verônica
andando pelas ruas, a caminho de casa. Em
princípio, a única parte de seu corpo que
podemos ver são as pernas. Verônica está
vestida com um salto médio e unhas pinta-
das de vermelho. Em alguns relances de
câmera, podemos vislumbrá-la de costas,
com cabelos louros e um conjunto de saia
e blusa pretas.
O resto da trama se passa dentro
da casa de Verônica – um conjugado de
quarto e banheiro – em que se destacam
uma cama, uma banheira, uma penteadeira
e um quadro de Marilyn Monroe.
Imagem 1 – Verônica chega a seu quarto
(Fonte: Still do curta)
Como apontamos acima, o discurso é
constituído por uma série de enunciados
que criam sentido no momento de sua
irrupção, de seu acontecimento
(FOUCAULT, 2013). Dessa forma, podemos
identificar, na Imagem 1, alguns desses
enunciados. O primeiro deles pode ser
observado na própria métrica da imagem.
Enquanto Verônica ocupa o lado esquerdo
na imagem, o lado direito é preenchido por
um quadro da atriz americana Marilyn
Monroe. Fotos da atriz também estão es-
tampadas nas fronhas dos travesseiros da
cama de Verônica.
Além disso, é de se destacar o
fato de ambas usarem o cabelo louro. Na
foto de Marilyn, vemos o cabelo cuidado e
penteado, o platinado que virou um dos
ícones da estrela de Hollywood; já Verônica
usa uma peruca loura com aspecto des-
grenhado. As cores também são um ponto
importante na imagem, uma vez que, do
lado de Marilyn parece imperar o branco e
do lado de Verônica, o preto, cor de suas
roupas.
Se tentarmos perscrutar os pos-
síveis efeitos de sentidos criados por es-
ses enunciados, por esses acontecimentos
discursivos, uma das possibilidades encon-
tradas é a da separação, da polarização
entre o feminino e o homossexual/
masculino.
A construção desse discurso, que
aparece gravado no próprio corpo de Ve-
rônica – e também no corpo de Marilyn, o
qual, mesmo não presente por completo na
imagem, faz parte de nosso imaginário –
acontece pela recorrência de elementos
que deixam explícita a dicotomia acima
aventada, como na Imagem 2, em que o
cabelo é, mais uma vez, o nó criador do
sentido.
Imagem 2 – Verônica e Marilyn, sua inspi-
ração (Fonte: Still do curta)
O que vemos é uma Verônica
escondida por trás de sua peruca loura,
enquanto a foto de Marilyn aparece às
suas costas. Quase uma sombra de Verôni-
ca, não fosse o fato de o rosto da atriz
estar iluminado, enquanto Verônica, mes-
mo que em primeiro plano, aparece desfo-
cada. Seria Verônica, então, uma imitação
imperfeita da musa?
Edição n. 27 Página 9
O discurso é constituído
por uma série de enunciados
que criam sentido no momento
de sua irrupção, de seu
acontecimento
Na sequência, Verônica mostra o
rosto machucado e o salto quebrado, o
qual atira no espelho, trincando-o. É então
que retira a peruca e começa a se despir,
mostrando a cabeça raspada e o corpo
masculino. Na Imagem 3, observamos uma
Verônica com o torso nu, vestindo apenas
a saia de seu conjunto.
Mais uma vez, a personagem é
posta em confronto com duas imagens de
mulheres seminuas, em posições provo-
cantes. A diferença entre os corpos, a
“hibridez” do corpo de Verônica - entre o
masculino e o feminino – é deparada com o
corpo voluptuoso das mulheres nas gotos,
reiterando, então, a suposta anomalia da
personagem, que não consegue se parecer
realmente com o “ideal” de mulher.
Imagem 2 – Verônica despida, preparando
-se para o banho (Fonte: Still do curta)
O desenrolar da história é emba-
lado pela trilha sonora da ópera O Lago
dos Cisnes, de Tchaikovsky, reproduzida
em uma caixinha de música pertencente à
Verônica. A música, como um enunciado
em diálogo com os outros enunciados aci-
ma apontados, também parece reforçar o
efeito de sentido produzido pelo aconteci-
mento discursivo que enforma o curta-
metragem. O Lago dos Cisnes conta a his-
tória de Odette, princesa transformada em
cisne branco por um bruxo que almeja
roubar o trono de seu príncipe e amante. A
filha do bruxo, Odile, imita a princesa, sen-
do, entretanto, um cisne negro.
Em O Lago dos Cisnes, o cisnes
branco e o cisne negro representam, res-
pectivamente, o bem e o mal e o uso da
música típica desta opera no curta-
metragem Verônica Não Deita parece tam-
bém ser mais uma recorrência que aponta
para um discurso constituído na oposição
entre um ideal de mulher/Marilyn/o bran-
co/o bom e a deturpação desse ideal, que
seria o homossexual/homem/Verônica/o
negro/o mal.
Conclusão
O que buscamos com este breve
texto foi mostrar como a materialidade
fílmica – neste caso o curta-metragem
paraense Verônica Não Deita –, está inse-
rida no interior de um discurso e é consti-
tuída por uma série de enunciados e dis-
cursos que, em diálogo, constituem deter-
minados efeitos de sentido.
Além disso, como aponta Foucault
(2013), os enunciados e discursos podem
estar inscritos em qualquer forma de re-
gistro, inclusive em corpos, como os de
Verônica e de Marilyn. Corpos que, atra-
vessados por discursos e constituídos por
discursos, estão, eles também, inscritos
em uma ordem do discurso que os produz,
os agenda e também os destrói.
Referências
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Sa-
ber. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2013.
_____________. A Ordem do Discurso.
São Paulo: Loyola, 1999.
VERÔNICA não deita. Direção Coletiva. PA:
2011, 8min, fic., son., color. Disponível em:
http://audiovisualnaamazonia-
levantamento.blogspot.com.br/2012/07/
veronica-nao-deita.html. Acesso em 20 de
outubro de 2013.
Página 10 O Corpo
os enunciados e discursos
podem estar inscritos em
qualquer forma de
registro, inclusive em
corpos
Ocorreu, durante o mês de Outubro, na Universidade Estadual do Sudoeste da Ba-
hia, o curso de extensão A construção do
sujeito em Kant – As luzes de Foucault.
O evento foi mais uma iniciativa do Labora-tório de Estudos do Discurso e do Corpo. A
proposta do curso foi estudar a constru-ção do sujeito através dos cruzamentos
existentes entre a Aufklärung kantiana e a
análise do poder feita por Michel Foucault.
Para tanto, foi realizadas releituras do
texto “Resposta à pergunta: o que é Escla-
recimento” e da aula proferida por Michel
Foucault em 5 de janeiro de 1983 no
Collège de France. O curso se desenvolveu
em sete encontros (carga horária de 20
horas), tendo cada um o seu ministrante,
que trabalhou com um texto-base, e um
debatedor. Nesse sentido, além dos textos citados, frequentaram os debates obras
como O Governo de si e o governo dos
outros, de Foucault, Foucault, les Lumières et l’histoire: l’émergence de la societé civile, de Céline Spector, Sade et les lumiè-res, de Phillipe Sabot (O Corpo é discurso
traz uma tradução inédita desse texto,
feita por Alex Pereira de Araújo, doutoran-do em Memória: Linguagem e Sociedade, da
UESB, que está no volume 2, número 2 da
REDISCO, o qual O Corpo divulga nesse
número ) e, finalmente, o texto de Frédéric
Gros, Foucault et la leçon katienne, esteve
presente nas discussões que finalizaram
no dia 24 de outubro. Os textos foram
apresentados e discutidos por pesquisado-
res, de mestrado e doutorado, que são
integrantes do Laboratório de Estudos do Discurso e do Corpo e que fazem parte dos
Programas de Pós-Graduação em Linguís-
tica e Memória: Linguagem e Sociedade, da
UESB.
O curso faz parte do Projeto de Exten-são “Análise do discurso: discurso fílmico,
corpo e horror” e do Projeto de Pesqui-
sa “Materialidades do Corpo e do Horror”.
Ao final do curso, os participantes da ativi-dade elaboraram artigos que versam so-
bre a temática do evento associado ao
objeto específico de pesquisa de cada um. Esses textos O Corpo divulgará em um
edição especial, em janeiro de 2014.
******
Edição n. 27 Página 11
Ocorrerá, entre os dias 17 e 20 de dezembro, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, o I Seminário do Núcleo de Cultura Escrita e Acervos Digitais. O evento em como principal objetivo abordar temas relacionados aos estudos da relação entre cultura
escrita e cibercultura, bem como à história do livro e da leitura, com vistas ao fomento de ações de pesquisa, ensino e extensão que se realizem a partir dos diferentes acervos digitais hoje disponíveis na internet. Pretende, portanto, reunir estudiosos e in teressa-
dos nesses assuntos, a fim de proporcionar um espaço de interação e debates a partir de abordagens inter, multi e transdiscip lina-res que envolvam a comunidade acadêmica da UESB, docentes e discentes de outras instituições de ensino superior, como também
dos ensinos médio e fundamental. O Seminário será promovido pelo Núcleo de Estudos de Cultura Escrita e Acervos Digitais, coor-
denado pelo professor Dndo. Halysson F. Dias Santos (DELL/UESB), em parceria com o Núcleo de Estudos do Estado Monárquico, coordenado pelo professor Dr. Marcello Moreira (DELL/PPGMLS/UESB) com apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comuni-
tários - PROEX da Universidade Estadual dos Sudoeste da Bahia (UESB). O evento contará com a participação de professores da Área de Teoria e Literatura (ATL) do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da UESB, campus de Vitória da Conquista, e
de outros pesquisadores. Acesse o site www.uesb.br/eventos/culturaescrita e confira maiores informações.
Página 12 O Corpo
Apresentação
O Grupo Trama comemora seus 10 anos de
atividades e realiza o II Ciclo de Estudos do Discurso. Esse evento apresenta-se como uma oportunidade, no âmbito geral, de
reunir diferentes grupos de pesquisa em Análise do Discurso, professores, pesqui-
sadores e alunos de graduação e pós-graduação de diversas Instituições de
Ensino Superior do Brasil com o intuito de discutir o discurso, tanto como entidade conceitual, quanto como objeto de pesqui-
sa. De forma específica, o II Ciclo de Estu-dos do Discurso trará, nesta segunda edi-
ção, uma proposta de reflexão e debate
acerca dos dispositivos de poder e os sa-beres nas obras do filósofo francês Michel
Foucault e suas contribuições para a Análi-
se do Discurso.
Formato e metodologia
O II Ciclo de Estudos do Discurso será
constituído por dois momentos, que se
complementam na discussão acerca dos
dispositivos. Primeiramente, a sessão Me-sa Redonda, em que os pesquisadores
convidados realizarão suas falas a partir
de considerações e reflexões de cunho
teórico-conceituais. Num segundo momen-to, será realizada a sessão de Rodada de Conversas, em que os participantes inscri-
tos terão a oportunidade de conversar sobre pesquisas e objetos investigados a
partir de uma perspectiva discursiva. Para
a organização de tal sessão, contaremos
com a contribuição de alguns pesquisado-res convidados, os quais desempenharão a função de mediadores das conversas pro-
postas a partir da temática de cada Roda-da. O participante inscrito terá em torno
de 10 minutos para expor sobre suas leitu-
r a s , h i p ó te s e s , d e s c o b e r ta s , (r)elaborações etc. As intervenções serão
feitas a cada 4 falas.
Programação
Quarta-feira
08:30 - Abertura
09:00 - Conferência de Abertura – Dispositivos de poder em Foucault: discursivida-
des e visibilidades na mídia
Profa Dra. Maria do Rosário Valencise Gregolin (Grupo Geada-Unesp/Araraquara)
Coordenação: Profa. Dra. Kátia Menezes de Sousa (Grupo Trama/UFG)
10:30 - Mesa-redonda – Dispositivo e biopolítica
Profa. Dra. Vanice Sargentini (grupo Labor/UFSCar)
Profa. Dra. Mara Rúbia de Souza Rodrigues Morais (IFG/Jataí)
Prof. Dr. Pedro Russi (UNB)
Coord. Profa. Dra. Eliane Marquez da Fonseca Fernandes (Grupo Criarcontexto/UFG)
12:00 às 14:00 - Intervalo
14:00 às 18:00 - Rodada de conversas (12 inscritos – professores e alunos de Pós-
graduação)
Tema: Dispositivo e biopoder
Mediadores:
Profa. Dra. Vanice Sargentini (grupo Labor/UFSCar)
Profa. Dra. Mara Rúbia de Souza Rodrigues Morais (IFG/Jataí)
Prof. Dr. Pedro Russi (UNB)
Quinta-Feira
08:30 - Mesa-redonda: Dispositivo e corpo
- Prof. Dr. João Marcos Kogawa (UNICENTRO/PR)
- Prof. Dr. Nilton Milanez (Labedisco/Uesb)
- Coord. Profa. Dra. Maria de Lourdes Paniago (CAJ/UFG)
10:00 - Comemoração aos 10 anos do Grupo Trama/UFG e Homenagem à Profa. Dra.
Maria do Rosário Gregolin
- Relatos de pesquisas dos participantes do Grupo Trama/UFG
Edição n. 27 Página 13
12:00 às 14:00 - Intervalo
14:00 às 18:00 - Rodada de conversas
Tema: Dispositivo e corpo (12 inscritos – professores e alunos de Pós-graduação)
Mediadores:
- Prof Dr João Marcos Kogawa (UNICENTRO/PR)
- Prof Dr Nilton Milanez (Labedisco/Uesb)
Sexta-Feira
09:00 - Mesa-redonda: Dispositivo e subjetividade
- Prof Dr Antônio Fernandes Júnior (CAC/UFG)
- Prof. Dr. Cleudemar Alves Fernandes (LEDIF/UFU)
- Profa Dra Maria do Rosário Gregolin (Grupo Geada-Unesp/Araraquara)
- Coord. Prof. Dr. Alexandre Costa (GrupoNous/UFG)
10:30 - Apresentação de painéis
12:00 às 14:00 - Intervalo
14:00 às 18:00 - Rodada de conversas
Tema: Dispositivo e subjetividade (12 inscritos – professores e alunos de Pós-graduação)
Mediadores:
- Prof Dr. Antônio Fernandes Júnior (CAC/UFG)
- Prof. Dr. Cleudemar Alves Fernandes (LEDIF /UFU)
- Profa Dra. Maria do Rosário Gregolin (Grupo Geada-Unesp/Araraquara)
18:00 - Encerramento (Avaliação das atividades)
Página 14 O Corpo
A Faculdade de Filosofia, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Goiás – UFG e o Grupo de Estudos
em Biopolítica, sob a coordenação conjunta dos professores Adriana Delbó, Adriano Correia e Carmelita Felício, promovem o IV CO-
LÓQUIO DE BIOPOLÍTICA – Poder, Vigilância e Controle, a ser realizado entre os dias 09 e 11 de dezembro de 2013, no Campus Samambaia da UFG, em Goiânia, Goiás. O colóquio é parte do esforço de dar visibilidade às atividades do Grupo que, nos últimos sete
anos, reúne professores e alunos da graduação e pós-graduação em Filosofia da UFG em torno do estudo de autores como Friedrich
Nietzsche, Carl Schmitt, Walter Benjamin, Hannah Arendt, Michel Foucault e Giorgio Agamben. Nesta quarta edição, o evento con tará
com a presença de pesquisadores brasileiros que estudam temas ligados à biopolítica, e, paralelamente, com a III Mostra Biopolítica
de Cinema. O IV Colóquio de Biopolítica é um convite à releitura das obras desses pensadores e uma oportunidade de aprofundar a discussão de problemas candentes que se encontram alojados no coração da política contemporânea. Para maiores informações,
acesse o site http://grupodebiopolitica.blogspot.com.br/
Edição n. 27 Página 15
REDISCO, VOLUME 2, NÚMERO 2
Página 16 O Corpo
Com organização de Nilton Milanez, da
Universidade Estadual do Sudoeste da Ba-hia, Cleudemar Alves Fernandes, da Uni-
versidade Federal de Uberlândia e Jaciane
Martins Ferreira, da Universidade Federal de Uberlândia, o volume 2, número 2, da
REDISCO - Revista Eletrônica de Estudos do
Discurso e do Corpo acaba de ser lançado.
Com o título Corpo e Sujeito, o número aborda o poder, os discursos e as subjeti-
vidades que gravitam no corpo e constitui
o sujeito, tomando como materialidades de
análise textos da mídia, da literatura, da
educação assim como outros temas que constituem a esfera de interesse dos estu-
dos discursivos e da sociedade, em geral.
O número traz, ainda, de forma inédita no
Brasil, um texto de Jacques Guilhaumou,
Foucault et l’ordre du corps: langue, sujet, histoire, além de uma tradução, também
inédita, de Sade et les lumières, de Phillipe
Sabot, feita por Alex Pereira de Araújo.
Destacamos, aqui, a apresentação, escrita
pelos organizadores, e o sumário da obra,
para que o leitor possa ter acesso rápido
ao conteúdo da obra e, por conseguinte,
buscar a leitura de importantes colabora-
ções de pesquisadores de todo o país.
*****
Apresentação
Corpo e sujeito é a temática da quarta
edição da REDISCO – Revista Eletrônica de Estudos do Discurso e o Corpo – que reúne
textos de pesquisadores dispostos a pen-
sar sobre as incursões teóricas do autor
Michel Foucault a respeito da constituição do sujeito e do corpo. Nesta revista, o cor-
po não é olhado como um corpo físico, mas
como um corpo perpassado por relações de poder-saber em determinados momen-
tos históricos que o fazem ser visto como
um espaço de linguagem do qual emanam
dizeres e a própria constituição dos sujei-tos. Neste sentido, sujeito e corpo são
clivados por técnicas disciplinares, per-
passadas por saberes científicos, de ma-
neira a ressoar não apenas em um único
indivíduo, mas em toda a população. Olhares díspares são dados pelos pesqui-
sadores nessa edição da REDISCO. Muitos
dos textos versam sobre o conceito de
biopoder, cujo efeito se dá sobre a vida de
todos, disciplinando os sujeitos para que haja uma dada aplicação sobre a vida. Al-
guns textos se debruçam sobre o discurso
midiático, outros sobre o discurso literá-
rio. Tais investidas discursivas nos levam a
um melhor
entendimento sobre a constituição do su-
jeito e do corpo e sobre as formas como
isso aparece na literatura e na mídia, es-
pecificamente, levando-nos a pensar um pouco mais acerca de como vivemos hoje.
Nílton Milanez
Cleudemar Alves Fernandes Jaciane Martins Ferreira
Artigos
CORPOS QUE QUEREM PODER Fábio Figueiredo Camargo
A DEMOCRATIZAÇÃO DA BELEZA E A CONSTITUIÇÃO DAS SUBJETIVIDADES
Fernanda da Silva Borges e Kátia Menezes de Sousa
FOUCAULT ET L’ORDRE DU CORPS : LANGUE, SUJET,
HISTOIRE
Jacques Guilhaumou
O SUJEITO HOMOAFETIVO NO DISCURSO PUBLICITÁ-
RIO: ÍNDICES E FRAGMENTOS DO CORPO J.J. Domingos e Regina Baracuhy
HOJE É DIA DE MARIA - UM ACONTECIMENTO DISCUR-SIVO
Maria Aparecida Conti
O CORPO EDUCADO: A ESCOLA COMO DISPOSITIVO DISCIPLINADOR NA
SOCIEDADE DE CONTROLE
Maria de Lourdes Faria dos Santos Paniago e Eliane Marquez da Fonseca Fernandes
UM CORPO DE SABER-PODER: ELEMENTOS DE UMA ANÁLISE ARQUEGENEALÓGICA DE DISCURSOS
Pedro Navarro
DO CORPO DE TODOS NÓS AO CORPO DO (EU): EFEI-
TOS DE SUBJETIVIDADE NA SINGULARIDADE CORPÓREA
Sandro Braga e Patrícia da Silva Meneghel
CORPO FEMININO: CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA E DIS-
CURSIVA EM CORA CORALINA
Sueli Gomes de Lima
Tradução
FOUCAULT, SADE E AS LUZES Alex Pereira de Araújo
Clique na imagem, abaixo, para acessar o con-
teúdo da revista.
Edição n. 27 Página 17
Leitura do livro “Análise do texto visual - a construção da imagem”, de Antonio Vicente Pietroforte.
Leitura do livro “Discurso das mídias”, de Patrick Charaudeau.
Dica de O Corpo
Dica de O Corpo
As mídias nos manipulam? Acusações não faltam: sensacionalis-
tas, deformadoras de declarações, descontextualizadas, a serviço
de rumores. Em sua defesa, as mídias declaram-se instância de
denúncia do poder e destacam sua atuação no direito democráti-
co que todo cidadão tem de se informar. Fugindo ao maniqueísmo,
com um olhar profundo de especialista em análise de discurso, e
baseado em inúmeros exemplos, Charaudeau destrincha a com-
plexa máquina midiática: as restrições, as especificidades de ca-
da gênero, os modos de organização e as estratégias de encena-
ção em funcionamento no discurso da informação. Questiona as práticas do "mostrar a qualquer preço", do "tornar visível o invi-
sível" e do "selecionar o que é o mais surpreendente", que pro-
porcionam uma imagem fragmentada do espaço público. E, final-
mente, traça um paralelo entre a responsabilidade das mídias e a
do cidadão.
Este livro - desenvolvido especialmente para estudantes, profes-
sores e estudiosos das ciências da linguagem e da comunicação -
trata da semiótica visual e apresenta a chamada semiótica tensi-
va de forma simples, sem mistérios. A semiótica tensiva vem ao
encontro de uma problemática própria: a dimensão contínua do
sentido. Com leitura agradável e texto envolvente - que passa
longe de uma terminologia complicada e de difícil entendimento -,
o professor Vicente destrincha a construção de imagens diver-
sas, revela significados e mostra sua pertinência e o espaço que a
semiótica tensiva ocupa nas pesquisas atuais. Em cada capítulo, diferentes questões são abordadas por meio de objetos de estudo
presentes no cotidiano do leitor: música, fotografias, poemas e
história em quadrinhos.
O Corpo é Discurso
é o primeiro jornal
eletrônico de
popularização
científica da Bahia.
Colaboradores
Popularização da Ciência
A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que benefi-
ciam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a
linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas
tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhe-
cimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito
que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos
esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da
ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os bene-
fícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico.