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1ª Edição Eletrônica
L P BaçanEditor
Edição Eletrônica: L P BaçanMaio de 2009
All rights reservedCopyright © 2010 do Editor
Distribuição exclusiva através doSCRIBD
Autorizadas a reprodução e distribuição gratuita desde que sejampreservadas as características originais da obra.
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O CORVO
DeEDGAR ALLAN POE
IlustraçõesGUSTAVE DORÉ
Tradução
MACHADO DE ASSIS
4
O CORVO
5
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."
6
Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.
7
E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."
8
Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.
9
Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.
10
Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."
11
Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.
12
Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
13
Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".
14
No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"
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Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".
16
Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".
17
Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.
18
Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".
19
“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
20
“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."
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“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".
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E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!
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EDGAR ALLAN POE
Edgar Allan Poe (Boston, 19 de janeiro de 1809 - Baltimore, 7 de outubro de
1849) foi um escritor, poeta, romancista, crítico literário e editor estado-unidense.
Poe é considerado, juntamente com Jules Verne, um dos precursores da
literatura de ficção científica e fantástica modernas. Algumas das suas novelas,
como The Murders in the Rue Morgue (Os Crimes da Rua Morgue), The Purloined
Letter (A Carta Roubada) e The Mystery of Marie Roget (O Mistério de Maria
Roget), figuram entre as primeiras obras reconhecidas como policiais, e, de acordo
com muitos, as suas obras marcam o início da verdadeira literatura norte-
americana.
Nasceu no seio de uma família escocesa-irlandesa, filho do ator David Poe Jr.,
que abandonou a família em 1810, e da atriz Elizabeth Arnold Hopkins Poe, que
morreu de tuberculose em 1811. Depois da morte da mãe, Poe foi acolhido por
Francis Allan e o seu marido John Allan, um mercador de tabaco bem sucedido de
Richmond, que nunca o adotou legalmente, mas lhe deu o seu sobrenome (muitas
vezes erroneamente escrito "Allen"). Depois de frequentar a escola de Misses
Duborg em Londres, e a Manor School em Stoke Newington, Poe regressou com a
família Allan a Richmond em 1820, e registrou-se na Universidade da Virgínia, em
1826, que viria a frequentar durante um ano apenas. Desta viria a ser expulso
graças ao seu estilo aventureiro e boêmio.
Na sequência de desentendimentos com o seu padrasto, relacionados com as
dívidas de jogo, Poe alistou-se nas forças armadas, sob o nome Edgar A. Perry, em
1827. Nesse mesmo ano, Poe publicou o seu primeiro livro, Tamerlane and Other
Poems. Depois de dois anos de serviço militar, acabaria por ser dispensado. Em
1829, a sua madrasta faleceu, ele publicou o seu segundo livro, Al Aaraf, e
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reconciliou-se com o seu padrasto, que o auxiliou a entrar na Academia Militar de
West Point. Em virtude da sua, supostamente propositada, desobediência a ordens,
ele acabou por ser expulso desta academia, em 1831, fato pelo qual o seu padrasto
o repudiou até a sua morte, em 1834.
Poe mudou-se, em seguida, para Baltimore, para a casa da sua tia viúva,
Maria Clemm, e da sua filha, Virgínia Clemm. Durante esta época, Poe usou a
escrita de ficção como meio de subsistência e, no final de 1835, tornou-se editor do
jornal Sothern Literary Messenger em Richmond, tendo trabalhado nesta posição
até 1837. Neste intervalo de tempo, Poe acabaria por casar, em segredo, com a sua
prima Virgínia, de treze anos, em 1836.
Em 1837, Poe mudou-se para Nova Iorque, onde passaria quinze meses
aparentemente improdutivos, antes de se mudar para Filadélfia, e pouco depois
publicar The Narrative of Arthur Gordon Pym. No verão de 1839, tornou-se editor
assistente da Burton's Gentleman's Magazine, onde publicou um grande número de
artigos, histórias e críticas. Nesse mesmo ano, foi publicada, em dois volumes, a
sua colecção Tales of the Grotesque and Arabesque (traduzido para o francês por
Baudelaire como "Histoires Extraordinaires" e para o português como Histórias
Extraordinárias), que, apesar do insucesso financeiro, é apontada como um marco
da literatura norte-americana.
Durante este período, Virgínia Clemm soube sofrer de tuberculose, que a
tornaria inválida e acabaria por levá-la à morte. A doença da mulher acabou por
levar Poe ao consumo excessivo de álcool e, algum tempo depois, este deixou a
Burton's Gentleman's Magazine para procurar um novo emprego. Regressou a
Nova Iorque, onde trabalhou brevemente no Evening Mirror, antes de se tornar
editor do Brodway Journal. No início de 1845, foi publicado, no jornal Evening
Mirror, o seu popular poema The Raven (em português "O Corvo").
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Em 1846, o Brodway Journal faliu, e Poe mudou-se para uma casa no Bronx,
hoje conhecida como Poe Cottage e aberta ao público, onde Virgínia morreu no
ano seguinte. Cada vez mais instável, após a morte da mulher, Poe tentou cortejar a
poeta Sarah Helen Whitman. No entanto, o seu noivado com ela acabaria por
falhar, alegadamente em virtude do comportamento errático e alcoólico de Poe,
mas bastante provavelmente também devido à intromissão da mãe de Miss
Whiteman. Nesta época, segundo ele mesmo relatou, Poe tentou o suicídio por
sobredosagem de láudano, e acabou por regressar a Richmond, onde retomou a
relação com uma paixão de infância, Sarah Elmira Royster, então já viúva.
Diferentemente da maioria dos autores de contos de terror, Poe usa uma
espécie de terror psicológico em suas obras, seus personagens oscilam entre a
lucidez e a loucura, quase sempre cometendo atos infames ou sofrendo de alguma
doença. Seus contos são sempre narrados na primeira pessoa.
No dia 3 de Outubro de 1849, Poe foi encontrado nas ruas de Baltimore, com
roupas que não eram as suas, em estado de delirium tremens, e levado para o
Washington College Hospital, onde veio a morrer apenas quatro dias depois. Poe
nunca conseguiu estabelecer um discurso suficientemente coerente, de modo a
explicar como tinha chegado à situação na qual foi encontrado. As suas últimas
palavras teriam sido, de acordo com determinadas fontes, «It's all over now: write
Eddy is no more», em português, «Está tudo acabado: escrevam Eddy já não
existe».
Nunca foram apuradas as causas precisas da morte de Poe, sendo bastante
comum, apesar de incomprovada, a ideia de a causa do seu estado ter sido
embriaguez. Por outro lado, muitas outras teorias têm sido propostas ao longo dos
anos, de entre as quais: diabetes, sífilis, raiva, e doenças cerebrais raras.
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GUSTAVE DORÉ
Paul Gustave Doré (Estrasburgo, 6 de janeiro de 1832 - Paris, 23 de janeiro de
1883) foi um pintor, desenhista e o mais produtivo e bem-sucedido ilustrador
francês de livros de meados do século XIX. Seu estilo se caracteriza pela
inclinação para a fantasia, mas também produziu trabalhos mais sóbrios, como os
notáveis estudos sobre as áreas pobres de Londres, realizados entre 1869 e 1871.
Filho de um engenheiro, começou a desenhar já aos treze anos suas primeiras
litogravuras e aos catorze publicou seu primeiro álbum, intitulado "Les travaux
d'Hercule" (Os Trabalhos de Hércules). Aos quinze anos engajou-se como
caricaturista do "Journal pour rire", de Charles Philipon. Neste mesmo ano - 1848 -
estreou no Salão com dois desenhos a pena.
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Em 1849, com a morte do pai, já reconhecido apesar de contar apenas
dezesseis anos. Passa a maior parte do tempo com a mãe. Em 1851 realiza algumas
esculturas com temas religiosos e colabora em diversas revistas e com o "Journal
pour tous".
Em 1854 o editor Joseph Bry publica uma edição das obras de Rabelais,
contendo uma centena de gravuras feitas por Doré. Entre 1861 a 68 realiza a
ilustração dA Divina Comédia, de Dante Alighieri
Após algum tempo desenhando diretamente sobre a madeira e tendo seus
trabalhos gravados por amigos, iniciou-se na pintura e na escultura, mas suas obras
em tela e esculturas não fizeram tanto sucesso como suas ilustrações em tons
acinzentados e altamente detalhadas.
Com aproximadamente 25 anos, começou a trabalhar nas ilustrações de O
Inferno de Dante. Em 1868, Doré terminou as ilustrações de O Purgatório e de O
Paraíso, e publicou uma segunda parte incluindo todas as ilustrações de A Divina
Comédia.
Sua paixão eram mesmo as obras literárias. Ilustrou mais de cento e vinte
obras, como os Contos jocosos, de Honoré de Balzac (1855);Dom Quixote de la
Mancha, de Miguel de Cervantes (1863);O Paraíso Perdido, de Milton; Gargântua
e Pantagruel, de Rabelais; O Corvo, de Edgar Allan Poe; a Bíblia; A Balada do
Velho Marinheiro, de Samuel Taylor Coleridge; contos de fadas de Charles
Perrault, como Chapeuzinho Vermelho, O Gato de Botas, A Bela Adormecida e
Cinderela, entre outras obras-primas. Ilustrou também alguns trabalhos do poeta
inglês Lorde Byron, como As Trevas e Manfredo.
Em 1869, Doré foi contratado para ilustrar o livro Londres: Uma
Peregrinação, muito criticado por, supostamente, retratar apenas a pobreza da
cidade. Mas apesar de todas as críticas, o livro foi um sucesso de vendagem na
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Inglaterra, valorizando ainda mais o seu trabalho na Europa. Ganhou muito
dinheiro ilustrando para diversos livros e obras públicas, mas nunca abriu mão dos
trabalho desenvolvidos apenas para seu prazer pessoal.
Gustave Doré morreu aos 51 anos, pobre, pois todo o dinheiro que havia
ganho com o seu trabalho foi utilizado para quitar diversas dívidas, deixando
incompletas suas ilustrações para uma edição não divulgada de Shakespeare, entre
outros trabalhos.
Gustave Doré foi um marco na arte da ilustração, influenciando os
ilustradores que o sucederam.
Na pintura encontram-se suas principais obras: L'Enigme (hoje no Musée
d'Orsay) e Le Christ quittant le prétoire (1867-72), um painel medindo 6 metros de
altura por 9 de comprimento. Este quadro foi restaurado entre 1998-2003, pelo
Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Estrasburgo, num salão dedicado a
este fim e que ficou aberto à visitação durante todo o trabalho.
Em 1931 Henri Leblanc publicou um catálogo que procedeu ao inventário
completo das obras de Doré, contendo 9.850 ilustrações, 68 libretos musicais, 5
cartazes, 51 litografias originais, 54 sumi-e, 526 desenhos, 283 aquarelas, 133
pinturas e 45 esculturas.
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MACHADO DE ASSIS
Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 - Rio
de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um romancista, dramaturgo, contista,
jornalista, cronista e teatrólogo brasileiro, considerado como o maior nome da
literatura brasileira e um dos maiores escritores do mundo, de forma majoritária
entre os estudiosos da área. Sua extensa obra constitui-se de nove romances e nove
peças teatrais, 200 contos, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600
crônicas. Machado assumiu cargos públicos ao longo de toda sua vida, passando
pelo Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, Ministério do Comércio e
pelo Ministério das Obras Públicas. No dia 20 de julho de 1897 com iniciativa de
Lúcio de Mendonça, fundou a Academia Brasileira de Letras.
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A obra ficcional de Machado de Assis tendia para o Romantismo em sua
primeira fase, mas converteu-se em Realismo na segunda, na qual sua vocação
literária obteve a oportunidade de realizar a primeira narrativa fantástica e o
primeiro romance realista brasileiro em Memórias Póstumas de Brás Cubas (sua
magnum opus). Ainda na segunda fase, Machado produziu obras que mais tarde o
colocariam como especialista na literatura em primeira pessoa (como em Dom
Casmurro, onde o narrador da obra também é seu protagonista). Como jornalista,
além de repórter, utilizava os periódicos para a publicação de crônicas, nas quais
demonstrava sua visão social, comentando e criticando os costumes da sociedade
da época, como também antevendo as mutações tecnológicas que aconteceriam no
século XX, tornando-se uma das personalidades que mais popularizou o gênero no
país.
Filho do mulato Francisco Manuel José de Assis, pintor de paredes e
descendente de escravos alforriados, e de Maria Leopoldina Machado, uma
lavadeira açoriana da Ilha de São Miguel. Machado de Assis, que era canhoto,
passou a infância na chácara de D. Maria José Barroso Pereira, viúva do senador
Bento Barroso Pereira, na Ladeira Nova do Livramento, (como identificou Michel
Massa), onde sua família morava como agregada, no Rio de Janeiro. De saúde
frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Ficou
órfão de mãe muito cedo e também perdeu a irmã mais nova. Não frequentou a
escola regular, mas, em 1851, com a morte do pai, sua madrasta Maria Inês, à
época morando no bairro em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio
do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No
colégio tem contato com professores e alunos, e provavelmente tenha assistido às
aulas quando não estava trabalhando.
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Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender e se
tornou um dos maiores intelectuais do país, ainda muito jovem. Em São Cristóvão,
conheceu a senhora francesa Madame Gallot, proprietária de uma padaria, cujo
forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que Machado acabou por falar
fluentemente, tendo traduzido o romance Os Trabalhadores do Mar, de Victor
Hugo, na juventude. Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas deste
idioma, como O Corvo, de Edgar Allan Poe. Posteriormente, estudou alemão,
sempre como autodidata.
De origem humilde, Machado de Assis iniciou sua carreira trabalhando como
aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, cujo diretor era o romancista Manuel
Antônio de Almeida. Em 1855, aos quinze anos, estreou na literatura, com a
publicação do poema "Ela" na revista Marmota Fluminense. Continuou
colaborando intensamente nos jornais, como cronista, contista, poeta e crítico
literário, tornando-se respeitado como intelectual antes mesmo de se firmar como
grande romancista. Machado conquistou a admiração e a amizade do romancista
José de Alencar, principal escritor da época. Era, no dizer do historiador literário
Marques da Cruz, "ponderado e honesto. Sóbrio na vida e no estilo".
Baptiste Louis Garnier, convida Machado a trabalhar no Jornal das Famílias
(1863 - 1878), onde tem contato com as obras de Shakespeare. Em 1864 estreia em
livro, com Crisálidas (poemas). Em 1869, casa-se com a portuguesa Carolina
Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e quatro anos
mais velha do que ele. Em 1873, ingressa no Ministério da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas, como primeiro-oficial. Posteriormente, ascenderia na carreira de
servidor público, aposentando-se no cargo de diretor do Ministério da Viação e
Obras Públicas.
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Podendo dedicar-se com mais comodidade à carreira literária, escreveu uma
série de livros de caráter romântico. É a chamada primeira fase de sua carreira,
marcada pelas obras: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876),
e Iaiá Garcia (1878), além das coletâneas de contos Contos Fluminenses (1870), ,
Histórias da Meia Noite (1873), das coletâneas de poesias Crisálidas (1864),
Falenas (1870), Americanas (1875), e das peças Os Deuses de Casaca (1866), O
Protocolo (1863), Queda que as Mulheres têm para os Tolos (1864) e Quase
Ministro (1864).
Em 1881, abandona, definitivamente, o romantismo da primeira fase de sua
obra e publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, que marca o início do realismo
no Brasil. O livro, extremamente ousado, é escrito por um defunto e começa com
uma dedicatória inusitada: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu
cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas". Tanto
Memórias Póstumas de Brás Cubas como as demais obras de sua segunda fase vão
muito além dos limites do realismo, apesar de serem normalmente classificados
nessa escola. Machado, como todos os autores do gênero, escapa aos limites de
todas as escolas, criando uma obra única.
Na segunda fase suas obras tinham caráter realista, tendo como
características: a introspecção, o humor e o pessimismo com relação à essência do
homem e seu relacionamento com o mundo. Da segunda fase, são obras principais:
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro
(1900), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908), além das coletâneas de
contos Papéis Avulsos (1882), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1906),
Relíquias da Casa Velha (1906), e da coletânea de poesias Ocidentais. Em 1904,
morre Carolina Xavier de Novaes, e Machado de Assis escreve um de seus
melhores poemas, Carolina, em homenagem à falecida esposa. Muito doente,
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solitário e triste depois da morte da esposa, Machado de Assis morreu em 29 de
setembro de 1908, em sua velha casa no bairro carioca do Cosme Velho. Nem nos
últimos dias, aceitou a presença de um padre que lhe tomasse a confissão. Bem
conhecido pela quantidade de pessoas que visitaram o escritor carioca em seus
últimos dias, como Mário de Alencar, Euclides da Cunha e Astrogildo Pereira
(ainda rapaz e por isso desconhecido dos demais escritores), ficcionalmente o tema
da morte de Machado de Assis foi revisto por Haroldo Maranhão. Não tinha uma
visão religiosa, sendo assim declarando-se como ateu.
Fonte biográfica: www.pt.wikipedia.org.