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tV l A HISTÓRIA NA COLEÇÃO "SABER ATUAL" AS RAÇAS HUMANAS 9. H. V. Vallois HISTÓRIA DAS LENDAS 42. J. Bayard A VIDA PRÉ-HISTÓRICA 45. R. Lantier OS ÁRABES 54. V. Monteil HISTÓRIA DA U.R.S.S. 63. J. Bruhat HISTÓRIA DOS ESTADOS UNIDOS 64. R. Rémond A ARMÉNIA 65. J. P. Alem HISTÓRIA DO JUDAÍSMO 85. A. Chouraqui HISTÓRIA DA AMÉRICA' LATINA 92. P. Chaunu AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS 102. H. Lehmann AS CRUZADAS 110. R. Grousset HISTÓRIA DO-BRASIL 162. Frédéric Mauro : A REVOLUÇÃO FRANCESA 163. A. Soboul OS INÇAS 165. H. Favre T-' Antigo JeanVercoutter ' wE5Jti«hi^i-iirt,'11 %*.-•' **vy\i _ tMaB

O Egito Antigo JV001

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A HISTÓRIA NA COLEÇÃO "SABER ATUAL"

AS RAÇAS HUMANAS9. H. V. Vallois

HISTÓRIA DAS LENDAS42. J. Bayard

A VIDA PRÉ-HISTÓRICA45. R. Lantier

OS ÁRABES54. V. Monteil

HISTÓRIA DA U.R.S.S.63. J. Bruhat

HISTÓRIA DOS ESTADOS UNIDOS64. R. Rémond

A ARMÉNIA65. J. P. Alem

HISTÓRIA DO JUDAÍSMO85. A. Chouraqui

HISTÓRIA DA AMÉRICA' LATINA

92. P. Chaunu

AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS102. H. Lehmann

AS CRUZADAS110. R. Grousset

HISTÓRIA DO-BRASIL

162. Frédéric Mauro :

A REVOLUÇÃO FRANCESA163. A. Soboul

OS INÇAS165. H. Favre

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AntigoJeanVercoutter

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CAPÍTULO II

O EGITO CLÁSSICO

1. O Antigo Império (2780 a 2400 aproximada-mente a.C.) •— Quando os egípcios da decadência sonha-vam com uma idade de ouro é no Antigo Império queeles estavam pensando e é a língua e a arte dessa épocaque seus artistas e escribas procuravam imitar. Não sabe-mos de que documentos os egípcios dispunham para co-nhecer esses ancestrais longínquos, mas certamente somosmenos bafejados do que eles, porquanto a história doAntigo Império continua ainda mal conhecida. É verdadeque essa.época deixou numerosos monumentos e que nafalta da história política, militar e administrativa, conhe-cemos bastante bem a civilização material. Considerare-mos aqui apenas o quadro histórico do Antigo Império,tido por muitos como o período mais completo áe toda acivilização egípcia.

Da mesma forma que não houve linha divisória claraentre a época neolítica e. as primeiras dinastias, tambémnão existe separação entre estas e o início cio AntigoImpério. D|g|gr. o grim_eiro. .reLda..III dinastia, que co-meça nesta época, é provalmente filho de Khasekhemui,o^último^rei da II dinastia. O progresso alcançado pelacivilização neste momento, sobretudo na arquitetura, nos

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permite falar, no entanto, de uma nova Dinast ia , O Falon^sjLmpo.rtante do reinado de Djoser — fato, aliás, quejustifica a classificação do Antigo Império como período

• distinto — é o deslocamento do centro político, pelo me-nos .teoricamente, de Abidos para Mên|ís; por isso, oAntigo.Irtigério é às vezes conhecido 'como1 Império men-ííÈL. Djoser, depois de ter mandado construir um Túmuloem Bêt Khallaf, perto de Abidos, fez construir umâ~pírâ- 'nnde,de.ilggraus,.em..Sac[c^arah, p_ertp de Menjis. Parece"também que foi sob o reinado de Djoser que — ouporque a administração real tornava-se complexa ou por-_que se ampliava — o faraó requisitou o concurso de umprimeiro ministro para auxiliá-lo em suas lunções deadministrador, Este primeiro ministro — que, por ana-logia aos modernos EstadoTõrTenTãis', denominamos mzir

" Embora não tenha efetivamente usado0 nome devizir (íaíí), na realidade exerceu as suasfunções, Mais tarde_ criou-se uma lenda em torno dessepersonagem, que foi divinizado" e" considerado fíllio dodeus Ptah de Mênfis, Âjíle se deve o magnífico con-junto _arquitetural da pirâmide de degraus de Saqqarahe""~réspectivos anexos. Com base em indícios diversos,pode-se concluir que Djoser, prosseguindo a obra da1 dinastia, promoveu incursões militares na Núbi.a,. Deuassim continuidade a uma política que se desenvolveriadurante todo o Antigo Império, porquanto, ao que sesupõe, os egípcios dessa época preocupam-se mais comos vizinhos do Sul. do que com os do Nordeste. Um ;

texto, de época inferior, é verdade, atribui a Djosera primeira incursão egípcia em território núbio, acimada primeira catarata; mas Djer, como vimos, já avançaraaté a segunda catarata. Talvez deva-se ver aí alusão nãoà incursão, mas à anexação da Núbia. O Sinai — im-prescindível à economia industrial e religiosa do Egito,por causa de suas minas de pedras preciosas e talvez de i

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cobre — continua alvo de reides e uma gravura rupes-tTêfãTesta que o exército de Djoser o visitou.

O fim da III dinastia é muito ma] conhecido e nãose sabe praticamente nada a respeito de seus outros reis:Sanakt-Nebka, Khaba, Neferka e, enfim, Hti ou Huni(o Demolidor), cuja pirâmide encontra -se em Dachur.A recente descoberta, por Zakaria Goneim, de uma pi-râmide inacabada em Saqqarah revelou que o nome dosucessor de Djoser era Sekhen-Khet, aliás desconhecido.

IV DINASTIA. • — Poderia parecer que a IV dinastia,que se inicia com o reinado de SQJ-J^ sucessor de Huni,devesse ser uma das melhor conhecidas do Egito.Ef e tivam en te, ,éji_climisUaJc^_c.oj^^_

irâmides; mas de fatonada existe a seu respeito; apenassoBre^Snef.ru^. o fundador . cia cliiiãsHã"," e que estamosmalhQ!; .au...autes,...m.enps,, mal informados^ com efeito,os fragmentos dos anais escritos na assim chamada pedrade Palermo nos dão conta de que em. seu. reinada. lioluyeuraa.lexp_edíç.ão à, Núhia .e. uma. .à Líbia; os soldados deSnefru estiveram também no Sinai, como cTprovam gra-fitõs. "Enfim, este foi um rei construtor, como o atestamas pirâmides que fez construir, uma em Meidum e ou-tras em Dachur; dir-se-^a que, com vista às suas cons-truções, Snefru manteve relações com a Síria, que lhefornecia madeira, ...... ""

Que não faríamos para conhecer os três sucessoresde SiíéTru: Ouéops, Quéfren e Miquéríriòs!"0s três cons-, -; ...... i ••:;?:<•»>«•-•;*> - V-«"SS»""!— .,.-.rf««.™v^»..trutores dos mais ramosos monumentos do Jigito • — • ascolossais pirâmides '— são, efetivamente,. ainclà menos

/' conhecidos que seu antecessor. Os .gregos, e depois deles• l muitos estudiosos modernos, veriam nessfes faraós verda-! deiros tiranos que espezinhavam o povo egípcio "com 'aj corvéia; G. Posener demonstrou que essa tradição se deve

'' à literatura de tendência antimonarquista largamente

difundida no Egito durante o Primeiro Período Inter- 'medíário, Na realidade, o culto funerário desses reis iperpetuou-se no Egito até a altura da conquista mace- /dônica, o que não condiz com a reputação de reis detes- itados.. Além das expedições ao Sinai, durante o reinado 'de Quépps, nada se sabe a respeito da atividade militar"dos reis dessa dinastia. Numa palavra, tudo se passa ,como se conhecêssemos o reinado de Luís XIV apenasatravés do palácio de Versalhes: os monumentos lá estão,completos, quais testemunhos irrefutáveis de uma civili-zação técnica e administrativamente avançada, mas nadamais do que isso sabemos. A própria ordem dos faraósdessa dinastia é incerta. Não se sabe ainda onde situarexatamente o rei Didufry. Segundo filho de Quéops, teriausurpado o poder, depois de eliminar o irmão. Depoisde ter sido também ele assassinado, teria sido sucedidopor Quéfren. Quanto aos últimos reis da dinastia,Bícherés, Sebercherés, Thamfthis, citados por Manethon,à exceçao de Sabercherés (o Shepseskaf dos monumen-tos), não se sabe nem mesmo se realmente existiram.

V DINASTIA (2563-2423). — Um conto egípcio,do__Médio_ Imrjério, nos relata a origem da V dimíscTá";A..nníIEer_de_ um..,sacerdote..de..Fj.é..teria concebido ostrês primeiros reis dessa dinastia, .cujo. pai. .teria .sido o (pmíirlõrieus R'ér'É certo'que o cultp_ de Ré, o deus Sol, )teve_ nessa época importância. .capitãT~"fãlvêF"sTmplêT-mente porque a dinastia fosse originária de HeíiÓpòlis,çnde ele era adorado, talvez também porque o clerodessa cidade tivesse colaborado com a dinastia para atomada do poder. Seja como for, a partir dessa épocaos faraós intitulavam-se regularníénEê""fillíõs""cie He". Ainfluência da religião sobre a vida dessa época se traduzantes de mais nada nos nomes reais, nos quais o nomede Ré aparece quase que invariavelmente; ei-los; Us.erkaf,

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Sahuré, Ncferirkaré, Shepseskaré, Neferefré, Niusseré,M.enkauhor, Djedkaré-lsesy, Unas. A religião solar de-termina também a arquitetura dos templos construídosna época. A pedra de Palermo menciona a construção deinúmeros templos. Enfim, nesta época foram compiladosos Textos das Pirâmides (perguntou-se mesmo se nãoforam compostos neste momento).

Parece que a V dinastia, do ponto de vista da históriaexterna, voltou-se para a Ásia, ou porque tivesse sidoatacada ou porque quisesse se expandir em sua direção.Houve expedições militares no Sinai, comandadas porSahuré, Niusseré, Menkauhor, Djedkaré; o mesmo ocor-reu com relação à Ásia e à Líbia.

VI DINASTIA (2423-2263 aproximadamente). —A passagem da V para a VI dinastia menfita transcorreuaparentemente sem estremecimentos. Do primeiro rei,Sehcteptaui-Tetti, nada se sabe, o mesmo acontecendo,aliás, com relação a seu sucessor Usirkaré, que reinouapenas durante curto espaço de tempo. Com Pepi I,estamos um pouco mais favorecidos; sabemos que cons-truiu numerosos templos e conhecemos alguns detalhesde sua vida, graças às biografias de altos funcionáriosque chegaram até nossos dias. Pepi I desposou sucessi-vamente duas filhas de um alto funcionário de Abidos edelas teve filhos que reinaram sucessivamente. Existeminúmeros documentos sobre as atividades de Pepi, prin-cipalmente decretos instituindo fundações pias. Essesdecretos são preciosos para o estudo do direito egípciona época superior. A exemplo de seus predecessores,Pepi vigia atentamente a Núbia, mas sobretudo organizanumerosas expedições contra os asiáticos, Uni, o oficialque comandava essas expedições, dirigiu pelo menoscinco campanhas contra os beduínos da Ásia, o que,aliás, parece indicar que, em nenhum caso, o país inimigo

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foi ocupado, mas cjuc os cxcrcilos egípcios proínovimnsimplesmente grandes reicles, comparáveis sem dúvidaaos rezii-s dos nómades saarianos.

O primeiro sucessor de Pepi I foi seu filho Merenré I.que certamente morreu muito jovem, porquanto reinou.apenas cinco ou seis anos. Merenré continuou, ao quese presume, a política de colonização da Núbia, que seusucessor deveria concluir. Enviou à Alta 'Núbia um 'certo Herkhuf, que, sem dúvida, avançou até o oásissudanês de Selirna, Merenré se deslocou pessoalmenteaté Elefantina para receber a rendição das tribos suda-..nesas. A morte prematura de Merenré fez ascender aotrono seu meio-innão Pepi II, que tinha apenas seis anos.O reinado deste rei foi o mais longo da história do Egito,pois durou noventa e quatro anos. Durante seu reinado,Herkhuf continuou a pacificação da Núbia, que iniciarano reinado de Merenré. Expedições comerciais dirigi-ram-se a Byblos e à região de Punt, isto é, ao longo dacosta africana do mar Vermelho, na direção da atualEritréia.

Com Pepi II começa a decadência do Antigo Impé-rio, talvez porque seu reinado tivesse durado muito tem-po, ou talvez porque, devido à avançada idade, o reitivesse perdido a energia necessária para manter a uni-dade do país, que dependia de fato unicamente de suapessoa. Entretanto, segundo Manethon, reinaram ainda,no Antigo Império, depois de Pepi II, um rei e umarainha — • Merenré II e Nitócris — • sem que nada se saibaa respeito de seus reinados. O Antigo Império, que ter-mina, assim, obscuramente, foi um período de grandeprosperidade interna para o Egito. É certamente o apo-geu do império faraónico. O rei é então, no sentidopleno do termo, o deus na Terra, é temido, mas obede-cem-no, e parece que sob sua rígida disciplina o Egitoconheceu tal prosperidade económica que só dificilmente

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e s. intervalos irregulares terá novamente oportunidadede alcançar no futuro. Não se sabe muita coisa sobre arepercussão externa do Antigo Império, mas o fato deque tenha existido um templo egípcip em Byblos nessaépoca indica que o prestígio não se limitou à reconquistada Núbia, que continua sendo, no entanto, o grande feitodo tempo.

2. O Primeiro Período Intermediário — Seria fascinante conhe-cer o período que separa a primeira fase da história do Egito clássicoda segunda, porquanto é evidente •— a julgar pelas fontes de quedispomos •—• que, desde o reinado de Pepi II, aparece uma espécie defermentação social. A revolução social logo trouxe a fragmentação dopoder central. Durante mais de um século, o Egito derivou assim àmercê das convulsões sociais e da anarquia provincial agravada quiçápor incursões estrangeiras; é esta época agitada que se chama o Pri-meiro Período Intermediário. Trata-se de um período extremamenteobscuro. Parece que começou, de fato, no reinado de Pepi^ II.Marcam-no simultaneamente a decadência do poder central em Mênfise a revolução social; mas, se a decadência do poder real pode serentrevista nos documentos contemporâneos, quanto à revolução, estasó é conhecida através de textos literários compostos posteriormenteaos acontecimentos.

Atribuímos o começo da decadência do poder real ao fato de apartir da V dinastia o cargo de governador de nomos passar a serhereditário, mas pode-se objetar que tenha sido a debilitaçãp dos reisque permitiu que esses "nomarcas" transmitissem hereditariamente opoder a seus filhos. É na perda de prestígio do rei, se não no desapa-recimento do caráter sagrado de sua pessoa, que se deve buscar semdúvida a razão mais profunda da decadência da monarquia. Fala-senão raro de implantação do feudalismo no Egito nessa altura, mas nãohá que deturpar palavras; no Egito jamais houve sistema feudal nosentido que se dá ao termo na história medieval. Houve apenasusurpações locais de poder, o que é muito diferente. Essas usurpaçõespodiam ser mais ou menos reconhecidas pelo rei, incapaz de repri-mi-las; no entanto, jamais chegam a constituir sistema comparável aoque se instaurou sobre as ruínas do Império romano.

A decadência do poder real, talvez apressada ainda por incursõesde beduínos, que o rei não tinha mais condições de escorraçar, pareceestar na base das convulsões sociais. Estas apenas nos são conhecidasgraças a alguns textos muito interessantes, sobre os quais o melhor

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que podemos fazer é citá-los: "Os pobres tornaram-se possuidores debens; quem não podia mandar fazer um par de sandálias, agora édono de tesouros... Os ricos choram, enquanto os pobres se alegram,Os citadinos dizem; "Capturemos os ricos que existem em nosso .meio.. ." Palácios e colunatas ardem em chamas... os nomos sãodestruídos. Ouro, prata, pedras preciosas ornam o pescoço das es-cravas, enquanto as damas nobres exclamam: "Ah, se tivéssemos aomenos o que comer!", e estão tristes por causa cios andrajos quevestem". A própria economia está transtornada (e não apenas adistribuição das riquezas): "Faltam produtos manufaturados.,, opaís está totalmente arruinado, nada mais resta, não existe mais nemsequer a mancha da unha do quem no passado a possuía.. . segura-mente as boas coisas desapareceram." Como se vê, estes textos sãoclaros, houve no Egito uma verdadeira revolução. Seria interessantepoder estudá-la mais a fundo; infelizmente, não temos documentohistórico algum que nos permita abordá-la, além dos textos cujosexcertos acabamos de citar e que foram compostos, em época muitoposterior aos acontecimentos, por escribas que poderíamos qualificarde "conservadores" e que foram especialmente encarregados pelossoberanos da II dinastia pani celebrar a restauração da ordem e daestabilidade. Eles tinham, portanto, interesse em exagerar o estadode decomposição da sociedade para realçar mais o valor da obra paci-ficadora empreendida pelos reis do Médio Império. Não se sabe sequerse a revolução se estendeu a todo o Egito. É possível que se tenharestringido à região de Mênfis.

Não conhecemos melhor os demais acontecimentos ocorridosdurante esse período assaz extenso. As listas reais egípcias e Manethonfornecem nomes de reis agrupados em dinastias (a VII e a VIII),mas não sabemos exatamente nada a respeito desses personagens.A VII dinastia de Manethon (setenta reis que teriam reinado duranteum total de setenta dias!) provavelmente nunca existiu. A VIII sóé conhecida através das listas reais, pois Manethon se contenta comfornecer a cifra total dos reis —• dezoito •—• sem nomeá-los.

Em tempos passados admitia-se que no início da VIII dinastiaos sete monarcas (isto é, os governadores dos nomos) do Sul doAlto Egito se tivessem agrupado e formado um reino independente emtorno do nomarca de Coptos. Esta monarquia local teria durado unsquarenta anos, mas W. C. Hayes demonstrou, em 194á, que essaassim denominada dinastia coplita jamais existiu. A VIII dinastiamenfita terminou obscuramente por volta de 2220; nessa altura, oEgito está dividido em três partes: o Norte certamente é dominadopor onipotentes invasores asiáticos; no Centro, em Mênfis, subsisteo que resta da velha monarquia centralizada, mas, no Médio Egito,

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Kheti, nomarca de Hecacleópolis, proclama-se rei do Alto e BaixoEgito e controla em seguida a região de Mênfis bem como o Faiutn;no Sul, os reis menfhas foram abandonados pelos nomarcas gover-nadores de Tebas que, segundo parece, reuniram os nomos meridio-nais em torno de si. Supõe-sè que tal situação tenha durado algumtempo. Não se tomando em conta o Delta, o Egito parecia tervoltado ao período pré-histórico, com agrupamentos de nomos noNorte (Médio Egito) e no Sul. Os chefes do Médio Egito (dinastiasheracleopolitanas) são Kheli I, II e III e Merikaré (falta citar tam-bém vários reis cujos nomes não conhecemos); os do Sul, de Tebas,são os AnJ-ej- ou os Mentubotep.

À medida que os dois grupos consolidavam suas conquistas,apressavam a hora da confrontação. A situação manteve-se confusadurante muito tempo, com alternativas de vitórias e derrotas de ambasas partes. De resto, conhecemos pouco dessa época até o momentoem que, por volta de 2060, vemos que o Egito está novamente unifi-cado sob a autoridade de um Mentuhotep, descendente dos governa-dores tebanos, chefes dos nomos do Sul. A partir dessa data co-meça o Médio Império.

S. O Médio Império (2065-1785 a.C.). — Após olongo período de convulsões, que termina por volta doano 2000, a unidade,, do. P,oder.,se^e,nc.oníra_restaurada noEgitOj graças"' aos nomarcas,. çJe^TjiJjas. Iniciada pelosgovernadores do nomo desde o tempo mesmo dos reisheracleopolitanos, esta restauração não foi obra apenasde um faraó, mas de toda uma dinastia, a XI, que emsuas origens é contemporânea da X, a lieracleopolitana.Esta sucedera à IX, igualmente de Heracleópolis, instau-rada por Kheti I (Cf, acima). Enquanto os heracleopo-litanos se preocupavam mais com o Delta, e de fato con-seguiram rechaçar os beduínos, os primeiros chefes teba-nos se voltaram para a Núbia. Graças a essas duas açÕesparalelas, no Sul e no Norte, a unidade do Egito se tor-•nava iminente. À função da XI dinastia será concluir aunidade e reunir o Sul ao Norte.

XI DINASTIA (2160 aprox.-2000). — Já relatamosa história dos primeiros governadores tebanos que luta-

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ram contra os reis heraclcopolilanos. Descendendo des-ses^ nomarcas de Tebas, os MentuhotBp^SVSKr^^í-meu^õTTTolTTãTlírtTtulo de rei do Alto e do Baixo Egito,

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Ate recentemente acreditava-se que tivesse havido cmcofaraós com esse nome, Depois de longo esforço de crí-tica das fontes, acredita-se agora que tenham sido apenastrês e que foi Mentuliotep l (2065-2015) quem conse-guiu pacificar o Egito. Sobre os últimos reis da dinastiaMentuhotep II e III não se sabe grande coisa, talvezporque tenham reinado durante pouco tempo.

A obra essencial da XI dinastia foi reunificar o país,mas ela não se limitou somente a isso. Depois de haverdelimitado a autonomia provincial, que se desenvolveriadurante o Primeiro Período Intermediário, e após terrestaurado o poder central, os Mentubotep retomaram a"política de expansão na Núbia, onde ao que parece con-seguiram chegar até a segunda catarata. Abriram tam-bém a estrada de Uadi. Hammamat que tornava a ligaro Egito ao mar Vermelho e servia de ponto de partidapara as expedições ao Sinai e ao reino de Punt (Cf, su-pra). Esta estrada atravessa o deserto arábico, e osreis da XI dinastia utilizaram-na para promover expedi-ções militares contra os nómades que percorriam o paíse organizar pontos de água.

XII DINASTIA (2000-1785). — Não se sabe comoaconteceu a passagem da XI para a XII dinastia, mas ofato de se encontrar, sob os últimos reis da XI dinastia,um vizir chamado Amenemés, nome que tomaria o fun-dador da nova dinastia, parece sugerir que houve usur-pação. A XII dinastia, que toma o poder por volta doano 2000, é das mais gloriosas da história egípcia. Du-rante sua administração, o Egito não só mantém a esta-bilidade interna como também repercute no exteriorcomo sem dúvida jamais repercutira, nem mesmo na

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época dos grandes faraós da IV dinastia. Conquantode origem tebana, a dinastia se instalou uma vez mais naregião de Mênfis, de onde poderia governar melhortodo o país.

Amenemés I (2000-1970), segundo parece, se preo-cupou principalmente com a administração. Para tomar opoder, talvez tivesse dependido de apoio da nobrezaprovincial, o que explica certo recobro de independênciadesta. É possível que já se tenha ocupado com a pro-teção da fronteira leste do Egito, mas serão sobretudoseus sucessores que levarão a termo essa empresa. Erndireção à Núbia, Amenemés I avançou até KoroskoN.Uma conspiração palaciana pôs subitamente fim a seu "reinado. Seu filho se encontrava então na Líbia, coman-dando o exército, mas conseguiu chegar a tempo ao Egkoe assumiu o poder.

Sesóstris I (1970-1936) continuou a política do paina Núbia. Subiu até a terceira catarata e apoderou-sedas minas cie ouro dessa região. Para chegar às minas,era preciso partir de Uacli HalEa. Com a finalidade degarantir a segurança das expedições, Sesóstris mandouconstruir uma fortaleza em Buhen. Visando evitar a repe-tição dos acontecimentos que ensanguentaram o fim doreinado do pai, Sesóstri alçou seu filho mais velho aotrono, mesmo estando ele ainda vivo, e seus sucessoresseguiram seu exemplo.

Amenemés II e Sesóstris II tiveram reinados bastanteinexpressivos e sobre eles, ademais, estamos pouco do-cumentados. \ III (1887-1850) foi um dos grandes faraós

do Egito e sua memória, alindada pelo tempo, está naorigem de muitas lendas compiladas pelos gregos. Con-

quistador, ele avança até a Palestina; na Núbia retomaa obra de Amenemés I c de Sesóstris I, que seus doispredecessores haviam, se não esquecido, pelo menos des-curado. Em quatro campanhas consegue retomar a situa-ção c resolve proteger a região conquistada com a cons-trução de fortalezas.

Amenemés III (1850-1800), tirando partido da tran-quilidade assegurada pelas campanhas militares do pai,dedicou-se sobretudo, segundo se entende, à exploraçãoagrícola e económica do Egito.

A III dinastia termina com os reinados inglórios deum rei e de uma rainha •— Amenemés IV e Sebeknefemré—• a respeito de quem nada sabemos; talvez a decadênciada dinastia tenha sido muito rápida durante seus reinados,

Na rápida sinopse da história dos reis da XII dinastiaque acabamos de esboçar não consta repercussão dessadinastia dentro ou fofa do país. A prosperidade é obrados reis da dinastia considerados conjuntamente. SeAmenemés I teve que distender um pouco os laços queuniam os nomarcas ao faraó, este relaxamento teve curtaduração e sob Sesóstris III a autoridade real torna-se denovo absoluta, a ponto de o cargo de nomarca ser supri-mido. Restaurando assim o poder do rei, a dinastia sevolta para a valorização do solo do país, e sobretudo doFayun, do qual os soberanos fizeram um verdadeiro oásise à sua volta construíram suas residências. Estes faraósforam também grandes construtores e o Egito lhes deveusobretudo um conjunto de fortificações no Sul e no Lesteque o colocou ao abrigo de seus inimigos. O palácio deAmenemés III em Hauara era tal que deu origem à lendagrega do Labirinto. Quanto às relações externas, os laçoscom a Síria e Byblos parecem ter sido estreitos e amistososc tem-se indagado, não sem probabilidade, se a Fenícianão teria sido administrada por governador egípcio no

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tempo da XII dinastia. O Egito foi regularmente explo-rado e os egípcios promoveram expedições comerciais àregião de Punt. No sentido do Sul, o Egito estendeu suasfronteiras até Sernneh (a 70 km ao sul de Uadi Halfa,Cf. Mapa I, p. 35)., onde uma verdadeira zona fortificada,de grande complexidade, impediu daí por diante o acessoao Egito por parte das sempre turbulentas tribos suda-nesas. Só apoiando-se nas poderosas fortalezas da segun-da catarata é que os reis da XII dinastia conseguiramlançar expedições comerciais até o coração do Sudão.O centro de seus negócios encontrava-se então em Kerma,ao sul da terceira catarata (Cf. Mapa I), onde Amenemésestabeleceu uma feitoria fortificada. As relações comCreta, que se acredita existiram desde essa época, sãoainda muito mal conhecidas, para que se possa levá-lasem consideração; no entanto, pode ser que se tenha rea-lizado por intermédio da Fenícia,

Assim, fortemente organizado no interior., protegidopor sistemas de fortificações no Sul e no Nordeste, oEgito do Médio Império nada teme do exterior. Na rea-lidade, porém, essa segurança é precária, pois se baseia,de um lado, na força do poder central dos reis do MédioImpério e, por outro, na fraqueza dos inimigos asiáticosdo Egito, Ora, em poucos anos essas duas condições desegurança egípcia não mais existirão. %

4, O Segundo Período Intermediário (1785-1580a.C.). — O Segundo Período Intermediário é sem som-bra de dúvida o período mais confuso e menos conhecidoda história do Egito. Discute-se ainda o tempo de suaduração. Depois da tendência de se pensar que tivessesido muito longo (se somarmos as cifras fornecidas porManethon para as XIII, XIV, XV, XVI e XVII dinastias,as quais compõem este período, chega-se ao total de mile quinhentos e oitenta e três anos!), hoje admité-se con-

sensualmente que durou pouco mais de duzentos anos, euma teoria bem recente reduz ainda mais esse número.O grande número de reis (que teriam reinado nesse lapsode tempo relativamente curto) poder-se-ia explicar pelofa to de que as dinastias dessa época intermediária foramtodas "paralelas" (simultâneas), umas governando noNorte, outras no Médio Egito e outras ainda no Sul.

. Talvez os historiadores da Ásia Anterior possam um diatrazer ciados precisos sobre a. cronologia dessa época.Inúmeros pontos de contato unem nessa época o Egito àÁsia e bastaria que se determinassem algumas datas dolado asiático para dar pontos de referência suficientesao Egito.

Qualquer que tenha sido a duração do Segundo Pe-ríodo Intermediário, nele se distinguem três épocas: pri-meiro, um período dinástico, durante o qual reis egípcioscontinuam a reinar isoladamente; em seguida, um períodode invasão e de usurpação; e, enfim, um período de recon-quista egípcia. Naturalmente, na realidade os fatos nãoforam tão bem delimitados e a invasão dos hicsos começoudurante o período em que a realeza egípcia ainda não foraabolida (alguns historiadores acham que ela começou jána época da XII dinastia), assim como a reconquistaegípcia começou durante o reinado dos invasores hicsos,

AS XIII E XIV DINASTIAS E OS ÚLTIMOS REIS INDÍGE-NAS. — As XIII e XIV dinastias são conhecidas apenas pelos nomesde seus faraós, A princípio, por força do prestígio da XII dinastia,os reis usam frequentemente os nomes de Amenemés e de Sesóstris,se bem que seja pouco provável que tenham sido descendentes dessespríncipes. Estamos muito mal informados a respeito do processo dadecadência; o primeiro rei da XIII dinastia, Amenemées Sebekbolep,parece ter reinado sobre todo o Egito. Talvez tenha ocorrido omesmo com seu sucessor imediato, Seankhlatii-Sekhemkaré. Depoisdesses dois faraós, a ordem de sucessão dos reis torna-se muito incertae desconhece-se até que ponto ia seu poder. São tão numerosos quechegamos a indagar-nos se não eram "eleitos" por um certo tempo.

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Ao que se presume, a realeza teria buscado refúgio no Sul e ter-se-iainstalado na região tebana. Entretanto, descoberta feita em Byblosrevela que urn dos Neferhotep (Cf . relação no fim do livro) teriaexercido ainda certa influência na Fenícia. Sobre a passagem da XIIIpara a XIV dinastia nada se sabe. A anarquia parece aumentar rapi-damente e é nessa época que, segundo Manethon, começou a invasãodos hicsos, mas .na verdade os invasores já deviam estar instaladosno Delta oriental desde o começo da XIII dinastia. O movimentode expansão dos hicsos certamente acentuou-se entre os últimos reisda XIII. Com efeito, o último rei da 'XIV dinastia, Nehesy (o"Nublo") já se considerava vassalo dos hicsos; a invasão estava por-tanto bastante avançada.

Oí kicsos, —• O nome hicsos nos é dado por Manethon. Pareceque se trata de deformação da palavra composta egípcia Hêga-khasut,que significa "chefe de país estrangeiro". Esses estrangeiros não per-tenciam todos à mesma raça; entretanto, os nómades semitas deviamser os mais numerosos. A invasão dos hicsos está relacionada comvasto movimento de migração em toda a. Ásia. Tem relação com ainvasão ariana do segundo milénio no Oriente Próximo, Os hititasse estabelecem na Anatólia por volta do ano de 1925, os cassitas seinstalam na Babilónia e os hurritas em Mitani (Cf. Mapa II, p. 51).Ao se deslocarem, essas populações empurraram para o Oeste osnómades semitas que se encontravam à sua frente. Foi essa vaga,engrossada por elementos diversos, que penetrou no Egito.

Depois de haver invadido o Delta, onde fortificaram a cidadede Avaris para fazê-la sua capital, os hicsos avançaram primeiro atéMênfis e depois mais para o interior. Avaris foi fundada mais oumenos em 1730, isto é, cinquenta e oito anos após o fim da XIIdinastia. É possível que os reis da XIII dinastia tenham logradobarrar os invasores durante muito tempo no Delta e que só no fimdessa dinastia os hicsos tenham retomado a marcha para a frente.Houve, portanto, longo período em que o Delta foi ocupado conjun-tamente por egípcios — que mantinham certo poder político naregião — e por hicsos, mas não sabemos que tipo de relações haviaentre os dois elementos. Imaginamos facilmente os invasores conten-tando-se com pilhar e extorquir os sedentários, sem se ocuparam comadministração e, por outro lado, o governo local egípcio, muito debili-tado para punir, aceitando o fato consumado. Mas essa situação nãopodia continuar de maneira indefinida; novos invasores afluíam in-cessantemeate para apoiar os pioneiros. Pouco a pouco os hicsos seorganizaram e instituíram um chefe único que empreendeu a conquistade todo o Egito. Seja porque a administração egípcia dessa épocaestivesse totalmente desorganizada, ou porque o exército tivesse sido

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ultrapassado pelos recém-chegados alienígenas, que talvez dispusessemde poderio militar superior ao dos egípcias, graças ao recurso deorganização ou armamento que esses ainda desconheciam, o fato éque invariavelmente a vitória dos hicsos parece ter sido fulminante.Os egípcios guardaram dela uma lembrança terrível, sem dúvidaexagerada pela propaganda real, mas que evocaram com muita frequên-cia daí para frente.

Faltam-nos documentos para ré tratar as peripécias da conquistae do estabelecimento de reis hicsos sobre todo o Egito. Dos seisnomes de reis estrangeiros transmitidos por Manethon, apenas cincoforam identificados em monumentos egípcios. São eles: Cbían, Apo-pi J, Apopi II, Aasehré e Aakenenré-Apopi III. Estes reis governa-ram aproximadamente cem anos, preenchendo assim a segunda parte

.do Segundo Período Intermediário. Sua ordem de sucessão continuaincerta, salvo com relação a Apopi II, que é seguramente o últimorei hicsos, pois reinava em Avaris quando foi expulso pelos egípcios.Por seu turno, os núbio-sudaneses aproveitaram-se da decadência darealeza egípcia e do distanciamento do soberano hicsos, estabelecidono Delta, para construir um reino independente ao sul da primeiracatarata. O primeiro reino unificado de Cttch parece, portanto, remon-tar a essa época.

A XVII DINASTIA E A RECONQUISTA — Parece que oshicsos, ao conquistar o país, contentaram-se simplesmente com imporo pagamento de um tributo, não se preocupando com a administraçãoegípcia. O Egito estava novamente dividido em três partes. No Deltae no Médio Egito, os hicsos governavam diretamente; o Alto Egito,vassalo dos estrangeiros, encontrava-se praticamente independente; aNúbia, região de Cuch, que se tornara livre, era governada por urasudanês. No início o Alto Egito parece ter sido dividido em pequenosreinos mais ou menos controlados pelo rei de Tebas. Assim, maisuma vez os mestres de Tebns desempenhariam o papel de unificadores.Os primeiros reis tebanos contemporâneos dos hicsos tomaram osnomes de Antef ou de Sebekemsaj, Nada se sabe sobre suas empre-sas; talvez tenham reunido progressivamente em torno de si osnomos do Sul. Esses reis tebanos eram, a princípio, vassalos dos reishicsos instalados em Avaris. É possível que a luta aberta contra osinvasores estrangeiros tenha começado com o nomo desses reis doAlto Egito: Sekenenré Taá. Foi encontrada a múmia desse rei; trazà testa ferimentos que fazem supor que Sekenenré tenha sido mortono campo de batalha (o médico que fez a autópsia da múmia achoupossível estabelecer até a maneira pela qual o rei foi abatido); maso fato de ter sido possível recolher e embalsamar o corpo vem provarque o exército egípcio acabou senhor da situação. A hipótese é

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engenhosa, mas insustentável; o rei poderia igualmente ter^ sido mortopor atentado ou numa guerra civil, mantendo seus partidários o poder,Seja como for, a guerra contra os hicsos continuava no reinado do filhoe sucessor de Sekenenré: Kamés, Este conseguiu bater o exércitohicsos ao norte de Hermópolis e continuou a luta mais ao norte,Texto recentemente descoberto em Karnak nos dá conta de que Orei hicsos, para melhor se defender de Kamés, teria procurado aaliança do rei de Guch e que os egípcios teriam promovido um rei-de até Avaris, sem contudo tomar n cidade.

O último ato da reconquista será executado pelo sucessor deKamés, seu filho Ahmés, que será igualmente o fundador da XVIIIdinastia, tão logo tiver libertado a totalidade do solo egípcio. Con-tinuando a luta, Ahmés avançou novamente sobre Avaris, a capitaldos hicsos, cercou-a e submeteu-a, Perseguiu em seguida os invasoresaté o sul da Palestina. Com essa vitória termina o Segundo PeríodoIntermediário e começa o Novo Império ou Segundo Império Tebano.

A história do Segundo Período Intermediário é muitomal conhecida para nos permitir avaliar as consequênciasque dela. advieram para a história ulterior do Egito. Abrutalidade e o alcance da catástrofe abalaram seriamenteo pais. Os nómades asiáticos tinham sido até então vizi-nhos incómodos para os egípcios, mas não eram perigosos.O "Muro do Príncipe", construído pelos reis da XII di-nastia de um lado a outro do istmo de Suez, deveria im-pedir — pensavam eles — definitivamente os rapazesbeduínos de vir "dar de beber a seus rebanhos no Nilo".A invasão dos hicsos demonstrava que essa precauçãoera insuficiente. Daí para frente, a poderosa Ásia ameaçaas portas do Egito — eis o fato essencial que determinaráagora toda a história do Egito,

5. O Novo Império (1580-1200 a,G.). — Com oNovc_Irnpério aca.ba a história..clás.sica..do Egito. "Tèrím-naaã^essã2^Bp_ca,3õ~Egltõ~ jamais verá o prestígio e aPHÍâD5.â.._que alcançara sucessivamente no Antigo, depois-no-Juládio. e finalmente rio Novo Império, Sua_histórianã£L-sjará_inais_qiieuJurrulongo declínio, uma espécie de/ - "*-*«-«^rriíí •*•

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Terceiro. Período Intermediário que não terá mais alvo:

recer. Mas antes dessa longa agonia, o Egito viveu umperíodo muito brilhante: o Novo Império. Este contrastaem muitos aspectos com as épocas que o precederam.Primeiro, colhendo os frutos de uma longa resistência àsdiversas opressões, a região tebana torna-se o centro admi-nistrativo do Egito, o qual até o Segundo Período Inter-mediário ficava estabelecido em Mênfis e no Médio Egito.Este deslocamento do centro governamental correspondea uma nova necessidade geográfica. A expansão para oSul é considerada concluída," depois de haver chegado àquarta catarata, perto de Napata (Cf. Mapa I, p. 35).Doravante o Egito esténde-se de fato do décimo sétimoparalelo até o Mediterrâneo, ao longo de mais de 2260km do vale do Nilo. Para controlar e explorar esseimenso território é normal que a capital administrativase situe o quanto mais próximo possível de seu centro.Isso é tanto mais imperioso porque agora é em seu im-pério africano que o Egito vai buscar parte considerávelde seus recursos: ouro, matérias-primas (madeira, peles,marfim, borracha, pedras semipreciosas etc.), gado e,sobretudo, homens para seu exército e sua polícia. Apenetração do Egito Ásia adentro teria sido impossível,não fora apoiada no hinterland africano. Se o NovoImpério difere dos outros períodos de unidade pela loca-lização de sua capital, não se distingue menos por suapolítica externa. Enquanto a política militar do Médioe sobretudo do Antigo Império se caracterizara pela de-fensiva (o que não excluía eventuais reides contra o ini-migo), o Novo Império inaugura uma política de con-quista — diríamos hoje, uma política imperialista. Estaatitude é nova no Egito. Acabamos de observar, ade-mais, que a política tradicional do Egito diante dosasiáticos tinha sido superada pelos fatos. O Egito, queacaba de sofrer dois séculos de invasão estrangeira, ten-

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tara evitar que se repita semelhante catástrofe, expan-dinclo-sc o mais que puder para o Leste; procura alargaro quanto possível o espaço que o separa dos irrequietosnómades cia Ásia, mais ou menos confederados e acuadospelos mitanianos, conquistadores arianos instalados entreo Orontes e o alto Eufrates. Esta nova política marcaráprofundamente a civilização egípcia. Até essa época,apesar das Invasões e penetrações estrangeiras, o Egitoviveu sobre seu próprio fundamento; penetrando profun-damente no Oriente, entra em contato estreito com asgrandes civilizações da Ásia Anterior e, embora perma-necendo original e egípcio, sai bem modificado. Os cos-tumes, o armamento e mesmo a vida de todos os diassão outros. O Egito, até então muito sóbrio de gosto,adota um luxo tipicamente oriental, de que a inopinadariqueza do túmulo de Tuthankhamon nos revelou o es-plendor por vezes um tanto pesado. .Mas não nos lamen-temos por Isso; a arte dessa época ganha em graça eesplendor o que perde em poder. Eis outro aspecto dogénio egípcio.

A XVIII DINASTIA (1580-1320), — Como já vimospor diversas vezes, não há divisão clara entre a XVII e aXVIII dinastias. O último faraó da XVII é ao mesmotempo o primeiro da XVII dinastia. A mudança de dinas-tia e do nome do faraó se explica pela tomada da cidadede Avaris que marca o fim da invasão dos hicsos e ocomeço de uma nova unificação do Egito.

Ahmés (1550-1558) é conhecido sobretudo por suaaçãó contra os hicsos. Um texto nos revelou por alto asperipécias da luta e da tomada de Avaris. A respeito deobras internas nada se sabe; talvez tenha erigido novossantuários aos deuses, A religião penetrará mais e maisa história política. No Egito, não é o rei que abate osinimigos, é deus_quem permite ao rei vencê-los, Veremos

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adiante que esta não era uma simples cláusula cie estilo.O governo egípcio evoluía progressivamente no sentidode uma verdadeira teocracia, até os sacerdotes de Amonse tornarem os verdadeiros senhores do país, Tencloa tomada de Sharuhen, na Palestina, liquidado o perigoasiático, Ahmés conclui sua obra de unificador anexandoao Egito a Núbia, que se emancipara durante o SegundoPeríodo Intermediário e pactuara talvez com os hicsos.Durante todo seu reinado, as rebeliões sucederam-se naregião de Cuch, onde teve que fazer três campanhas;ao que parece, atingiu a ilha de Saí, entre a segunda e a

- terceira catarata. Presume-se que no fim cie seu reinadoAhmés tenha feito ainda uma campanha na Fenícia.

Amenófis I, filho de Ahmés, prosseguiu a obra dó paie, como este, construiu numerosos templos. Promoveuuma campanha na Núbia e estabeleceu-se fortemente emUadi Halfa. Não se conhecem suas iniciativas na Ásia;mas, certamente, também ele fez guerra na região, poisseu sucessor declara, ao ser elevado ao trono, que o reinose estende até o Eufrates. Ora, Ahmés sem dúvida nãoteria ido tão longe,

Thutmês I (1530-1520). — Amenófis I só teve filhascom sua mulher legítima; ora, parece que no Egito asfilhas tinham direitos ao trono do pai, desde que não .rei-nassem sozinhas. Um filho ilegítimo de Amenófis, umbastardo, foi quem tornou o poder com o nome de Thut-mês I; mas para confirmar; ou talvez até para adquirirdireitos ao trono, desposou sua meia-irmã Ahmés, filhade Amenófis I e da rainha" legítima. Continuando apolítica dos predecessores imediatos em relação à Núbia,Thutmês I avançou para o Sul e ultrapassou de longe aterceira catarata. Na Síria, alcançou o Eufrates, ondeerigiu uma esteia demarcando a fronteira. Mas, na rea-

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iidade, estes foram apenas reides de pilhagem destinadosa arrecadar tributos. --

TJmtrnâs^n (1520-1505). — O problema Acessórioque surgira com a morte de Amenófis I reaparece e nasmesmas condições com a morte de Thutmés I, que. legi-timamente só iev.e_iilhas. Des_ta_ vezIS também um bas-'••irdo que sobe ao trono: TluUmés II. Para regularizar

j.' • xcão..-..casa-se com sua meia-irma e Filha legítimade Thutmés I: O remado de Thutmés II é marcadopor-'duas~reb~eli5e_s. uma na região de Cuch e outrana JMria., Ambas são refirmiidas pelo rei, mas a fre-quência desses jncidentgs_ revela a fragilíHãHe das"conquistas" do exército _egjjjcio. Este exército conduzas~lrTcúfscTês7Tfiãs rêtrai-se tão logo tudo acaba; não háocupação efejjya. Quando porventura se deixam tropasnas fortalezas para.jàgiar~õ~país conquistãxlo^esjãs^fgrta-lezas_de_stinarri-se .antes, a.giiaidãFêstradas que a_ governaros nativos.

Thutmés III e Hatshemij^ — TJratpés I_I, ao morrer,dajnesrnaJ:orma^gip^eu^pítT e seú^avô, nãõ~Hêíxõií"lè"gi-timarnente senão filhas e um filho bastardo nascido deuma cõncuBmÊL Efa"ãè""sê~êspefãir~qlfé"èsté~tbmassè opoder," como sucedeu com Thutmés I e Thutmés H. E foiefetivamente o que aconteceu. À morte de Thutmés II,foi proclamado rei Thutmés III, seu filho natural. Mjiseste era_jdnda muito novo. e sua tia Hatshepsut, a mulherd§_.JjEútrflê§_IL Assumiu _a__regência. ~T2sta regência setransformou pouco a pouco em verdadeiro reinado eHatshepsut. relegando seu sobrinho não se sabe paraonHe/^reinou sózinha_ duranje vinte e dg|§_anps. Seriainteressante"'cõnriecer a atitude do cTêlro^e^Arnon du-rante este período, pois foi ele que à morte de Thutmés IIproclamou Thutmés III rei, mas veremos logo a seguirque o _sj.mjg_sj.ce^ote_jl£_:Amon._é um_dgs.jiéis da rainha

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Hatshepsut, e que esta para f undanlentar _seu poder sedeclara a própria filha^<5~clêris~Arnon. Parece, pbTtaiito,quê"cT2eró_desse deus exerceu papel importante, na suces-são, quer teffia TsicTp embaTdo"põr Hatshepsut ou o tenhafeito por iniciativa própria.

* Q. reinado de Hatshepsut foi tranquilo, do ppntode vista rmlitãr7"sè"]ã~p"0l'que a rainha não tenha tido con-fiança no exército, ou porque não tenha podido conduzi-lopessoalmente. As_ ejcciusões__riT.ilitíi.res . foram ..substituídaspor expedições ^comerciais, sobretudo à regiãq_de IPunt,Este período fulge em grande espjendor no plano artístico,e o templo funerário da rainha, em~D"eir el-Bàliarí, coiís-truído por seu arquiteto e valido Senenmut, continua sen-do uma obra-prima por sua audácia e dimensão.

(1504-1450) , após a morte de Hatshep-^J3ns_eguiu_tomar __o. poder. Em seu ressentimento_ _ _ _ .

contra a tia, entregou-se a uma verdadeira perseguiçãopóstuma. Mandou raspar o nome de Hatshepsut nos mo-numentos- e substituí-lo oifpelò próprio ou pelos nomesdejseírpají e avô. Mas Thutmés, felizmente, não se con-tentou com ser um demolidor, continuou a tradição desua família e construiu, sobretudo cm Tebas, inúmerosmonumentos.. ~" ..... "

Thutmés III deve sua glória máxima à ação militar,' f o i sem dúvida o mais brilhante f ãfãÕ~ê~gípcTô7" quem

ampliou ao máximo as fronteiras do país. Como a polí-ti^ijTtfbjajJè.se.us antecessores lhe. garantia tralfqiuliclad.enq_S_uL._pô.de._. voltar-se .parado Oriehtei_de_onde_vinliaagora o principal perigo para os faraós. Na Ásia, comefeito, aproveitando-se talvez da inação de Hatshepsut,os mitanianos haviam promovido uma coalizão hostil aoEgito. Esta aliança, encabeçada pelo rei de Kadesh, le-vantou mais uma vez a Ásia contra os egípcios. Thutmés

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III teve que comandar dezessete expedições para impor--se definitivamente e restabelecer a hegemonia egípcia noLevante. É verdade que as,expedições não tiveram todas'a mesma importância, algumas não passavam de simplesinspeções militares, outras eram apenas reides punitivossem maior alcance. Teria Thutmés III seguido um planoestratégico preestabelecido? Tem-se essa impressão, em-bora se possa ser vítima de ilusão e seja impossível, porfalta de documentos, avaliar exatamente a situação.Com efeito, ele não investiu de saída contra Mitani, overdadeiro inimigo que fomentava todas as sublevaçõescontra o Egito, mas começou por assegurar bases sólidase só no fim aplicou o golpe decisivo.

Na primeira campanha anual que empreendeu, Thut-més III retomou a Síria e a Palestina, depois levou trêsanos organizando esses países. Começou em seguida ase preocupar com suas vias de comunicação. Na quintacampanha, apoderou-se de um porto da Fenícia, abrin-do-se daí por diante a possibilidade de prescindir dolongo e desértico caminho por terra. Parte por viamarítima, portanto, para a sexta campanha, durante aqual conseguiu tomar Kadesh às margens do Oronte(Cf, Mapa II, p. 51), o centro principal de seus inimi-gos. Mas as bases que estabeleceu não foram aindaassaz seguras e uma sublevação na Fenícia revelou-lhea fragilidade, dai ter dedicado a sétima campanha àtomada, de vários portos da Fenícia. Terminada estaconquista, sente-se bastante fortalecido para lançar uma.derradeira ofensiva, a oitava campanha. Navegandopor mar, desembarcou na Fenícia, atravessou a Síria calcançou o Eufrates, que transpôs em barcas que man-dara construir em Byblos e transportara através do de-serto. Defrontou-se com os mitanianos, desafiou-os eperseguiu-os em plena montanha. A repercussão dessavitória foi muito grande; não só os mitanianos, mas tam-

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bem seus vizinhos que não se haviam batido com oEgito •— os assírios, babilónios, hit i tas — julgaramprudente enviar tributo ao- vencedor,

Graças à vitória sobre Milani, grande parte da ÁsiaAnterior achava-se sujeita à influência egípcia. As novecampanhas seguintes foram apenas campanhas de "ma-nutenção". ]£ manifesto, com efeito, que o país con-quistado não foi to ta lmente ocupado. O faraó se con-tenta em levar para o Egito os filhos dos príncipes e osdos chefes vencidos, Fá-los estudar no país e os devolveem seguida a seus países de origem, na qualidade deagentes da civilização egípcia. Este sistema revelava-seum tanto ineficiente e veremos que, embora forte, aposição do Egito na Ásia terá que se apoiar constante-mente em novas incursões armadas, Em 1464, ainda vivo'Thutmés III, o Mitani, apoiado pelos príncipes de Kadeshe de Tunip (cidade fortificada dos sírios situada pertodo Oronte) estabelece uma iiltima coalizão, mas os egíp-cios depois de nova campanha, conseguem retomar tantoTunip como Kadesh. A Ásia vai manter-se tranquila pelomenos até a morte do rei, que ocorreu em 1450.

No fim de seu reinado, por ocasião de uma revoltacertamente local dos sudaneses, Thutmés III subiu atéa quarta catarata. Assim, em 1450, o Egito se estendede Napta, no Nilo meridional até o Eufrates. É o apo-geu de seu poderio, que agora só fará decrescer poucoa pouco; a obra de Thutmés III, no entanto, foi tãogrande que conseguiu manter-se ainda por mais de umséculo.

Amenófis U (1450-1425). — Thutmés III, enquantoainda vivo, elevou seu filho mais velho ao trono, paraevitar-lhe os desgostos que tivera no tempo de Hatshe-psut. Amenófis II, portanto, sucedeu a seu pai sem maisdelongas. Teve um reinado pacífico interna e externa-

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mente; os sírio-palestinos, aproveitando-se da morte deThutmés III, tentaram rebelar-se,.mas Amenófis II re-primiu a insurreição e executou os sete chefes sírios quecapturou em campanha, A situação na Ásia, de resto,tende a evoluir. O Mitani, até então "predominante,começa a temer os hititas (instalados na Anatólia), eeste temor fá-lo aproximar-se dos egípcios.

Thutmés IV (1425-1408) não era certamente o filhoprimogénito de Amenófis II, mas não sabemos comochegou ao poder, porquanto a sucessão se fez sem cho-que. Como seu predecessor, teve um reinado calmo,Fez duas campanhas,' uma no Sudão e outra na Ásia;esta últ ima foi mais uma inspeção que uma expediçãopropriamente dita. Com efeito, a situação na Ásia evo-luíra completamente, o perigo hitita assumira, tais pro-porções que os antigos inimigos do Egito, os mitanianos,agora não hesitavam mais em buscar a amizade do faraó.Uma aliança foi concluída entre os dois países e paraselá-la acredita-se que Thutmés IV tenha desposado umaprincesa mitaniana. É a esta que seu f ilhcx Amenófis IIIdeveria o fato de ter sangue indo-europeu.

Amenófis III (1408-1372) sucedeu normalmente aseu pai. No início do reinado, saía frequentes vezes emexpedições de caça; depois, parece que permaneceu tran-quilo em seu palácio; desposou uma mulher de origemobscura, talvez estrangeira. Externamente, Amenófis IIIavançou uma ponta no Sudão, até Kara, onde propuse-ram reconhecer-lhe a região que se estendia imediata-mente ao sul de Napata e da quarta camarata. Não constaque tenha intervindo na Ásia, onde a aliança com oMitani mantinha-se sempre efetiva. O rei do Egito buscasuas esposas em Mitani e na Babilónia. Mas o desen-volvimento da situação política asiática, que começarano tempo de seu avô, processava-se sempre mais rápido.

Os hititas atacavam os mitanianos e estes só conseguiamrepeli-los com o Auxílio de tropas egípcias. A interven-çãojdessas tropas levará os hititas, a partir do fim doreinado de Amenófis 'II, a se voltarem diretamente con-tra o próprio Egito. Retomando a política dos mita-nianos, no tempo de Thutmés III, os hititas fomentamna Síria uma colizão antiegípcia. A segurança do Egitoestá, portanto, ameaçada, mas a situação só se tornarárealmente melindrosa para' as possessões egípcias naÁsia sob o reinado do sucess.or de Amenófis III.

,^m,.. (1372-1354). — Amenófisv T r TWSOCWWpBKTSÍ' 'I^Olff^-S-f-f— > - ,_*_*"—

IV, o limo de Amenoíis III, tornou-se ramosp na Instonauniversal p^elas__denqminaç.Õ...e.s. cie..."rei... .lieréfi.cp" ou "reicismático". Em seu reinado, a religião se destaca maisgue~tugc>. Mas não se deve p en s ar~qu ê "ã"f èlíg i ã q tenhaesperado pelo reinado de Amenófis IV para desempenharum papel na política egípcia; a reforma religiosa deAmenófis IV em parte nasceu de ideias concebidas, noreinado de Amenófis. III. Desde a origem da dinastia,o clero de Amon exerceu imp_OTtjinte^_afi.ão_ no^governo.0uê" à "revolução" religiosa de Amenófis IV tenha tidoorigem política è também possível. Não se diz queAmenófis IV não tenha sido sincero em sua ati-.tude religiosa. Talvez tenha sido místico; não temosdocumentos suficientemente seguros para julgar a res-peito desse aspecto do problema, mas é evidente que aprimeira intenção de sua iniciativa. é...s.acudir. o..jugo-cioclero àmoriiànó. Recorrendo a dispositivo verdadeira-

• mente rèvqlucibnário, tenta acabar com a religião_dodeus Ajnon, fecha seus templos e dispersa seus sacer-dotes. Não satisfeito com essas primeiras medidas, aban-dona Tebas e instala seu governo em Tell .al-Amarna,no"_Médib Egito (Cf. Mapa I, p. 35), Enfim, muda seuprópjrio nome, composto com o nome de Amon, para

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Akhenalon, c manda eliminar o. nome..ç!e.A.mpn.ç.rn..tpdasalTfnscrições monumentais, sobretudo nos carluchos dosfaraós precedentes — Amenófis I, II e III. A religiãoque impôs ao Egilo mostra tendência claramente mo-no teísla, embora os outros deuses à exceção de Amou"não tenham sido molestados; o deus por excelência éAt o n, o disco solar, mas — novidade no Egito — paraadorá-lo não são necessárias estátuas, o culto será feitoao ar livre e se dirigirá diretamente ao deus que brilhanos céus. Houve quem visse in f luenc ia asiática nessareligião; houve mesmo quem pensasse que o rei a teriaadotado deliberaclamente com a finalidade de favoreceruma política imperialista egípcia na Ásia. Mas isso épouco provável; de um lado, Amenófis IV parece nãoter-se preocupado muito com a situação externa; deoutro, o culto de Atou não foi invenção sua. Já existianos reiiiactõr^teriS^^O .'".? .?"' ATõn~e"usaclõ"pãradesignar o disco solar desde os jvelhps Textos ãas'Pirâ-mides^ Enfim, o clero parece ter exçrcido certa influên-cia "na revolução religiosa de Akhenaton. Em suma, oaspecto político da revolução atoniana parece ter sidodecisivo. Aj]ás,__es^fpj_^^remjmT_ente curta, e a religiãode Aton foi abandonada talvez ainda em vida do pró-puiKSEEiríaton.' 'Parece, a propósito,' que a mulher deAmmófis IV^NjIgrtyj, exerceu fundamental fnfluerTciana revolução operactapelo marido. Se ela não favoreceua introdução do novo culto, em todo caso permaneceu-jhe fiel p_or_m_ais tempo que o próprio marido! A~~ãçaode Amenófis IV acarretou""â'"debilitarão da dinastia.Morto o rei, .g_cjero.de Amon recobrou todo o seujxxlere os sucessores cteAmeiróTIs~TV pêrcfélFãm" todo o seuprestígio junto ao mesmo. Suspeitosos, os sacerdotes deAmon favoreceram a instauração de mna~noya~~dinastia.E7~pn:eT?iÍBraTrdõrse~tóv^ pelarevolução religiosa, a coalizão hitita prosseguiu em seus

___ expedicionários. O rei de Kadesh retomou a pla-nície síria do Norte "e o rei de Amurru, outro aliado doshititas, apoderou-se dos portos fenícios ocupados peloEgítò~"Amenófis IV não reagiu, limitou-se a mandar, uminvestigador à Fenícia; este, assaz bizarramente, confir-mou-o rei de Amurru nos territórios que acabara de arre-batar ao Egito e que logo abrangeria Byblos. Em suma,Amenófis IV reconhecia o fato consumado e satisfazia-seem considerar o rei de Amurru como..seu y^assãíòT "~NaPalestina, por_sua vez, os beduínos se sublevaram <nnr~apoderaram primeiro de Megiddo e depois de Jerusalém:os indígenas apelaram em vão para o Egito, AmenófisIV não lhes enviou auxílio algum. Finalmente, o Mitanisucumbe aos ataques ora dos hititas, ora dos assírios.Os hititas, agora todo-poderosos, forçam o rei de Amurru•—• que teimava em ficar independente na posição em queo confirmara Amenófis IV •—• a assinar um tratado de >aliança com eles. A influência hitita, portanto, substitui ípor_toda_parte a influencia egípcia e já não resta grande ;coisa da o"bra de Thutmés III.

Tiiiankhqlon-Tiitankhamon. — A sucessão de Ame-/ r . •&^.'^''i:':i^:^^f".:'.-'ÉXv*ia*x~-í*tí'^'» -* r—" "". T .nons IV e bastante obscura; como os primeiros reis da

dinastia, ta.mbém ele não deixou senão filhos. Parece /que no fim da vida associou ao trono o marido da filha ímais velha, Semenkaré, e que os dois aderiram ao culto idè~Amo'n. A rainha Nefertiti, permanecendo em Amarna, ,•'continuava fiel ao cultó^ atoniano. Arnenófis_- IV e_Se- jmenkaré morreram q_uase ao-mesmo...tempo e o Pjjderretorna" ao marido da -segunda filha de AménôTis^V,TwtUnKKàton, que, ainda muito jovem, permanecera jun-to_de Nèfértitrèm Amarna. Ao fim de três arios, depoisde não se sabe que fato, Tutankhaton deixou Tell-al--Amarna e partiu para Tebas, onde tomou o nome deTutankhamon. Nefertiti, entregue à própria sorte, talvez

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ir.

o tenha indisposto com os hititas, mas sem resultado.Tji^l^hnnipn..m£rreu_^ii:joyem, aos dezoito anos, apósum rei]TEicloMde.,nay;e,...an"os. Sua~víuvã, Xhlcliêsènamon'tenta desposar um príncipe hitita, mas este é assassinadoa caminho do Egito,

A partir do fim do reinado de Amenófis IV, a polí-tica externa do Egito provavelmente não era mais orien-tada pelo rei, mas por um general, Horemheb, cuja im-ponente figura se destacará no crepúsculo da XVIIIdinastia, atento para tomar o poder, Desde o reinadode Amenófis IV, Horemheb retomou a luta na Ásia eno sul da Palestina, onde consolidou o que ainda podiaser salvo da posição egípcia,

Ay, antigo funcionário de Amenófis IV, mantém seus direitosao trono em virtude de seu casamento com a viúva de Tutankhamon,filha de Amenófis IV. O reinado de Ay é, aliás confuso e breve, nãodurou mais que quatro anos. A política externa continua por conta deHoremheb, que certamente não ficou alheio à elevação de Ay ao trono.

Horemheb. — Último rei da dinastia, Horennheb só está vin-culado a ela por obra de Manethon e dos historiadores. De fato, nãodeve nada a essa dinastia, à que não pertence nern por sangue nempor força de alianças. Talvez sua esposa fosse parente de Amenó-fis IV, mas não detinha nenhum direito à coroa, e se foi eleito rei,o foi por arte de algum oráculo de Amon. Descendia de família de"nomarcas", isto é, de governadores provinciais. Parece ter-se aper-feiçoado assaz rapidamente na carreira militar. Chefe dos arqueirossob Amenófis IV, comandou o exército sob Tutankhamon e Ay.Seria interessante conhecer melhor essa figura estranha. .Depois dater sido favorável aos reis Tutankhamon e Ay, o reinado de Horemhebcaracterizou-se gela reação contra a família de Amenófis IV. Usurpouos monumentos de Tutankhamon, dos quais deu-se ao trabalho deraspar o nome do predecessor para substituí-lo peio seu. Enfim, fezseu reinado começar a partir da morte de Amenófis III, como seAmenófis IV, Semenkaré, Tutankhamon e Ay não tivessem existido.A acreditar num édito promulgado em seu reinado, ele teria restau-rado a autoridade central, cuidando de reprimir os abusos dos fun-cionários. Em todo caso, não parece que tenha promovido campanhas

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militares após sua coroação. Horemheb foi o verdadeiro fundador daXIX dinastia, cujo primeiro faraó supõe-se que ele mesmo escolheu.

A XIX DINASTIA E A VOLTA DA HEGEMONIAEGÍPCIA. —• O exército', tal como havia sido organizadopelos grandes conquistadores da XVIII dinastia, repre-sentava a partir de então verdadeira força no Estadoegípcio e não surpreende vê-lo desempenhar função navida política. Fora já sua função militar que permitiraa Horemheb usurpar o poder; advindo a velhice e nãotendo certamente filhos, pensou em outro militar parasucedê-lo,

Ramsés,I^.( 1814-1812). — Designado por Horemheb,scin chegou ao poder sem dificuldades. Era origi-

nário de Tânis no Delta e, a exemplo do pai, fora sol-dado de carreira. Usou os mesmos títulos militares que

'o próprio Horemheb. Não se sabe se era ou não parentedos últimos faraós da XVIII dinastia.

Ra.msés já tinha idade avançada quando assumiuo p,p.der; pôr isso, para confirmar o poder real à suadescendência, associou de imediato seu filho Sethi aotrono. O reinado de. Ramsés I foi marcado pelo lança-mento da pedra fundamental da grande sala hipostilade Karnak (Tebas) e por uma exrjedição ao Sudão, quefoi comandada por Sethi, sem dúvida o futuro Sethi I.

Selhi I -(1812-1293). — Corno o pai e mesmo notempocTeTT-Ioremheb, Sethi foi chefe dos arqueiros e vizir.Elevado ao trono por Ramsés I, assumiu o poder regular-mente. Seu reinado se caracteriza sobretudo pela reto-mada da política de conquista no Oriente. GraçãFjâSethi'"'I^ò Egit'5" conheceu" novo' 'p'erío"do""d"e grandeza.Sem atingir nem de longe', é verdade, a extensão que ftivera sob Thutmés III, o Império egípcio recobrou;grande influência na Ásia. '

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"" Prevalecendo-se da mudança de faraó, os beduínosda Ásia se sublevaram e apoderaram-se dos postos egíp-cios ao longo do caminho terrestre do Egito à Palestina.Sethi I reprimiu vigorosamente a rebelião, retomou ospostos e entrou na Palestina. Os nativos instigados peloshititas tentaram opor resistência aos egípcios. Mas Sethiconseguiu desbaratar os confederados .antes que tives-sem tempo de se reunir , Senhor da Palestina, avançouSíria aden t ro até a a l t u r a de'Tiro. O Egito voltara a seruma, .potência asiática.

Infelizmente, a fronteira.Qes,te,. do lado da Líbia, quese mantivera calma desde o Antigo Império, subitamenteapresentou grande perigo. Tribos arianas se haviam es-palhado por toda a Europa meridional e, atravessandoo mar, acabavam de se instalar na Líbia. E logo come-çaram a tentar se inf i l t rar no Egito. Sethi_ I conseguiuco,ntê-las basta_nte facilmente, mas o perigo perdurou,Deixou g~ra%'es problemas a seus sucelsõre£'''"Pac[fjcj\claa Líbia,1 Sethi...voltou-se novamente pa'ra a Ásia,..a fimde';:p7rpsseguir sua campanha, . Esta expedição infeliz-mente é mal conhecida, sabe-se que Sethi derrotou oshititas perto de Kaclesh, mas essa batalha não deve tersido decisiva, porquanto não conseguiu reconquistar aSíria..-! ,0^-i-

\ (1298-1235) sucedei) normalmente a seu£&!..,_, A julgar pelo número de monumentos marcadoscom seu nome, passaria por ser o maior, construtor egíp-cio; de fato, foi usurpador .cie trabalho alheio. Nãohesitava em mandar raspar os nomes de seus predes-cessores nos antigos monumentos, substituindo-os peloseu. Se acrescentarmos aos monumentos usurpadossuas próprias construções, que merecem ser lembradas,compreende-se que tenha deixado recordação viva na

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história universal e tenha sido por vezes c o n f u n d i d o como legendário Sesóstris dos gregos,

Cont inuando a política do pai, lianiscs levou a termouma expedição ao Sudão, e talvez tàTffBem tenha l u t a d o ^(não é certo) na Líbia, contra os inclo-europeus do"

Oeste. Em 1294 percorreu a Palestina e subiu até apro-x i m a d a m e n t e a a l t u r a de Byblos. De novo. os h i l i t n s opu-seram ao exérci lo egípcio uma a l i a n ç a cio v i n t e povos.Mns doslu viv. os egípcios n ;u> consogui r f in b a l u r os con-federados i so ladamente , terão quo o n f r e n l a r um exérciloreun ido . O c o n f r o n t o ocorreu d i an t e da cidade deKaclesh. A ba ta lha de Kaclesh é bem conhecida, graçasao elogio cli t irâmbico que o rei m a n d o u ' f a z e r sobre suaprópr ia a tuação. Foi possível m o n t a r a to um mapa comos movimentos da vanguarda, do "grosso" etc, Com efei-to, f a l t ou pouco para que a batalha sé transformassenum desastre sem precedentes para o exército egípcio.Tudo o que Ramsés pôde fazer foi reagrupar suas tropasc talvez dispersar o inimigo. Não conseguiu tomar Ka-clesh nem des t ru i r o exército h i t i t a , que cont inuou suacampanha contra ele; e tão logo Ramsés tornou ao Egito,nova rebelião eclodiu na Palest ina. Ramsés retomou ocaminho da Ásia, pacif icou Canaã (Palestina) e con-seguiu tomar Tunip dos hi t i tas (Cf . Mapa II, p. 51),

A esta a l tura , a si tuação externa evoluiu brusca-mente. Tirando par t ido da lu t a egípcía-hi t í ta , surgiana Ásia um terceiro saqueador , O rei da Assíria se apos-sara da maior parte do antigo Mitani, em seguida seestabelecera no Eufrates, de onde ameaçava ao mesmolempo as possessões egípcias e o Império h i t i t a , Com-preendendo o perigo, egípcios e hititas cuidaram logo dese entender e concluíram em 1278 a .C, um tratado, queé um verdadeiro pacto cio a s s i s t ênc ia m ú l n n . Os doispactuantes se comprometem a não mais guerrear umcontra o outro e a ajudar-se m u t u a m e n t e em caso do

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ataque por pnrlo do outras potências, E n f i m , outorgamreciprocíirnenlQ a extradição de seus1 respectivos asila-dos pollllcos, Para selar a nova uniãq, Ramsés II des-posa uma princesa hitita. O tratadoj entretanto, logoperderá seu interesse para o Egito, pois a segunda vagade invasores indo-europeus avança sobre a Ásia Menore o h i t i t a s serão os primeiros a ser enxotados; eles aindaconseguem contê-la por algum tempo, mas logo sãopostos para fora de suas fronteiras e não podem maisprestar qualquer ajuda ao Egito.

Meneptah (1235-1224). — Com O reinado de Me-neptah se inicia a decadência do Egito. O reinado deRamsés II foi extremamente longo e quando Meneptah,seu trigésimo filho, chegou ao poder, também já contavaidado-avançada. Conseguiu manter o prestígio do Egito,mas depois dele tudo entrará em decljnio, O fato maisimportante de seu reinado é inquestionavelmente a cam-panha da Líbia, Vimos sob Sethi I os indo-europeusentrarem na Líbia. Um chefe de tribo, depois de uni-ficar os diversos clãs arianos instalados na região, con-seguiu submeter os Líbios nativos e em seguida erguer-secontra o Egito, O exército inclo-europeu penetrou novale do Nilo a noroeste de Mênfis, Meneptah teve delutar em território egípcio; triunfou e o exército líbiofugiu em debandada, O perigo líbio estava provisoria-mente afastado. Segundo documento egípcio em queaparece pela p r i m e i r a vez na h is tór ia o nome de Israel,parece que Meneptah dirigiu uma guerra na Ásia, Masnão se tem informação alguma sobre essa campanha,que é ainda muito discutível.

Interrompemos, de forma talvez algo arbitrária, ahistória do Egito clássico, no reinado de Meneptah, istoé, em plena XIX dinastia. Mas, efetivamente, a partir

,- desse faraó começa pouco a pouco a desaparecer

55 \o que fez a grandeza incomparável do Egito. Pri-

meiro, escapam definitivamente cie seu domínio as pos-sessões asiáticas, Depois, a exemplo do que ocorrera noPrimeiro e no Segundo Período Intermediários, desapare-ce a unidade, esta unidade :que constituía a única força doImpério egípcio na África, Reinos mutuamente hostis seinstalam no Al to e Baixo Egito. E dessa fe i t a os pac i f i -cadores são apenas temporários; e assim, de desordemem desordem, o Egito se torna presa fáci l dos Impériosvizinhos; primeiro da Assíria, depois dos persas e f i n a l -mente dos gregos. li a j rh i s tó r i a dessa longa decadênciaque abordaremos agora, %