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Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos - Campus Sorocaba.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS
CAMPUS SOROCABA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
ANDR SANTOS LUIGI
O ENSINO DE HISTRIA DA FRICA:
INTERFACES ENTRE A LEGISLAO FEDERAL E O CURRCULO DE
HISTRIA DO ESTADO DE SO PAULO
Sorocaba
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS
CAMPUS SOROCABA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
ANDR SANTOS LUIGI
O ENSINO DE HISTRIA DA FRICA:
INTERFACES ENTRE A LEGISLAO FEDERAL E O CURRCULO DE
HISTRIA DO ESTADO DE SO PAULO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Educao para a obteno do
ttulo de mestre em Educao.
Orientao: Profa. Dra. Barbara C. M. S.
Nakayama
Sorocaba
2015
Luigi, Andr Santos.
L
952e
O ensino de Histria da frica: interfaces entre a legislao federal e o
currculo de Histria do estado de So Paulo. / Andr Santos Luigi. 2015.
141 f. : 28 cm.
Dissertao (mestrado)-Universidade Federal de So Carlos, Campus
Sorocaba, Sorocaba, 2015
Orientador: Barbara C. Moreira Sicardi Nakayama
Banca examinadora: Luiz Fernandes de Oliveira, Joaquim Gonalves
Barbosa, Rosana Batista Monteiro
Bibliografia
1. frica Histria Estudo e ensino. 2. Currculos So Paulo (Estado).
3. Ensino Legislao. I. Ttulo. II. Sorocaba-Universidade Federal de So
Carlos.
CDD 372.89043
Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Campus Sorocaba.
AGRADECIMENTOS
Professora Doutora Brbara C. M. Sicardi Nakayama, muito mais que orientadora,
agradeo pela amizade generosa, pacincia, disponibilidade e coragem inspiradora.
minha esposa, Camila, pelo companheirismo, incentivo e amor.
minha me, Lourdes, que abdicou de sua vida para me oferecer uma vida melhor.
Ao meu pai, Darcy, pelo exemplo de carter, liderana e comprometimento.
minha irm, Cibele, pelo carinho, respeito e amizade.
Ao professor Joo Alvino, por me ensinar o que ser negro.
Ao amigo Thiago , pela amizade militante e provocadora.
Anicleide Zequini, por ter me introduzido no mundo da pesquisa.
s Professoras Doutoras Marina de Mello e Souza, Maria Cristina Wissenbach e
Maria Helena P. T. Machado, Carlos Henriques Serrano, Kabengele Munanga e Martha
Helosa Leuba Salum por me apresentarem os estudos africanistas.
Aos colegas de ps-graduao, em especial aos parceiros Mauro Lima, Marlia Hanita,
Alfredo Rocha, Mrio Mariano, Mariana Martha e Ademir Barros do Santos.
Professora Doutora Rosana Batista Monteiro por sua disponibilidade, pacincia e
orientao nos estudos raciais, alm da parceria militante e intelectual.
Ao Professor Doutor Luiz Fernandes de Oliveira pelas orientaes e provocaes.
Ao Professor Doutor Joaquim Barbosa pelos ensinamentos.
Aos Professores Doutores Renata Prenstteter, Marcos Francisco Martins, Katia
Caiado, Fabrcio do Nascimento, Juliana Rezende Torres e Antnio Fernando Gouva pela
pacincia e interao frente s minhas inquietaes e perturbaes.
Aos colegas do NEPEN.
Aos companheiros da Associao Educao Popular em Ao EPA, Fernanda
Nathalia Fernandes, Cssia Batalha, Jos Renato Galvo e Rodolfo
de Souza.
Aos professores colaboradores do Cursinho Popular Comunitrio.
Aos companheiros de trabalho do Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia
de So Paulo dos campi So Jos dos Campos e Salto.
Biblioteca da UFSCar Sorocaba, em especial bibliotecria Milena Polsinelli Rubi.
Meus sinceros agradecimentos.
Carta Me frica
Me!
Aqui crescemos subnutridos de amor
A distncia de ti e o doloroso chicote do feitor nos tornou
Algo nunca imaginvel ou descritvel,
e isso nos trouxe um desconforto horrvel.
As trancas, as correntes, a priso do corpo outrora
evoluram para a priso da mente agora.
Ser preto moda, concorda?
Mas s no visual,
continua caso raro a ascenso social.
Tudo igual!
S que de maneira diferente.
A trapaa s mudou de cara, mas segue impunemente.
As senzalas so as antessalas das delegacias,
corredores lotados por seus filhos e filhas.
Mesmo separado de ti pelo Atlntico,
minha brisa so seus romnticos cnticos.
Me!
Me imagino arrancado de seus braos.
No me viu nascer, nem meus primeiros passos.
O esboo o que tenho na mente de seu rosto.
Por aqui, de ti falam muito pouco.
A maioria da populao tem negrofobia,
anomalia sem vacinao.
E o que menos querem ser e parecer
algum que no visual lembre voc.
Me, por que?
A carne mais barata do mercado a negra.
A carne mais matada pelo Estado a negra.
Os tiros ouvidos aqui vm de todos os lados
Mas no se pode seguir aqui agachado
por instinto que levanto o sangue Banto-Nag...
E em meio ao bombardeio
Reconheo quem sou, e vou...
Mesmo ferido, ao fronte, ao combate
E em meio a fumaa, sigo sem nenhum disfarce
No mural vedem uma democracia racial
E os pretos, os negros, afro-descendentes...
Passaram a ser obedientes, afro-convenientes.
Nos jornais, entrevistas nas revistas
Alguns de ns, quando expem seus pontos de vista
Tentam ser pacficos, cordiais, amorosos
E eu penso como os dias tem sido dolorosos.
E rancorosos, maldosos muitos so,
Quando falamos numa mnima reparao:
-Aes afirmativas, incluso, cotas?!
O opressor ameaa recalar as botas..
Nos mergulharam numa grande confuso:
racismo no existe e sim uma social excluso.
Mas sei fazer bem a diferenciao
Sofro pela cor, o patro e o padro.
Me!
Sou fruto do seu sangue, das suas entranhas
O sistema me marcou, mas no me arrebanha
O predador errou quando pensou que o amor estanca
Amo e sou amado no exlio por Dona Sebastiana.
GOG
Eu tinha de olhar do homem branco nos olhos.
Um peso desconhecido me oprimia. No mundo branco o
homem de cor encontra dificuldades no
desenvolvimento de seu esquema corporal... Eu era
atacado por tants, canibalismo, deficincia intelectual,
fetichismo, deficincias raciais... Transportei-me para
bem longe de minha prpria presena... O que mais me
restava seno uma amputao, uma exciso, uma
hemorragia que me manchava todo o corpo de sangue
Frantz Fanon
RESUMO
O objetivo desta dissertao analisar como o Ensino de Histria da frica abordado no
Currculo de Histria do Estado de So Paulo. Para tanto a pesquisa percorre o seguinte
roteiro terico: primeiro, discute a questo da educao enquanto poltica cultural; segundo,
problematiza o currculo como uma arena de disputas ideolgicas e polticas; terceiro, recorta
o tema do currculo para abordar as complexas relaes entre currculo de Histria, memria
social e a construo das identidades; quarto, descreve brevemente como a questo racial
tradicionalmente abordada pela historiografia e pelos materiais didticos de Ensino de
Histria. Aps percorrer todo este percurso terico a dissertao elenca os principais desafios
que marcaram o longo processo de construo e negociao de uma legislao federal sobre
Educao Anti-Racista. A partir desta contextualizao, a pesquisa desenvolve uma Anlise
de Contedo Descritiva das Diretrizes Curriculares para a Educao das Relaes tnico-
Raciais e o Ensino de Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana e do Plano Nacional que
organizou sua implementao. Abordados em conjunto, estes documentos so nomeados
como a legislao federal sobre Educao Anti-Racista. Esta anlise objetivou verificar se h
algum projeto pedaggico na legislao federal da Educao Anti-Racista e qual a funo que
o Ensino de Histria da frica assumiria neste projeto. A partir da constatao de um claro
projeto pedaggico em que o Ensino de Histria da frica assume papel crucial, foram
construdos descritores que pudessem orientar a posterior anlise de como o Currculo de
Histria do Estado de So Paulo aborda o Ensino de Histria da frica. As consideraes
finais demonstram que o Currculo de Histria do Estado de So Paulo no segue as
orientaes da legislao federal no que diz respeito ao Ensino de Histria da frica. Mais do
que no cumprir as Diretrizes Curriculares, a Secretaria de Educao do Estado de So Paulo
revela uma disparidade de concepo sobre sociedade e educao em seu Currculo, que
resultou na falta de dilogo com o movimento social e o intenso academicismo que marcou o
seu processo de elaborao. A dissertao permite afirmar que mais do que negar o direito ao
acesso memria afro-brasileira e africana, o Currculo do Estado de So Paulo
eurocntrico, estereotipado e preconceituoso em relao ao contedo de Histria da frica.
Palavras-chave: Currculo. Ensino de Histria da frica. Currculo do Estado de So Paulo.
LISTA DE ABREVIATURA S E SIGLAS
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CNE/CP Conselho Nacional de Educao / Conselho Pleno
CUT Central nica dos Trabalhadores
DCERER - Diretrizes Curriculares para a Educao das Relaes tnico-Raciais e o
Ensino de Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
ERER Educao para Relaes Etnicorraciais
FFLCH Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP
IDH ndice de Desenvolvimento Humano
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Brasileira
OIT Organizao Internacional do Trabalho
ONU Organizao das Naes Unidas
PLANAPIR Plano Nacional de Promoo da Igualdade Racial
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PPGEd Programa de ps-Graduao em Educao
SECAD Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade
SEE/SP Secretaria de Educao do Estado de So Paulo
SEPPIR Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial
UFSCar Universidade Federal de So Carlos
UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
USP Universidade de So Paulo
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Estrutura do Relatrio CNE/CP 03/2004 ................................................................. 59
Figura 2 - Percurso da Pesquisa ................................................................................................ 89
Figura 3 - Codificao da Legislao Federal sobre Ensino de Histria da frica.................. 92
file:///C:/Users/Andr/SkyDrive/Documentos/mestrado/dissertacao/dissertacao-final-defesa.docx%23_Toc410113112SUMRIO
Introduo: A Histria da minha vida, minha vida na Histria ........................................................8
1. Currculo: Poltica, Cultura e Educao ....................................... Erro! Indicador no definido.
1.1. O poder do currculo .........................................................................................................21
1.2. O poder da cultura ............................................................................................................26
1.3. A cultura do poder ............................................................................................................34
1.4. O Currculo do poder ........................................................................................................38
1.5. Histria e Memria: o poder da identidade e a identidade do poder .................................41
2. Ensino de Histria da frica: do que estamos falando? ......................................................... 45
2.1. Educao como Poltica Pblica de Promoo da Igualdade Racial .................................48
2.2. A construo institucional da Educao Anti-Racista ........................................................54
2.3. O Parecer CNE/CP 03/2004: a primeira expanso da Lei 10.639/03 ................................58
2.4. A Resoluo CNE/CP 01/2004 e as Diretrizes Curriculares ..............................................64
2.5. O Plano Nacional de Implementao das Diretrizes Curriculares .....................................65
2.6. Ensino de Histria e o negro .............................................................................................68
2.7. O significado do ensino de Histria da frica ..........................................................................72
3. O Percurso da Pesquisa ............................................................................................................ 78
3.1. A Pesquisa Qualitativa ......................................................................................................79
3.2. A Anlise de Contedo ......................................................................................................82
3.3. A construo dos descritores .............................................................................................85
1. Pr-Anlise .......................................................................................................................85
Hiptese e Objetivo ....................................................................................................................88
Explorao do Material ..............................................................................................................89
4. A Histria da frica no Currculo de So Paulo ..................................................................... 97
4.1. O Currculo do Estado de So Paulo .................................................................................97
4.2. Analise de Contedo Descritiva....................................................................................... 101
Consideraes Finais - Politizar o Currculo .................................................................................. 113
Anexo
1. Descritores da Legislao Federal sobre Ensino de Histria da frica ............................... 129
1. Fundamentos ................................................................................................................... 129
2. Ensino ............................................................................................................................. 132
3. Objetivos ......................................................................................................................... 137
4. Responsabilidades ........................................................................................................... 139