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Rudolf Steiner
O Evangelho segundo Joo
Consideraes esotricas Sobre suas relaes com os demais Evangelhos,
Especialmente com o Evangelho de Lucas
Catorze conferncias proferidas em Kassel (Alemanha), de 24 a 7 de julho de 1909
Traduo:
Jacira Cardoso
2
Prefcio de Marie Steiner Passo a passo, Rudolf Steiner nos conduz a penetrar cada vez mais nos mistrios do
cristianismo. O primeiro fundamento foi dado naquelas conferncias sobre o Evangelho
de Joo proferidas em Munique1, Basilia2 e Hamburgo3 e, depois, em Estocolmo.4 Para a
estrutura daquelas conferncias, pronunciadas sem base escrita, dois pontos foram
avaliados: o nvel de conhecimento j atingido por uma parte da platia e a
circunstancial considerao das premissas para o entendimento dos demais ouvintes.
Assim, tambm as presentes conferncias devem ser vistas como algo surgido da
colaborao viva entre doador e receptor. Elas esto condicionadas pelo momento
histrico em que o Cristo vivente teve de ser reconquistado para a humanidade, bem
como pela circunstncia de a narrao daquele portentoso acontecimento ter
necessitado adaptar-se possibilidade da gradativa compreenso dos homens em cujas
almas haveria de consumar-se pela primeira vez essa conquista da conscincia para, a
partir de ento, permear cada vez mais a conscincia humana geral.
nesse sentido que encontramos, nestas conferncias, um amoroso
aprofundamento nas bases formativas da compreenso uma infra-estrutura que, por
meio da Cincia Espiritual, nos leva a compreender o aspecto especificamente cristo.
Ns somos conduzidos ao Mistrio de Deus, do qual nascemos, e aprendemos a entender
o que a morte. Passamos a compreender o mistrio da superao da morte pelo morrer
em Cristo, e aprendemos a entender a vida. A Cruz Csmica emersa das guas universais
recebe, na Terra, uma realidade fsica e embebida e transiluminada pelo sangue do
Cristo, tornando-se um poderoso signo da Ressurreio. A Terra, que recebe a substncia
ssea e o sangue derramado do Cristo, transforma-se assim em seu corpo, num novo
centro de radiao; a partir da atuao do feito do Cristo, plasmado um envoltrio
espiritual radiante, um novo Sol: o Esprito Santo.
O contedo das conferncias reproduzidas neste livro nos leva at o limiar desse
mistrio.
Um estremecimento percorre nossa alma, pois o que as especulaes filosficas
mais avanadas, as dissertaes teolgicas mais sutis, com suas finas tramas mentais,
no permitiram realizar a transposio do tecido mental para a vida, para o ser, para a
realidade espiritual ocorre aqui com alguns golpes espirituais to poderosos quanto a
fora de vo da guia. O Sol nos trazido para bem perto em sua essencialidade; ns
vemos seu surgimento, sentimos sua atuao, somos elevados at ele; ele nos abrange,
ns o penetramos, ele se nos torna como que palpvel.
Por outro lado, h o suceder terrestre, tal como se desenrola imagens da
Histria: conclios, exigncias autoritrias da Igreja, venerveis patriarcas eclesisticos
com hbitos e barbas ondulantes, conflitos em torno de interpretaes, separao dos
prncipes da Igreja, a luta das vrias concepes e do pensamento puro com as esferas
estabelecidas da autoridade. Pai, Filho e Esprito Santo, os trs aspectos do Logos,
perdem paulatinamente sua vida original no mbito da luta entre sofismas dialticos.
1 Quatro conferncias (22/4 a 15/5/1907), cujo contedo anotado por ouvintes consta em Aus der Bilderschrift der Apocalypse des Johannes, GA-Nr. 104a (Dornach: Rudolf Steiner Verlag, 1991). (N.E.) 2 Das Johannes-Evangelium, oito conferncias (16-25/11/1907) em Menschheits-entwicklung und Christus-Erkenntnis, GA-Nr. 100 (2 ed. Dornach: Rudolf Steiner Verlag, 1981). (N.E.) 3 Das Johannes-Evangelium, doze conferncias de 18 a 31/5/1908, GA-Nr. 103 2ed. Dornach: Rudolf Steiner
Verlag, 1995). (N.E.) 4 Sobre o tema constam conferncias em 4/4 e de 7 a 21/7/1908 em Cristinia (atual Oslo). Veja Hans Schmidt, Das Vortragswerk Rudolf Steiners (2 ed. Dornach: Philosophisch-Anthroposophischer Verlag, 1978). (N.E.)
3
Surgem os dogmas apontando para a absoluta submisso e, em seu imediato cortejo,
frios e cruis resolues conciliares, condenaes de hereges, fogueiras. Fisionomias
perspicazes, astutas, vidas de poder, impassveis lanam seu olhar de dentro do hbito
e sob o chapu cardinalcio, ordenando, julgando e condenando. Ardem as chamas das
fogueiras.
Ora, foras convincentes no residem nesses mtodos. A corrente oposta no se
deixa mais conter. Surge inicialmente o pensar puritano, depois o pensar racional,
libertando-nos paulatinamente do dogma e at mesmo da f, colocando-nos em seguida
diante do antagonismo e finalmente diante do Nada.
Esse Nada contm o absurdo e tambm a morte espiritual. A esta s se podia
escapar caso, emergindo do Nada, se descobrisse o Tudo. Encontr-lo s seria possvel
com aquelas foras anmicas a serem adquiridas de forma nova: com as foras do
conhecimento, que no geram limites para si prprias.
Essas foras no seio da humanidade esperavam pelo aperfeioamento, pela
orientao, pela educao; queriam no s subtrair-se ao dogma cientfico, mas tambm
ao dogma eclesistico, transformando a f em saber. O limiar do sculo XX se tornou,
para a humanidade, aquele grau limtrofe que leva a ultrapassar as fronteiras at agora
estabelecidas para o conhecimento em direo ao domnio das novas possibilidades
cognitivas.
Fronteiras so sempre guardadas, cercadas, litigadas. Por elas se luta com todos os
meios. E no h exatamente meticulosidade no uso desses meios. Mas o Esprito da poca
poderoso, e quando os homens se lhe opem, tambm ele escolhe fortes meios para
romper a oposio.
Muita coisa indica que os comoventes acontecimentos pelos quais a humanidade
teve de passar5 deram-lhe o impulso que rompeu a mais forte petulncia. fato que
ainda existe oposio, comodidade intelectual e medo. Prefere-se antes entrar na insen-
sibilidade do que no estado de alerta para a responsabilidade. Mas numa parte da
humanidade se faz sentir, sem resistncia, a vontade em direo ao conhecimento.
O que ainda permanece diante das foras cognitivas do homem, como denso vu,
seu intelecto. Na atividade pensante, to ligada ao crebro que este a usa como um
aparelho refletor, espelha-se o contedo exterior do pensar, para da ir novamente ao
encontro do homem. Pode-se senti-lo como um ser prprio, mas ele possui apenas uma
vida reflexa. Isto se torna claro medida que se atinge o outro lado do espelho, l onde
a vida flui. Pode-se acompanhar o pensamento, deixando-se levar por ele. Chega-se
ento ao outro lado, atrs da alegoria refletida pela parede espelhada do crebro.
Usando-se das foras localizadas alm deste, ilumina-se o pensar com o fogo espiritual
que flui atravs do cerne eterno do homem, tornando-se a fora de seu eu. A rvore do
conhecimento transformada em rvore da vida. A morte se transforma em agente
despertador pela unio com o Eu Divino. Ns captamos o indcio que nos torna uma
vivncia consciente o fato de o morrer em Cristo se transformar em novo cintilar do vir-
a-ser. A rvore da vida nos sussurra o mistrio que quer inclinar-se em nossa direo de
forma nova: aquele que, da urna do elemento fsico, quer ressurgir em ns como nosso
prprio ser pela fora do Cristo para uma nova vida, o mesmo Eu Divino que falou, da
distncia do espao estelar, do fogo do Sol, do raio e do trovo dos elementos, do sangue
santificado do Filho do Homem a vida sagrada, una, sob trs aspectos: o do Verbo
Criador, o do Verbo Redentor e Unificador e o do Verbo Atuante. Ns o perdemos e
devemos capt-lo de novo; o conhecimento nos reconduziu a ns mesmos. Ao decifrar o
Verbo Sagrado, ns vivenciamos a comunho espiritual, o Cristo.
5 Primeira Guerra Mundial. (N.T.)
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Este aspecto supremo, que pode ser dado humanidade no ponto de retorno do
caminho de seu destino onde, ao redor de sua personalidade, lutam hostes espirituais
, chega-lhe na paulatina revelao do Evangelho de Joo. Da, se erguem os degraus
para aquele trio da compreenso onde a vida interior ativada capta o ser no
conhecimento.
Luz divina, Cristo-Sol, aquece nossos coraes, ilumina nossas cabeas, para que seja bom o que, a partir dos coraes, quisermos fundar; e o que quisermos, a partir das cabeas, retamente conduzir. [Rudolf Steiner]
24 de junho de 1909
A anunciao do Mistrio do Cristo
Numa grande parte da humanidade que aspirava a algo superior, ocorria,
justamente neste dia do ano, a celebrao de uma determinada festividade. E aqueles
que aqui, nesta cidade, se denominam conosco amigos do movimento antroposfico,
consideraram de certa importncia que esta srie de conferncias pudesse iniciar-se
justamente neste dia de So Joo. O dia do ano assim denominado era uma festividade
j na antiga cultura persa. Celebrava-se ento, num dia correspondente ao presente dia
de junho, a festividade do chamado Batismo pela gua e pelo fogo. Na antiga Roma se
celebrava, num dia similar de junho, o Festival da Vesta, que era novamente uma
festividade do batismo pelo fogo. E se retrocedermos civilizao europia antes do
cristianismo, e quelas pocas anteriores sua divulgao, encontraremos novamente tal
festa de junho, coincidindo com a poca em que os dias se tornaram mais longos e as
noites mais curtas, recomeando os dias a diminuir e o Sol a perder, portanto, uma parte
da fora que irradia sobre todo crescimento e toda prosperidade da Terra.6 Aos olhos dos
nossos antepassados europeus, esse festival correspondia a uma retirada e ao gradual
desaparecimento do deus Baldur que em suas mentes estava associado ao Sol. Na era
crist, esse mesmo festival de junho tornou-se gradualmente a festa de So Joo, o
precursor do Cristo Jesus. Desta forma, pode igualmente ser o ponto de partida para as
consideraes a que nos dedicaremos, durante os prximos dias, sobre o mais importante
de todos os acontecimentos na evoluo da humanidade o evento do Cristo Jesus. Assim,
o assunto do presente ciclo de conferncias ser esse fato, sua importncia para evoluo
da humanidade e como apresentado primeiramente no mais significativo documento
cristo o Evangelho de Joo e depois, em comparao com este, nos outros
evangelhos. O dia de So Joo nos lembra que essa suprema individualidade que participou da evoluo da humanidade teve um precursor. Com isto, abordamos igualmente um importante ponto que devemos colocar tambm, qual uma espcie de precursor, como
considerao no ponto de partida de nossas palestras. No decorrer da evoluo humana
6 O conferencista se refere ao Hemisfrio Norte. (N.E.)
1
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repetem-se acontecimentos profundamente importantes, irradiando uma luz mais intensa que outros. De uma poca para outra, vemos como tais acontecimentos essenciais so relevantes na Histria. E repetidamente nos comunicada a existncia de
homens que, em certo sentido, podem sab-los antes e anunci-los. Com isto, fica simultaneamente esclarecido que esses acontecimentos no so arbitrrios: quem v em profundidade todo o sentido e todo o esprito da histria da humanidade sabe como tais
acontecimentos devem advir, e como ele prprio tem de fazer um trabalho preparatrio para que possam ocorrer.
Durante os prximos dias, teremos freqentemente a oportunidade de falar sobre o
precursor do Cristo Jesus. Hoje, vamos consider-lo do ponto de vista de sua pertinncia
aos que, em virtude de dons espirituais especiais, tm uma viso mais profunda do
contexto da evoluo humana e sabem que existem momentos eminentes dessa mesma
evoluo. Da sua capacidade para preparar a vinda do Cristo Jesus. Mas, ao olharmos
para o prprio Cristo Jesus a fim de chegar rapidamente ao principal assunto de nossas
consideraes, vemos claramente que a diviso cronolgica das pocas anteriores e
posteriores a seu aparecimento na Terra no sem boa razo. Aderindo a esta diviso,
uma grande parte da humanidade demonstra ser sensvel ao significado incisivo do
Mistrio do Cristo. Porm, tudo o que real e verdadeiro deve repetidamente ser
proclamado de formas e maneiras novas, pois as necessidades da humanidade alteram-se
de uma poca para outra. Nossos tempos necessitam tambm, em certo sentido, de uma
nova anunciao para o maior dos acontecimentos na histria do homem; e o propsito
da Antroposofia ser esta anunciao.
Essa anunciao antroposfica do Mistrio do Cristo nova apenas no que respeita
sua forma: seu contedo, assunto destas conferncias, foi ensinado durante sculos, em
crculos ntimos, tambm em nossa civilizao e nossa vida espiritual europias. A nica
diferena entre a presente anunciao e aquela anterior que esta pode ser dirigida a
um crculo mais lato. Os pequenos crculos onde estes ensinamentos foram ouvidos
durante sculos reconheciam o mesmo smbolo que aqui est perante os Senhores a
Rosa-cruz. Este pode, portanto, tornar-se o smbolo da mesma anunciao, agora que ela
se encaminha a um pblico mais amplo. Desejo agora descrever figurativamente os
fundamentos sobre os quais esta anunciao rosa-cruz do Cristo Jesus se apoiava.
Os rosa-cruzes so uma comunidade que desde o sculo XIV cultivou um cristianismo
genuinamente espiritual na esfera da vida espiritual europia. Essa Sociedade Rosa-cruz,
que parte de todas as formas histricas exteriores procurou revelar a seus adeptos as
verdades mais profundas da cristandade, sempre os chamou tambm de cristos
joanitas. A compreenso desta expresso cristos joanitas nos permitir, ainda que
no seja explicar com nosso intelecto, pelo menos absorver com nossa aspirao o
esprito e o contedo das conferncias seguintes.
Todos conhecem as primeiras palavras do Evangelho de Joo: No princpio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princpio com
Deus.
O Verbo ou Logos estava, pois, no princpio com Deus. E dito ainda que a Luz
irradiava na escurido, mas a escurido no a compreendia; e essa Luz estava no mundo
e entre os homens, mas destes apenas poucos eram capazes de compreend-la. Ento
apareceu o Verbo em carne como homem num homem cujo precursor foi Joo Batista.
E agora vemos como aqueles que, at certo ponto, haviam compreendido o significado
desta apario do Cristo sobre a Terra, esto-se esforando agora para esclarecer a
natureza real do Cristo; como o autor do Evangelho de Joo indica, sem qualquer dvida,
que a entidade mais profunda vivente em Jesus de Nazar no era outra seno aquela da
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qual se originaram todos os outros seres nossa volta; era o Esprito vivo, o Verbo vivo,
o prprio Logos.
Mas tambm os outros evangelistas se esforaram, cada qual sua maneira, para
descrever o que realmente surgiu em Jesus de Nazar. O autor do Evangelho de Lucas,
por exemplo, tenta explicar como algo muito especial apareceu quando, pelo batismo do
Cristo Jesus por Joo Batista, o Esprito se uniu ao corpo de Jesus de Nazar. O mesmo
escritor continua demonstrando como Jesus de Nazar um descendente de uma linha
de antepassados que remonta muito longe. A nos relatado que a rvore genealgica de
Jesus de Nazar se estende de Davi a Abrao, a Ado e mesmo ao prprio Deus. Vemos,
claramente indicado, que Jesus de Nazar era o filho de Jos; Jos era o filho de Eli; a
seguir: o qual era filho de Davi e mais adiante: o qual era filho de Ado, e Ado era
filho de Deus! Isto quer dizer que o autor do Evangelho de Lucas d nfase especial ao
fato de que de Jesus de Nazar, sobre o qual desceu o Esprito no batismo por Joo,
pode ser seguida uma linha direta de ascendncia at Aquele que ele denomina o Pai de
Ado Deus. Estes fatos devem ser tomados de maneira absolutamente literal.
No Evangelho de Mateus faz-se a tentativa de conduzir a ascendncia de Jesus de
Nazar at Abrao, a quem o prprio Deus se revelou.
Por isto, e tambm por muitos outros aspectos, por muitas palavras que podemos
encontrar nos Evangelhos, a individualidade portadora do Cristo e todo o advento do
Cristo representa no s um dos maiores, mas o maior fenmeno da evoluo da
humanidade. Com isso fica incondicionalmente expresso o que pode ser traduzido, por
simples palavras, da seguinte forma: Se o Cristo Jesus era visto, por aqueles que
pressentiam sua grandiosidade, como a figura mais importante da humanidade na Terra,
tem de existir uma ligao entre esse mesmo Cristo Jesus e o que h de mais sagrado,
mais ntimo no prprio homem. Tem de existir dentro do prprio homem algo que
corresponda diretamente ao acontecimento do Cristo. Se o Cristo Jesus, como relatado
nos Evangelhos, representa realmente o maior acontecimento na evoluo da
humanidade, no dever ento existir em todas as coisas, bem como em cada alma
humana, um elo de unio com o Cristo Jesus?
Na verdade, o ponto mais importante e essencial aos olhos dos cristos joanitas das
comunidades rosa-cruzes era precisamente o fato de existir em cada alma humana aquilo
que diz respeito e est ligado aos acontecimentos ocorridos na Palestina por meio do
Cristo Jesus. E se o Cristo pode ser considerado o acontecimento supremo da
humanidade, aquilo que na alma humana corresponde ao evento Crstico tem de ser a
caracterstica suprema do homem. O que poder ser isso? A resposta dos discpulos dos
rosa-cruzes a esta pergunta era que toda alma humana est aberta a uma experincia
expressa nas palavras despertar, renascimento ou iniciao. Veremos o que querem
dizer tais palavras.
Quando olhamos, nossa volta, para as vrias coisas que nossos olhos vem e nossas
mos tocam, observamos como elas surgem e se decompem. Vemos como as flores
desabrocham e murcham, como toda a vegetao do ano ganha vida e depois morre. E
apesar de haver no mundo coisas como montanhas e rochas, aparentemente desafiando
os tempos, o provrbio gua mole em pedra dura tanto bate at que fura sugere
alma humana um pressentimento de que as rochas e montanhas, em toda a sua
majestade, esto sujeitas s leis do mundo temporal. O homem sabe: tudo o que se
forma a partir dos elementos cresce e se desfaz, e isto diz respeito no s sua
corporalidade, mas tambm ao seu prprio eu temporal. No entanto, os que sabem
como se pode alcanar um mundo espiritual tambm esto conscientes de que, apesar de
os olhos, ouvidos e todos os outros sentidos no servirem para tal fim, o homem pode, no
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entanto, entrar no mundo espiritual pelo despertar, pelo renascimento ou iniciao. E o
que que renasce?
Ao olhar para seu prprio ntimo, o homem chega finalmente concluso: O que
encontro em meu ntimo aquilo que chamo de eu. Esse eu distinto, j por seu
prprio nome, das coisas do mundo exterior. Toda coisa exterior pode ter um nome
comum: a mesa todos podem chamar de mesa, o relgio de relgio. A palavra eu, no
entanto, nunca pode soar aos nossos ouvidos referindo-se a ns prprios, pois eu s
pode ser proferido no ntimo. Para todos os outros seres, ns somos um tu. J por isso o
homem capaz de distinguir entre esta entidade-eu e todo o resto existente nele e ao
seu redor.
Porm, a isto se acrescenta algo que os pesquisadores espirituais de todos os
tempos frisaram repetidamente, de suas prprias experincias em prol da humanidade:
dentro desse eu nasce um outro eu, um Eu Superior, tal como a criana da me.
Considerando o ser humano conforme se nos apresenta em vida, vemo-lo primeiro
como uma criana desajeitada a olhar as coisas no mundo sua volta; vemos como
gradualmente ele aprende a compreender as coisas e vai despertando em sua
inteligncia; como sua vontade e seu intelecto crescem, e como ele aumenta em fora e
energia. Mas h indivduos que avanam igualmente em outro sentido: atingem um
desenvolvimento superior, alm do normal, chegando a encontrar como que um segundo
eu, que diz tu ao primeiro da mesma forma como o eu normal diz tu ao mundo
exterior e ao seu prprio corpo.
Assim, esse ideal colocado diante da alma humana pode tornar-se realidade para os
que, seguindo as instrues do pesquisador espiritual, dizem a si prprios: O eu de que
tive conhecimento at agora participa do mundo exterior e desaparece com ele. Porm,
um segundo eu dormita em mim um eu do qual os homens no tm conscincia mas
podem vir a ter um eu que est unido ao eterno da mesma forma como o primeiro est
ligado ao transitrio e temporal. Com o renascimento, o Eu Superior pode olhar para
dentro de um mundo espiritual tal como o eu inferior pode penetrar no mundo sensorial
por meio dos sentidos. Este assim chamado despertar, renascimento ou iniciao o
acontecimento supremo para a alma humana, tambm do ponto de vista dos chamados
seguidores da Rosa-cruz. Eles sabiam que a esse renascimento do Eu Superior, que olha
para o eu inferior tal como o homem olha para o mundo exterior, tem de estar ligado o
evento do Cristo Jesus. Isto significa que assim como o homem individual pode viver a
experincia do renascimento no decurso de sua evoluo, o Cristo Jesus trouxe um novo
renascimento para toda a humanidade. O que, para o homem individual, se realiza como
um acontecimento mstico-espiritual ntimo ao nascer seu Eu Superior, foi cumprido para
toda a humanidade, como um fato histrico do mundo exterior, por intermdio do Cristo
Jesus na Palestina.
Como se apresentou esse acontecimento, por exemplo, a algum como o escritor do
Evangelho de Lucas? Ele poderia dizer a si prprio: a genealogia de Jesus de Nazar
estende-se a Ado e ao prprio Deus. A humanidade que hoje existe desceu outrora de
alturas divino-espirituais para habitar o corpo humano fsico; ela nasceu do Esprito
estava outrora com Deus. Ado foi aquele que se deixou conduzir das alturas espirituais
para a matria; ele , neste sentido, o Filho de Deus. Houve, pois, outrora segundo o
autor do Evangelho de Lucas um reino espiritual divino que se adensou, por assim
dizer, formando o reino terrestre transitrio: surgiu Ado. Ele era a imagem terrestre do
Filho de Deus; dele descende todo homem que habita um corpo fsico. E em Jesus de
Nazar viveu, de uma maneira especial, no s algo que vive em todo e qualquer homem
nele vive algo que s poder ser encontrado em sua verdadeira natureza se estivermos
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cnscios de que a parte essencial do homem descende do Divino. Em Jesus de Nazar
ainda h algo evidente desta origem divina. Por isso o escritor do Evangelho de Lucas
sente-se compelido a dizer: Olhai para aquele que foi batizado por Joo. Ele traz
caractersticas especiais da fonte divina da qual descende Ado. Esta fonte divina pode
renovar-se nele. Tal como o ser divino desceu at a matria e, como divindade,
integrou-se na raa humana, assim ele reaparece agora. A humanidade pde renascer,
em sua natureza mais ntima, divina, em Jesus de Nazar! O escritor do Evangelho de
Lucas queria dizer o seguinte: se seguirmos a ascendncia de Jesus de Nazar at sua
origem, reencontraremos nele a origem divina e os atributos do Filho de Deus, numa
forma renovada e em maior grandeza do que a humanidade poderia possuir at ento.
O escritor do Evangelho de Joo realou ainda mais nitidamente que algo divino
vive no homem, manifestando-se em sua forma suprema como Deus ou o prprio Logos.
Deus, que por assim dizer havia sido enterrado na matria, renasce como Deus em Jesus
de Nazar: eis o significado pretendido pelos escritores ao prefaciar seus Evangelhos.
E os que pretendiam continuar a sabedoria dos Evangelhos os cristos joanitas ,
o que diziam? Diziam o seguinte: Para cada homem individual existe um grande, um
portentoso acontecimento que pode ser denominado renascimento do Eu Superior. Assim
como a criana nasce de sua me, tambm o Eu Divino nasce do homem. A iniciao, o
despertar possvel, e uma vez consumado assim diziam os entendidos , passam a
ter importncia coisas diferentes das que tinham antes. O que se torna importante ser
evidenciado por uma comparao:
Suponhamos termos diante de ns um homem na casa dos setenta anos porm um
homem iniciado que tenha recebido seu Eu Superior; e imaginemos que tenha vivenciado
o renascimento, o acordar de seu Eu Superior aos quarenta anos. Quem pretendesse
escrever sobre sua vida nessa ocasio teria podido dizer: Aqui est um homem em quem
nasceu o Eu Superior. Ele o mesmo que conheci em determinada situao h cinco anos
e em outra h dez anos! E se ele quisesse mostrar-nos a identidade deste homem com
referncia ao ponto de partida especial que fora seu nascimento, os quarenta anos
iniciais de sua existncia fsica seriam pesquisados e descritos segundo a Cincia
Espiritual. Aos quarenta anos, contudo, nasceu nesse homem um Eu Superior, que desde
ento irradia sua luz sobre todas as circunstncias da vida. Esse agora um novo
homem. O que antecede este acontecimento agora menos importante; estamos
sobretudo empenhados em saber como o Eu Superior cresce e se desenvolve de ano para
ano. Na altura do septuagsimo ano desse homem, deveramos informar-nos sobre qual
teria sido o percurso de seu Eu Superior dos quarenta aos setenta anos de idade. E para
ns seria importante ser o verdadeiro Eu Superior esse que se nos apresenta aos setenta
anos, se realmente reconhecssemos nele aquele nascido na alma desse homem aos
quarenta anos de idade.
Assim procediam os escritores dos Evangelhos, e igualmente os cristos joanitas
adeptos da Rosa-cruz, com relao ao ser que denominamos Cristo Jesus.
Os evangelistas empenharam-se primeiramente em demonstrar que o Cristo Jesus
provm do Esprito original do mundo, ou seja, do prprio Deus. A divindade at ento
oculta em todos os homens manifesta-se proeminentemente no Cristo Jesus. Trata-se do
mesmo Deus que em Joo se afirma ter estado presente no incio. E foi o objetivo dos
evangelistas mostrar que aquele Deus, e nenhum outro, estava em Jesus de Nazar.
Contudo, aqueles cuja misso foi continuar a sabedoria de todos os tempos, mesmo at
nossa poca, estavam empenhados em mostrar como o Eu Superior da humanidade, o
Esprito Divino da humanidade, nascido em Jesus de Nazar pelos acontecimentos na
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Palestina, permaneceu o mesmo e foi preservado por todos os que na verdade o
compreendiam.
Como no caso descrito acima, em que o Eu Superior nasceu num homem aos seus
quarenta anos, os evangelistas descreveram o Deus no homem at os acontecimentos na
Palestina: como esse Deus se desenvolveu, como renasceu e assim por diante. Os
continuadores dos evangelistas, contudo, tiveram de mostrar que os acontecimentos
assim descritos tratavam do renascimento do Eu Superior, e que de ento para c apenas
nos interessa o aspecto espiritual, que agora irradia luz sobre todo o resto. Os cristos
joanitas, cujo smbolo era a Rosa-cruz, diziam o seguinte: foi precisamente aquilo que
renasceu como o mistrio do Eu Superior da humanidade que se preservou intacto. Esse
mistrio foi preservado por aquela comunidade restrita que teve incio no movimento
Rosa-cruz. Essa comunidade simbolicamente relatada na lenda do clice sagrado
denominado Santo Graal, do qual Cristo Jesus comeu e bebeu e no qual o sangue que
jorrou de suas feridas foi recolhido por Jos de Arimatia. Esse clice, segundo se diz,
foi trazido por anjos para a Europa. Foi-lhe construdo um templo, e os rosa-cruzes
tornaram-se os guardies de seu contedo daquilo que constitua a verdadeira essncia
do Deus renascido. O mistrio de Deus renascido reinava na humanidade: eis o mistrio
do Santo Graal. Esse um mistrio apresentado como um novo Evangelho, e do qual se
diz: Elevemos o olhar para o sbio escritor do Evangelho de Joo, que pde dizer: No
princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. O mesmo que
estava no princpio com Deus renasceu naquele que vimos sofrer e morrer no Glgota, e
que ressuscitou. Essa continuidade do Princpio Divino atravs de todos os tempos e sua
ressurreio o que quis descrever o autor do Evangelho de Joo. Porm todos os
narradores destes fatos sabiam: o que existia desde o princpio havia sido preservado.
No princpio era o mistrio do Eu Superior humano; este foi mantido no Graal e ao
Graal permaneceu unido; e no Graal vive o Eu que est unido ao eterno e imortal, assim
como o eu inferior est unido ao transitrio e mortal. Quem conhece o mistrio do Santo
Graal sabe que do lenho da cruz surge a essncia da vida, o Eu imortal simbolizado pelas
rosas na madeira escura. Desta forma o mistrio da Rosa-cruz pode ser visto como uma
continuao do Evangelho de Joo, e nesta conformidade podemos realmente dizer as
seguintes palavras:
No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princpio com Deus. Todas as coisas foram criadas por Ele, e nada foi criado sem Ele. Nele estava a Vida, e a Vida era a Luz dos homens. E a Luz irradiou na escurido, mas a escurido no a compreendeu.
Apenas alguns, nos quais vivia algo no nascido da carne, compreendiam a Luz que
irradiava na escurido. Ento, a Luz se tornou carne e viveu entre os homens na forma
de Jesus de Nazar.
Ora, no sentido do Evangelho de Joo se poderia dizer: E no Cristo que viveu em
Jesus de Nazar estava o Eu Superior Divino de toda a humanidade, do Deus renascido,
que se tornou terreno em Ado, criado sua imagem. Esse Eu humano renascido teve
continuidade como um mistrio sagrado; foi preservado sob o smbolo da Rosa-cruz, e
anunciado hoje como o mistrio do Santo Graal, como a Rosa-cruz.
O Eu Superior, que pode nascer em toda alma humana, provm do renascimento do
Eu Divino na evoluo da humanidade por meio do acontecimento da Palestina. Tal como
o Eu Superior nasce em todo ser humano, o Eu Superior de todos os homens, o Eu Divino,
nasceu na Palestina. Isto foi preservado e mais desenvolvido por aquilo que se oculta no
smbolo da Rosa-cruz. Porm, ao considerarmos a evoluo humana no vemos apenas
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este grande acontecimento, o renascimento do Eu Superior: h uma quantidade de
acontecimentos menores.
Antes de a alma poder elevar-se a esta experincia sublime (o nascimento do Eu
imortal dentro do mortal), certas etapas preliminares, de profunda natureza, devem ser
percorridas. O homem deve preparar-se de muitas e mltiplas maneiras. E aps esta
grande experincia, que lhe permite dizer Agora sinto algo dentro de mim; estou ciente
de que algo em mim baixa o olhar para o meu eu habitual do mesmo modo como meu eu
habitual baixa o olhar para os objetos sensveis. Agora sou um segundo ser dentro do
primeiro; elevei-me s regies onde estou unido aos seres divinos, depois disso existem
outras etapas diferentes e superiores s preliminares, e que devem ser atravessadas.
Temos, assim, o grande e nico acontecimento do nascimento do Eu Superior em
cada homem individual, mas tambm um nascimento similar para toda a humanidade o
renascimento do Eu Divino. Para isso existem os passos preparatrios, e outros que
devem suceder-se a esse acontecimento decisivo. A partir do evento Crstico vemos, em
retrospeco, os passos preliminares. Vemos outros grandes acontecimentos na evoluo
humana. Vemos como o evento do Cristo se aproximou gradualmente, e como disse
Lucas: No princpio havia um Deus, um ser espiritual nas alturas espirituais. Ele desceu
ao mundo material e tornou-se homem, tornou-se humanidade. Podia-se perceber
facilmente a origem divina do homem, mas o prprio Deus no podia ser visto quando a
evoluo humana era olhada meramente com olhos fsicos. Deus estava, por assim dizer,
por detrs do mundo fsico-terrestre; e a o viam apenas os que sabiam onde Ele estava e
podiam ver seus reinos.
Retrocedamos primeira civilizao aps uma grande catstrofe civilizao
primordial da ndia. A encontramos sete grandes e santos mestres, conhecidos como os
Santos Rishis. Eles apontavam, no alto, um ser superior do qual diziam: Com toda a
nossa sabedoria, podemos apenas pressentirmas no conseguimos ver esse ser
sublime! Os sete Santos Rishis viam muito; no entanto esse ser elevado, a quem
chamavam Vishva Karman, situava-se alm de sua esfera. Esse ser realmente preenchia o
mundo espiritual, mas localizava-se alm do alcance da viso clarividente daquela
poca. Ento veio o perodo de civilizao conhecido pelo nome de seu grande iniciador
Zaratustra. Aqueles a quem teve por misso dirigir, Zaratustra disse: Quando os olhos
clarividentes se fixam nas coisas do mundo os minerais, as plantas, os animais e o
homem , vem diversos seres espirituais em todas as coisas. Mas o ser espiritual a quem
o homem deve sua prpria existncia e que, em tempos vindouros, dever viver na mais
ntima natureza do homem esse ser ainda no pode ser visto quando se olha para as
coisas do mundo, seja com olhos fsicos ou clarividentes. Mas quando elevava ao Sol seu
olhar espiritual, Zaratustra no via apenas o Sol. Dizia que, assim como a aura do homem
pode ser vista envolvendo-o, tambm a grande aura solar, Ahura Mazdao, pode ser vista
no Sol. E foi a grande aura do Sol que produziu o homem de uma forma a ser descrita
mais adiante. O homem a imagem do Esprito do Sol, Ahura Mazdao, mas Ahura Mazdao
ainda no habitava na Terra.
Chega ento a poca em que, em sua viso clarividente, o homem comea a ver
Ahura Mazdao em seu ambiente terrestre. Iniciou-se o grande momento de ocorrer o que
ainda no fora possvel na poca de Zaratustra. Nos troves e relmpagos terrestres no
viam os olhos clarividentes de Zaratustra o grande Esprito do Sol, Ahura Mazdao, o
arqutipo da humanidade; mas quando se voltava para o Sol, l via ele Ahura Mazdao.
Tendo Zaratustra encontrado em Moiss seu sucessor, os olhos clarividentes de
Moiss se abriram e ele pde ver, na sara ardente e no fogo do Sinai, aquele Esprito
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que se proclamou o ejeh asher ejeh, o Eu sou aquele que era, que e que ser, Jav
ou Jeov. Que havia acontecido?
Desde os tempos pr-histricos, desde a apario de Zaratustra e antes de Moiss
surgir entre os homens, o Esprito que anteriormente s habitava no Sol havia-se dirigido
a Terra. Luziu na sara ardente e no fogo do Sinai; estava nos elementos terrestres.
Algum tempo depois, o Esprito que os Santos Rishis pressentiram mas no puderam ver
em estado de clarividncia o Esprito que Zaratustra procurou no Sol, que se
proclamou a Moiss no trovo e no relmpago , o mesmo aparecia sob forma humana
em Jesus de Nazar. Assim foi o curso da evoluo: do mundo csmico ele desceu
primeiro para os elementos fsicos, em seguida para um corpo humano; o Eu Divino, do
qual o homem emergiu e ao qual o escritor do Evangelho de Lucas atribui a ascendncia
de Jesus de Nazar, voltava a nascer. Com isto se consumava o acontecimento sublime
do renascimento de Deus no homem.
Rememoremos as etapas preparatrias que a humanidade igualmente atravessou.
Os antigos guias que participavam do progresso geral da humanidade tambm estiveram
sujeitos a passos preliminares, at que um deles avanou o suficiente para tornar-se o
portador do Cristo. Vemos assim como a evoluo da humanidade se apresenta a uma
observao espiritual.
E h ainda outro fato importante. O ser venerado pelos Santos Rishis como Vishva
Karman, por Zaratustra como Ahura Mazdao do Sol, por Moiss como ejeh asher ejeh,
apareceu num determinado homem, Jesus de Nazar, na limitada condio humana
terrestre. Mas antes de chegado o ponto em que esse ser sublime pudesse habitar um
homem como Jesus de Nazar, mltiplas preparaes foram necessrias. Neste sentido, o
prprio Jesus de Nazar teve de elevar-se a um alto grau de evoluo. Um homem
qualquer no poderia ser o portador do ser que descia Terra da forma descrita.
Ora, ns que nos acercamos da Cincia Espiritual conhecemos a realidade da
reencarnao. Devemos, assim, dizer que Jesus de Nazar e no o Cristo havia
passado por muitas encarnaes e suportara muitas provas em tempos anteriores, antes
de poder vir a ser Jesus de Nazar. Em outras palavras, Jesus de Nazar teve de tornar-
se um alto iniciado antes de poder receber o Cristo.
Quando nasce um alto iniciado, como se distinguem seu nascimento e sua vida
subseqente do nascimento e da vida subseqente de um homem comum? De um modo
geral, podemos assumir que, ao nascer, o homem est formado, ao menos
aproximadamente, a partir dos resultados de uma encarnao anterior. Com o iniciado,
contudo, no isso o que ocorre. O iniciado no poderia ser um guia de homens se sua
vida interior apenas se adaptasse s circunstncias exteriores. O homem deve constituir
seu exterior de acordo com as circunstncias sua volta. Quando nasce um iniciado, em
seu corpo tem de penetrar uma alma elevada, que tenha tido grandes experincias no
mundo em vidas anteriores. De tais homens se diz que seu nascimento se d em
circunstncias diferentes do que sucede com outros homens. Por que e como?
J abordamos a razo dessa diferena: porque um Eu abrangente, um Eu que
vivenciou coisas extraordinrias, une-se ao corpo; no entanto este no consegue conter,
nos primeiros tempos, o ser espiritual que procura encarnar nele. Assim, quando um alto
iniciado desce para um corpo mortal, necessariamente o Eu que se reencarna transcende
a forma fsica para alm do que seria o caso num homem comum. Enquanto a forma
fsica de um ser humano comum pouco aps o nascimento se parece e corresponde
forma espiritual ou aura humana, a aura do iniciado que se reencarna irradiante. Ela
a parte espiritual que anuncia haver aqui algo mais do que visto no sentido comum. O
que anuncia ela? Que, alm do nascimento de uma criana no mundo fsico, teve lugar
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um acontecimento no mundo espiritual! Esse o significado das lendas ligadas
reencarnao de todos os iniciados: no apenas uma criana que nasce no corpo fsico
tambm nas regies espirituais nasce algo que no pode ser abrangido pelo que est
nascendo l na Terra! Mas quem reconhece isto? Apenas aqueles cujos olhos so
clarividentes e abertos ao mundo espiritual. Por isso nos relatado que, ao nascer o
Buda, um iniciado reconheceu estar ocorrendo um acontecimento mais importante que o
nascimento de um homem. E por isso nos relatado de Jesus de Nazar que sua vinda
foi, em primeiro lugar, prenunciada pelo Batista.
Quem possui a viso do mundo espiritual sabe do advento e do renascimento de um
iniciado, e que isso constitui um acontecimento no mundo espiritual. Assim o sabiam os
trs reis do Oriente que trouxeram oferendas pelo nascimento de Jesus de Nazar; e o
mesmo foi expresso pelas palavras do sacerdote iniciado no templo7: Agora posso
morrer contente, pois meus olhos viram Aquele que ser a salvao dos homens!
Vemos, pois, ser necessria aqui uma clara distino. Temos um alto iniciado
renascido em Jesus de Nazar, de cujo nascimento deve ser dito: Uma criana nasceu.
Com essa criana surge algo que no pode ser abrangido por seu corpo fsico! E com
esse Jesus de Nazar temos igualmente, no mundo espiritual, algo significativo que
gradualmente desenvolve o corpo at o ponto de este se tornar apto para esse Esprito.
Atingido tal ponto, acontece que Joo Batista se aproxima de Jesus de Nazar e um
Esprito superior desce, unindo-se a este ltimo: quando o Cristo penetra em Jesus de
Nazar. ento que Joo Batista, como precursor de Jesus Cristo, pode dizer: Eu vim
ao mundo e fui aquele que preparou o caminho para um ser superior. Com minha boca
exterior anunciei que o Reino de Deus, o Reino dos Cus est prximo, e que os homens
devem modificar sua atitude interior. Vim para o meio dos homens e pude dizer-lhes que
um novo impulso entrar na humanidade. Tal como na primavera o Sol sobe mais alto nos
cus proclamando o nascimento de algo novo, assim eu venho proclamar aquilo que est
germinando como o Eu renascido da humanidade!
Quando o carter humano em Jesus de Nazar atingiu seu pice e seu corpo se
tornou a expresso de seu esprito, estava ele tambm pronto a receber o Cristo pelo
Batismo de Joo. Seu corpo estava to desenvolvido quanto o Sol irradiante no dia de So
Joo, em junho. Isto fora profetizado. O Esprito deveria nascer da escurido tal como o
Sol aumenta em fora e cresce at o dia de So Joo para, em seguida, comear a
diminuir.8 Esta foi a misso de Joo Batista: anunciar como o Sol ascende com esplendor
cada vez maior at o momento em que ele, Joo Batista, pode dizer: Aquele que os
antigos profetas anunciaram aquele que foi denominado pelos Reinos Espirituais como
seu Filho ele apareceu! Foi at este ponto que Joo Batista atuou. Mas quando os dias
se tornam mais curtos e a escurido de novo aumenta, por meio de preparaes a luz
espiritual interior deve reluzir e tornar-se cada vez mais brilhante, tal como o Cristo
reluz em Jesus de Nazar.
Assim observou Joo a vinda de Jesus de Nazar, cujo crescimento ele sentiu como
seu prprio decrscimo e como o aumento do Sol. Agora decrescerei, disse ele tal
como o Sol diminui aps o dia de So Joo ; mas ele, o Sol Espiritual, crescer e sua
luz irradiar da escurido! Assim falou ele de si prprio. Assim se iniciou o renascimento
do Eu da humanidade, do qual depende o renascimento de cada Eu Superior individual.
Com isto est caracterizado o importante acontecimento na evoluo do homem
individual: o renascimento do ser imortal que pode originar-se do eu habitual. Este fato
7 Simeo, o homem justo e piedoso que, segundo Lucas, veio ao templo de Jerusalm por ocasio da apresentao do menino Jesus por seus pais. (N.T.) 8 Trata-se aqui do solstcio de vero no Hemisfrio Norte, no ms de junho. (N.E.)
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est ligado ao maior de todos os acontecimentos, o evento do Cristo, ao qual
dedicaremos as prximas conferncias.
25 de junho de 1909
Jesus de Nazar e o advento do Cristo
Quando se fala sobre um tema como este do ponto de vista da Cincia Espiritual,
no se pode utilizar como base qualquer documento surgido no decorrer da evoluo da
humanidade com o fim de, sob a autoridade dessa prova escrita, trazer luz sobre fatos
decorridos. Isto no acontece na Cincia Espiritual. Pelo contrrio, esta investiga os fatos
e ocorrncias da evoluo do homem independentemente de quaisquer documentos; o
pesquisador espiritual no consulta dados documentados antes de haver investigado e
verdadeiramente saber descrever os fatos em questo por meios independentes de
documentos ou tradies. Se recorrer a dados documentados, ser para examinar se
estes coincidem com o resultado de sua investigao independente. Portanto, estas
conferncias no contero qualquer declarao, sobre qualquer acontecimento, baseada
apenas em evidncia bblica ou seja, nos quatro Evangelhos , e sim em resultados de
pesquisa espiritual independente de todos eles. Porm em todas as oportunidades se
indicar o fato de tudo o que pode ser constatado e observado pelo investigador
espiritual estar reproduzido nos Evangelhos, em especial no Evangelho de Joo.
H uma expresso notvel do grande mstico Jakob Boehme expresso que s
surpreende os que esto fora do mbito Cincia Espiritual. Jakob Boehme chamou a
ateno por falar das eras passadas da evoluo humana (por exemplo, da personalidade
de Ado) como experincias a que estivesse intimamente associado. Diz ele: Algum
poderia perguntar: Ento voc estava presente quando Ado viveu na Terra? Sem
dvida estava!, seria minha resposta. Essa uma expresso notvel pois a Cincia
Espiritual est realmente em posio de observar uma ocorrncia do passado, por mais
remota que seja, com os olhos do esprito. Eu gostaria de indicar em linhas gerais, na
introduo, como isto vem a acontecer.
Tudo o que acontece no mundo fsico-sensorial tem sua contra-imagem no mundo
espiritual. Quando se move uma mo, ocorre no s seu movimento visto pelos olhos.
Atrs da mo em movimento e de sua imagem est, por exemplo, meu pensamento e
minha vontade: a mo deve mover-se. Algo de espiritual sucede por trs. Enquanto a
impresso visual do movimento desaparece, a contra-imagem espiritual permanece
gravada no mundo espiritual e deixa infalivelmente um rastro de tal forma que,
quando se nos abrem os olhos espirituais, podemos seguir os rastros remanescentes de
suas contra-imagens espirituais. Nada pode acontecer no mundo sem deixar esses sinais.
Suponhamos que o pesquisador espiritual lance um olhar retrospectivo aos dias de
Carlos Magno, aos tempos romanos ou ainda Grcia antiga. Tudo o que aconteceu
nessas eras est preservado no mundo espiritual pelos rastros deixados por seus
prottipos espirituais, podendo a ser observado. Essa observao chama-se ler na
Crnica do Akasha. Tal escritura viva existe realmente, e pode ser vista com os olhos
espirituais. Assim, quando o investigador espiritual descreve os acontecimentos da Pales-
tina ou as observaes de Zaratustra, suas descries no provm da Bblia ou do Gathas;
ele descreve o que conseguiu ler na Crnica do Akasha. Depois de haver concludo sua
investigao oculta, ele volta aos documentos tradicionais no caso presente, aos
Evangelhos e constata se estes confirmam seus resultados. A posio da pesquisa
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espiritual em relao aos documentos tradicionais , pois, de total independncia, e por
tal razo essa pesquisa se torna competente para julgar tais documentos sob todos os
aspectos. E quando encontramos nos documentos tradicionais os mesmos fatos que
estamos em condies de acompanhar na Crnica do Akasha, esta coincidncia prova-nos
que esses documentos so verdadeiros e mais ainda: que seu autor tambm podia ler
na Crnica do Akasha. Muitos dos documentos religiosos e outros da humanidade so
reconstrudos desta forma pela Cincia Espiritual. Ilustremos agora este fato baseados
num captulo especial da evoluo humana, nomeadamente no Evangelho de Joo e em
sua relao com os outros Evangelhos. Os Senhores no devem imaginar, no entanto, que
a Crnica do Akasha essa histria espiritual que se abre aos olhos do clarividente
seja como um texto da vida comum. Ela como uma escritura viva, e tentaremos ilustrar
isso com o seguinte exemplo:
Suponhamos que o clarividente retroceda, digamos, aos tempos de Jlio Csar. Os
atos de Csar, no tocante ao plano fsico, foram presenciados pelos seus
contemporneos. Todo ato deixou sua marca na Crnica do Akasha, e quando o
clarividente olha retrospectivamente como se uma sombra espiritual ou arqutipo dos
atos estivesse presente. Pensem no movimento da mo. A imagem visual no pode ser
captada pelo clarividente, mas a inteno de mover a mo, as foras invisveis que
produziram o movimento, podem sempre ser vistas por ele. Da mesma forma, tudo o que
viveu nos pensamentos de Csar torna-se visvel, fosse sua inteno a de tomar uma
certa medida ou de conduzir uma determinada batalha. Tudo o que seus contemporneos
presenciaram originou-se de seu impulso volitivo e efetivou-se pela ao de foras
invisveis situadas atrs da imagem visvel. Mas o que est atrs das imagens visveis
realmente como o verdadeiro Csar, vivendo e movimentando-se como uma imagem
espiritual de Csar, visvel ao clarividente na Crnica do Akasha. Ora, algum pouco
experiente nestes assuntos poder objetar: Quanto sua narrativa dos tempos antigos,
parece-nos pura fantasia, pois seu conhecimento dos atos de Csar provm da Histria, e
sua imaginao frtil o faz acreditar ver uma espcie de imagens Akasha invisveis. No
entanto, quem est familiarizado com tais coisas sabe que quanto menos o clarividente
souber, pela Histria exterior, sobre o assunto das suas investigaes, mais fcil se lhe
tornar a leitura da Crnica do Akasha. A Histria exterior e seu conhecimento
justamente um obstculo investigao oculta. Quando atingimos uma certa idade,
ficamos sob influncia da cultura de nossa poca. O clarividente tambm traz consigo a
educao de seus dias, at o ponto em que lhe nasce o eu clarividente. Ele estudou
Histria, tendo tambm obtido conhecimentos tal qual lhe foram fornecidos pela
Geologia, Biologia, Histria da Civilizao e Arqueologia. Na realidade, tudo isto
perturba sua viso e poder influenci-lo quando da leitura na Crnica do Akasha. Na
Histria exterior no pode ser esperada a mesma objetividade e certeza possvel na
decifrao da Crnica do Akasha. Pensem em que condies um fato ou outro se torna
histrico. Certos documentos relacionados com um determinado acontecimento foram
preservados, enquanto outros talvez os mais importantes tero desaparecido. Um
exemplo mostrar quo incerta pode ser a Histria.
Entre os muitos ensaios poticos deixados por Gethe, e que so um lindo
complemento grande obra que ele nos legou em forma acabada, existe um poema
fragmentado sobre Nauscaa. Porm existem apenas alguns esboos demonstrando como
ele tencionava completar esse poema. Ele procedia freqentemente assim tomando
nota de algumas frases , e em geral s muito pouco foi preservado. Assim tambm
ocorreu com Nauscaa. Houve dois homens que tentaram completar este fragmento:
Scherer, historiador da literatura, e Herman Grimm. Mas Grimm foi mais que um
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pesquisador ele era um pensador com grande imaginao: foi o mesmo que nos legou A
vida de Michelngelo e um estudo sobre Gethe. Grimm lanou-se ao trabalho tentando
identificar-se com o esprito de Gethe, e perguntou-se: como teria Gethe, sendo quem
era, concebido uma figura como a Nauscaa da Odissia? Em seguida, com um certo
desprezo por esses documentos histricos, reconstituiu o poema no sentido das idias de
Gethe. Scherer, no entanto, obcecado por fatos documentados, preto no branco,
afirmou que a Nauscaa de Gethe no poderia ser reconstruda exceto com base em
material existente. E se props tambm construir uma Nausicaa, mas seguindo as ano-
taes ao p da letra. Ento comentou Herman Grimm: Suponhamos que o criado de
Gethe tenha retirado algumas folhas (quem sabe as mais importantes) para acender a
lareira! Existe alguma garantia de que as folhas existentes tenham algum valor,
comparadas com aquelas que talvez tenham sido queimadas?
Tal como neste exemplo, tambm poder ocorrer com toda histria que tiver como
origem fatos documentados. E isto ocorre freqentemente. Quando se constri algo com
base em documentos, nunca se deve esquecer que precisamente os mais importantes
podem ter desaparecido. Na realidade, a Histria nada seno uma fable convenue.
Quando os fatos revelados pela Crnica do Akasha diferem muito da Histria
convencional, o clarividente encontra dificuldade em acreditar na imagem do Akasha. E
seria imediatamente atacado pelo pblico externo se, com base na Crnica do Akasha,
relatasse qualquer fato de forma diferente. Por isso, quem tem experincia em tais
assuntos prefere falar dos tempos arcaicos de fases remotas da evoluo terrestre,
sobre as quais no existem documentos ou tradio. Nestes casos, em que a Histria
exotrica interfere o mnimo, o relato da Crnica do Akasha o mais fiel possvel. Destas
observaes os Senhores podem concluir que ningum familiarizado com tais coisas
poderia conceber que as descries da Crnica do Akasha pudessem ser apenas um eco
dos fatos j sabidos pela Histria convencional.
Se investigarmos na Crnica do Akasha aquele grande acontecimento cujo
significado foi abordado ontem, descobriremos os seguintes pontos principais:
Toda a raa humana que vive na Terra tem sua origem num plano espiritual e
descende de uma existncia espiritual divina. Podemos dizer o seguinte: antes que
existisse a possibilidade de um olho fsico ver ou uma mo fsica segurar um corpo
humano, o homem j existia em forma de entidade espiritual, e em pocas mais remotas
como parte de seres espirituais divinos. Como ser, o homem nasceu de seres espirituais
divinos. Os deuses so, por assim dizer, os antepassados dos homens, e estes so
descendentes dos deuses. Os deuses necessitavam de homens como seus descendentes,
pois sem estes no poderiam descer ao mundo fsico-sensorial. Continuando sua existncia
em outros mundos, os deuses trabalharam do exterior sobre o homem para que ele se
desenvolvesse gradualmente na Terra.
Agora os homens teriam de ultrapassar, passo a passo, os obstculos surgidos da
vida na Terra. Que obstculos eram esses?
O essencial, para os homens, que os deuses hajam permanecido espirituais e eles,
como seus descendentes, se hajam tornado fsicos. O homem, cuja natureza espiritual
era apenas a parte interior, tendo-se tornado fsico em seu ser exterior, tinha agora de
ultrapassar os obstculos oferecidos pela existncia fsica. Dentro do mundo fsico, ele
tinha de continuar seu desenvolvimento. Desta forma, avanando de grau em grau em
desenvolvimento e maturidade, foi-lhe cada vez mais possvel voltar-se novamente para
os deuses de cujo ventre nascera. Uma descendncia dos deuses seguida de uma
reascenso e uma paulatina reunio com eles eis o caminho do homem atravs da vida
terrena. Para tornar possvel esta evoluo, certos indivduos humanos tiveram de
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ultrapassar os outros e tomar a dianteira a fim de tornar-se os guias e mestres dos
homens. Tais guias e mestres tiveram seu lugar entre os homens e encontraram, por
assim dizer, o caminho para os deuses mais cedo que o resto da humanidade. Desse
modo, podemos dizer que num determinado perodo os homens atingem um certo grau
de evoluo; a talvez apenas pressintam o retorno aos deuses, mas ainda tm muito a
caminhar antes disso. H neles uma centelha do divino, porm nos guias existe sempre
algo mais. Eles esto mais perto do mbito divino que o homem mais tarde dever
atingir. E aquilo que reside nesses guias da humanidade visto, por quem tem os olhos
abertos para as coisas do esprito, como seu atributo principal e essencial.
Suponhamos que um grande guia da humanidade se encontre perante outro homem
que, se bem no seja de seu mesmo grau, no entanto seja superior mdia dos seres
humanos. Esse homem, suponhamos, tem uma viva sensao de que o outro um grande
guia, e de que a natureza espiritual que o resto da humanidade ainda tem de adquirir j
est presente nele em alto grau. Como tal homem descreveria esse guia? Ele diria:
minha frente est um homem um ser humano num corpo fsico, como todos os outros.
Mas o corpo fsico o menos importante nele; no entra em considerao. No entanto,
quando lhe dirijo meu olhar espiritual, vejo unido a ele um ser espiritual majestoso, um
ser divino-espiritual. E isto to importante que eu dedico toda a minha ateno a esse
ser divino e desprezo o aspecto fsico que ele tem em comum com outro homem.
Portanto, o clarividente v num guia de homens algo que transcende o resto da
humanidade, devendo ser descrito de forma completamente diferente. O clarividente
descreve o que seus olhos espirituais vem.
Os que atualmente tm voz ativa na vida pblica certamente achariam ridcula a
idia de um guia transcendente da humanidade. Vemos como alguns homens cultos j
comeam a tratar as grandes figuras da raa humana do ponto de vista psiquitrico! Ele
seria reconhecido apenas pelos que houvessem aperfeioado seu olhar espiritual. Estes,
porm, saberiam no se tratar de um louco ou fantico, nem mesmo de um homem
dotado, como pessoas benevolentes talvez o designassem, e sim de uma das maiores
figuras da vida humana no sentido espiritual. Assim ocorreria nos dias de hoje. Mas no
passado seria bastante diferente, e tambm num passado ainda no to distante de ns.
Sabemos que a humanidade, com respeito sua conscincia, passou por vrias
metamorfoses. Todos os homens possuram, outrora, uma clarividncia semiconsciente.
Mesmo na poca do Cristo a clarividncia ainda estava desenvolvida at certo ponto, e
em sculos anteriores ainda mais, embora fosse apenas uma mera sombra do que havia
sido nos tempos da Atlntida e logo a seguir. Pouco a pouco a conscincia clarividente
desapareceu de entre os homens. Contudo, existiram sempre indivduos isolados que a
possuam, e mesmo hoje se encontram pessoas clarividentes naturais, cuja
clarividncia nebulosa consegue distinguir os elementos da natureza espiritual do
homem.
Voltemos ao tempo do surgimento do Buda para o povo da antiga ndia. Naquela
poca ainda no era como hoje. Hoje em dia esse aparecimento de um Buda,
principalmente na Europa, no seria especialmente respeitado. Mas na poca do Buda
era diferente, pois muitos eram capazes de ver o que estava realmente acontecendo: o
nascimento de Buda fora muito diferente de um nascimento comum. Nas escrituras do
Oriente, e precisamente naquelas que tratam do assunto com a mais profunda
compreenso, o nascimento do Buda descrito, como se poderia dizer, em grande estilo.
A relatado que a rainha Maya era a Imagem da Grande Me, tendo-lhe sido predito
que ela daria luz um majestoso ser. E esse ser veio a Terra por nascimento prematuro.
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Esta uma maneira freqente de um ser notvel ser enviado ao mundo: ocorre um
nascimento prematuro, porque o ser humano em que est encarnado o ser elevado liga-
se menos matria do que aps plena maturidade.
Nas importantes escrituras do Oriente relata-se ainda que no momento de seu
nascimento o Buda foi iluminado, abrindo imediatamente os olhos e dirigindo-os aos
quatro pontos cardeais da Terra norte, sul, leste e oeste. E depois dito que ele deu
imediatamente sete passos, cujas marcas permaneceram gravadas no solo onde ele o
fez. E logo ele tambm falou, dizendo as seguintes palavras: E esta a vida em que eu
me transformo de Bodhisatva em Buda, a ltima encarnao que eu devo percorrer nesta
Terra.
Por estranhos que estes relatos possam parecer ao pensador materialista de hoje, e
por impossvel que seja interpret-los de uma forma materialista improvisada, sua
verdade compreendida por quem capaz de ver as coisas com olhos espirituais. E
naqueles tempos existiam ainda pessoas que, em virtude de seu dom natural de
clarividncia, podiam ver espiritualmente o que viera ao mundo com o Buda. So
estranhos os dizeres que eu lhes citei das escrituras orientais sobre o Buda. Hoje em dia
se diz que so sagas e mitos. Mas quem compreende estas coisas sabe que nelas esto
contidas verdades espirituais. E acontecimentos como o nascimento do Buda no
significam apenas algo dentro dos estreitos limites da personalidade ento nascida; eles
tm significado universal, irradiando qual foras espirituais. E aqueles que ainda viveram
nesses tempos de maior receptividade espiritual puderam realmente ver a irradiao de
foras espirituais por ocasio do nascimento do Buda.
Seria muito justo algum perguntar: por que tais coisas no sucedem mais hoje?
Ora, tambm hoje existem atuaes nesse mbito, mas s um clarividente consegue v-
las pois no basta existir algum que irradie essas foras, mas tambm algum que as
receba. Nos tempos em que os homens ainda eram mais espirituais, eram tambm mais
receptivos a tais irradiaes. Por isso existe uma profunda verdade em se dizer que no
nascimento do Buda atuaram foras de natureza curativa e conciliadora. No se trata de
uma lenda, pois grandes verdades esto contidas na afirmao de que, ao nascer o Buda,
os que antes se odiavam uniram-se em amor, os que estavam em luta reconciliaram-se, e
assim por diante.
Aos olhos do clarividente, a evoluo humana no aparece como a estrada plana
vista pelo historiador, na qual se eleva, no mximo, um pouco das figuras aceitas como
histricas. Que existam elevaes e montanhas nessa estrada as pessoas no querem
admitir elas no suportam isso. Mas quem tem uma viso espiritual abrangente do
mundo sabe que existem portentosas elevaes e montanhas sobrepondo-se ao caminho
da humanidade restante: so justamente os guias da humanidade.
Em que consiste tal direo da humanidade? Em levar o homem a perfazer
paulatinamente os passos que o conduzam aos mundos espirituais. Ontem mostramos um
dos passos como sendo o mais importante: o nascimento e o Eu Superior, do Eu
Espiritual. Falamos tambm da existncia de passos preparatrios e passos posteriores.
De nossa explanao os Senhores podem ver que o que denominamos o evento Crstico
o pice da evoluo humana, tendo sido necessria uma longa preparao antes de o
Cristo poder encarnar-se em Jesus de Nazar. Para se compreender estas preparaes,
devemos examinar um pouco o mesmo fenmeno em menor escala.
Suponhamos que um homem entre no caminho do conhecimento espiritual em
determinada encarnao, isto , pratique alguns exerccios (dos quais falaremos mais
tarde) que plasmem a alma cada vez mais espiritualmente, tornando-a receptiva ao que
provm do esprito e levando-a ao ponto de fazer nascer o Eu Superior imperecvel,
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capaz de contemplar o mundo espiritual. At ento, o homem passa por muitas
experincias. Ora, no se deve imaginar que uma pressa excessiva seja possvel em
assuntos espirituais. O processo tem de ser cumprido com pacincia e perseverana.
Suponhamos que um homem inicie tal desenvolvimento. Sua meta o nascimento do Eu
Superior. No entanto, ele s avana at certo grau atinge apenas certos estgios
preliminares para esse nascimento. Ento morre e volta a nascer. H agora duas
possibilidades, caso tal homem renascido haja cumprido certa disciplina espiritual numa
encarnao. Ele pode sentir-se compelido a procurar um guia que lhe mostre como
repetir em pouco tempo o que j aprendeu e como atingir os passos seguintes; ou ento,
por uma razo ou outra, no procura seguir por esse caminho. Mesmo neste caso, sua
vida apresentar caractersticas diferentes do que a de outro homem. A vida de um
homem que j iniciou os primeiros passos no caminho do conhecimento trar, por si
prpria, experincias que se evidenciam como efeitos do grau de conhecimento atingido
por ele em sua encarnao anterior. Ele vivenciar tudo de forma diferente, e as
vivncias lhe traro uma impresso diversa da que causam em outras pessoas. E com isso
ele atingir novamente o ponto alcanado outrora por seu esforo. Na encarnao
anterior ele tivera de progredir passo a passo custa de esforo ativo. Na encarnao
seguinte, quando a prpria vida traz a recapitulao de seus esforos anteriores, algo se
aproxima dele, por assim dizer, a partir do exterior, e possvel que ele reviva os
resultados de sua encarnao anterior de forma bastante diversa. Assim, pode suceder
que j na infncia uma determinada experincia lhe provoque uma impresso tal que as
foras adquiridas por ele na encarnao anterior venham a ressurgir. Suponhamos que tal
homem haja atingido, numa encarnao, determinado grau no desenvolvimento da
sabedoria. Na encarnao seguinte ele renasce como uma criana qualquer.
Mas aos sete ou oito anos acontece-lhe uma experincia penosa. Isto o afeta de tal
maneira que a sabedoria adquirida anteriormente volta a aparecer, de forma que ele
agora se situa no grau atingido antes, podendo avanar para estgios superiores.
Imaginemos ainda que ele se esforce por progredir em alguns graus. Ento morre de
novo. Na encarnao seguinte, o mesmo processo pode repetir-se. Novamente uma
experincia exterior pode ocorrer-lhe e test-lo, por assim dizer, trazendo luz os frutos
de sua penltima e em seguida de sua ltima encarnao, e ento ele pode de novo
ascender para um grau acima.
Os Senhores vem, portanto, que s se compreende a vida de um homem que
atravessou vrias etapas de evoluo levando-se em conta tais fatos. Existe, por
exemplo, um grau que logo atingido quando um srio esforo feito no caminho do
conhecimento: o estgio do assim chamado homem sem ptria aquele que supera
preconceitos imediatos ao seu redor, eliminando todos os possveis constrangimentos
advindos do meio ambiente. Isto no o torna necessariamente impiedoso; ele pode at
tornar-se mais piedoso. Contudo precisa libertar-se dos laos que o ligam vizinhana.
Tomemos a situao em que um homem assim morre aps conseguir a condio de alguma
liberdade e independncia. Ento nasce de novo, e relativamente cedo um
acontecimento revive nele o sentido de liberdade e independncia. Geralmente isto
sucede com a perda do pai ou de algum a quem ele ligado; ou pelo fato de o pai no
se relacionar bem com ele, talvez repudi-lo, ou pior. Estas verdades nos so contadas
nas lendas sinceras dos vrios povos, pois em tais assuntos os mitos ou lendas contm
realmente mais sabedoria do que a cincia dos nossos dias. Um caso tpico, muito
freqente, aquele em que o pai ordena que o filho seja abandonado; a criana
socorrida por pastores, sendo nutrida e educada por eles, e finalmente reconduzida sua
condio normal como, por exemplo, Aquiles, Rmulo e Remo. A fim de fazer ressurgir os
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frutos das vidas anteriores, eles deviam ser abandonados prpria sorte, sendo expulsos
de seu lugar natal. Tambm a histria do abandono de dipo pertence a este caso.
Se um homem j experimentou o nascimento de seu Eu Superior ou ultrapassou este
estgio, podemos imaginar que, quanto maior for seu desenvolvimento, tanto mais rica
ser sua vida em experincias para que ele possa atravessar uma experincia nova,
nunca vivida antes.
Aquele em quem haveria de encarnar-se aquela majestosa entidade que
denominamos Cristo no podia, naturalmente, assumir essa misso numa poca qualquer
de sua vida. Para tal devia, primeiramente, tornar-se cada vez mais maduro. Nenhum
homem comum poderia realiz-la apenas quem houvesse atingido altos estgios de
iniciao atravs de muitas vidas. A Crnica do Akasha nos relata fielmente o ocorrido,
mostrando como, durante muitas vidas, uma individualidade se esforou para atingir,
passo a passo, altos estgios de iniciao. Ento ela renasceu, tendo passado agora,
nesta encarnao terrestre, por experincias de natureza preparatria. Porm nesse
homem reencarnado j viveu uma individualidade que percorreu elevados graus.
Tratava-se de um iniciado destinado a, num perodo posterior de sua vida, receber a
individualidade do Cristo. As primeiras experincias desse iniciado so a repetio de
seus estgios iniciticos anteriores. Por isso buscado em sua alma tudo o que foi
anteriormente alcanado por ela.
Ora, sabemos que o homem consiste nos corpos fsico, etrico, astral e num eu.
Sabemos tambm que no decurso da vida humana o corpo fsico o nico que nasce, de
incio, por ocasio do nascimento fsico. At o stimo ano, o corpo etrico do homem
est envolto por uma espcie de invlucro etrico materno; e no stimo ano, com a
troca dos dentes, esse invlucro rejeitado da mesma forma como o ventre materno
quando o corpo fsico nasce para o mundo exterior. Posteriormente, na puberdade, um
manto astral rejeitado de modo similar, nascendo ento o corpo astral. Por volta dos
21 anos nasce ento o eu, mas tambm gradativamente.
Aps termos atravessado o nascimento do corpo fsico, o do corpo etrico aos sete
anos, o do corpo astral aos catorze ou quinze, temos de levar em conta igualmente um
nascimento da alma da sensao, da alma do intelecto e da alma da conscincia; e, de
fato, por volta dos 21 anos nasce a alma da sensao, aos 28 a alma do intelecto e em
torno dos 35 anos a alma da conscincia.
Agora veremos que a entidade do Cristo no pde encarnar-se num ser humano na
Terra, no pde ser acolhida nesse homem antes que a alma racional estivesse
inteiramente nascida. Isto nos mostrado tambm pela pesquisa espiritual. A
individualidade que surgiu na Terra como um grande iniciado tinha entre 28 e 35 anos de
idade quando nele entrou o Cristo; ento sob o esplendor, sob a luz irradiante desse
grande ser, desenvolveu-se tudo o que os homens normalmente desenvolvem sem esse
esplendor e essa luz: os corpos etrico e astral e as almas da sensao e do intelecto.
Podemos, pois, dizer o seguinte: at o ano de sua vida em que ele chamado a receber
o Cristo, deparamos com um grande iniciado percorrendo gradualmente as experincias
que, no final, evocam todas as conquistas feitas e elaboradas por ele, em encarnaes
anteriores, no mundo espiritual. Surge-lhe ento a possibilidade de dizer: Eis-me agora
aqui. Ofereo tudo o que possuo. Doravante renuncio a ser um eu independente! Fao de
mim o portador do Cristo. Ele viver em mim e doravante estar todo em mim!
O momento em que o Cristo se encarnou numa personalidade da Terra foi indicado
pelos quatro Evangelhos. Por muitas diferenas que contenham, os quatro apontam o
momento em que o Cristo, por assim dizer, se insere no grande iniciado: o batismo por
Joo. Naquele instante, to claramente indicado pelo autor do Evangelho de Joo ao
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dizer que o Esprito desceu em forma de pomba e uniu-se a Jesus de Nazar naquele
momento temos o nascimento do Cristo, o nascimento do Cristo na alma de Jesus de
Nazar como um novo Eu, um Eu Superior. At ento o outro eu, o eu do grande iniciado,
havia atingido um desenvolvimento tal que se tornara apto para este acontecimento.
E quem deveria nascer na entidade de Jesus de Nazar?
Ontem j indicamos o seguinte: o Deus que existia desde o princpio, que havia
permanecido no mundo espiritual, deixando entrementes a humanidade entregue ao seu
desenvolvimento, devia agora descer e encarnar-se em Jesus de Nazar. Como nos d a
entender isso o autor do Evangelho de Joo? A esse respeito, basta levarmos a srio as
palavras do Evangelho. Com esse intuito, leiamos o incio do Antigo Testamento:
No princpio Deus criou o Cu e a Terra. E a Terra era desolada e vazia; e havia caos e trevas sobre o abismo. E o Esprito divino pairava sobre as guas.
Imaginemos a situao: O Esprito de Deus pairava sobre as guas. Embaixo est a
Terra com seus reinos, como continuadores do Esprito divino. Em seu meio, uma
individualidade se desenvolve de tal forma que pode receber esse Esprito que pairava
sobre as guas. Que diz o autor do Evangelho de Joo? Ele nos diz que Joo Batista
reconheceu nele a presena do ser anunciado no Antigo Testamento. Ele diz: Eu vi o
Esprito descer dos Cus como uma pomba e pairar sobre ele. Joo sabia que, ao descer
o Esprito sobre algum, tratar-se-ia daquele que estava para vir: o Cristo. Temos ento o
princpio da evoluo terrestre, o Esprito pairando sobre as guas; temos Joo batizando
com a gua e com o Esprito que no princpio pairava sobre as guas e, agora, adentra a
individualidade de Jesus de Nazar. Seria impossvel exprimir com palavras mais
grandiosas do que as do escritor do Evangelho de Joo a ligao entre o acontecimento
da Palestina e aquele outro acontecimento relatado no princpio do mesmo documento
ao qual se anexa o Evangelho.
Mas tambm de outra maneira o autor do Evangelho de Joo se liga a esse
documento. Ele o faz justamente por meio das palavras com as quais expressa o fato de
estar unido a Jesus de Nazar o mesmo a quem, desde o incio, a Terra deve sua criao e
evoluo. J conhecemos as primeiras palavras do Evangelho de Joo: No princpio era o
Verbo (ou Logos), e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. O que o Logos, e como estava ele com Deus? Tomemos o incio do Antigo
Testamento, onde defrontamos esse Esprito, do qual se diz: E o Esprito Divino pairava
sobre as guas. E o Esprito Divino clamou: Faa-se a luz! E fez-se a luz. Fixemos bem isto, e expressemo-lo agora em outras palavras. Escutemos o apelo do
Esprito Divino, cujo Verbo criador soou atravs do mundo. O que o Verbo? No princpio
era o Logos, e o Esprito Divino clamou, e o que ele clamou aconteceu. Isto significa: no
Verbo estava a Vida pois caso a Vida no estivesse nele, nada poderia ter ocorrido. E o
que ocorreu? narrado o seguinte: E Deus disse: Faa-se a luz! e houve a luz. Retomemos agora o Evangelho de Joo. No princpio era o Verbo, e o Verbo estava
com Deus, e o Verbo era Deus. Agora o Verbo havia fludo para a matria, tornando-se simultaneamente a figura
exterior da Divindade. Nele estava a Vida, e a Vida era a luz dos homens. Assim se liga o escritor do Evangelho de Joo diretamente ao mais antigo
documento, o Gnesis. Com palavras um pouco diversas, ele indica o mesmo Esprito
Divino. Ento nos faz ver claramente ter sido o Esprito Divino o que surgiu em Jesus de
Nazar. O escritor do Evangelho de Joo unvoco com os demais evangelistas quanto ao
fato de, com o batismo de Jesus de Nazar, haver nascido nele o Cristo, aps longo
preparo de seu receptor. E devemos ter bem claro que todo relato da vida anterior de
Jesus de Nazar refere-se a nada mais seno uma soma de vivncias que nos demonstram
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sua ascenso aos mundos superiores em prvias encarnaes, e como ele se havia
preparado cada vez mais em seus corpos astral, etrico e fsico, para finalmente poder
receber o Cristo. Aquele que escreveu o Evangelho de Lucas diz, em palavras algo paradigmticas,
que Jesus de Nazar se preparou sob todos os aspectos para o grande acontecimento do
nascimento do Cristo nele. Sobre essas experincias, que o elevaram vivncia do
Cristo, falaremos na prxima palestra. Hoje queremos indicar como o escritor do
Evangelho de Lucas diz, em algumas palavras, que o receptor do Cristo se preparou
longamente nos anos anteriores. Em seu corpo astral ele se tornou to virtuoso, nobre e
sbio quanto deveria tornar-se para que nele pudesse nascer o Cristo. E tambm tornou
seu corpo etrico to maduro e seu corpo fsico to suave e belo que o Cristo pde estar
nele. Basta entendermos corretamente o Evangelho. Tomemos, no segundo captulo do
Evangelho de Lucas, o versculo 52. Da maneira livre como aparece nas Bblias comuns,
esse versculo no dir o que acabo de afirmar. Diz esse trecho: E Jesus cresceu em
sabedoria, idade e graa diante de Deus e dos homens. H algum significado no fato de um homem como autor do Evangelho de Lucas dizer
de Jesus de Nazar que este cresceu em sabedoria. Se, porm, ele relata como um
acontecimento importante haver Jesus crescido em idade, isto no to
compreensvel, pois tal fato no necessrio ressaltar. Sua meno indica estar aqui
implcito um outro fato. Tomemos esse versculo no texto original:
[ki Iesous prokopten n t sofa ki helika ki khritipar the ki anthrpois.]
Isto significa, na realidade, o seguinte: Ele cresceu em sabedoria, isto , ele
desenvolveu seu corpo astral. Quem conhece o significado da palavra grega helika pode
dizer-lhes que nela se subentende aquele desenvolvimento percorrido pelo corpo etrico
a fim de levar gradualmente a sabedoria plenitude. Os Senhores sabem que o corpo
astral plasma as qualidades disponveis em ocasies nicas, ou seja: entende-se algo de
uma vez para sempre. O corpo etrico plasma aquilo que desenvolve como hbitos,
inclinaes e habilidades. isto o que ocorre em repeties contnuas. O que sabedoria
se torna hbito. levada prtica por haver passado para a carne e o sangue. isto o
que significa, pois, esse crescer em maturidade. Assim como o corpo astral cresce em
sabedoria, o corpo etrico cresce em hbitos nobres, em hbitos visando o bom, o nobre
e o belo. E o terceiro elemento no qual cresceu Jesus khris significa, na realidade,
aquilo que se manifesta e torna visvel como beleza. Quaisquer outras verses so
incorretas. Devemos traduzir que ele cresceu em graciosa beleza, e que, portanto,
plasmou de forma bela e nobre tambm seu corpo fsico.
E Jesus cresceu em sabedoria [em seu corpo astral], em vocaes maduras [em seu corpo etrico] e em graciosa beleza [em seu corpo fsico], de forma visvel a Deus e aos homens.
A descrio de Lucas nos mostra como ele sabia que o futuro receptor do Cristo
devia desenvolver plenitude os trs envoltrios os corpos fsico, etrico e astral.
desta forma que compreenderemos o fato de se poder reencontrar nos Evangelhos
o que a Cincia Espiritual diz, independentemente dos mesmos. Por isso a Cincia
Espiritual justamente uma corrente cultural que reconquista para ns as tradies
religiosas; e essa reconquista no ser apenas um acontecimento do saber e do
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conhecimento humanos, mas uma conquista da mente e do intelecto, em sentimento e
emoo. E especialmente de tal compreenso que necessitaremos se quisermos captar
esse acontecimento a interveno do Cristo na evoluo da humanidade.
26 de junho de 1909
A Vida e a Luz emanadas do Logos
Aqueles, dentre os ouvintes, que repetidas vezes ouviram meus ciclos de
conferncias ou principalmente aquelas sobre assuntos da Cincia Espiritual, j
assimilaram dos mais variados pontos de vista alguns fatos dos mundos superiores. Esta
ou aquela entidade, este ou aquele fato de diversos mbitos foram enfocados de
maneiras diferentes. Nesse caso pode ocorrer e hoje eu gostaria de enfatizar isso, a
fim de evitar mal-entendidos de aparentemente, por uma observao superficial,
surgirem contradies entre esses diversos enfoques de entidades e fatos. Observando
corretamente, porm, os Senhores concluiro que por meio de tal focalizao mltipla os
complicados fatos dos mundos espirituais s podero clarear-se. Eu necessitava diz-lo
porque hoje precisarei focalizar sob outro aspecto certos fatos j conhecidos de uma
certa perspectiva pela grande maioria dos ouvintes. Justamente ao tomarmos o mais
profundo documento do Novo Testamento, conhecido pelo nome de Evangelho Segundo
Joo, e lermos as significativas palavras com as quais encerramos nossas consideraes
de ontem, logo se nos fica claro que infinitos mistrios do devir csmico e humano esto
contidos nessas palavras iniciais desse evangelho. No decorrer de nossas observaes,
talvez tenhamos oportunidade de mostrar por que muitas vezes os grandes narradores
dos acontecimentos espirituais exprimem justamente as verdades grandiosas e
abrangentes de forma breve e paradigmtica, como ocorre nos primeiros versculos do
Evangelho de Joo. Hoje retrocederemos, diferentemente de ontem, a certos fatos
conhecidos da Cincia Espiritual, e veremos como estes nos se nos deparam novamente
no Evangelho de Joo. Partiremos dos fatos relativamente mais simples.
Do homem tal como se nos apresenta na vida cotidiana sabemos que ele
constitudo de quatro membros: o corpo fsico, o corpo etrico ou vital, o corpo astral e
o eu. Sabemos que a vida diria do homem se alterna, de forma que do acordar matutino
at o adormecer noturno esses quatro membros de sua entidade se entrelaam
organicamente. Sabemos que durante a noite, quando ele dorme, o corpo fsico e o
corpo etrico permanecem no leito, deles desligando-se o corpo astral e o portador do
eu, ou simplesmente o eu.
Devemos agora ter bem claro algo em especial. Quando defrontamos um homem no
atual estado evolutivo, essa quaternidade corpo fsico, corpo etrico, corpo astral e eu
se nos apresenta como uma necessidade interligada. Se o vemos noite deitado no
leito, onde h apenas o corpo fsico e o corpo etrico, de certa forma esse homem tem o
valor de uma planta. Ora, a planta, tal como se nos apresenta no mundo exterior,
constitui-se justamente dos corpos fsico e etrico, no possuindo corpo astral nem um
eu. Por isso ela se distingue do animal e do homem. O animal tem sobretudo um corpo
astral, e o homem tem sobretudo um eu dentro de si. Podemos, pois, dizer que da noite
at a manh ficam no leito os corpos fsico e etrico do homem; ento seu ser se
assemelha planta, no sendo, no entanto, como uma planta. Devemos compreender
bem isto.
Se hoje existe uma entidade livre e autnoma que no possua um corpo astral e um
eu, consistindo apenas dos corpos fsico e etrico, deve parecer uma planta deve ser
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uma planta. O homem, porm, enquanto deitado no leito, ultrapassou o valor da planta
por haver, no decorrer da evoluo, acrescentado aos seus corpos fsico e etrico o corpo
astral o portador do prazer e do sofrimento, da alegria e da dor, dos impulsos,
instintos e paixes e o portador do eu. A cada vez, porm, que um membro superior
acrescentado a uma entidade, tudo se modifica em seus membros inferiores. Se planta,
tal como esta se nos apresenta hoje na natureza, acrescentssemos um corpo astral que
no apenas a orlasse, mas a permeasse, a substncia vegetal que a constitui se
transformaria em carne animal. E de maneira semelhante, seria a planta transformada
caso abrigasse um eu no mundo fsico. Podemos, pois, tambm concluir o seguinte:
quando um ser como o homem possui em sua natureza no somente o corpo fsico, mas
membros invisveis, superiores, supra-sensveis, estes membros superiores se expressam
nos inferiores. Assim como nossas particularidades anmicas so superficialmente
exprimidas em nossas feies, em nossa fisionomia, nosso corpo fsico tambm uma
expresso da ao do corpo astral e do eu. E o corpo fsico no representa apenas a si
prprio, mas tambm os membros fisicamente invisveis do homem.
Assim, o sistema glandular humano e tudo o que lhe afim uma expresso do
corpo etrico no homem. Todo o conjunto do sistema nervoso uma expresso do corpo
astral, e todo o sistema circulatrio uma expresso do portador do eu. Portanto, no
prprio corpo fsico temos de distinguir novamente uma quaternidade, e s quem cultua
uma cosmoviso grosseira pode considerar as diversas substncias do corpo fsico humano
como equivalentes. O sangue que pulsa em ns tornou-se tal substncia pelo fato de no
homem residir um eu. O sistema nervoso plasmado de tal forma e de uma tal
substncia por haver no homem um corpo astral. E o sistema glandular veio a existir por
haver no homem um corpo etrico. Observando isto, os Senhores compreendero
facilmente que no fundo o ser humano, desde a noite, ao adormecer, at a manh, ao
acordar, um ser contraditrio em si mesmo. Pode-se dizer que deveria ser uma planta
mas no , pois a planta no possui, em sua substncia fsica, a expresso do corpo astral
o sistema nervoso nem tampouco a expresso do eu o sistema circulatrio. Uma
entidade fsica tal como o homem, com os sistemas metablico, nervoso e circulatrio,
s pode existir contendo um corpo etrico, um corpo astral e um eu.
Ora, como seres humanos relativamente ao nosso corpo astral e ao nosso eu, noite
abandonamos nossos corpos fsico e etrico. Fazemos isso, por assim dizer, sem
escrpulos, tornando-os um ser contraditrio em si mesmo. Se aqui nada ocorresse de
espiritual entre o nosso adormecer e o nosso acordar, e simplesmente retirssemos nosso
corpo astral e nosso eu dos corpos fsico e etrico, de manh encontraramos nossos
sistemas nervoso e circulatrio destrudos, pois estes no podem existir sem conter um
corpo astral e um eu. Ocorre portanto, o seguinte, perceptvel conscincia
clarividente:
medida que o eu e o corpo astral se retiram, o clarividente v como um eu e um
corpo astral divinos adentram o ser humano. De fato, tambm noite, do adormecer ao
acordar do homem, h um corpo astral e um eu (ou ao menos um substituto para eles)
nos corpos fsico e etrico. Quando o elemento astral se retira do homem, um elemento
astral superior penetra nele a fim de preserv-lo at o acordar, e da mesma forma um
substituto para o eu. Disto se pode ver que no domnio da nossa vida se encontram em
ao outras entidades alm das que se manifestam no mundo fsico. Neste se manifestam
os minerais, as plantas, os animais, os homens. Os homens so as entidades supremas
dentro da nossa esfera fsica. S eles possuem um corpo fsico, um corpo etrico, um
corpo astral e um eu. Pelo fato de noite o corpo astral e o eu se retirarem dos corpos
fsico e etrico, os Senhores podem concluir que o corpo astral e o eu tm ainda hoje
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uma certa autonomia, podendo, por assim dizer, desligar-se e viver, por algum tempo da
vida cotidiana, separados dos suportes fsico e etrico.
noite, pois, evidencia-se o seguinte: da mesma forma como os corpos fsico e
etrico humanos so, durante o dia, portadores do eu e do corpo astral humanos
portanto, justamente dos membros mais ntimos do homem , noite os mesmos se
tornam portadores ou templos de entidades superiores correspondentes ao corpo astral e
ao eu. Agora diferente o que repousa no leito, pois em seu interior existem tambm
um elemento astral e um eu, porm divino-espirituais. De certa forma, podemos dizer o
seguinte: enquanto o homem dorme em relao ao seu corpo astral e ao seu eu, nele