CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE

CURSO: RELAÇÕES INTERNACIONAIS

MATÉRIA: INTRODUÇÃO AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

PROFESSOR: RAFAEL ÁVILA

ALUNO: ALESSANDRO SANTOS SILVA

Analise do filme terra de ninguém, baseada nas teorias Realista e Idealista das Relações Internacionais.

O filme terra de ninguém conta a historia de dois soldados, Ciki e Nino um Bósnio e um Sérvio que ficaram ilhados entre linhas inimigas, na “terra de ninguém”, durante o conflito da Bósnia em 1993. Enquanto eles tentam resolver esse contratempo, um sargento das nações unidas vai ajudá-los, apesar de ter recebido ordens para não intervir. Seguido pela imprensa, o assunto acabou se transformando em um acidente internacional. Em um tenso impasse entre os diversos lados envolvidos no conflito e com a mídia aguardando o seu desfecho, Ciki e Nino tentam desesperadamente negociar por suas vidas em meio à insanidade da guerra. Estima-se que houve aproximadamente 200.000 mortos e 2,5 milhões de refugiados nesse conflito.

Será analisado nesse filme aspectos implícito de duas das principais teorias de relações internacionais, contrapostas no debate acadêmico contemporâneo. Esta analise focará ao mesmo tempo aspectos da teoria Realista das relações internacionais ao longo do filme, e aspectos da teoria idealista.

Já no inicio do filme um soldado Bósnio em um dialogo com Ciki faz uma piada sobre uma visão pessimista e uma visão otimista das coisas, o que em síntese descreve bem o cerne das teorias realista (visão Pessimista) e idealista (visão otimista) das relações internacionais. O soldado foi criticado por suas piadas “sem graça” e considerado sem inteligência e nisso concorda com seus colegas dizendo que se fosse realmente inteligente não estaria numa guerra, seria um general ou delegado da ONU, porque segundo ele “os tais não fazem nada mesmo”. A resposta do soldado pode ser considerada uma critica do realismo, ao idealismo representado pela instituição ONU que se pretende órgão supranacional na mediação e soluções de conflitos entre os Estados, que na visão realista vive em estado de anarquia e não respeita a intervenção do direito internacional e nem das instituições que dele se utilizam a não ser que queiram. Quando o mesmo soldado em questão pede um cigarro ao seu companheiro ainda no inicio do filme, este o replica dizendo que ele deveria comprar seus próprios cigarros, pois não era “Madre Tereza”, ou seja, em outras palavras, eu não sou “bonzinho” “eu sou mal e por isso estou numa guerra, não estou aqui para realizar atos altruístas, pois minha natureza é má”. Esse episódio concorda com a teoria realista de que a natureza humana é má, e que o homem não é nenhuma “Madre Tereza” ou tem uma natureza boa como defendem os idealistas. Segundo os realistas vivemos em uma guerra de todos contra todos. O soldado Sérvio Nino, quando convocado junto a um veterano, para inspecionar os corpos do grupo de soldados de resgate Bósnios, vitimas de um ataque, por duas vezes se apresenta dizendo o seu nome, e é hostilizado por esse soldado, que arma uma mina de fragmentação fabricada no EUA embaixo do corpo de um soldado Bósnio a quem ele se refere o tempo todo como “inimigo”. Tal fato ratifica mais uma vez a teoria realista de que a natureza

humana é realmente má e esta em constante conflito, e que essa natureza se manifesta até mesmo entre compatriotas de guerra. O fato de que a granada de fragmentação é fabricada nos EUA, nos fala do poder da indústria armamentista americana e nos diz que a guerra é um grande negocio, demonstrando também que a supremacia de um estado é mensurada por sua capacidade militar, principio presente na teoria realista. Quando Nino e o outro soldado Sérvio são surpreendidos por Ciki, e baleados na trincheira, Nino não morre de imediato e tem sua vida poupada por Ciki em troca de informações sobre a trincheira e sobre o desarmamento da granada em seu companheiro, que ainda estava vivo deitado em cima da granada. Tal circunstancia revelam que Nino foi poupado por uma necessidade estratégica militar e não por altruísmo. Ciki diz a Nino para ele tirar a roupa e ele questiona o porquê, Ciki então responde “por que eu tenho o fuzil, então eu mando aqui” novamente a teoria realista esta em voga dizendo que quanto mais poder, maior a possibilidade de decisão autônoma e de imposição de poder aos demais atores no cenário internacional, ou seja, há quem manda e quem obedece. Em outro momento Ciki e Nino entram em um dialogo sobre os motivos da guerra e sobre quem a havia iniciado, mas não houve consenso e acordo e cada qual se estribava na sua razão. O dialogo que terminou em discussão só teve fim novamente pela imposição de Ciki, evocando para si a razão pelo poder do fuzil. Aqui a teoria idealista que aposta no homem como um ser racional, capaz de dialogar para resolver seus problemas e suas diferenças não prevalece. Depois disso a situação se inverte, agora Nino é quem tem o fuzil e Ciki é quem obedece.

Há um momento dentro da trincheira que tanto Nino como Ciki, ambos tem o mesmo poder de fogo, tendo cada um o fuzil em sua mão, e consequentemente desfrutaram um período de paz armada e de certa forma um “equilíbrio de poder” entre eles. Esse é um princípio difundido na teoria realista, o de um equilíbrio de poder através da capacidade militar, ou seja, só há paz entre os estados pelo poder das armas. Em dado momento Ciki e Nino entram em um acordo de se despirem de suas fardas e balançarem bandeiras brancas em sinal de rendição para que houvesse uma intervenção da ONU, o plano deu certo e o comando da ONU foi notificado da situação, que foi repassada há um de seus postos de serviço para um sargento Frances que atendia pelo codinome de Arizona 2. O sargento pediu detalhes da situação e pergunta se tem permissão para fazer um reconhecimento da situação e tal permissão lhe é negada, porque não havia a certeza de um cessar fogo e tal atitude seria arriscada. Arizona 2 ao receber a ordem de permanecer onde estava se indigna e pergunta por que afinal estavam ali. Outro soldado francês responde a sua pergunta dizendo que estavam ali para impedir que Sérvios e Bósnios matassem uns aos outros, mas sem usar de violência ou arriscar suas vidas (teoria idealista), Arizona 2 então diz que estava cansado de ficar só olhando. É possível perceber nessa situação com muita clareza a ineficácia dessa instituição interestatal e supranacional de zelar pela paz por meio do simples apelo às normas e acordo entre as partes envolvidas. O sargento Georges então resolve sair e fazer alguma coisa que realmente justificasse suas presenças naquele lugar. No final das contas, depois de tentar mediar o conflito entre aqueles dois soldados arriscando suas próprias vidas e descumprindo as ordens de seus superiores, tentarem meios para que a mina fosse removida do soldado Bósnio com envolvimento da imprensa e de um soldado Alemão perito em bombas, numa clara manifestação da teoria idealista com todas as suas nuances, o que realmente houve foi à prevalência da teoria realista com a morte de Nino por Ciki e de Ciki pelos soldados da ONU em um desfecho desastroso com o abandono do soldado vivo em cima da mina de fragmentação. A presença da ONU querendo mediar o conflito através do dialogo sob uma perspectiva idealista, não foi suficiente para mudar a natureza disposta ao conflito de Ciki e Nino que na perspectiva realista representava a Sérvia e a Bósnia.