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IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem
07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR
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O GÊNERO DISCURSIVO CARICATURA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES
Carla Ramos de Paula1
Ivete Janice de Oliveira Brotto2
Resumo: Este artigo visa apresentar uma leitura do gênero discursivo caricatura em relação ao processo dialógico posto nele. Trata-se de uma discussão bibliográfica, em que a perspectiva linguística de Bakhtin (2011) é o amparo teórico para abordarmos os temas Gêneros do Discurso e Excedente de Visão Estética e os pressupostos de Lima (1963), Romualdo (2000) e Teixeira (2005), a literatura de apoio para analisarmos o gênero caricatura. Em síntese, na leitura da caricatura inferimos a importância da discussão com a categoria outro, pois, a caricatura em essência é a expressão do eu caricaturista em relação ao outro caricaturado. Palavras-chave: caricatura, gênero do discurso, outro.
Abstract: This paper aims to present a reading of the speech genre caricature in regard to dialogic process put into it. It is a bibliographic discussion, which the Bakhtin's (2011) linguistic perspective is the theorical support to broach the Speech Genres and Excesso of Seeing; and Lima’s assumptions (1963), Romualdo (2000) e Teixeira (2005), the supporting literature to analyse the caricature genre. In summary, in the caricature reading we infer the importance of to discuss with the 'other' category, because the caricature in essence is the self expression regarding the caricatured other. Keywords: caricature, speech genre, other. Introdução
“A caricatura é tão antiga quanto o homem” Lima
Neste artigo objetivamos travar um contraponto entre o gênero de humor gráfico
caricatura e os postulados de Bakhtin no que se refere ao tema Excedente de Visão Estética.
1 Graduada em Pedagogia. Aluna regular do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Educação – nível de Mestrado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE - campus Cascavel. [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação PPGE da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/ UNIOESTE – campus Cascavel. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. [email protected]
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Trata-se de um diálogo que busca mostrar a constituição da caricatura como expressão de um
eu sobre o outro, isto é, caricaturista e caricaturado.
Amparamo-nos em Lima (1963), Romualdo (2000) e Teixeira (2005), para
compreensão do gênero caricatura, e em Bakhtin (2011), para o diálogo com o Excedente de
Visão Estética. Entendemos a caricatura gráfica como um gênero discursivo e, como tal, é
também Bakhtin (2011), que nos sustenta teoricamente na orientação sobre os Gêneros do
Discurso. Para a abordagem, distribuímos a discussão, primeiramente, discorrendo acerca do
gênero caricatura como expressão de uma manifestação discursiva, compreendido no contexto
da teoria dos Gêneros do Discurso, e diferenciamos os gêneros charge, cartum e caricatura.
Em seguida, trazemos o contraponto entre a caricatura, sua leitura, e o conceito de Excedente
de Visão Estética bakhtiniano. Finalmente destacamos como a caricatura expressa em sua
construção a relação com o outro, imbricada, atravessada, da visão que o caricaturista realça.
1. O gênero discursivo caricatura
A necessidade de interação social do homem é mediada pelo uso da linguagem. Com
ela e por meio dela, produzimos e empregamos diferentes formas de enunciados, conforme a
organização de esferas sociais.
De acordo com Bakhtin (2011, p. 262), os gêneros discursivos são produções sociais
que os diferentes campos da atividade humana propagam. Destarte, onde há trabalho humano,
ali também estão configurados os “tipos relativamente estáveis de enunciado” que Bakhtin
denomina de gêneros do discurso.
Os gêneros discursivos são reflexos e refrações da organização do homem em
determinados contextos, situações, intencionalidade, isto é, cada gênero é expressão/resultado
da atividade humana em uma esfera específica, atravessado pelos índices de valor próprio da
materialidade social e individual. Assim, compreender a caricatura como um gênero
discursivo, implica em pensá-la como expressão de um determinado campo de esfera de
atividade humana, posto em circulação por um indivíduo também localizado socialmente.
Nessa compreensão, a caricatura é expressão social, resultado da necessidade do
homem de interagir socialmente, mediada pela linguagem e pela intencionalidade que projeta,
desloca e produz efeitos de sentidos no interlocutor.
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Assim, ao apresentar em sua tessitura uma riqueza estética singular, a caricatura
remete a propormos, neste artigo, uma leitura de aproximação com as suas peculiaridades,
independente do suporte em que esse gênero circule: jornais impressos, eletrônicos, sites,
revistas, blogs, livros.
Em consonância com Paulo Ramos (2010), autor que estuda o gênero História em
Quadrinhos (HQ’s), há certa tendência na literatura da área na classificação de gêneros. Diz o
autor:
É possível identificar pelo menos três comportamentos teóricos: • o que vê os quadrinhos como um grande rótulo que abriga diferentes
gêneros; • o que vincula os gêneros de cunho cômico – charge, cartum, caricatura e
tiras (em alguns casos, chamadas de quadrinhos) – num rótulo maior, denominado humor gráfico ou caricatura (usada neste segundo momento num sentido mais amplo);
• o que aproxima parte dos gêneros, em especial as charges e as tiras cômicas, da linguagem jornalística (linha apoiada no fato de serem textos publicados em jornal). (RAMOS, 2010, p. 20-21).
Conforme a explicitação do autor, neste trabalho tomamos a caricatura como um
componente do universo do humor gráfico.
Segundo Romualdo (2000), na leitura de textos humorísticos, muitas vezes, um termo
é empregado pelo outro, “essa confusão revela que as pessoas captam o que há de mais
genérico e comum entre esses textos, ou seja, seus traços básicos: eles são visuais e
humorísticos” (ROMUALDO, 2000, p. 19).
Convém esclarecer que há diferenças entre os textos de humor do tipo charge, cartum
e caricatura. Assim, procuramos diferenciá-las conforme definições a seguir, embora nossa
ênfase recaia sobre estudos teóricos da caricatura.
Sobre a charge, ela é um
desenho humorístico, com ou sem legenda ou balão, geralmente veiculada pela imprensa e tendo por tema algum acontecimento atual que comporta crítica e focaliza, por meio de caricatura, uma ou mais personagens envolvidas [...] etim fr. Charge ‘carga’ ‘o que exagera o caráter de alguém ou de algo para torná-lo ridículo, representação exagerada e burlesca’ [...] (HOUAISS, 2001, p. 693).
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Em relação ao cartum, este é um “[...] desenho humorístico ou caricatural, espécie de
anedota gráfica que satiriza comportamentos humanos, geralmente destinada à publicação
jornalística” (HOUAISS, 2001, p. 638).
Já a caricatura é o
desenho de pessoa ou de fato que, pelas deformações por um traço cheio de exageros, se apresenta como forma de expressão grotesca ou jocosa. Reprodução deformada de alguma coisa. Indivíduo de aparência ou de maneiras ridículas (HOUAISS, 2001, p. 626).
Em síntese, a principal diferença dos gêneros de humor gráfico, charge, cartum e
caricatura diz respeito à especificidade de cada um, uma vez que a charge retrata geralmente
algum episódio da esfera política, o universo dos cartuns focaliza a crítica ao comportamento
humano e a caricatura a retratação jocosa do sujeito.
Lima (1963), autor do livro “História da Caricatura no Brasil”, ao tratar do local onde
se originou a caricatura, diz que “quanto ao seu aparecimento, muito embora o primeiro
caricaturista de que se conhece o nome fosse o grego Pauson, a caricatura nasceu,
efetivamente no Egito” (LIMA, 1963, p. 34).
Figura 01
Fonte: LIMA, 1963, p. 37.
Entretanto, e de acordo com Gawryzewski (2008, p. 9), apesar de alguns autores
atribuírem o início da existência do gênero caricatura ao Egito Antigo (zoomorfia e pinturas
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rupestres), a maioria atesta seu nascimento na Renascença, na Itália, com a figura dos irmãos
Caracci.
Compreendemos a difícil e importante tarefa de definir o local originário da caricatura,
sobretudo, porque por ela se pode recuperar a história sócio-político-cultural de um dado
contexto, mas, mais do que isso, porque permite conhecer como esse movimento social
revelou na caricatura a expressão das relações sociais, que a fez emergir como gênero.
Assim, concordamos com Lima (1963, p. 33), que “A caricatura é tão antiga quanto o
homem”, o que implica consentir a consolidação do gênero caricatura como processo
ininterrupto de produção humana, constituído por diferentes formas de expressão, conforme o
contexto social.
Quanto ao que seja uma caricatura, alguns teóricos, como Romualdo (2000, p. 21), “a
caricatura será compreendida como o desenho que exagera propositadamente as
características marcantes de um indivíduo”.
Teixeira (2005, p. 92) amplia um pouco mais esse entendimento, dizendo que “como
caricatura se define um modo de apropriação do sujeito por si próprio, a partir de
características marcantes – orelha de abano, topete eriçado, nariz grande, barriga proeminente
–, capaz de provocar o riso naquele que a observa”.
Ainda, Cagnin (1975) assegura que na caricatura:
Sua técnica consiste em carregar (do italiano caricare, donde caricato (caricatura), os traços mais evidentes de uma pessoa, exagerá-los, ou simplesmente mostrá-los quando já são suficientemente notórios. A caricatura evidencia o caráter descritivo da imagem (CAGNIN, 1975, p. 186).
De modo geral, e pelo exposto, podemos afirmar que a característica básica do gênero
caricatura é a retratação acentuada daquilo que no sujeito já se apresenta com certo destaque,
que o evidencia e que o torna imediatamente apreensível, reconhecível; é retratação jocosa do
sujeito/coisa representado/a. Nesse sentido, a caricatura e o que nela vem expresso,
caracterizado, é resultado do próprio contexto social: representa sujeitos situados
historicamente, e, sua produção/suporte, reflete os marcos do próprio entorno social em que
foi engendrada. Tão logo há diferenças notáveis entre a primeira caricatura e as produções
atuais. Perceba-se isso nas caricaturas a seguir (Fig. 02 e Fig. 03):
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Figura 02 – Caricatura Carlos Drummond de Andrade
Fonte: MENDEZ, 1986, p. 67.
Figura 03 – Caricatura Manuel Bandeira
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Fonte: MENDEZ, 1986, p. 69. Se, por um lado, as caricaturas expostas expressam as conceitualizações acerca do
gênero, definidas segundo os autores destacados anteriormente, haja vista a evidência nos
traços marcantes de cada sujeito caricaturado, por outro, são as caricaturas a expressão
singular de cada caricaturista em relação ao seu outro, personagem caricaturado. Isto é, a
produção reflete a leitura/percepção de um eu sobre um outro.
As figuras acima foram extraídas da obra “Caricaturas e caricaturados” de autoria do
caricaturista Mário Mendez.
Percebemos na caricatura de Drummond (Fig. 02), o acento nos traços que delineiam o
formato da cabeça, o nariz e o queixo; a evidência na caricatura de Manuel Bandeira (Fig. 03),
está especialmente nas linhas que compõem o nariz e os dentes. O exagero no evidenciado é a
característica marcante na caricatura.
Outro fato que destacamos remete à particularidade do caricaturista em retratar, para
além de seus outros caricaturados, marcas que fazem reconhecer (apesar de nas figuras
estarem escrito o nome dos representados), como que conduzindo o leitor para certa leitura, a
conotação e a evidência que o artista quer demarcar em seu registro caricatural: a expressão
da sua leitura de contexto acerca do retratado. Nestes casos, o que permite o reconhecimento
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imediato não só do retratado, mas o que quer mostrar neste retrato: a especificidade de dadas
obras.
É visível na caricatura de Drummond, como plano de fundo um quadro representado
com árvores, uma estrada e uma pedra no caminho. Esta imagem remete a uma das poesias
conhecidíssimas do autor, a caricatura como que dizendo “no meio do caminho tinha uma
pedra, tinha uma pedra no meio do caminho...”.
Já a caricatura de Manuel Bandeira expressa o autor com um livro nas mãos e neste a
escrita “Vou embora pra passargada” Aqui, igualmente, o caricaturista enfatiza uma das
poesias muito conhecidas do autor.
As caricaturas expostas são ricas, não só porque permitem a exploração de inúmeras
questões acerca dos personagens caricaturados, mas essencialmente porque elas expressam
uma leitura de completude do outro.
Realizada a discussão da caricatura como expressão de um gênero do discurso, bem
como sua característica como gênero, a seguir tecemos o diálogo entre a caricatura e o
conceito de Excedente de Visão Estética.
2. Caricatura: a completude na expressão do outro
Vislumbramos em nossa leitura do gênero caricatura a possibilidade do contraponto
com o conceito de Excedente de Visão Estética, proposto por Bakhtin. Observemos:
Esse excedente da minha visão, do meu conhecimento, da minha posse – excedente sempre presente em face de qualquer outro indivíduo – é condicionado pela singularidade e pela insubstitutibilidade do meu lugar no mundo: porque nesse momento e nesse lugar, em que sou o único a estar situado em dado conjunto de circunstâncias, todos os outros estão fora de mim. (BAKHTIN, 2011, p. 21 – grifos nossos).
A leitura do outro sobre o eu e vice-versa é dotado do excedente de visão, o que se
aplica nitidamente à composição da caricatura, uma vez que ela é a expressão da visão do
caricaturista acerca do retratado. A representação caricatural carrega este excedente; o
inacessível ao olhar do caricaturado é expresso na produção do caricaturista na relação eu-
outro:
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Porque em qualquer situação ou proximidade que esse outro que contemplo possa estar em relação a mim, sempre verei e saberei algo que ele, da sua posição fora e diante de mim, não pode ver: as partes de seu corpo inacessíveis ao seu próprio olhar – a cabeça, o rosto, e sua expressão –, o mundo atrás dele, toda uma série de objetos e relações que, em função dessa ou daquela relação de reciprocidade entre nós, são acessíveis a mim e inacessíveis a ele (BAKHTIN, 2011, p. 21 – grifos nossos).
Nessa direção, a caricatura representa justamente a leitura particular (o eu) do seu
personagem caricaturado (o outro), e, por sua vez, a interpretação/(re)interpretação do sujeito
que carrega o excedente do que pode acessar/ver do outro possibilita uma leitura de
completude vivenciada na categoria do eu sobre o outro.
As caricaturas de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira revelam o que
estamos apontando, pois expressam a visão do caricaturista Mário Mendez acerca de seus
retratados, isto é, a relação da constituição da caricatura como essencialmente dialógica, entre
caricaturista e os personagens caricaturados, em que outro e eu, e vice-versa, compõem o
sentido do gênero do discurso caricatura, que, por sua vez ,só possui sentido se pensada como
expressão particular de um eu sobre um outro.
Bakhtin (2011) esclarece ainda, por exemplo, que “A criança começa a ver-se pela
primeira vez como que pelos olhos da mãe e começa a falar de si mesma nos tons volitivo-
emocionais dela” (p. 46) A mãe é seu primeiro referencial sobre si mesmo, sobre o mundo,
sobre a realidade externa que o aguarda.
Neste sentido, observemos o que Lima (1963) explicita,
Criatura de ímpetos, porque a caricatura sendo obra por excelência instintiva, muito embora a inteligência e a cultura tenha nela igualmente parte preponderante, o caricaturista olha sempre a realidade com a sua lente específica, para o fim de caracterizar aquilo que visa no momento – fato ou personalidade (LIMA, 1963, p. 28 – grifos nossos).
Concebemos que a lente específica do caricaturista é imbricada do excedente de visão,
pois “o desejo de completude nos impele para o outro, olhamo-nos com os olhos do outro”
(GERALDI, FICHTNER, BENITES, 2006, p. 190). Na caricatura o idealizador representa
singularmente seu outro caricaturado, pois, somente o outro possui uma visão de completude
do nosso eu,
Na categoria do eu, minha imagem externa não pode ser vivenciada como um valor que me engloba e me acaba, ela só pode ser assim vivenciada na
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categoria do outro, e eu preciso me colocar a mim mesmo sob essa categoria para me ver como elemento de um mundo exterior plástico-pictural e único. (BAKHTIN, 2011, p. 33 – grifos nossos).
Ainda, Bakhtin assevera que o homem possui uma necessidade estética total do outro,
“do seu ativismo que vê, [...] que é o único capaz de criar para ele uma personalidade
externamente acabada; tal personalidade não existe se o outro não a cria [...] cria pela primeira
vez o homem exterior em um novo plano de existência” (2011, p. 33).
É nessa direção que, ao tecermos uma leitura do gênero caricatura, vislumbramos a
possibilidade da relação com o conceito de Excedente de Visão Estética bakhtiniano. Assim,
encontramos no gênero discursivo caricatura os elementos característicos fundamentais para
promover esta discussão porque, em essência, a caricatura é a expressão do eu caricaturista
em relação ao outro caricaturado, isto é, o eu construído em relação com o outro.
Considerações
Neste artigo apresentamos uma leitura de aproximação com o gênero discursivo
caricatura, compreendida esta como expressão de um determinado campo de atividade
humana, que, por sua vez, materializa intenções de homens situados historicamente.
Ao travarmos diálogo com alguns conceitos/ definições acerca dos gêneros de humor
gráfico, charge, cartum e caricatura, analisamos os elementos característicos da caricatura a
partir de duas produções do caricaturista Mendez.
Desenvolvemos um contraponto entre a caricatura e o Excedente de Visão proposto
por Bakhtin, que permitiu atestar a constituição dialógica do gênero discursivo caricatura,
haja vista que a mesma só produz sentido se compreendida na relação eu-outro.
Em síntese, a discussão buscou retratar a caricatura como expressão do outro,
essência da categoria que possibilita a completude do eu, e vice-versa.
Referências: BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. CAGNIN. Antônio Luiz. Os quadrinhos. São Paulo: Ática, 1975.
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GAWRYSZEWSKI, Alberto. Conceito de caricatura: não tem graça nenhuma. Revista Domínios da Imagem, Londrina, ano 1, n. 2, p. 7-26, maio, 2008.
GERALDI, João Wanderley; BENITES, Mario; FICHTNER, Bernd. Transgressões Convergentes: Vigotski, Bakhtin e Bateson. Campinas: Mercado de Letras, 2006.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LIMA, Herman. A história da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963. v.1.
MENDEZ, Mario. Caricaturas e caricaturados. Rio de Janeiro: Tecnoprint S.A, 1986.
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2010.
ROMUALDO, Edson Carlos. Charge jornalística: intertextualidade e polifonia: um estudo de charges da Folha de S. Paulo. Maringá: Eduem, 2000. TEIXEIRA, Luiz Guilherme Sodré. Sentidos do humor, trapaças da razão: a charge. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2005.