o Homem Que Atirava Garrafas Ao Mar

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O HOMEM QUE ATIRAVA GARRAFAS AO MAR

Por Beatriz Acampora Psicloga CRP 05/32030Em uma comunidade humilde um homem era especialista em confeccionar cermicas. Ele trabalhava bem o barro, dava formatos inusitados e levava ao forno com altas temperaturas para que se consolidasse e ficasse totalmente impermevel. Suas cermicas eram conhecidas nas redondezas, pois duravam muito e podiam ser lavadas ou ficar sob a gua.Este homem tambm gostava de passear em uma pirambeira que ficava a alguns quilmetros da comunidade onde morava. L ele apenas olhava para baixo e observava o movimento das ondas e o barulho que elas faziam. Sentia uma paz absoluta e tinha a certeza que se fechasse os olhos sentiria que o mar conversava com ele.Um dia, olhando a bela paisagem e de posse de um pote de cermica com tampa de rolha que havia feito para lhe servir de canteiro de gua, teve a ideia de escrever algo e colocar dentro da garrafa para atirar ao mar. Pegou um pedao de uma folha de bananeira que estava perto e escreveu uma frase singela. Esvaziou seu pote, colocou a rolha para selar bem e esperou as ondas recuarem para jogar o pote ao mar.Pensava que talvez, algum, em algum lugar longe dali, poderia ler aquelas palavras. Se sentiu bem ao fazer isso e foi para casa para fazer mais potes que pudessem ser jogados ao mar. Ele era casado e tinha dois filhos. Sua famlia questionava o porqu de tanta empolgao em fazer os mesmos potes dia aps dia. E ele explicou que se sentia bem ao jogar os potes ao mar com palavras que ele mesmo escrevia em folha de bananeira.Em casa ningum deu valor para o fato. Afinal, ele estava gastando material e tempo que deveriam ser usados para o sustento da famlia. Seus filhos o criticavam e o apelidaram de atirador de potes. O homem no se intimidou e ao final de algum tempo havia feito 30 potes, escrito frases em folhas de bananeira e jogado ao mar. Esses foram os nicos 30 potes que ele fez e jogou ao mar.Em sua paixo pelo oceano, o homem convidou sua famlia para passear de barco. E no meio do passeio o barco apresentou uma sria falha mecnica e afundou. Com exceo de seu filho mais velho, todos submergiram junto com a embarcao. Na tentativa de se salvar, o nico sobrevivente se debatia, at que viu uma das garrafas que seu pai havia atirado ao mar boiando. Era uma garrafa pequena, mas ele se agarrou a ela com toda sua vontade de viver. Ficou algum tempo boiando e tendo a garrafa como seu guia, at que avistou uma ilha e com muito esforo nadou at ela.Logo que chegou ilha, chorou muito a perda de sua famlia e, depois de muito se lamentar, olhando para a garrafa, pensou: Essa garrafa salvou minha vida. O que ser que tem dentro dela? Abriu a garrafa e se deparou com um pedao de folha de bananeira um pouco envelhecido, no qual estava escrito: A felicidade deve ser vivida, mesmo que no possa ser compartilhada.E foi ento, que ele entendeu que seu pai no era um atirador de potes, mas um semeador de palavras. Alguns desses potes, muito provavelmente, foram encontrados por pessoas que tiveram a oportunidade de degustar palavras e refletir sobre a vida. Outros, ainda devem estar boiando em algum lugar do oceano e, quem sabe, voc ainda poder ter a sorte de encontrar um deles.Embora muitas palavras j estejam colocadas, preciso resgat-las no oceano da vida. Afinal, o turbilho de informaes dos tempos atuais, escondem muitas garrafas com seus valiosos ensinamentos. preciso alinhar os sentidos para apreend-las.