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o álbumdo adeus
à metrópole*
Lucas de Meira2010
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A distribuição das cópias eletrônicas do livro é permitida. Mas, qualquer utilização do conteúdo, que fuja do formato aqui apresentado, precisará de autorização prévia do autor.
para a cidade que conheço
e não
alameda cabral
feito sanhaçocanto a manhã
ao longe
de ontem não passoas lembranças vêm vãs...
é hoje
8/12/1992
aurora de inverno
No Bosque,incertezas, frias florese minha calma mais gélida
: rancores.
(Cai a noite, e finda,cá eu, à espera do flertecom a mais linda.)
Fim do vinho: troco os cacospor umcarinho.
7/8/1993
praça carlos gomes
breve pausa na manhã: bem-te-vi, leve vôo,
esquivo
conduz-me, brisa irmãdevo à ti o que sou
vivo.
18/9/1993
avenida sete de setembro
tantas parecem minhas asasde pássaro polegar
...rasante!
e vôo à mil floreste seguindo pelo ar
errante
28/9/1993
avenida batel, balcão de bar
afundando o barcoe tentando ser farto
dalguma sorte
: que força faz o fracopara não ser
forte
31/7/1995
re-trato da noite quando jovem
quero-queroscorujas & griloscachorros & gatos
& o galo chamandoa lua atrasada& os sonhos rumandopralém-madrugada
tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic
eis que o tremapitaapitaapita& passa passa passa passa passa passa passa passa passa
(enquanto quandodescanso bem as caraspra não ficar às clarassem graça)
19/8/1995
lost soul in the saul's bar
Que jazz aqui,bailarina?
Veio ao solodos metais?
Viagem vã: esta jamé dos mortais.
Todavia,se me deixar em paz,se esquecer o tal romance,então pedirei que fique,
pois com a vida,ao meu alcance,não mais me encanto.
Agora danceque o uísque é dose...
(gole)
…e nem tanto.
14/11/1995
para ouvir miles
:jazzeávamos, aulas,
na oitava.
3/3/1996
praça santos andrade, escadaria
olho para a ruacomo se o nada eu olhasseo gari até me cumprimenta
olá!
os transeuntesfiguram previsíveisdeixando tudo piorque o making ofdo pré-prelúdiodo que não foi
tiro o uísque do pacotehá quem ache que é poseclose pra foto
mas aqui vou ficaraté que ela apareçaaté que eu mesmo me esqueçado que e quem estou a esperar
!(ela surge, descendo os degraus)
o brilho dos olhosapaga meu textoenquanto leio aqueles lábios caladosna, que bobagem, calada do dia
e quando eles se encontram com os meusainda tento
mas
não há mais tempo
à agoniaao acordar da coragemnovamente olho para a ruacomo se o nada eu olhassecomo se tudo fosseum mero ensaio
como se eu fosse um vassalodas vontades alheias
(não, não é sanguetenho é cianuretocirculando pelas veias)
13/12/1996
77
havia rolado uma tretadaquelas de muito sanguede um ou outroaté trocar de gangue
de quebradas ampulhetasde almas amputadasde jovens que só queriam viver
& mais nada
um alerta corria pelos becosnão saiam na noite de sextae, eu, como sou bestanão dei ouvidos
era uma gataque parecia valertodos os sentidos
marcou comigonum boteco que acho que nem existe maiso Barrestal
entrei, e, de cara, já não curtiaquele ruídode um Zeppelin coverde guitarra com efeitosespaciais
lunática, se dizia(e me chamandode guri)frequentava o recintoporque as amigas do trampoo achavam demais
nem sei comotirei a guria de lámas, logo ao entrarmosna Mateus Leme
lembro bemque vimos os rivaisde mãos nas cabeçasàs geraisda PM
ela, mais ou menosjá sabia da encrencame puxou, enlouquecidapro outro ladocomo se quisesse fugirdos anos noventa
na descida da Muricynão sei ondecompramos uma vodcae depois de um hot dogdo seu Joaquim, na Ruy
ela ficou meio ruimcomeçou a chorare dizer que aquele clima todoestava a atrapalhandopara o vestibular
terminamos ali, mesmoela, levou a bebidaeu, disseviva a sua vidamas talvez eu te procurequando você começara advogar
subi pro Lino'se as coisas pareciam se acalmaraté que tivemos que nos virarpois chegaram uns trintacontra eu e seis mais
teve cadeira quebradacaco de vidropiada inacabada
tudo muito insano
(n'outro dia ela foi lá em casabuscar ums discos deladevolver uns meus
eu não estava lámeu caderno simcom todos os versosali de cima
e ela os leu
deixou um bilhetedizendo que pena...e que tudo comigofoi uma grande viagemme chamando de niilista
e exclamou que estava certapois não nasceu para sersó personagem
e repetiu o"tudo muito insano"
e eu repito o"que pena"pois a achava bem espertae já a via protagonistade outros tantos poemas& contos
curitibanos)
13/3/1997
1988
na sala de aulasentava logo alimas muralhas& muralhasnos separavam
os olhos delapura luznão evitaram a escuridãodos infernos que desbraveiaté tocá-lanas mãos
(realmente as toquei?)
exaustocomo se o topo não fosse iníciomeu épico poemabelo & belonão passoude meromerosuplício
as férias vierame como se séculos passassem naquele verãodiasnoites me envelheceram tantoque cheguei a ouvir um cantoque se não era o da morteera o da criação
exageros à parteo novo ano começouestudamos descartese, numa aulaque eu nem queria ter assistidofinalmente algum cupidoou tapadoa flechou a chegar ao meu lado
amava-me antese além das muralhase escalara trinta everestspra enfim me dizerque seu nome era andressae nãoelizabeth
17/7/1997
avenida sousa naves
(pairo)
raro sentir-me assim: algo não teve fim
mas passado não tem fim mesmo!onde eu for, lá vem elepor mais que reles agora há pouco
e louco, a esmotrazendo os jeans, rasgadoscorrentes & cadeadosa coisa toda dos 77
(ando)
é claro é saudadee vez em quando é vez dela: menina da casa amarela
se eu ainda fosse aquelee fosse pichar um muroo picharia em branco
é duro ter de andar tantoa lembrança esmurra a memóriae as palavras se escondemnum canto
31/7/1997
ho scambiato i miei sogni di due dosi di rum
a calamidadecala minha idade
: relógios paramferidas saram
e eis queseduzido pela angústiaatiro rosas ao fogo
(risos)
assim, com pouca rimaprotagonizo minhas verdadese, modéstia à parte,a saudade não me abate
me consola
(…)
então, quando alguém me ofereceuma bicada de cachaçacomo esmolaum vento nada mansofaz chorar as árvores
e caem as lagrifolhasmulticores idem, os olhares
(neste banco de praçame descansomuitos bares)
14/8/1997
nettare freddo di un tardo pomeriggio
venta tantono colibrique ele voasem querer
as últimas floresbeijadasnão serão
e no verãoo que eu viserá versão
(neste banco de praçarir de tudonão tem graça)
7/10/1997
anis
caço teu beijoà vista ou à prazo
se te encontro nos sonhosou nos shoppings da vida
e teu jeito de arrasonão por acaso
ajeita armadilha
(sabida)
23/10/1997
blue blues
foi anteontem: peguei o vinil
raridadebessie smithdivindade
arremesseiandares mil
voou...
da janeladoutro prédio
a moça viu
quebrei seu tédioe o disco
que em cacosme partiu
9/12/1997
praça osório
passo pelo relógio paradoprocurando a menininha do braço quebradoque me pediu esmola
- um reá a frôr de prástico!
seu perfumeé o cheiro da colatambém na mente da piazada pseudofelizque vai tirando a armadura de cracana verdágua do
c h a
f a
r i z
!
25/7/1998
dívida
Há uns dez minutos,ouvi dois tiros.
Os cães trataram de latir.
O trem, os trilhos, sacudir.
Eis o mundo,quase duas da matina
: pulsações em disparada,a vida, quase nada.
E o re-silêncio então
domina.
13/8/1998
cwb
beijei-ana bocamaldita
17/4/1999
praça da ucrânia
li um poemanos olhos da velhinhachorando esmolas
outronos tabefesdos garotos da pré-escolabrigando por causade mão molhadano jogo de bafo
e, ainda,alguns versosno bom de papogesticulantecantando para a mais beladonzeladaquele instante
(caberia tudo num sonetonão fosse a regrasumir com o vento)
3/10/1999
cabaret pagliacci, 1995
londres no sonho dos loucosguitar bands & lonely handsà adega lacrada
garoava, um pouco
: as palavras perdidas na hora hperderam a hora de voltar& nada de uau& ela nem tchau
eu, mal
às moscasas tentativas foram se tentandoaté que, como, não sei,entendi que não mereciamerecer
entãoos céus se abrirame o cinzavirou lembrança
os que viram?dizem, que, eu,nadanada mesmo
feito criança
14/10/1999
avenida iguaçu
anoitecência me prendeao néctar das estrelas
(pólen polindo poses,luzpra mariposas)
mas,não preciso da noite
:só dos sorrisosrefletidosnos canecosde chope
31/7/2000
rua xv
os rostos passam: cada um, um segundode minha vida
mundos que percono aperto dos passosno grito das vitrines
até que entãoela escorrega:olhares se cruzam,mas não os caminhos
aqui já é regratrocar o incertopelo certo
sozinho
20/4/2001
catedral
láuns, iam para representaroutros, para se perderalguns, para se encontrar
uns tantosqueriam ver como era por dentrotocar os santos, se orgulhar,ou, mesmo, só para falar maldos ornamentos
a criançadasonhava tocar o sinochegar perto do órgãotentar tirar deleum som bembeeem sinistro
(parece que um meninoque depois entrouna belas artesconseguiu& conseguiu tambémum safanão do paiao sermãode um arcebispo)
havia um bebumque, se, bobearna mesma hora de semprelá na calçada, ainda se deita(senão, cai)
também, como não lembrarda velhinha, que contava de assombrose que foi de tal seitaenquanto alimentava "seus" pombosantes de ir para o chá
e não esqueçamos de nósquase toda noitebebendo vinholá na frente
nem dos que pareciamparar por alisó para ficarolhando a gente(e como eu ri...)
qualé a dessa moçadatoda de preto?não sabem que viver de lutoé errado?não têm respeitopela religião?
nada disso, nada não
nem éramos "servos do cão"pois aquele lugartambém nos era sagrado
à nossa verdadeque escreviana amizadea maior & melhororação
aquelas noitesterem acabadoé só o que vejocomo um pecado
dos sem perdão
10/5/2001
cinema surdo
numa cavidadeda madrugada ranzinzaaura cinza
estanco a cidade do peitosorrindo- pois tenho direito
e fico em casa
na fogueirasereno& brasafazem amor de verdadeunindo prazeres& vontades
e é nesse filmeque godard não fezque a lucidez me voltamostrando quedo que a saudade me feznada& nada maisimportam
(um dia volto a te sonharsó quero que entendaque o tempo só é tempopor ser apenasum outro encontro
não mais que momentonum reles lugar)
10/8/2001
pré-renúncia do paralelepípedo rebelde
Dândis no Ganges do Largo,não da Ordem, mas do trago,despurificam-se, queda em queda,parindo diamantes.
Outro vinho, outros passos, mais moedas.E outras rimas vêm, com os poréns,idem aos cãobaleantes refénsde suas erudições latidas.
O que queremos, indaga alguém que nem fala,não seria fibra para nossas vidas,nem um espelho utópico à nossas caras
: banhar-se do sujo sereno em noite raraseduz até a mais cínica feridaa lapidar, sorrisos, numa lágrima cuspida.
12/11/2001
estação paulo kissula
os caras de sonhono silêncio das sete da manhã& o cio de idéiaspor um fio
seja geadaou verão febrilnada de vozes no bonde
le monde
no voicese vocifero por dentrotodos me olhamaté a menininha, dois anos lhe dou,gripada e inquieta
ela pareceo único ser vivoneste comboio lotado
e nada mais me toca(fora o cheiro de jasmim,aberta a porta)
todaviaquando menos se esperaa menininhapoupa-nos do fim
: o isoporraspando vidrodá nos outrosum troço ruim
30/11/2001
92 degrees
eram acordesensurdecedorespesados
& tão rápidos(senhores músicos,- brincou um colega -o que é essa pressa,para o quê estãoatrasados?)
o calor, putz, o calorera de deixar com invejao sahara
& aquela gatapuro gin com sonhodançando como jamais dançara
eu, babando, tontosó de vê-la rodopiaraté que ela me viue berrou um oi!antes de, meu rostodepois, minha bocae até, o meu pescoçolambuzar
perguntou se eu a achava muito chatae começou a rir, pedindo desculpasdizendo que achava muito loucaa música dos carasmas que, no dia seguinteestaria no poçoe não lembraria de uma nota sequerque era rara a cançãoque a tocavaque era boa ouvintemas só curtiadepeche...
outra garota chegou, caaaara!,me abraçou& a gata mostrou as garrasem um pulogrudando nos cabelos da guria
mas bateu com a cabeça no chãodesmaioue eu tive de levá-la para fora
já melhor,ela não queria ir para casaeu também não queria ir emboraficamos conversando, na praçaa vinte e nove
ela foi voltando do porrecaímos no silêncio(tirando os zumbidosnos nósdos ouvidos)
ela disse me abraçadisse que o amor nunca morreque a manhã seria de belobelo céuque, no horizonte, seríamos reise outras coisas que não diriase fosse outroo dia
pouco depois das seisa coloquei no ônibuso jardim social/batelque já estava saindoquando derrubou o valetransporte
o peguei, o ajeitei em sua mãoela evitou me olhar nos olhospois os dela já estavamsem razão
então, entrouquase subindo no cobradorpara colocar a cabeçapara fora da janelagritar o meu nomegritar que seria forte
gritar, gritar & gritarque iria me escrever& para afirmarque seus pais erraramseus, pais, erraram
pois eles, naquela semanaconseguiram os vistos& os estados unidosnos separaram...
dias depoisela já lávoltei ao 92uma noite até bacanaacho que era showdos acústicos& valvulados
alguém perguntou por elae aquela doida, como está?melhor agora, respondi(espero, pensei)
mas carta alguma jamais recebi
agora, dez anos depoisdaquele anotão desesperadosoube que ela nem chegou aos dezoito
: em noventa & quatroa meningite a levoupara o outro lado
&, aquele calornovamente sentias febres viraram contoso pesadelo virou um fato
os pais delaestavam erradoscomo sempre estiverampor sonharsó no final
não seinão sei mesmoo que teria sido
mas hoje,hoje,como no inícioda música da Siouxsie,o dia não passou
quando,passou bem devagarfeito animal
ferido11/04/2002
welladay
na passagempara a passagemnoitadentro
ab
sinto
e se alguém souber de cronosque o mande para cáprovar de minh'espadamanchada do sangueternodas horas & honras passadas
sem voltanoitadentro
ab
sorvo
cada megamicroinstante
se delirobem que façorenasço
corvo
torto
estorvo
cantarolando musiquetasdas que muitos quase morremsó de lembrar
e só me dou contade quanto dela passeiquando o Simãodono do bardiz não ter trocopra notade cem que acabou de abrire que vou terde esperar
9/2/2003
Jhonny's Pub
podia sera mais fria & chuvosadas segundas-feiras
ainda assimsempre estavam lá: os jovens do pré-vestiba
amontoadosnas velhas mesasatordoados pela incertezapoesia ou prosa?pagando as bérascom seus vetês;
às paredes azuis, vivasas garotas fumandodesenterrando amores& versos de MPB
(tipo, "leãozinho"que mais pareciauma ode ao mé barato);
alguns cegosque, em terra de reisjuravam ter vistoo mesmo ratocor-de-rosa;
a Cléo Punkque nos arrastavapara a sinuca no Bigode(outro bareco perto dali)é, esnuque, piáe esnuque é pra quem podee eu, para ela, todas, perdi;
alguém sempremesmo, sempre,falando da lua;
os estudantesda escola técnicaexibindo suas técnicas etílicas antes das seisenquanto, meu camarada, o Jeandebatia com o Fábio Gadelhaastrologia, contradições& passagens bíblicas
(o bar ficava ao ladode um conventotoda hora ali passava, e de nós, desviava,alguma freira);
a aranha marromno banheiroonde ainda era normal se depararcom alguma meninade dedo na gargantapondo para fora o vinho docena, sério mesmo, banheira;
gritalhões no corredorapostando aliançasno jogo de palito(que parecia de foices)observados por alguns senhoresem seus velhos ritos& sorrisos;
atrás do balcão, o Joãoalguns o chamavam de Gervão(que era uma pinga que ele vendia);
então, certa semanatroquei a segunda pela quartae eu a vi
aquela guria
que lia Borgesruivinhaclaros olhoslongo vestido escuroquietinha, na mesa sozinha
eu a vi
larguei as ilustrações que faziae levantei para falar com elaeu ia a pedir em namoroeu juro
no caminho,alguém me chamouolhei para o outro ladoera o Sid,o sujeito que deixou o mara ver navios
ele me congratuloupelos meus dezoitocompletos um dia antese, sem jeito com essas coisasmal eu soube agradecer
quando voltei para o caminhoque, caramba, era de uns dois ou três passosa guria havia sumidoe ninguém havia a vistodesaparecer
pois não tinha ninguém alidisse o Seu Branco, ou alguémque minha memória não quer mais reconhecer
e eu nunca mais a vi
os dias seguintes foram frioscom noites de friezacom perdas, tristezacomo a que levou o chapa Chaiuou da do Fabien, que se matou(muitos entenderam "Fábio",e achavam que era o Gadelha)
um clima estranho se instalouaté uma noite que o Mais Alémmandou tudo pro alémtocando Beatlesna calçada
foi quando conheciuma namoradaque mordia minha orelha
mas a leitora de Borges,mesmo depois do próprio Joãozinho ter morridodo prédio onde ficava o botecoser demolidodo vetê ser extintoda maioria ter parado com o vinho tinto docedo Alexandre, o Côcoter aberto um bar lá perto da Reitoriae de revivermos tudoum pouco,
ainda é um filmecentrado naquela posede pernas cruzadassandálias soltaspáginas viradasolhar de canto...
como elanão se encontra
e se era um fantasma
é um fantasmae tanto
28/6/2003
spandaemonium
o mundo todo me vigia& ninguém me vê
: eis a idade mídia
web camsglobos negros na rua xvnem mesmo no elevador eu posso mexer no meu nariz
já tenho atéum código de barrassou produto não cadastradomas alvo por satéliteseguramente localizado
(virtual até nos nervosjá penso em me desconectar)
ah,ontem recebi um e-mailera vocême avisando dos novos temposagora tãoobsoletos
: deletaram meus dedos
(mas talvez minha avóainda saiba de um cháque seja bomcontra defeitos)
21/7/2003
aqui
só nos cabeentender
a nossa parte
pois de quando se partesó se sabeda partida
viver!
eiso segredoda vida
4/7/2005
o pólen e a pólis
O filhinho diz:tiamo papai.
& o mundo,cada vez pior
A cachorrinha deu cria:três feminhas & um pitoco.
& o mundo,cada vez pior
Lembramos de ti:viajamos de trem
& o mundo,cada vez pior
Aquele beijo vingou:saudade bateu fundo!
& o pior,cada vez mais mundo
(ser feliz é relativo: depende do que se entendee do que se vendepra estarvivo)
26/12/2005
a menina que ouvia bauhaus
eu pensavaque ela poderia mesmo ter feitoaquele curso técnicode técnico em técnicasde tecnologiastecnológicasou algo assim
mas o painão quis financiare ela optoupela deseducação química
e foi um fim
viveu em becosruelas e ruínaszumbificadaapedrejada
até ser esfaqueadanuma briga por um trapomolhado com solvente
a mãe a buscoua tratou por seis mesese disse que até a fariavirar gente
o paique se dizia crentenão quis estender a mãoacabou atropeladonão se sabe se pela cachaçaou se pelo caminhão
ela teve uma recaídae o espírito foi mergulhadoem um oceano de desgraças
e lá quase morreu mais duas vezesaté entender o que era a vida
grávidanão se sentia mais sozinhavoltou para casachorou trancadapor duas semanasdepois foi morar no matocom a avó e uma tia
hoje, caindo a noite, eu vi a guria
estava tão mãetão mudadaque comentei que pareciaque ela havia mesmo renascido
não, não renascisó não tinha ainda vivido
e se foi, shopping adentrode mão dadas com o menininho
ela nem queriater feito aquele cursinhosó precisava mesmoera se encontrare se reencontrarem algumcaminho
5/1/2009
praça ruy barbosa
desde sempreaquela praçasem graça
nadalém me eraque o ponto finalde meus inícios& afins
a sagrada caminhadade todo diade toda noite
quase quase um fardo.
até que- e só poderia ter sidocom ela ao meu lado -avisteium coração de pedrasna calçadacravado
e em toda aquela extensãodaquela calçadaera só o coraçãoe mais nada
é um coração solitário, eu disse,e fui emendando
tudo tem uma explicação,e ela completou comigopor mais imbecil que seja
naquele segundoaconteceu de tudosatori, samadhi, nirvanacerteza
então flutuamosaté a outra praça
ela entrou no ônibuseu fiquei, noite adentro,às calçadascravado.
apesarde solitárioe de pedrasaquele coraçãonão me engana
: achar que tudoé por acasoé coisa de quem não
ama
21/8/2009
guadalúpedes
caminhopelo ponto finalde muitas almas
de histórias interrompidaspelo desesperopelo dinheiropela cachaça
pela vida
vem aqui, Leão!e o homem dividemeio pastelque pegou do chãocom o cachorrinho
outro, de rosto ferido de briga fala que ainda dá pra ser felizpois ganhou um copo de vinhode garrafãode uns guris
enquanto,uma senhoravai de lixo em lixocomo se fosseum colibri
e passa a mão na barrigaque avisajá passou da hora
está caindo a tardee, pelos cantoseles vãoem vãose agrupandobuscando no sonoalgum sonhoque os afastedo abandono
um delesque me observavadesde o primeiro versoe que não consegui definirse era homemou mulher
quis saberpor que eu estava alientão, parado
e antes que eu pudesse responder, perguntouem que ano estamos?
respondi 2010e ele, ou elaé,meu filho ia fazer novejesus o levoutinha de ser eutinha de ser eutinha de ser eu, diabo!e vi um mapade picadasem seus braços
meu ônibus chegoue eu só pensei em agradeceràlguma divindadepelo que não sou
pois vi em todos aquelhes olhosuma tela de sentimentos outrora dominantes nos meus passos
mas, em nenhum vi a forçaque me fez levantar a cabeçae fugir de ter até a sombramutilada
o motorista deu a partidae, pela janela,ainda vi dois meninose uma moça abordando uns fiéisque chegavam na igrejacuja santatambém nomeia o terminal
a indiferença foi tantaque me pareceuque os três já eram vistoscomo peças do cenário localcomo se fossem outros pombosou viralatas
o ônibus fez uma longa voltapara então seguir seu cursoo que me fez reverquase todos os figurantesdaquele filmequase mudo, cegoabsurdo
então, lhe perguntopoema amigo:o que estamos fazendo aquineste plano?
estamos vivendoem recorrente castigose não me enganodecorrente de alheioserros de gravatas
(no entanto, por nossas escolhas: eis a errata)
quando pensava no verso seguinteouvi a cobradora dizer para alguémnão tenho troco pra vintee o motorista berrarmeu deus!antes de quase afundar nos freios
deixei cair meus lápisvoaram minhas folhas& as palavras ficaramcaladas:uma mulher descalçacom um pequeno entre os seiosatravessava o sinal vermelho
quase quena estrofe errada
23/01/2010
“Poesis Cedabliubensis”, 1992-2010
O autor, Lucas de Meira, em 2001, sem odisseia, nem espaço.